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RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS - Getúlio J. Immich Da Silva

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A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURIDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS
Getúlio Juvenil Immich Da Silva[1: Acadêmico do Curso de Direito, 3º período, no Instituto Cenecista de Ensino Superior de Santo Ângelo - IESA. E-mail: g.immich@hotmail.com]
RESUMO
Este artigo tem como objetivo abordar a responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica na condição de sujeito ativo dos crimes ambientais, apreciando o advento da nossa Carta Magna e a Lei de Crimes Ambientais, fazendo também uma análise da sua aplicação no ordenamento jurídico e quanto os diversos posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais a respeito do tema, sendo assim, mostraremos que as pessoas jurídicas, maiores causadoras de danos ao meio ambiente, não ficarão impunes. 
Palavras-chave
Responsabilidade penal. Pessoa jurídica. Meio ambiente.
ABSTRACT 
This article aims to address the environmental criminal liability of the legal entity provided that active environmental crimes subject, appreciating the advent of our Constitution and the Law of Environmental Crimes, also making an analysis of its application to the legal system and how the different doctrinal positions and jurisprudence on the matter, therefore, show that juridical persons, causing major damage to the environment, will not go unpunished.
Keywords
Criminal responsibility. Juridical person. Environment.
INTRODUÇÃO
Abordar os ditames da Constituição Federal de 1988, seguida pela Lei nº 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais), no que diz respeito à responsabilidade penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais, apresentando as linhas de entendimento adotadas pelos doutrinadores e apontando as divergências em sua aplicabilidade no ordenamento jurídico pátrio, é o objetivo desse trabalho.
Destarte, serão abordadas as posições contrárias e favoráveis sobre a responsabilização criminal da pessoa jurídica na comunidade jurídica e os posicionamentos da jurisprudência brasileira.
Para o desenvolvimento, será feita a utilização de pesquisa bibliográfica, junto da doutrina contemporânea e moderna, utilizará também, de referências da legislação e jurisprudência brasileira atual.
1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A LEI FEDERAL 9.605 DE 1998
A sociedade, o Estado e os instrumentos jurídicos passaram a ter uma maior importância com o advento da nossa Carta Magna, sendo que o legislador constituinte dedicou um capitulo inteiro para a causa ambiental, determinando no seu artigo 225, caput, o que segue
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
 Sendo assim, considerando que é dever jurídico de natureza objetiva do Estado e também da coletividade, defender e preservar o direito de todas as gerações, mormente, de terem um meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à qualidade de vida, na razão de que os danos gerados são quase irreversíveis e irreparáveis.
Antes de adentrarmos especificamente no Direito Ambiental, é relevante citar o art. 173, § 5º da Constituição Federal que trata sobre a previsão de crime cometido pela pessoa jurídica na atividade econômica, segue 
A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a as punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
 
Pois bem, o crime que o artigo citado refere-se é um dos pontos de grande discussão do ordenamento constitucional vigente juntamente com a possibilidade de responsabilidade penal pelas condutas lesivas causadas ao meio ambiente que está prevista no art. 225, §3º, veja
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
Observa-se que no artigo 225, §3º da CF, a possibilidade da responsabilização é cumulativa, ou seja, penal e administrativa, das atividades lesivas ao meio ambiente.
Em meio à grande discussão dos crimes ambientais inseridos no ordenamento constitucional, foi promulgada a Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, denominada como a Lei de Crimes Ambientais, trazendo para dentro da comunidade jurídica uma definição dos crimes ambientais, conjuntamente com suas respectivas penas e regulação da aplicação.
A Lei dos Crimes Ambientais é considerada um marco do direito ambiental brasileiro, que trouxe para o país uma legislação enriquecida, visando acudir, preservar e defender o direito protegido pela Constituição Federal a qual preza por uma conscientização ecológica da sociedade para a construção de um ambiente capaz de proporcionar uma vida saudável às futuras gerações.
Outrossim, a chamada Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) dispôs em seu Art. 3º que
As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes.
