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Ponto 6 - fontes do direito (V) - poder negocial

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Prof. GIOVANNE SCHIAVON					e-mail: ghbs2002@yahoo.com.br
- Ponto 06 -
Fontes do direito (V) – O poder negocial�
Sumário. 1 Introdução. 2 O poder negocial. 2.1 O contrato coletivo de trabalho. 2.2 Os tratados como fonte de direito. 2.2.1 Incorporação dos tratados ao direito interno.
1 Introdução
Com os estudos realizados até aqui, pode-se afirmar que o direito é constituído por um conjunto de normas encontradas nas fontes formais do direito. Estas contêm o regulamento para a vida social.
Há várias fontes formais e, dentre estas, a lei foi apresentada como a principal fonte formal do direito. Vale reconhecer que a lei não surge exclusivamente da sabedoria do legislador. Sua origem pode ser apontada nos conteúdos identificados como fontes materiais. De sorte que, enquanto o estudo das fontes formais do direito identifica os processos técnicos que estabelecem a norma pertencente ao direito positivo, a análise das fontes materiais dirige-se aos fundamentos sociológicos, políticos e econômicos que informam o direito.
Todavia, a lei e o legislador sozinhos não conseguem disciplinar todas as questões sociais, daí porque ao lado da lei reúnem-se o costume, a jurisprudência e o poder negocial.
2 O Poder Negocial
Sabe-se que o ordenamento jurídico é concebido como produto da vontade humana e justificado na atuação política. Desta sorte, a ordem jurídica reconhece aos indivíduos, enquanto sujeito de direitos e deveres, o poder de estipular negócios para a realização de fins lícitos, mediante um acordo de vontades. O ato resultante desse poder, o negócio jurídico, reflete a autonomia privada contemplada pela esfera pública e consiste em auto-regulamentação dos interesses particulares.
Esse poder de estipular negócios, o poder negocial, conforme os ensinamentos de Miguel Reale é a força geradora de comandos jurídicos particulares e concretos que só vinculam os participantes da relação jurídica. O contrato, o acordo de vontades celebrado por sujeitos capazes, é o negócio jurídico típico. Nesse sentido, Maria Helena Diniz é exemplo da doutrina que inclui no conceito de contrato todos os negócios resultantes de acordo de vontades, de modo a uniformizar sua feição e excluir quaisquer controvérsias. Assim, o poder negocial caracteriza-se pela existência dos seguintes elementos: a) manifestação de vontade de pessoas legitimadas a fazê-lo; b) observância aos requisitos formais e materiais (objeto lícito e possível); c) paridade entre os participantes (ou pelo menos uma devida proporção entre eles)�.
Isto posto questiona-se, o contrato (expressão do poder negocial) pode ser incluído como uma das fontes do direito?
Não há dúvida de que um contrato contenha disposições que vinculam o indivíduo que desse participa, mas por outro lado, norma jurídica é uma proposição reconhecida como fundamento de uma obrigação jurídica com caráter de generalidade e abstração. Vale destacar que, nesse sentido, o poder negocial, enquanto fonte de comandos particulares e concretos, não é uma fonte formal do direito. Todavia, há situações em que o poder de assumir direitos e obrigações (ou de dispor sobre o próprio modo de vida) resulta em legítimas normas de direito. Ou seja, excepcionalmente um ajuste entre vontades particulares pode resultar em direitos e deveres para pessoas que não participaram da sua criação vinculando condutas futuras de modo geral e abstrato. Então, o poder negocial, a exemplo da jurisdição, pode ser excepcionalmente reconhecido como fonte formal de normas jurídicas.
É importante esclarecer, que enquanto fonte subsidiária do direito, não é qualquer contrato fonte do direito, mas apenas aqueles aos quais a Constituição confere validade “erga omnes” (mesmo para aqueles que não participaram da negociação) e efeito vinculante (comanda relações futuras de modo obrigatório). Como define Tercio Sampaio Ferraz Jr., os atos resultantes da autonomia privada para serem considerados como fonte formal do direito, não abrangem os atos negociais secundum legem, que derivam sua fonte normativa da lei, nem os atos contra legem que não têm força para obrigar, mas sim os atos negociais praeter legem que, no vazio da lei, inovam e estabelecem como premissa verdadeiras regras gerais com caráter de norma�. Desta sorte, o direito brasileiro inclui como exemplos de contratos praeter legem: o contrato coletivo de trabalho (tópico 2.1) e os tratados internacionais (tópico 2.2).
