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Boas práticas de produção em avicultura

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Diagnóstico e planejamento da implantação das Boas Práticas de Produção em uma granja 
avícola de postura comercial no Rio Grande do Sul 
 
Jeruza Indiara Ferreira1, Luciana Pereira Bernd2 
1Médica Veterinária, Ma.; Graduanda Curso Superior de Tecnologia em Alimentos – Instituto Federal do Rio Grande do Sul – 
Campus Bento Gonçalves 
2Prof. Dra. Eng. Alimentos – Instituto Federal do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves 
e-mail: ji.ferreira@yahoo.com 
 
Palavras-chave: Avicultura de postura; Biosseguridade; Práticas de manejo 
 
Introdução 
A avicultura, com seu desenvolvimento e modernização contínuos, é uma atividade 
internacionalizada, constituindo um marco do agronegócio em nosso país. A produção de ovos no Brasil 
foi de 39,51 bilhões de unidades em 2015 (ABPA, 2016). A cadeia produtiva de ovos no Brasil se 
caracteriza pela produção para consumo, predominantemente “in natura”, 94,47 % e processados, 5,53 
%. A maior parte da produção é comercializada no mercado interno (99 %) (ABPA, 2016). 
Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA, 2016), a cadeia produtiva de ovos 
no Brasil se caracteriza pela produção de ovos para consumo “in natura” e industrializados. A produção 
é feita predominantemente no sistema de criação em gaiolas, com granjas de cria e recria separadas 
das granjas de produção. A grande maioria é composta por produtores independentes de pequeno e 
médio porte, que preparam a própria ração na propriedade e trabalham com galpões abertos, 
tradicionais, existindo grandes produtores que estão partindo para a adequação climática e automação 
das instalações. Adicionalmente, com a maior importância do Brasil no mercado internacional e o 
surgimento de várias crises mundiais (Influenza Aviária, Aftosa e Newcastle, além de resíduos e 
contaminantes) fortaleceu-se a preocupação sobre a disseminação dos problemas sanitários e possível 
contaminação pela ingestão de alimentos impróprios ao consumo humano de acordo com o Programa 
Nacional de Sanidade Avícola – PNSA (BRASIL, 2007). 
Nesse sentido, a aplicação de boas práticas de produção, e em especial as que visam a 
preservação do meio ambiente, bem como o bem-estar animal e dos trabalhadores, devem ser 
consideradas para o progresso da atividade avícola e para a inserção definitiva do setor no mercado 
mundial de ovos e produtos à base de ovos. Dessa forma, buscou-se diagnosticar a situação de 
produção de um estabelecimento avícola de postura comercial do estado do Rio Grande do Sul, 
estimando planejar as ações necessárias para o atendimento às legislações sanitárias. 
 
Materiais e Métodos 
O presente trabalho foi realizado numa granja avícola de postura comercial, a qual se localiza 
no município de Salvador do Sul - RS, cidade onde, dentro da produção primária, a principal atividade 
é a avicultura. O referido estabelecimento relacionado (ER) possui registro no MAPA/DIPOA. 
O diagnóstico baseou-se em uma lista de verificação elaborada pela Divisão de Defesa 
Sanitária Animal (DDSA), da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SEAPI) do estado 
do Rio Grande do Sul, tendo como base as IN 56/2007, 59/2009 e 36/2012, a qual deve ser preenchida 
pelo Responsável Técnico do estabelecimento, como um laudo prévio à verificação “in loco” do Serviço 
Veterinário Oficial. A utilização da lista de verificação foi a forma mais ágil de verificar a situação da 
empresa em relação aos requisitos da legislação, podendo assim definir com mais exatidão onde as 
melhorias devem ser realizadas. 
Após análise da lista de verificação, cada item da mesma foi desmembrado, realizando-se um 
diagnóstico sobre sua atual situação e as melhorias que são necessárias para sua adequação às 
Instruções Normativas do MAPA. Após este detalhamento foi elaborado um plano de ação, contendo 
as medidas que serão tomadas para a adequação, o responsável, o tempo estimado e como serão 
realizadas. Assim, o administrador da empresa pode ter uma exata noção da atual situação da granja 
e quais são os investimentos necessários para sua adequação, para que, posteriormente, possa ser 
implantado um sistema de qualidade de produção que a destaque perante a concorrência, adequando-
se às normas legais. 
 
