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Teoria da Literatura II

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Teoria da Literatura II
As Poéticas Clássicas e a Perspectiva Romântica
NOSSO PERCURSO 
A Teoria da Literatura é uma disciplina cujo surgimento é relativamente recente, datando do início do século XX. Para um iniciante nos estudos literários, às vezes é difícil compreender a importância dessa disciplina e a mudança de perspectiva que ela provocou.
Por esse motivo, nas três primeiras aulas do curso de Teoria da Literatura II faremos um panorama do pensamento sobre a literatura, da antiguidade clássica ao início do século xx, para compreendermos como se pensava a Literatura antes do surgimento da corrente crítica que inaugurou a Teoria da Literatura, o Formalismo Russo.
Nessa primeira aula, retornaremos à Antiguidade Clássica, entre o quinto e o terceiro séculos antes de Cristo, quando surgiram os primeiros textos sobre a Literatura que conhecemos para analisar os pressupostos das poéticas clássicas surgidas nesse período.
Nosso caminho nessa aula se estenderá até o advento do Romantismo. Pretendemos com esse percurso tornar mais claras as diferenças entre a teoria da Literatura e as poéticas que a antecederam.
RETÓRICA, PÓETICA E ESTÉTICA: UM PERCURSO.
Em seu sentido clássico, o termo poética denomina o ramo da Filosofia que trata da poesia. 
Embora se encontrem reflexões sobre a poesia na República, um dos diálogos escritos por Platão no qual Sócrates é o personagem principal, costuma-se tomar a Arte Poética de Aristóteles como primeiro estudo dedicado a essa disciplina. A Epístola aos Pisões ou Arte Poética, de Horácio, escrita em I a. C., insere-se na linhagem das reflexões acerca da poesia, atribuindo-lhe a função de “Educar com prazer”.
Datam do século III d. C. estudos poética de contidos em Sobre o sublime, cuja autoria é atribuída a Longino e em fragmentos da obra de Plotino. Na idade média, a poética e a Retórica, disciplina voltada para o estudo da Oratória, mesclam-se e as tênues fronteiras entre esses dois ramos do conhecimento humanista ficam imperceptíveis, além disso, inicia-se um estudo de técnica poética que se desvincula totalmente do pensamento clássico acerca da poesia.
Entre os séculos XV e XVIII, período que se alonga do Renascimento ao Neoclassicismo, a Poética experimenta um novo apogeu, retoma a autonomia diante da Retórica e assume o centro dos estudos literários.
No entanto, já no século XVIII, esse espaço vai ser compartilhado com a Estética, disciplina surgida em 1750, com a obra de Alexander Baungartem a ela dedicada. Ao longo desse século, a Estética acabou por substituir a Poética como disciplina chave no estudo da Literatura.
POÉTICA E CENSURA NA REPÚBLICA: SÓCRATES E A POESIA
Você já leu “A República”, escrito por Platão? Conheça um pouco sobre esta obra:
O diálogo intitulado A República, escrito por Platão, é um texto de difícil classificação que pode ser lido por diferentes ângulos: filosófico, político, epistemológico, literário, entre outros. Dadas a complexidade e a genialidade desse texto, ele tem servido de estímulo à reflexão ao longo dos séculos e pode ser considerado uma das bases do pensamento ocidental.
Os estudiosos da obra de Platão consideram que A República é uma de suas mais influentes obras.  Nesse diálogo, Sócrates discute com outros convivas o sentido do termo justiça e, para desenvolver a argumentação, decide criar um mundo ideal, já que, segundo ele, não se poderia falar desse tema tendo como referência o mundo em que vivia. O título do diálogo advém dessa comunidade ideal projetada por ele. Sócrates, mestre de Platão, é o personagem principal.
É importante notar que pouco sabemos sobre o quanto dos ensinamentos socráticos se faz presente nos diálogos de Platão, pois é óbvio que as ideias do discípulo misturam-se às do mestre na criação que tem lugar nesse texto. Por esse motivo existe uma tendência a ler esse texto como um discurso ficcional de feição filosófica.
