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Ponto 5 - fontes do direito (IV) - jurisprudencia

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Prof. GIOVANNE SCHIAVON 					e-mail: ghbs2002@yahoo.com.br
- Ponto 06 -
Fontes do direito (IV) – jurisprudência Esse material foi elaborado para servir como material de estudo complementar, possui propósitos didáticos e não pode ser comercializado de nenhuma maneira. 
Sumário. 1 Introdução. 2 Conceito de jurisprudência. 3 A jurisdição.
4 Jurisprudência como fonte de direito. 4.1 É a jurisprudência um costume judicial?
1 INTRODUÇÃO
No ponto anterior apresentou-se que, ao lado das normas oriundas do Estado (fontes estatais), o costume representa a existência de normas com origem na prática social (fonte não estatal). É sabido que o estudo das fontes do direito, em seu aspecto formal, parte de que os indivíduos vivem sob a orientação estabelecida pelo conjunto de normas apto a regular a vida em sociedade. Esse direito institucionaliza um quadro no qual a vontade e a conduta das pessoas devem se emoldurar com a pretensão de que as normas confiram certeza às condutas e paz social. Destaque-se que, o Estado de Direito contemporâneo elegeu a lei como principal fonte formal do direito por representar a síntese da vontade do povo. Se a conduta determinada não é alcançada, surge a o interesse pelo uso do mecanismo de solução de controvérsias. Ao tal mecanismo compete forçar o cumprimento das normas de sorte a manter a confiança na garantia da previsibilidade de condutas, a segurança jurídica.
Da explicação precedente tem-se que um mecanismo para solução de controvérsia destina-se a aplicar normas. Ou mais exatamente, quando os indivíduos ingressam com petições juntos aos órgãos públicos pretendem a realização de algum direito do qual se consideram detentores e que indevidamente lhes é negado. Nesse passo, para o estudo dos reflexos da afirmação de um mecanismo de solução de controvérsias para as fontes formais do direito, faz-se necessário conceituar jurisprudência (2), jurisdição e processo judicial (3) para depois se responder se a jurisprudência pode ser entendida como fonte do direito (4).
2 Conceito de Jurisprudência
Já se afirmou que o estudo do direito (e a determinação de seus conceitos fundamentais) é realizado a partir de diferentes perspectivas: a do “common law” (direito costumeiro) e a do “civil law” (direito legislado). Agora cumpre esclarecer que cada qual possui um conceito próprio do que seja jurisprudência.
Jurisprudência, no pensamento saxão, designa uma série de estudos gerais sobre o direito, que se caracteriza por não se limitar à mera descrição das normas vigentes. Esses estudos envolvem a determinação de conceitos jurídicos fundamentais, tal “direito”, “direito subjetivo”, “dever”, “validade”, ..., e noções particulares, qual “propriedade”, “responsabilidade”, ... José LAMEGO em nota à tradução da obra de Karl LARENZ. Metodologia da Ciência do Direito. 2a. ed., Lisboa, Calouste Gulbenkian,1989, p. XXI) distingue entre jurisprudência (Jurisprudenz), como equivalente à ciência do Direito e jurisprudência (Rechtssprechung), no sentido adotado no Brasil, designando a atividade decisória judicial; vide HART. Herbert L. A. Derecho y moral: Contribuciones a su análisis. Trad. Genaro R. Carrió. Buenos Aires: Depalma, 1962, p. X- XI. Importante esclarecer que para ingleses e americanos a palavra jurisprudência designa o mesmo conteúdo que os brasileiros estudam sob a denominação de teoria do direito. Contudo, tal afirmação não deve gerar espanto, haja vista que o pensamento anglo-saxão tem o costume como principal fonte do direito e esse se manifesta por meio das decisões judiciais. Assim, estudar as decisões judiciais nessa perspectiva é descobrir o direito..
Na tradição brasileira, jurisprudência é o conjunto uniforme e constante das decisões judiciais sobre casos semelhantes. Vale indicar, a sentença é a origem desse tipo de informação, entretanto, uma decisão isolada não é chamada de jurisprudência, mas de precedente. De modo mais preciso, no Brasil aponta-se a distinção entre o conceito de jurisprudência em sentido amplo e em sentido restrito.
