Buscar

CCJ0012-WL-A-LC-Direito Ambiental - Danielle Moreira - 2005

Prévia do material em texto

�PAGE �
�PAGE �1�
��
DIREITO AMBIENTAL
Professora: Daniele Moreira (Professora de Direito Ambiental da Graduação e da Pós- Graduação da PUC e está fazendo Doutorado na UERJ)
Bibliografia: A professora sugeriu, o livro – Direito Ambiental Brasileiro – do Paulo Afonso Leme Machado, editora: Malheiros; foi o primeiro manual de Direito Ambiental Brasileiro a ser escrito e o mais completo atualmente; e, o livro – Direito do Ambiente – do Edis Mirale, editora: RT, 3ª edição, é um livro mais didático, entra em questões polêmicas, porém, os dois livros se completam.
AULA 01 – 04.04.2005
Cabe ressaltar que, a professora deixou na pasta de Direito Ambiental, na Xerox, que se encontra perto da Cantina, muita jurisprudência e vários artigos importantes referentes a matéria, como: o da Roxana Cardoso Borges, onde ela fala sobre toda a criação do direito ambiental moderno e seus paradigmas, trata dos direitos de terceira geração, da ótica de comportamento do meio ambiente, princípios fundamentais do direito ambiental e estado de direito.
Outro artigo que está na pasta é do Álvaro Mirra, saiu na Revista de Direito Ambiental nº 02, e, fala sobre os princípios do Direito Ambiental, traz doutrina, jurisprudência, legislação e direito comparado.
Também tem mais três artigos sobre responsabilidade civil, sendo que um deles é sobre a responsabilidade civil e o principio da precaução, chamado Direito Ambiental e o Principio da Precaução Judicial, é sobre a lei ambiental nº 21 e, traz a importância da aplicação do principio da precaução na responsabilidade civil ambiental, autor: Álvaro Mirra; este artigo foi retirado do livro do mesmo autor, chamado Ação Civil Pública e Reparação de Danos ao Meio Ambiente, edição de 2004, o qual é recomendado para a prova do Ministério Público. 
O outro artigo intitula-se responsabilidade Civil pelo Dano Ambiental, que se encontra na Revista de Direito Ambiental nº 09.
E, o último artigo, também é sobre responsabilidade civil, sendo, anterior a lei de responsabilidade civil objetiva pelo dano ambiental de 1979, chama-se Responsabilidade Civil pelo Dano Ecológico publicado na revista de Direito Publico nº 49/ 79, do Sergio Ferraz, este artigo continua sendo atual porque trata de todas as alterações que a responsabilidade civil tem que sofrer para ser um instrumento adequado para resolver a questão dos danos ambientais, dessa forma, estudando o artigo perceberemos que algumas questões foram incorporadas à legislação ambiental e, outras ainda são polêmicas.
Obs: Devemos nos acostumar com as siglas, uma vez que, as utilizaremos constantemente no Direito Ambiental.
Noções Gerais
Nota-se que o objetivo do curso é fazer uma análise dos pontos fundamentais da matéria e, não esgotá-la.
 Observa-se que o Direito Ambiental é considerado um direito novo, pois possui como um de seus marcos a Lei 6938/81, sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, a qual foi editada antes da Constituição da República de 1988, e sofreu grandes alterações em 1989, mas, ainda está sendo amadurecida.
Outro marco histórico fundamental para o inicio e desenvolvimento do Direito Ambiental Moderno foi a Conferência de Estocolmo da ONU sobre Meio Ambiente, que o correu em 1972, na medida que, foi nesta que a humanidade começou a concretizar a sua preocupação com o meio ambiente; dando esta, ensejo a Declaração de Princípios de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano que trouxe novas idéias e novos conceitos, todos incorporados pela legislação ambiental brasileira.
 A Conferência de Estocolmo de 1972 caracterizou-se por um aumento em qualidade e quantidade nas normas ambientais brasileiras; apesar do abismo da legislação brasileira com a realidade fática, já que muito pouco da legislação é aplicado; a idéia aqui é de produção doutrinária, a forma de tratamento que é dado ao assunto foi o que se ampliou.
O direito ambiental é polêmico, uma vez que, confronta o tempo todo, a estrutura tradicional do direito; trazendo à questão ambiental, muitas peculiaridades, com as quais o direito deve se adequar, ou seja, se quisermos falar em aplicação do direito como instrumento de proteção ao meio ambiente, mudanças estruturais, alterações nas construções tradicionais do direito devem ser feitas.
Observa-se que o Direito Ambiental Brasileiro tem como principais referências legislativas:
a) Coletânea da Legislação Ambiental da RT, a qual já vem com a legislação ambiental brasileira completa;
b) Constituição da República de 1988;
c) Lei 6938/81 que instituiu a política nacional do meio ambiente;
d) Lei 9605/98 que versa sobre os crimes ambientais, tratando também da responsabilidade administrativa ambiental, define na sua parte final o quê são infrações administrativas ambientais, tendo sido, sua parte final, regulamentada pelo Decreto nº 3179/99;
e) Lei 9985/00 que regula o SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação;
f) Lei 4771/65 que é o Código Florestal;
Estas duas últimas leis tratam de espaços territoriais especialmente protegidos: o Código Florestal fala das áreas de preservação permanentes, as APPS e das reservas florestais legais, tal como a vegetação presente no topo dos morros, nas encostas, as matas auxiliares, os cursos de água, as características topográficas, e de relevo, sendo o respaldo aqui, o foro florestal.
E, a lei do SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação, trata das reservas ecológicas, biológicas, das áreas de proteção ambiental, as APAS, as quais não se confundem com áreas de preservação permanente, das reservas de desenvolvimento sustentável, das reservas extrativistas, que se encontram em parques nacionais, estaduais ou municipais; sendo estes exemplos de categoria de unidades de conservação, as quais são um tipo de espaço territorial especialmente protegido. 
A lei de política nacional do meio ambiente, mesmo sendo anterior a CF/88, é a primeira lei brasileira que dá tratamento sistêmico ao meio ambiente, ao falar de macro-bem quando se refere ao meio ambiente. Ou seja, trata o meio ambiente como um sistema que processa uma relação de interdependência entre os seres vivos, deixando de vê-lo de forma dividida e separada, considerando apenas, os micro-bens do meio ambiente, e os elementos que o compõe. Por exemplo, os recursos hídricos não são mais preservados apenas em relação à fauna, já que têm relação com o meio ambiente como um todo, assim, hoje, procura-se o equilíbrio do sistema como um todo e não apenas de um pedaço deste.
Nota-se ainda, que a lei de política nacional do meio ambiente traz em seu bojo conceitos importantes, tais como: o conceito de meio ambiente, conceito de degradação da qualidade ambiental, de poluição, de dano ambiental. Caracterizando-se, este último, por ser um conceito doutrinário que se fundamenta na legislação constitucional, art. 225 CF, e, principalmente, nas definições dadas pela política nacional à degradação da qualidade ambiental e poluição.
Além disso, a lei supracitada, traz uma lista de instrumentos que compõem a política nacional do meio ambiente, como, por exemplo, o seu art. 9º que versa sobre licenciamento ambiental, avaliação dos impactos ambientais, zoneamento ambiental, estabelecimento de padrões ambientais, criação de espaços territoriais especialmente protegidos, penalidades administrativas e penais aplicadas às condutas consideradas nocivas ao meio ambiente. Assim, esta lei é importante, porque organiza e estabelece uma série de instrumentos que colocados em prática são capazes de garantir uma proteção adequada do meio ambiente.
Outro ponto fundamental na lei de política nacional do meio ambiente é a organização do SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente, trazendo os órgãos e institutos que o compõe e suas funções, definindo a composição e atribuição do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, que tem entre outras finalidades, a de editar normas sobre os padrões ambientais e normas sobre o licenciamento ambiental. 
Sobre o licenciamento ambiental, a lei em questão, no seu art. 10, traz seu respaldo e detalhamento,além desta, vamos analisar as resoluções do CONAMA nº 001/86 que trata sobre o estudo prévio de impacto ambiental e, o relatório de impacto do meio ambiente que sempre acompanha este, o EIA/ RIMA; a resolução nº 237/97 que trata sobre licenciamento ambiental e, a nº 009/87 que trata das audiências públicas, garantindo a participação popular nos procedimentos de licenciamento ambiental, de que forma devem ser controladas as atividades potencialmente poluidoras. Vamos estudar também, a Lei 9483, de Política Nacional dos Recursos Hídricos, a recente Lei 11105/05 que é a lei de Bio-Segurança que revogou a Lei 9874/95, a Lei de Ação Civil Publica, Lei 7347/85, a Lei de Ação Popular, lei 4787/85.
Ainda, em relação à Lei 6938/81, em seu art.14, parágrafo primeiro, fala da adoção da responsabilidade civil objetiva pelos danos ambientais, portanto, independendo da existência de culpa, ou seja, só a dispensa da culpa não é suficiente para a reparação de danos ambientais, este tipo de responsabilidade civil na solução de crimes ambientais, só foi adotada pela Constituição em 1988.