Como já dissemos, esse texto nos interessa por seu caráter inaugural, como texto fundador de uma longa linhagem de reflexões sobre as formas e funções do texto literário que veio culminar com o surgimento da Teoria da Literatura no início do século XX. Nossos pontos de interesse na República são na verdade, interrelacionados: a perspectiva utilitária da arte, a censura, a expulsão do poeta e a ideia de arte como falsidade.
As Poéticas Clássicas e a Perspectiva Romântica
Nos livros II e III, Sócrates conversa com o personagem Adimanto sobre as histórias apropriadas à formação dos cidadãos na República e dedica-se a pensar “A Educação pela Ginástica e a música”, conforme ele mesmo esclarece, a literatura está incluída na “música”. É preciso lembrar que a produção daquele tempo se fazia em versos e era geralmente acompanhada por instrumentos e cantos. Mais tarde, Aristóteles revelará que os escritos em prosa, embora existissem, não tinham ainda uma classificação.
No livro III, ele também desenvolve uma preleção (fala) sobre as formas de narração nos diferentes gêneros poéticos, a imitação, o estilo simples, o estilo múltiplo e a harmonia, sempre com o mesmo viés, bastante impositivo e moralizante. Nas concepções apresentadas nesses dois livros, podemos perceber um tom bastante autoritário, que se revela no emprego do modo imperativo e nos vocábulos usados, como veremos a seguir.
Acesse agora a Biblioteca Virtual e faça a leitura de trechos dos livros II e III: 
Defesa da censura - Livro II 
Contra o prazer: a função utilitária da poesia (livro III)
Lembre-se de que a leitura destes textos é fundamental para a continuidade desta aula.
Além destes dois textos que você acabou de ler, existem mais dois de Sócrates, veja:
Visão prescritiva: imposição aos poetas
Ainda sob a mesma perspectiva moralizante e controladora, Sócrates continua seu diálogo com Adimanto e, além de falar da necessidade de impor essa temática aos poetas, também condena como ímpios aqueles que não escrevem de acordo com seus ditames (conselhos), como podemos observar no fragmento a seguir:
Pelo contrário, se há meio de persuadi-los de que jamais houve cidadão algum que se tivesse inimizado com outro e de que é um crime fazer tal coisa, esse e não outro é o gênero de histórias que anciãos e anciãs deverão contar-lhes desde o berço; e, quando crescerem, será preciso ordenar aos poetas que componham suas fábulas dentro do mesmo espírito.
“Mas se queremos que uma cidade se desenvolva em boa ordem, é preciso impedir por todos os meios que nela se atribua à divindade, que é boa, a autoria dos males sofridos por mortal, e que narrações de tal espécie sejam escutadas por moços e por velhos, estejam elas escritas em versos ou em prosa. Pois quem conta tais lendas profere coisas ímpias (hereges), inconvenientes e contraditórias entre si.
Poesia como falsidade - Livro X
 
Refletindo bem, das muitas excelências que percebo na organização de nossa cidade, nenhuma há que me agrade mais do que a regra relativa à Poesia.
- Que regra é essa? - Perguntou Glóucon.
- A rejeição da Poesia imitativa, que de modo algum deve ser admitida; vejo-o agora com muito mais clareza, depois e termos analisado as diversas partes da alma.
- Como entendes isto? [...]
. Essas obras me parecem causar dano à mente dos que as ouvem, quando não têm como antídoto o conhecimento da verdadeira índole.
- Não devemos concluir, pois, que todos os poetas, a começar por Homero, são imitadores de imagens da virtude e das demais coisas sobre que compõem seus poemas; quanto à verdade, porém jamais a alcançam? [...] Volve (vire) tua atenção para isto: o imitador ou fabricante de imagens nada entende do verdadeiro ser, apenas do aparente, não é assim? ³
Esse conjunto de ideias desenvolvido ao longo do texto vai culminar (chegar ao ponto mais intenso) no Livro X, o mais acusador e acirrado em relação à Poesia mimética, à expulsão do poeta da República.
³Ibidem, PP.379, 387 e 388.