Sendo assim, o artigo regulamenta que essa responsabilidade somente será atribuída à pessoa jurídica caso preencha os dois pressupostos citados, sendo eles, o delito ambiental que deve ter sido cometido pelo seu representante legal ou contratual, ou por seu órgão colegiado, e o segundo requisitos é que seja cometido por interesse ou em beneficio da pessoa jurídica. 
Então, somos levados a considerar que se o representante do ente coletivo tomar decisões com fins ilícitos que não é de interesse e nem beneficie a sua empresa, não haverá responsabilização penal da pessoa jurídica por crime ambiental.
Mesmo sendo expressamente previsto na Constituição Federal e na Lei de Crimes Ambientais, ainda existem muitas discussões referentes ao assunto, quais partem de 4 (quatro) linhas de entendimentos distintos que serão abordadas no decorrer desse trabalho. 
2 DA EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA DAS PESSOAS JURÍDICAS
Apesar de ser minoritária na doutrina, há autores adotando uma linha de entendimento focada na interpretação do § 3º do art. 225 da CF/88, afirmando que o legislador constituinte não objetivava atribuir sanção penal às pessoas jurídicas, mas sim, sanções administrativas por suas atividades e restando as pessoas físicas as sanções penais consequentes de suas condutas.
 Fazendo uma breve analise, a conduta é relacionada com a pessoa física e com a sanção penal, diferente da atividade que é relacionada com a pessoa jurídica e a sanção administrativa, sendo um dos fatores dessa interpretação, a ordem em que as palavras foram colocadas na redação do artigo.
Os principais defensores dessa linha de entendimento são: José Cretella Jr., Miguel Reale Jr e Cézar Roberto Bitencourt.
 Em um breve comentário sobre o § 3º do art. 225 da CF/88, José Cretella Junior alega que 
o dispositivo é bem claro ao fixar, de início, os dois tipos de responsabilidades, a responsabilidade individual, civil ou criminal, dos dirigentes, pessoas físicas, e a responsabilidade civil, tão-só, da pessoa jurídica.” Para o autor, “não há a menor dúvida, porém, de que a fonte primeira ou remota – o ato gerador, a causa determinante – da responsabilidade, pública ou privada, é sempre, em última análise, o homem. (...) Daí o dizer-se que pessoa e responsabilidade são noções intimamente ligadas. A todo momento a ação (ou a omissão) humana pode empenhar a responsabilidade. ´Agir` ou ´deixar de agir` é traço típico do homem, da pessoa física, que se expande ou se retrai no mundo, influindo estas duas atitudes, ação ou omissão, sobre as relações jurídicas, de modo positivoou negativo.
Já Miguel Reale Jr afirmava que o art. 3.º da Lei de Crimes Ambientais não deveria ser aplicado, pois, apesar ser aprovado pelo Poder Legislativo e promulgado pelo Poder Executivo, é substancialmente inválido, por ser incompatível com a CF/88, desse modo, dizia o que segue
	
Validade formal ou vigência é, em suma, uma propriedade que diz respeito à competência dos órgãos e aos processos de produção e reconhecimento do Direito no plano normativo.
Assim dizendo, que nem toda a lei é válida, a lei é vigente quando existe, pode produzir efeitos por ser formalmente válida e é essa lei que deve ser observada pelos operadores do Direito e os demais.
Finalizando essa linha do pensamento, destaco os ensinamentos de Cezar Roberto Bitencourt, seguintes
por ser o crime uma ação humana, somente o ser vivo, nascido de mulher, pode ser autor de crime (...). exige a presença de uma vontade, entendida como faculdade psíquica da pessoa individual, que somente o ser humano pode ter.
3 DA RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURIDICA E A TEORIA DO CRIME
A linha de entendimento que ocupa a posição majoritária na doutrina sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais, é adotada por Fernando da Costa Tourinho Filho, René Ariel Dotti, Pierangelli, Zafaroni, Luiz Regis Prado, Alberto Silva Franco, Roberto Delmanto, entre vários outros, e é baseada na Teoria da ficção jurídica, de Savigny, segundo a qual as pessoas jurídicas são puras abstrações, desprovidas de consciência e vontade (societas delinquere non potest).