2.1 O contrato coletivo de trabalho
O contrato coletivo de trabalho é disciplinado pela lei n. 8.542/92, e no art. 1o. apresenta-se que as normas e condições de trabalho serão fixadas através de contratos coletivos, convenções coletivas e acordos coletivos�.
Paulo Dourado de Gusmão conceitua o contrato coletivo de trabalho como a convenção estabelecida pelas associações representativas de empregados e de empregadores, com o fim de estabelecer normas gerais obrigatórias para os contratos individuais de trabalho. É, pois, o contrato que estabelece regras gerais a serem observadas obrigatoriamente na relação de trabalho�.
Distingue-se, portanto, do contrato individual, primeiro, por estabelecer norma geral, enquanto este, norma individual; segundo, porque vincula todas as pessoas, mesmo as que não o celebraram, mas que se incluem, profissionalmente, na categoria econômica representada pelo sindicato signatário do mesmo; e, terceiro, porque vale como norma jurídica por tempo indeterminado, enquanto o contrato individual, como lei entre as partes, por tempo determinado ou determinável pelos limites do negócio.
Nessa esteira, a convenção coletiva é um contrato, no qual os contratantes são: uma categoria de trabalhadores (profissional) e uma categoria econômica, sendo que ambas são representadas pelos seus sindicatos. As categorias profissional e econômica são entes genéricos, por isso devem sempre ser representadas pelos sindicatos�. O sindicato não é parte contraente nem contratante, ele é representante (só representa, contudo, se estiver autorizado pela assembléia da categoria).
Então, ainda com Paulo Dourado de Gusmão, o aspecto mais importante do contrato coletivo de trabalho está no fato de que suas cláusulas constituírem normas jurídicas gerais, reguladoras das condições de trabalho a serem observadas em futuros contratos individuais de trabalho. Suas cláusulas vinculam aqueles que pertencem à categoria econômica representada pelo sindicato, independentemente de se acharem ou não sindicalizados. Por esse motivo é fonte de direito positivo, uma vez que estabelece regras gerais de modo abstrato para os contratos individuais de trabalho�.
O contrato coletivo de trabalho corresponde a uma idéia de redução do papel do Estado nas relações de trabalho para que os próprios interlocutores sociais possam fixar as normas e condições de trabalho nos seus respectivos âmbitos de atuação, através dos organismos sindicais�.
Por fim, pode-se sintetizar que, o contrato coletivo de trabalho estabelece preceito geral, aplicável coercitivamente, a todos os que pertencem, ou vierem a pertencer, à categoria econômica representada pelo sindicato. Não pode, portanto, empregado ou empregador modificar as condições de trabalho nele previstas. Daí porque define-se o contrato coletivo de trabalho como um contrato normativo, ou contrato-lei.
2.2 Os tratados como fonte do direito
Outro exemplo do poder negocial é encontrado no instituto dos tratados internacionais. Sabe-se que diferente do direito nacional, o direito internacional não é produzido por um órgão central e imposto aos seus sujeitos. Se, no regime nacional, as mudanças das normas jurídicas existentes são efetivadas pelos diferentes poderes, que executam diferentes funções e empregam diferentes processos. No direito internacional, não existe este tipo de separação de poderes e os mecanismos legislativos são comparativamente primitivos e defeituosos. Teoricamente, as normas podem ser estabelecidas ou emendadas por acordo formalou por consentimento tácito baseado nas práticas passadas�.
Pode-se conceituar que “tratado designa acordo concluído entre dois ou mais sujeitos de direito internacional, destinado a produzir efeitos de direito regulados pelo direito internacional”�.
O artigo 38º do Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça� determina como fontes do direito internacional: as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, o costume internacional, os princípios gerais de direito (sob reserva da disposição do art. 59), as decisões judiciais e a doutrina (os entendimentos publicistas mais qualificados das várias nações). Este artigo é aplicado a todos os sujeitos de direito internacional e pode ser invocado por eles.
