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1 Módulo 5 - A Eficácia na comunicação e a falácia na comunicação A Eficácia na Comunicação Já parou para pensar como a comunicação é importante em nossas vidas? É possível passar um único dia sem trocarmos informações com alguém? Mas como se dá esse processo comunicacional? O que é preciso saber para realizá-lo bem? Estas e outras questões é o que vamos tentar responder aqui. Mãos à obra! Objetivos Esperamos que ao final dos estudos desse tópico, você seja capaz de dominar o conceito de processo comunicacional, compreender a importância da eficácia para a realização de um bom processo comunicacional e melhorar seu próprio desempenho comunicacional, a partir do domínio de tais conceitos. A eficácia na comunicação Por eficácia entende-se a capacidade de realizar o ato comunicacional de modo claro, conciso, lógico e, sobretudo, eficiente. Saber passar de modo eficiente a mensagem que se deseja é fundamental para ser bem-sucedido, tanto na vida acadêmica quanto na profissional. E quanto ao ato comunicacional, que bicho é esse? Calma, nada mais fácil. Ato comunicacional é, como o nome indica, a ação de estabelecer comunicação, transferência de informações entre dois ou mais interlocutores. Ao conversar com um colega, assistir a uma aula, acenar para um amigo que passa de carro, falar ao telefone, ler esta apostila, por exemplo, você está realizando atos comunicacionais. Mas como garantir que essa comunicação, esse ato comunicacional se dê de maneira realmente eficiente? Antes de tudo, vamos dar a palavra ao professor Othon M. Garcia, que afirma: APRENDER A ESCREVER É APRENDER A PENSAR Aprender a escrever é aprender a pensar Aprender a escrever é, em grande parte se não principalmente, aprender a pensar, aprender a encontrar ideias e a concatená-las, pois, assim como não é possível dar o que não se tem, não se pode transmitir o que a mente não criou ou não aprovisionou. (...) É que palavras não criam ideias; estas, se existem, é que, forçosamente, acabam corporificando-se naquelas, desde que se aprenda como associá- las e concatená-las, fundindo-as em moldes frasais adequados. Quando o estudante tem algo a dizer, porque pensou, e pensou com clareza, sua expressão é geralmente satisfatória. Todos reconhecemos ser ilusão supor – como já dissemos – que se está apto a escrever quando se conhecem as regras gramaticais e suas exceções. Há evidentemente um mínimo de gramática indispensável (grafia, pontuação, um pouco de morfologia e um pouco de sintaxe), mínimo suficiente para permitir que o estudante adquira certos hábitos de estruturação de frases modestas mas claras, coerentes, objetivas. A experiência nos ensina que as falhas mais graves das redações dos nossos colegiais resultam menos das incorreções gramaticais do que da falta de ideias ou da sua má 2 concatenação. Escreve realmente mal o estudante que não tem o que dizer porque não aprendeu a pôr em ordem seu pensamento, e, porque não tem o que dizer, não lhe bastam as regrinhas gramaticais, nem mesmo o melhor vocabulário de que possa dispor. Portanto, é preciso fornecer-lhe os meios de disciplinar o raciocínio, de estimular-lhe o espírito de observação dos fatos e ensiná-lo a criar ou aprovisionar ideias: ensinar, enfim, a pensar. GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1988, p. 291. Portanto, para realizarmos atos comunicacionais com eficácia, precisamos, antes de tudo, pensar também de forma eficaz, com clareza e coerência, em torno das informações que podemos obter através dos mais variados meios: jornais, livros, revistas, televisão, internet. Nunca, em toda a sua história, a humanidade dispôs de tantos meios informativos de fácil acesso. Então, que tal aproveitar isso e procurar nos informar cada vez mais acerca do mundo que nos cerca? Afinal, quanto mais soubermos mais teremos a dizer. Que tal agora exercitarmos nossa capacidade de raciocínio, de apreensão