Resultados e Discussão 
De acordo com a lista de verificação da DDSA/SEAPI, relacionado ao item II do check-list do 
Responsável Técnico, laudo prévio à inspeção “in loco” do Serviço Oficial, não existem descrições 
oficiais sobre a localização e isolamento das instalações da granja, barreiras naturais e físicas, controle 
do acesso e fluxo de trânsito, programa de saúde avícola e plano de contingência. Também não há 
plano de capacitação de pessoal. 
No que diz respeito ao item III (condições de biosseguridade) da lista de verificação, a granja 
não possui arco de desinfecção para veículos na entrada. O arco de desinfecção é uma importante 
ferramenta para evitar a entrada de patógenos na granja, que podem ser carregados junto aos veículos 
e contaminar a propriedade. 
Atualmente, a granja conta com 4 galpões de cria (pinteiros), 3 galpões de recria e 73 galpões 
de postura, contando com aproximadamente 190.000 aves alojadas. Todos os galpões são do tipo 
californiano (ou convencional), os quais são aviários construídos em madeira, abertos nas laterais. 
Neste tipo de construção, como são edificações abertas, é possível observar a presença de aves 
silvestres ao redor e/ou dentro de algumas delas. Por ser muito difícil reduzir a presença desses animais 
em galpões desse tipo, uma das ações que pode ser implementada é a varrição frequente do piso, 
evitando que a ração que cai possa servir de atrativo para as aves silvestres. 
A ração é armazenada na entrada de cada galpão, em sacos, a qual é distribuída através de 
carrinhos nos comedouros de calhas. O abastecimento de ração é realizado uma vez pela manhã e 
uma vez à tarde. O ideal é que haja em cada galpão, um silo de armazenamento de ração, evitando 
que pragas (ratos) entrem em contato com o alimento das aves, diminuindo o risco de contaminação 
pelas fezes e urina dos animais. Os ratos são importantes fontes de transmissão de patógenos como 
Salmonella spp. nas instalações avícolas, mantendo a contaminação do ambiente e transmitindo-a para 
as aves e ovos (GAMA, 2001). 
Em todos os galpões há um temporizador (relógio de luz ou timer), para que o programa de luz 
preconizado para as aves seja eficiente. O temporizador facilita e auxilia a adoção da prática de controle 
da luminosidade para todas as aves. A iluminação necessária é dada através de lâmpadas 
fluorescentes, colocadas ao longo da extensão do galpão. 
O abastecimento de água dos galpões é realizado através de armazenamento da água 
proveniente de poço artesiano e/ou de superfície, sendo esta água a ser fornecida ao galpão 
armazenada em caixas d’água, localizadas no teto da sala anterior do galpão. A qualidade da água de 
beber é de suma importância para a manutenção de um bom estado sanitário e produtivo das aves, 
bem como para o desempenho correto e eficiente das funções vitais das mesmas (MAZZUCO, 1997). 
Os controles gerais exigidos pelo check-list, como controle de pragas, limpeza e desinfecção, 
ações sanitárias, protocolos de vacinações e medicações, são realizados informalmente pelos 
colaboradores da granja, porém não são documentados e registrados. 
Foi realizado, pelo responsável técnico, o preenchimento da lista de verificação da 
DDSA/SEAPI, a fim de constatar quais as não conformidades do estabelecimento. Em verdade, esta 
lista deve ser preenchida para envio à DDSA como um laudo prévio à inspeção oficial, porém no caso 
da granja estudada, o preenchimento serviu como indicativo para apuração dos pontos que necessitam 
ser corrigidos. 
Para organizar as medidas que serão tomadas para implantar as Boas Práticas de Produção, 
e adicionalmente corrigir as não conformidadesencontradas na lista de verificação DDSA/SEAPI, 
segue um plano de ação sugerido, contendo as medidas que deverão ser tomadas, o(s) 
responsável(is), prazo de cumprimento e como será executada a ação. A) Construção de portaria e do 
arco de desinfecção. Responsável: proprietário da granja, com apoio do Responsável Técnico. Prazo 
de cumprimento: julho de 2017. Como: Através de um sistema de desinfecção automático ou 
temporizado, que possui bicos posicionados em grau, garantindo melhor abrangência. As medidas 
sugeridas são: largura de 4 m, altura 5 m. B) Uniformes para colaboradores e vestiários para troca de 
roupa dos colaboradores. Responsável: proprietário da granja. Prazo de cumprimento: agosto de 2017. 
Como: Os vestiários deverão ser construídos juntamente com a ampliação da sala de ovos, que já 
possui uma planta planejada. Os uniformes serão adquiridos de empresa especializada, em cor ainda 
a ser definida. C) Construção/colocação de recipientes fechados para acondicionamento de ração no 
galpão. Responsável: proprietário da granja. Prazo: abril de 2017. Como: Sugere-se o acoplamento de 
um silo para armazenagem de ração em cada galpão, pois, dessa forma, evita-se a entrada de sacos 
de ração (os quais são reaproveitados e têm muita rotatividade dentro da granja), e assim, diminui-se 
os riscos de qualquer tipo de contaminação nos lotes de aves. Em se tratando de economia, sugere-se 
a construção de “caixas” de madeira fechadas com tampa, no local onde são colocados os sacos de 
ração, na entrada do galpão. Assim, a ração para as aves ficará protegida e inacessível a quaisquer 
pragas. D) Elaboração do manual de Boas Práticas de Produção. Responsável: Responsável Técnico, 
com apoio do proprietário da granja. Prazo de cumprimento: março de 2017. Como: Todos os 
procedimentos adotados na granja deverão ser incluídos num documento único, contendo a descrição 
das instalações, passando pelo controle de aquisição de aves, manejo nas diferentes fases (cria, recria 
e produção), controle de pragas, manejo da ração e água e biosseguridade. Em virtude de haver 79 
galpões, as listas de monitoramento e verificação dos procedimentos tornam-se inviáveis, pelo grande 
volume de documentação gerada. Dessa forma, terão de ser colocados, em cada galpão, uma instrução 
de trabalho para cada item, como um documento orientativo aos colaboradores que atuam nos galpões. 
E) Construção de galpões convencionais automatizados/sistemas de criação alternativos. 
Responsável: proprietário da granja, com apoio do Responsável Técnico. Prazo: não definido. Como: 
A construção de galpões convencionais automatizados, ao menos para a fase de produção, resolveria 
a questão de haver muitos galpões distribuídos em toda a área da propriedade, bem como o problema 
da mão-de-obra (que é escassa), e adicionalmente o assunto relativo à documentação oriunda do 
Manual de Boas Práticas de Produção. Porém, de acordo com Stringhini et al. (2014), as desvantagens 
são o alto investimento em instalações e equipamentos específicos, bem como o menor bem-estar das 
aves. De qualquer forma, como deve haver a previsão de investimento em novas instalações de 
produção, sugere-se a cogitação para implantar sistemas de criação alternativos (gaiolas enriquecidas), 
pois está posta uma nova realidade (especialmente na Europa, de forma bastante adiantada) onde se 
buscam práticas que evitem que as aves sintam dor, desconforto e mortalidade, gerada com o objetivo 
da máxima produção (STRINGHINI et al., 2014). F) Construção de Incinerador (forno crematório). 
Responsável: administrador da granja. Prazo: não definido (aguardando exigência da legislação). 
Como: Atualmente, os resíduos da granja (aves mortas, ovos descartados) são colocados numa 
composteira. Segundo informação pessoal do diretor técnico de postura comercial da ASGAV 
(Associação Gaúcha de Avicultura), há indícios de que o MAPA comece a exigir incineradores nas 
granjas, que têm como objetivo cremar as aves mortas para prevenir a proliferação de qualquer tipo de 
vírus ou bactérias potencialmente transmissíveis na propriedade (MAIA et al., 2014). As desvantagens 
da incineração, de acordo com Maia et al. (2014) é o alto custo dos incineradores e a produção de 
resíduos gasosos altamente poluentes. 
 