Em linhas gerais, utiliza-se as palavras: tratados, convenção, pactos, protocolo, com significado sinônimo, todos esses conceitos designam: acordos formais e escritos celebrados entre sujeitos de direito internacional, em outras palavras, qualquer acordo de vontade escrito, formal e celebrado entre Estado e/ou organizações internacionais.
Isso porque, a Convenção de Viena equipara as formas pelas quais os sujeitos de direito internacional se obrigam, de modo a garantir a executoriedade dos tratados. Assim, a doutrina, de modo geral, com base na convenção de Viena de 1969, entende que o que determina a natureza do instrumento não é sua forma, mas sim a expressão de uma vontade�.
Não importa a denominação (ou seja, se é tratado, convenção, acordo, protocolo, ...) todas as tratativas obrigam do mesmo modo. Obrigar do mesmo modo implica dizer que não há hierarquia entre eles? Segundo o sistema da Convenção de Viena aparentemente todos os acordos são interpretados do mesmo modo.
Além das normas expressas nos tratados, o direito internacional, reconhece os costumes como fonte de direito. Quando a ação (ou inação) puder ser associada por exigência dos interesses da comunidade internacional poderão ser consideradas como formulações oriundas de costumes legítimos�. 
Para segurança jurídica das relações, frente aos costumes, os tratados apresentam várias vantagens. Em primeiro lugar a linguagem explícita dos tratados, mesmo que geral, tende a limitar mais o arbítrio das autoridades nacionais que as formulações de várias autoridades num certo espaço de tempo. Com freqüência, os tratados codificam práticas passadas e como tais tornam as normas adotadas mais certas e estáveis. A codificação das regras internacionais assemelha-se, assim, ao modo de codificação das normas internas�.
O tratado, por essas razões, é o meio eficaz para a execução nacional, da lei internacional; na administração moderna a tendência é evitar que autoridades não encarregadas de funções de direção importantes, por inadvertência ou ignorância, criem complicações à política exterior. Os críticos, muitas vezes por focalizarem exclusivamente as situações de crise, ignoram a extensão com que os acordos internacionais são fielmente executados. O cumprimento dos acordos é conseguido através do simples ato de dar-lhes (pela legislação e regulamentos executivos, ou por cláusulas que os tornam logo eficazes) a mesma categoria da legislação nacional.
Em resultado disso, os juízes e administradores nacionais passam a obedecer naturalmente às disposições do tratado e só uma decisão política importante poderão variar os seus termos. O tratado é o meio para atingir-se objetivos visados em assuntos não limitados nem regulados previamente por regras internacionais, e para formar expressamente uma opinião quando o direito “costumeiro” é contraditório, levantando questões sérias de interpretação das regras executivas numa determinada situação�.
2.2.1 Incorporação dos tratados ao direito interno
Pode-se afirmar a existência de pelo menos duas ordens jurídicas distintas: uma nacional e outra internacional. Sua distinção estaria em dois aspectos: primeiro, no que respeita à fonte de validade das normas; segundo quanto à distinção entre seus destinatários.
Quanto à origem da sua validade, no caso da norma nacional, esta é encontrada na Constituição. Do ponto de vista da norma internacional, norma válida é a produzida conforme a manifestação de vontades expressa pelo acordo de vontade entre duas soberanias.
No que se refere à distinção entre os destinatários, na ordem nacional, essa norma é feita por aquele órgão que, por lei ou Constituição, tem a atribuição de exercer poder normativo e por meio de qual procedimento vai estabelecer a disciplina das relações jurídicas no âmbito daquela soberania. No ângulo da norma internacional, são os próprios destinatários que farão a norma, são eles próprios, nos tratados, que vão elaborar e produzir a norma que vai reger as suas relações na qualidade sujeitos de Direito Internacional.
Embora a norma de direito internacional seja elaborada para reger a relação entre entes soberanos, pode acontecer que da aplicação dessa, resulte efeitos para os indivíduos residentes nesse território. Daí surge a questão qual é a relação entre direito nacional e internacional?
