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liberdade economica como fator condicional para a prosperidade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE ESTUDOS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E ANÁLISE
LUCAS MATHEUS CABRAL DA SILVA COSTA
LIBERDADE ECONÔMICA E INSTITUIÇÕES INCLUSIVAS COMO FATORES CONDICIONAIS AO CRESCIMENTO ECONÔMICO – UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA DO PERÍODO DE 1970 A 2014
Manaus –Am
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
FACULDADE DE ESTUDOS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E ANÁLISE
LUCAS MATHEUS CABRAL DA SILVA COSTA
LIBERDADE ECONÔMICA E INSTITUIÇÕES INCLUSIVAS COMO FATORES CONDICIONAIS AO CRESCIMENTO ECONÔMICO – UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA DO PERÍODO DE 1970 A 2014
Projeto de pesquisa apresentado ao curso de Ciências Econômicas, da Universidade Federal do Amazonas, como requisito parcial para a obtenção de nota na disciplina Monografia I, orientada pel@ ..............................
Manaus –Am
2017
Introdução 
A causa da prosperidade das nações é tema de estudo econômico desde, pelo menos, o surgimento da economia como ciência. Considerada por acadêmicos da área como ponto de inflexão a formalizar o estudo econômico, “ A Riqueza das Nações” de Adam Smith explica o surgimento da prosperidade das nações e o acúmulo de riqueza da sociedade como sendo fruto direto da liberdade econômica. Smith (1776) define o mercado como sendo o ambiente em que os meios de produção são privados e os indivíduos satisfazem suas necessidades mediante contratos. Desde a magnum opus de Adam Smith, escolas de pensamento econômico atreladas a todo o espectro político (esquerda e/ou direita) buscam investigar o que causa o crescimento econômico. [1: Adam Smith (1723 – 1790) publicou “Uma Investigação sobre a Natureza” e as “Causas da Riqueza das Nações” em 1776, sendo uma das primeiras obras a oferecer uma teoria sobre a origem do crescimento econômico. Rothbard (1995) dedica boa parte da obra “An Austrian Perspective on the History of Economic Thought” aos esforços de Smith em transformar a economia como ciência.][2: Magnun opus: obra de grande relevância e popularidade. Oxford Advanced Learner’s Dictionary.]
A história da formação econômica moderna das nações é, segundo Ludwig Von Mises (1929), marcada pelo surgimento do intervencionismo sistemático do Estado sobre o mercado – o chamado Terceiro sistema, de acordo com Mises. Antes de sua morte em 1973, Mises observou a intensificação do Intervencionismo a partir das duas Grandes Guerras e a Guerra Fria (1947 – 1991). [3: Em A Critique of Interventionism (1929), Ludwig von Mises define o Capitalismo como Primeiro Sistema, Socialismo como Segundo e Intervencionismo como o Terceiro Sistema econômico. ][4: Hobsbawn (1994) aponta para o fenômeno imperialista mundial durante e no pós segunda-guerra, intensificando a militarização das grandes potencias, o nacionalismo e práticas protecionistas (intervencionismo econômico).]
Desta forma, a liberdade é tida para a escola Liberal Clássica como fator decisivo a influenciar o crescimento das nações, pois, os indivíduos agem de acordo com suas volições a fim de atingir seus objetivos, sendo livre somente se agir por intermédio de sua propriedade privada – pessoal (corpo e mente) e material -, que a sociedade pode escolher cursos de ações que melhor satisfaçam suas necessidades – a propriedade privada no liberalismo é caracterizada como material e pessoal, logo as ações humanas são oriundas da propriedade (MISES 1949, passim.)
O mercado de ações econômicas ocorre mediante a divisão do trabalho, no qual os recursos são autorregulados por intermédio do sistema de preços. Novamente, é possível se referir a Adam Smith e sua obra a Riqueza das Nações, em que o autor expõe o conceito de automatização do mercado, sendo que o mesmo possui a propriedade de se autorregular. Logo, a ação do Estado em intervir no mercado possui a potencialidade de perturbar o equilíbrio natural do mesmo.
Segundo Friedman (1979), o livre mercado é essencial, pois direciona as ações humanas para caminhos mais eficientes em satisfazer suas necessidades por meio do sistema de preços. Essas ações econômicas encontradas no mercado ocorrem mutualmente, livres de compulsão ou coerção. Portanto, é função do Estado reforçar os direitos de propriedade, fazendo cumprir os contratos mútuos que ocorrem sobre o espectro do mercado. A liberdade econômica é então infringida quando o Estado opera de maneira a intervir nas ações humanas supracitadas, desestabilizando o sistema de preços e consequentemente ofertando informações e incentivos não eficientes a sociedade (FRIEDMAN, 1979).
Visto a crescente participação do Estado moderno no processo de formação econômica das nações, passando a não mais obter seus fins tacitamente, mas agindo ativamente, direta ou indiretamente, nas ações econômicas da sociedade. E por outro lado a Liberdade – econômica e social – como fator principal para o crescimento e desenvolvimento econômico, apresenta-se então o problema do mundo moderno: a relação entre o Estado, liberdade e crescimento econômico.[5: Para uma análise do intervencionismo como sistema econômico proeminente no mundo moderno ver: CHANG, Ha-Joon; ROWTHORN, Robert. The Role of the State in Economic Change. Oxford University Press. 1995. ][6: Em sua obra mais conceituada “Human Action – 1949” Mises relembra os limites do Estado como fundamentados por autores pioneiros liberais, como Adam Smith e John Locke, tido como entidade 	tácita a assegurar os direitos de propriedade privada – material e pessoal -. Mantendo a ordem social e justiça ]
O presente estudo tem como intuito analisar a relação entre Liberdade econômica e prosperidade na tradição do pensamento Liberal clássico, especialmente, sob a ótica de economistas expoentes, a saber, Ludwig Von Mises, Milton Friedman e Friedrich Hayek. A fim de avaliar os conceitos supracitados, será apresentado um estudo dos princípios fundamentais do liberalismo clássico em geral e em consonância com a evolução do sistema de trocas voluntárias, o Capitalismo. Fazendo-se uma relação entre os arcabouços teóricos desenvolvidos pelos pensadores que são objetos de investigação nessa pesquisa, será apresentado o desenvolvimento das ideias da escola de pensamento escolhida, que engloba a relação entre liberdade econômica/social, o Estado e o crescimento econômico. Diante do contexto exposto anteriormente, é possível obter as perguntas de investigação: o que causa o crescimento das nações? E qual o papel das instituições – políticas e econômicas – nas variáveis de desempenho econômico?
Portanto, é objeto central de estudo da presente monografia analisar a origem da prosperidade sob a ótica Liberal Clássica, para isso será feita uma análise econométrica de regressão, a fim de provar a relação positiva entre liberdade econômica e o crescimento econômico. [7: Segundo Rothbard (1995), a escola Liberal Clássica tem sua origem no início do século XIX, com autores expoentes como John Locke, David Ricardo, Adam Smith, Ludwig von Mises entre outros. A escola advoga a liberdade como fator principal para o crescimento e desenvolvimento econômico. ]
A fim de responder as perguntas originadas do tema central da pesquisa em questão, será utilizado o índice de liberdade econômica criado pelo Fraser Institute: Economic Freedom of the World index – EFW, para que então seja feito estudos econométricos de regressão, buscando-se compreender os impactos da liberdade econômica e da qualidade das instituições sobre o Produto Interno Bruto per capita das nações. O período analisado para os estudos de regressão compreenderá os anos de 1970 a 2014, devido à disponibilidade de dados quanto a liberdade econômica das nações oferecidos pelo Fraser Institute no índice EFW.[8: No que se remete as instituições, será analisado em outro capítulo (capitulo 2.2) do presente trabalho que estas possuem um papel crucial em fomentar atividades econômicas. Será discutido as obras que são conceituadas no meio acadêmico, como as de Douglass North (1991) e Daron Acemoglu.Et al. (2012).]
Estrutura do Trabalho
O presente trabalho é constituído por cinco capítulos. O capitulo 1 consiste na introdução, que contém a justificativa, hipótese e objetivo geral e específicos. A revisão de literatura se encontra no capítulo seguinte (capitulo 2), que é dividida em duas seções, sendo que na primeira é conceituada as variáveis objeto de estudo da presente monografia, a saber, Estado, liberdade econômica e sociedade, sob a perspectiva liberal clássica (FRIEDMAN 1979; HAYEK 1960; MISES 1927,1929,1949,1958), enquanto na segunda seção, buscar-se-á versar sobre teoria institucionalista (NORTH 1990, 1991; ACEMOGLU Et al. 2012) e estudos econométricos que apresentam a relação entre liberdade econômica e a prosperidade das nações (KARRAS 1998; GWARTNEY 2004; STRAVOS 2008; BERGGREM 2014).Apresentar-se-á no capítulo3 a metodologia do presente trabalho, que contém a descrição do modelo econométrico empregado e as variáveis inseridas neste modelo. Será apresentado no quarto capítulo os resultados dos estudos de regressão e por fim no quinto será apresentada as considerações finais. 
