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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA ESCOLA DE BELAS ARTES CURSO SUPERIOR DE DECORÇÃO PRÁTICA PROFISSIONAL – EBA 019 Home office para concurseiros: uma proposta de design de interiores com foco nas condicionantes do conforto BARBRA SOUSA BALDAS SALVADOR 2016 BARBRA SOUSA BALDAS Home office para concurseiros: uma proposta de design de interiores com foco nas condicionantes do conforto Monografia apresentada a Escola de Belas Artes – EBA/UFBA, como requisito parcial para obtenção do título de Graduação em Decoração sob orientação de Profa. Larissa Braga de Melo Fadigas. SALVADOR 2016 FICHA CATALOGRÁFICA BALDAS, Barbra Sousa. Home office para concurseiros: uma proposta de design de interiores com foco nas condicionantes do conforto/ Barbra Sousa Baldas. Salvador, 2016. 91 f. Palavras-chave Design de ambientes; Escritórios; Home office; Concurseiros; Concursandos; Concursos públicos. Orientador: Profa. Larissa Braga de Melo Fadigas – Professora do Curso Superior de Decoração EBA / UFBA Profa. Drª Maria Hermínia Oliveira Hernández – Professora do Curso Superior de Decoração EBA / UFBA Paulo Henrique Menezes – Designer de ambientes BARBRA SOUSA BALDAS Home office para concurseiros: uma proposta de design de interiores com foco nas condicionantes do conforto Monografia apresentada a Escola de Belas Artes – EBA/UFBA, como requisito parcial para obtenção do título de Graduação em Decoração. Salvador, Aprovado em: ____/____/____ Profa. Dr.ª Maria Hermínia Oliveira Hernández Profa. Larissa Braga de Melo Fadigas Prof. Paulo Henrique Menezes SALVADOR 2016 AGRADECIMENTOS A começar, agradeço ao Universo, que com sua infinita e divina sabedoria sempre colocou no meu caminho pessoas, ideias, conhecimentos, ferramentas e energias para que todo esse processo chamado vida se desenrolasse e eu chegasse até este momento. Sou muito agradecida às Professoras Maria Herminia Olivera Hernández e Larissa Braga de Melo Fadigas, pessoas de otimismo contagiante, extrema paciência e disponibilidade, que incentivaram, motivaram e impulsionaram a realização deste trabalho. Deixo registrada minha gratidão, afeto e admiração a estas docentes que durante o caminho da graduação foram figuras imprescidíveis para minha evolução. Gratidão à minha querida, maravilhosa e incansável Professora Mariela Brazón Hernández, docente de extrema importância no meu caminho acadêmico, que através do amor pela docência, do seu entusiasmo, vigor e exemplo, ensinou não só com seu vasto conhecimento, experiência e sabedoria, como também com sua personalidade honesta, criativa e dinâmica. Gratidão à Ana Carolina Sá (Rol), Aline Kedma (Line), Isabela Azêvedo (Bela), Jéssica Fortunato (Jel) e Cássia Mascarenhas (Cassinha), colegas que a partir do encontro e vivências neste mundo chamado Escola de Belas Artes (EBA-UFBA) se tornaram grandes amigas e companheiras sempre presentes, afetuosas e dispostas a emprestar um ouvido ou um ombro, ou a compartilhar o enfrentamento de uma longa madrugada de trabalho. Agradeço aos queridos amigos que fiz na EBA, seres de energia positiva que sempre propiciaram bons momentos de conversas, risadas e descontração nas atividades de “patiologia”, aliviando as cargas de dias desgastantes e, por vezes, sendo salvadores do dia: Charles Ribeiro (Charlito), Edna Laíze (Eds), Igor Almeida (Little), Júlia Bittencout (Jú), Lucas Medeiros (Med), Uillian Novaes (Uill) e José Elias (Zé). E por fim, mas o mais importante, agradeço imensamente à minha mama Luíza e minha irmã Angélica, meus portos seguros, meu ponto de resistência e referência. Obrigada por sempre estarem aqui por mim e comigo. “Todo o ser do Universo estende-se diante de nós como uma grande pedreira diante do arquiteto, que só merece esse nome quando, dessa fortuita massa natural, compõe com a máxima economia, adequação e solidez a imagem primitivamente concebida por seu espírito. Tudo o que está fora de nós não é senão um elemento, e poderia até mesmo dizer, também o que está em nós; mas no fundo de nós mesmos reside essa força criadora que nos permite criar que deve ser e que não nos deixa descansar nem repousar até que tenhamos representado, de uma forma ou de outra, o que está fora ou dentro de nós.” GOETHE (1949-1832), Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister. RESUMO Os ambientes de home office são cada vez mais utilizados para realização de atividades laborais e tarefas de estudo, e em alguns momentos estas atividades se confundem. Este é o caso dos hábitos dos concurseiros que fazem do estudo para concursos seu “emprego”, dedicando longas horas de estudo em cantos de estudos que geralmente são adaptados. A presente pesquisa objetiva estudar a importância de algumas variáveis do design de ambientes no que concerne às condicionates de conforto e seus efeitos sobre o público alvo, propondo a partir destas aplicação de soluções. Os objetivos específicos deste trabalho são: pesquisar sobre o perfil do público alvo; identificar necessidades específicas para home offices de concurseiros a partir dos comportamentos e objetivos pessoais; levantar referências teórico/projetuais referente a utilização do home office com enfoque nos hábitos dos concurseiros, que possam contribuir para a elaboração da proposta; estudar variáveis projetuais consideradas de grande relevância para realização de um projeto de home office para os concurseiros; e desenvolver uma proposta projetual de design de um home office que atenda à demanda de necessidade de um concurseiro, com enfoque nas variáveis de conforto. A partir desta exploração das informações relevantes para o planejamento do ambinete home ofice foi elaborado um programa de necessidades pautado nas condicionantes estudadas, por fim, desenvolvida uma proposta projetual para o ambiente de home office. A pesquisa conclui que as condicionantes selecionadas e estudadas são de grande relevância para o projeto de design de ambientes para home office voltados para estudantes concurseiros e sugere ampliação da pesquisa sobre este ambiente, bem como maior divulgação sobre a relevância daquelas. Palavras-chave: Design de ambientes; Design de interiores; Home office; Ambiente de estudo; Concurseiros; Concursandos; Concursos públicos. LISTA DE IMAGENS Figura 1 – Estrutura de uma casa medieval (Adaptação)........................................ 19 Figura 2 – Escriba trabalhando no scriptorium. Manuscrito francês, Biblioteca Nacional de Paris....................................................................................................... 20 Figura 03 – Sistemas de iluminação típicos em área de trabalho........................... 40 Figura 04 – O ângulo entre a direção horizontal da visão e uma linha de ligação olho-luminária deveria ser maior que 30°................................................................ 41 Figura 05 – Disposição desfavorável das luminárias, à esquerda, e favorável à direita..........................................................................................................................41 Figura 06 – Tabela de eficiência energética – relação fluxo luminoso com potencia consumida.................................................................................................. 42 Figura 07 – Efeito do esforço muscular estático de três tipos de carregamento do material escolar no consumo de energia........................................................... 46 Figura 08 – Divisão da coluna vertebral................................................................... 47 Figura 09 – Tempos médios para aparecimento de dores no pescoço, de acordo coma inclinação da cabeça parafrente (Chaffin, 1973) .............................. 49 Figura 10 – Cone de movimentação dos olhos sem esforço................................... 49 Figura 11 – Alturas recomendáveis de mesa para trabalho tradicional de escritório. ................................................................................................................. 50 Figura 12 – Anatômia dos músculos das costas – Músculos trapézio e deltóide...................................................................................................................... 51 Figura 13 – Dimensões recomendadas para alturas de mesas, conjugadas com alturas de cadeira e apoio para os pés. (adaptada)................................................ 53 Figura 14 – Posições assumidas pela coluna em três formas típicas da postura sentada (Roebuck, Kroemer e Thompson, 1975) ................................................... 53 Figura 15 – Comparação da avaliação de três cadeiras experimentais, que durante duas semanas foram testada por 66 empregados de escriório............... 55 Figura 16 – ambientes com adaptações realizadas pelos usuários (concurseiros) 57 Figura 17 – ambientes com adaptações realizadas pelos usuários (concurseiros) 58 Figura 18 – Ambiente home office........................................................................... 59 Figura 19 – Ambiente home office........................................................................... 60 Figura 20 – Mesa quadro........................................................................................... 