As normas externas para vigerem na ordem pátria dependem de ato complexo, resultando da conjugação de vontades do Parlamento e do Poder Executivo. A Constituição Federal em seu art. 84, VIII, preceitua a competência exclusiva do Presidente da República para celebrar tratados, cabendo ao Congresso Nacional (art. 49, I) a prerrogativa de aprová-los ou rejeitá-los. Na hipótese positiva (decreto legislativo) o instrumento retorna ao Executivo para ratificação. É nesse estágio que, em regra, os Estados se comunicam, adquirindo o compromisso firmado eficácia internacional�.
Esses atos, segundo o entendimento jurisprudencial, não são porém suficientes para concluir a recepção plena, que considera ainda imprescindível a promulgação mediante decreto emanado pelo Poder Executivo, sem que haja qualquer referência constitucional, ou de Direito Internacional Privado, a sustentar esta interpretação�.
A problemática dos instrumentos internacionais na incorporação ao ordenamento nacional não se esgota, porém, com o procedimento de recepção. A estabilidade dos tratados depois de sua vigência interna fica ameaçada devido à questão da hierarquia não definida expressamente na Constituição, para os tratados em geral, muito embora a doutrina internacionalista, dualista, ou monista, por maciça maioria, diante do silencia acima referido, utilizando-se de princípios de DIP, reconheça primazia aos tratados internacionais diante do ordenamento infraconstitucional. Justificam sua posição em diversas colocações, dentre as quais no fato (que não pode ser ignorado) de que a vigência interna do compromisso firmado depende da externa, e não pode ser violada – pacta sunt servanda. Perante as regras ditadas pelo Direito Internacional Privado os tratados têm forma própria de derrogação (denúncia, renúncia unilateral e impossibilidade de execução)�.
A incorporação da norma internacional ao direito interno, merece a seguinte reflexão: seu problema central radica na operacionalidade interna do direito internacional. Vale dizer, quando, e em que condições, os tribunais nacionais de um Estado devem aplicar o direito internacional. Assim questiona-se o direito internacional e o direito interno de cada Estado são duas ordens jurídicas distintas ou são aspectos do mesmo direito? Se são duas ordens distintas, emanando de fontes diversas, com estruturas diferentes, haveria relação entre elas? Poderia haver conflito entre suas normas? Por outro lado, se o direito é um só, mas com dois aspectos, qual deles teria prevalência: o interno ou o internacional?�
No que diz respeito entre o tratado internacional e norma interna (infraconstitucional), a doutrina é amplamente majoritária no sentido de aplicar prioritariamente o direito internacional. Desta forma, o tratado prevalece sobre o direito nacional, alterando a lei anterior, mas não pode ser alterado por lei superveniente.
Em 1977, o Supremo Tribunal Federal julgou, em plenário, o Recurso Extraordinárionº 80.004�. Ficou definido, na ocasião, que na falta de uma norma constitucional que dê prevalência ao tratado internacional sobre a lei doméstica, em qualquer hipótese, o que juízes e tribunais estão obrigados a fazer é valorizar a última palavra do Congresso Nacional. Dizia o Supremo Tribunal Federal na ocasião: 
Nós não temos, na Constituição do Brasil, aquela norma que existe na Constituição da França, da Alemanha, dos Países Baixos, da Venezuela, do Peru, de tantos outros países, dizendo que o tratado prevalece em qualquer hipótese. E se não a temos na Constituição, o Tribunal não pode inventá-la.
