Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
(F o nte : http ://cultu ra .e stad ao .co m .b r/n oticia s/ge ral,histo ria -a -m esa ,70001661608 – a ce sso e m 16fe v2017) Histó ria à m e sa (L ea nd ro K a rn al – E stadão , 12 de fe ve reiro d e 2017) C ria nça s to m a m su co s o rgâ nico s livre s de q uaisq ue r coisa s tra n s p o r p ais q u e b ebia m Ki -S u co P o u ca s coisa s sã o tã o cultu rais q u a nto a co m ida . U m a m esa é u m a co n cepçã o d e m u nd o , u m a hie ra rq uia de d esejo s e de im agin ação e sp acial . D efinir o q u e co m e r , d e q ue fo rm a e e m q u al q ua ntidad e é m ais d o q u e u m e xe rcício básico . P o r ve ze s , infelizm e nte , u m a m e sa é ta m bé m o a rra njo d o po ssível . E m u m film e d e p rop aga nd a d a G u e rra F ria , N inotchka (E rn st L ubitsch , 1939) , G reta G a rb o é u m a e n viad a ru ssa a P a ris q ue re cu sa u m ofe re cim e nto de co m id a p o r já te r inge rid o a q u a ntid ad e suficie nte d e calo ria s . C la ro q u e , ao lo ngo d a na rrativa , a co m issá ria bolch e viq ue vai d e scob rind o o s e n ca ntos d e u m ch apé u sofisticad o , d e joia s , de cha m p a nh e e d a b oa co m id a . C o n ve rtid a a o lado estético d a vid a , ela de se rta da U RSS . P rim eira liçã o : a m e sa é u m re su m o d as tro ca s d o m u nd o . U m a g ra m ín e a , a ca n a -de - açú ca r , sai do O cea no Índico e , le vad a po r á rab es , ch ega a o M edite rrâ n eo . A jo rn ad a co ntin u a p ela s ilha s do Atlâ ntico e , d ali, atinge B ra sil e C a ribe . S u rge u m a civilizaçã o d o açú ca r . O go sto pelo d oce se rá u m pé rfid o in ce ntivo ao flu xo d e e scra vo s n a Idade M ode rn a . O s e nge nh o s daq ui e os e scra vo s de A ngola e stim ula m a in va sã o b ata va de a m bo s o s lad o s d o Atlâ ntico . Te r im pé rio açu ca reiro m ud o u o pe rfil da culiná ria po rtug u e sa . U m a e sp e cia ria , a nte s ra ra , to rn a -se u m a da s e xplicaçõe s pa ra u m pinto r co m o F ra n z P o st te r e stad o n o N o rde ste o u p a ra no ssa co m p o siçã o étnica . C o m id a é histó ria . Pim e nta , cra vo , ca n ela e o utro s ite n s le va ra m os lu sita n o s e o cristia nism o p a ra a Á sia . A m a nga , ab u nd a nte na Índia , ch ega a o B ra sil e se aclim ata tã o b e m q u e pa rece q ue se m p re fo m o s cobe rto s po r m a ng u eira s fro nd osa s . Alé m d a m a nga e d o açú ca r , o B ra sil colô nia re ceb e u u m a pla nta africa n a e spe cial: o café . C o m u m a histó ria ro ca m b olesca , F ra n cisco d e M elo P alh eta tro u xe a rubiá ce a p a ra a A m é rica P o rtug ue sa n o sé culo 18 . O su ce sso d o cultivo do café é pa rte da no ssa histó ria . O N o vo M u nd o d e u u m a co ntrib uiçã o e xp re ssiva à e co n o m ia e à s m e sas d o V elho . A batata , o riu nd a da regiã o a ndina , to rno u -se tã o fu nd a m e ntal n a E u rop a q u e fica co m ple xo e xplica r a u m ale m ã o o u irla ndê s q u e n e m se m p re este ve lá . Q u e u m tubé rculo a ndin o te nha virad o batata -ingle sa é a e vidê n cia de co m o u m a pla nta p ode se r ap rop riad a física e co nceitualm e nte . Ta m bé m d a A m é rica p ro ced e o m ilh o q u e h oje se este nd e po r ca m p os im e nso s e m tod o s o s co ntin e nte s . Já n o sé culo 16 , a p ro saica goiab eira da s A m é rica s e sta va viceja nd o na Índia g raças à s n a vegaçõ e s . A m e sm a Índia veio a co nh e ce r o m a m ão p ap aia e o caju . O s cajueiro s e ra m , aliá s , a m a rca distintiva d e g ra nd e pa rte d o lito ral do N o rte