61 Figura 21 – Sequência de fechamento da mesa quadro (montagem)................... 62 Figura 22 – Mesa escrivaninha Cerezo..................................................................... 62 Figura 23 – Cadeira Status excutiva/dimensões...................................................... 63 Figura 24 – Cadeira Status excutiva alta/dimensões................................................ 64 Figura 25 – Cadeira Bot executiva alta/dimensões.................................................. 64 Figura 26 – Apoio ergonômico para pés - dimensões (PxLxA): 39 x 26 x 10,5 cm 65 Figura 27 – Apoios para leitura/livros....................................................................... 65 Figura 28 – Postura adequada para visualização da tela com auxílio de um suporte 9ara notebook.............................................................................................. 66 Figura 29 – Divisória em acrílico para gaveta........................................................... 66 Figura 30 – Organizador de materiais de escritório................................................ 67 Figura 31 – Sub Gaveteiro 3GV – com suporte para pasta suspensa. Dimensões (PxLxA) 45x50x61 cm............................................................................................... 67 Figura 32 – Soluçao de painel informativo com manta de cortiça.......................... 68 Figura 33 – Cortina romana...................................................................................... 68 Figura 34 – Luminária para iluminação geral............................................................ 69 Figura 35 – Luminárias para iluminação de tarefa................................................... 69 Figura 36 – Luminárias para iluminação de efeito................................................... 70 Figura 37 – Painel conceitual.................................................................................... 70 Figura 38 – Parede revestida com manta de cortiça................................................ 71 Figura 39 – Imagens referência para o conceito do projeto.................................... 72 Figura 40 – Programa de necessidades do projeto de home office........................ 73 LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS Talela 01 – Principais associações às cores........................................................ 34 – 35 Tabela 02 – Índice de reflexão das cores........................................................... 37 Tabela 03 – Carga estática e dores do corpo.................................................... 48 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................... 11 1.1. Apresentação................................................................................. 12 1.2. Problemática/Justificativa............................................................. 12 1.3. Objetivos........................................................................................ 15 1.4. Questões metodológicas.............................................................. 16 2. HOME OFFICE.................................................................................... 18 2.2. “O escritório” na moradia............................................................. 19 2.3. Concurseiros.................................................................................. 22 3. VARIÁVEIS PROJETUAIS DO AMBIENTE........................................ 29 3.1. Cor e iluminação ............................................................................ 30 3.3. Ergonomia..................................................................................... 42 4. PROPOSTA PROJETUAL................................................................. 56 4.1. Referências projetuais................................................................... 57 4.2. Análise de produtos e soluções estudadas.................................. 61 4.3. Conceito para o projeto................................................................ 72 4.4. Programa de trabalho................................................................... 73 4.5. Diagnóstico e análise do ambiente.............................................. 74 5. PLANTAS GRÁFICAS......................................................................... 76 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................. 85 7. REFERÊNCIAS................................................................................... 88 1 INTRODUÇÃO 12 1.1. Apresentação O trabalho teórico/prático apresentado forma parte dos exercícios desenvolvidos na disciplina Prática Profissional em Decoração (EBA 019), do Curso Superior de Decoração, Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Tem como recorte principal o tema que envolve o chamado Home office, ambiente cada vez mais demandado nas residências e que atende basicamente a um setor da população em crescimento que realiza parte de suas atividades produtivas, sejam elas em caráter permanente ou não, no ambiente doméstico. Ocorrem outras tarefas mais sazonais que podem estar vinculadas a diversas ocupações e/ou serviços, tal como o caso das pessoas que se preparam para a realização de concursos públicos. Estesindivíduos são conhecidos como concurseiros, e é sobre estes que o presente trabalho aborda, focalizando as condicionantes de conforto como as variáveis fundamentais associadas ao bem estar e a produtividade em ambientes laborais. 1.2. Problemática/Justificativa Há algum tempo o avanço das tecnologias vem provocando mudanças no mundo e transformando a forma como as pessoas se relacionam entre si, com o ambiente e também com as atividades que elas desenvolvem. A exemplo disso, a comunicação à distância permitida pela internet trouxe aos seus usuários novas maneiras de se relacionar com o tempo e o espaço. Diversos cursos, inclusive de graduações EAD – Educação A Distância, que se realizam pela internet com poucos encontros presenciais – foram possíveis graças a estes progressos tecnológicos. Seguindo esta linha, a experiência de ter seus conteúdos de estudo ao clique do mouse numa tela de computador tem sido para os alunos de cursos preparatórios para concursos online a chance de experienciar mais o conforto do lar e a comodidade da escolha do melhor horário ou a chance de conseguir fazê-lo, pelos mesmos motivos. Entrar no mundo dos concursos públicos e, portanto, dos concurseiros é verificar que existem muitas diferenças de comportamentos e hábitos – quando se trata da relação com os estudos, o tempo e o local onde todas essas variáveis interagem – entre estas 13 pessoas e estudantes “normais”. Muitas pessoas no Brasil se preparam para concursos, de todos os tipos, e o fazem sob circunstâncias físicas, sociais, emocionais, psicológicas diversas, assim como em locais de estudo muito diferentes. Esses estudantes encaram seus estudos como verdadeiros trabalhos. Anjos e Mendes (2015) concluíram em suas investigações sobre este público, que existe uma psicodinâmica do “não-trabalho”, pois apesar de não serem empregados e por conseguinte não existir uma organização formal do trabalho, os entrevistados da pesquisa tinham conduta “muito semelhante à de um trabalhador”, e descreveram: “É a busca de um objetivo, que é entrar para o serviço público a qualquer custo e tempo” – essa foi a primeira resposta à pergunta sobre o que significava ser concurseiro. A verbalização representa bem as outras respostas, que enfatizam o esforço; o desejo; os sacrifícios pessoais, familiares, de lazer, dos sonhos; a quantidade da dedicação. Todos os entrevistados se submetem a uma rotina diária de estudos que correspondem aproximadamente as 8 horas de jornada da maioria do funcionalismo público. (ANJOS; MENDES, 2015, p. 48) Desta forma, estas pessoas mantêm em seu ambiente doméstico um espaço que se destina a ser o seu ambiente de “trabalho”, seu escritório em casa. Geralmente esse espaço é improvisado, sem muito planejamento, atendo-se basicamente a equipamentos imprescindíveis para o estudo, como livros, computador, materiais de papelaria. A partir desta perspectiva denota-se a importância do planejamento do local onde essa vivência se concretiza. A preocupação com o conforto vai além de uma cadeira acolchoada. Ergonomia, conforto térmico e luminotécnico, saúde física e psicológica permeiam o uso deste ambiente e o percurso do seu usuário ao objetivo final que é passar no concurso desejado. A presente pesquisa se presta a buscar respostas quanto ao ambiente de estudos “montado” em casa, o qual trataremos aqui como Home office, já que se utiliza desse conceito para acontecer, um escritório em casa. Desta forma, o local – home office, e suas variáveis – serão o objeto da pontual atenção para o estudo, sendo consideradas principalmente, como acima dito, as condicionantes de conforto, sem contudo, deixar desconsiderar, é claro, outras como as sociais e psicológicas. 