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Antes de relatar um exemplo de violência e crime é importante ressaltar que, como vimos, essa construção social do crime possui uma gama de vertentes. Em verdade a violência existe há muito tempo e não vai deixar de existir. Nesse sentido vemos que o crime é decorrente de vários aspectos conjuntos e entrelaçados, mas, não necessariamente obrigatórios em todo contexto social. Os valores sociais que o evolvem, por exemplo, podem variar. Nós, como agentes de segurança somos muitas vezes chamados a intervir em situações conflituosas que não necessariamente podem ser qualificadas como crimes. Misse, quando analisa essa proposta de construção social do crime , fala que existem 4 níveis para uma completa construção: criminalização, criminação, incriminação e a sujeição criminal e só a partir daí o processo se faz completo e que através dele vemos uma tipificação social do crime e dos sujeitos. A violência e a criminalidade são problemas existentes em todos os ambientes seja de forma mais agressiva como em um homicídio, seja mais branda como uma lesão corporal simples, e que ainda assim traduzem as características do ambiente social em que ocorrem.
Diante dessa introdução, eu como policial civil não enfrento rotineiramente situações de violência na unidade, no entanto, posso citar um fato que tive conhecimento. Um amigo policial militar sempre havia sido lotado em uma unidade da zona sul do Rio de Janeiro. No entanto todas as vezes que era chamado sempre se via tendo que resolver conflitos inerentes ao convívio entre vizinhança. Após algum tempo a lotação mudou e com isso o local de atuação passou a ser uma comunidade bem pesada. Todos os dias ele se deparava com a realidade de brigas de casal que culminavam em homicídios, pais que muitas vezes estupravas as filhas com o conhecimento das mães, comunidade que apoiava o tráfico, pois recebiam em troca favores e benefícios financeiros e isso fez com que ele mudasse sua postura. Muitas vezes ao invés de prender, ele utilizava de violência física para buscar dar uma punição ao infrator que, na maioria das vezes não recebia nenhuma por parte dos agentes do Estado. Isso porque também a idade do infrator não condizia com a aplicação da lei penal como para um adulto. Pois bem, geralmente os agentes criminosos envolvidos eram menores, negros, moradores mesmo da comunidade que tinham uma condição financeira mais difícil. Os caos de homicídios também possuíam uma característica: homens ( independente da cor) e normalmente após uma briga de bar ocasionada por discussão sobre mulheres. Em relação aos menores, relatava que muitos trabalhavam como flanelinhas e que ele percebia que isso facilitava muitas ações criminosas de furto em interior de veículo, pois, eles mesmos realizavam a prática desse tipo de crime para depois dividir os bens subtraídos. Ao chegar na comunidade ele via esses menores contando o fato e rindo tendo em vista a impunidade. Quando ele conduzia algum deles para a delegacia, na maioria das vezes, saíam antes mesmo que ele fosse ouvido justamente pela condição biológica de menor ou adolescente infrator. Com o tempo, ele passou a agir com mais agressividade a ponto de não mais aplicar apenas a coercitividade de encaminhar para a unidade de polícia judiciária e sim somente a violência física. Por fim ele acabou cometendo vários homicídios, solicitou a mudança de lotação e acabou respondendo judicialmente por isso.
Então podemos perceber que o agente público muitas vezes se vê no meio de questões que não são simplesmente jurídicas. A questão da violência e da criminalidade está muito mais ligada aos problemas sociais do que ao relacionado à política criminal em si. É preciso estudar a juventude para entender a criminalidade. A violência vem ligada a fatores como consumismo, poder de compra dos ricos e pouco dos pobres. Os anseios e a vontade de ter coisas caras dos jovens das classes menos favorecidas faz com que estes jovens utilizem de mecanismos ilícitos para satisfazer suas vontades, sendo facilmente induzidos à pratica do crime. Por conseguinte, vemos que a prática das atividades policiais em casos de violência contra os pobres bate de frente com a questão da eficácia da aplicabilidade da lei . Todo esse contexto pode ser minimizado quando as condições de trabalho, o ambiente e a valorização do profissional andam juntas. Obviamente que uma reforma na política criminal se faz necessário, inúmeras políticas públicas tentam ser estabelecidas para compensar os problemas causados pela violência e criminalidade. Buscar uma melhor aplicação da lei, porque acredito que é através da penalização eficaz, judicialidade atuante, que também se minimizam os fatores psicológicos que atingem os agentes. A sensação de “enxugar gelo” passa a ser melhor analisada. Assim sendo, entendemos que a violência e criminalidade sempre farão parte da convivência humana, o que se procura é garantir o direito do cidadão dentro do Estado Democrático de Direito.

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