Justificativa 
O estudo do Estado e de seu vínculo com os indivíduos que compõem a sociedade é tema de análise desde, pelo menos, a Antiguidade Clássica, e cada escola de pensamento ao longo dos tempos possui uma interpretação própria sobre as relações entre a liberdade individual e o Estado soberano. A presente pesquisa aborda esses temas mediante uma escola de pensamento que possui pouca relevância no âmbito acadêmico e político-econômico no Brasil, a perspectiva Liberal clássica.
A escolha de autores como Ludwig Von Mises, Milton Friedman e Douglass North (dentre outros) para discutir a relação entre Estado e Liberdade econômica se deu devido à pouca penetração da escola liberal clássica no Brasil e no meio acadêmico, ainda que ela sempre tenha desfrutado de prestígio em diversos países do mundo ocidental e também pelo fato desses autores citados serem responsáveis por revolucionar as ferramentas de interpretação dos alicerces da sociedade moderna, cada um em seu momento histórico. 
A perspectiva do liberalismo, que tem em Mises um dos seus mais importantes representantes, ainda é pouco estudada no meio acadêmico, seja pela dificuldade de acesso aos seus autores, por não estarem, em sua maioria, traduzidos no Brasil, seja mesmo pela forte presença de escolas ortodoxas, como a Keynesiana, nos círculos acadêmicos no Brasil. A escassez de pesquisas teóricas que envolvam tais temas e esses autores reforça a importância e mesmo a necessidade de abordar pensadores que possuam visões novas no meio acadêmico sobre temas de tamanha relevância, sendo destaque atualmente em todo o mundo.
Além de expor uma escola de pensamento que possui relativa baixa inserção na academia, o presente estudo é relevante na medida em que aborda o tema liberdade econômica, assunto que tem sido objeto de intensa analise em âmbito internacional nos últimos anos (PIERONI 2013; ORIAKHI 2013;HUSSAIN 2016; GWARTNEY 2004 e STRAVOS 2008). A partir da criação recentemente dos índices de liberdade econômica, como o Economic Freedom of the World (EFW) – Fraser Institute utilizado no presente trabalho e o Economic Freedom Index (EFI) – Heritage Foundation, dentre vários outros índices, foi proporcionado a oportunidade para se investigar empiricamente a relação entre a liberdade econômica e a prosperidade das nações. 
Portanto, é evidente a relevância do tema dado à quantidade de obras pertencentes a autores consagrados, investigando-se a relação entre a Liberdade econômica e o crescimento das nações. Logo, este trabalho tem como hipótese: as instituições – políticas e econômicas – afetam positivamente no crescimento e desenvolvimento das nações, isto é, quanto maior a liberdade econômica de um país, maior será os seus indicadores de desempenho econômico. 
Além da miríade de estudos pertinentes à liberdade econômica, o tema se mostra ainda mais relevante quando analisado sua relação empírica ao crescimento econômico das nações. A tabela a seguir evidencia e sustenta os estudos econométricos citados anteriormente no qual os países mais livres tendem a ser os mais prósperos.
Tabela 1 – Os 10 países mais livres do mundo e os 10 países menos livres em 2014 
	Posição 
	País
	Pontuação
	1º
	Hong Kong
	9.03
	2º
	Singapura 
	8.71
	3º
	Nova Zelândia 
	8.35
	4º
	Suíça 
	8.25
	5º
	República de Maurício 
	7.98
	5º
	Canadá
	7.98
	5º
	Geórgia 
	7.98
	5º
	Irlanda 
	7.98
	10º
	Austrália 
	7.93
	10º
	Reino Unido 
	7.93
	12º
	Qatar 
	7.91
	150º
	Iran 
	5.27
	151º
	Argélia
	5.15
	152º
	Chade
	5.12
	153º
	Guiné 
	5.10
	154º
	Angola
	5.08
	155º
	Republica centro Africana
	5.01
	156º
	Argentina
	4.81
	157º
	Republica Oficial do Congo 
	4.80
	158º
	Líbia 
	4.58
	159º
	Venezuela 
	3.29
Fonte: Elaboração própria a partir do índice Economic Freedom of the World (EFW) de 2014
Os 10 países mais livres, como ilustrados na tabela acima, pertencem a diferentes continentes (Oceania, Ásia, Europa, América do Norte e África Oriental), no entanto, apesar de suas diferenças culturais, climáticas, sociais, e etc. as nações se situam como as mais livres segundo o índice de liberdade econômica EFW. Apesar de distintos, estes países possuem algo em comum: instituições políticas e econômicas que favorecem a liberdade econômica.[9: Quanto ao rank de liberdade econômica ver apêndice 1 e 2.][10: Os apêndices 11,12,13 e 14 ilustram os países mais e menos livres de cada continente.][11: Os 10 países mais livres possuem ranks elevados quanto a categoria de sistema legal e direitos de propriedade (Legal System and Property Rights). A pontuação desta categoria das 10 nações mais livres são respectivamente de; 8.08; 8.31; 8;73; 8.45; 6.49; 8.05; 6.61; 8.04; 8.02; 7.83. fonte: Fraser Institute Economic Freedom of the World (EFW) de 2014]
Gwartney (2016) aponta que países que adotam instituições sólidas, no qual os mercados são livres e os direitos de propriedade protegidos, possuem taxas de crescimento per capita elevadas se comparados aos países com baixo índice de liberdade econômica. Na figura a seguir, há esse argumento:
Figura 1 – Liberdade econômica e crescimento econômico 
Fonte: Gwartney, Lawson and Hall, 2015, Economic Freedom of the World: 2015 Annual Report; World Bank, 2016, World Development Indicators.
De forma semelhante, a liberdade econômica impacta positivamente o nível de renda per capita, no qual países mais livres possuem níveis de renda substancialmente maiores que a países com baixos índices de liberdade econômica:
 Figura 2 – Liberdade econômica e renda per capita. 
Fonte: Gwartney, Lawson and Hall, 2015, Economic Freedom of the World: 2015 Annual Report; World Bank, 2016, World Development Indicators.
Os estudos econométricos de Hanson (2000), Heckelman (2000), Easton e Walker (1997), Haan e Sturm (2000) Scully (2002) e Hafer (2003) concluem ainda que a liberdade econômica afeta positivamente o crescimento econômico das nações, estes artigos serão alvo de discussão na seção de Revisão de Literatura.
Assim a escolha do tema liberdade econômica é justifica perante os dados e estudos pertinentes ao efeito positivo de mercados livres no que tange ao crescimento econômico e prosperidade das nações. 
Por fim a escolha do período de 1970-2000 e 2000-2014 se deu devido a disponibilidade de dados quanto ao índice de liberdade econômica EFW utilizado na presente monografia.
Objetivos
1.1 Objetivo Geral 
Analisar a relação entre a Liberdade econômica e a prosperidade das nações.
1.2 Objetivos Específicos 
Observar se instituições políticas possuem impacto no crescimento econômico das nações.
Estudar os impactos da liberdade econômica nas variáveis de desenvolvimento social.
Contextualizar a liberdade econômica sob a ótica da escola de pensamento escolhida, a saber, Liberal Clássica. 
Revisão de literaturaO presente capítulo será dividido em duas seções. A primeira irá conceituar os principais fundamentos da escola Liberal clássica, abordando-se os conceitos de Liberdade econômica, o sistema de trocas voluntarias – Capitalismo –e o Estado. Em seguida, será analisado a forma pela qual as variáveis citadas anteriormente se relacionam, a fim de propiciar o crescimento. Esta primeira seção será descrita por meio da descrição das obras de Milton Friedman (1979), Friedrich Hayek (1960) e Ludwig von Mises (1927; 1929; 1949; 1958).
Na segunda seção deste capítulo empregando-se o arcabouço teórico exposto na primeira seção, será focado o papel das instituições na formação econômica das nações. Para isso, as obras de Douglass North (1991) e Daron AcemogluEt al. (2012) foram selecionadas como objeto de estudo. Ademais, será discutido o índice de liberdade econômica – Economic Freedomof the World index EFW - utilizado na presente monografia e estudos econométricos (KARRAS 1998; GWARTNEY 2004; STRAVOS 2008; BERGGREM 2014) que abordam a relação entre a liberdade econômica e a prosperidade das nações.
Liberdade
2.1.1 Ação Humana
A hipótese central da presente monografia é de que a liberdade econômica afeta positivamente o crescimento e desenvolvimento das nações. Para tal, faz-se necessário o entendimento do que é a liberdade, de como esta é essencial para a prosperidade econômica e social, da complexidade entre as relações humanas que constroem o mercado e finalmente o papel do Estado para com a sociedade, sendo que o entendimento de tais fatores sob a ótica liberal clássica se mostra essencial na medida em que a escola citada é a maior advogada da liberdade.