e síntese de conteúdos, a fim de tornar nossa capacidade comunicacional mais eficiente? Um dos caminhos é ler e discutir textos, como faremos a seguir. A partir da leitura eficiente do texto que se segue e da compreensão também eficiente das informações nele contidas, responda às perguntas que se seguem de modo claro, conciso e correto; em outras palavras, de modo igualmente eficiente. SERÁ MAIS UM BASTA André Petry O Brasil talvez seja o único país em que quase toda família tem para contar um caso de assalto, um acidente de trânsito e uma campanha de basta. Somos cheios de bastas. Não adianta nada, porque basta de brasileiro é como promessa de político: só vale no calor da hora. Qualquer cidadão já ouviu falar em campanha de basta de violência no trânsito. Não deve haver capital no país que não tenha feito a sua. Agora, com a matança nas estradas brasileiras no Natal, quando se deu a trágica confluência de aumento da frota, estradas esburacadas e motoristas amalucados, devem acontecer mais bastas. O ministro da Justiça, Tarso Genro, já anunciou o seu. Até o fim do mês vai lançar o remédio ao qual toda autoridade recorre na emergência: pacote. O tal pacote deve prever penas mais duras, talvez até com o polêmico confisco do carro do reincidente. Seria ótimo se funcionasse, mas o problema brasileiro no trânsito, como em tudo que se refere ao crime, está onde sempre esteve: na impunidade. No país onde é preciso repetir o óbvio, é óbvio que pena mais dura nunca resolveu nada. Fosse assim, pena de morte seria barbárie, mas eficaz, e não é. O que combate a impunidade é uma coisa singela: punição. Pode até ser pequena, mas tem de existir. Nos Estados Unidos, Paris Hilton passou 23 dias em cana por dirigir embriagada. Mel Gibson tomou pena de três anos sob liberdade assistida. Em 2005, quase 1,5 milhão de americanos foram autuados por dirigir bêbados. Para ser punido, não precisa ter causado um acidente. Basta ter bebido. E aqui? Em dezembro de 1995, Edmundo, o jogador de futebol, causou um acidente que matou três pessoas. Foi condenado a quatro anos e meio de prisão. Entrou com recurso para reduzir a pena. Não deu. Tentou de novo. Não deu. Tentou outra vez. 3 Também não deu. Tentou sete vezes. Perdeu todas. Mas, passados doze anos, até hoje não foi para a cadeia. Em 2004, numa cena inesquecível da antologia da impunidade nacional, Edmundo foi visto no desfile da Mocidade Independente. O enredo, patrocinado pelo Detran, era Não Corra, Não Mate, Não Morra. Como deboche, uma pérola. Num caso recente, alguém apostaria um vintém na prisão do promotor Wagner Juarez Grossi? Em outubro passado, o promotor atropelou e matou um casal e uma criança de 7 anos em Araçatuba, no interior paulista. Estava com "embriaguez moderada". Se pegar menos de quatro anos de prisão, Gross não irá para a cadeia. Será triplo homicídio punido com serviços à comunidade. O festival de impunidade resulta de uma sociedade mal-educada e permissiva, que aceita tudo depois do último basta. Campanhas educativas, portanto, são fundamentais, mas as autoridades torram dinheiro público com panfletos repetitivos, apelos insípidos, mensagens anódinas. Em Brasília, o jornal Correio Braziliense fez uma campanha agressiva, criativa e certeira há alguns anos. Resultado: os motoristas da capital até hoje respeitam a faixa de pedestre. Agora, a RBS, o maior grupo de comunicação do Sul, lançou uma campanha inovadora. Voltadas para jovens e homens, as peças publicitárias trazem belas atrizes globais ao lado da frase: "Se o cara é rapidinho no trânsito, deve ser rapidinho em tudo". O país todo ganhará se a campanha não virar apenas mais um basta. Publicado originalmente em: revista VEJA / Edição 2042 / 9 de janeiro de 2008 Retirado do site http://veja.abril.uol.com.br/090108/andre_petry.shtmlAgora, responda as questões abaixo e verifique seu desempenho 1. Qual é o tema central deste texto? 