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UNIVERSO PATOLOGIA GERAL WORD Um Breve Histórico da Patologia

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Um Breve Histórico da Patologia
Prof. Gloria André Feighelstein
2009
Um Breve Histórico
         Previamente a qualquer explanação sobre períodos ou personalidades, saúde e doença são aqui empregados para designar estados funcionais, cuja especulação está diretamente ligada ao estudo dos elementos primários constituintes dos seres vivos. 
 Isso quer dizer que narrar sobre Patologia e sua história implica ao menos se considerar a origem desses indivíduos, ainda que sob a forma de informação simplesmente ilustrativa.
 É claro que abordar sobre a geração, o desenvolvimento e o crescimento dos seres vivos é uma tarefa complexa; relacionar o surgimento da vida com a própria origem do Universo é duplamente difícil. 
 Indiscutivelmente esse assunto recai em dúvidas e colocações que ainda se encontram em níveis de suposições, o que leva a se considerar algumas teorias vigentes.
Dever-se-ia reservar um capítulo a parte para esse tipo de discussão, talvez sob forma de texto introdutório em explanações sobre a evolução natural, seja ela científica ou religiosa, a semelhança do que se observa em obras que citam a teoria do Big Bang ou mesmo nos livros da Sagrada Escritura.
 A idéia desta explanação, porém, é tentar relacionar o processo de formação dos seres vivos com as diferentes fases de evolução do pensamento filosófico sobre Patologia, culminando com a conceituação atual, sem contudo manter o caráter de retrocesso temporal, inerente a qualquer narração histórica, mas sim, acentuar a sutileza da contemporaneidade que existe em cada uma das fases.
 Em suma, a tentativa aqui apresentada é resgatar os conceitos antigamente difundidos e reuni-los em um esquema comum de aprendizado dos fenômenos patológicos. 
Baseando-se nessa linha de abordagem, o mesmo se faria com as diferentes fases de aprendizado, intituladas por nós como sendo, agora, a sua História. 
Isso se traduziria, em termos práticos, no retorno às matérias básicas, como Histologia, Fisiologia, Anatomia e outras.
 Assim, explicar a origem dos indivíduos por intermédio da abordagem dos seus elementos químicos constituintes representaria, nesse momento, reintroduzir o raciocínio sobre Biologia, Bioquímica, Histologia. 
A Microbiologia seria avivada quando na abordagem da descoberta da célula e da formação dos primeiros seres unicelulares, que por sua vez envolveria tópicos de Fisiologia, e assim por diante. 
É por intermédio dessa interrupção das diretrizes temporais que acreditamos conseguir transmitir o conceito sobre a origem da doença como um desequilíbrio da contínua transformação do ser. 
DO HIDROGÊNIO À CÉLULA
Dentre todos os elementos existentes, figurados e organizados atualmente na tabela periódica, o hidrogênio seria o mais abundante de acordo com algumas teorias físico-químicas sobre a origem do Universo e da vida. 
Altamente eletro reativo e extremamente estável por ter pequeno tamanho atômico, esse elemento possuiria características favoráveis para iniciar as reações químicas que conduziriam aos primeiros passos da estruturação da matéria, tanto viva quanto não viva.
Do Hidrogênio à Célula
 Existindo outros elementos com características semelhantes ao hidrogênio, daí estarem hoje posicionadas, juntamente com ele, nas primeiras colunas da tabela periódica, como o carbono, o oxigênio e o nitrogênio, iniciariam-se os mecanismos de ligações entre esses elementos, cuja estabilidade propiciaria o surgimento das moléculas. 
 Com relação à matéria viva, pode-se considerar esses átomos como seus constituintes básicos e principais.
Elementos Constituintes da Matéria Viva
 Dos elementos constituintes da matéria viva, 99% estão distribuídos como sendo o oxigênio, o hidrogênio, o carbono e o nitrogênio. 
 O cálcio, o fósforo, o potássio, o enxofre, o sódio, o cloro e o magnésio estão em uma concentração de 0,05% a 1% nos principais organismos.
As Proteínas
As proteínas (por exemplo, o colágeno) são formadas pela união de mais de dez aminoácidos;
 
A reunião de até oito moléculas de açúcar resulta nos carbohidratos (a sacarose é um carbohidrato); 
Com os ácidos graxos formam-se os lipídios (triglicérides, gorduras e ceras são alguns exemplos).
Cada uma dessas macromoléculas pode-se combinar com outros elementos da tabela periódica (como, por exemplo, com o enxofre, nitrogênio e fósforo, originando os fosfolipídios) ou mesmo entre si (como é o caso das glicoproteínas (açúcares e proteínas), dos glicolipídios (açúcares mais lipídios), das lipoproteínas (lipídios e proteínas)). 