A compreensão da liberdade é somente possível por intermédio da análise da ação humana (MISES 1949, passim), afinal o crescimento econômico é alcançado apenas por meio das ações de indivíduos que realizam trocas voluntarias e cooperação espontânea (divisão do trabalho). Friedman (1979) descreve que a sociedade de mercado, no qual os meios de produção são privados, prospera quando as ações dos indivíduos ocorrem de maneira livre, ou seja, quando não há coerção de outrem (instituições extrativas, o Estado ou outros indivíduos). Dessa forma, a sociedade pode escolher caminhos que melhor satisfaçam suas necessidades, assim, desfrutando de seus esforços e utilizando sua propriedade privada – pessoal e material – da maneira que lhes convir, sem, no entanto, ferir os direitos de propriedade de seus semelhantes.[12: AcemogluEt al. (2012) define as instituições em duas categorias, a saber, Inclusivas – instituições que fomentam o direito de propriedade para todos, “those that distribute political power widely in a pluralistic manner” (2012. Pg 469) -, e Extrativas – instituições que favorecem elites políticas e econômicas, transferindo a renda de muitos para a mão de poucos e minando a liberdade, “which concentrate power in the hands of a few, who will henhave incentives to maintain and develop extractive economic institutions for their benefit”(2012, pg 470).]
Para analisar a ação humana e ulteriormente a liberdade, Ludwig von Mises desenvolveu em “Human Action” (1949) a Praxeologia, uma ferramenta dedutiva que busca fundamentar o processo de agir dos indivíduos. Fazendo uso dessa ferramenta, será analisada a seguir a Ação como fator embrionário da liberdade.
 O que define uma ação? De modo sucinto, uma ação consiste em uma vontade, um anseio posto em prática a fim de atingir um objetivo, uma meta desejada antes de a ação tomar lugar. O ato de agir, de colocar em prática a vontade do indivíduo atuante, consiste em renunciar a algo em favor de algum outro curso de ação que o indivíduo considera mais favorável (MISES, 1949 passim).
 Definido o conceito de ação, é possível obter outro questionamento, por que o homem age? O que motiva o indivíduo a sair do estado letárgico e incorrer em uma ação? A Praxeologia define que a ação humana é impulsionada por um desejo de atingir um estado mais satisfatório para o indivíduo atuante, isto é, de sair de um patamar para outro mais favorável. É importante ressaltar que a ferramenta praxeológica não incorre em nenhum julgamento de valor para com o estado ótimo escolhido pelo indivíduo atuante, ou seja, em essência a Praxeologia não analisa os fins e sim os meios para atingir os desejos de cada um (MISES, 1949)
“The ultimate goal of human action is always the satisfaction of the acting man's desire. There is no standard of greater or lesser satisfaction other than individual judgments of value, different for various people and for the same people at various times. What makes a man feel uneasy and less uneasy is established by him from the standard of his own will and judgment, from his personal and subjective valuation. Nobody is in a position to decree what should make a fellow man happier.” (MISES,1949. pg.14)
O trecho supracitado é essencial para evidenciar a relação de uma entidade coercitiva (individuo, grupo de indivíduos, Estado etc.) para com os indivíduos em uma sociedade, pois, ninguém está em posição de direito de definir o que é mais satisfatório para uma pessoa ou grupo de pessoas. Dado que o nível de satisfação é algo totalmente pessoal e subjetivo, qualquer interferência exterior sobre as escolhas de um indivíduo atuante é tida, de acordo com a praxeologia, como uma violação da ação humana (MISES, 1949).
 A ação humana é, portanto, impulsionada por um estado no qual o indivíduo atuante se julga superior antes de atuar, algo que o leva a agir para atingir um patamar pelo qual se sentirá mais satisfeito. Como ser racional, o homem possui expectativas para com ações futuras (MISES, 1949).
“We call contentment or satisfaction that state of a human being which does not and cannot result in any action. Acting man is eager to substitute a less satisfactory state for a more satisfactory one? His mind imagines conditions which suit him better, and his action aims at bringing about this desired state.” (MISES, 1949. pg.13)
 Como exposto anteriormente, o homem age, pois, é capaz de observar e analisar relações causais e estimar as consequências dos seus atos, utilizando sua razão.
Para agir o homem analisa os eventos que o cercam e conclui de qual maneira sua ação será mais eficiente para atingir seus objetivos, sempre tendo em mente que está renunciando a algo e quais efeitos essa escolha terá em seu meio. Tal conceito é rotulado pelos economistas como Custo de Oportunidade. (MISES, 1949)[13: Mankiw (1997) define custo de oportunidade como sendo o preço em abrir mão de determinado curso de ação em favor de outro. ]
 Dado que cada indivíduo é único, níveis de satisfação diferem para cada pessoa ou grupo de pessoas. Dessa forma, ações que renunciem à autossatisfação ou mesmo à própria autopreservação ainda assim é considerada uma ação e de nenhuma maneira são ações irracionais, pois foram feitas mediante um processo de escolha pessoal a fim de atingir algum objetivo. 
2.1.2 Sociedade
A economia como ciência é em sua essência o estudo da ação humana, tendo por pressuposto a verificação dos impactos da mesma sobre o seu meio e o indivíduo atuante. Dessa forma, a seção anterior definiu, mediante a ferramenta teórica criada pelo pensador Ludwig von Mises, o que impulsiona o indivíduo a agir (saciar suas vontades e elevar a sua satisfação). É vital a compreensão da gênese da ação humana, na medida em que por intermédio dela o homem obtém seus fins, portanto investigar a causa da prosperidade é analisar o conjunto de ações humanas que formam a economia de uma nação. A liberdade é somente encontrada nas ações dos indivíduos (MISES, 1949. passim), portanto, o estudo da relação entre crescimento e desenvolvimento econômico e a liberdade econômica é somente possível mediante o entendimento da ação humana, quando esta atende aos anseios do indivíduo (liberdade econômica) ou quando é vítima da coerção de terceiros.
Analisada a ação humana sob a perspectiva praxeológica de Mises,é possível observar o conjunto de ações em um meio social e também como grupos de indivíduos interagem entre si a fim de atingir, individualmente, seus níveis ótimos de satisfação. 
Mises (1949) define a sociedade como sendo o conjunto de ações individuais em cooperação espontânea e coletiva. É importante, no entanto, diferenciar o conceito de sociedade do de teorias coletivistas, que a enxergam como uma entidade que age apesar do indivíduo, ou que tem um grau de autonomia ou superioridade em relação a ele. Em Mises (1949), a sociedade é definida como o conjunto de indivíduos que agem por meio do esforço coletivo para a promoção do bem individual, cujo resultado indireto é o bem coletivo. A Sociedade existe somente nas ações dos indivíduos.[14: Rothbard (1995, p. 89.) descreve as escolas que têm a sociedade como agente dissociado do indivíduo e também, ulteriormente, os equívocos de tais correntes de pensamento em analisar as variáveis econômicas e sociais que permeiam o mundo moderno. Para mais sobre o tema em questão ver: McELROY, Wendy. I the person versus We the people. Mises Institute. 2011. Disponível em: https://mises.org/library/i-person-versus-we-people. Acessado em: 02/06/2017]
Mises (1949, p. 172) define que a divisão do trabalho é o componente essencial para a renúncia do indivíduo à vida isolada em favor da vida social, na medida em que a eficiência de trabalho em sociedade é significativamente maior que o trabalho individual, proporcionando, assim, mais benefícios para os indivíduos que compõem a sociedade.
“Human society is an association of persons for cooperative action. As against the isolated action of individuals, cooperative action on the basis of the principle of the division of labor has the advantage of greater productivity. If a number of men work in cooperation in accordance with the principle of the division of labor, they will produce (other things being equal) not only as much as the sum of what they would have produced by working as self-sufficient individuals, but considerably more. All human civilization is founded on this fact. It is by virtue of the division of labor that man is distinguished from the animals. It is the division of labor that has made feeble man, far inferior to most animals in physical strength, the lord of the earth and the creator of the marvels of technology. In the absence of the division of labor, we would not be in any respect further advanced today than our ancestors of a thousand or ten thousand years ago.” (MISES, 1927; p. 18)
À luz do liberalismo clássico, é possível definir a sociedade como o conjunto de ações humanas em cooperação espontânea, a fim de que os indivíduos possam alcançar seus objetivos, o de atingir estados de satisfação melhores. A sociedade triunfa mediante o mercado, pois, os indivíduos que a compõem visam alcançar seus objetivos, e fazendo isso, beneficiam a sociedade, não por benevolência, mas por buscarem seus próprios fins.
“It is not from the benevolence of the butcher, the brewer, or the baker that we expect our dinner, but from their regard to their own self-interest. We address ourselves not to their humanity but to their self-love, and never talk to them of our own necessities, but of their advantages” (SMITH, 1776,p. 27)
2.1.3 Liberdade Econômica.
“A man has freedom as far as he shapes his life according to his own plans. A man whose fate is determined by the plans of a superior authority, in which the exclusive power to plan is vested, is not free{…}” (MISES, 1949. p. 285)
 À luz dos fundamentos teóricos de Ludwig von Mises, em Human Action (1949), a Liberdade econômica é tida como a ação humana posta em prática sem qualquer intervenção de terceiros. A Liberdade na escola liberal clássica não é dissociada da vida em sociedade, é somente mediante as relações cooperativas sociais que o indivíduo consegue suplantar a natureza, exercendo sua vontade sem barreiras ou impedimentos naturais que colocariam em risco sua busca por um estado mais favorável. (MISES, 1949; p. 165)
 A Liberdade individual é conceituada sob a perspectiva liberal clássica como sendo o estado no qual o indivíduo não é sujeito a coerções arbitrárias de terceiros, isto é, suas ações para obter um estado mais satisfatório não enfrentam nenhum obstáculo criado por outros indivíduos.