2. Assinale a alternativa INCORRETA em relação ao que é afirmado no texto: (A) No Brasil, os protestos duram apenas o tempo de o fato que os gerou ser esquecido. (B) O que surtiria efeito, segundo o autor, seria a punição efetiva dos infratores, mesmo que pequena. (C) A impunidade não é exclusiva do Brasil, se repetindo em outros países, como é o caso dos Estados Unidos. (D) Campanhas educativas são essenciais, mas precisam ser bem planejadas e bem lançadas. (E) O respeito dos motoristas à faixa de pedestres em Brasília é um exemplo de campanha bem-sucedida. Veja a resposta do exercício Elementos que podem comprometer a eficácia na comunicação Solução Percebeu como é mais fácil falarmos de um assunto quanto dispomos de informações suficientes sobre ele? Portanto, procure manter-se sempre informado, tanto sobre seu próprio campo de atuação quanto de assuntos gerais que estejam em evidência. 4 Infelizmente, nem sempre conseguimos nos comunicar de forma eficiente, isto é, a mensagem que tentamos passar, por uma série de fatores, pode resultar confusa, incoerente ou, o que é pior, ambígua. Vamos estudar cada um desses fatores e ver como evitá-los: A) Quando o texto resulta confuso: A qualidade fundamental de um texto para que sua mensagem seja passada com eficiência é a clareza. Um texto claro, mesmo que contenha erros gramaticais, por exemplo, consegue passar sua mensagem. Frequentemente a falta de clareza do texto resulta do não-domínio dos elementos a que ele se refere. Leia, por exemplo, o texto abaixo: Eu disse a ele para não ir lá naquele dia, pois a garota estava zangada com o que tinha acontecido e com certeza revidaria. Não deu outra. Foi por isso que aquilo aconteceu. A menos que você conheça a história toda, todos os fatos e personagens envolvidos, não entenderá nada do que está sendo dito... B) Quando o texto resulta incoerente: A coerência tem a ver com lógica interna do texto. Um texto incoerente resulta do choque entre as informações nele contidas. Se no começo do texto, por exemplo, eu digo que um cientista está fazendo pesquisas no Pólo Norte, ficaria incoerente afirmar mais adiante que ele está estudando a vida dos camelos... C) Quando o texto resulta ambíguo: A ambiguidade é outro tipo de problema que pode comprometer a eficácia comunicacional e também tem a ver com a lógica interna do texto. Dá-se o nome de ambiguidade ao duplo sentido, intencional ou não, que um texto pode apresentar. Por exemplo, uma frase como “Joana viu Maria com seu marido numa boate” se torna ambígua devido à imprecisão do pronome “seu”. Afinal, de quem era o marido? Foi Joana quem viu a amiga Maria com o próprio marido dançando na boate e ficou feliz ao ver como o casamento da amiga era bem-sucedido ou Joana flagrou o próprio marido com outra mulher, e aí foi caso de divórcio? A quem se refere esse “seu”? Mas a ambiguidade também pode ser usada de modo intencional, muitas vezes visando criar humor, como nos textos publicitários a seguir, cuja dupla leitura é possível por se tratar de anúncios de uma conhecida agência funerária: "Nossos clientes nunca voltaram para reclamar." "O seguro de vida que você vai dar graças a Deus. Pessoalmente." "Como planejar a morte da sua sogra." Vamos exercitar! 1. O texto que se segue, escrito por Millôr Fernandes, faz uma brincadeira com a imprecisão da linguagem, ou seja, tira partido da falta de eficácia comunicacional com 5 fins humorísticos. Reescreva-o, definindo o contexto no qual a situação ocorre e especificando os aspectos envolvidos. Em outras palavras, torne o texto claro e eficiente na transmissão de sua mensagem. A vaguidão específica "As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago-específica." Richard Gehman - Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte. - Junto com as outras? - Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia. - Sim senhora. Olha, o homem está aí. - Aquele de quando choveu? - Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo. - Que