O peso molecular de uma proteína, por exemplo, pode variar de 6.000 (ou seja, 6.000 vezes maior do que o peso de um átomo de hidrogênio), que são as proteínas menores, até 7.000.000, envolvendo as maiores proteínas conhecidas.
Equilíbrio Funcional
Como se pode observar, foi de combinações de unidades básicas de mesmas características químicas que se obtiveram as "macromoléculas", e estas, agora, iniciam o processo de combinações entre si, resultando em estruturas com funções bioquímicas especializadas. 
Pela grande variabilidade dessas funções, pode-se deduzir a ampla gama de variações qualitativas e quantitativas de reações bioquímicas existentes. 
Essa diversidade, entretanto, reflete justamente a particularidade de cada organismo em suprir as suas necessidades energéticas específicas, principalmente no que diz respeito ao seu equilíbrio funcional.
Origem Primária da Vida
Percebe-se, nesse nível de discussão, que partimos de dimensões atômicas e caminhamos para organizações maiores e mais complexas dos elementos. 
O raciocínio daqui em diante estender-se-á sempre para dimensões crescentes, até culminar com a estrutura celular.
Uma vez elucidada, ou pelo menos considerada, a origem primária das moléculas da vida, a discussão sobre as formas e as funções estabelecidas para cada um dos diferentes sistemas que compõem o seres vivos ficará a cargo da Embriologia.
Molécula de Enzima
 Modelo hipotético de molécula de enzima, originada da combinação de vários aminoácidos com características físico-químicas semelhantes.
 Trata-se de uma estrutura complexa, originando um formato helicoidal e sítios ativos de combinação (bolinhas vermelhas).
Viajando na complexidade ...
Cada uma das partes da célula - organelas, núcleo, membrana e citoplasma - é constituída pelas macromoléculas já descritas. 
Imaginando a combinação desses elementos em unidades cada vez mais crescentes em complexidade, pode-se "viajar" da estrutura simples de uma bactéria (membrana e DNA) ou de um vírus (cápsula protéica e DNA) até às diferentes células dos vários sistemas estruturais do ser humano.
A Célula
De acordo com a teoria celular, a célula é formada por uma membrana, um citoplasma e um núcleo, que originam uma estrutura viva capaz de controlar seus níveis energéticos, mantendo-os em equilíbrio com o meio extracelular. 
As membranas são formadas pela combinação de moléculas básicas do tipo lipoproteínas e fosfolipídeos.
A polimerização dos nucleotídios origina o núcleo, mais precisamente o DNA e o RNA, responsáveis pelo controle das reações moleculares internas à membrana ou nela realizadas
A Célula 
O DNA e o RNA formam o código genético e são as estruturas informacionais e controladoras da manutenção dos níveis energéticos internos, traduzida principalmente pela biossíntese de proteínas. 
O citoplasma, por fim, é composto predominantemente por proteínas imersas em um meio aquoso, originando uma espécie de "gel" no qual se processam inúmeras reações químicas e o transporte de moléculas. 
No citoplasma estão imersas as organelas, compartimentos delimitados por membranas mais simples, com funções específicas de respiração, síntese energética e transporte. 
A Célula
Cada uma das partes da célula- organelas, núcleo, membrana e citoplasma - é constituída pelas macromoléculas já descritas. 
Imaginando a combinação desses elementos em unidades cada vez mais crescentes em complexidade, pode-se "viajar" da estrutura simples de uma bactéria (membrana e DNA) ou de um vírus (cápsula protéica e DNA) até às diferentes células dos vários sistemas estruturais do ser humano. 
Estrutura Celular e seus Componentes
Estrutura celular e seus componentes:
Núcleos : 
DNA 
Proteínas
Mitocôndrios:
 Lipoproteínas,
 Fosfolipídeos
Lisossomos: 
Proteínas
Ribossomos:
RNA
Proteínas
Membranas:
Lipoproteínas
Citoplasma:
Proteínas
Principais macromoléculas encontradas em cada uma das estruturas celulares. 
Observa-se que a maioria das organelas é constituída de proteínas que, por sua vez, é originada a partir da complexa rede de reações bioquímicas intracelulares observada na figura anterior. 
Comunicação Intercelular
Cada célula tem a propriedade de adquirir características e funções peculiares. 
A união de células com características comuns é denominada de tecido. 
O tecido, pois, é composto predominantemente por células e pela substância intercelular. 
Formada pelas mesmas moléculas primárias que compõem a célula, a substância intercelular é responsável pela arquitetura básica na qual a célula se apóia. 
É na substância intercelular que se processam as comunicações célula a célula, aspecto biológico muito estudado atualmente na Patologia Moderna.