"Freedom refers solely to a relation of men to other means and the only infringement on it is coercion by men. This means, in particular, that the range of physical possibilities from which a person can choose~ at a given moment has no direct relevance to freedom. The rock climber on a difficult pitch who sees only one way out to save his life is unquestionably free, .though we would hardly say he has any choice.”(HAYEK, 1960, p. 12)
 No processo de cooperação social sob a divisão do trabalho, o indivíduo é verdadeiramente livre. Em nenhum momento ele é independente, na medida em que depende do sucesso do outro para que seus objetivos sejam realizados, entrementes, ele é livre para escolher qual caminho é mais eficiente para aquilo que ele mesmo estabeleceu como finalidade. Em síntese, o princípio de auto interesse de Adam Smith.
“Liberty and freedom are terms employed for the description of the social conditions of the individual members of a market society in which the power of the indispensable hegemonic bond, the state, is curbed lest the operation of the market be endangered. In a totalitarian system there is nothing to which the attribute "free" could be attached but the unlimited arbitrariness of the dictator.” (MISES, 1949. p. 281)
Dessa forma, a liberdade se refere não somente ao poder de escolhas do indivíduo, mas ela também possui uma dimensão política, na medida em que a liberdade é a ausência do arbítrio de um poder ditatorial, caracterizado por ser coercitivo, pelo fato de direcionar as ações do indivíduo atuante em satisfazer as necessidades de outrem – a entidade coercitiva - a satisfazer os anseios da entidade que está a coagi-lo. 
O homem possui total soberania sobre o seu ser e os frutos de seu trabalho, isto é, sua propriedade privada. É por meio de sua propriedade que o indivíduo consegue agir a fim de saciar suas vontades, sendo que a divisão do trabalho permite a dispersão do conhecimento proporcionando dessa forma a especialização de vocações, conferindo ao homem a miríade de oportunidades no mercado para satisfazer suas necessidades.
A liberdade econômica é observada quando a sociedade age de maneira livre, não sendo vítima de coerção no que se remete ao uso de sua propriedade privada – material e pessoal (propriedade material – propriedade tangível fruto do trabalho ou de contratos, propriedade pessoal – corpo e mente do indivíduo ), sendo a condição essencial para a prosperidade de acordo com a escola liberal clássica, pois, garante incentivos aos indivíduos a incorrerem em ações econômicas. O crescimento e desenvolvimento econômico é fruto da propriedade intrínseca do mercado, sob o sistema de preços e da capacidade de se autorregular (FRIEDMAN, 1979. Passim), somado ao ambiente econômico livre, o que possibilita o processo de inovação e criação destrutiva.[15: Schumpeter (1911) descreve a criação destrutiva como sendo o incessante processo de inovação de tecnologias e métodos produtivos, substituindo-se as tecnologias que se tornam obsoletas mediante a evolução técnica. Esse processo de reestruturação econômica possui impactos significativos no desempenho econômico no longo prazo. Acemoglu et al. (2012) define que a criação destrutiva é fruto direto da liberdade econômica e de instituições inclusivas, sendo um dos principais fatores a propiciar a prosperidade.]
“A predominantly voluntary exchange economy, on the other hand, has within it the potential to promote both prosperity and human freedom. It may not achieve its potential in either respect, but we know of no society that has ever achieved prosperity and freedom unless voluntary exchange has been its dominant principle of organization.We hasten to add that voluntary exchange is not a sufficient condition for prosperity and freedom. That, at least, is the lesson of history to date. Many societies organized predominantly by voluntary exchange have not achieved either prosperity or freedom, though they have achieved a far greater measure of both than authoritarian societies. But voluntary exchange is a necessary condition for both prosperity and freedom.” (FRIEDMAN, 1979. Pg. 11)
A subseção subsequente analisa como a ação humana é corrompida, fazendo com que as ações dos indivíduos não satisfaçam não mais a suas vontades, mas aos desejos da entidade coercitiva. É vital a compreensão do processo de coerção, pois, a problemática da presente monografia consiste no empecilho ao crescimento econômico causado pela interferência na liberdade econômica por meio do Estado e de outras entidades no mundo moderno (Associações, Instituições etc.). (MISES, 1929). 
2.1.4 Coerção
 A fim de compreender o conceito de liberdade, faz-se necessário inspecionar como esta é frustrada ou impedida, para isso será analisada a coerção, o ato de sujeitar o indivíduo atuante livre a agir não mais para satisfazer suas volições, mas para atender os desejos do(s) agente(s) coercitivo(s), seja o próprio Estado ou mesmo outro(s) indivíduo(s). (HAYEK, 1960)
 O indivíduo alvo de coerção tem então seu curso de ação voltado a atender os anseios da entidade que o está coagindo sob o uso tácito ou direto de violência caso a conduta desejada pelo agente coercitivo não for realizada. Cabe aqui distinguir obstáculos criados por agentes coercitivos, Estado, instituições extrativas e/ou outros indivíduos, de obstáculos naturais como impedimentos ao indivíduo em obter seus objetivos. 
 A coerção elimina a individualidade do homem, ao negar suas ações, a fim de atingir não os seus fins, mas os de outrem, impedindo o indivíduo de se realizar. 
“So long as the act that has placed me in my predicament is not aimed at making me do or not do specific things, so long as the intent of the act that harms me is not to make me serve another person's ends, its effect on my freedom is not different from that of any natural calamity-a fire or a flood that destroys my house or an accident that harms my health.” (HAYEK, 1960).
A dependência do indivíduo para com seus semelhantes no mercado em nenhum momento se confunde com coerção, pois, mesmo interdependentes a sociedade é livre para escolher o coro de ações mais eficaz para atingir seus objetivos. A sociedade de mercado é então a esfera na qual o indivíduo atua livre de qualquer intervenção ou limitação (que não as suas limitações naturais) a seus objetivos; no mercado a troca de bens e serviços ocorre de maneira voluntária e sem coerção, ambas as partes envolvidas nessa relação se beneficiam mutuamente e o fazem consensualmente, pois, julgam que esse caminho é o melhor para atender a suas vontades.
“That other people's property can be serviceable in the achievement of our aims is due mainly to the enforceability of contracts. The whole network of rights created by contracts is as important a part of our own protected sphere, as much the basis of our plans, as any property of our own. The decisive condition for mutually advantageous collaboration between people, based on voluntary consent rather than coercion, is that there be many people who can serve one's needs, so that nobody has to be dependent on specific persons for the essential conditions of life or the possibility of development in some direction. It is competition made possible by the dispersion of property that deprives the individual owners of particular things of all coercive powers.” (HAYEK, 1960)
Foi observado previamente que o homem age por meio de sua propriedade privada - material e pessoal – a fim de satisfazer as suas vontades, e que a ação humana livre é vital, pois, é somente dessa forma que a sociedade possui o incentivo de incorrer em ações econômicas. Logo, é possível inferir que a instituição da propriedade é em sua essência o baluarte da liberdade econômica, pois, de forma inviolada (não sendo vítima de coerção) a sociedade pode prosperar por intermédio do mercado, buscando caminhos mais eficientes em atender as suas necessidades. 
“In a free trade world, as in a free economy in any one country, transactions take place among private entities—individuals, business enterprises, charitable organizations. The terms at which any transaction takes place are agreed on by all the parties to that transaction. The transaction will not take place unless all parties believe they will benefit from it. As a result, the interests of the various parties are harmonized. Cooperation, not conflict, is the rule. When governments intervene, the situation is very different. Within a country, enterprises seek subsidies from their government, either directly or in the form of tariffs or other restrictions on trade. They will seek to evade economic pressures from competitors that threaten their profitability or their very existence by resorting to political pressure to impose costs on others. Intervention by one government in behalf of local enterprises leads enterprises in other countries to seek the aid of their own government to counteract the measures taken by the foreign government. Private disputes become the occasion for disputes between governments.” (FRIEDMAN, 1979)
A coerção por outro lado busca redirecionar, parcial ou inteiramente, o curso de ação do indivíduo para atender aos anseios da entidade coercitiva, é nesse momento que a liberdade econômica é violada. Quando os mercados são vítimas de coerção, por meio da corrupção da ação humana, é então observado o que Mises (1929) rotula como o Terceiro Estado – o Intervencionismo. Intervencionismo é considerado para os pensadores da escola liberal clássica como sendo o caminho diametralmente oposto a prosperidade, sendo o Socialismo – o segundo sistema – o ápice, segundo Mises (1929) da coerção sobre a ação humana. Friedman descreve:
“Wherever the state undertakes to control in detail the economic activities of its citizens, wherever, that is, detailed central economic planning reigns, there ordinary citizens are in political fetters, have a low standard of living, and have little power to control their own destiny. The state may prosper and produce impressive monuments. Privileged classes may enjoy a full measure of material comforts. But the ordinary citizens are instruments to be used for the state's purposes, receiving no more than necessary to keep them docile and reasonably productive.” (FRIEDMAN, 1979. pg. 55)
Na segunda parte do presente capítulo, será apresentado, sob a perspectiva de Daron Acemoglu et al. (2012), o argumento histórico para a motivo da prosperidade das nações, em síntese (ACEMOGLU et al, 2012) fundamenta que a razão para os países pobres não conseguirem alavancar o seu crescimento se dá devido a sua formação histórica constituída de instituições extrativas – intervencionismo – (Leste Europeu, América Latina, África Subsaariana etc.). A fim de concluir o tema de coerção, a presente seção será finalizada com a evidencia histórica oferecida por Friedman (1979) quanto a experiência institucional extrativa alemã e ulteriormente as mudanças positivas no crescimento e desenvolvimento econômico após as transformações em direção da liberdade.
