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1 BITCOIN: UMA VISÃO GERAL Thiago Willians Silva Coelho1, Allyson Bonetti França2 ¹ Discente do Curso de Tecnologia em Redes de Computadores - IFCE, campus Canindé. E-mail: thiagowillians14@gmail.com; 2 Professor do Curso de Redes de Computadores - IFCE e-mail: allysonbonetti@gmail.com; INTRODUÇÃO Atualmente o termo moeda digital, tem se propagado com muita força na internet e ganhado espaço em publicações de sites especializados em informática e economia. De acordo com o Banco Central Europeu, moeda digital é uma forma não regulamentada de dinheiro virtual, geralmente distribuída e controlada por seus desenvolvedores (Moura, 2017). Dessa maneira, podemos definir moeda digital como todo valor negociado na internet e armazenado em um servidor online, sem que haja qualquer ligação com uma instituição financeira. Como exemplo podemos citar os valores utilizados em jogos online, o qual, no jogo funciona como dinheiro, não tem nenhum valor legal no mundo real. Outro termo que vem sendo bastante utilizado é o de criptomoeda, que é erroneamente confundido com moeda digital. Criptomoeda é uma moeda que usa criptografia e tem valor real, assim como as moedas mais comuns, dólar, real ou euro, por exemplo. Vale ressaltar que, toda criptomoeda é moeda digital, porém a recíproca não é verdadeira (Greenberg, 2011). Hoje quando se escuta falar sobre moedas digitais e criptomoedas logo se associa ao termo Bitcoin, apesar da existência de outras moedas, ela por ter sido uma das primeiras a surgir, é a mais utilizada em transações envolvendo criptomoedas. Após sua criação em 2009, inúmeras criptomoedas foram criadas utilizando o Bitcoin como base. Para se ter ideia de quanto o termo Bitcoin vem sendo pesquisado e estudado, em maio de 2017, o Google Trends (ferramenta do Google que mostra os termos mais populares buscados), apontou que o termo “Bitcoin” foi pesquisado mais de 200.000 vezes nos Estados Unidos, tornando-se o quinto termo mais popular (Marques, 2017). Muito se ouve falar desse assunto, porém ainda surgem muitas dúvidas sobre o que realmente são os Bitcoins, quais são as vantagens e desvantagens de sua utilização, como funciona a rede e o processo de mineração. Esse artigo tem como objetivo trazer os principais conceitos e explicações envolvendo o tema. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Neste trabalho foi realizado um levantamento bibliográfico através de sites especializados no tema, bem como no banco de teses e dissertações da CAPES. Para a pesquisa utilizou-se como palavra-chave o termo “Bitcoin”. De acordo com Fontelles, “pesquisa bibliográfica é a análise de material já publicado. É utilizada para compor a fundamentação teórica a partir da avaliação atenta e sistemática de livros, periódicos, documentos, textos, mapas, fotos, manuscritos e, até mesmo, de material disponibilizado na internet” (FONTELLES et al., 2009, p.7). Na revisão dos documentos encontrados, foram considerados aqueles que mais se aproximaram do tema e os que explicavam como funciona a rede Bitcoin. RESULTADOS E DISCUSSÃO O Bitcoin é uma criptomoeda apresentada por meio da Internet ao grupo de discussão The Cryptography Mailing em 2008 por Satoshi Nakamoto. O Bitcoin usa um sistema descentralizado, isto é, não possui nenhuma entidade central que obtenha o controle e utiliza a rede P2P para realizar seu funcionamento (Nakamoto, 2008). Segundo Clay Shirky (2000), a rede P2P é constituída por clientes e servidores desempenhando o mesmo papel no mesmo nível de atuação e nunca em um papel fixo ou centralizado. Ainda existem muitas incertezas em relação ao Bitcoin, com isso mostram-se abaixo algumas vantagens e desvantagens de sua utilização. Dentre as vantagens do sistema Bitcoin temos: ● Totalmente descentralizada - não possuindo nenhuma entidade ou governo que tenha o controle dos registros; ● O sistema usa criptografia para efetivar as transações entre os usuários, dando total segurança na transação; ● Taxa de transação insignificante; ● Custo de manutenção e instalação zero; ● Oferecimento de benefícios do dinheiro real. No entanto, há também suas desvantagens. Dentre algumas, podemos citar: ● Oscilação do seu valor; ● Dificuldade em minerar, pelo alto custo de consumo de energia elétrica, pelo menos no Brasil, e a necessidade de possuir uma máquina específica para esse fim. Contudo, há também o anonimato, que pode ser visto das duas maneiras. Como vantagem por ocultar totalmente a identificação dos usuários envolvidos na transação, e como desvantagem, por não ser rastreável, podendo ser utilizada para fins ilícitos, dificultando a identificação dos criminosos. 