Cabe ressaltar que, a legislação ambiental brasileira é composta por leis feitas em épocas diferentes sobre ideais diversos, incidindo nela diversos princípios fundamentais, tal como: o principio da prevenção. Observa-se que, é através deste estudo que veremos de que forma esses princípios são utilizados na proteção do meio ambiente e, de que forma se dá a sua composição morfo-genética influenciando na elaboração de normas legais, da mesma forma, estudaremos a composição axiológica desses princípios, os quais são normas imediatamente finalísticas, isto é, eles não trazem uma solução especifica para um caso, mas, influenciam na elaboração dos comandos legais do Direito Ambiental.
Destaca-se também, a função teleológica destes princípios na medida que saberemos o que se busca com aquele comando legal, qual o seu objetivo e finalidade.
Notaremos com o estudo que, a função sistêmica chama a atenção por ser a que melhor se encaixa na análise do Direito Ambiental, já que por termos um grande conjunto de normas editadas em épocas diferentes, em níveis hierárquicos diferentes, porém, veremos que a questão dos princípios não tem uma uniformidade de tratamento pela doutrina, já que, os princípios considerados pelos doutrinadores não são os mesmos. 
Outro ponto a ser visto, é que o direito ambiental deve ser visto como um sistema, ou seja, de acordo com José Afonso da Silva, o direito ambiental refere-se ao meio ambiente natural, composto de fauna, flora, recursos hídricos, atmosfera; ao meio ambiente artificial, que é o construído pelo homem, é o meio ambiente urbano, de desenvolvimento sustentável; ao meio ambiente cultural, bem material ou imaterial que compõe o patrimônio cultural brasileiro, valores que fazem parte da cultura de determinado grupo social brasileiro; e ao meio ambiente do trabalho, onde verifica-se as condições de segurança, de salubridade, dentre outras, este último está previsto no art.200, VIII CF, o qual lista as atribuições de sistema único de saúde, citando a colaboração deste sistema de saúde perante o ambiente de trabalho.
Observa-se que a questão ambiental é trabalhada especificamente no art.225 da CF, no capítulo do meio ambiente, mas, também, implícita ou explicitamente é tratada ao longo de todo o texto constitucional, como, por exemplo, no próprio art.5º da CF, quando este fala sobre direito de propriedade, a questão ambiental é tratada como elemento intrínseco da sua função social, o que alguns autores chamam de função social ambiental da propriedade. 
Outro exemplo é o art.5°, XXXIII CF, que fala sobre o acesso de informações, estando aqui embutido o acesso de informações ambientais, o qual tem que ter uma instrumentalização para garanti-lo, tal como: a publicação do estudo prévio ambiental, a disponibilizarão para consulta pública do relatório sobre impacto do meio ambiente, a disponibilização de informações de audiências públicas, para levar ao conhecimento de todos os titulares do meio ambiente ecologicamente equilibrado, que somos todos nós.
Cabe ressaltar ainda que, a ação popular ambiental é um instrumento importante de proteção ao meio ambiente, onde qualquer cidadão pode propô-la com o objetivo de anular ato lesivo ao meio ambiente, independente deste ato ser ilícito. Por exemplo, o ponto final de ônibus em frente à Faculdade PUC – RJ, foi objeto de uma ação popular, em 1996, pois não respeitou a legislação ambiental em vigor, na medida em que havia ali uma área de proteção permanente em relação à vegetação ao longo do rio Rainha, mas devido a demora dos tribunais não chegou-se a uma conclusão até hoje e, já vão fazer 10 anos de propositura da ação.
A Ação Civil Pública também é um instrumento importante de proteção ambiental, que ampliou o grupo de legitimados, conferindo esta legitimidade ao Ministério Publico, Estados, Municípios e Entidades da Sociedade Civil voltadas para a proteção do bem jurídico publico e, tem como objetivo a reparação de danos morais e materiais pautados em interesses públicos, sendo assim, o meio ambiente um deles.
Nota-se que, a Lei 6938/81, já reconhecia a legitimidade do Ministério Publico para a propositura de ações de reparação de danos ao meio ambiente, a lei de Ação Civil Publica de 1985, só fez ampliar essa legitimação para outros entes, tais como, as ONGS, que são entidades da sociedade civil. 
Destaca-se aqui, o aspecto horizontal do Direito Ambiental, ou seja, ele tem uma transversalidade, isto é, ele passa por todos os outros ramos do direito, porém, é um direito reconhecidamente autônomo, de natureza preventiva que provoca mudanças na estrutura tradicional dos diversos ramos do direito, tal como, ocorre, no caso do processo civil lembrando que este último foi construído para resolver litígios de conotação essencialmente patrimonial entre indivíduos, ou seja, mudanças tiveram que ser proporcionadas para que o direito processual civil pudesse dar contas das ações ambientais, como, por exemplo, se observa na própria lei de ação civil pública, na medida em que os legitimados para propor esta, têm que ter interesse pelo bem jurídico atingindo.
 A dificuldade antes da lei de ação civil pública estava no fato de se determinar quem seria legitimado para propor ação na defesa de interesses coletivos difusos, assim, o direito ambiental foi um dos motivadores desta lei, uma vez que se trata de interesse coletivo difuso.
Veremos ao longo das aulas também, que podemos falar em responsabilidade penal da pessoa jurídica, sendo esta prevista na Constituição Federal em seu art.125, parágrafo terceiro, que reconhece que as condutas lesivas ao meio ambiente sujeitarão seus infratores, pessoas físicas ou jurídicas, às sanções penais e administrativas independentemente da obrigação de reparar os danos causados, dessa forma, temos três esferas de responsabilização: civil, administrativa e penal; este trecho da CF está regulamentado pela lei de crimes ambientais, Lei 9605/98.
 Porém, grande maioria dos penalistas tem resistência à esta responsabilidade, essa inovação também é fruto da pressão do Direito Ambiental, já que neste, o principio da dignidade humana é muito forte. 
O próprio Direito Administrativo através do licenciamento ambiental, o qual é uma das formas de expressão do poder de policia ambiental, ou seja, é a prerrogativa que o poder público tem de interferir no livre exercício dos direitos individuais; e, com base no art.170, VI CF, mostra que, a defesa do meio ambiente não pode mais ser ignorada com base no argumento de que precisamos crescer, com isso a idéia de desenvolvimento sustentável foi incorporada ao direito ambiental.
Dessa forma, o desenvolvimento de determinadas atividades, estão ligados à uma licença ambiental, a qual é um ato temporário do órgão ambiental, que vai verificar tão somente se aquela atividade possui requisitos legais para ser desenvolvida, se caracterizando por não ser nem licença, nem autorização, tendo que o direito tradicionalse adequar à sua aplicação, através da criação de uma licença sui generis.
Além, da função social da propriedade, das mudanças da responsabilidade civil ambiental, a atuação no Direito Ambiental requer a ajuda de profissionais de diversas áreas, mostrando com isso, a sua multidisciplinariedade, o que é mais uma característica da adequação que o direito tradicional tem que fazer perante o Direito Ambiental.
Portanto, diante de todo o exposto, todo o processo de evolução do direito ambiental brasileiro começou a ganhar fundamento a partir do momento que o ser humano sentiu na pele as conseqüências negativas das suas interferências no meio ambiente, como disse um autor português, precisamos fazer um contrato natural com a natureza.
Aula 2 05/04/05
CAPÍTULO – VI DO MEIO AMBIENTE
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.”
		Esse artigo traz muita informação importante para nós. Apesar da Constituição ter dedicado ao meio ambiente um só artigo, é um capítulo próprio. Esse artigo com todos os seus desdobramentos traz uma proteção bastante positiva do meio ambiente; e é bastante completo, tanto que é considerado um dos melhores textos constitucionais, no que diz respeito à proteção ambiental.
Há referências importantes para a questão ambiental, tais como o art. 5°, quando trata da função social da propriedade, do acesso à informação, da ação popular. É importante lembrar, também, dos artigos 182 e 186 da CR/88. O primeiro, em seu parágrafo 2°, reconhece que a propriedade urbana tem como uma das suas condições para atendimento à sua função social que ela respeite as regras estabelecidas no plano diretor, o que se fundamenta no reconhecimento de que todos têm direito às cidades sustentáveis e, aí, estamos falando em meio ambiente urbano. Quando se fala em cidades sustentáveis, qualidade de vida nas cidades, quando se reconhece que a propriedade urbana deve atender ao plano diretor como condição de observância da sua função social, nós percebemos que as questões ambientais estão embutidas nessa referência, sem dúvida alguma.
De uma maneira mais específica e explícita, o art. 186, CR/88, que trata da propriedade rural, reconhece como um dos requisitos para que a propriedade rural atenda a sua função social, que ela promova a utilização racional dos recursos ambientais e a proteção do meio ambiente. Aqui, também, de uma maneira mais específica e explícita, a questão ambiental também está embutida.
