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FICHAMENTO Direito Civil III PRESCRICAO E DECADENCIA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE DIREITO
DIREITO CIVIL III
08.03.17
PRESCRIÇÃO E DECANDÊNCIA
Prof. Dr. Carlos Alberto Ferriani
PARTE1
Dormientibus non succurrit jus
“O direito não socorre aos que dormem”
Os institutos da prescrição e decadência são tratados nos Arts. 189 a 211, Título IV do Livro III, da Parte Geral do Código Civil. 
A diferenciação mais disseminada entre os doutrinadores afirma ser prescrição a perda da pretensão da ação, enquanto que a decadência, a perda do direito potestativo. O decurso do tempo, fator comum entre estes dois institutos, exerce grande influência na aquisição e extinção de direitos.
A prescrição tem origem no direito romano e provém da expressão praescriptio (“escrever antes”, “no começo”). Assim, no direito romano, para o mesmo vocábulo, surgiram duas instituições jurídicas, que partiam dos mesmo elementos: uma ação prolongada do tempo e inércia do titular. Inicialmente, as ações romanas eram de caráter perpétuo, podendo as partes recorrerem a qualquer tempo. Mas com o passar do tempo essas foram sendo adaptadas às reais exigências, tal como a fixação de prazos. Quanto à decadência, essa tem origem no verbo cadere (“cair”). 
Acerca da diferenciação entre prescrição e decadência, tanto uma quanto a outra extinguem direitos por inércia no decurso de tempo para agir em determinado caso, sendo que a prescrição extingue o direito de forma oblíqua enquanto que a decadência o atinge diretamente. Sua distinção depende, muitas vezes de motivos de conveniência e utilidade social. 
Para a consumação da prescrição e, no que couber, da decadência, em resumo, deve haver a conjugação de quatro fatores: 1) existência de um direito exercitável; 2) inércia do titular pelo não-exercício; 3) continuidade da inércia por certo tempo; 4) ausência de fato ou ato impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da prescrição (aplicável à decadência excepcional somente por previsão legal específica).
1. Da prescrição 
Quando um direito é violado, surge para seu titular a pretensão de iniciar uma ação, essa pretensão tem prazo, ou seja, se esgota com o tempo, diz-se então que tal ação foi prescrita. 
São pretensões imprescritíveis: as que protegem o direito da personalidade; as que se prendem ao estado das pessoas; as de exercício facultativo; concernentes a bens públicos; as que protegem o direito à propriedade (que é perpétuo); as de reaver bens confiados à guarda de alguém. 
A prescrição tem como requisitos: surgir após violação de um direito, pela inércia do titular e cujo decurso do tempo seja fixado em lei. Podendo ser da espécie aquisitiva (usucapião) – é a aquisição do direito real pelo decurso do tempo, instituída em favor daquele que tiver, com ânimo de dono, exercício de fato das faculdades inerentes ao domínio ou outro direito real relativamente a coisas móveis e imóveis, por um período fixado pela lei, o tempo e a posse são, pois, fatores fundamentais – ou extintiva – que conduz a perda do direito de seu titular negligente ao fim de certo lapso de tempo, e pode ser encarada como uma força destrutiva, ou seja, pelo decurso do tempo, aliado à inércia do sujeito, a pretensão do exercício direito deixa de existir. 
Ela invalida obliquamente o exercício do direito, sua ação, sendo tal direito excluído por mera consequência. Enquanto que na decadência, a extinção do direito é a própria consequência da inércia do titular.
Após o período do prazo prescricional a ação será inválida e ineficaz, podendo o titular ingressar com uma ação, mais não sendo mais ela fonte legítima para assegurar qualquer direito. A renúncia da prescrição possui como requisitos de validade o fato de já estar consumada e que não prejudique terceiro 
Os prazos prescricionais devem ser seguidos de acordo com a lei, não podendo ser alterados, nem por acordo entre as partes. A prescrição pode ainda ser alegada por qualquer parte a quem aproveita.
E quando a lei priva uma pessoa de ser capaz de administrar seus próprios bens, instituindo representantes para responderem civilmente por suas decisões, e se tal representante agir de má fé, o Código Civil prevê que os relativamente incapazes e pessoas jurídicas têm a legitimidade para propor ação regressiva contra seus assistentes ou representantes legais, que deram causa à prescrição ou não a alegaram em momento devido. Já em casos de sucessão, o prazo prescricional ou prescrição constituída continuam a valer contra o sucessor quando essa já tenha sido iniciada contra o ausente.