“It seemed a miracle when West Germany—a defeated and devastated country—became one of the strongest economies on the continent of Europe in less than a decade. It was the miracle of a free market. Ludwig Erhard, an economist, was the German Minister of Economics. On Sunday, the twentieth of June, 1948, he simultaneously introduced a new currency, today's Deutsche mark, and abolished almost all controls on wages and prices. He acted on a Sunday, he was fond of saying, because the offices of the French, American, and British occupation authorities were closed that day. Given their favorable attitudes toward controls, he was sure that ifhe had acted when the offices were open, the occupation authorities would have countermanded his orders. His measures worked like a charm. Within days the shops were full of goods. Within months the German economy was humming away.” (FRIEDMAN, 1979. pg. 56)
2.1.5 O Mercado
O Liberalismo clássico define o mercado como sendo o sistema social no qual os meios de produção são privados, isto é, o indivíduo possui total soberania quanto a sua propriedade privada, alocando seus recursos e esforços (trabalho) para as ações que satisfaçam suas vontades. Como visto anteriormente, a praxeologia de Mises define que o homem age de maneira a atingir estados mais satisfatórios, assim a liberdade econômica é condição essencial para que o indivíduo possa agir de maneira a satisfazer suas volições de forma eficiente. 
Mises (1927) apresenta três modelos de sistema econômico; O Primeiro Sistema ou a sociedade de mercado – capitalismo -, no qual os indivíduos são livres para usufruir os frutos de sua propriedade privada, incorrendo em trocas mediante contratos livre e legitimados sob a proteção do Estado; O Segundo Sistema ou Socialismo, diametralmente oposto ao capitalismo, no qual o Estado controla os meios de produção, sendo caracterizado pela ausência de liberdade econômica e social; e por fim o Terceiro Sistema ou Intervencionismo, sistema esse em que o indivíduo é vítima de coerção parcial no que se remete as suas ações, sendo que o Estado incorre em intervenções diretas e indiretas no mercado, o que limita a possibilidade de escolhas da sociedade, desvirtuando o sistema de preços.
É vital a compreensão dos sistemas econômicos, pois, a proposta da presente monografia é a de que o crescimento econômico sustentável é somente possível mediante o Primeiro Sistema, capitalismo. A sociedade prospera quando esta pode, livremente, escolher quais caminhos tomar para satisfazer seus objetivos, portanto, nações que possuem instituições extrativas (segundo e terceiro sistema) não conseguem prosperar, pois, seus cidadãos não são livres para agir da maneira que lhes convém (ACEMOGLU Et al. 2012. passim).
“Nations fail economically because of extractive institutions. These institutions keep poor countries poor and prevent them from embarking on a path to economic growth. This is true today in Africa, in places such as Zimbabwe and Sierra Leone; in South America, in countries such as Colombia and Argentina; in Asia, in countries such as North Korea and Uzbekistan; and in the Middle East, in nations such as Egypt. There are notable differences among these countries. Some are tropical, some are in temperate latitudes. Some were colonies of Britain; others, of Japan, Spain, and Russia. They have very different histories, languages, and cultures. What they all share is extractive institutions. In all these cases the basis of these institutions is an elite who design economic institutions in order to enrich themselves and perpetuate their power at the expense of the vast majority of people in society. The different histories and social structures of the countries lead to the differences in the nature of the elites and in the details of the extractive institutions. But the reason why these extractive institutions persist is always related to the vicious circle, and the implications of these institutions in terms of impoverishing their citizens are similar—even if their intensity differs.” (ACEMOGLU Et al. 2012. pg. 440)
 Por meio da liberdade econômica, os anseios do indivíduo se fazem ouvidos, todo o mercado é então movido por intermédio dessas vontades - demanda e oferta -, portanto é mediante a ação humana que o indivíduo se faz relevante. Mises (1929) descreve esse processo:
“the market is a democracy in which every penny gives a right to vote. It would be more correct to say that representative government by the people is an attempt to arrange constitutional affairs according to the model of the market, but this design can never be fully achieved. In the political field it is always the will of the majority that prevails, and the minorities must yield to it. It serves also minorities, provided they are not so insignificant in number as to become negligible. The garment industry produces clothes not only for normal people, but also for the stout, and the publishing trade publishes not only westerns and detective stories for the crowd, but also books for discriminating readers. There is a second important difference. In the political sphere, there is no means for an individual or a small group of individuals to disobey the will of the majority”(MISES, 1958. Pg. 21)
A busca por satisfação do indivíduo em uma estrutura de livre mercado, sem ser regulado por entidades coercitivas, acaba por beneficiar seu compatriota, pois, devido à interdependência da vida em sociedade (divisão do trabalho), o indivíduo passa a ser o meio pelo qual seus semelhantes obtêm seus fins perante a cooperação espontânea – colaboração voluntaria entre indivíduos (novamente aludindo a magunum opus de Adam Smith e seu conceito de auto interesse como ferramenta a proporcionar o bem-estar da sociedade). 
A ação humana é guiada pelas qualidades pessoais de cada indivíduo, bem como pelo ambiente que o cerca e ocorre mediante suas escolhas racionais que levam em conta como melhor realizar seu objetivo, isto é, o de atingir um estado mais satisfatório que o presente (MISES, 1949. pg. 22). O mercado é a esfera na qual o indivíduo pode escolher quais cursos de ação tomar para melhor satisfazer a si mesmo e, indiretamente, a seus semelhantes.
“Each man is free; nobody is subject to a despot. Of his own accord, the individual integrates himself into the cooperative system. The market directs him and reveals to him in what way he can best promote his own welfare as well as that of other people. The market is supreme. The market alone puts the whole social system in order and provides it with sense and meaning.” (MISES, 1949. pg. 258)
 Nesse sentido, o Mercado é o guia oculto (SMITH 1776) das interações humanas livres que visam ao auto interesse por meio da cooperação recíproca espontânea, sendo qualquer atividade ou ação que mine tal processo um ataque direto à liberdade individual e econômica.
2.1.6 Divisão do trabalho.
Isolado, o indivíduo iria depender unicamente de suas próprias capacidades para se prover, para isso ele faz uso do trabalho, externando suas habilidades por meio de sua propriedade privada – pessoal e material - a fim de conseguir seu objetivo. Sozinho, o homem não consegue ser tão produtivo quanto um grupo de indivíduos. Em coletividade, por outro lado, e compartilhando de seus diversos conhecimentos e experiências, o horizonte de possibilidades é inimaginável. Na sociedade, esse escopo é ampliado de maneira imensurável e o indivíduo pode beneficiar a si e ao outro com seus conhecimentos e proficiências.
O homem isolado está limitado a seus conhecimentos; em sociedade, por outro lado, ele pode aproveitar todo o conhecimento disponibilizado por seus concidadãos, bem como compartilhar os seus. 
“In other words, it is largely because civilization enables us constantly to profit from knowledge which we individually do not possess and because each individual's use of his particular knowledge may serve to assist others unknown to him in achieving their ends that men as members of civilized society can pursue their individual ends so much more successfully than they could alone.” (HAYEK, 1960, p. 25)
 
2.1.7A preservação da sociedade
A partir das seções anteriores do presente capítulo, é possível desenvolver, sob o arcabouço teórico da escola liberal clássica, o argumento de que a liberdade é essencial para o homem. Pois, somente livre este é capaz de agir de maneira eficiente, satisfazendo suas necessidades e indiretamente as de outrem. E ainda que, em sociedade, mediante a cooperação espontânea coletiva e a divisão do trabalho, o homem consegue obter patamares produtivos que sozinho seria impossível dado suas limitaçõesnaturais.
Por conseguinte, dado os axiomas praxeológicos de Ludwig von Mises, foi possível sintetizar mediante as contribuições acadêmicas de Friedrich Haeyk e Milton Friedman que a liberdade econômica é o fator condicional para o crescimento econômico sustentável. Pois, além de proporcionar ao indivíduo, por intermédio do mercado, a miríade de escolhas para saciar suas vontades ao mesmo tempo em que coopera, direta ou indiretamente, para o sucesso de seus concidadãos, a liberdade econômica é crucial em transmitir incentivos a sociedade para esta incorrer em ações econômicas, fomentando o progresso tecnológico e o processo de criação destrutiva.