Por outro lado, os arts. 215 e 216, CR/88, que tratam da proteção à cultura, eles reconhecem como dever do Estado a proteção e a promoção dos direitos culturais. Eles reconhecem que bens de natureza material e imaterial, que sejam portadores de referência da cultura, da identidade, da memória de determinados grupos formadores da sociedade brasileira, integram o patrimônio cultural brasileiro. Estamos, nesse caso, falando de meio ambiente cultural.
Há, muitas vezes, conflitos entre reconhecimento de direitos culturais, proteção desses direitos culturais, promoção de manifestações culturais, garantia que o Estado promove ao exercício dessas manifestações culturais, quando, por determinados momentos, essas manifestações caracterizam violação de um outro dispositivo constitucional, que está no art. 225, parágrafo 1°, VII, o qual proíbe, expressamente, práticas cruéis contra animais. Nós vamos ver, mais à frente, como é que o STF vem tratando da questão da briga de galo, dentre outras práticas tidas como manifestações culturais, umas sim, outras nem tanto, que traduzem práticas cruéis contra animais. Existem duas decisões judiciais do STF sobre isso, os quais se encontram na pasta da professora.
Além dessas referências, temos, antes mesmo dos arts. 215 e 216, as dos arts. 23 e 24 da CR/88, os quais prevêem, respectivamente, a competência comum de União, Estados e Municípios, e a competência legislativa concorrente da União e dos Estados. 
	“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
	III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;	 
  	VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
	VII - preservar as florestas, a fauna e a flora”
Nesse artigo supra, inc. VI, é reconhecida a questão ambiental de uma maneira geral tratada. Além disso, outros incisos também tratam de questões ambientais, como os incs. III e VII. Nós percebemos que, pela referência do art. 23, cuidar e atuar em defesa do meio ambiente é de competência de todos os entes da Federação.
O art. 24 também fala do combate e controle da poluição, mas trata da competência legislativa concorrente da União, dos Estados para legislarem sobre o inc.VI.:
“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição”
 Se na competência comum, essa atuação é indistinta, principalmente, até seja editada a lei complementar prevista no seu parágrafo único (do art. 23), a qual tratará sobre a cooperação entre todos os entes da Federação no exercício de sua competência comum. E, quando se fala em competência legislativa concorrente, cabe à União legislar sobre normas gerais e, aos Estados, suplementar essas normas gerais e, caso não existam normas gerais, cabe aos Estados a competência plena. E,se conjugarmos o art. 24 com o art. 30, que enumera as competências dos Municípios, verificaremos que eles também têm competência para legislar sobre meio ambiente, na medida em que podem legislar sobre assuntos de interesse local. 
“Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local”
A solução encontrada para saber quem tem competência para atuar ou legislar diante de determinado concreto, principalmente na competência comum, é a de que, diante de atividades que tenham um impacto de âmbito nacional, por preponderar o interesse da União, cabe a esta atuar; atividades de impacto de âmbito regional, cabe aos Estados atuar e; atividades de impacto de âmbito local, aos Municípios. Na verdade isso não é tão simples, pois como identificar quando a atividade é de interesse nacional, estadual, ou local? 
Essa é a grande dificuldade. Nós veremos isso, quando tratarmos de licenciamento ambiental, como é que a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – L. 6938/81 trata desse assunto, como ela trata do licenciamento, como ela reconhece a atribuição dos órgãos estaduais ou do órgão federal, que é o IBAMA, para condução de procedimentos de licenciamento ambiental, isso tudo interpretado à luz da Constituição e detalhado numa resolução do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente – Res. n° 237, a qual veremos em detalhes. 
Quando ela define o que seriam atividades de impacto nacional, estadual, ou local, e reconhece, também, competência do Município a condução de determinados procedimentos de licenciamento ambiental. Nós veremos que a questão da repartição de competências é considerada uma das mais complicadas do direito ambiental. Boa parte das questões que são levadas aos tribunais, certamente, tratam sobre repartição de competência e discussões a respeito desse assunto. Principalmente, quando se fala em competência legislativa, fala-se muito em padrões de qualidade; o que são normas gerais? Quais é o limite de atuação da União? Padrões são normas gerais? 
Quando a União entra num determinado nível de detalhes sobre algum assunto, será que ela estaria extrapolando a sua competência? A doutrina se divide, bem como a jurisprudência, no que diz respeito a essa discussão. Mas, nós vamos ver como isso tem sido tratado no caso concreto. 
A conclusão a que chegamos,hoje, é a de que é o caso concreto que vai indicar se cabe à União, aos Estados, ou aos Municípios a atuação. Inclusive, há decisão polêmica do STJ sobre licenciamento, a qual está na pasta da professora, reconhecendo a possibilidade de atuação dupla em determinados casos, o que pode acarretar uma confusão enorme, além de uma insegurança muito grande, apesar de Paulo Affonso Leme Machado, considerado o pai do direito ambiental, defender a idéia do duplo licenciamento e, mais para frente, nós veremos o porquê desse entendimento.
CAPÍTULO – VIII - DOS ÍNDIOS
“Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.”
	Esse artigo trata dos índios, especificamente; não é uma questão ambiental geral, mas reconhece o valor da sua organização social, dos seus costumes, línguas, crenças e tradições, então, estamos falando de memória de identidade de grupos formadores da sociedade brasileira, e reconhece que os índios têm a posse originária dessas terras, as quais são de propriedade da União, mas a posse originária é deles e eles têm direito a permanecerem nessas áreas que ele ocupam tradicionalmente, em caráter permanente. É muito importante observar o que dispõe o parágrafo 1º do art. 231:
“§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.”
	A gente vê que há uma proteção cultural, uma preocupação com a manutenção da cultura indígena. O mesmo ocorre em relação às populações tradicionais. Quando se fala em direito de acesso a patrimônio genético, em proteção à contenção de diversidade biológica, há o reconhecimento do valor intrínseco dessa biodiversidade, um valor que não é estritamente econômico, o valor é intrínseco, que independe de qualquer valor que se tenha, ou qualquer gosto que se tenha por aquele ramo, é um valor pela sua própria existência. Além disso, há previsão de que o acesso à biodiversidade seja protegido, devendo ser garantida uma repartição justa e eqüitativa dos benefícios auferidos a partir do acesso à biodiversidade.
	Daí, nós vemos quão ampla é a questão ambiental, mas uma atenção especial deve ser dada ao art. 225 e, sobre ele, vale a pena uma análise mais detalhada.
	Então, diz o caput do art. 225:
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.”
	1ª referência: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado – daí, nós percebemos que se trata de um interesse essencialmente difuso, reconhecido à toda coletividade, independentemente de qualquer vínculo que se estabeleça entre determinado grupo, ou qualquer característica que se verifique em determinada coletividade, não importando, mas é um direito que cabe a todos. É um direito indivisível; é reconhecido a um número indeterminado e indeterminável de pessoas. Trata-se de um direito de titularidade essencialmente difusa, abarcando, também, as gerações futuras. E a gente vê desde já, a chamada: preocupação com a equidade intergeracional, preocupação com a responsabilidade intergeracional. 
Nós podemos perceber embutida a idéia do desenvolvimento sustentável, que é aquele que garante às gerações presentes o acesso aos recursos ambientais para a satisfação das suas necessidades, mas desenvolvimento este que deve garantir que as gerações futuras tenham condições, acesso, também, a recursos ambientais na mesma quantidade e qualidade que as gerações presentes. É um desenvolvimento pautado pela preocupação ambiental. 
A idéia não é impedir o desenvolvimento, mas sim, garantir o desenvolvimento cauteloso, cuidadoso. Há muitas críticas à idéia de desenvolvimento sustentável, ainda mais em uma sociedade capitalista, alegando que seria absolutamente utópico pensar em um desenvolvimento sustentável numa sociedade que visa ao tempo todo o lucro imediato, e que seria contrária à própria definição do capitalismo. Isso acarreta várias definições sobre desenvolvimento sustentável. 
E a definição oficial de desenvolvimento sustentável está em um relatório publicado em 1987. No ano de 1987, a Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), presidida por Gro Harlem Brundtland e Mansour Khalid, apresentou um documento chamado Our Common Future, mais conhecido por relatório Brundtland. O relatório diz que: “Desenvolvimento sustentável é desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades”. 
	A semente do conceito de desenvolvimento sustentável está na Declaração de Estocolmo de 1972, mas o conceito em si está nesse relatório supra. Houve grandes discussões, sendo que várias outras pessoas começaram a interpretar o conceito de desenvolvimento sustentável, em que uns ligando mais à questão da pobreza, outros, mais à questão estritamente ecológica e outros, ligando às duas questões. Na verdade, o que se argumenta é que uma expressão que tenha vários significados não significa nada. 
	A busca pelo desenvolvimento sustentável deve ser encarada como uma questão de sobrevivência da vida humana. Ninguém quer parar as atividades, mas a idéia é a de garantir o desenvolvimento sustentável, garantir a conservação e a utilização sustentável dos recursos ambientais. 