Note-se, porém, que nem todos os poetas serão expurgados aqui. A condenação socrática focaliza os poetas tradicionais, que “falseiam o real” pela imitaçãodestorcida e mentirosa, em oposição aos poetas filósofos, que imita de forma ordenada e racional, buscando a maior aproximação possível com o real. 
Aristóteles, no entanto, reabilitará o poeta mimético, ao considerar a imitação o constituinte fundamental da arte literária, que é concebida por ele como criação e em sua perspectiva deixará o jugo do real imposto por Sócrates.
ARISTÓTELES E A ARTE POÉTICA
“Aristóteles plantou os pés na terra e olhou para as coisas”
SUASSUNA, Ariano. Introdução à Estética. 5. ed. Recife, Editora Universitária da UFPE, 2002. p.54.
A poética de Aristóteles, embora tenha sido escrita mais de cinco séculos antes de Cristo, só foi conhecida efetivamente a partir de 1498, quando veio a público sua primeira edição latina. Daí em diante, sua influência sobre a criação e a crítica literária foi bastante abrangente, tendo sido alvo de diferentes interpretações. 
Em alguns momentos, foi tomada como um manual prescritivo, cujas regras deveriam ser seguidas, mas hoje predomina a tendência a “encarar isoladamente certos conceitos aristotélicos como fonte estimulante para novas observações e novas reflexões sobre o fenômeno artístico”.¹
 As Poéticas Clássicas e a Perspectiva Romântica
Como muito bem sintetiza Ariano Suassuna no texto em epígrafe, Aristóteles analisou objetivamente o mundo, refletindo sobre os mais variados aspectos do conhecimento. Suas descrições e conceituações são via de regra precisas e detalhadas. Quando se debruça sobre os textos literários em circulação no momento em que vivia, o tratamento não é diferente.
Desde o início da Poética, notamos o tom didático que predomina no texto, visível no movimento de organizar as ideias, apresentar conceitos e classificar os textos.
O parágrafo inicial é um perfeito exemplo de introdução, pois apresenta toda a organização das ideias apresentadas a seguir: 
“Falemos da natureza e espécies da poesia, do condão de cada uma, de como se hão de compor as fábulas para o bom êxito do poema; depois, do número e natureza das partes e bem assim das demais matérias dessa pesquisa, começando, como manda a natureza, pelas noções mais elementares.” 
Todas as citações foram retiradas da edição da Poética disponibilizada em: 
Ao lado desse caráter descritivo e minucioso, os textos de Aristóteles apresentam forte CARGA VALORATIVA, característica muito destacada nos períodos em que o texto foi lido como um conjunto de prescrições. Como exemplo desse modo de pensar, podemos citar a passagem: 
“Surgidas a tragédia e a comédia, os autores, segundo a inclinação natural, pendiam para esta ou aquela; uns tornaram-se em lugar de jâmbicos, comediógrafos; outros, em lugar de épicos, trágicos, por serem estes gêneros superiores àqueles e mais estimados.”
Observando a articulação do discurso encontramos um intenso uso de imperativos que sustenta as leituras do texto enquanto conjunto de prescrições. Nota-se isso, por exemplo, no seguinte trecho: 
“Deve-se sempre procurar a verossimilhança e a necessidade. O irracional não deve entrar no desenvolvimento dramático, mas se entrar, que seja unicamente fora da ação.”
Aristóteles parte da definição de poesia como imitação, para analisar as espécies de poesia imitativa – ou seja, a Epopeia, a Tragédia e a Comédia, classificando-as segundo os meios, os objetos e os modos da imitação. O quadro abaixo sintetiza a classificação apresentada pelo filósofo:
Acesse a Biblioteca Virtual e conheça um pouco mais da poética de Aristóteles.
Agora que já conhecemos um pouco da poética de Aristóteles, vamos fazer uma comparação entre suas ideias e aquelas emitidas por Platão/Sócrates na República. O quadro a seguir sintetiza as diferenças de pressupostos entre esses pensadores:
	Mimeses (imitação)
	Visão positiva.
Imitar é próprio ao homem.
Imitação é uma representação superior do sensível.
Verossimilhança.
	Visão negativa.
Imitação em terceiro nível, reprodução imperfeita do absoluto.