14 Na etapa do levantamento de referências sobre o tema, foi percebida a escassez de material produzido na área relacionadas a home office. Essas pesquisas geralmente são focadas em estações de trabalhos para profissionais das áreas de projeto como designers, arquitetos e engenheiros, por necessitarem de um espaço diferenciado para trabalhar. Grande parte das investigações pontua a carência de mobiliário que se adaptasse aos ambientes e/ou usuários dos home-offices de forma adequada. Os estudos essenciais para esta pesquisa trazem as particularidades supracitadas. A dissertação de mestrado de Roberta Franceschi (2006), A relação entre a moradia, profissional autônomo e mobiliário: diretrizes projetuais para estação de trabalho residencial ligada às atividades de projeto, analisa e expõe o comportamento laboral em home office de profissionais das áreas de arquitetura, design e engenharia, trazendo destes a avaliação de tal atuação. Já Alana Caneppele (2014) em sua monografia, Partitura Trio: Uma proposta do design de mobiliário para ambientes Home Offices, traz uma proposta de criação de móvel específico de home office para o mesmo público por considerar necessárias algumas características não contempladas pelo mercado moveleiro. Escassas também foram referências que se ocupassem de observar o local de estudo do público alvo. Os estudos utilizados como referência para esta pesquisa com a temática de concurseiros têm todos como propostas a análise social e/ou comportamental destes indivíduos como, por exemplo, os artigos A Psicodinâmica do não-Trabalho. Estudo de caso com concurseiros, de Felipe Anjos e Ana Mendes (2015) e Concurseiros e a busca por um emprego estável: reflexões sobre os motivos de ingresso no serviço público, de Priscila Albrecht e Edite Krawulski (2011) e a dissertação de mestrado de Bruno Nogueira (2015), CONCURSEIROS: Motivos e métodos para ingressar no serviço público. Portanto, o presente trabalho coloca-se como contribuição neste campo em desenvolvimento, para o conhecimento deste público e sua relação com seu local de estudo, aqui caracterizado como home office no que concerne as variáveis de conforto sob a perspectiva do design de ambientes. 15 1.3. Objetivos 1.3.1. Objetivo Geral Estudar como condicionates de conforto podem ser utilizadas para o desenvolvimento de projeto de ambientes para estações de trabalho residencial – Home office – de concurseiros, almejando a melhoria da produtividade dos estudos e do bem estar dos usuários. 1.3.2. Objetivos específicos - Pesquisar sobre o perfil do público alvo e informações que levam à relevância desta opção de estudo; - Identificar necessidades específicas para home offices de concurseiros a partir dos comportamentos e objetivos pessoais destes; - Levantar referências teórico/projetuais referente a utilização do home office com enfoque nos hábitos dos concurseiros, que possam contribuir para a elaboração da proposta; - Estudar variáveis projetuais consideradas de grande relevância para realização de um projeto de home office para os concurseiros; - Desenvolver uma proposta projetual de design de ambientes de um home office que atenda à demanda de necessidade de um concurseiro, com enfoque nas variáveis de conforto. 16 1.4. Questões metodológicas e estrutura do trabalho Esta pesquisa é de abordagem teórico-prática, exploratória, de caráter qualitativo, realizada a partir da leitura e análise de bibliografia sobre assuntos relacionados com a temática. Foi adotada a metodologia idealizada por Jenny Gibbs (2014) para o desenvolvimento da proposta de projeto de design de ambientes publicada em seu livro Design de Interiores. Guia útil para estudantes e profissionais. A autora indica que a realização de um projeto de ambientes deve ser dividida em quatro principais fases, que abrangemda coordenação ao gerenciamento de um projeto. A autora descreve o método composto das seguintes etapas: primeira fase, que versa sobre a elaboração do programa de necessidades, proposta de trabalho e aprovação do cliente; segunda fase, que pesquisa as informações que servirão de parâmetro para as soluções adotadas, diagnóstico, levantamento, análise do local e apresentação do projeto para o cliente; terceira fase, correspondente ao momento do projeto executivo, especificações de produtos que serão adotados, e orçamento definitivo; e por último a quarta fase, que trata da execução da obra. No que se refere à aplicação do método de Gibbs (2014), os aspectos relacionados ao gerenciamento do projeto – como orçamentos, contratos e execução de obras – não serão abordados, por se tratar pesquisa acadêmica. Sendo assim a quarta fase, bem como alguns tópicos das fases anteriores que referenciam o gerenciamento não serão descritos na presente investigação. A realização do levantamento do programa de necessidades e as informações base para a compreensão do público-alvo, referentes à primeira e segunda fases do projeto, foram exploradas no capítulo 2 que permeia a historicidade da casa e sua relação com o trabalho, como o ambiente home office se tornou um local de importância para o trabalhador contemporâneo e a investigação sobre o perfil dos estudantes concurseiros. O capítulo 3 traz um estudo das variáveis do projeto de design de ambientes consideradas relevantes para a compreensão e busca de soluções de problemas relacionados com ambiente home office e o público em questão. Por seguinte, o capítulo 4 apresenta as diretrizes projetuais adotadas, sugestão de mobiliário e outros itens 17 auxiliares que se apresentam como solução para algumas questões despontadas, assim como a apresentação do projeto executivo com elaboração de proposta de um projeto de ambientes aplicando o que foi coletado e concluído com a abordagem teórica. Por último, o quinto capítulo finaliza a pesquisa discorrendo sobre as conclusões e possíveis desdobramentos da pesquisa. 18 2 “HOME OFFICE” 19 3.2 Moradia e trabalho Na Europa, até o século XVII, a casa era um lugar público e não privado. Abrigava grande número de pessoas, entre familiares, parentes, agregados e empregados que dividiam o mesmo espaço e muitas vezes a própria cama. (FRANCESCHI, 2006, p.8) A relação do homem com a casa e o trabalho mudou muito desde a Idade Média. A casa do século XIV era abrigo, lugar de se alimentar, de lazer e também de trabalho; ela acolhia em poucos cômodos com raríssimos móveis – que eram utilizados de forma multiúso – todas as atividades da família, não se levando muito em conta a privacidade de cada componente. Figura 1 – Estrutura de uma casa medieval (Adaptação) Fonte: http://image.slidesharecdn.com/sociedademedieval-120506215033-phpapp01/95/sociedade-medieval-23- 728.jpg?cb=1336341421 Rybczynski (1999) explica que o uso do mobiliário se dava conforme a necessidade das pessoas e da atividade a ser realizada no momento. Assim, uma mesa poderia ser utilizada para alimentação durante a manhã, como apoio para o trabalho durante o dia ou para jogos e lazer, e então ser desmontada à noite e retirada por completo daquele lugar para dar então espaço para o que era sala se transformasse em local de dormir. Durante o período do século XV, tarefas como a escrita, a leitura, a administração, o cálculo, a contabilidade, caracterizadas como “trabalho intelectual”, eram denominadas de “atividades de gabinete”, pois neste local encontrava-se a escrivaninha, um móvel 20 específico para estas tarefas. Autores contam que este mobiliário era de uso restrito de pessoas de posses e monges em suas celas, e teria sido o que deu origem ao termo escritório – scriptorium (FONSECA, 2004; FRANCESCHI, 2006). Figura 2 – Escriba trabalhando no scriptorium. Manuscrito francês, Biblioteca Nacional de Paris Fonte: http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1011894_2012_cap_2.pdf O progresso social provocou nas residências reformulações das relações interpessoais, e algumas preocupações antes inexistentes como a privacidade, a organização, a separação dos espaços, estética e conforto do mobiliário foram se tornando aspectos imprescindíveis, o que configurou uma nova relação com o espaço e atenção a novas necessidades dos usuários. Percebe-se então, que desde tempos remotos o mobiliário é um elemento que molda os ambientes e comportamentos. Franceschi explica que o móvel é algo que “auxilia na construção do espaço e no diálogo entre lugar e sujeito, o que provoca uma mudança na concepção do projeto” (FRANCESCHI, 2006, p. 6). Durante o período que antecede a Revolução Industrial, o trabalho realizado a partir da casa já não suportava mais a demanda desta nova sociedade. A produção tinha de ser maior e a quantidade de pessoas em atividade também. O burgo medieval se revelou como espaço de comércio que se dava para fora das casas, através de negociações entre os mercadores. Conforme foram se firmando estas práticas, houve a necessidade de 21 espaços específicos para atividades como a contabilidade, a administração, negociações e o controle da produção (FONSECA, 2004). Nesta dinâmica envolvida no tempo, surgem os barracões – locais em que a rotina era estritamente voltada para o artesanato de venda e escambo – que posteriormente se tornariam as fábricas. A partir daí o trabalho sai completamente da residência, se afastando do ambiente familiar – privado –, para criar espaços públicos, onde acontecem as interações sociais, econômicas e de comércio, com espaços destinados exclusivamente para os escritórios. Essa evasão laboral do lar se refere basicamente às atividades consideradas masculinas. A mulher, portanto, permanece na casa exercendo suas atividades domésticas (FRANCESCHI, 2006, p. 10). A ideia de trabalho era concebida principalmente pela ação física do homem, como as tarefas manuais executadas no campo e nos lares. Este pensamento sofreu diversas transformações a partir do século XVIII, quando grande parte do trabalho migra do âmbito rural para o urbano, consolidando a divisão de local de trabalho do domicílio, local de morar. Apesar de a separação entre trabalho e moradia ter se concretizado no final do século XVIII, a consolidação das fábricas tornou os escritórios em espaços importantes nas estruturas das empresas e da sociedade. Ocorreu um crescente aumento dos serviços administrativos tanto público como privado, as atividades tornaram-se mais complexas e apresentaram diferenciação hierárquica e funcional. (FRANCESCHI, 2006, p. 12) A nova sociedade econômica urbana e industrial, as novas preocupações com a disciplina, a eficiência e a produtividade tornam a racionalidade característica principal das atividades laborais, onde tudo tinha seu espaço, seu modo de fazer e seu tempo, preconizado pelos ideais Tayloristas1. Logo esta racionalidade saiu das fábricas para os escritórios e se disseminou por toda a sociedade, assim organizando, hierarquizando e configurando-a (FONSECA, 2004; FRANCESCHI, 2006). 