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Aula VII Osplanoseconomicos19861994

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Aula VII – Os planos econômicos contra a inflação – 1986 - 1994
1. As teses inercialistas sobre a inflação
O processo inflacionário é dividido em choque e tendência, com ênfase na tendência.
Os choques seriam dados por tentativas de redistribuição de renda por meio da mudança de preços relativos, tais como desvalorizações cambiais ou reajuste de tarifas públicas ou salários.
Os mecanismos de indexação de preço tendem a propagar a inflação passada para o futuro, criando uma tendência para a inflação, de forma quase independente das variações da demanda agregada.
Os defensores da tese inercialista dividiam-se em dois grupos, um representado por Francisco Lopes e outro por Pérsio Arida e André Lara Resende.
O grupo de Francisco Lopes defendia um choque heteredoxo com congelamento de preços, para quebrar a inércia inflacionária.
O outro grupo defendia uma moeda indexada, em que se adota a indexação total da economia a um determinado indicador de variação de preços, que poderia ser a ORTN ou o dólar, por exemplo. Os preços seriam convertidos nesse indicador e, depois de ajustados os preços relativos, seria adotado um novo padrão monetário ou fixado o câmbio.
As duas correntes não tratam a questão dos choques redistributivos e seus efeitos sobre a inflação e prometiam uma redução da inflação sem políticas restritivas.
Havia também os pós-keynesianos, da Unicamp, que dividiam a economia em dois setores, o concorrencial (matérias-primas) e o oligopolizado (industrial). 
O setor oligopolizado determina os seus preços com base em seus custos de produção, no custo de capital (taxa de juros) e em uma margem normal de lucros (mark-up). Na década de 80, a instabilidade da taxa de câmbio e da taxa de juros tornaram os custos das empresas mais voláteis e imprevisíveis. Para compensar essa incerteza, as empresas do setor oligopolista passaram a exigir margens de lucro mais altas, o que pressionava os preços para cima, que eram realimentados pelos mecanismos de indexação.
A solução seria a renegociação da dívida externa e o ajuste patrimonial do setor público, o que permitiria políticas cambiais e de juros mais estáveis.
2. Os planos econômicos da década de 80
2.1 O Plano Cruzado
No final de fevereiro de 1986, foi lançado o Plano Cruzado.
As principais medidas foram:
. os preços foram congelados, com exceção da energia elétrica, que teve aumento de preços. O brusco e inesperado congelamento gerou perdas para setores que ficaram com preços relativos defasados, com destaque para tarifas públicas;
. os salários foram convertidos para a nova moeda pelo poder de compra dos últimos 6 meses mais um abono de 8%. Para o salário mínimo, o abono foi de 16%. Definiu-se política de reajuste com base em um gatilho salarial, que seria acionado sempre que a inflação atingisse 20%;
. a taxa de câmbio foi congelada, sem nenhum tipo de reajuste prévio.
. os alúgueis foram tiveram os valores médios recompostos.
. a ORTN, fator de correção de ativos financeiros, foi substituída pela OTN, que foi congelada. 
. criou-se tablita de ajuste das operações de crédito pré-fixadas para evitar a transferência de renda para os credores.
Não foram estabelecidas metas para as políticas monetária e fiscal. A taxa de juros, não o controle dos agregados monetários, seria o instrumento da política monetária, devido ao esperado aumento da demanda por moeda.
Tomaram-se medidas que facilitariam o controle das contas públicas. Início do processo de unificação orçamentária, a criação da Secretária do Tesouro Nacional e o fim da Conta-Movimento, fazendo com que o Banco do Brasil deixasse de ser autoridade monetária.
A inflação caiu drasticamente nos primeiros meses do Plano, mas logo surgiram fortes pressões de demanda, devido ao aumento do salário real e a forte expansão da oferta de moeda.
Ocorreram, então, ágios em “mercados paralelos”, desabastecimento, maquilagem de produtos, mudanças de embalagens, alterações nas especificações e outras formas de burlar o congelamento de preços.
As taxas de juros reais negativas provocaram uma fuga para ativos financeiros como a bolsa de valores e o dólar paralelo e para ativos reais.
Em junho, numa tentativa de conter a demanda, foram impostos empréstimos compulsórios sobre a gasolina, automóveis e as passagens aéreas internacionais, os aumentos de preços resultantes foram expurgados dos índices de inflação.
O congelamento foi mantido artificialmente até as eleições para o Congresso e governos estaduais, em novembro.
As contas externas tiveram sensível piora, com queda nas exportações, aumento nas importações, redução dos investimentos diretos, aumento das remessas de lucros e evasão de capitais.
Em fevereiro de 1987, o governo anunciou a moratória dos juros da dívida externa, para estancar as perdas de reservas e reiniciar as negociações da dívida externa.
O fracasso do Cruzado, com o início do descongelamento de preços logo após as eleições e a inflação chegando a níveis mais altos que antes do Plano, já em fevereiro de 1987, deixaram seqüelas importantes, o nível de indexação de preços aumentou o temor de novos congelamentos passou a ser um fator de pressão sobre os reajustes de preços.
Após o Cruzado ficou clara a necessidade de controlar a demanda após a estabilização, de que os choques fossem neutros do ponto de vista distributivo, a impossibilidade de se manter um congelamento de preços por tempo demasiado, a importância de se manterem as contas externas em equilíbrio.
2.2 O Plano Bresser
	 Em junho de 1987, foi anunciado o Plano Bresser.
		As principais medidas foram:
		. Congelamento de preços e salários por 3 meses, sendo que vários preços, principalmente os públicos, foram reajustados antes do Plano;
		. Desvalorização cambial de 9,5% e não congelamento da taxa de câmbio;
		. Tablita para correção dos contratos financeiros pré-fixados.
		