 Esses doutrinadores defendem que é inadmissível a punibilidade penal dos entes coletivos, lhes aplicando somente a punibilidade administrativa ou civil, e alguns de seus argumentos são: ausência de consciência, vontade e finalidade, bem como ausência de culpabilidade. 
Seguindo o entendimento que as pessoas jurídicas não podem ser responsabilizadas criminalmente porque não têm capacidade de conduta, não podendo haver dolo ou culpa e também nem agem com culpabilidade pois é impossível haver os requisitos de imputabilidade e potencial consciência da ilicitude, destarte, segue 
são desprovidas de consciência, vontade e finalidade e, portanto, não podem praticar condutas tipicamente humanas, como as condutas criminosas. (...) é inútil a aplicação de pena às pessoas jurídicas. As penas têm por finalidades prevenir crimes e reeducar o infrator (prevenção geral e especial, positiva e negativa), impossíveis de serem alcançadas em relação às pessoas jurídicas, que são entes fictícios, incapazes de assimilar tais efeitos da sanção penal.
Continuando, a realidade da existência da pessoa jurídica é formada sobre as decisões de seus representantes que, em virtude de uma ficção, são consideradas como suas decisões.
 Então, os delitos imputados à pessoa jurídica são praticados por pessoas físicas, representantes da entidade.
4 DA RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURIDICA SEM PUNIÇÃO A PESSOA FISICA 
Ao contrário dos entendimentos elencados nos dois últimos pontos, essa linha de pensamento defende que é possível a responsabilidade penal das pessoas jurídicas por crimes ambientais porque a CF/88 assim determinou, e mais, afirma que o § 3º do art. 225 da nossa Carta Magna, não exige que as pessoas físicas sejam obrigatoriamente denunciadas junto às pessoas jurídicas.
Antes das normas regulamentadoras dos crimes ambientais (CF/88 e Lei dos Crimes Ambientais), as pessoas jurídicas passavam impunes por serem utilizadas de “instrumento para acobertar crimes” em nome de benefícios provenientes da vontade coletiva com interesses individuais das pessoas físicas responsáveis pela entidade.
A Constituição Federal de 1988 foi promulgada, no entanto, não havendo norma infraconstitucional dispondo sobre responsabilidade penal das pessoas jurídicas, a eficácia ficara limitada do § 3º do art. 225, e somente ganhou aplicabilidade com o regulamentado pela Lei 9.605/98, no seu artigo 3º. Vários doutrinadores defendem esse entendimento, Vladimir e Gilberto Passos de Freitas no sentido que segue
(...) a denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica, caso não se descubra a autoria das pessoas naturais, e poderá, também, ser direcionada contra todos. Foi exatamente para isto que elas, as pessoas jurídicas, passaram a ser responsabilizadas. Na maioria absoluta dos casos, não se descobria a autoria do delito. Com isto, a punição findava por ser na pessoa de um empregado, de regra o último elo da hierarquia da corporação. E quanto mais poderosa a pessoa jurídica, mais difícil se tornava identificar os causadores reais do dano. No caso de multinacionais, a dificuldade torna-se maior, e o agente, por vezes, nem reside no Brasil. Pois bem, agora o Ministério Púbico poderá imputar o crime às pessoas naturais e à pessoa jurídica, juntos ou separadamente. A opção dependerá do caso concreto.
Concluo, que tal linha de entendimento é formada justamente para que tenha a imputação de responsabilidade penal aos entes coletivos, tendo em vista que em sede de delitos corporativos, a responsabilidade das pessoas físicas desaparece em meio aos mais variados cargos e números de funcionários, sendo na maioria das vezes, impossível determinarmos quais foram os agentes da empresa (pessoa jurídica) que praticou ou participou do delito causado no meio ambiente.