1 Frederick Winslow Taylor (1856-1915) foi um engenheiro americano que desenvolveu a partir de 1890 a “abordagem científica do trabalho” que gerou um modelo baseado na eficiência da produçãoutilizando a racionalização do trabalho através de “métodos científicos”, estudando as tarefas, os movimentos, o tempo de realização do trabalhador, e padronizando-os. (Fonte: RENNÓ, 2015) 22 3.2 O “escritório” na moradia Após a teoria defendida por Taylor, vieram muitas outras com objetivos muito similares – eficiência e produtividade etc –, mas com abordagens e preocupações bem distintas. Um exemplo foi a “teoria das relações humanas” (1930), advinda de pesquisas com base na psicologia e em estudos realizados por Elton Mayo2, que buscou a melhoria da produtividade através “de uma atenção especial às pessoas” (RENNÓ, 2015, p. 7). Esta teoria tinha uma visão humanista sobre o local de trabalho e, a partir de estudos com ênfase nas pessoas e nos comportamentos dos trabalhadores, concluiu que a integração social e as situações emocionais tinham grande influência na dinâmica laboral. Desta forma, teorias extremamente racionalistas e despreocupadas com o aspecto humano, como a Taylorista, sofreram sérias críticas e demonstraram, a longo prazo, falhas quanto a meta de produtividade. O crescimento do ambiente corporativo, caracterizado por trabalhos intelectuais, administrativos e burocráticos, realizados em escritórios ganhou importância e aumentou o número de trabalhadores reunidos em um mesmo espaço. Esses locais precisaram ser repensados para se adaptar a novas realidades: mais pessoas, novas tecnologias, novos equipamentos, novas ideologias e novas profissões. Assim, como as teorias administrativas de trabalho e os ambientes de escritório sofreram adaptações, transformações e melhorias, as formas de trabalhar também. Desde os anos de 1990, com a propagação da informática e dos computadores pessoais, os trabalhos realizados a partir de ambientes não corporativos, realizados remotamente foram possíveis e cada vez mais desejáveis (OLIVEIRA, 1996; FONSECA, 2004; FRANCESCHI, 2006). 2 Elton Mayo foi um psicólogo e sociólogo australiano que realizou uma pesquisa em uma fábrica dos Estados Unidos conhecida como a experiência de Hawthorne. Este estudo concluiu que, a fadiga, os acidentes e a desmotivação não ocorriam somente por fatores econômicos, baseados no salário ou no gerenciamento das tarefas, mas tinha direta relação com aspectos emocionais como, por exemplo, reconhecimento do seu trabalho e as relações sociais de aceitação de grupo e amizade. (Fonte: Wikipedia. <https://pt.wikipedia.org/wiki/Elton_Mayo>) 23 Ao invés de trabalhar confinado no escritório, os funcionários podem trabalhar em casa, nas instalações de clientes ou parceiros ou de qualquer outro lugar. Pessoas trabalhando em home office vão representar 64% dos trabalhadores. O estilo móvel de trabalho é uma tendência global, e traz diversos benefícios para os funcionários e também para as empresas. (CANALTECH, 2012 apud CANEPPELE, 2014, p. 11) A escolha por este tipo de trabalho surgiu não só pela comodidade, mas da necessidade do trabalhador e das empresas. Caneppele (2014), Franceschi (2006) e Oliveira (1996) explicam que com o aumento de trabalhos terceirizados e pela demanda de empresas por contratos temporários, o estilo home work – em que o profissional trabalha de casa sob autogerência – se tornou uma solução interessante e cada vez mais frequente. Hoje, com a grande quantidade de profissionais autônomos, a ideia de trabalhar com um escritório em casa beira o banal. Caneppele (2014) enfatiza ainda que o “estilo de vida” home office possui vantagens inúmeras e: […] incontestáveis para o funcionário, empresas e para a sociedade, como: redução do tempo de locomoção até o local de trabalho, maior proximidade com a família, flexibilidade no horário de trabalho; para a empresa, pode-se mencionar a redução dos custos de infraestrutura e maior concentração do profissional no trabalho com melhoria na qualidade e produtividade; e para a sociedade, redução dos níveis de poluição em função da redução na circulação de veículos. (Caneppele, 2014, p. 11) As adversidades encontradas no cotidiano das cidades com trânsito caótico, transportes públicos lotados etc, alimentam nas pessoas o desejo de permanecer em seus lares. Trabalho, comunicação e relacionamentos, cursos e compras podem, a qualquer momento, facilmente ser realizados através de uma incrível ferramenta e amplamente conhecida – a internet – reforçando a mudança de sociabilidade e como as pessoas lidam com o tempo e o espaço que ocupam, assim novamente a residência pode ser tida como um local onde a vida doméstica, o trabalho, o estudo e o lazer interagem continuamente (FRANCESCHI, 2006). Trazendo uma análise antropológica de como as novas tecnologias assumem o papel de destaque na sociedade atual, Franceschi (2006) cita uma entrevista com o filósofo Lévy Pierre: 24 O ciberespaço encoraja um estilo de relacionamento independente dos lugares geográficos (telecomunicação, telepresença) e da coincidência dos tempos (comunicação assíncrona) [...] Contudo, apenas as particularidades técnicas do ciberespaço permitem que os membros de um grupo humano (que podem ser tantos quanto se quiser) se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma memória comum, isto quase em tempo real, apesar da distribuição geográfica e da diferença de horários. O que nos conduz diretamente à virtualização das organizações que, com a ajuda das ferramentas da cibercultura, tornam-se cada vez menos dependentes de lugares determinados, de horários de trabalho fixos e de planejamentos a longo prazo. (LÉVY, 1999 apud FRANCESCHI, 2006, p. 48) Marina Sell Brik e André Brik (2012), idealizadores do site Gohome, especializado em divulgar informações sobre home office e treinar pessoas para trabalhar dessa forma, relembra em um de seus artigos, que a soma casa e escritório não é tão recente e pontua que atualmente esta adaptação deve ser bem planejada. Muitos profissionais e estudantes utilizam do local home office para a realização das suas atividades e passam por períodos em que as longas horas de leituras, estudos e escrita são companheiras, assim como são o cuidado com a qualidade de tal trabalho e os sentimentos e sensações que permeiam a execução destas tarefas. Esta pesquisa faz um recorte neste vasto contingente para destacar um tipo de estudante específico e sazonal que, não obstante, realiza suas tarefas intensa e extensamente: o concurseiro. Ao introduzir o tópico sobre o Scriptorium nos monastérios, onde os monges dedicavam longas horas realizando cópias de livros e documentos e decorando e encadernando os manuscritos, Porto (2012) transcreve um texto interessante datado do século XII sobre o penoso ofício da escrita praticada por longo período, que acaba por resumir a tarefa árdua, minuciosa e perfeccionista destes monges e que se faz valiosa para esta pesquisa, pois poderia figurar o vasto tempo dedicado às atividades intelectuais, por vezes árdua, para este tipo de estudante: Se não sabes o que é a escrita, poderás crer que a dificuldade é pequena, mas, se quiseres uma explicação detalhada, deixa-me dizer-te que o trabalho é penoso: embaralha a visão, encurva as costas, aperta os rins e deixa todo o corpo doendo. (…) Como o marinheiro que volta, enfim, ao porto, o escriba rejubila-se, ao chegar à última linha. De gratias semper. (COLOPHON DE SILOS BEATUS, século XII apud PORTO, 2012, p. 17) 25 2.3. Concurseiros Concurseira, concursanda, ou ainda concursista, é aquela pessoa que se estuda para a realização de uma prova de concurso e para ser aprovada. A busca pela aprovação nos, cada vez mais concorridos,concursos públicos faz com que estes candidatos precisem de uma preparação intensa e demorada. O professor de Língua Portuguesa Ernani Pimentel, e também presidente da ANPA – Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos, diferencia semanticamente o concurseiro do concursando: o