Conquanto o crescimento econômico seja possível por meio de instituições extrativas –intervencionismo -, esse crescimento não é sustentável no longo prazo, além de limitar a liberdade e as escolhas da sociedade. (ACEMOGLU et.al. 2012)
“Nations fail today because their extractive economic institutions do not create the incentives needed for people to save, invest, and innovate. Extractive political institutions support these economic institutions by cementing the power of those who benefit from the extraction. Extractive economic and political institutions, though their details vary under different circumstances, are always at the root of this failure.” (ACEMOGLU et.al. 2012. p. 413)
Sendo a sociedade o conjunto de ações individuais, no qual os indivíduos têm no sucesso do outro um meio para atingir seus próprios objetivos, o pensamento liberal clássico estabelece/defende que a preservação da sociedade é algo essencial para o homem. Assim, será apresentado uma nova variável no estudo da ação humana e a liberdade econômica, o Estado.
Sob a perspectiva liberal clássica, o Estado nasce da necessidade de se preservar a ordem social, protegê-la de quem visa destruí-la e pôr em risco o sistema frutífero de divisão do trabalho que beneficia o indivíduo. Mises enfatiza a necessidade do Estado “government is not, as some people like to say, a necessary evil; it is not an evil, but a means, the only means available to make peaceful human coexistence possible” (MISES 1958, p 35).
Mises define o Estado como sendo a antítese da liberdade, pois, é uma entidade coercitiva na medida em que realiza a função vital de proteger o indivíduo e assegurar os direitos de propriedade por intermédio de seu monopólio do uso da força. Assim Mises (1949) define o Estado como o Aparato de Coerção Social.[16: É consenso entre os pensadores da escola liberal clássica que o Estado é vital para o funcionamento pacifico da sociedade. Assegurando os direitos de propriedade privada – material e pessoal – o Estado garante que a sociedade possa prosperar. Ao definir o Estado como ‘aparato de coerção social’, diametralmente oposto a liberdade, Mises parece entrar em um dilema quando afirma que o Poder Público é indispensável à sociedade. (ROTHBARD 1973)Pois na condição de aparato de coerção social, o Estado passa a ser então o maior violador da liberdade econômica. É por intermédio desse dilema do liberalismo clássico em Mises, que o economista Murray Rothbard (1973;1974) radicaliza o pensamento liberal e propõe a escola de pensamento Libertária, em que o Estado é visto como entidade dispensável a sociedade. ]
“Government is essentially the negation of liberty. It is the recourse to violence or threat of violence in order to make all people obey the orders of the government, whether they like it or not. As far as the government’s jurisdiction extends, there is coercion, not freedom.” (MISES, 1958, p.34)
Mises continua:
“Government is a necessary institution, the means to make the social system of cooperation work smoothly without being disturbed by violent acts on the part of gangsters whether of domestic or of foreign origin.” (MISES, 1958. Pg. 34)
No entanto, é Adam Smith quem oferece de forma mais elegante e completa uma teoria para definir e apontar as funções do Estado:
“All systems either of preference or of restraint, therefore, being thus completely taken away, the obvious and simple system of natural liberty establishes itself of its own accord. Every man, as long as he does not violate the laws of justice, is left perfectly free to pursue his own interest his own way, and to bring both his industry and capital into competition with those of any other man, or order of men. The sovereign is completely discharged from a duty, in the attempting to perform which he must always be exposed to innumerable delusions, and for the proper performance of which no human wisdom or knowledge could ever be sufficient; the duty of superintending the industry of private people, and of directing it towards the employments most suitable to the interest of the society. According to the system of natural liberty, the sovereign has only three duties to attend to; three duties of great importance, indeed, but plain and intelligible to common understandings: first, the duty of protecting the society from the violence and invasion of other independent societies; secondly, the duty of protecting, as far as possible, every member of the society from the injustice or oppression of every other member of it, or the duty of establishing an exact administration of justice; and, thirdly, the duty of erecting and maintaining certain public works and certain public institutions, which it can never be for the interest of any individual, or small number of individuals, to erect and maintain; because the profit could never repay the expence to any individual or small number of individuals, though it may frequently do much more than repay it to a great society.” (SMITH, 1776. Pg. 325)
2.1.8 O Estado
Adiante será estudado a anatomia do Estado, suas funções e seus limites à luz da tradição liberal. Não será objeto de estudo, portanto, a origem desta entidade, sua evolução histórica desde os primeiros conglomerados humanos, mas sim suas interações para com o indivíduo e a liberdade econômica no âmbito do mundo moderno.[17: Rothbard (1974) oferece uma análise minuciosa sobre a teoria do Estado.]
2.1.9 Estado mínimo[18: O historiador econômico Murray N. Rothbard em “na Austrian Perspective on the History of EconomicThought” (1995) descreve a teoria do Estado mínimo (a delimitação das funções do Poder Público como protetor dos direitos de propriedade) como sendo fruto da síntese formada pelas teorias de pensadores como Adam Smith, John Locke, dentre outros autores iluministas.]
Smith define que o Sistema econômico ideal é aquele em que o direito de propriedade privada e liberdade são inviolados, ou seja, uma sociedade ideal é aquela em que o indivíduo é livre para satisfazer suas volições, contanto que não viole o Estado de Direito. 
O Poder Público, por outro lado, é limitado a três funções vitais para que o system of natural liberty possa prosperar a saber: a proteção do indivíduo contra ações violentas (seja de outros indivíduos ou nações estrangeiras), o de manter a ordem mediante o arcabouço jurídico e, por último, o de oferecer bens públicos.Segundo Smith (1776), este sistema é o único a proporcionar o caminho à prosperidade, pois, a ideia de uma economia planificada, na qual o mercado é controlado pelo Estado, é inviável, na medida em que;[19: Sobre bens públicos ver Varian (1996, p. 667)]
“The sovereign is completely discharged from a duty, in the attempting to perform which he must always be exposed to innumerable delusions, and for the proper performance of which no human wisdom or knowledge could ever be sufficient; the duty of superintending the industry of private people, and of directing it towards the employments most suitable to the interest of the society.”(SMITH, 1776, p. 325)
Portanto, nenhum indivíduo, ou grupo de indivíduos, possui o intelecto suficiente para controlar o mercado, guiando a sociedade para caminhos mais prósperos. É somente mediante a liberdade econômica que a sociedade consegue atingir crescimento econômico sustentável. Por intermédio dadispersão de conhecimento e da divisão do trabalho indivíduos conseguem alcançar patamares de satisfação que nenhum déspota alcançou mediante a coerção.[20: Gwartney (2016) conclui, por meio de estudos econométricos, que nações mais livres possuem taxas de crescimento econômico exponencialmente maiores que as de países menos livres. Esta obra será discutida na segunda parte do presente capítulo. ]
“The essential feature of government is the enforcement of its decrees by beating, killing, and imprisoning. Those who are asking for more government interference are asking ultimately for more compulsion and less freedom.” (MISES, 1949 p.715)
O Estado é em sua essência o oposto da liberdade, sua natureza é a coerção, pois, o mesmo alcança seus objetivos via uso tácito ou direto do monopólio dos meios de violência (MISES, 1949 passim). Suas funções são limitadas a proteger o indivíduo, salvaguardar o território sob seu governo, assegurar a propriedade privada e garantir o funcionamento pacifico das interações humanas, protegendo dessa forma a sociedade de ações destrutivas por parte de outros indivíduos ou entidades. [21: O Estado possui o poder legitimo do uso da força como processo civilizador, com isso a entidade garante a proteção à propriedade privada e ao indivíduo. Quando ao tema ver Silva (2008), Freire (2009), Elias (1998), Weber (1904) e Rothbard (1974).]
A entidade Estado garante o sucesso de suas funções através do monopólio dos meios de violência e do arcabouço jurídico, que dá origem e fundamenta o chamado Estado de Direito. O Estado é, portanto, uma entidade tácita, que age somente em face de transgressões às suas funções.
Assim, o Estado é essencial para o funcionamento da sociedade, já que coíbe ações, por intermédio do uso da força ou de seu arcabouço jurídico, que poriam em riscos a sociedade. Ao mesmo tempo, em que protege os indivíduos, o Estado se utiliza da coerção (monopólio dos meios de violência, direito exclusivo de taxação – pratica que preda sobre a propriedade privada da sociedade – e conscrição), para evitar que os alicerces que sustentam a sociedade e o sistema de interações humanas, que é o mercado, desfaçam-se. 