5 REPONSABILIZAÇÃO PENAL NOS CRIMES AMBIENTAIS E A TEORIA DA DUPLA IMPUTAÇÃO
O posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, é no sentido de que é possível a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, desde que seja denunciada junto com seus representantes.
Sendo assim, quando é a pessoa física é excluída da denuncia, torna-se inviável o prosseguimento da ação penal contra a pessoa jurídica, nesse sentido a decisão exarada pelo Ministro Felix Fischer em sede de Recurso Especial no STJ, afirma que
Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça, admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que não se pode compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio.
Como visto, no entendimento do STJ, o Ministério Público não poderá formular a peça exordial apenas contra a pessoa jurídica, pois é obrigatório que conste no pólo passivo da demanda criminal, as pessoas físicas que atuam em nome e proveito da pessoa jurídica serem identificadas junto a empresa.
Portanto, nesta linha de entendimento, é impossível que o ente coletivo haja individualmente no evento delituoso, caso não fora identificadas as pessoas físicas, a denúncia não será recebida, também nesse sentido de acordo com o Superior Tribunal de Justiça segue que
a necessidade de dupla imputação nos crimes ambientais não tem como fundamento o princípio da indivisibilidade, o qual não tem aplicação na ação penal pública. Aplica-se em razão de não se admitir a responsabilização penal da pessoa jurídica dissociada da pessoa física.
Diante da citada a jurisprudência do Superior Tribunal Justiça (STJ), apoiada no entendimento de parte considerável da doutrina, acabou por consolidar a teoria da chamada dupla imputação.
6 O STF E A REPONSABILIZAÇÃO PENAL DA PESSOA JURIDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS
Em um julgado recente, do dia 06 de agosto de 2013, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 548.181, adotou por 3 votos a 2, o 3ª entendimento citado no ponto 4 do presente artigo, desacatando a posição do STJ que prevalecia, pois, até então, o STF não havia encarado o tema ainda.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no Recurso Extraordinário (RE) n. 548.181/PR, estava tratando de um grande derramamento de óleo, decorrente das atividades da Petrobrás no estado do Paraná.
Para que haja maior entendimento, o caso concreto fora o seguinte.
O Ministério Público Federal formulou a peça exordialpor crime ambiental contra a Petrobrás (pessoa jurídica) e juntamente contra o Presidente da Petrobras e o superintendente de uma refinaria, a denúncia fora recebida, mas os acusados (pessoas físicas) foram excluídos da ação penal por meio do remédio constitucional chamado habeas corpus.
Sem que existam pessoas físicas, o STJ decidiu que a pessoa jurídica deveria também ser excluída do processo, e o extinguiu, seguindo a linha do pensamento supra citado (item 5 do presente trabalho).
O Ministério Público Federal recorreu e a 1ª Turma do STF, por maioria, cassou o acórdão do STJ.
Para o STF, a tese do STJ (citada no item 5) viola a Constituição Federal, que não faz exigência de que a pessoa jurídica seja denunciada em conjunto com pessoas físicas.