concurseiro seria uma profissão, uma atuação permanente, devido ao sufixo -eiro utilizado, enquanto o concursando, pela utilização do sufixo -ando, denotaria uma etapa transitória. O conceito é importante, porém algumas coisas seguem mais popularmente aceitas e disseminadas, este é o caso da denominação concurseiro, termo usualmente utilizado quando se trata de pessoas que se preparam para concursos públicos. Esta também é a denominação adotada por autores voltados para a área dos concursos, assim como artigos científicos que se dedicam a estudar este público. Desta forma, concurseiros será a nomenclatura empregada nesta pesquisa para estes estudantes. Independente do valor semântico da denominação, o que a pessoa que estuda para concursos espera é que esta seja realmente uma fase temporária. A rotina de um estudante para concursos é intensa e solitária, horas são gastas em uma postura sentada, para leitura ou assistindo a aulas, sempre na tentativa da plena atenção para a captação e compreensão de diversas informações, determinadas por longos editais. Nogueira (2015) declara que o estudo para concursos “implica decisão a ser levada a sério caso se queira atingir o objetivo da aprovação. (...) muitas vezes demandando imenso esforço emocional e mental à preparação para as provas” (NOGUEIRA, 2015, p. 57). Sendo assim, essas pessoas desejam uma rápida conclusão deste processo. No entanto, já se sabe que hoje em dia a fase de estudos de um concurseiro pode ser muito demorada, a depender da complexidade do concurso que prestará. Estima-se que o tempo pode variar de seis meses a três anos de preparo. Não existem pesquisas completas divulgadas sobre a quantidade de pessoas que se preparam para concursos e qual seria o perfil econômico- social delas; aparentemente é muito diverso e democrático. No entanto, segundo Dalbem 26 (2013) estima-se que 4000 candidatos concorrerão a uma vaga por ano em concursos públicos. Um dado interessante é que 54% dos candidatos são do sexo feminino (WENZEL, 2013). O concurso público no Brasil, da forma como conhecemos hoje, foi sendo lapidado desde a promulgação da Constituição de 1934, que estabelecia no artigo 170, parágrafo 2° um “processo imparcial para a nomeação de funcionários públicos” (DALBEM, 2013). Somente na Constituição de 1967 foi determinado que o concurso público fosse a forma obrigatória de ingresso para o cargo público, com a exceção dos cargos em comissão. A Constituição vigente, promulgada em 1988, trouxe no artigo 37 os princípios que regem a administração pública, estruturando e organizando as condutas da administração e seus agentes (Albrecht e Krawulski, 2011). Esta característica dada pela lei à forma de ingresso no serviço público, por meio de uma avaliação de provas e provas e títulos, através da imparcialidade e da meritocracia chama a atenção de muitos candidatos, assim como boa remuneração e a garantia da estabilidade dada pela Constituição Federal de 1988 que suscitam a ideia de segurança e boas condições de trabalho. Os concursos públicos e o vestibular possuem alguns aspectos análogos. O princípio norteador é o da impessoalidade e da necessidade de um recrutamento meritocrático. Como muitos querem entrar, mas não há vagas ou recursos suficientes, põe-se como necessária a maneira mais justa possível de se escolher quem que será beneficiado. No Brasil moderno, essa justiça está relacionada com a meritocracia – “que vença o melhor” – e é algo bastante aceito pelas pessoas. Outro aspecto é o receio tido pelas formas de admissão mais pessoalizadas, que já foram vigentes no Brasil até os anos 1930 (administração patrimonialista, cf. BRESSER-PEREIRA, 2007) e que continuam existindo, principalmente por meio dos cargos comissionados. (NOGUEIRA, 2015, p. 20) Alexandre Meirelles (2014), um autor de grande relevância que se dedica aos concursos, explica que existe sim uma fórmula mágica para passar em concursos, “é a famosa HBC, sigla para Hora-Bunda-Cadeira, que é o número de horas que você vai passar estudando” e alerta ao concurseiro que o período para se obter aprovação é quase sempre mais que um ano e que se “não souber se preparar corretamente para estudar várias horas por dia durante todo esse tempo, reduzirá suas chances de aprovação e poderá prejudicar sua saúde” (MEIRELLES, 2014, p. 30). 27 Os que se tornam concurseiros, indivíduos das mais diferentes formações (músicos, cientistas políticos, jornalistas, artistas, inter alia), inserem-se em um mundo extremamente competitivo, onde o tempo deve ser aproveitado ao máximo. O estudo é parte fundamental para a acumulação de conteúdos cobrados nos exames; os ganhadores costumam ser eficientes em absorver informações. (NOGUEIRA, 2015, p.29) Anjos e Mendes (2015) em um artigo, que buscava conhecer as relações psicodinâmicas do mundo dos concurseiros, avaliou a conduta de estudos destas pessoas como “não- trabalho” pois apesar de não serem pagos como trabalhadores, elas promovem para sua rotina a organização laboral de tarefas e se submetem psicologicamente às mesmas cobranças de produtividade de acordo com aquilo que buscam, o aprendizado dos conteúdos. A rotina de estudos é rígida e exaustiva, e o aspirante ao cargo público deve sempre buscar superar suas metas já alcançadas. É preciso contemplar todo conteúdo previsto no edital e completar com exercícios e leituras adicionais. Cada um é responsável pelo seu próprio desempenho. (ANJOS; MENDES, 2015, p. 49) Muitos desses Concurseiros optam por estudar em casa para evitar gastos desnecessários de recursos e tempo de deslocamento, assim como para fugir de possíveis estresses no trânsito, permanecendo um longo período de tempo em seus “cantos de estudo”, aqui caracterizados como Home office. Essa possibilidade de permanecer no conforto do lar se dá pelos avanços tecnológicos da internet e a crescente oferta de cursos preparatórios online. Sobre isso Nogueira (2015) sugere que a movimentação econômica deste setor seja de R$30 bilhões ao ano e afirma que, A maior forma de customização existente atualmente é talvez por meio dos cursos virtuais, modalidade que vem avançando bastante com o desenvolvimento da Internet e o aprimoramento na transmissão de dados virtuais, que facilita o ensino a distância. Além dos cursos presenciais em sala de aula, há os cursos telepresenciais e os virtuais. Nos telepresenciais os alunos estão em sala de aula, porém o professor está em outro espaço físico, e sua imagem e som são transmitidos por meios eletrônicos, podendo ser apenas uma gravação ou então uma comunicação ao vivo por meio de softwares como Skype ou Google Hangout, o que permite a interação de alunos e professor. Já nos cursos virtuais, o concurseiro compra videoaulas, que podem ser vistas no site da empresa fornecedora, via streaming. O horário para vê-las é livre, com a possibilidade de visualizá-las no período da preferência do cliente. Elas também podem ser vistas mais de uma vez. (NOGUEIRA, 2015, p. 26) 28 O fato de um concurseiro ter a rotina de “somente estudar” ou “trabalhar e estudar” não diminui a preocupação com a qualidade do seu home office (ambiente de estudo), pois este será inevitavelmente utilizado e por muitas horas. Esta rotina vivida por estes estudantes são avaliadas por eles como desgastantes física e psicologicamente, segundo dados apresentados por Anjose Mendes (2015). Os autores pontuam problemas ergonômicos a partir das queixas dos concurseiros como dores na lombar e cervical, consequentes das longas horas dedicadas aos estudos. 29 3 VARIÁVEIS PROJETUAIS DO AMBIENTE 30 Conforme Bonsiepe (1992), “o design é o domínio no qual se estrutura a interação entre usuário e produto, para facilitar ações efetivas” (BONSIEPE, 1992 apud CANEPPELE, 2014, p. 16). Desta forma, trata-se de ampla disciplina que tem como propósito solucionar problemas diversos, e por este motivo tangencia áreas distintas do conhecimento formando múltiplas ramificações. O design de ambientes é uma destas vertentes; este lida com conhecimentos das artes, arquitetura, decoração, entre outros e se comporta como intermediador entre as relações indivíduo e espaço (SANTOS, 2015). [...] o resultado material da necessidade, de uma demanda, de um desejo do usuário, desta forma os quesitos agregados a este produto buscam satisfazer as necessidades do usuário, dentro de limitações econômicas, sociais e culturais, sempre buscando a melhora de sua utilidade, desempenho e estética incrementando o padrão de vida dos usuários em questão. (ARAGÃO, 2001 apud CANEPPELE, 2014, p. 13) A partir desta ideia, entende-se o ambiente projetado como um produto de design. Este deve garantir segurança e conforto, aspectos que devemos pensar além do sentido físico, mas no bem estar psicológico e emocional, que proporcionem um ambiente salutar e funcional ao indivíduo, oferecendo ferramentas mentais para melhoria da produtividade e eficiência em suas tarefas. Santos (2015) traz a importância do papel do designer como mediador dessa análise: O designer de ambientes deve criar soluções projetuais capazes de contribuir no entendimento do espaço como confortável, agradável e habitável, uma vez que “precisa-se de ambientes que permitam extravasar os sentimentos, emoções, pois não é possível continuarmos tão