A busca pelo desenvolvimento sustentável é a idéia do direito ambiental brasileiro e interenacional. Deve haver um equilíbrio. Essa é a idéia do art. 225, quando reconhece a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. E esse meio ambiente deve ser entendido como meio ambiente macrobem, o que não se confunde com os microbens ambientais. 
E o primeiro ponto interessante de se ver meio ambiente como macrobem é o seu reconhecimento como um bem jurídico autônomo. Quando se fala em macrobem, ele é entendido como um conjunto, um sistema onde se processa uma relação de interdependência entre os microbens ambientais. 
Os microbens ambientais não existem, não vivem de forma independente. Nós não vivemos de forma independente. Nós, por exemplo, precisamos dos recursos ambientais, nós precisamos dos microbens ambientais. Chega-se à conclusão de que o sistema em que se processa a relação entre os microbens ambientais (macrobem) é um bem de natureza extrapatrimonial. 
	É com base nessa idéia de macrobem, que vai se construir a idéia de dano moral ambiental, o que não é a expressão mais adequada, visto que a expressão mais adequada é a de dano ambiental extrapatrimonial. Meio ambiente aqui é de valor difuso. Esse bem jurídico autônomo de natureza extrapatrimonial é reconhecido como de valor imaterial. Da mesma forma, quando se fala em proteção da criança e do adolescente, como o caso interessante ocorrido em SP, em que foi proposta uma ação civil pública em face de uma empresa de cigarro, a qual usou o desenho de um camelinho, que era o Joe Cameron, todo bonitinho, coloridinho, em uma propaganda, e argumentou-se que essa propaganda estava induzindo crianças e adolescentes a começarem a fumar, era atentatória aos valores infusos das crianças e adolescentes. 
Nesse caso, vemos com muita clareza a proteção da dignidade da pessoa humana. As propagandas racistas são consideradas atentatórias, quando abusivas, como ocorreu nos EUA, quando de uma propaganda em que uma criança negra se apresentava com um cabelo inadequado, denegrindo a sua imagem. Essa propaganda foi tirada de circulação. 
A gente vê que determinados valores imateriais difusos, os quais, quando violados, resultam emdanos morais coletivos. O próprio fenômeno de consumo de propaganda enganosa; muitas vezes, um sujeito pode não ter sofrido uma perda econômica, não ter comprado o produto anunciado, mas o fato de se veicular propagandas enganosas pode ser que se configure como uma violação de um direito difuso relacionado a relações de consumo.
	Quando falamos de valores imateriais coletivos, quando a professora fala em coletivos, ela quer dizer difusos, é assim que tem que ser entendido o meio ambiente, também. Quando reconhecemos o meio ambiente como um macrobem, nós estamos falando desse direito difuso. A proteção conferida pela Constituição ao meio ambiente é de garantia que esse direito é a um meio ambiente equilibrado, que esse bem jurídico autônomo é considerado como bem de uso comum do povo. Lembremo-nos que os bens se dividem em bens públicos e privados. 
Os bens públicos são os que integram o patrimônio de pessoa jurídica de direito interno e são classificados em bens de uso especial, bens de uso comum do povo e bens dominiais ou dominicais. Será que quando a Constituição fala que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo, ela está querendo dizer que é um bem público de uso comum do povo, nos termos dessa definição? Integraria o patrimônio da União, dos Estados, ou de qualquer ente federado? Não. 
O que se entende como bem de uso comum do povo, aqui, é como bem que interessa a toda coletividade e que não integra o patrimônio da União, Estados e Municípios. É um bem de titularidade difusa. 
		Obs.: Em regra, as praias são bens de uso comum do povo – art. 10, Lei 7661/88 – que instituiu a política nacional de gerenciamento costeiro. Ela trata do zoneamento costeiro, o qual é um tipo de zoneamento ambiental, o qual, por sua vez, é um dos instrumentos da política nacional do meio ambiente. 
“Art. 10. As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica.
§ 1º. Não será permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na Zona Costeira que impeça ou dificulte o acesso assegurado no caput deste artigo.”
	O acesso a praias não pode ser impedido. Uma questão interessante são os prédios que projetam sombra na praia, ou construções, como o galpão que há na praia da Barra, no Pepe, que guarda equipamentos de Windsurf; a existência desse galpão naquela área foi questionada pelo Ministério Público Estadual. Ele também questionou a existência de um galpão subterrâneo que guarda equipamentos. E, há uns quatro anos atrás, foram enviados dois ofícios, um pelo MPE e outro pelo MPF à FEEMA e esta elaborou um parecer técnico, por um biólogo, entendendo que a existência daquele galpão ali trazia impactos ecológicos propriamente ditos, pois impedia que o sol batesse naquele local, acarretando destruição da vegetação rasteira existente ali. Além disso, por ocupar uma extensão grande da areia, acabava por dificultar o acesso à praia. Há uns 4 anos atrás, houve uma discussão enorme sobre isso e o Município editou uma lei que proibia construções que projetassem sombra na praia. A praia é o lazer da população, e deve ser preservado.
	A definição de poluição está no art. 3°, III, da L. 6938/81:
“Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: 
        I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; 
        II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; 
        III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: 
        a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; 
        b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; 
        c) afetem desfavoravelmente a biota; 
        d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; 
        e) lançem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; 
        IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; 
        V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera.”
	É importante observar que a degradação da qualidade ambiental consiste na alteração adversa das características do meio ambiente, conforme se depreende do inc. II. A questão da qualidade de vida, de bem-estar social fazem parte do conceito de poluição. Poluição visual é poluição.
	Hoje em dia, o entendimento de dano moral não gira mais em torno de dor, padecimento, sofrimento, tanto é, que uma pessoa jurídica pode ser indenizada por dano moral. É uma lesão a um interesse imaterial, juridicamente protegido. E, a violação de um bem de natureza extrapatrimonial, como é o caso do meio ambiente, importará, além das perdas materiais, dos custos para recomposição das áreas depredadas, o direito difuso ao meio ambiente ecologicamente equilibrado foi violado. 
Há um livro muito interessante da profª Maria Celina Bodin de Moraes, da UERJ e da PUC, o qual cuida muito das questões ligadas à constitucionalização do Direito Civil, valores existenciais, ligados à dignidade da pessoa humana, o qual deve ser entendido como o único bem de valor absoluto. Diante da dignidade da pessoa humana, todos os demais valores devem ser tidos como relativos. Ela diz que se, de um lado da moeda, tem-se a proteção constitucional da dignidade da pessoa humana, do outro lado, tem-se o dano moral, entendido como a violação à dignidade da pessoa humana. 
Há, inclusive uma decisão do TJ-RJ, que faz referência a danos morais, reconhecendo a perda de qualidade de vida da coletividade em usar e fruir do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Houve uma perda de natureza extrapatrimonial, tem-se um dano moral indenizável. A Constituição tomou o cuidado de prever, no caput do art. 225, que esse direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é essencial à sadia qualidade de vida. 
E, aqui, há uma relação dessa expressão com o art. 1º , III, CR/88, o qual reconhece como um dos fundamentos da nossa República a dignidade da pessoa humana. Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito a direito à vida digna, essencial à sadia qualidade de vida. A Declaração de Estocolmo foi o primeiro documento a reconhecer o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. É um direito humano fundamental, diretamente ligado à dignidade da pessoa humana.
	Em seguida, no caput do art. 225, CR/88, temos a referência de que cabe ao Poder Público defender e preservar o meio ambiente às futuras gerações, observando-se aí que, em relação ao Poder Público, há um poder-dever. O Poder Público não é o dono do meio ambiente. Ele é gestor do meio ambiente ecologicamente equilibrado. O parágrafo 1° traz uma série de atribuições ao Poder Público. 
O grande fundamento constitucional para responsabilização do Poder Público quando ele deixa de agir, ou quando ele age indevidamente, é esse caput do art. 225, CR/88. 
	Em relação à coletividade, esta não só tem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como tem o dever de agir em defesa do meio ambiente, preservando-o e conservando-o para as futuras gerações, logo ela tem o direito-dever. Essa idéia está muito ligada ao princípio da solidariedade. Estamos todos no mesmo barco, vivendo na mesma situação. É um direito de todos. O caput do art. 225, bem como o seu parágrafo primeiro, que elenca as atribuições do Poder Público, tem conotação preventiva.
Princípio da Prevenção
Os princípios são o alicerce do ordenamento jurídico, são o mandamento nuclear, normas imediatamente finalísticas. São normas hierarquicamentesuperiores. Eles são importantíssimos na elaboração, na interpretação e na aplicação de toda legislação ambiental brasileira. O referido princípio se resume na idéia de que é sempre melhor evitar o dano a ter que repará-lo. Por que é tão importante, assim, evitar a ocorrência de danos? Porque, está-se falando de um direito humano fundamental, de um bem que está diretamente ligado à dignidade da pessoa humana, de um bem que, quando prejudicado, traz grandes conseqüências, ou seja, os danos ambientais trazem graves conseqüências, são irreparáveis. Todo o dano ambiental tem como uma de suas facetas, que é sempre a perda extrapatrimonial.