Em outro julgado, o STF manteve que:
No sistema jurídico brasileiro, os tratados ou convenções internacionais estão hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da Constituição da República. Em conseqüência, nenhum valor jurídico terão os tratados internacionais, que, incorporados ao sistema de direito positivo interno, transgredirem, formal ou materialmente, o texto da Carta Política. O exercício do treaty-making power, pelo Estado brasileiro — não obstante o polêmico art. 46 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (ainda em curso de tramitação perante o Congresso Nacional) —, está sujeito à necessária observância das limitações jurídicas impostas pelo texto constitucional. Controle de constitucionalidade de tratados internacionais no sistema jurídico brasileiro. O Poder Judiciário - fundado na supremacia da Constituição da República — dispõe de competência, para, quer em sede de fiscalização abstrata, quer no âmbito do controle difuso, efetuar o exame de constitucionalidade dos tratados ou convenções internacionais já incorporados ao sistema de direito positivo interno. Doutrina e Jurisprudência. Paridade normativa entre atos internacionais e normas infraconstitucionais de direito interno. — Os tratados ou convenções internacionais, uma vez regularmente incorporados ao direito interno, situam-se, no sistema jurídico brasileiro, nos mesmos planos de validade, de eficácia e de autoridade em que se posicionam as leis ordinárias, havendo, em conseqüência, entre estas e os atos de direito internacional público, mera relação de paridade normativa. Precedentes". (ADI 1.480-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 18/05/01)
A orientação do Supremo Tribunal Federal é a de que o tratado é incorporado ao direito interno no mesmo nível hierárquico da lei ordinária, sujeitando-se ao princípio consolidado: em caso de conflito, não se colocando a questão em termos de regra geral e regra particular, prevalece a norma posterior sobre a anterior. E adianta: existem apenas duas ordens de exceções a essa equiparação entre tratado e lei ordinária na jurisprudência do Supremo. A primeira dá-se em matéria fiscal, onde o Código Tributário Nacional (art. 98), como visto, é expresso quanto à prevalência da norma internacional. A segunda exceção colhe os casos de extradição, onde se considera que a lei interna (Lei 6.815 de 19.8.1980), que é regra geral, cede vez ao tratado, que é regra especial�.
Se a palavra do Congresso é probatória do tratado, nenhum problema existe: todo diploma anterior, de produção doméstica, está, com isso, revogado. Se, entretanto, o quadro cronológico inverte-se, se a última palavra do Congresso Nacional manifestou-se na edição de uma lei interna, conflitante com um tratado anterior, em pleno vigor, vinculando a República, cria-se, inevitavelmente, uma situação traumática: os poderes políticos do Estado, esquecidos do compromisso internacional, discutiram, votaram, sancionaram uma norma interna incompatível com aquele dever jurídico anterior.
Assim, o sistema jurídico brasileiro não admite, em caso de conflito de norma nacional de fonte legislativa e de fonte convencional, seja violada a primeira por força da última, no mesmo sentido, em caso de conflito entre norma nacional legislativa e norma internacional deve prevalecer a norma nacional. Se acontecer de se aplicar a lei, em prejuízo do tratado, o Estado deve estar ciente de que, com essa ilicitude, virá a ser responsabilizado internacionalmente.
Na análise de Fraga melhor denunciar o acordo firmado que violá-lo, se sua vigência não interessar mais ao País. O princípio superior pacta sunt servanda (os pactos devem ser cumpridos), base de todo regulamento convencional, e que informa também, o direito brasileiro deve ser respeitado�.
À luz do que foi apresentado, responda:
1.- O que é poder negocial?
2.- O poder negocial é uma fonte formal do direito? Se afirmativa a sua resposta, explique se é uma fonte reconhecida ou fonte delegada.
3.- Explique qual espécie de contrato é fonte formal do direito.
4.- Por que se afirmou que o Contrato Coletivo de Trabalho é fonte formal do direito?
5.- O que é tratado internacional?
6.- O que sustentam as teorias do monismo e do dualismo jurídico, sobre a relação entre o direito internacional e o nacional?
7.- Qual é a posição do Supremo Tribunal Federal sobre a posição hierárquica da norma internacional frente ao direito nacional?
Para saber mais:
ASCENSÃO, José de Oliveira. O direito: introdução e teoria geral. 2 ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Apres. Tercio Sampaio Ferraz Jr. Trad. Maria Celeste C. J. Santos. Rev. Cláudio de Cicco. 6 ed. Brasília: UnB, 1995.
CAMINHA, Maria do Carmo Puccini. Os tratados internacionais tributários e a eficácia de suas normas no ordenamento jurídico brasileiro. Revista Tributária e de Finanças Públicas [São Paulo: RT], ano. 9, n. 41, p. 29-53, nov./dez. 2001.
CARRIQUE, Martín. Los derechos humanos y su aplicación en el ámbito interno. In. Anuario de derecho constitucional latinoamericano: Edición 1999. Buenos Aires: Konrad–Adenauer–Stiftung A.C. / Ciedla, 1999. p. 401-49.
DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Público. Trad. Vítor Marques Coelho. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1999.
DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
FERRARA, Francesco. Interpretação e aplicação das leis. Trad. Manuel A. Domingues de Andrade. 3 ed. Coimbra: Armênio Amado, 1978.
FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
FRAGA, Mirtô. O conflito entre tratado internacional e norma de direito interno. Rio de Janeiro: Forense, 1998.
GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 31 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
KAPLAN, Morton A.; KATZENBACH, Nicholas de B. Fundamentos políticos do direito internacional. Trad. Sigrid Faulhaber Godolphim e Waldir da Costa Godolphim. Rio de Janeiro: Zahar, 1964.
MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Tratados internacionais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990. (Volume I: Introdução ao Direito Civil – Teoria Geral de Direito Civil)
REALE, Miguel. Lições preliminares ao estudo do direito. São Paulo: Saraiva, 1991.
� Este material foi elaborado para servir como material de estudo complementar, possui propósitos didáticos e não pode ser comercializado de nenhuma maneira. 
� REALE, Miguel. Lições preliminares ao estudo do direito. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 180; DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. São Paulo: Saraiva, p. 320-1.
� FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 246. Sobre o conceito de autonomia privada vd. AMARAL NETO, Francisco dos Santos. Autonomia privada. CJF - Conselho da Justiça Federal. Disponível em: � HYPERLINK "http://www.cjf.gov.br/revista/numero9/artigo5.htm" ��http://www.cjf.gov.br/revista/numero9/artigo5.htm� Consultado em: 5 maio 2001.
� vd. art. 7o., XXVI, CF/88; e, art. 611, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
� GUSMÃO, Paulo Douradode. Introdução ao estudo do direito. 31 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 125-6.
� vd. art. 8.º, VI, CF/88.
� GUSMÃO, op. cit., p. 126.
� GUSMÃO, op. cit., p. 126; NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 21 ed., São Paulo: Ltr, 1994, p. 82.
� KAPLAN, Morton A.; KATZENBACH, Nicholas de B. Fundamentos políticos do direito internacional. Trad. Sigrid Faulhaber Godolphim e Waldir da Costa Godolphim. Rio de Janeiro: Zahar, 1964, p. 33-4.
� DINH, Nguyen Quoc; DAILLIER, Patrick; PELLET, Alain. Direito Internacional Público. Trad. Vítor Marques Coelho. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1999.
� home-page do tribunal internacional de justiça em: http://www.icj-cij.org
� Vale indicar que a Convenção de Viena sobre o direito dos tratados, elaborada pela Comissão de Direito Internacional da Organização das Nações Unidas encontra-se, desde outubro de 1995, pronta para ser incluída na ordem do dia do Congresso Nacional não tendo sido apreciada até o momento. Sobre a Convenção de Viena, vd. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Tratados internacionais: com comentários à Convenção de Viena. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2001.
� KAPLAN; KATZENBACH, op. cit., p. 34.
� Ibid., p. 35-6.
� Ibid., p. 36.
� BRASIL. STF. ADIn 1.480 – DF, de 4 set. 1997. Rel. Min. Celso Melo. Disponível em www.stf.gov.br.
� CAMINHA, Maria do Carmo Puccini. Os tratados internacionais tributários e a eficácia de suas normas no ordenamento jurídico brasileiro. Revista Tributária e de Finanças Públicas [São Paulo: RT], ano 9, n. 41, nov./dez. 2001, p. 32.
� O art. 27 da Convenção de Viena de 1969, sobre o Direito dos Tratados Internacionais, confirmou a prática da jurisprudência internacional e nacional, de que “uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar a não-execução de um tratado”, apud CAMINHA, Maria do Carmo Puccini. Os tratados internacionais tributários e a eficácia de suas normas no ordenamento jurídico brasileiro. Revista Tributária e de Finanças Públicas [São Paulo: RT], ano 9, n. 41, nov./dez. 2001, p. 32.
� FRAGA, Mirtô. O conflito entre tratado internacional e norma de direito interno. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 3.
� BRASIL. STF. RE 80.004 - SE de 01 jun 1977 . Rel. Min. Xavier de Albuquerque. Disponível em www.stf.gov.br.
� Ibid.
� FRAGA, Mirtô. O conflito entre tratado internacional e norma de direito interno. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 114.

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