		Foi praticada políticas monetária restritiva e tentou-se o mesmo com a política fiscal, mas não se conseguiu devido às dificuldades políticas.
		A inflação foi contida por 3 meses, mas logo após o fim do congelamento de preços voltou com força.
2.3 O Plano Verão
Ao longo de 1988, o ministro Maílson adotou a chamada política “feijão com arroz” que rejeitava a idéia de choques heterodoxos e visava estabilizar a inflação em 15% ao mês e reduzir o déficit público. Para isso, adotou-se o congelamento dos empréstimos ao setor público, a contenção salarial e a redução no prazo de recolhimento dos impostos, também suspendeu a moratória da dívida externa.
Em janeiro de 1989, a taxa de inflação chegou a 30%. Foi lançado o Plano Verão.
As principais medidas foram:
. os salários foram convertidos pela média dos últimos 12 meses mais a aplicação da Unidade Referencial de Preços (URP) de janeiro, o que implicou redução do salário real
. Aplicou-se uma tablita de conversão dos contratos financeiros pré e pós fixados, isso significou ganhos para os devedores, sendo o principal o governo.
. o câmbio foi desvalorizado em 18% e em seguida adotado câmbio fixo.
O Plano Verão teve fôlego curto, não houve nenhum tipo de ajuste fiscal e havia descontrole monetário, a inflação chegou a 80% no último mês do governo Sarney.
O governo Sarney foi caracterizado pelo descontrole das contas públicas, com aumento dos déficits e crescente endividamento interno, com prazos curtos e giro diário. As taxas de juros eram determinadas pela necessidade de rolagem da dívida pública, tornando-se passiva em relação ao controle das taxas de inflação.
3. O Plano Collor
O Plano Collor partiu da hipótese de que o elevado estoque da dívida pública interna, rolada em prazos curtos, com indexação diária, inviabilizava a condução das políticas monetária, fiscal e cambial e alimentava indexação e o processo inflacionário.
Assim, as principais medidas do Plano foram:
. bloqueiode boa parte dos depósitos bancários e ativos financeiros, cerca de 70% do M4. O objetivo era reduzir a demanda agregada e retomar a capacidade do Banco Central de fazer política monetária ativa;
. reforma administrativa e fiscal, com o objetivo de conseguir forte redução do déficit público.
. congelamento de preços e desindexação dos salários em relação à inflação passada.
. adoção de taxa de câmbio flutuante;
. redução das tarifas de importação
A forte contração da liquidez resultante do bloqueio dos ativos financeiros provocou rápida queda da atividade econômica, com o PIB do segundo trimestre de 1990 caindo 8%.
Houve redução do estoque de moeda, mas em pouco tempo houve rápido aumento do fluxo de moeda.
A inflação zerou logo após o Plano, mas no segundo semestre do ano, já voltou a subir.
Em 1990, o governo conseguiu superávit nas contas públicas, mas esse foi baseado em fatores temporários como a redução das despesas com juros resultante do confisco e atrasos nos pagamentos.
No final do ano, a situação das contas externas piorou devido a maior facilidade de importações, dos menores incentivos às exportações e da elevação do preço do petróleo que acompanhou a guerra do Golfo. O governo interviu, desvalorizando o câmbio, aumentando assim as pressões inflacionárias e confirmando o fracasso do Plano.
Depois do fracasso também do Plano Collor II, a ministra Zélia Cardoso de Mello deixou a Fazenda e assumiu Marcílio Marques Moreira, que manteve política de taxas de juros altas, as quais ajudaram a elevar as reservas cambiais em momento de melhora na liquidez no mercado financeiro internacional.
4. O Plano Real
 Ao longo de 1993 e 1994, foram sendo estabelecidas condições mais favoráveis para um novo plano de combate à inflação inercial. Melhorou-se a situação fiscal, as reservas cambiais cresceram, retomou-se o acesso ao mercado financeiro internacional, aumentou o grau de abertura comercial.
O Plano Real dividiu-se em três fases: o ajuste fiscal, a indexação total da economia a URV, período em que conviveram preços em Cruzeiros Reais e em URV, cujo valor era corrigido diariamente e a transformação da URV na nova moeda o Real.
Junto com o lançamento do Real, em julho de 1994, o governo definiu metas restritivas para a expansão da oferta de moeda, a chamada âncora monetária.
O Banco Central manteve taxas de juros altas, reduziu a acumulação de reservas cambiais e deixou o câmbio valorizar, estimulando as importações mais baratas, a chamada âncora cambial.
O Plano conseguiu reduzir a inflação, que no primeiro semestre de 1994 foi de cerca de 40% ao ano para 14,8% em 1995, 7,5% em 1997 e 1,7% em 1998.
Mas também provocou forte aumento da dívida pública e da dívida externa, além de déficits elevados nas transações correntes. O crescimento do PIB manteve-se baixo.
A partir de 1995, ocorreram uma série de crises financeiras internacionais que levaram ao abandono da política de bandas cambiais, que vigorou de 1996 a 1998, a desvalorização do câmbio em janeiro de 1999 e a adoção do tripé de política econômica caracterizado pelo câmbio flutuante, metas de inflação e superávits primários.

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