 Se nós reconhecemos que as conseqüências de um dano ambiental serão uma parcela de perda material, a qual será reparada, quando possível, pela restauração, recuperação daquele bem, volta ao status quo antes. A perda extrapatrimonial será compensada em pecúnia ao fundo de que trata o art. 13, Lei da Ação Civil Pública – defesa dos direitos difusos na esfera federal. E, no caso do Rio de Janeiro, vai para o fundo de que trata a Lei da Ação Civil Pública, não vai haver uma repartição desses valores para cada um indivíduo afetado, até porque todos foram afetados. 
Considerando que essa idéia, até para ganhar mais adeptos, chegamos à conclusão de que o dano ambiental é sempre irreparado. Ele pode ter uma parcela reparada, no seu aspecto ecológico puro, mas a perda extrapatrimonial coletiva vai ter que ser compensada. Por essa razão, é que se busca a não ocorrência desses danos. E, mesmo quando se fala de danos ecológicos puros, muitas vezes não terá como identificar quais foram as perdas no caso concreto, por não conhecer totalmente a biodiversidade. 
A poluição hídrica produzida pelo vazamento de alguns produtos no rio, há uns dois anos atrás, em Cataguases, MG, por exemplo, não só a poluição ocorrida no rio, mas até a destruição da faixa marginal de proteção desse rio. Será que os estudiosos têm como dizer, com certeza, qual o tamanho do dano, o que foi afetado, a perda da biodiversidade, quais espécies foram atingidas? Eles não conhecem. Quais as medidas necessárias para que o espaço degradado retorne ao estado anterior? Quanto tempo demora? Essa dificuldade já existe no plano ecológico puro,hoje, daí a necessidade de se evitar a ocorrência do dano. 
Apesar desse ideal preventivo, o nosso sistema jurídico ambiental deve prever instrumentos reparatórios e repreensivos, também. Mas as medidas preventivas se justificam, são mais privilegiadas pelo sistema, pelas razões que acabamos de ver. A idéia de que é melhor prevenir do que remediar está expressa em diversos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Vale a pena ver o art. 9° da Lei 6938/81, que lista os instrumentos:
DOS INSTRUMENTOS DA POLíTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE 
        “Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: 
        I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; 
        II - o zoneamento ambiental; 
        III - a avaliação de impactos ambientais; 
        IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; 
        V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; 
        VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e as de relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal; 
        VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; 
        VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; 
        IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. “
		Então, quando o estabelecimento de padrões tem o cunho de evitar a degradação da qualidade ambiental. Padrões de qualidade da água, de ruídos, enfim, há uma série de padrões ambientais que são estabelecidos pelo CONAMA, que são esses, como, por exemplo: água, ar e ruídos. A idéia é evitar a emissão acima desses padrões. 
O zoneamento costeiro é um tipo de zoneamento ambiental. Quando se fala do zoneamento industrial, a L.6803/80, que trata do zoneamento industrial, objetiva a organização do território, a fim de que se evite a concentração de poluição perto de zonas residenciais, ou colocar em risco essas zonas residenciais. Logo, as indústrias devem ficar em áreas estritamente industrial. Outro exemplo interessante é o da criação de espaços territoriais especialmente protegidos. 
O parágrafo 1°, no inc. III, do art. 225, prevê que o Poder Público, quando se deparar com uma dada área que tenha uma relevância ambiental grande, que esteja sob ameaça de ocupação inadequada e que mereça uma proteção específica, ele pode criar uma unidade de conservação, um parque nacional, mas para isso, ele tem que ter os instrumentos criados. Esse inc. III foi regulamentado pela L. 9985/2000, que instituiu o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Unidades de Conservação são uma espécie de espaços territoriais especialmente protegidos, o que vem atender o que dispõe esse inciso III, parágrafo 1°, art. 225. E um tipo de espaço territorial especialmente protegido é a unidade de conservação da natureza. Nós já tínhamos unidade de conservação antes mesmo da lei do SNUC, porém, essa lei teve o intuito de organizar as categorias de unidades de conservação.
 Antes, tudo dependia do que o ato de criação da unidade dizia, o nome que ele dava àquela determinada unidade, as restrições e objetivos que ele previa... havia uma série de nomes, cada nome uma dada unidade – reservas ecológicas, reservas biológicas, estações ecológicas, estações biológicas – e nomes iguais de unidades não significava que seus objetivos eram iguais. Então, havia uma grande confusão. 
A Lei do SNUC veio organizar as categorias de unidades de conservação. E a primeira grande divisão que foi feita por essa lei foi a divisão em dois grandes grupos: unidades de conservação de proteção integral e unidades de conservação de uso sustentável. Estas pressupõem a utilização sustentável dos recursos ambientais. Por outro lado, naquelas, as restrições são muito maiores, não se admitindo o acesso direto aos recursos ambientais, mas somente o indireto. Um exemplo seria Fernando de Noronha, em que o IBAMA (da União) um Parque Nacional, em que as atividades nessa região são muito mais controladas, não sendo possível pescar, por exemplo, nessa região. 
O plano de manejo vai determinar as áreas que podem e que não podem ser visitadas e com que restrições, então, o órgão gestor vai determinar os horários em que é possível a visitação pública. Há uma praia em que não é possível passar proteção solar, sendo que há fiscalização intensiva por um fiscal do IBAMA, e o horário de visitação é controlado. 
É um exemplo de unidade conservação coerente, pois se criou uma unidade mais restritiva, que é o Parque Nacional, mas em outra região, criou-se uma APA, que é uma área de preservação ambiental; é uma outra área de unidade de conservação, mas está inserida no grupo de unidades de conservação de uso sustentável. É onde fica a vila, onde é possível a pesca controlada. É possível o acesso ao uso sustentável dos recursos ambientais. 
	Antes da Lei do SNUC, via-se muito a criação pela União de Parques Nacionais, todavia, não havia a desapropriação prévia das áreas e, quando se fala de unidades de conservação, na maior parte delas, de proteção integral, como os parques nacionais, as reservas biológicas ( que têm o uso mais restrito que os parques nacionais) e, também, das estações ecológicas (que, também, têm o uso mais restrito que os parques nacionais), para a criação dessas áreas, é necessária a prévia desapropriação, eis que incompatível com o direito de propriedade. 
As áreas de proteção ambiental, não. Dependendo do zoneamento que se faça em uma área de proteção ambiental, pode ser que, no caso concreto, verifique-se a necessidadede desapropriação de uma área inserida, por exemplo, zona de preservação da vida silvestre, mas aí, é no caso concreto. Mas, muitos parques nacionais, na Amazônia, foram criados com sobreposição de terra indígena, e os índios têm a posse originária daquelas terras. Na verdade, deve-se observar o caso concreto e, por suas característica, é que se deve avaliar o que será melhor criar, se áreas de proteção ambiental, uma reserva de desenvolvimento sustentável, ou uma reserva extrativista, ou se tem que se criar uma estação ecológica.
	Além do parágrafo 1°, inc. 3°, art. 225, CR/88, que prevê a criação de espaços protegidos, a Política Nacional do Meio Ambiente, já se prevê, no art. 9°, com redação dada por lei de 1989, prevê, no art. 9°, VI, o seguinte:
“Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
	VI - a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambiental e as de relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal. “
		A criação dessas áreas é um mecanismo preventivo. Antes da criação da lei do SNUC, eram criadas unidades de conservação sem qualquer estudo prévio, sem qualquer consulta pública, para saber a opinião da população sobre essa criação. Depois dessa lei, para cumprimento de dispositivos da lei de Sistema Nacional de Unidades de Conservação, deve haver a prévia consulta pública e estudos técnicos. Vide a Lei 9985/2000, art. 22, parágrafo 2°:
	“Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.        		
§ 1o (VETADO)
        	§ 2o A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento.” 
	Também, é importante a observação da disposição de informação adequada e inteligível pelo Poder Público à população local, conforme se depreende da leitura do parágrafo 3°:
	“3o No processo de consulta de que trata o § 2o, o Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas.”
	São vários os instrumentos, então, que têm a conotação preventiva. Existem dois outros instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, que têm conotação preventiva, também, mas que se encaixa no Princípio da Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais.
		
 Princípio da Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais.
	Ele não deixa de ser uma forma qualificada do princípio da prevenção. Mas isso não deve ser mencionado em concurso público, mas, apenas para compreendermos melhor, o princípio da prevenção seria um princípio gênero e o da avaliação prévia, espécie. Mas, essa definição não existe. O objetivo desse princípio é preventivo, também. E, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, L.6.938/81, no art.9°, incs. III e IV, ela prevê a avaliação prévia dos impactos ambientais como um dos instrumentos da política nacional do meio ambiente e prevê o licenciamento ambiental e a revisão de atividades potencialmente poluidoras. 
Quando uma determinada atividade for capaz de causar degradação ambiental, pelo fato de ela ser potencialmente poluidora, ela deve se submeter ao prévio licenciamento ambiental, à prévia avaliação dos impactos ambientais, a fim de evitar o dano; não para impedir o desempenho da atividade, mas para que ela se desenvolva com os cuidados ambientais necessários, como, por exemplo, verificar se os equipamentos a serem adquiridos e implantados são capazes de garantir que as emissões produzidas por aquela determinada atividade vão respeitar os padrões ambientais previstos, se para aquela atividade, vegetação deverá ser suprimida, dentre outros procedimentos. 