Em sentido amplo, jurisprudência é de acordo com Ferraz Jr. o conjunto convergente ou divergente das decisões judiciais sobre casos semelhantes. Assim, em sentido amplo, usa-se a palavra jurisprudência para designar toda e qualquer decisão de juiz ou de tribunal sobre uma determinada matéria jurídica, seja jurisprudência convergente (ou uniforme), seja jurisprudência divergente (ou contraditória). Enquanto que, em sentido restrito, jurisprudência é o conjunto de decisões uniformes e constantes sobre uma determinada questão FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1994..
Uma vez conceituada a jurisprudência como o conjunto uniforme e constante de decisões judiciais sobre casos semelhantes, abre-se a oportunidade para melhorar o conceito de jurisdição.
3 A jurisdição
Para o esclarecimento do conceito de jurisdição cumpre considerar as características da atividade de solução de controvérsias.
Quando surgem controvérsias em sociedade, os cidadãos fazem uso dos aparatos estatais em busca dos seus direitos subjetivos. O aspecto característico da função judicial reside no fato de as pessoas em conflito irem a um tribunal que geralmente não se deixa influenciar pelas respectivas individualidades. Isso porque, os órgãos públicos devem tratar a todos de modo igual, só considerando os fatos juridicamente relevantes. Conhecendo a matéria segundo processos preestabelecidos e decidindo os casos dentro dos limites das regras existentes KAPLAN, Morton A.; KATZENBACH, Nicholas de B. Fundamentos políticos do direito internacional. Trad. Sigrid Faulhaber Godolphim e Waldir da Costa Godolphim. Rio de Janeiro: Zahar, 1964..
O juiz é o servidor público a quem compete receber as petições e emitir juízos. Daí dizer-se que, o juiz não está no processo em nome próprio, como pessoa física, mas na condição de órgão do Estado, sendo o agente através do qual o Estado realiza atos no processo. O próprio Estado, personificado no juiz, não se coloca em “pé de igualdade” com as partes nem atua na defesa de interesses seus. Representando o Estado, o juiz, exerce o poder de aplicar a norma abstrata ao caso concreto, em substituição às partes e no cumprimento da função do direito de conferir segurança às relações sociais. A jurisdição, a exemplo da legislação, é uma função estatal. Se a legislação consiste na atribuição de institucionalizar os comandos. A jurisdição, por sua vez, consiste na atividade estatal de solucionar controvérsias apresentadas ao Estado-juiz, através da aplicação das normas gerais e abstratas aos casos concretos.
Se, por um lado, o poder criador de normas (poder legislativo) pode abster-se de fazer modificações na lei pelo desejo de não ferir interesses e expectativas (de manter a paz social ou pelo medo das represálias políticas). O tribunal, por outro, pode até ser influenciado por uma ou todas essas considerações, mas é próprio da sua função restringir suas sentenças à compreensão das normas.
O legislador, ao criar uma norma jurídica estabelece um tipo legal que, em decorrência disso, está separado da realidade imediata da vida que lhe deu origem. Ao passo que o magistrado, ao sentenciar, não generaliza, aplica a norma ao caso individual, resolvendo o caso concreto. Pela jurisdição os juízes agem em substituição às partes, que não podem fazer justiça com as próprias mãos. Às partes, que não mais podem agir, resta a possibilidade de fazer agir, provocando o exercício da função jurisdicional.
E, como a jurisdição se exerce através do processo, pode-se conceituar este como o meio pelo qual um terceiro atua para eliminar o conflito entre partes com interesses divergentes, determinando o cumprimento de um preceito jurídico ao caso que lhe é apresentado. O processo desenvolve-se por meio de uma seqüência de atos coordenados para a declaração do direito ao caso concreto (procedimento) vd. CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. et. al. Teoria geral do processo. 9 ed.,rev. e atual., 2 tir., São Paulo, Malheiros, 1993; DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 296..