é que você disse a ele? - Eu disse pra ele continuar. - Ele já começou? - Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. - É bom? - Mais ou menos. O outro parece mais capaz. - Você trouxe tudo pra cima? - Não, senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera. - Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite. - Está bem, vou ver como. O Pif-Paf / O Cruzeiro / 1956 Validade das declarações Vamos dar continuidade, agora, à questão da eficiência comunicacional, que iniciamos no módulo anterior, trabalhando o conceito de validade de uma declaração. Fazemos e ouvimos declarações ou afirmações a todo momento. Mas como saber se são válidas? É o que vamos discutir, a seguir Uma declaração, assim como apreciações, julgamentos, pronunciamentos, expressam opinião pessoal; é subjetiva, indicando aprovação ou desaprovação. Mas, para ser plenamente aceita, sua validade deve ser demonstrada ou provada. Ora, só os fatos provam; sem eles, que constituem a essência dos argumentos convincentes, toda declaração é gratuita, porque infundada, e, por isso, facilmente contestável. Saiba mais Um texto muito interessante sobre a eficácia comunicacional em textos publicitários pode ser encontrado no link abaixo: http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11864 6 Por exemplo: sem uma prova concreta, o pronunciamento “Fulano é ladrão” vale tanto quanto a sua contestação: “Não, Fulano não é ladrão”. E nenhum dos dois convence. Limitando-se apenas a afirmar ou negar sem fundamentação, isto é, sem a prova dos fatos, os interlocutores acabam travando um bate-boca estéril. Nenhum dos dois convence, porque ambos expressam opinião pessoal, certamente não isenta de prevenções ou preconceitos. Respeitável ou não, essa opinião ou julgamento terá de ser posta de quarentena... Até que seja provado o que se nega ou se afirma. Agora, se a declaração for seguida por uma citação de prova, por exemplo: “Fulano é ladrão porque foi preso em flagrante e está respondendo a processo por furto”, a coisa muda de figura e a declaração ganha plena validade. Em suma: toda declaração (ou juízo) que expresse opinião pessoal ou pretenda estabelecer a verdade só terá validade se devidamente demonstrada, isto é, se apoiada ou fundamentada na evidência dos fatos, quer dizer, se acompanhada de prova. A declaração sem a devida prova é chamada, popularmente, de “opinião”. Uma vez provada, a declaração passa a ser considerada plenamente válida. Há, porém, certas ordens de declarações que prescindem de prova: I. Quando a declaração expressa uma verdade universalmente aceita; Se eu digo, por exemplo, que a Terra gira em torno do Sol, não é necessário provar para a afirmativa ser aceita. II. Quando é evidente por si mesma (axiomas, postulados); Quando se diz, por exemplo, que todos os seres vivos são mortais. III. Quando tem o apoio de autoridade (testemunho autorizado); Exemplo: O Ministério da Saúde adverte: fumar faz mal à saúde. Neste caso, o Ministério da Saúde é a autoridade que valida a declaração. IV. Quando escapa ao domínio puramente intelectual, ou seja, abrange outras áreas do conhecimento ou da vivência humana, como: a) é de natureza puramente emocional (“o amor desconhece outras razões que não as do próprio coração”); b) implica a apreciação de ordemestética, em que o que se discute ou afirma diz respeito à beleza e não à verdade (“gosto não se discute”, “gosto porque gosto”); c) diz respeito à fé religiosa (não se provam dogmas; apresentam-se apenas “motivos de credibilidade”). Viu como é fácil distinguir declaração válida de opinião? Que tal seguirmos adiante? Fatos, indícios e inferências Fatos não se discutem; opiniões, sim. Mas o que é fato? É a coisa feita, verificada e observada. Dizer que precisamos consumir água e alimentos para sobreviver, por exemplo, é um fato amplamente comprovado e impossível de ser negado. Mas convém não confundir fato com indício. Os fatos devida