Esses instrumentos específicos da política nacional do meio ambiente são considerados essencialmente preventivos, portanto, incorporam essa orientação do princípio da prevenção e do princípio da avaliação prévia dos impactos ambientais. Se não houver essa avaliação prévia e a atividade for desenvolvida, pode ser que não se consiga, depois, reparar os impactos ambientais e é isso o que se quer evitar.
Aula 03- 11.04.2005
No nosso encontro semana passada nós vimos dois princípios. O Princípio da Prevenção e um princípio que também tem conotação preventiva, o Princípio da Avaliação Prévia de Impactos Ambientais.
E aí agente entendeu um pouquinho como a legislação ambiental brasileira elaborou um instrumento que coloca em prática essas orientações do Princípio da Prevenção e da Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais. Vimos alguns exemplos de licenciamento, de estabelecimento de padrões, zoneamento ambiental, do instrumento mesmo da Avaliação prévia de Impactos Ambientais, atividades potencialmente poluidoras, criação de espaços territoriais especialmente protegidos e aí dei uma pincelada muito rápida no Sistema Nacional de Unidades de Conservação, na intervenção do Poder Público de criar espaços especialmente protegidos e vimos que todos estes instrumentos seguem a orientação preventiva, só que ficou faltando ainda o Princípio. 
Aliás, todos os princípios têm uma ligação um com o outro, mas este princípio muitas vezes traz algumas conclusões em relação à Prevenção, é um princípio que está sendo muito comentado em função da questão dos transgênicos, da poluição eletromagnética, é um princípio que é muito polêmico, ele promove uma reformulação de uma orientação muito tradicional no desenvolvimento de tecnologias, no desenvolvimento da ciência, então talvez seja o Princípio mais polêmico do Direito Ambiental. Vocês sabem qual é este princípio?
Ele traduz a idéia de cautela e atua muito no que chamamos de “sociedade de risco”, nessas situações onde existe incerteza científica. É o Princípio da Precaução.
Até um aluno daqui me perguntou na semana passada a diferença entre o Princípio da Prevenção e o da Precaução. Vamos entender exatamente o que é. Na verdade, como eu disse no início, como não existe uma uniformidade sobre este Princípio, entre os autores, principalmente aqueles textos mais antigos sobre os princípios, eles tendem a tratá-los de uma maneira muito igual, como sinônimos – Prevenção e Precaução – e isto foi mudando ao longo do tempo, hoje isso vem tratado de uma maneira bem diferenciada.
Princípio da Precaução. 
Este princípio está lá expresso, não só neste, mas a grande referência ao Princípio da Precaução está na Declaração do Rio de 92, assim como uma declaração de princípios foi o resultado da Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente no ano de 72, da reunião aqui do Rio de Janeiro, realizada em 92 – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – dessa conferência resultou uma declaração de princípios que é a Declaração do Rio. Quem não é do Rio chama de ECO 92, mas os cariocas costumam dar preferência para a expressão Rio 92.
Essa Declaração do Rio de 92, no Princípio 15, diz que a incerteza científica acerca das conseqüências de determinadas atividades ao meio ambiente ou à saúde humana, que essa incerteza não deve servir como fundamento para que medidas preventivas e para que cuidados de cautela antecipada deixem de ser adotadas.
Então a incerteza não pode servir de fundamento para que a prevenção ou para que o cuidado antecipado deixe de ser tomado.
Isso na verdade é uma reformulação de uma orientação tradicional que ainda de certa forma paira sobre nós e é ela idéia de que: se eu não tenho prova de que há dano, ou seja, se existe incerteza de quais serão as conseqüências não há razão para impedir o desenvolvimento de determinada atividade. Somente nas situações de prova de existência de um potencial danoso efetivo, se a ciência é capaz de dizer se esta atividade desenvolvida dessa forma vai causar um dano, somente nessas situações é que impede e tradicionalmente se justificaria a adoção de medidas de cautela.
Então, restrições ao exercício de determinadas atividades só se justificariam por essa orientação tradicional nos casos em que houvesse certeza do dano.O Princípio da Precaução ele vai reformular essa orientação tradicional para dizer o contrário, para dizer que: se há incerteza, essa incerteza não pode servir de fundamento para que medidas preventivas deixem de ser adotadas.
Se há dúvida, eu tenho que decidir como? Optando pela alternativa mais segura possível para o meio ambiente e para a saúde humana.
Então é por isso que se fala muito que o Princípio da Precaução traduz a idéia do IN DUBIO PRO NATURA.
O que é interessante perceber é que este princípio ele cai como uma luva na nossa realidade atual. Quando se construiu a idéia da sociedade de risco, um sociólogo Alemão chamado “Russef” (???) que criou a descrição dessa “sociedade de risco”, é exatamente o que agente vive hoje, a sociedade chegou a um ponto, num nível tecnológico e científico tal que ela se tornou incapaz de controlar o que ela mesma inventa.
Essa sensação de imprevisibilidade, uma sensação de impotência em relação às conseqüências futuras de uma nova tecnologia que é lançada e cada vez o desenvolvimento é mais acelerado e agente vê mudanças muito rápidas e muito profundas. E essas situações trazem uma sensação de insegurança por conta dessa imprevisibilidade do dano. 
Essa situação de impossibilidade de controlar resultados. Não que em algum momento agente vá ter certeza absoluta de que os resultados podem ser controlados, mas as mudanças eram mais lentas, então as pesquisas eram mais lentas, se esperava mais tempo para analisar a potencialidade do dano, para que um determinado medicamento que está sendo estudado, está sendo criado, até que o ritmo de desenvolvimento se acelerou num nível tal, não só em velocidade, mas em mudanças tão profundas que gerou uma situação de incerteza, por isso que a Sociedade de Risco também é chamada de “Era da Incerteza”, “Era da Insegurança”, por conta dessa sensação generalizada e o que é interessante é que esta imprevisibilidade, essa situação de incerteza, ela traz, quando levada ao conhecimento de todos uma situação de medo generalizado. 
Um dos principais argumentos utilizado contra os transgênicos é o fato de não existir certeza sobre os danos que eles podem trazer ao meio ambiente e à saúde humana. Mesma coisa com relação ao uso dos aparelhos celulares. Na verdade nos organismos geneticamente modificados agente vê, e esse é um ponto lamentável, mas é a característica de muitas situações que geram muita discussão política e que têm muito interesse econômico envolvido, e político obviamente também, é que a discussão se enfraquece com os pólos radicais. 
Na questão do organismo geneticamente modificado aqueles que são contra, são contra não querem admitir, não querem consumir transgêncios e querem impedir a liberação do meio ambiente para os organismos geneticamente modificados – porque são “verdes”, são “ambientalistas”, quer dizer, muitas vezes são tachados de eco-chatos.
Por outro lado, aqueles que são a favor dos organismos geneticamente modificados também não entram na questão dos estudos, falam muito mais em função de que os transgênicos vão resolver o problema da fome no mundo, tentando maquiar uma situação que não é verdadeira, dizem que o Brasil precisa se desenvolver para chegar cada vez mais perto dos países já desenvolvidos, países de primeiro mundo e tudo o mais: “precisamos adotar sim os transgênicos e aceitar os transgênicos para o final desenvolvimento do país”, sem analisar muito, isto é, sem enfrentar a questão da dependência econômica dos pagamentos de royalties e principalmente quando se fala da questão dos estudos ambientais que seriam necessários para avaliar a cada caso, a cada liberação de organismos geneticamente modificados no meio ambiente, quando fala nesse assunto, na necessidade de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, na necessidade do respeito ao princípio da necessidade de Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais, o que se diz é que muitas vezes os estudos já foram feitos nos Estados Unidos.
 Na verdade os estudos foram feitos com base em outra legislação, tendo em vista outro ecossistema, outra realidade, não é muito difícil chegar à conclusão de que este argumento é fraco.
Na verdade aqui agente tem uma previsão constitucional, agente viu quando agente estava falando de Avaliação Prévia de Impactos Ambientais e agente vai ver isto bem detalhadamente depois, o art. 225, § 1º, VI da Constituição estabelece que cabe ao Poder Público exigir o Estudo Prévio de Impacto Ambiental como condição de licenciamento de atividades que sejam capazes de causar significativa degradação do meio ambiente.
Nós vamos ver este “significativa degradação do meio ambiente”, essa expressão significativa é um plano jurídico indeterminado, mas ele não é indeterminável, já temos na legislação uma lista identificativa de atividades que são consideradas capazes de causar “significativa degradação do meio ambiente”.
É uma lista que pode ser o tempo todo complementada, desde que justificadamente, não pode aleatoriamente falar isso aqui é, o órgão ambiental não pode determinar sem qualquer razão administrativa motivada, o órgão tem que justificar quando uma determinada atividade, apesar de ela não estar nesta lista de atividades sobre as quais recai a presunção que são atividades capazes de causar significativa degradação do meio ambiente elas justifiquem esse estudo ambiental específico.