Logo, o Poder Público é vital para o crescimento econômico, ao garantir que as ações humanas ocorram de forma invioladas mediante instituições inclusivas (democracia, propriedade privada etc.). Acemoglu et.al. (2012) apresenta fatos históricos para fortalecer a teoria liberal clássica vista no presente capítulo: 
“When nations break out of institutional patterns condemning them to poverty and manage to embark on a path to economic growth, this is not because their ignorant leaders suddenly have become better informed or less selfinterested or because they’ve received advice from better economists. China, for example, is one of the countries that made the switch from economic policies that caused poverty and the starvation of millions to those encouraging economic growth. But […] this did not happen because the Chinese Communist Party finally understood that the collective ownership of agricultural land and industry created terrible economic incentives. Instead, Deng Xiaoping and his allies, who were no less self-interested than their rivals but who had different interests and political objectives, defeated their powerful opponents in the Communist Party and masterminded a political revolution of sorts, radically changing the leadership and direction of the party. Their economic reforms, which created market incentives in agriculture and then subsequently in industry, followed from this political revolution. It was politics that determined the switch from communism and toward market incentives in China, not better advice or a better understanding of how the economy worked.” (ACEMOGLU et al. 2012. p. 82)
2.1.10 O Estado de Direito
O arcabouço jurídico à disposição do Estado é o mecanismo pelo qual esta entidade garante a ordem e o funcionamento pacífico da sociedade para que os indivíduos incorram em ações livres em prol de seus objetivos. O conjunto de leis de uma sociedade é então a estrutura que protege o indivíduo na vida em sociedade, juntamente com valores morais que surgem espontaneamente com o mesmo princípio, o de assegurar a ordem. (HAEYEK, 1960) 
“Life of man in society, or even of the social animals in groups, is made possible by the individuals acting according to certain rules. With the growth of intelligence, these rules tend to develop from unconscious habits into explicit and articulated statements and at the same time to become more abstract and general.” (HAYEK, 1960, p. 148)
O Estado de Direito pressupõe leis gerais, isto é, alheias a circunstâncias particulares no espaço e no tempo, assumindo o princípio de igualdade formal entre os indivíduos da sociedade, não impedindo ações livres e não destrutivas à sociedade –como visto anteriormente sob o instrumental teórico praxeológico a ação humana é a vontade do indivíduo posta em pratica, no qual o homem age por meio de sua propriedade privada (pessoal e material) para atingir seus fins, dessa forma ações livres e não destrutivas a coletividade são tidas como legitimas e por isso não frustradas pelo Estado de Direito- .
“It is because the lawgiver does not know the particular cases to which his rules will apply, and it is because the .judge who applies them has no choice in drawing the conclusions that follow from the existing body of rules and the particular facts of the case, that it can be said that laws and not men rule.”(HAYEK, 1960, p. 153)
2.1.11 Estado e Mercado
“The market economy is a man-made mode of acting under the division of labor. But this does not imply that it is something accidental or artificial and could be replaced by another mode. The market economy is the product of a long evolutionary process.It is the outcome of man's endeavors to adjust his action in the best possible way to the given conditions of his environment that he cannot alter. It is the strategy, as it were, by the application of which man has triumphantly progressed from savagery to civilization.” (MISES, 1949, p. 266)
O Liberalismo clássico entende o mercado como sendo um sistema de ações humanas livres. Nele, os indivíduos incorrem em ações a fim de se beneficiarem mutualmente via contratos voluntários. Por ser um sistema de ações livres é, portanto, espontâneo e o Estado existe para tacitamente proteger a sociedade e o funcionamento pacífico das interações humanas em uma sociedade de mercado.
“The market directs the individual's activities into those channels in which he best serves the wants of his fellow men. There is in the operation of the market no compulsion and coercion. The state, the social apparatus of coercion and compulsion, does not interfere with the market and with the citizens' activities directed by the market. It employs its power to beat people into submission solely for the prevention of actions destructive to the preservation arid the smooth operation of the market economy.” (MISES, 1949, p. 258)
Ações por parte do Estado que intervenham no mercado rompem com seus limites definidos anteriormente sob a ótica Liberal; O Poder Público, portanto, não deve interferir nas interações humanas. O motivo da não-interferência do Estado em relação ao mercado ocorre tendo em vista que esta entidade age por meio do uso de coerção para conseguir seus objetivos, o que se caracteriza em um ataque às liberdades dos indivíduos ao limitar as suas escolhas no mercado.
É possível incorrer em um exercício de causalidade no que se remete aos efeitos do intervencionismo na economia: O Estado de uma nação fictícia ‘A’; em um ambiente controlado, comercializa livremente bens e serviços via contratos entre os indivíduos e/ou empresas situados em ambos os países com a nação ‘B’. O Estado ‘A’ julga que para fomentar a indústria nacional e impulsionar a economia, deve-se criar tarifas sobre os produtos da nação B, encarecendo-os, o que torna os produtos nacionaismais atraentes aos consumidores.[22: Em “As seis lições” (1979, pg 49), uma das primeiras obras traduzidas para o português brasileiro do autor, Mises descreve um exercício de causalidade similar para discutir os efeitos nefastos do intervencionismo na ação humana. ]
Visto sob o arcabouço teórico da escola liberal clássica, este ato de protecionismo econômico – criação de tarifas sobre bens importados, a fim de tornar os produtos nacionais mais atraentes – é um ato de coerção, visto que limita o poder de escolhas do indivíduo e o impulsiona a tomar um curso de ação que atende os anseios de outro, neste caso o Estado.
Friedman (1979) aponta para o caso Americano durante a década de 1970, ilustrando os efeitos do intervencionismo na limitação das escolhas da sociedade como visto anteriormente e na variação do estoque de produtos alvos da intervenção:
“The long gasoline lines that suddenly emerged in 1974 after the OPEC oil embargo, and again in the spring and summer of 1979 after the revolution in Iran, are a striking recent example. On both occasions there was a sharp disturbance in the supply of crude oil from abroad. But that did not lead to gasoline lines in Germany or Japan, which are wholly dependent on imported oil. It led to long gasoline lines in the United States, even though we produce much of our own oil, for one reason and one reason only: because legislation, administered by a government agency, did not permit the price system to function. Prices in some areas were kept by command below the level that would have equated the amount of gasoline available at the gas stations to the amount consumers wanted to buy at that price. Supplies were allocated to different areas of the country by command, rather than in response to the pressures of demand as reflected in price. The result was surpluses in some areas and shortages plus long gasoline lines in others. The smooth operation of the price system—which for many decades had assured every consumer that he could buy gasoline at any of a large number of service stations at his convenience and with a minimal wait—was replaced by bureaucratic improvisation.” (FRIEDMAN, 1979. p. 14)
O mercado possui a propriedade de se autorregular através do sistema de preços. Inviolado, este sistema transmite informações preciosas a sociedade para que esta possa alocar de forma mais eficiente seus recursos e os meios de produção. O sistema de preço possui então três funções, a saber: transmitir informação, gerar incentivos e comunicar à sociedade o valor dos bens e serviços que serão consumidos (FRIEDMAN, 1979).
“Prices perform three functions in organizing economic activity: first, they transmit information; second, they provide an incentive to adopt those methods of production that are least costly and thereby use available resources for the most highly valued purposes; third, they determine who gets how much of the product— the distribution of income. These three functions are closely interrelated.” (FRIEDMAN, 1979, p. 14).
O processo de intervenção do Estado na economia desestabiliza o sistema de preços, de modo que a sociedade recebe informações ineficientes e incentivos equivocados quanto à alocação dos fatores de produção (capital, trabalho e terra). Friedman (1979) conclui que os efeitos negativos da intervenção sobre os mercados são imensuráveis:
“To carry this example one step further, the higher price of oil, insofar as it was permitted to occur, raised the cost of products that used more oil relative to products that used less. Consumers had an incentive to shift from the one to the other. The most obvious examples are shifts from large cars to small ones and from heating by oil to heating by coal or wood. To go much further afield to more remote effects: insofar as the relative price of wood was raised by the higher cost of producing it or by the greater demand for wood as a substitute source of energy, the resulting higher price of lead pencils gave consumers an incentive to economize on pencils! And soon in infinite variety.” (FRIEDMAN, 1979. p. 19).
Seja pela genuína benevolência do Estado em melhorar as condições dos indivíduos ou pela sede do poder em controlar esferas que lhe escapam ao domínio, no processo histórico moderno, são observadas intervenções que variam em grau nas nações (MISES 1927; CHANG 1995; ACEMOGLU et al. 2012). Foi analisado anteriormente que ao agir ativamente nas relações humanas, o Estado ataca o princípio de liberdade ao usar da coerção para obter seus fins. Do ponto de vista econômico, o efeito é prolongado na medida em que afeta as informações passadas ao indivíduo atuante na forma do mecanismo de preços de bens e serviços – isso ocorre, pois, as variações nos preços de bens e serviços transmitem a sociedade quais ações melhor satisfazem suas necessidades, como alocar seus recursos frente as flutuações de valor. 
Vale enfatizar que a presente monografia analisa as variáveis sob a ótica da escola liberal clássica, portanto, o intervencionismo é tido para os pensadores da escola supracitada como algo nocivo ao crescimento econômico. No entanto, há diversas escolas de pensamento econômico que defendem a participação ativa do Estado como algo fundamental ao crescimento e desenvolvimento das nações, principalmente, no que tange aos países em desenvolvimento. É ainda observável os efeitos positivos de intervenções como no caso da indústria farmacêutica indiana (LEHNRICH, Jonathan et.al, 2003), nos Tigres Asiáticos ( AGUIAR DE MEDEIROS, Carlos, s.d.), dentre outros. [23: Keynesianismo, Desenvolvimentismo e Marxismo são as escolas dentre outras que defendem, variando o grau, a participação ativa do Estado em fomentar o crescimento econômico. ][24: Hong Kong, Coreia do Sul, Singapura e Taiwan. ]
No entanto, ao reconhecer os efeitos positivos da intervenção no desempenho econômico de certas nações, o liberalismo clássico argumenta que este modelo não é sustentável no longo prazo, além de violar os direitos de liberdade do indivíduo. (ACEMOGLU et al. 2012). 