Nesse sentido, segue o Informativo 714 do STF
Crime ambiental: absolvição de pessoa física e responsabilidade penal de pessoa jurídica - 1
É admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa. Com base nesse entendimento, a 1ª Turma, por maioria, conheceu, em parte, de recurso extraordinário e, nessa parte, deu-lhe provimento para cassar o acórdão recorrido. Neste, a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas incriminadas (Lei 9.605/98, art. 54) teria sido excluída e, por isso, trancada a ação penal relativamente à pessoa jurídica. Em preliminar, a Turma, por maioria, decidiu não apreciar a prescrição da ação penal, porquanto ausentes elementos para sua aferição. Pontuou-se que o presente recurso originara-se de mandado de segurança impetrado para trancar ação penal em face de responsabilização, por crime ambiental, de pessoa jurídica. Enfatizou-se que a problemática da prescrição não estaria em debate, e apenas fora aventada em razão da demora no julgamento. Assinalou-se que caberia ao magistrado, nos autos da ação penal, pronunciar-se sobre essa questão. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que reconheciam a prescrição. O Min. Marco Aurélio considerava a data do recebimento da denúncia como fator interruptivo da prescrição. Destacava que não poderia interpretar a norma de modo a prejudicar aquele a quem visaria beneficiar. Consignava que a lei não exigiria a publicação da denúncia, apenas o seu recebimento e, quer considerada a data de seu recebimento ou de sua devolução ao cartório, a prescrição já teria incidido. RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013. (RE-548181)
Crime ambiental: absolvição de pessoa física e responsabilidade penal de pessoa jurídica - 2
No mérito, anotou-se que a tese do STJ, no sentido de que a persecução penal dos entes morais somente se poderia ocorrer se houvesse, concomitantemente, a descrição e imputação de uma ação humana individual, sem o que não seria admissível a responsabilização da pessoa jurídica, afrontaria o art. 225, § 3º, da CF. Sublinhou-se que, ao se condicionar a imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa humana, estar-se-ia quase que a subordinar a responsabilização jurídico-criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física. Ressaltou-se que, ainda que se concluísse que o legislador ordinário não estabelecera por completo os critérios de imputação da pessoa jurídica por crimes ambientais, não haveria como pretender transpor o paradigma de imputação das pessoas físicas aos entes coletivos. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux, que negavam provimento ao extraordinário. Afirmavam que o art. 225, § 3º, da CF não teria criado a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Para o Min. Luiz Fux, a mencionada regra constitucional, ao afirmar que os ilícitos ambientais sujeitariam "os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas", teria apenas imposto sanções administrativas às pessoas jurídicas. Discorria, ainda, que o art. 5º, XLV, da CF teria trazido o princípio da pessoalidade da pena, o que vedaria qualquer exegese a implicar a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Por fim, reputava que a pena visaria à ressocialização, o que tornaria impossível o seu alcance em relação às pessoas jurídicas". RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013.(RE-548181).
Mesmo que a imputação da pessoa jurídica por crimes ambientais não tenha sido estabelecida por completa pelo o legislador ordinário, há de se reconhecer a possibilidade constitucional de responsabilização penal da pessoa jurídica sem necessidade de sanção penal a pessoa física.
CONCLUSÃO
Levando em consideração os entendimentos abordados sobre a matéria, e a mudança de posicionamento causada pela Corte Suprema, verificamos que haverá maior possibilidade de aplicação de responsabilidade penal as pessoas jurídicas que se viam impunes frente ao ordenamento jurídico vigente, mormente, devido ao impedimento da teoria da dupla imputação.
Temos agora uma ferramenta de punição, para aquelas pessoas físicas que conseguem se esconder nos meandros deixados pelo nosso ordenamento jurídico, para que, pelo menos, haja punição a pessoa jurídica, que normalmente é aquela grande empresa com renda super alta, que usavam do artifício da inimputabilidade penal, que era a realidade até então, objetivando interesses escusos da empresa. 
Finalizo, assim, me associando aos defensores desse entendimento, que contribuem para a preservação do meio ambiente e da vida, tal qual, idealizou nosso legislador constituinte em 1988.
REFERENCIAS
BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2014.
BRASIL. Lei n° 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Comentários à Constituição de 1988, Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 1993, vol. VIII, p. 4028/4030
 REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito, 26 ed., São Paulo: Saraiva, 2002, pág. 114).
RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013.
Tratado de Direito Penal, Parte Geral, vol. I, São Paulo: Saraiva, 2008, 13ª. ed., p. 230.
Savigny; Traité de droit romain; Paris; 4ª ed.
Meio Ambiente. Lei 9.605, 12.02.1998. In: GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches (Coord.). Legislação Criminal Especial. São Paulo: RT, 2009, p. 691 E 692
Crimes Contra a Natureza. São Paulo: RT, 2006, p. 70
Recurso Especial 889.528/SC, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJ 18/6/07. Recurso especial conhecido e parcialmente provido para restabelecer a sentença condenatória em relação à empresa Dirceu Demartini ME.
STJ, AgRg no REsp 898.302, j. 07.12.2010

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