alienados no meio em que vivemos, sentir- nos encurralados, enfurnados na nossa mente, em espaços anódinos”. (OKAMOTO, 1997 apud SANTOS, 2015, P.84) Este profissional, então, tem a capacidade de compreender as necessidades do cliente captando seu estilo e personalidade para, a partir de conhecimentos prévios, integrar estes pontos através de uma ambientação adequada. Logo, para desenvolver este ambiente o especialista deve obedecer aos princípios e variáveis do design de ambientes. Entende-se por princípios do design elementos fundamentais para a criação de espaços equilibrados e harmoniosos que atendam as necessidades do usuário, sendo eles o dimensionamento humano, escala e proporção e princípios de ordem (GIBBS, 2014). Este último diz respeito ao senso visual de ordenação do espaço: simetria, equilíbrio e ritmo. E 31 por variáveis básicas do design de ambientes infere-se o conforto térmico, acústico, lumínico, ergonomia e o planejamento do esquema cromático. Planejar um ambiente laboral requer alguns cuidados para proporcionar ao trabalhador os aspectos citados, e estes são zelados quando o ambiente é corporativo, assistido por profissionais especialistas de diversas áreas. No entanto, há constante negligência quando estes postos de trabalho são instalados na casa do trabalhador. Em se tratando de home office, largamente utilizado para realização de outras atividades não remuneradas – como local de estudo, por exemplo – a questão se agrava, e geralmente o descuido é consequência de cortes de custo, busca de agilidade na execução do projeto ou por dedicação excessiva a aspectos estéticos. Sobre isso Meel (2013) afirma que “a definição de um espaço de trabalho não envolve simplesmente custos ou um projeto interessante, mas também questões como produtividade, cultura, flexibilidade e o bem estar e a felicidade dos funcionários” (MEEL, 2013, p. 17). A ideia de propor para este lugar de estudo um home office – nomenclatura que quase sempre vem associada à ideia de um ambiente para um único uso, bonito e organizado – denota a importância de planejá-lo considerando alguns aspectos que comumente provocam problemas de saúde e falta de produtividade. Quando se trata de um home office, espaço dado à realização de atividades intelectuais por curtos, médios ou longos períodos, algumas características devem ser observadas. Robert Propst ao falar sobre os sistemas de móveis para escritórios enfatizou a importância de se reconhecer que as pessoas não apenas desempenham atividades, mas também, “moram” nos seus locais de trabalho, uma vez que passam a maior parte do seu tempo no ambiente de trabalho. O pesquisador considera fundamental saber como as pessoas percebem o seu local de trabalho e como fazem uso dele, para a criação de um mobiliário adequado às suas caraterísticas e às características do trabalho realizado. (FONSECA, 2004, 29) O desenvolvimento de um projeto de um ambiente residencial destinado à realização de atividades intelectuais requer atenção aos fundamentos do design. A presente investigação tem como propósito pesquisar este ambiente, dando destaque as variáveis do conforto luminotécnico, às escolhas cromáticas e à ergonomia, para pautar as soluções das necessidades e aspirações demandadas pelo usuário para este local. 32 Santos (2015) sugere que os aspectos cromáticos, quando utilizados de maneira planejada e consciente no desenvolvimento dos espaços, podem estreitar e requalificar as relações entre o ambiente e usuários através de sensações agradáveis. Levando-se em consideração que a visão é um processo dependente da luz, esta se faz tópico essencial para esta pesquisa. O bom desempenho da tarefa visual, e consequentemente o cuidado com aspectos como produtividade, bem-estar e a preservação da saúde do indivíduo, dependem de um planejamento que se dedique a propiciar condições ambientais adequadas de luz, seja ela natural ou artificial. O advento da ergonomia objetivou adaptar os ambientes de trabalho ao trabalhador, priorizando os aspectos de segurança, saúde física e mental e conforto, sendo a produtividade consequência deste processo. Através da reunião de profissionais como engenheiros, designers, médicos e psicólogos este campo de pesquisa desenvolveu um interesse que transpassa o cuidado precípuo com o ambiente, e se atém ao indivíduo usuário. 3.1 Cor e iluminação A luz e a cor são elementos que possuem íntima relação, e já foram amplamente estudadas por diversos especialistas em experiências que demonstraram suas influências sobre aspectos como a saúde, o humor dos indivíduos e o rendimento das tarefas, propiciando reações psicológicas positivas, menor fadiga visual, melhoria da produtividade. Tais informações são corroboradas pelas pesquisas dos autores Egydio Pilotto Neto (1980), que traz um estudo sobre o uso das cores nos ambientes de trabalho, Itiro Iida (1995), que desenvolve ampla pesquisa sobre a ergonomia e Malcolm Innes (2014), que se debruça sobre a iluminação utilizada em design de ambientes. As cores estão presentes em todos os lugares, compondo e moldando-os através de suas características intrínsecas, e exercem sobre as pessoas variadas sensações. No entanto, estas não são percebidas por todos da mesma forma, pois a interpretação de uma cor é regida por múltiplos fatores inerentes ao individuo que a observa, tais como o sexo, a idade, a classe social, a cultura, as experiências já vividas etc. Santos (2015) explica que “a reação às cores podeser [...] uma atividade aprendida, já que pessoas ou acontecimentos 33 do passado podem fazer um indivíduo gostar ou não de certas cores”. (SANTOS, 2015, p. 37) Há muito tempo, filósofos, artistas e psicólogos se interessam e estudam a influência das cores sobre os seres humanos. Em tempos remotos incumbiram a este elemento muitos usos e significados e acreditavam ter propriedades mágicas, religiosas e curativas, pois possuía a capacidade de estimular, relaxar, alegrar, revigorar, causar irritação e até desconforto físico, tendo sido usada, possivelmente, como instrumento de tortura pelos Astecas no México antigo (SANTOS, 2015). Não obstante às individualidades, a psicologia observou que as cores são capazes de provocar efeitos genéricos no comportamento humano a depender de suas características físicas relacionadas à luz, gerando impressões visuais como aproximação e afastamento de superfícies e percepções de calor ou frio. Assim, uma primeira divisão é atribuída a sensações: cores quentes – referentes ao vermelho, amarelo e laranja – e cores frias – formadas pelo azul, verde e cores adjacentes (PILOTTO NETO, 1938). Neste sentido, sensações subjetivas se confundem, a depender das propriedades físicas e da significação simbólica que as cores possuem. Santos (2015) afirma que a cultura tem forte influência sobre esse aspecto, assim como a geografia e o clima do local. As cores fazem parte de um espectro eletromagnético e Gibbs (2014) explica que “a vibração de cada uma delas tem seu próprio comprimento de onda, que produz diferentes reações físicas e emocionais em cada individuo” (GIBBS, 2014, p. 114). Sobre os diversos significados e emoções inerentes às cores, Santos (2015) faz uma ampla demonstração das principais associações culturais e materiais feitas deste elemento e as reações provocadas nos indivíduos (ver Tabela 01). 34 Talela 01 – Principais associações às cores 35 Fonte: SANTOS, 2015, p. 44-45. Assim, estas características, associações e simbolismos apresentados por Santos (2015) devem ser considerados no projeto do ambiente como influenciadores da personalidade do local e do usuário. Além destes aspectos estéticos e psicológicos que envolvem a relação ambiente, usuário e cor, este elemento assume papel relevante na influência da promoção da saúde, segurança e bem-estar dos indivíduos que utilizam espaços laborais – neste caso o home office. A escolha das características do esquema cromático depende de uma série de fatores como o tipo da tarefa a ser realizada, o espaço e a iluminação (PILOTTO NETO, 1980). Sobre a escolha cromática baseada nestes aspectos, Pilotto Neto (1980) traz algumas 36 sugestões de aplicações cromáticas de acordo com o local. O teto e forro destes locais devem ser pintados de cores claras, como o branco, pois assim a luz seria refletida e espalhada pelo local, aproveitando a iluminação natural e reduzindo a necessidade da luz artificial. O piso deve ser um pouco mais escuro que as cores do teto e das paredes, tentando encontrar um equilíbrio entre luz e sombra. O autor propõe que este equilíbrio seja orientado pelo exemplo da natureza – o chão relaciona-se com a terra, mais escura; as paredes seguem uma tonalidade com valores médios e a cor do firmamento, mais luminosa corresponde ao teto (PILOTTO NETO, 1980). As cores das paredes do home office vão determinar além do estilo, a atmosfera deste ambiente. Este é um ponto em que o usuário deve se focar quando desvia seu olhar da tarefa, em momentos de distração ou descanso. Assim, é preciso atentar-se para as impressões que estas cores provocaram nestes estudantes. O clima também pode ser norteador desta escolha, já que as cores seriam capazes de proporcionar alívios às sensações térmicas sentidas, como por exemplo o azul proporcionar uma “sensação de frescor, puramente psicológica, apesar do calor reinante” ou “a sensação de frio [...] ser reduzida com o uso racional de cores quentes como amarelo, o laranja e o vermelho” (IIDA, 1995, p. 270). Sobre estas propriedades incumbidas às cores, Kroemer e Grandjean (2005) declaram que, De uma maneira geral, todas a cores escuras são opressivas e fatigantes: elas absorvem a luz e são difíceis de manter limpas. Todas as cores claras são vibrantes, alegres e amigáveis. Elas espalham mais luz e iluminam a sala e encorajam a limpeza. (KROEMER; GRANDJEAN, 2005, p. 307) As cores sugeridas para locais de trabalho são as de tons mais simples e suaves, proporcionando superfícies mais neutras, evitando pontos de distração (IIDA, 1995). É essencial, porém, avaliar a incidência da luz sobre elas, pois cores muito claras, aproximadas do branco ou com aspecto muito brilhante, refletem bastante luz, o que pode causar diminuição de visibilidade, distração visual e desconforto ao olho humano através do ofuscamento, que se dá pela sobrecarga visual devida a super exposição da retina à luz (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). 