Substância Intercelular
Exemplo de tecido conjuntivo corado por substância que destaca, entre outras fibras, as fibras colágenas (Tricrômio de Masson). 
Em destaque, observa-se a complexa rede que origina a substância intercelular, composta por proteínas, como o colágeno, sob a forma de proteoglicanas e de glicosaminoglicanas.
Estudiosos da Patologia
Conhecida a célula e o ambiente na qual ela realiza suas funções, podemos nesse momento dissertar sobre como, durante a História, os estudiosos de Patologia abordavam esse assunto, considerado atualmente como extremamente multidisciplinar.
HISTÓRIA DA PATOLOGIA EM FASES
Didaticamente, a Patologia tem sua história dividida em fases. 
Estas nada mais são do que a descrição dos conceitos utilizados para explicar a origem dos estados de doença vigentes em um determinado intervalo de tempo e segundo a corrente filosófica predominante. 
Fase Humoral 
A Fase Humoral (Idade Antiga - final da Idade Média)
O mecanismo da origem das doenças era explicado, nessa fase, pelo desequilíbrio de humores. 
Os humores eram considerados os líquidos do corpo, em particular, a água, o sangue e a linfa. 
Os deuses tinham o poder de controlar esse desequilíbrio, bem como de restituir a normalidade do organismo. 
Essa visão mítica de doença foi criada principalmente pela civilização antiga grega. 
Fase Orgânica
A Fase Orgânica (séc. XV – XVI)
Nessa época, há o predomínio da observação dos órgãos do corpo, feita principalmente às custas das atividades de necrópsia (estudo do cadáver) ou de autópsia (estudo de si mesmo). 
Fase Tecidual
A Fase Tecidual (séc. XVI-XVIII)
A Fase Tecidual enfatiza a estrutura e a organização dos tecidos. 
É nesse período que se iniciam os primeiros estudos sobre as alterações morfológicas teciduais e suas relações com os desequilíbrios funcionais. 
Fase Celular 
A Fase Celular (séc.XIX)
Com o predomínio da visão morfológica, somada à aplicação do microscópio óptico às pesquisas médicas, segue-se a Fase Celular, período considerado "inicial à Patologia Moderna". 
A preocupação com o estudo da célula, principalmente de suas alterações morfológicas e funcionais, é determinante na busca da origem de todo processo mórbido. 
Fase Ultracelular
A Fase Ultracelular (séc. XX)
A Fase Ultracelular é a fase atual do pensamento conceitual sobre Patologia, envolvendo conceitos sobre biologia molecular e sobre as organelas celulares.
 Os avanços bioquímicos e a microscopia eletrônica facilitam o desenvolvimento dessa linha de estudo. 
Mas, como começou a Patologia ? 
            Na Antigüidade, como não havia conhecimento adequado da anatomia ou das funções dos órgãos, as doenças eram imaginadas como desequilíbrios de ‘humores’. 
 Na Idade Média, pouco se avançou, pois dissecções eram proibidas. 
 Foi só a partir do Renascimento, através de estudos anatômicos pormenorizados como o de Vesalius, que a Anatomia Normal foi definida. 
 Este foi o primeiro e indispensável passo. Como distingüir  o anormal sem ter o normal como pano de fundo ?  A partir daí, tudo o que diferia do normal passou a constituir uma alteração patológica. 
Nascimento da Anatomia Patológica
            Assim nasceu, no século XVIII, a Anatomia Patológica, ou seja, o estudo sistemático das alterações morfológicas que as doenças causam nos órgãos e tecidos.
 Seu grande pai foi o italiano Morgagni, o primeiro que reuniu suas observações em um livro,  correlacionando os sintomas e sinais clínicos com achados de autópsia.  
 A Patologia nasceu, portanto, uma ciência morfológica, porque a observação visual direta é fácil e não exige instrumental. 
Patologia Celular
            O próximo grande passo na compreensão das doenças foi a utilização do microscópio para o estudo dos tecidos normais e doentes, e o reconhecimento das células como unidades do organismo vivo.  
 Temos então a figura exponencial de Virchow, o patologista alemão que abriu as primeiras grandes clareiras no conhecimento da Patologia Celular. 
 Mas foi a partir do século XX que as outras disciplinas começaram verdadeiramente a interagir com a Anatomia Patológica para lançar as bases da Medicina moderna. 
Nos dias atuais ...
            Hoje, temos o privilégio de viver em uma era em que a célula e as disfunções que a afetam são compreendidas numa profundidade e detalhe jamais sonhados por estes grandes pioneiros. 
 É, porém,  fundamental salientar que o progresso astronômico que hoje testemunhamos adveio da abordagem multidisciplinar de assuntos complexos, que a morfologia, fisiologia, bioquímica, genética  e biologia molecular isoladamente não poderiam resolver.

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