e acuradamente observados levam ou podem levar à certeza absoluta; os indícios permitem apenas inferências, isto é, deduções de certeza relativa, pois expressam somente probabilidade ou possibilidade. Se uma pessoa começa a espirrar e tossir, por 7 exemplo, é um indício de que pode estar gripada. Mas isso não constitui um fato, uma vez que pode se tratar de uma simples crise alérgica. Inferir é concluir, é deduzir pelo raciocínio apoiado apenas em indícios. Dizer, por exemplo, que “Fulana está grávida porque começou a comprar roupinhas de bebê, ficar sonolenta e a comer muito”, é inferir, é deduzir pelo raciocínio a partir de certos indícios. O que assim se declara a respeito dessa fulana é possível, é mesmo provável, mas não é certo porque não provado. É evidente que o grau de probabilidade das inferências varia com as circunstâncias: há inferências extremamente prováveis e inferências extremamente improváveis. É extremamente provável que no verão chova com mais frequência do que no inverno; mas é improvável que a precipitação pluvial no mês de janeiro deste ano seja maior do que a do mês de janeiro do ano próximo. Agora vamos ver na prática o que vimos em teoria. Vamos lá, não é nada difícil fazer isso. Acesse Realize as atividades do Módulo 4 Viu como é fácil? Basta ler as frases com um pouco de atenção que acabamos percebendo o quanto se pode depreender de cada uma delas. No próximo módulo, vamos ver outros tipos de declarações. O axioma O objetivo deste tópico é familiarizar você com novos tipos de declarações, os axiomas e os teoremas. Pode não parecer à primeira vista, mas eles fazem parte de nosso dia a dia. A todo momento, formulamos teoremas e nos apoiamos em axiomas. Duvida? Então, leia o conteúdo que se segue. Os axiomas podem chamar-se também noções comuns e, muitas vezes, podem ser confundidos com teoremas. A Matemática, porém, faz distinção entre axiomas e teoremas. Os primeiros são enunciados primitivos (por vezes chamam-se também postulados) aceites como verdadeiros sem provar a sua validade; os segundos são enunciados cuja validade se submete a prova. Axiomas e teoremas são, portanto, elementos integrantes de qualquer sistema dedutivo. Usualmente, a definição do conceito de teorema requer o uso do conceito de axioma (bem como o uso dos conceitos de regra de inferência e de prova), enquanto o conceito de axioma se define por enumeração. Dá-se o nome de axioma a uma verdade irrefutável. Esse tipo de afirmativa é frequentemente verificada no pensamento lógico matemático. É uma verdade aceita sem demonstração. Vejamos o exemplo! Por um ponto passam infinitas retas. Originariamente, o termo "axioma" significa “dignidade”. Por derivação, chamou-se "axioma" a "aquilo que é digno de ser estimado, acreditado ou valorizado"; assim, na sua acepção mais clássica, o axioma equivale ao princípio que, pela sua própria dignidade, isto é, por ocupar certo lugar num sistema de proposições, deve ser considerado verdadeiro. Para Aristóteles, os axiomas são princípios evidentes que constituem o fundamento de qualquer ciência. Nesse caso, os axiomas são proposições irredutíveis, princípios gerais aos quais se reduzem todas as outras proposições e nos quais estas se apoiam necessariamente. O axioma tem, por assim 8 dizer, um imperativo que obriga ao assentimento uma vez enunciado e entendido. Em suma, Aristóteles define o axioma como uma proposição que se impõe imediatamente ao espírito e que é indispensável, ao contrário da tese, que não pode ser demonstrada e que não é indispensável. Atividade de auto avaliação 1. Nas afirmativas abaixo, coloque (A) se tratar de axiomas ou (T) se tratar de teoremas. Lembre-se de que o axioma prescinde de provas, enquanto o teorema necessita ser provado. A) ( ) Paulo está apaixonado pela Mariângela. B) ( ) A Terra gira em torno do Sol. C) ( ) Precisamos de oxigênio para sobreviver. D) ( ) Fiz um boa prova, devo ter acertado todas as questões. E) ( ) A