2. Impedimento e suspensão da prescrição: Arts 197, 198, 199 e 200 do Código Civil
Quando existem causas impeditivas, o prazo de prescrição ainda não chegou a ser computado e assim continuará até que não haja mais impedimentos.
Nas causas suspensivas, o prazo fica suspenso temporariamente até que cesse sua causa, recomeçando a contagem do tempo do ponto em que fora suspenso, após o período que frustrou a contagem do prazo.
									
3. Interrupção da prescrição: Art 202, inciso I a VI do Código Civil entre outras causas previstas em lei
Pode-se interromper a prescrição por qualquer ato inequívoco, mesmo que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Uma prescrição só pode ser interrompida uma vez, por qualquer interessado, e será proferida por despacho do juiz, mesmo que incompetente para ordenar a citação.
O prazo de uma prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.
4. Prazos da prescrição
O Código Civil alega o prazo de dez anos para ocorrer a prescrição quando a lei não houver fixado prazo menor. Entretanto o próprio Código dispõe de prazos diferenciados (um, dois, três, quatro e cinco anos) para determinados casos.
5. Institutos afins da prescrição
Preclusão: consiste na perda de uma faculdade processual, por não ter sido exercida em momento próprio. É de ordem processual.
Perempção: consiste na perda do direito de ação pelo autor, que deu causa a três arquivamentos sucessivos. Não extingue o direito material nem a pretensão, que passam a ser oponíveis somente como defesa. Também é de ordem processual.
Decadência: *no tópico a seguir.
6. Da decadência
É outro instituto afim da prescrição, atinge diretamente o direito e extingue a ação. Causa a perda do direito potestativo pela inércia do seu titular no período determinado em lei.
A decadência pode ser legal – deve o juiz conhecê-la de ofício – ou convencional – a parte a quem aproveita pode alegá-la a qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação. 
Para evitar situações que gerassem dúvida, os prazos de prescrição, no sistema do Projeto do Código Civil, passam a ser, exclusivamente, os discriminados na Parte geral, título IV, Capítulo I, sendo de decadência todos os demais, estabelecidos, em cada caso, como complemento de cada artigo que rege a matéria, tanto na Parte Geral como na Especial.
Outra característica da decadência, é que ela pode ter prazos criados pela lei, mas também por acordo entre as partes, sendo que na prescrição admite-se apenas prazos criados em leis. 
Na decadência é nula a renúncia fixada em lei, já na prescrição pode ela ser anulada depois de consumada a renúncia expressa ou tácita. 
Ademais, a decadência corre contra todos, salvo contra os absolutamente incapazes, além de não poder ser impedida, nem suspensa, nem interrompida, salvo disposição legal em contrário, diferente da prescrição.
	
Dicas para identificar:
Prazos prescricionais são dados em anos e estão previstos nos 
Arts
 205 e 206
Ações condenatórias, de reparação e cobrança têm prazos 
prescricionais
Ações constitutivas e 
desconstitutivas
 tem decadência
* 
as declaratórias não tem
 nem de prescrição nem de decadência 
Prescrição admite hipóteses de suspensão, interrupção e 
renúncia
A prescrição jamais fulmina a obrigação, apenas sua exigibilidade ou 
responsabilidade
 
PARTE 2
1. Exemplo de Decisão
STJ - REsp: 1418435 SP 2013/0335715-5,Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 18/03/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 26/03/2014
Ementa
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA. NULIDADE DE DOAÇÃO. IMÓVEL. VÍCIO DE CONSENTIMENTO. PRAZO DECADENCIAL. TERMO INICIAL. DATA DA CELEBRAÇÃO DO NEGÓCIO. ARTIGOS ANALISADOS: ART. 178, II, do CÓDIGO CIVIL.