A jurisdição, exercida através do processo, acaba quando é emitido o provimento jurisdicional invocado (no processo de conhecimento, sentença passada em julgado; no de execução, provimento satisfativo do exeqüente). Essa decisão, uma vez proferida, obriga as partes envolvidas no processo e vale como norma individual e concreta. Assim, os juízes, no exercício da função judicial, encontram-se limitados na sua capacidade de decidir conflitos. Os envolvidos no processo só podem apoiar seus motivos em normas já existentes KAPLAN; KATZENBACH, op. cit., p. 25..
Tal a legislação, a jurisdição, geralmente, é exercida por via estatal. É o Estado que detém jurisdição Há pelo menos duas esferas da jurisdição estatal: a exercida por órgãos da administração (art. 5º., LV, CF/88) e a exercida por órgãos do poder judiciário (art. 92, CF/88). A Constituição Federal confere primazia à jurisdição exercida pelo judiciário (art. 5º., XXXV, CF/88). . Mas essa é uma compreensão limitada do fenômeno. Isso porque, as Constituições modernas, por influência da Revolução Francesa, consagram a idéia de que a jurisdição emana do povo Nesse sentido, art. 1o., § 1o. CF: "todo poder emana do povo e em seu nome será exercido". MAGALHÃES, José Carlos de. El Arbitraje Comercial Internacional como medio alternativo privado de solución de controversias. Disponível em http://www.aladi.org/nsfaladi/reuniones.nsf/88b2fbe035ea01a5032569fa00646028/8762bfa488a955ee032569fa006abcec?OpenDocument Consultado em 15 jul. 2002..
A complexidade da sociedade moderna e a rapidez das transformações que nela ocorrem exigem uma estrutura jurídica que permita aos julgadores certa liberdade para escolher e ajustar as premissas aos fatos. Quais são as normas aplicáveis? E em quais delas podem os casos concretos ser ajustados?
Os juízes quando decidem, fazem mais do que meramente apresentar seus motivos à luz dos padrões existentes. Estabelecem uma decisão que pode ser utilizada como argumento nos casos posteriores, uma vez que a coerência das decisões, dos vários juízes, é uma condição para a segurança jurídica. Neste sentido, o Supremo Tribunal Federal a doutrina e a jurisprudência conceberam o recurso extraordinário para a revisão de decisões judiciais conflitantes com a jurisprudência consolidada KAPLAN; KATZENBACH, op. cit., p. 25-6. Deste modo acrescentou a EC 45/04 o parágrafo 3º. ao art. 102: “No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros”. Outra hipótese de não conhecimento do recurso é encontrada na Súmula 286: “Não se conhece do recurso extraordinário fundado em divergência jurisprudencial, quando a orientação do plenário do Supremo Tribunal Federal já se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida” As súmulas são previstas no regimento interno do Tribunal no sentido de dispensar, nos arrazoados, a referência a outros julgados no mesmo sentido, permitindo ao Ministro-Relator do processo arquivar ou negar seguimento a pedido ou recurso quando contrariem a orientação predominante no tribunal. Em ambos os casos, porém, não se trata de uma vinculação a precedentes no sentido do sistema anglo-saxão (vd. FERRAZ JR., op. cit., p. 245)..
Nas palavras de Cintra, Grinover e Dinamarco:
Inexiste previsão constitucional de recurso extraordinário (STF) com fundamento específico no dissídio jurisprudencial entre tribunais do país acerca de interpretação de texto da Constituição Federal. Mas a função unificadora da interpretação da Constituição não fica afastada porque, no julgamento final das questões sobre a compatibilidade de leis ou atos normativos com ela, a sua palavra final será, em si mesma, fator de unificação (pela influência que exerce sobre a jurisprudência dos outros tribunais) CINTRA, op. cit., p. 154..
Uma vez conceituada a jurisdição como atividade estatal de decidir em substituição às partes, abre-se a oportunidade para esclarecer se a jurisprudência é no caso brasileiro, fonte do direito.
4 Jurisprudência como fonte de direito
Discute-se, neste passo, se a jurisprudência dos tribunais deve ser considerada fonte do direito.