e N o rd e ste do B rasil . Só d epois o s coq u eiro s o cup a ra m e ssa ide ntid ade visual . Há a nim ais da p a rad a tra n so ceâ nica . Vie ra m galinh a s e va ca s p a ra cá . E xpo rta m o s o pe ru pa ra o pla n eta . C a ra vela s são a rcas d e N oé . Todo p ro ce sso de m u ndialização é , ta m bé m , troca de alim e ntos . O ch a m ad o inte rcâ m bio colo m bia no (colu m bia n e xch a nging) foi cre sce ndo co m a Idad e M od e rna e a C o nte m p o râ n ea . O chá o rie ntal ch ega cada ve z e m m aio r q u a ntidad e pa ra os inglese s . A A m é rica p assa a pla nta r trigo . O gira ssol d a A m é rica do N o rte viro u u m cultivo m u ndial e pa sso u a se r a sso ciad o ao s ca m p o s d a Rú ssia . O a rro z d a Á sia se to rn a m u ndial . Pla nta s vicia nte s de sp o nta m : a co ca e o taba co d a A m é rica . A m inh a geraçã o co nh e ce u u m a no va o nd a d e tro ca s . Q u a ndo n asci, h a via po u ca s opçõe s de fruta s . D e sco nhe cía m o s lichia e kiw i . N u n ca vi o u e xp e rim e ntei u m su shi na infâ n cia . Ig n o ra va o q u e vinh a a se r u m te m aki . O s m e rcado s e ra m m ais lo cais , e a vo ntad e de e xpe rim e nta r , ap a nágio da civilizaçã o , b e m m e n o r . R e ceita s ta m bé m co nhe ce m histó ria . Vi su rgir e d e cair o e strogo n ofe , o coq u etel de ca m a rão , o fo nd u e , a noite d e q u eijo s e vinh o s . . . C o nfe sso , co n stra ngid o , te r co nhe cid o u m ind efectível vinho ale m ã o , m ais d oce do q u e o m el e m ais o rdiná rio d o q u e u m a pe rso n age m de N elso n R od rig ue s . Q ua ntos d os q u e h oje oste nta m sofisticaçõ es e nófila s tê m e ssa m a n cha a zul n o se u p a ssad o? O q u e le va a o e clip se do coq u etel de ca m a rã o? D ifícil dize r . D e ve e sta r n o m e sm o luga r o nde se a cu m ula m a sa m a m b aia d e m etro e o cach o de u va s co m p ed ra s b ra sileira s n a m esa d e ce ntro . C o m id a é se m p re histó ria e histó ria é se m p re dinâ m ica . U m a cria nça d e cla sse m édia m a n eja se u s p alito s d e m ad eira co m d estre za e indica , sob e ra na , se go sta o u nã o q u e se u su shi te nh a m a nga o u cre a m ch ee se . Ig n o ra q u e a m istu ra po ssa p a re ce r nipô nica , m as é , de fato , ra ra n o Japã o . Ali, tudo é u m a sínte se m u ndial de co rre nte de sé culos d e tro ca s . P a ra ela , a co m id a chin e sa é aq u ela d a caixinh a , aind a q u e ne nh u m chinê s a re co nheça co m o sua . M e sm o e ntre a elega nte ch u rra sca ria e m Sã o P a ulo e o hábito ga u ch esco da s co xilh a s m e ridio nais vai u m abism o e n o rm e . M ud a a té cnica de a ssa r , m ud a m o s no m es (fraldinh a vira va zio) e m ud a m o s m odo s à m esa . C o n so m e m -se tapio ca s co m leite co nde n sado co m o se tive sse m n ascid o ju nto s . T ud o se m e scla n u m a infinita m estiçage m . E m e rge m o rto re xia s , cuid ado s e xtre m os co m a q ualid ad e n utritiva d a co m id a . O a zeite se rá e xtra virge m e co m pH infe rio r a 0 ,5% , feito d e a zeito na s colhid a s co m afeto p o r ca m po n ese s e nto a nd o ca nto g rego ria n o . C ria nça s são ap re se ntad a s a su cos o rgâ nico s livre s d e q uaisq u e r coisa s tra n s po r pais q u e cre sce ra m to m a nd o Ki -S u co . O q u e ve m pela fre nte? Im po ssível dize r , tod a via , se a m e sa co ntin u a rá se nd o u m a a ula d e histó ria . C o m id a co ntin ua rá d efinind o im pé rio s e lim ita ndo o u aleg ra ndo vid as . E xistiria algo m ais rele va nte? B o m d o m ingo a tod o s vo cês .
Compartilhar