3 Apesar do Bitcoin ser considerada a mais conhecida entre as criptomoedas, existem várias outras no mercado. Podemos citar como exemplo: Ethereum (Burerin, 2014), Zcash (Southurst, 2016) e Litecoin (Powers, 2012). A rede Bitcoin é composta basicamente por endereços, carteira, blockchain, e a mineração, termos que serão explicados a seguir. Endereço Bitcoin Ao adentrar à rede Bitcoin o usuário recebe sua identificação, chamada de endereço Bitcoin, na qual contém a chave pública e a chave privada. A chave pública servirá para enviar e receber Bitcoins, já a chave privada é usada para validar as transações (Palmieri Caldas, 2016). Os endereços Bitcoin são case sensitive, ou seja, precisam ser digitados precisamente como são criados. Toda vez que o usuário sentir necessidade, um novo endereço pode ser gerado e poderá utilizá-lo a cada nova transação (Palmieri Caldas, 2016). Tal fato se justifica por organização do usuário, dessa forma ele pode ter uma conta para movimentação pessoal e outra para movimentação de sua empresa. Exemplificando, o endereço Bitcoin pode ser comparado ao número de uma conta bancária. Carteira Bitcoin A carteira Bitcoin é um local de armazenamento, onde ficam as informações de chaves públicas e privadas e o montante do usuário de maneira segura (Guimarães, 2017). Fazendo uma analogia, a carteira Bitcoin pode ser vista como se fosse uma entidade bancária, porém de forma pessoal, na qual cada usuário teria o seu banco. Existem algumas formas do usuário acessar sua carteira, podendo ser por smartphone, computador ou de forma online. Ainda que, segundo Fernando Ulrich, a carteira seja encriptada, de modo que ela só possa ser utilizada com uma senha definida por seu proprietário, é de extrema importância que o usuário tenha uma atenção especial em relação a segurança de sua carteira, haja vista que, uma vez acontecido o acesso indevido, o usuário poderá perder todo montante de Bitcoins existentes naquela carteira (Ulrich, 2014). Vale lembrar que é na carteira Bitcoin onde estão todas as informações importantes para a movimentação de sua conta. Blockchain Este componente é responsável por manter a segurança das informações pertencentes às transações do sistema. O blockchain é o local onde todas as transações são disponibilizadas aos usuários da rede (Palmieri Caldas, 2016). 4 Fazendo uma analogia, é como se fosse um livro contábil de domínio público (Ulrich, 2014). Por ele é possível acessar as informações de todas as transações sem conseguir modificá- las. O blockchain é formado por blocos, que por sua vez é formado por transações aceitas na rede. Cada bloco possui um número hash, que está ligado imediatamente ao bloco anterior, criando assim um encadeamento de blocos (Piropo, 2014), como podemos ver na figura 1. Quando um novo usuário entra na rede, o sistema Bitcoin envia para download o arquivo de blockchain para aquele usuário, após o download e sincronização, onovo usuário passa a ter acesso a todas as informações de transações já ocorridas na rede (Palmieri Caldas, 2016). Com isso, se proporciona total segurança, uma vez que para se quebrar a integridade do blockchain, o hacker teria que quebrar a rede inteira, ou seja, indo do último até o primeiro bloco transacionado de todos os computadores que compõem a rede. A fim de assegurar que os mesmos Bitcoins não sejam reutilizados, as novas transações são verificadas contra o blockchain, evitando assim o problema do gasto duplo (Ulrich, 2014). O problema de gasto duplo nada mais é que a tentativa de utilização de moedas digitais já utilizadas (Ryan, 2015). Dessa forma, sempre que uma nova transação é executada, a rede busca dentro do blockchain para verificar se não é uma transação já registrada. Mineração de Bitcoin A mineração consiste em verificar e validar as transações da rede e transformar o conjunto dessas transações em blocos e após a criação de um novo bloco validá-los para que este faça parte do blockchain (Lugin e Yong 2015). Qualquer usuário da rede Bitcoin pode fazer essa validação. Basta instalar no computador um software de mineração e passar a validar as transações. Aquele usuário que validar a transação é bonificado com unidades de Bitcoins. Contudo, para minerar Bitcoins o usuário necessita de uma máquina de grande poder de processamento, que esteja o tempo inteiro funcionando e conectada à internet, o que pode gerar um alto consumo de energia elétrica. Existe uma quantidade limite de Bitcoins que poderão ser criados na rede, que será de 21 milhões, número este especificado na modelagem da moeda (Ulrich, 2014). Levando em consideração que qualquer usuário pode validar as transações, essa marca seria rapidamente alcançada. Para evitar isso, é exigido que cada usuário resolva um problema matemático complexo, chamada de prova de trabalho. O sistema exige que cada usuário que queira validar Figura 1 - Formação do blockchain 5 e ganhar Bitcoins, mostre a rede que foi desempenhado aquele trabalho, e que ele conseguiu resolver determinado problema matemático (Ulrich, 2014). Desenvolvido o trabalho, o usuário envia para a rede o comprovante de que aquela transação ocorreu de fato, ou seja, a resolução da