Recorde-se que, o sistema latino (civil law) em oposição ao anglo-saxônico (common law), se caracteriza por: em primeiro lugar, pela não vinculação dos juízes inferiores aos tribunais superiores em termos de decisões; segundo, cada juiz não se vincula às decisões dos demais juízes de mesma hierarquia, podendo decidir casos semelhantes de modo diferente; terceiro, o juiz e o tribunal não se vinculam sequer às próprias decisões, podendo mudar de orientação mesmo diante de casos semelhantes; em suma, vige o princípio da independência da magistratura judicial: o juiz deve julgar segundo a lei e conforme sua consciência FERRAZ JR., op. cit., p. 245.
Por estas razões a doutrina latina costuma negar à jurisprudência o caráter de fonte, ao contrário do que sucede com a teoria do precedente no mundo anglo-saxão. Ou seja, a jurisprudência seria (ou é) fonte do direito somente quando pode ser utilizada como “máxima de decisão de um caso anterior” ASCENSÃO, José de Oliveira. O direito: introdução e teoria geral. 2 ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 524. No mesmo sentido, Tercio Sampaio Ferraz Jr. para quem a jurisprudência não expressa um comando para toda a sociedade, vinculando todos os cidadãos, mesmo aqueles que não participaram do procedimento judicial. Daí porque, na análise de Ferraz Jr. a jurisprudência, no sistema latino é, sem dúvida, “fonte” interpretativa da lei, mas não chega a ser fonte do direito (FERRAZ JR., op. cit., p. 246).
Ou mais exatamente uma fonte do direito, significa uma estrutura que contêm uma norma jurídica. Motivo pelo qual, há de se reconhecer que a Constituição Federal de 1988 em seu art. 102, § 2º dispôs que: 
As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal Com a redação determinada pela Emenda Constitucional (EC) n. 45, de 8 dez. 2004..
No mesmo sentido o art. 103-A, da Constituição Federal:
Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso." Artigo incluído pela Emenda Constitucional (EC) n. 45, de 8 dez.2004.
Desses dispositivos extraem-se duas hipóteses nas quais as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de controle de constitucionalidade abstrato podem receber o efeito de obrigatoriamente serem observadas em casos semelhantes por todos os órgãos da administração, sejam juízes ou Tribunais.
Assim a EC 45/04 expandiu a atuação do STF no sentido de conferir eficácia ao texto constitucional. Havendo descumprimento da decisão será cabível Ação de Reclamação, a ser promovida diretamente perante o STF, com o objetivo de fazer prevalecer o “imperium” inerente aos julgados proferidos por este e importará na desconstituição do ato Confira: BRASIL. STF. Rcl N. 1.722-RJ/2005, Relator Min. Celso de Mello..
Outra situação, que deve ser analisada, encontrava-se no art. 114, §2o., CF, antes de sua redação ser alterada Emenda Constitucional 45/2004, o qual permitia decisões normativas da Justiça do Trabalho, nos dissídios coletivos. A manifestação do poder normativo na Justiça do Trabalho surgia nos dissídios que envolvessem questões materiais e não questões legais. Explica-se, em um dissídio trabalhista as partes são categorias econômicas: de um lado, os empregados (por seu sindicato) e de outro os empregadores (representado por uma empresa isolada ou por seu sindicato). Havendo impasse nas negociações, a Justiça do Trabalho estava autorizada a proferir uma sentença normativa, por meio da qual solucionava o conflito, obrigando os indivíduos que, em tese, eram representados pelas partes presentes ao litígio. 
Quando o conflito era econômico se discutia valores, motivo pelo qual o conteúdo da sentença normativa é feito de regras genéricas e abstratas como se fosse uma lei. Não havia aplicação de direito ao caso concreto. Até porque não havia direito prévio a determinar um piso salarial para uma categoria, seu horário de trabalho, ... A sentença normativa possuía o prazo de aplicação máximo de quatro anos e podia ser revista em 1 ano. Não se aplica o princípio da condição mais benéfica na sentença normativa (Súm. 277 TST) exceção feita à cláusula de aumento salarial.