E o IBAMA, agente está falando de uma atividade que interessa, que se reconhece como de preponderante interesse de toda nação, quando se fala da competência legislativa concorrente para legislar sobre o meio ambiente, a competência da União e quando fala sobre competência comum para agir em defesa do meio ambiente, em algumas decisões, muito poucas sobre os organismos geneticamente modificados, agente vai ver que o que se entende é que predomina o interesse da União, portanto nessas situações deve atuar o órgão ambiental federal, o IBAMA.
E o IBAMA como órgão integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), O SISNAMA é o organismo, são os órgãos e entidades que têm atribuição com relação à proteção do meio ambiente. A organização do SISNAMA está na lei 6938/81, que é a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente que é a que fala de Licenciamento Ambiental também.
Nessa organização, o IBAMA como órgão de atuação na defesa do meio ambiente, ele tem uma atribuição de executar a Política Nacional do Meio Ambiente no plano Federal, e aí quando se tem uma atividade em que se considera que a União tem interesse preponderante o IBAMA deve atuar quando se fala em organismo geneticamente modificado.
Vemos que tecnicamente esses órgãos reconhecem que essa atividade, o IBAMA especificamente e o próprio Ministério do Meio Ambiente também ao qual o IBAMA está vinculado, reconhecem que esta é uma atividade capaz de causar uma significativa degradação do meio ambiente e a liberação dos OGMs (organismos geneticamente modificados) no meio ambiente, você teria de ter não só o Licenciamento Ambiental, mas o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, coisa que não teve.
Isso gera uma discussão enorme, a Comissão Técnica Nacional de Bio-segurança que antes era regida pela Lei 9874/85 que era a antiga lei de bio-segurança, ela dava pareceres técnicos, no caso de soja, dava pareceres técnicos favorável à liberação da soja trangênica no meio ambiente e na verdade esta liberação não dispensaria o Estudo Prévio de Impacto Ambiental, isso foi levado à juízo e nesse meio tempo decisões reiteradas foram reconhecendo que, na verdade, além da opinião da CTN-BIO (Comissão Técnica Nacional de Bio-segurança) essa opinião favorável não dispensaria o Estudo de Impacto Ambiental, o Estudo Prévio de Impacto Ambiental porque a legislação ambiental brasileira, o sistema da legislação ambiental brasileira adotou o Princípio da Precaução e o Princípio da Precaução traz a orientação de que quando houver uma pequena dúvida sobre o resultado da atividade, se deve decidir a favor do meio ambiente – In Dúbio Pro Meio Ambiente.
O que quer dizer “decidir a favor do meio ambiente”?É impedir o exercício da atividade de cara? De plano? Não é essa a idéia do Princípio da Precaução, essa seria uma interpretação ultrapassada do Princípio da Precaução e aí sim impediria o desenvolvimento.
Na verdade quando se fala In Dúbio Pro Ambiente, a idéia é que medidas preventivas não deixem de ser tomadas, que haja, no mínimo, um controle o mais rigoroso possível dessas atividades e não impedir que elas sejam desenvolvidas. É claro que em determinados casos a lei exige o licenciamento ambiental e o licenciamento ambiental e o estudo completo e detalhado que é o EIA-RIMA – Estudo De Impacto Ambiental que vem acompanhado Do Relatório De Impacto sobre o Meio Ambiente, esse estudo é que é capaz de avaliar, de identificar qual o nível de incerteza, qual o grau de incerteza que paira sobre uma determinada atividade. 
Se houver uma incerteza gigantesca, nenhum estudo que tiver sido feito, nenhuma pesquisa que tiver sido desenvolvida, poderá ser utilizada como argumento para que aquela atividade seja liberada naquele momento, mas dependendo do estudo elaborado, se o grau de incerteza, se estudos já tiverem sido desenvolvidos, se aquela análise feita no EIA-RIMA for capaz de conseguir determinar quais são as medidas de controle necessárias e forem vendo aos pouquinhos e determinando que vão pesquisar por mais 5 anos e depois : “ah agente libera para comercialização, para plantio em larga escala” ou: “agente já estudou muito, já podemos liberar em doses pequenas o plantio do organismo geneticamente modificado”, tudo com fundamento técnico. O grau de incerteza é que deverá determinar o nível de controle que deverá ser exigido naquela atividade.
Fato é, que a incerteza em si, ao contrário do que se dizia anteriormente, a incerteza não pode, a existência dessa incerteza não pode justificar a não adoção de medidas preventivas.
E o que se vê na questão dos Organismos geneticamente modificados é que, na verdade a força econômica e política, como acontece em muitos casos, nesse caso do organismo geneticamente modificado conseguiu aprovação de uma lei, a Lei 11.105 que eu mencionei aqui já também, essa Lei revogou a Lei 8974/95 que era a antiga lei de Bio-segurança, entre outros diplomas que também tratavam do assunto, mas especificamente a Lei de Bio-segurança de 95 foi revogada e aí a grande crítica que é feita, fora as questões das pesquisas na utilização de células tronco embrionárias, que é uma questão de bio-ética, uma questão não especificamente relacionada ao meio ambiente, na questão dos transgênicos a grande crítica que é feita é que um poder extremo foi reconhecido à Comissão Técnica Nacional de Bio-Segurança – CTN-BIO, porque à CTN-BIO agora cabe decidir em última instância, sem qualquer interferência do Ministério do Meio Ambiente do Ministério da Agricultura, do IBAMA, decidir quando que a liberação no meio ambiente de um organismo geneticamente modificado deverá ser precedida de licenciamento ambiental.
A análise que é feita por esta CTN-BIO não corresponde à análise que é feita em um procedimento de um licenciamento ambiental. A análise é feita muita mais com relação a questão de Bio-segurança, outras questões mais genéricas e mais profundas e mais detalhados que são realmente realizadas num estudo de licenciamento ambiental que conta com a participação popular também, para identificar o interesse de como que a coletividade, o que é que a coletividade que é titular de um direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, o que ela pensa sobre o assunto, levar ao conhecimento da população detalhes sobre a liberação de determinado OGM no meio ambiente, isso tudo pode ser deixado de lado em função da edição da nova lei. 
Então está tendo uma discussão muito grande, ainda mais que a CTN-BIO é composta por representante de diversos Ministérios e sem um grande número, não me lembro o número agora, de pesquisadores indicados pelo Governo Federal. Na verdade ela é chamada de Comissão Técnica, mas ela não é lá tão técnica assim, é uma comissão muito mais vulnerável a influências políticas do que em tese pelo menos um órgão ambiental é.
Então esse é um exemplo de retrocesso da nossa legislação ambiental brasileira, né, essa dispensa de licenciamento, não só de EIA-RIMA, dispensa de licenciamento mesmo, se partiu do princípio que muitas vezes a liberação dos organismos no meio ambiente nem uma atividade potencialmente poluidora pode ser considerada, coisa que já era pacífica pelo menos desde 97, quando se tinha o reconhecimento técnico do potencial poluidor dessa atividade, então é um retrocesso significativo e é um exemplo da não aplicação do Princípio da Precaução, na prática.
Um outro exemplo, um outro assunto que é interessante, que é atual sobre o Princípio da Precaução é a questão da emissão eletromagnética, o uso de aparelhos celulares e principalmente a instalação de antenas de telefonia celular, daquelas chamadas estações rádio-base do exército, por essas empresas de telefonia celular.
A discussão é: aonde existe a incerteza? O que se conhece o que não se conhece sobre as consequências da poluição eletromagnética dessas ondas não ionizantes.
O que se fala é: os efeitos térmicos são conhecidos, já são estudados, identificados, tanto que se fala que a partir de 6 minutos, não sei nem se vocês sabiam disso, que você está falando no celular, a cada 6 minutos a temperatura do cérebro aumenta em 1 grau. Eu me lembro numa época que foram propostas duas ações civis públicas aqui no Estado do Rio de Janeiro sobre a questão da poluição eletromagnética, quando eu estava na Feema, eu me lembro dos técnicos falando. Montaram um grupo de trabalho multidisciplinar para que fossem estudadas e estabelecidas as regras específicas para o licenciamento ambiental dessas atividades de instalação de antenas de telefonia celular.
Então, no Rio de Janeiro eles falaram que os efeitos térmicos são conhecidos sim, então a produção de energia pelo cérebro dessas ondas, desses raios não ionizantes, que são os efeitos térmicos dessa poluição eletromagnética são conhecidos, tanto que não se deve falar mais do que 6 minutos no celular.
Eu lembro que na época eu li isso no jornal também, então era uma coisa que estava sendo muito discutida e é pacífica e eu lembro que até diziam que a tendência era que o design do aparelho tivesse antena para garantir uma maior distância do aparelho. As antenas estão cada vez menores né, mas essa seria uma tendência para minimizar esses impactos dos efeitos térmicos da poluição eletromagnética.