Lua é o satélite natural da Terra. F) ( ) Deve chover neste fim de semana. G) ( ) Um metro é dividido em cem centímetros. H) ( ) Aquele político é corrupto. I) ( ) A distância mais curta entre dois pontos é uma reta. J) ( ) Pelos ingredientes que leva, esta receita deve ser muito boa. Percebeu como lidamos com axiomas e teoremas todos os dias? Chegamos mesmo a formular alguns, ainda que de forma inconsciente. A partir de agora, dominando esse conteúdo, podemos ter mais segurança em nossas formulações. Tudo entendido até aqui? Vamos em frente! As inferências e os axiomas na resolução de problemas Existe um tipo de problema que recebe o nome técnico de “inferências corretas”; esse tipo recebe também outros nomes, como “A césar o que é de césar” ou “Encontrando o culpado”, que só pode ser resolvido a partir da leitura correta de uma série de afirmativas que tanto podem assumir a forma de inferências como de axiomas. Em geral, o desafio consiste em completar um quadro com informações a partir de pistas que são fornecidas ao leitor. Veja no próximo exercício como isso se dá. Para que você possa resolver esse exercício, é necessário que compreenda bem as informações contidas nas “dicas” que são dadas. Algumas são dadas de modo direto, sob forma de axiomas. Outras são dadas nas entrelinhas, o que exige que você faça inferências a partir do que foi colocado. Só a partir de uma leitura eficiente é que se torna possível apreender os dados que permitirão a resolução do enigma. Para ajudar, segue, ao pé da página, o quadro a ser preenchido segundo as informações fornecidas. O desafio está lançado! Indo além Aristóteles http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/aristoteles_politica.htm 9 A VILA COMPLICADA Em uma determinada vila, existem cinco casas, todas do mesmo lado. Elas são numeradas, da esquerda para a direita, na seguinte ordem: 101, 103, 105, 107, 109. Cada casa apresenta características próprias, tais como cor, nacionalidade do proprietário, marca do carro que está na garagem, tipo de bebida e animal doméstico preferidos. Com base nas informações que se seguem, a tarefa consiste em determinar as características próprias de cada uma das casas, preenchendo, de modo correto e coerente, o quadro abaixo. • As cinco casas estão localizadas na mesma vila, do mesmo lado. • O mexicano mora na casa vermelha. • O peruano tem um carro Mercedes Benz. • O argentino possui um cachorro. • O chileno só bebe Coca-Cola. • Os coelhos estão equidistantes do Cadillac e da cerveja. • O gato não bebe café nem mora na casa azul. • Na casa verde, só se bebe uísque. • A tartaruga é vizinha da casa onde se bebe Coca-Cola. • A casa verde só tem vizinho do lado direito, a casa cinza. • O peruano e o argentino são vizinhos. • O Chevrolet pertence à casa rosa. • O dono do Volkswagen cria coelhos. • Na terceira casa, bebe-se Pepsi. • O brasileiro é vizinho da casa azul. • O dono do carro Ford só bebe cerveja. • O dono da tartaruga é vizinho do dono do Cadillac. • O dono do Chevroleté vizinho do dono do canário. Dicas para solução do problema: • Comece selecionando as informações que surgem sob forma de axioma, isto é, aquelas que são afirmativas incontestáveis, tipo “A casa verde só tem vizinho do lado direito, a casa cinza. • Depois, parta para aquelas que prescindem de comprovação, tipo “O brasileiro é vizinho da casa azul”. E como se dá esta comprovação? Ora, à medida que o quadro vai sendo preenchido, testam-se as hipóteses e verifica-se sua validade em relação ao lugar que os dados vão ocupando no quadro. Se o brasileiro, por exemplo, não estiver colocado ao lado da casa azul, algum teorema foi mal formulado. Será necessário, portanto, voltar às pistas, para tentar novas hipóteses. 