37 Tabela 02 – Índice de reflexão das cores Cor e material Reflexão em % Branco teórico Branco de cal Amarelo Amarelo-limão Verde-limão Amarelo-ouro Rosa Laranja Azul claro Azul-celeste Cinza-neutro Verde-oliva Verde médio Vermelho Azul turquesa Verde-garrafa Carmin Violeta Preto teórico 100 80 70 65 60 60 60 50 50 30 30 25 20 17 15 12 10 05 00 Fonte: PILOTTO NETO, 1980, p. 119. Portanto, este fenômeno reflexivo deve ser atentado na decisão dos esquemas cromáticos para este espaço laboral e seus arredores, podendo ser orientada pelo índice de reflexão (ver tabela 02) atribuído a cada cor (PILOTTO NETO, 1980; KROEMER; GRANDJEAN, 2005). Pilotto Neto discorre sobre a utilização cromática e este fenômeno reflexivo, assim como o aproveitamento da luz: 38 O emprego das cores com um coeficiente de reflexão elevado proporciona uma melhoria notável na utilização da luz. Em alguns casos, torna-se possível a obtenção do dobro do nível de iluminação, sem nenhuma modificação das luminárias e sem aumentar as potencia das lâmpadas. (PILOTTO NETO, 1980, p. 118) Ponderando o fenômeno da reflexão justifica, então, que em um projeto de home office requeira atenção ao comportamento da luz natural e a escolha da luz artificial utilizada, visto que este fator estará subordinado ao esquema cromático adotado no espaço. Objetos em que as cores possuem altos índices de reflexão podem ocasionar o ofuscamento se indevidamente iluminados. Sobre o ofuscamento, o autor Itiro Iida (1995) coloca que existem dois tipos: o primeiro, resultante da presença de fortes fontes de luzes no campo visual, tendendo a provocar “cegueira”3, que pode ocorrer devido a instalação incorreta de luminárias, ou mesmo quando existem “janelas ou áreas excessivamente brilhantes em relação ao nível geral do ambiente” (IIDA, 1995, p. 256). O segundo tipo não provoca a “cegueira”, mas irritação e desconforto visual. Nesta situação, um objeto brilhante se destaca frente a um fundo escuro e provoca ações musculares contraditórias que ao dilatar o íris4 causam distração e outros prejuízos para visão. Para acabar com o ofuscamento, a medida mais eficiente é eliminar a fonte de brilho do campo visual. Quando isso não for possível porque a fonte, por exemplo, é a janela, pode-se mudar a posição do trabalhador de forma que essa janela fique de lado ou de costas para ele. Outras medidas possíveis são as seguintes: reduzir a fonte de brilho – subistituindo-se,por exemplo, uma lâmpada por um conjunto de lâmpadas de intensidades menores, ou colocando- as longe dos olhos; atuar sobre o ambientes – aumentado a luminosidade geral do ambiente ou colocando anteparos entre a fonte de brilho e os olhos; reduzir o brilho refletido – usando-se lâmpadas de luz difusa ou eliminando-se superfícies refletoras no campo visual. (IIDA, 1995, p. 257-258) Ainda sobre os prejuízos causados à visão pelo ofuscamento, a fadiga visual influencia negativamente no bem-estar do usuário do espaço. Esta é ocasionada pelo “esgotamento dos pequenos músculos ligados ao globo ocular, responsáveis pela movimentação, fixação e focalização dos olhos” (IIDA, 1995, p. 258). Provoca 3 A cegueira referida pelo autor trata-se de uma condição transitória em que o olho não consegue distinguir as imagens por de um bloqueio da visão. Removida a fonte de brilho o olho recupera as funções, se adaptando à nova situação. (IIDA, 1995). 4 É um fino tecido muscular que tem, no centro, uma abertura circular ajustável chamada de pupila. (Fonte: Hospital de olhos de Blumenau. http://hob.med.br/como-funciona-o-olho-humano/) 39 desconforto e tensão, e em graus mais elevados, dor de cabeça, sensação de náusea, depressão, irritação e queda na produtividade. Pode ser provocada por má postura, necessidade de foco em objetos pequenos, pouco contraste, objetos em movimento e iluminação inadequada. Para evitar a fadiga visual faz-se necessário um cuidadoso planejamento da iluminação. Pilotto Neto (1980) e Kroemer e Grandjean (2005) reiteram que o planejamento adequado da iluminação deve ser baseada em dois fatores: quantitativos – baseado nos níveis de iluminamento (iluminância) –, e qualitativos, que dizem respeito à qualidade espectral, a direção do raio luminoso e o grau de difusão da luz. Em escritórios, ou áreas destinadas a atividades laborais, a quantidade de luz deve ser relativamente alta, para que todas as tarefas sejam desempenhadas de forma satisfatória e confortável. Segundo a NBR 5413 (1992) – Iluminância de Interiores – para a iluminação geral de uma área de trabalho em escritório faz-se necessário uma média de 500 à 1000 lux de iluminância (essa variação dependerá da dimensão do local e esquema cromático adotado), sendo que níveis acima de 1.000 lux podem causar a fadiga visual. Este índice deve ter como parâmetro de cálculo a superfície do campo de trabalho, nesse caso na superfície da mesa. Os fatores qualitativos como sistema de iluminação, o tipo de lâmpada e o esquema cromático adotado são fundamentais para o equilíbrio de um projeto. Sobre o sistema de iluminação Iida (1995) divide em três tipos: geral, localizada e combinada (ver figura 03). A iluminação geral versa sobre uma luz difusa distribuída uniformemente sobre o ambientes; a localizada, concentra quantidade de luz maior, cerca de 50% a mais que a geral; já a combinada, trata-se da iluminação geral complementada por focos de luz direcionados (luminárias tipo abajour para iluminação de tarefa), com intensidades de 3 a 10 vezes superior à primeira (IIDA, 1995). Considerando a necessidade de luz requerida pelo ambiente de home office, destas citadas, a iluminação combinada seria a mais adequada. 40 Figura 03 – Sistemas de iluminação típicos em área de trabalho Fonte: IIDA, 1995, p. 260. A posição em que estas fontes de luz se encontram também precisam ser consideradas. Elas devem estar posicionadas de maneira que a luz não incida diretamente sobre os olhos e também não provoque reflexão excessiva sobre alguma superfície para não gere o ofuscamento. Quanto a este aspecto, é importante também considerar o surgimento de sombras que atrapalhem a execução da tarefa. Iida (1995), Kroemer e Grandjean (2005) recomendam que a localização desta luminária seja 30˚ acima da linha de visão (horizonte), preferencialmente colocada atrás do estudante ou lateralmente (ver figuras 04 e 05). 41 Figura 04 – O ângulo entre a direção horizontal da visão e uma linha de ligação olho-luminária deveria ser maior que 30°. Fonte: KROEMER GRADJEAN, 2005, p. 241 Figura 05 – Disposição desfavorável das luminárias, à esquerda, e favorável à direita. Esquerda: a luz refletida vai na direção do olhar, de modo que é possível o ofuscamento por reflexo direto. Direita: a luz refletida não atinge o olho; por isso, são evitados ofuscamentos por reflexos. Fonte: KROEMER GRADJEAN, 2005, p. 241 Diversos autores sugerem que, a depender da necessidade, se utilize mais de uma fonte luminosa com o intuito de uniformizar a disposição da luz e evitar possíveis áreas de sombra. Além da quantidade e da localização da fonte luminosa, também é relevante considerar o tipo de lâmpada especificada, assim como a temperatura de cor. No que se refere aos tipos de lâmpadas disponíveis no mercado para situações residenciais ou para escritórios, podemos citar as incandescentes, halógenas, fluorescentes e a tecnologia led. As incandescentes e as halógenas, fontes que produzem luz através do aquecimento do filamento, são as que possuem menor eficiência energética, pois a maior dessa energia é 42 transformada em calor e a menor em luz visível (INNES, 2014). Sendo assim, para ambientes de trabalho de longa permanência essas fontes de luz não são indicadas. A lâmpada florescente é classificada como luz de descarga, pois trata-se de “um processo completamente diferente do modo pelo qual as fontes incandescentes emitem luz. A excitação do gás pela eletricidade provoca colisões pelos seus átomos, e essas colisões resultam na liberação de energia na forma de luz ultravioleta ou visível” (INNES, 2014, p. 50). Em questão a eficiência, este tipo consegue transformar toda a energia consumida