1. Ação declaratória de nulidade de doação por vício de consentimento, ajuizada em 29.06.2009. Recurso especial concluso ao Gabinete em 18.10.2013. 2. Discussão relativa ao termo inicial do prazo decadencial para anulação de negócio jurídico por vício de consentimento. 3. Antes do registro imobiliário, que lhe dá publicidade erga omnes, o negócio jurídico envolvendo bens imóveis só tem eficácia entre as partes que o celebraram, não fluindo contra os terceiros, que dele não têm conhecimento inequívoco, o prazo decadencial para anulação. 4. A decadência é causa extintiva de direito pelo seu não exercício no prazo estipulado pela lei, cujo termo inicial deve coincidir com o conhecimento do fato gerador do direito a ser pleiteado. 5. Não é razoável invocar a ausência de "conhecimento inequívoco do ato", pelo próprio donatário do bem, diante da ausência de registro do contrato e aferição pelo Tabelião da regularidade do empreendimento onde se encontrava o lote doado. 6. O prazo decadencial para anulação da doação na hipótese, portanto, é de quatro anos, contados do dia em que se realizou o negócio jurídico, nos termos do que expressamente dispõe o art. 178, II, do Código Civil. 7. Recurso especial provido.
Acordão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do (a) Sr (a) Ministro (a) Relator (a). Os Srs. Ministros Sidnei Beneti e Paulo de Tarso Sanseverino votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros João Otávio de Noronha e Ricardo Villas Bôas Cueva. Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Nancy Andrighi.
2.Comentários:
Conforme dispõe o Art 178, inciso II, do Código Civil, o prazo decadencial para anulação de um negócio jurídico, quando a pretensão é do próprio contratante, é de quatro anos contados do dia em que o negócio foi celebrado. Fundamentada nesse entendimento, a ministra Nancy Andrighi deu provimento a Recurso Especial de uma empresa que alegava a decadência do direito de um homem de pedir anulação da doação de um imóvel que ganhou em sorteio.
Consta que esse homem foi contemplado com um imóvel no interior do estado de São Paulo, bastando pagar despesas com manutenção, entretanto deixou de pagá-las, passou a ser cobrado pela dívida e a doação foi revogada. Ademais, constatou-se, numa Ação Civil Pública, que o imóvel era inviável, assim, o ganhador entrou com processo contra a empresa requerendo ressarcimento das despesas com manutenção e a declaração de nulidade do contrato de doação devido a vício de consentimento.
Por outro lado, a empresa alegou a decadência do direito do autor para pedir a anulação do negócio, e a prescrição relativa à reparação por danos materiais e compensação por danos morais. Também defendeu a legalidade da inscrição do nome do autor nos cadastros de proteção ao crédito, uma vez que o débito se referia ao período em que ele foi proprietário do bem. Sustentou também que a sentença dada na ação civil pública ocorreu após a doação e que o loteamento era regular.
Na 1ª instância, o processo foi julgado extinto, com resolução do mérito, acolhendo as preliminares de decadência e de prescrição. No caso, o negócio jurídico fora celebrado em 28 de fevereiro de 2005 e a ação, proposta em 20 de junho de 2009.
O autor apelou no TJ-SP conseguindo afastar a decadência. No acórdão, entendeu-se que o prazo somente teria início com o registro público do contrato de doação.
Então, a empresa recorreu ao STJ por entender que o prazo de decadência para anulação do contrato é de quatro anos, sendo irrelevante a ausência de registro público do contrato.
No STJ, a ministra precedentes no sentido de que o prazo de decadência deveria ser contado da data do registro no cartório, e não no dia em que o negócio foi celebrado. Entretanto, esses precedentes, se referiam a ações em que terceiros buscavam anulação, sendo o caso em tela um pedido do próprio beneficiário.
Assim, considerando que o contrato de doação foi assinado fevereiro de 2005 e a ação foi proposta em junho de 2009, a ministra reconheceu a decadência e reformou a decisão do TJ-SP. 
REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol I: Parte Geral. São Paulo: Saraiva, 2014. P.511-536
Agnelo Amorim Filho, Critério científico para distinguir a prescrição da decadência e para identificar as ações imprescritíveis. Revista de Direito Processual Civil. São Paulo, v. 3º, p. 95-132, jan./jun. 1961.
REsp 1418435 SP 2013/0335715-5 : https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25009433/ recurso-especial-resp-1418435-sp-2013-0335715-5-stj?ref=juris-tabs

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