10 Característica/casa 101 103 105 107 109 Proprietário Cor da casa Animal Bebida Marca do carro Não é divertido resolver este tipo de desafio? Mais adiante, f faremos outro, está bem? A Falácia na Comunicação Neste tópico , trabalhemos um novo conceito: o sofisma. O nome pode parecer estranho, mas você vai perceber que ele não está tão distante de sua realidade assim. Lembra daqueles anúncios veiculados até há pouco tempo que vinculavam o ato de fumar determinada marca de cigarro a ser bem-sucedido? Pois é, a base desse tipo de comercial é um sofisma. Saiba por quê. Objetivos Esperamos que ao final dos estudos do módulo você seja capaz de entender o conceito de sofisma, perceber a diferença entre sofisma formal e material e identificar sofismas no dia a dia, como em textos publicitários, por exemplo. Sofismas Um sofisma é um falso raciocínio elaborado com a intenção de enganar. Os estudiosos dividem os sofismas em várias categorias, sejam eles sofismas formais (isto é, aqueles cujo erro reside em sua formulação) ou materiais (quando o erro reside em seu conteúdo). Um silogismo mal formulado é um exemplo de sofisma formal, já que seu erro resulta normalmente numa proposição inadequada. Veja o exemplo a seguir! Disseram que eu sou ninguém. Ninguém é perfeito. Logo, eu sou perfeito. Como se pode facilmente perceber, o que torna este silogismo um sofisma é o fato de que a premissa maior não tem caráter generalizante como deveria. Portanto, seu erro consiste na forma como foi elaborado. No caso do anúncio citado na introdução desta unidade, por exemplo, o raciocínio que estava por trás dele e que visava seduzir o leitor, era o seguinte: 11 Todos querem ser bem-sucedidos. Neste comercial, todos fumam o cigarro da marca X e são bem-sucedidos. Portanto, vou fumar este cigarro para ser bem-sucedido também. É fácil perceber a falha desse raciocínio que o torna um sofisma. Não há, em termos lógicos, nenhuma relação direta entre o fato de fumar (qualquer que seja a marca do cigarro) e ser bem-sucedido. Aliás, muito pelo contrário... Falsos axiomas Como já vimos, axiomas são verdades universalmente aceitas que não necessitam de comprovação, como uma frase do tipo “todos os homens são mortais”. No caso dos falsos axiomas, não há como comprovar a verdade de caráter universal do que está sendo afirmado. Um dos falsos axiomas mais conhecidos foi formulado por J. J. Rousseau, que afirma: “É um axioma geralmente admitido que, cedo ou tarde, se descobre a verdade.” Ora, não é preciso ir muito longe para pôr em dúvida tal afirmação. Falsos axiomas são empregados com frequência, por exemplo, em discursos políticos, nos quais encontramos frases do tipo “Nunca houve um líder político mais preparado do que Fulano” ou “Sem dúvida, é o representante político mais capaz e honesto de sua geração”. Entre os sofismas formais, também se enquadram aqueles que encerram generalização excessiva, consequentemente difícil de ser provada, uma vez que produz uma conclusão a partir de uma evidência insuficiente. É o que ocorre em frases do tipo: “Guilherme lê muito e, por isso, deve ser considerado um bom aluno”. Ora, o fato de ler muito não faz dele, necessariamente, um bom aluno. Outras comprovações seriam necessárias para tornar essa afirmativa verdadeira. Ignorância da questão ou da causa Neste caso, elabora-se um raciocínio deliberadamente enganoso para distrair o leitor/ouvinte do foco da questão. Isso é feito, em geral, apelando para aspectos como a emotividade. É muito comum, por exemplo, na prática do Direito. Suponha o seguinte caso: um advogado de defesa não tem mais como argumentar em defesa de seu cliente, culpado de homicídio. Passa então a apelar para a sensibilidade dos jurados, apresentando o réu como bom cidadão, cumpridor de seus deveres, pai e marido exemplar... Nada disso tem, de fato, a ver com o crime em questão, visa apenas a desviar, maliciosamente, a atenção dos jurados do fato em si, isto é, do crime cometido. É o mesmo recurso de que lançam mão alguns alunos quando chegam para a aula sem os trabalhos solicitados. Visando a desviar a atenção do professor para o fato de que a tarefa