Com a Constituição Federal de 1988, o Tribunal Superior do Trabalho, recebeu o poder normativo com restrições, em razão de pressões da classe empresarial e do próprio Executivo. De sorte que, vinha limitando a concessão desses benefícios, com base mais em argumentos de oportunidade e conveniência do que em entendimentos restritivos quanto à atuação do poder normativo pela Justiça do Trabalho Nesse sentido consulte: GARCIA, Pedro Carlos Sampaio. Limites do poder normativo da Justiça do Trabalho. São Paulo: Complexo Jurídico Damásio de Jesus, dez. 2003. Disponível em: <www.damasio.com.br/novo/html/frame_artigos.htm>. Apenas a título de exemplo desse posicionamento do TST, cite-se a Ementa do Acórdão da SDC 0005/95, no RO do DC n. 112.888/94.3, de 6 de fevereiro de 1995, cujo Relator foi o Ministro Manoel Mendes de Freitas: “(...) não se afina com as funções específicas da Justiça do Trabalho, ainda que no exercício do Poder Normativo (art. 114 da Carta Magna), a tarefa de descobrir qual o índice correto, justo, equânime, para o reajuste dos salários dos trabalhadores. No período de indexação da economia, limitavam-se os Tribunais Trabalhistas à aplicação dos índices oficiais. A partir da Lei n. 8.030/90 e terminado o período de indexação, cabe às partes interessadas estabelecer o reajuste, mediante negociação coletiva ou valendo-se da arbitragem, sob pena de a Justiça do Trabalho estar contribuindo para a volta à indexação e para o desestímulo à composição direta. Recurso ordinário provido para afastar-se o reajuste com base no IPC”. Percebe-se nessa decisão do TST a preocupação com a indexação salarial e com a composição direta entre as partes, sendo esses os fundamentos apresentados para a limitação do exercício do poder normativo. Não havia, ainda, na jurisprudência, uma clara tomada de posição no tocante aos limites materiais da atuação normativa da Justiça do Trabalho, tendo em vista a ordem constitucional estabelecida pela Constituição de 1988..
O Supremo Tribunal Federal, no entanto, a partir de 1996, quando do julgamento do RE n. 197911/PE, pela sua 1.ª Turma, que teve como relator o Ministro Octávio Gallotti, fixou diretrizes diversas daquelas até então obedecidas nas decisões da Justiça do Trabalho. Entendeu a mais alta Corte do País ser a decisão da Justiça do Trabalho, em sua competência normativa, fonte subsidiária do direito, suscetível de operar apenas no vazio legislativo, sujeita à supremacia da lei formal. Não podia a sentença normativa invadir reserva legal específica, assegurada na própria Constituição, nem tampouco contrariar dispositivo constitucional ou legal, ainda que estabelecendo vantagens aos trabalhadores “Em que pese o inegável alargamento dessa competência normativa pela Constituição de 1988, em comparação com a regra correspondente da Carta revogada (art. 142, § 3o.), torna-se, sem dúvida, mister definir e delimitar o conteúdo da nova disposição, que jamais poderá ser alçada, no contexto de nosso regime político, ao grau de um poder irrestrito de legislar, atribuído a órgão do Judiciário. Assim, a primeira limitação, a estabelecer, há de ser resumida na singela afirmação de que não pode, a Justiça do Trabalho, produzir normas ou condições contrárias à Constituição (...). A segunda ordem de limitações ao poder normativo da Justiça do Trabalho é sugerida pelo exame da cláusula 29 (fls. 1019) e concerne às matérias reservadas à lei, pela Constituição (...). Penso, então, que é fonte formal de direito objetivo a decisão proferida pela Justiça do Trabalho, na resolução de dissídio coletivo, autônoma na sua elaboração, porém, somente suscetível de operar no vazio legislativo, como regra subsidiária ou supletiva, subordinada à supremacia da lei” (BRASIL. STF. RE 197.911/PE – 1a. T. – m.v. – trecho do voto do Ministro relator Octávio Galotti Disponível em www.stf.gov.br)..