Retomando o exercício de causa e efeito anterior; o Estado da nação ‘A’ julga que o preço de determinado produto essencial aos indivíduos da sociedade se encontra custoso e de difícil acesso às camadas menos abastadas. Portanto, o Poder Público delimita que o preço de tal mercadoria seja barateado via decreto -nas seções anteriores foi definido que, segundo Hayek (1960), decretos se constituem como coerções ao indivíduo - com a promessa do uso do monopólio de violência caso o mesmo não seja atendido. Tal ação por parte do Estado se constitui em um ato de coerção para com os indivíduos, em especial, com os produtores de tal produto.
A queda dos preços se traduz em um aumento da demanda pelo bem, atendendo então ao objetivo inicial do Estado. No entanto, tudo o mais constante, a demanda pela mercadoria agora ultrapassa a oferta existente. Assim sendo, não tardará para que o bem se torne escasso e que, pela lei da oferta e demanda, o preço se eleve a fim de tentar equilibrar os estoques dos produtores e ainda atender aos anseios dos consumidores. O Estado então, causador da escassez do produto, pode ou deixar que os mecanismos de preços transmitam informações aos consumidores para que procurem bens substitutos e aos produtores para que aumentem sua produção, ou o Poder Público pode tomar outro curso de ação, o de continuar intervindo na economia a fim de tentar equilibrar o mercado.
 Nesse ponto, é observável o processo de constantes intervenções sistemáticas pelo Estado a fim de tentar equilibrar o que as ações dos indivíduos fazem de maneira espontânea via o mecanismo de preços. O Estado, então, passa cada vez mais a intervir na economia, desequilibrando os agentes econômicos ao passar informações e incentivos distorcidos à sociedade consumidora e produtora como vista acima. É a lenta substituição da mão invisível do mercado pela mão visível do Estado. 
“When the unhampered market determines prices, or would determine prices if governmenthad not interfered, the proceeds cover the cost of production. If government sets a lower price, proceeds fall below cost. Merchants and producers will now desist from selling—excepting perishable goods that quickly lose value—in order to save the goods for more favorable times when, hopefully, the control will be lifted. If government now endeavors to prevent a good’s disappearance from the market, a consequence of its own intervention, it cannot limit itself to setting its price, but must simultaneously order that all available supplies be sold at the regulated price.” (MISES 1929, p.259)
A finalidade da presente seção foi a de contextualizar as principais variáveis que permeiam o sistema econômico moderno, a saber, Liberdade, Estado e Sociedade, sob o arcabouço teórico liberal clássico, escola esta que possui relativa baixa inserção no meio acadêmico nacional. 
Isto posto, foi analisado que a liberdade é essencial ao crescimento econômico, não somente pelo fato de o indivíduo ser livre para escolher quais ações tomar a fim de satisfazer suas necessidades e usufruir de sua propriedade privada, mas também em virtude do homem ser vítima de coerção. Logo, é possível estabelecer que a prosperidade das nações possui, teoricamente, correlação positiva com a liberdade econômica. Mesmo o crescimento econômico sendo possível mediante o intervencionismo econômico este não se sustenta no longo prazo, pois, inibe o processo de criação destrutiva e inovação, tornando a economia estagnada.
O Estado é tido como entidade fundamental, dado que salvaguarda o indivíduo e os direitos de propriedade, e é somente sob a sua proteção que a sociedade pode prosperar. No entanto, na condição de agente monopolizador dos meios de violência e do arcabouço jurídico, o Poder Público dispõe da alternativa de transgredir o papel de protetor da sociedade para ser seu maior agressor, por meio da intervenção direta e indireta no coro das ações humanas livres, que é o mercado.
Como visto anteriormente, a intervenção econômica por parte do Estado, além de se caracterizar como um ataque a liberdade, desestabiliza o sistema de preços, transmitindo informações e incentivos distorcidos à economia, rompendo com a automatização do mercado. Além de desestruturar a economia das nações, o processo intervencionista acaba por consolidar instituições extrativas. Essa linha tênue em que o Estado pode passar de protetor da sociedade para seu maior agressor é discutido extensivamente em escolas como a Libertária, Marxista dentre outras.[25: Rothbard (1978, 1998) descreve o Estado como sendo o maior violador da propriedade privada, subsistindo a partir da predação dos frutos da sociedade e limitando a liberdade mediante os seus monopólios, Murray Rothbard advoga a extinção do Poder Público. Marx (1848) e Lenin (1899) entendem o Estado capitalista como perpetuador da burguesia sobre o proletariado, fortificando os mecanismos capitalistas e subjugando as classes menos abastadas, portanto ambos defendem o surgimento do Estado Socialista – Ditadura do Proletariado – para então atingir o ‘verdadeiro Comunismo’.]
Por fim, o caminho orientado a liberdade é tido como o único a fomentar o crescimento econômico sustentável, permitindo à sociedade agir de maneira livre enquanto protegida pelo Estado. A seção seguinte busca sustentar a teoria liberal clássica por meio de estudos econométricos, a fim de provar a relação positiva entre liberdade econômica e prosperidade.
2.2 Instituições
“The institutional evolution entailed not only voluntary organizations that expanded trade and made exchange more productive, but also the development of the state to take over protection and enforcement of property rights as impersonal exchange made contract enforcement increasingly costly for voluntary organizations which lacked effective coercive power. Another essential part of the institutional evolution entails a shackling of the arbitrary behavior of the state over economic activity” (NORTH, 1991. Pg. 109)
North (1990) define as instituições como sendo restrições humanamente concebidas e impostas a sociedade, dando forma às interações humanas. É por meio dessas restrições que a sociedade pode prosperar na medida em que a centralização dos Estados modernos permitiu maior proteção aos direitos de propriedade, proporcionando legitimidade jurídica e amparo às ações humanas. 
A presente seção tem como finalidade expor a teoria institucional por meio dos estudos de Douglass North (1991) e Daron Acemoglu et al. (2012), com o objetivo de sustentar a teoria liberal clássica analisada anteriormente. Serão ainda descritos os estudos empíricos (KARRAS 1998; GWARTNEY 2004; STRAVOS 2008; BERGGREM 2014) que mensuram relação positiva entre liberdade econômica (solidez das instituições de uma nação, garantindo ao indivíduo sua liberdade para agir) e a prosperidade. Com isso, acredita-se poder criar um alicerce teórico sólido para sustentar os resultados da regressão estimada no capitulo 5. 
2.2.1 A Era dos Extremos
Na obra homônima de Hobsbawm (1994), este articula a ascensão da participação do Estado moderno nas economias das nações. Com o advento das duas grandes guerras e, subsequentemente a Guerra Fria foi observado, especialmente, após a primeira metade do século XX, com a intensificação do nacionalismo e protecionismo econômico, destacando-se as políticas de substituição de importação, que foram inseridas no Brasil e por toda a América Latina. Por um lado, essas medidas foram importantes ao desenvolver e solidificar a indústria, por outro acarretou um intenso processo de intervenções estatais na região, ocasionando problemas econômicos crônicos. Economistas da tradição liberal argumentam que o subdesenvolvimento latino-americano é fruto dessas políticas protecionistas, militarização e conflitos entre governos.[26: A seção anterior discutiu os efeitos da ação do Estado na economia – intervencionismo -, portanto é consenso entre os pensadores da escola liberal que a participação ativa do Poder Público sobre o mercado é algo negativo. Para mais sobre o intervencionismo histórico na América Latina, ver: NIÑO, José. Will Latin America Finally Embrace Markets. MisesInstitute. 2016. Disponível em: https://mises.org/blog/will-latin-america-finally-embrace-markets Acessado em: 09/06/2017][27: Sobre o processo de substituição de importação no Brasil e na América Latina, ver Bresser Pereira (1991; 2012) e André da Silva (2005).]
O título da obra de Hobsbawm (1994), A Era dos Extremos, consegue em poucas palavras resumir a história política e econômica das nações durante o século XX e XXI, como evidenciado por Acemoglu et.al (2012), cuja argumentação parte do pressuposto que nações semelhantes em disponibilização de recursos naturais, cultura e posição geográfica são diametralmente opostas no que tange ao crescimento e desenvolvimento econômico. A diferença entre a Coreia do Norte e Coreia do Sul é o caso mais contrastante; enquanto a primeira é uma nação pobre onde seus cidadãos são vítimas de um desposta, a última é um país prospero, no qual a sociedade dispõe de todas as benesses oferecidas pelo mercado livre.
“By the late 1990s, in just about half a century, South Korean growth and North Korean stagnation led to a tenfold gap between the two halves of this once-united country— imagine what a difference a couple of centuries could make. The economic disaster of North Korea, which led to the starvation of millions, when placed against the South Korean economic success, is striking: neither culture nor geography nor ignorance can explain the divergent paths of North and South Korea. We have to look at institutions for an answer. 
Countries differ in their economic success because of their different institutions, the rules influencing how the economy works, and the incentives that motivate people.” (ACEMOGLU Et al. 2012. Pg. 87)
Acemoglu et al. (2012) argumenta que a razão para os extremos, como no caso das Coreias e o motivo geral do não crescimento

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