não foi cumprida, apelam para sua emotividade, contando casos tristes, falando de suas dificuldades, doenças na família... Mas nada disso muda o fato de que a tarefa não foi realmente cumprida. Ainda dentro do âmbito dos sofismas, encontramos alguns outros tipos, como a “petição de princípios”, na qual a própria declaração se torna sua prova, ou seja, é 12 uma afirmação vazia, que não leva a nada, do tipo “Fulano morreu de velho porque viveu muito”, ou “Sicrano morreu pobre porque não tinha dinheiro”. Também chamada de “círculo vicioso”, a petição de princípios mais famosa é a de um conhecido comercial: “Tostines é fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho?” Outro tipo de sofisma material que merece destaque é o da falsa analogia e probabilidade. Neste caso, partimos da observação de casos semelhantes e tentamos elaborar um raciocínio indutivo visando a descobrir a causa de um fato, porém sem comprovação científica. Embora seja também chamado de “indução imperfeita”, este tipo de raciocínio é muito usado em nosso dia a dia. Veja o exemplo! O cachorro de meu vizinho se coçava sem parar, mas os remédios para sarna não surtiram efeito. Ao levá-lo ao veterinário, meu vizinho descobriu que o que ele tinha não era sarna, mas ácido úrico, decorrente de alimentação inadequada. Bastou mudar a alimentação para que o animal ficasse bem. De repente, meu cão passou a apresentar os mesmos sintomas. Logo, deduzo tratar-se do mesmo problema e dou a ele a mesma alimentação do cachorro do vizinho. Como se pode perceber, é um raciocínio sem comprovação, baseado apenas na analogia, na semelhança entre os casos. Pode até ser que funcione, se os dois cães tiverem realmente o mesmo problema. Mas quem garante que, no caso de meu cão, não seja de fato sarna? A falácia, no caso desse tipo de raciocínio, consiste na possibilidade de erro em decorrência da não-comprovação da validade da indução feita. Isso não impede, porém, que seja empregado pelo senso comum. Quem nunca recebeu uma “dica” de tratamento, por exemplo, ao se queixar de “uma dorzinha do lado”? Sempre vai aparecer aquele amigo que vai dizer: “Rapaz, tive a mesma coisa. Era fígado! Tome Hepatolina que você fica bom rapidinho!” Tudo entendido até aqui? Antes de passar ao próximo tópico, que tal resolver mais um daqueles exercícios de inferências corretas? O desafio está novamente lançado! Presentes especiais Daniel e outros quatro homens estiveram na Joalheria Pepita e cada um deles comprou uma joia para sua respectiva mulher para comemorar uma data especial. As cinco joias vendidas foram um anel, um bracelete, um par de brincos, um broche e um colar. Cadauma das joias escolhidas era adornada com uma pedra preciosa diferente: diamante, esmeralda, opala, rubi e safira. Usando as dicas anteriores e as listadas a seguir, determine que joia cada um dos homens comprou, a pedra preciosa que a adornava e a data especial que estava sendo comemorada. • Álvaro comprou brincos para presentear sua mulher pelo seu aniversário. As pedras preciosas que adornavam os brincos não eram safiras nem esmeraldas. 13 • Leonardo comprou um bracelete para sua mulher que não era adornado por diamantes nem safiras. • A joia adornada por diamantes foi dada à mulher de um dos homens para comemorar uma promoção. • Humberto comprou uma joia para sua mulher para comemorar o seu novo emprego. • O anel é adornado por rubis, mas não foi dado como presente de formatura. • Jerônimo não comprou o broche que foi adquirido para presentear uma das mulheres pelas bodas de prata. Nome do homem Joia Pedra preciosa Comemoração Álvaro Daniel Humberto Jerônimo Leonardo Muito bem! No próximo módulo, trabalharemos novos conceitos, desta vez ligados à teoria da argumentação. Até lá! Saiba mais Biografia de J Rousseau http://www.centrorefeducacional.com.br/rousseau.html A VILA COMPLICADA Presentes especiais Pedra preciosa
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