	Prazer/ função da arte
	“Beleza é aquele bem que é aprazível só porque é bem.” (Retórica) Na Retórica, analisa a fruição da obra de arte do ponto de vista do sujeito.
A noção de beleza é intimamente ligada à de prazer. 
Prazer estético advém da apreensão gratuita e sem esforço dos objetos.
 Catarse – prazer advindo da pena e temor que propicia a purgação desses sentimentos.
	Rejeita o prazer;
A arte é útil para a formação dos Guardiões, serve para a transmissão de ensinamentos éticos “para nós, ficaríamos com um poeta mais austero em menos aprazível, tendo em conta sua utilidade, a fim de que ele imite para nós a fala do homem de bem e se exprima segundo aqueles modelos que de início regulamos quando tentávamos educar os militares” (A República, Livro III).
A POÉTICA DE HORÁCIO
Horácio enviou a Carta aos pisões (Epistula ad Pisones), também conhecida como Arte Poética (Ars Poetica), ao cônsul romano Lúcio Pisão e seus filhos, também literatos. Em sua missiva, o poeta latino formula princípios para a construção poética e dá sugestões de ordem prática para escritores.
Nesse texto, o poeta apresenta suas reflexões sobre a composição artística, tema que já havia abordado em seis poemas compostos anteriormente. 
É na Arte Poética, no entanto, que se apresentam depuradas e amadurecidas suas concepções. Para BRANDÃO, um importante eixo do pensamento horaciano é a ideia de que “A obra é regida por leis que podem ser formuladas”. ¹ 
O texto é, por isso mesmo, bastante pragmático (prático) e foi traduzido com certo radicalismo em tratados de poética difundidos nas diferentes “ondas” clássicas que marcam a história da arte ocidental a partir do fim da Idade Média. 
¹ARISTÓTELES, HORÁCIO & LONGINO. A Poética clássica. Intr. Roberto de Oliveira Brandão. Trad. Jaime Bruna. 3. ed. São Paulo, Cultrix, 1988. p. 7.
Horácio toma como referência a pintura para pensar a poesia, o que fica bem claro numa expressão do texto que se tornou célebre: “Ut pictura, poiesis”¹.
Podemos assim sintetizar os princípios que ele formula para que seja atingida a perfeição artística:
Fatores estruturantes da obra: ordem e unidade.
Meios pelos quais o poeta realiza seu objetivo: razão, trabalho e disciplina. 
¹“Poesia é como pintura.”  - tradução de Jaime Bruna em: ARISTÓTELES, HORÁCIO & LONGINO. A Poética clássica. Intr. Roberto de Oliveira Brandão. Trad. Jaime Bruna. 3. ed. São Paulo, Cultrix, 1988. p. 65.
Desde o início do texto, para rejeitar as obras que ultrapassam a lógica cotidiana e enveredam pelo absurdo, compara a escrita à pintura:
“Suponhamos que um pintor entendesse de ligar a uma cabeça humana um pescoço de cavalo, ajuntar membros de toda procedência e cobri-los de penas variegada, de sorte que a figura, de uma mulher formosa em cima, acabasse num hediondo peixe preto; entrados para ver o quadro, meus amigos, vocês conteriam o riso? Creiam-me Pisões, bem parecido com um quadro assim seria um livro onde se fantasiassem formas sem consistência, quais sonhos de enfermo, de maneira que o pé e a cabeça não se combinassem num ser uno.”
Verificamos aí um claro traço da ênfase na racionalidade que marca o texto, sintetizada na frase: “Princípio e fonte da arte de escrever é o bom senso”.
Outro aspecto importante na obra é o fato de que a visão clássica horaciana não deixa espaço para o improviso, para ele a perfeição só pode ser obtida pelo trabalho conjugado ao domínio técnico e à racionalidade que disciplina a experiência criadora.
As Poéticas Clássicas e a Perspectiva Romântica
É inegável que a Arte Poética de Horácio constituiu um cânone, um modelo para a criação poética ocidental, tendo sido objeto de estudo para inúmeros escritores. O prestígio desse texto foi incomparável, pois, embora nem sempre seus preceitos fossem inteiramente integralmente seguidos, influenciou diversos estilos literários, principalmente até o advento do romantismo.