Por outro lado se esses efeitos eram conhecidos não se sabe, não se sabia e ainda não se sabe, não se tem certeza é com relação aos efeitos não térmicos do que a poluição eletromagnética pode passar para o metabolismo, para o sistema imunológico, não se sabe quais são os efeitos, não se tem certeza, não se estudou o suficiente para determinar quais são as conseqüências e, portanto, quais são as medidas de uma maneira específica e pontual que devem ser adotadas para que esses impactos sejam evitados.
Essa é a grande problemática. Tanto que esse grupo, no caso os engenheiros que fizeram pesquisas, quando buscaram profissionais com conhecimento específico nesse assunto, fizeram levantamento na legislação de outros países e aí viram que não existe parâmetro. Enquanto um país determinava uma distância mínima de 150m da instalação da antena das zonas residenciais, outros países diziam que 10 era suficiente, outros 200, outros 150, outros 100, outros 30, não existia um parâmetro porque esses efeitos não térmicos não são conhecidos.
É uma salada né, cada país tratava dessa questão de uma forma. Qual o parâmetro que o Brasil deveria utilizar? No caso qual o parâmetro que o órgão ambiental estadual deveria utilizar na condução dos procedimentos de licenciamento ambiental para instalação das estações rádio-base?
Nessa época e foi por isso que o grupo de trabalho foi montado foram propostas duas ações pelo MP estadual, uma aqui no Rio outra em Niterói em face dessas empresas de telefonia celularque agente conhece, curioso notar que a FEEMA era ré nas duas ações porque deixou de exercer o seu poder e agir em defesa do meio ambiente, exigindo como condição de instalação para essas antenas que elas se submetessem previamente ao licenciamento ambiental, e aí uma coisa é a licença que é dada pelo Município com relação à localização para instalação das antenas e outra coisa é a licença ambiental que vai analisar outros detalhes do projeto, vai analisar o potencial poluidor dessa atividade. 
Uma licença não dispensa a outra. Assim como agente vê atividade de extração mineral, por exemplo, além da licença lato sensu dadas pelo DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral, que também vê questões ambientais, mas não é uma análise ambiental perfeita, é uma autorização e que vai depender do tipo de autorização que é dada, as concessões de lavra e tudo o mais, o que agente está falando neste caso é de uma atividade que está sendo autorizada, o desempenho de uma atividade está sendo autorizada de acordo com determinadas regras, a extração de recursos minerais, os recursos minerais são bens da União, ta lá no art. 20, então tenham cuidado porque o DNPM vai analisar como, em que quantidade, em que condição pode ser desenvolvida aquela atividade de exploração mineral.
 Essa atuação do DNPM não dispensa aquela atividade de obter a licença ambiental também para ser desenvolvida, porque uma coisa é o interesse da União com relação a situação de um bem seu, outra coisa é o interesse da coletividade em relação à manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado e, portanto, daí a exigência do licenciamento ambiental para o desenvolvimento daquela atividade.
A mesma coisa pode ser trazida para a questão da poluição eletromagnética. Teve uma orientação da ANATEL sobre a questão das atividades desempenhadas pelas operadoras de telefonia celular, isso não impede, não dispensa o licenciamento ambiental porque essa atividade é uma atividade potencialmente poluidora.
O que agente vai perceber é que numa dessas ações propostas nessa época, o que é curioso perceber é que o MP pediu uma liminar para que novas instalações, novas antenas de telefonia celular não fossem instaladas, deixassem de ser instaladas até que se submetessem a prévio licenciamento ambiental. Não era nem para desligar as antenas, desinstalar, nada disso, era só para que novas antenas não fossem instaladas antes do licenciamento ambiental.
Uma das questões levantadas na época é que o órgão ambiental estadual que seria o competente para a condução do procedimento de licenciamento ambiental, ele não tinha conhecimento técnico sobre o assunto e nem equipamento para fazer a análise necessária. E não tinha mesmo. Não tinha recursos humanos e não tinha recursos técnicos. Os técnicos da FEEMA eles não conheciam mesmo, tanto que um grupo de trabalho foi montado para isso, para estudar este assunto e para haver uma capacitação e tudo o mais. Um dos fundamentos para que a liminar fosse indeferida foi principalmente o fato da impossibilidade de que o licenciamento fosse bem desempenhado.
Apesar de se reconhecer que em regra cabe ao órgão estadual do meio ambiente a condução do procedimento de licenciamento ambiental, ao IBAMA cabe, o IBAMA é competente supletivamente nos casos em que o órgão estadual é omisso, quando ele deixa de cumprir, deixa de se manifestar no prazo previsto no pedido de licença que ele recebeu, seja negando a licença, seja outorgando a licença, ele passa a ser considerado como omisso e aí cabe ao IBAMA, o sujeito pode submeter seu pedido de licença ambiental ao IBAMA. Da mesma forma quando o órgão ambiental estadual é inerte, quando ele não tem condições técnicas para avaliar em função da natureza da atividade. É claro que o IBAMA vai ser competente para continuar o procedimento de licenciamento ambiental também, e aí o IBAMA mesmo e não de maneira supletiva, quando a atividade que está sendo licenciada, ela for considerada de impacto, quando seu impacto for considerado de âmbito nacional.
Mas mesmo nos casos corriqueiros, nos casos que cabem ao órgão estadual do meio ambiente o IBAMA pode atuar supletivamente numa situação como essa, quando o órgão não tem condição técnica de conduzir cabe ao IBAMA, mas enfim essa foi uma das justificativas para o requerimento da liminar e até que não deixa de ser razoável.
O pior, o que deve chamar a atenção aqui e tem aplicação no caso concreto, o que deve chamar a atenção aqui foi o fundamento que a juiza deu mais ênfase para deferir a liminar e aí agente vê como os nossos magistrados não conhecem nada de ambiental ou conhecem muito pouco de direito ambiental.
Numa ação tipicamente de ação ambiental pelo licenciamento, manifestamente se deixa de aplicar um dos princípios mais importantes do direito ambiental.
A juíza diz o seguinte: “ a proibição de instalação de novas estações significaria a estagnação do serviço de celulares em todo o Estado do Rio de Janeiro”. Até aí tudo bem. “Observando que não existe consenso científico quanto à real possibilidade de dano à saúde pela exposição à radiação não ionizante, não se pode estagnar o serviço de telefonia celular no Rio de Janeiro, porque não existe consenso científico com relação aos danos.”
O que é que ela diz: não aplico o Princípio da Precaução. Só faltava dizer isto expressamente. Mas o que ela quis dizer com isso foi: diante da incerteza não posso impedir o desenvolvimento da atividade. Quando, na verdade, o nosso ordenamento jurídico já incorporou a orientação contrária – diante da incerteza devo adotar medidas preventivas e devo decidir a favor do meio ambiente.
Decidir a favor do meio ambiente não é impedir a atividade, pode ser em determinados casos, mas não é necessariamente e sempre, impedir o desenvolvimento das atividades. É permitir que a atividade seja desenvolvida com o maior cuidado possível, com controle o mais rigoroso possível.
Agente vê que esta questão da incerteza ela surge até antes, tanto que o princípio da precaução, o direito do consumidor começa a pegar emprestado o princípio da precaução e agente vê quando agente lembra do caso da talidomida um remédio que, se não me engano há uns 40 anos atrás, foi liberado para consumo e as gestantes da época consumiram a talidomida e era um remédio para enjôo e era um remédio milagroso e agente vê que diz-se né e é tanta informação na mídia que agente não sabe sobre a veracidade absoluta das informações, mas o que se divulgou, o que paira sobre esse caso é que estudos, a pesquisa não foi desenvolvida pelo tempo necessário, com o cuidado necessário, não se fixou um prazo mínimo antes da liberação desse medicamento e a conseqüência foi o nascimento de uma chamada geração de filhos da talidomida, uma geração de crianças que nasceram com defeitos, com deformidades físicas graves em função da liberação desse medicamento. Vemos que foi um caso típico de um dano que foi causado a um número indeterminado de pessoas, todos os descendentes das pessoas que consumiram aquele remédio e aí agente vê que na época não havia certeza científica sobre o dano, então não havia porque impedir a liberação daquele medicamento.
Quando o direito do consumidor começa a analisar a questão da responsabilidade civil pelos riscos do desenvolvimento, ela está começando a falar em precaução. Quando se fala em responsabilidade pelos danos em decorrência de uma atividade que na época em que ela era desenvolvida não se sabia os resultados danosos, não se conhecia o resultado danoso, pode haver responsabilização pelos danos ou não? A tendência, a corrente que tem ganhado força é a de que pode haver a responsabilização.
Tem uma dissertação de mestrado muito interessante sobre este assunto, eu não lembro o nome agora, foi publicada na coleção de teses da Renovar, uma dissertação da UERJ do Prof. Marcelo Calixto, professor da PUC também e ele analisou no âmbito do Direito do Consumidor mesmo a responsabilidade pelos riscos do desenvolvimento. Ele analisou muito o Princípio da Precaução para isso. 
Depois

Continue navegando