em luz visível. A figura 06 compara a eficiência das lâmpadas incandescentes, halógenas e os diversos tipos de fluorescentes. Figura 06 – Tabela de eficiência energética – relação fluxo luminoso com potência consumida Fonte: Osram Brasil. Sobre a temperatura de cor, pontuada como um aspecto relevante, cabe esclarecer que se trata de uma grandeza fotométrica, medida pela grandeza K (kelvin). Se refere à cor da luz emitida pela lâmpada, percebida pelo olho humano quando comparada à luz natural: quanto mais próxima à luz emitida no inicio e no final do dia, mais baixa é essa temperatura, quanto mais próxima à luz do meio-dia, mais alta é a temperatura desta cor. 43 A luz do dia tem grande influência na produtividade humana; de maneira geral, nos horários próximos ao meio-dia, as pessoas tendem a estar em um estado de alerta e maior produtividade. Iida (1995) confirma esta colocação explicando que, “em determinados dias e horas o organismo se mostra mais apto ao trabalho. Nessas ocasiões, além do rendimento ser maior, há também menores riscos de acidente” (IIDA, 1995, p. 273). Sendo assim, para ambientes de trabalho como os home office uma temperatura de cor elevada proporcionaria uma melhoria na qualidade do desempenho da tarefa. Dentre as tecnologias citadas, a mais recente é a LED (diodo emissor de luz). Esta possui uma grande eficiência energética, pois com menor consumo de energia consegue gerar grande quantidade de luz. Os LEDs são fontes de luz bastante eficientes no caso de aplicação em luminárias de tarefa (abajur), no entanto, para iluminação geral não se faz uma solução efetiva. Sobre isso Innes (2014) afirma: A eficiência dos LEDs têm aumentado a cada ano, mas talvez ainda leve algum tempo até que fontes de luz LED ultraeficientes,com desempenho superior às lâmpadas fluorescentes e de descarga deixem de ser protótipos de laboratório e se transformem em luminárias úteis e de uso comum. Assim, esta fonte de luz, com o consumo de energia e geração de calor relativamente baixos provavelmente se tornará a fonte de luz banca predominante na maioria dos espaços que exigem iluminação geral (INNES, 2014, p. 56). 3.2 Ergonomia Ergonomia, neologismo formado pelos termos gregos ergo, que significa trabalho e nomos significa lei natural, foi proposto por um grupo de cientistas de diversas áreas para a criação de um “novo ramo de aplicação interdisciplinar de ciência” que garantisse a pesquisa e solução de sérios e recorrentes problemas encontrados nas áreas militares e industriais, após a II Guerra mundial. (IIDA, 1995) Assim, a ergonomia surge como uma proposta definida de ser: [...] o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento. (ERGONOMICS RESEARCH SOCIETY apud IIDA, 1995, p.1). Esta é uma ciência ampla e complexa que tem interesse em múltiplas variáveis que permeiam o ambiente projetado e seu usuário, entre eles aspectos fisiológicos, 44 antropométricos³ (estudo das medidas do corpo humano) e psicológicos. Esta disciplina tem uma visão tão importante de como o ambiente deve se adaptar ao ser humano que saiu do ambiente laboral para de alguma forma entrar em outros ambientes sociais, mas isso ainda acontece de forma pouco cuidadosa, motivo o qual leva Panero e Zelnik (2012) questionarem “onde, então, o conceito de ‘projetar a partir do próprio homem’ poderia fazer mais sentido do que no campo da arquitetura e do design de interiores?” (PANERO; ZELNIK, 2012, p. 19). Para chegar às medidas ergonômicas adequadas, considera-se qual a atividade desenvolvida, usuário, equipamentos e ambiente, pois para a ergonomia é indispensável verificar o que é feito, quem faz, como e quanto de trabalho é realizado para se chegar às medidas necessárias e corretas do mobiliário, todos estes quesitos são importantes para a própria prevenção de desconfortos e lesões corporais. (CANEPPELE, 2014, p. 46) Entende-se que alguns fatores ergonômicos são objetos de estudo mais essenciais a um projeto de ambiente de home office. São eles: a antropometria, percepções visuais e posturais, aspectos subjetivos (conforto, segurança e fadiga), temperatura, iluminação, organização do trabalho e os sistemas de posto de trabalho e produção. Estas variáveis podem, nesta pesquisa, ser pensadas em níveis de importância quando se analisa o usuário do ambiente a ser planejado. Este usuário tem como comportamento de trabalho longas horas sentado, lendo em papeis ou telas (celular, ipad, kindle etc.) e olhando para a tela do computador. Desta forma, deve ser prioritariamente pensado na postura deste indivíduo e os móveis com os quais realizará as tarefas. Muitas são as queixas de dores por pessoas que precisam passar muito tempo na posição sentada. Em pesquisa realizada por Gradjean (1962), 57% das queixas estavam relacionadas a dores nas costas (KROEMER e GRANDJEAN, 2005, 50). Conforme sinalizado na seção anterior, nesse momento serão pontuadas, à luz de Iida (1995) e Kroemer e Grandjean (2005), algumas considerações iniciais a respeito das atividades musculares, no que se refere aos conceitos do trabalho estático e dinâmico e suas implicações na realização das tarefas, as recomendações ergonômicas para dimensionamento dos locais de trabalho, atentadas prioritariamente em ações realizadas em posturas sentadas, assim como os aspectos subjetivos de conforto e segurança. Estas 45 serão concepções balizadoras para este trabalho, que darão subsídios para a análise das questões consideradas fundamentais. • Trabalho estático x trabalho dinâmico De acordo com Kroemer e Grandjean (2005) o trabalho muscular estático “caracteriza-se por um estado de contração prolongada da musculatura, o que geralmente implica um trabalho de manutenção de postura […] o músculo não altera seu comprimento e mantém-se em um estado de alta tensão, produzindo força durante todo o período de esforço” (KROEMER e GRANDJEAN, 2005, p. 15). Segundo os autores, comparado ao trabalho dinâmico leve, aquele provoca maior gasto energético, frequência cardíaca mais alta e requer maior tempo de repouso (descanso). Esses efeitos se dão pelo fato de haver menor irrigação sanguínea nos músculos (que estão em estado isométrico) e consequentemente menor presença de oxigênio para a produção de energética, o que deprime a eficiência muscular. Iida (1995) compara esse processo com o do trabalho dinâmico: momento em que o músculo é contraído e relaxado alternadamente, o que promove um bombeamento sanguíneo e faz o volume de sangue circular cerca de até 20 vezes mais, recendo mais oxigênio e aumentando a resistência à fadiga. Geralmente as atividades são caracterizadas de esforço misto – parcialmente estático, parcialmente dinâmico – como, por exemplo, uma atividade sentada de digitação em que o trabalho das pernas diminuem, mas os músculos das costas, dos ombros e dos braços realizam o trabalho estático para manter as mão sobre o teclado, enquanto os dedos realizam a parte dinâmica da atividade (ver figura 07). No entanto, como o componente estático é mais desgastante que o dinâmico, comumente deve-se dar maior atenção à sua execução (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). Outro exemplo dado por Kroemer e Grandjean (2005) é resultado de uma pesquisa realizada por Malhotra e Sengupta (1965) em que, 46 [...] os autores mostraram que os estudantes que carregavam a pasta escolar em uma das mãos tinham um gasto de energia superior a duas vezes do que quando carregavam a pasta nas costas. Este aumento do consumo de energia deve ser atribuído ao trabalho estático dos braços, ombros e costas. (KROEMER e GRANDJEAN, 2005, p 18) Figura 07 – Efeito do esforço muscular estático de três tipos de carregamento do material escolar no consumo de energia (medido pelo consumo de oxigênio) segundo Malhotra e Sengupta (1965) Fonte: KROEMER e GRANDJEAN, 2005, p 19. • A coluna vertebral A coluna é um dos pontos mais fracos do organismo. Ela se assemelha a um jogo de armar, que fica na posição vertical, sustentado por diversos músculos, que também são responsáveis pelos seus movimentos. Sendo uma peça muito delicada, está sujeita a diversas deformações. [...] Evidentemente, é melhor prevenir para que essas deformações não apareçam. Isso é feito com exercícios para fortalecer a musculatura, e evitando-se cargas pesadas ou posturas inadequadas, principalmente se estas forem prolongadas, sem permitirem mudanças frequentes. (IIDA, 1995, p. 67) A coluna vertebral é o sustentáculo do corpo. Tem como função proteger a medula espinhal (parte do sistema nervoso central) em seu interior, é responsável pelo movimento do tronco e pela sustentação e mobilidade da cabeça. Em contrapartida, possui estruturas frágeis e por este motivo é suscetível a problemas diversos causados por posturas inadequadas e por esforço excessivo. Essa estrutura é composta por quatro partes – cervical, torácica, lombar e cóccix – totalizando 33 vértebras sobrepostas que se estende da nuca à pelve (ver figura 08). Entre as vertebras existem discos cartilaginosos que se assemelham a almofadas, que dão mobilidade, nutrem e protegem a coluna por um mecanismo bombeamento de líquidos, 47 realizado pela compressão e descompressão dos discos (IIDA, 1995; KROEMER; GRANDJEAN,
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