Conclusões 
A avicultura, como um todo, necessita de um grande conhecimento técnico e administrativo 
para que haja a produção de um alimento seguro e adequado para a sua utilização. Dessa forma, no 
caso da postura comercial, as Boas Práticas de Produção (BPP) devem ser seguidas desde a produção 
das pintainhas até o descarte das aves velhas (em final de produção) e posterior reposição do plantel. 
Com a orientação dos princípios de Boas Práticas de Produção, os produtores de ovos devem 
adaptar um plano de ação próprio, moldado à realidade de seu estabelecimento avícola. As alterações 
na IN 56/2009, apresentadas na IN 36/2012, reconhecem a heterogeneidade do sistema de produção 
de ovos no Brasil e mostram a necessidade urgente de se utilizar as BPP como forma de compensar 
os impactos negativos sobre a biosseguridade nos aviários comerciais. Com a adoção das BPP, efeitos 
expressivos sobre a eficiência técnica e econômica da atividade poderão ser percebidos já em médio 
prazo. 
Dessa forma, com a elaboração deste trabalho, comprova-se que é possível planejar a 
implantação das Boas Práticas de Produção, estimando quais práticas são passíveis de serem 
aplicadas no curto prazo, do mesmo modo que idealizando as intervenções que demandam mais tempo 
e investimento. 
 
Referências 
ABPA. Associação Brasileira de Proteína Animal. Relatório Anual – 2016. Disponível em: 
http://www.abpa-br.com.br/setores/avicultura/publicacoes/relatorios-anuais/2016 Acesso em: 01 set. 
2016 
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04 de dezembro de 2007. Estabelece os Procedimentos para Registro, Fiscalização e Controle de 
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Agrárias e Veterinárias. Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, SP. 2001. 
MAIA, R.C.; CARVALHO, B.R.; BARROS, V.R.S.M.; ALBINO, L.F.T. Biosseguridade e Manejo de 
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BARROS, V.R.S.M. Galinhas poedeiras: criação e alimentação. Viçosa: Aprenda Fácil, 2014. p. 347-
376 
MAZZUCO, H.; ROSA, P.S.; PAIVA, D.P. de; JAENISCH, F.; MOY, J. Manejo e produção de poedeiras 
comerciais. Concórdia: EMBRAPA-CNPSA, 1997. 67p. (EMBRAPA-CNPSA. Documentos, 44) 
STRINGHINI, J.H.; ANDRADE, M.A.; CUNHA, M.I.R.; VIANA, E.F.; CAFÉ, M.B.; ROYER, A.F.B.; 
REZENDE, P.M. Aspectos sobre Cria e Recria de Poedeiras. In: ALBINO, L.F.T.; CARVALHO, B.R.; 
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2014. p. 31-98

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