prova de trabalho. Feito isso os demais nós da rede vão verificar se aquele resultado está correto, para que o minerador possa receber seus novos Bitcoins. A fim de facilitar o entendimento da prova de trabalho, podemos compará-lo ao jogo de lógica de números, Sudoku. Uma vez que, resolver um Sudoku complexo é bem difícil. Porém uma vez resolvido, é mais fácil provar que a solução está correta ou não. Esse problema matemático é tão complexo que leva sempre em média 10 minutos para ser resolvido. Se mais usuários se dedicarem à tarefa de validação, o problema matemático é calibrado pela própria rede para que sempre se mantenha esse tempo médio de 10 minutos (Ulrich, 2014). Não existe transação envolvendo Bitcoin se não ocorrer a mineração. O ato de minerar faz com que a transação se efetive. Na figura 2 é ilustrado o passo a passo de como funciona a transação de um usuário A para um usuário B. Figura 2 – Transação de Bitcoins Usuário A abre sua carteira e informa o endereço público do usuário B, o valor e envia. Carteira assina e encripta a transação usando a chave privada do usuário A. Transação entra no bloco para ser minerado. Mineradores tentam resolver a prova de trabalho. O minerador que resolver a prova de trabalho propaga o novo bloco com a resposta da prova de trabalho para a rede. Os outros nós verificam o resultado. Transação é incluída no blockchain. Após a sincronização, todos os computadores conectados terão uma cópia do arquivo atualizado. Ao mesmo tempo que a transação é incluída no blockchain o usuário B recebe a confirmação do recebimento do valor. 6 Em resumo, podemos afirmar que mineração é o processo de validação, resolução da prova de trabalho, registro e criação de novos Bitcoins. Destaca-se ainda outra forma de obter Bitcoin, que é a compra em uma casa de câmbio. Em uma pesquisa realizada em 18 de dezembro de 2017 o valor de uma unidade do Bitcoin era de R$ 69.170,00. Contudo a pessoa que deseja comprar Bitcoin pode fazer de forma fracionada, pois o Bitcoin possui seis casas decimais. A seguir mostraremos detalhes que compõem essa modalidade. 1. Usuário se cadastra em uma das casas de câmbio de Bitcoin; 2. Para que o usuário negocie Bitcoins, é preciso ter créditos na casa de câmbio (isso pode ser feito por meio de transferência online); 3. Com crédito debitado, o usuário poderá comprar Bitcoins, no momento que desejar; 4. Possuindo Bitcoins, julgando necessário o usuário poderá vende-los a qualquer momento. Lembrando que, caso o usuário queira efetuar alguma transação para outro usuário como forma de pagamento, este usuário terá que possuir uma carteira Bitcoin, pois é por meio dela que os pagamentos são realizados. A utilização dos Bitcoins A cada ano que passa, o número de empresas que aceitam Bitcoin como forma de pagamento vem aumentando significativamente, a moeda tanto é usada para compra de produtos como para pagamento de serviços ofertados por pessoas ou empresas. Há também casas de câmbio que efetuam a troca de Bitcoin por dinheiro real, podendo ser ela dólar, euro ou libra, por exemplo. Entretanto, como já falamos anteriormente, o fato do Bitcoin proporcionar o anonimato de seus usuários, há também o lado negativo, onde pessoas usam a moeda para vender e comprar produtos ilícitos como drogas ou armas na internet. Um fato envolvendo anonimato, ocorreu após cibercriminosos efetuarem um ataque em mais de 74 países - que tiveram como principal alvo a Rússia, Ucrânia e o Taiwan, via ransomware, nesse tipo de ataque, o invasor torna o sistema ou os dados da vítima inacessíveis, passando a exigir resgate para devolver o acesso ao usuário. Na ocasião os cibercriminosos exigiram Bitcoins para devolver o acesso às máquinas invadidas (Presse, 2017). CONCLUSÃO Este trabalho trouxe os principais conceitos sobre moedas digitais e criptomoedas. Tendo o Bitcoin como a criptomoeda abordada por conta de sua maior popularidade e por possuir um grande potencial de desenvolvimento e que vem crescendo a cada dia. Sugere-se que em trabalhos futuros tragam conhecimentos relacionados ao uso do Bitcoin como forma de investimento, bem como seus riscos, vantagens e desvantagens, no qual leve-se em consideração a oscilação que a moeda sofre. 7 Por fim, concluímos que o Bitcoin é uma moeda revolucionária, e que hoje, está em evidência e a todo instante é notícia nos sites de economia e sites especializados em tecnologia. Sem dúvida o sistema Bitcoin merece atenção. REFERÊNCIAS Burerin, V. (23 de janeiro de 2014). Ethereum: A Next-Generation Cryptocurrency and Decentralized Application Platform. Acesso em 03 de novembro de 2017, disponível em Bitcoin Magazine: <https://bitcoinmagazine.com/articles/ethereum-next-generation- cryptocurrency-decentralized-application-platform-1390528211/> De Souza, R. (22 de Outubro de 2013). Bitcoins: 14 coisas que você pode comprar com a moeda e não sabia. 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