Podemos citar como prova dessa influência de Horácio na criação literária o fato de que algumas expressões cunhadas por ele, como carpe diem (aproveiteo dia) e aurea mediocritas (mediocridade dourada) terem se tornado, mais que valores, temas artísticos para variadas gerações. Como já dissemos, a influência das poéticas clássicas sobre a produção artística ocidental, a partir de sua redescoberta no período renascentista, foi imensa.
Segundo Vitor Manuel da Aguiar e Silva¹, os traços dessas realizações artísticas de inspiração clássica – do Renascimento ao Neoclássico - podem ser assim sintetizados:
Racionalismo: razão (entidade imutável) = bom-senso (exclui fantasia, imaginação);
Verossimilhança: objetiva não o real concreto, mas o que pode acontecer (exclui insólito, anormal, imaginário, maravilhoso).
Imitação da natureza: não cópia detalhista e minuciosa, mas imitação idealizada que escolhe e acentua aspectos característicos e essenciais do modelo (exclui grosseiro, hediondo, vil e monstruoso);
Obediência às regras analisadas e justificadas pela razão. Cada forma literária e cada gênero possuem regras específicas (conteúdo, estrutura, estilo). Exemplo: regra das três unidades dramáticas (espaço/tempo/ação);
Imitação de autores greco-latinos: imitar os que imitam com perfeição a natureza (Herança renascentista). Perigo: rigidez e artificialismo;
Conveniências: 
Interna: coerência e harmonia interna da obra;
Externa: adequação à moral vigente, ao gosto, sensibilidade e costumes do público;
O movimento romântico surgido no século XVIII na Europa é essencialmente contraditório. De um lado, segundo Arnold Hauser, como continuidade do processo de emancipação da burguesia, é expressão de um “entusiasmo plebeu”, contrapondo-se ao “intelectualismo delicado e discreto” das classes superiores. De outro, representa uma reação dessas classes superiores ao racionalismo neoclássico que o precedeu.
Para compreender a estética do período que abordaremos agora, é importante entendermos que há uma discronia (diferença temporal) entre a história literária europeia e a brasileira. Isso fica claro quando observamos as datas das principais publicações românticas lá e aqui:
Estes dois fragmentos citados demonstram que a origem do anticlassicismo romântico reside no desejo de libertar o sujeito de todas as amarras, deixando-o livre para expressar-se. Dessa forma, o sujeito romântico, idealista e sentimental, tomado como um gênio por seus pares, não poderia submeter-se às regras clássicas, que para ele seriam constrições (compressões) insuportáveis. Seguindo esse ideário, o poeta abandona-se à inspiração e ao improviso, ao devaneio e à fantasia, ao sentimento e à percepção, enfim, a todos aqueles valores que, como vimos, os clássicos abominariam.
Friedrich Schlegel, nos seus Diálogos sobre a poesia II, apresenta o ideário idealista romântico proposto nessa nova mitologia:
“A única coisa que lhe peço é não duvidar da possibilidade de uma nova mitologia [...] Se é verdade que uma nova mitologia pode erguer-se, somente com suas formas, das remotas profundezas da alma, o idealismo – o maior fenômeno de nossa época – oferece a nós uma direção altamente significativa e uma prova extraordinária daquilo que estamos buscando”.
“Foi assim precisamente que o idealismo nasceu, como se fosse do nada, é agora, mesmo no mundo do espírito, ele constitui uma referência, uma vez que a energia humana espalhou-se em todas as direções e progressivamente desenvolveu-se, certamente ela não perderá a si mesma nem ao caminho de volta”.
Outro filósofo alemão, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, afirma em sua obra também intitulada Diálogos sobre a poesia (1821), sobre a nova mitologia que libertará os homens do valor mais fundamental para o romântico:
“Nenhuma capacidade será reprimida nunca mais: finalmente surgirá a regra que trará a liberdade geral e a igualdade de mentes! Essa deve ser a última e mais nobre obra humana.”

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