A 2.ª Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 114836/MG, cujo relator foi o Ministro Maurício Correa, adotou posição ainda mais restritiva, pois decidiu que a competência normativa apenas podia ser exercida quando a lei expressamente permitir, sob pena de exorbitar a Justiça do Trabalho de suas funções constitucionalmente definidas, invadindo área de atuação do Poder Legislativo.
O Supremo Tribunal Federal, ao assim decidir, adotou a concepção restritiva do poder normativo da Justiça do Trabalho, entendendo ser necessário compatibilizá-lo com a necessidade de preservar a competência legislativa do Congresso Nacional. Cabe, no entanto, ressaltar que esse entendimento contraria a tese ampliativa do poder normativo, defendida pela maior parte da doutrina e por muitos dos Tribunais Regionais.
Com a EC 45/2004 o dissídio que antes poderia ser suscitado por qualquer uma das partes, agora somente com o assentimento de ambos. Tal uma arbitragem, as partes de comum acordo devem requerer o arbitramento de terceiro que atua em substituição a elas e decide nos parâmetros legais. O que resulta na afirmação da extinção do poder normativo da Justiça do Trabalho.
Por fim, com a exclusão do poder normativo da Justiça do Trabalho, as hipóteses constitucionais estudadas (art. 102, § 2o. e art. 103-A) forçam a afirmação de que no sistema jurídico brasileiro a jurisprudência deve ser tida como fonte formal do direito somente quando as decisões possuírem efeito vinculante e validade “erga omnes”.
4.1 É a jurisprudência um costume judicial?
Apesar de a jurisprudência só excepcionalmente se constituir como fonte do direito, é inegável o seu papel na instituição do direito. Aceitando como verdadeiro que o respeito à lei e a proibição da decisão contra legem são princípios do direito. Não se pode desconhecer a formação de interpretações uniformes e constantes, a chamada jurisprudência pacífica dos tribunais, que não obriga, mas de fato acaba por prevalecer. Seria a jurisprudência um tipo de costume, que difere dos costumes em geral porqueseu uso deve sempre ser justificado e a convicção da necessidade não se relaciona diretamente aos endereçados das normas, mas aos juízes que emanam as decisões?
Maria Helena Diniz afirma que sim. A jurisprudência é um costume judiciário, com características do costume popular. Se no costume popular identifica-se sua origem na consciência comum do povo, nascendo espontânea e naturalmente, como decorrência do exercício de direitos e obrigações. No costume judiciário, sua origem é identificada na obra exclusiva da reflexão de juízes e tribunais, decorrentes de decisões sobre casos litigiosos DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 293.. 
Contudo, importante lembrar que a técnica jurídica contempla que o costume, para se concretizar, além do uso continuado (repetição), exige também a convicção de que seu cumprimento é socialmente obrigatório. De sorte que, as decisões dos juízes, embora repetidas, nunca o serão em função de uma obrigação coletiva. Vale dizer, na medida em que o trabalho judicial exige decisão de acordo com a análise do juiz confrontando o caso em questão com o pretendido pelas normas jurídicas. Um juiz, nunca poderá se submeter a uma vontade externa para embasar sua convicção. Daí afirmar-se que embora essas decisões possam ser iguais não são repetições costumeiras haja vista que ambas nascem de uma vontade isolada, não coletiva.
À luz do apresentado, responda:
1 Pesquise e responda: o que são processo e jurisdição?
2 Conceitue jurisprudência e explique em que acepções a palavra jurisprudência é utilizada.
3 Diferencie jurisprudência de costume.
4 Diferencie jurisprudência de lei.
5 O que é precedente?
6 Jurisprudência é fonte do direito? Explique.
7 O quê são súmulas?
8 Pesquise e responda: o que caracteriza o direito costumeiro e o direito legislado (civil law)?
9 É a jurisprudência um costume judicial?
10 Você concorda com a adoção pelo Brasil das súmulas vinculantes?
Para saber mais:
ASCENSÃO, José de Oliveira. O direito: introdução e teoria geral. 2 ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. et. al. Teoria geral do processo. 9. ed., rev. e atual., 2. tir., São Paulo: Malheiros, 1993.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1994
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990. (Volume I: Introdução ao Direito Civil – Teoria Geral de Direito Civil)

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