Buscar

CCJ0041-WL-D-AMMA-16-Revisão Criminal

Prévia do material em texto

AULA Nº 16 – REVISÃO CRIMINAL
PROCESSO PENAL II
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
Revisão Criminal - Natureza jurídica, objeto, condições 
para o exercício, formas de revisão, competência para 
julgamento, Revisão de decisão não condenatória, 
Efeitos da revisão criminal, Revisão e sentença penal 
estrangeira, Revisão criminal e a soberania dos 
veredictos no tribunal do júri.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
REVISÃO CRIMINAL
Caso concreto da semana 14
Aristóteles foi condenado à pena de 9 anos de reclusão pela 
prática do crime de estupro (artigo 213, caput, CP). Após o 
trânsito em julgado da sentença condenatória, Aristóteles, 
através de seu advogado, ajuíza pedido de revisão criminal 
da sentença que lhe fora desfavorável, sustentando vício 
processual insanável consistente na ausência da intimação 
de seu então patrono para a apresentação de resposta 
preliminar obrigatória (art. 396, CPP). O Tribunal de Justiça 
competente acolhe o pleito de revisão criminal, anulando o 
referido processo. Nesta hipótese, pergunta-se: 
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
Seria juridicamente possível que, após a anulação, por meio 
de revisão criminal, do primeiro julgamento de Aristóteles, 
seja proferida, em um segundo
julgamento pelo juízo de primeiro grau, sentença 
condenatória com imposição de sanção penal mais gravosa 
do que aquela que lhe fora anteriormente imposta? Justifique 
a sua resposta:
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
Exercício suplementar da semana 14
Assinale a opção correta em relação ao instituto da revisão 
criminal.
a) O pleito de revisão criminal pode constituir mera reiteração 
de recurso de apelação anteriormente interposto pelo 
condenado;
b) Não cabe revisão criminal para rever sentença proferida 
contra pessoa que, em momento posterior, se sabe não ter 
cometido o crime objeto da condenação. É parte ilegítima 
para ajuizá-la a pessoa que tem seu nome lançado como réu 
na sentença condenatória proferida com erro na identificação 
do agente do delito;
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
c) Aplicando-se o princípio da fungibilidade entre o habeas 
corpus e a revisão criminal, é possível desconstituir decisão 
transitada em julgado por meio de habeas corpus, se 
verificada a existência de flagrante ilegalidade;
d) O ajuizamento de revisão criminal obsta a execução da 
sentença condenatória transitada em julgado, tendo em vista 
que o pedido revisional possui efeito suspensivo.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
1- Introdução
O conflito de interesses estabelecido no processo penal, entre 
o direito de punir e o direito de liberdade, é julgado no 
momento da sentença, o que inicialmente pacifica a situação.
Inconformada, qualquer das partes pode interpor os recursos 
cabíveis, a fim de propiciar que outros julgadores apreciem o 
conflito, e não são poucos os recursos no processo penal.
Entretanto, em determinado momento ocorre o trânsito em 
julgado, seja porque as partes deixam de recorrer, seja 
porque são esgotados os recursos. Neste momento, forma-se 
a coisa julgada. 
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
Em se tratando de sentença absolutória, o processo penal 
brasileiro não admite qualquer revisão, ainda que, após o 
trânsito em julgado, se descubram provas cabais da culpa do 
réu, revelando-se a absolvição absolutamente injusta. Por 
isso, afirma-se que a absolvição produz coisa soberanamente 
julgada.
Mas, no direito brasileiro, em se tratando de sentença 
condenatória, não se pode falar em coisa soberanamente 
julgada. É que, em algumas hipóteses excepcionais, é 
possível rever a condenação. Nestes casos, o valor justiça 
deve prevalecer em detrimento à segurança jurídica. 
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
2- Natureza jurídica
A revisão criminal está prevista nos arts. 621 a 631 do CPP.
Curiosamente, os arts. 621 a 631 do CPP estão situados no 
CPP no título dos “recursos”, o que traz a ideia de que a 
revisão criminal tem natureza jurídica de recurso. Entretanto, 
a sua verdadeira natureza jurídica é de ação autônoma de 
impugnação.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
3- Hipóteses de cabimento
O art. 621 do CPP prevê quatro hipóteses que desafiam a 
revisão criminal.
(a) quando a sentença condenatória for contrária ao texto 
expresso da lei penal (art. 621, I, 1ª parte, do CPP): 
Convém destacar que a expressão “lei penal”, em verdade, 
compreende também a lei processual penal. 
(b) quando a sentença condenatória for contrária à evidência 
dos autos (art. 621, I, 2ª parte, do CPP):
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
(c) quando a sentença condenatória se fundar em 
depoimentos, exames ou documentos comprovadamente 
falsos (art. 621, II, do CPP):
A petição inicial da ação de revisão deve estar instruída com 
a comprovação da falsidade. Não cabe a produção da prova 
da falsidade no âmbito da própria revisão. Mas é fundamental 
que a condenação tenha sido proferida com base 
essencialmente naquela prova. 
(d) quando, após a sentença, se descobrirem novas provas 
de inocência do acusado ou circunstância que determine ou 
autorize diminuição especial da penal (art. 621, III, do CPP):
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
A expressão “novas provas” deve ser estudada com cuidado. 
Ela abrange as provas que já existiam na época da sentença, 
mas que não foram levadas aos autos, e abrange também as 
provas que surgiram após a sentença. 
Cabe destacar que a prova nova deve instruir a revisão 
criminal, ou seja, a revisão não se destina à produção da 
prova. Logo, no caso de prova testemunhal, a parte 
interessada deve ajuizar a ação cautelar de justificação, 
aplicando por analogia o CPC, para produzir o depoimento 
com observância do contraditório, para com ele instruir a ação 
de revisão.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
OBSERVAÇÕES
(a) sentença absolutória imprópria: 
Embora o art. 621 do CPP apenas se refira à sentença 
condenatória, a doutrina e a jurisprudência admitem a revisão 
criminal no caso de sentença absolutória imprópria.
É que, neste caso, embora tecnicamente se julgue 
improcedente a pretensão punitiva estatal, é imposta ao réu a 
aplicação de uma medida de segurança (internação em 
hospital de custódia e tratamento ambulatorial).
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
(b) sentença condenatória no tribunal do júri:
Evidentemente, é possível ajuizar a ação de revisão criminal 
contra a sentença condenatória proferida pelo tribunal do júri. 
A revisão é julgada pelo tribunal. A questão é: a soberania dos 
veredictos pode ser desrespeitada pela decisão dos 
desembargadores?
O entendimento majoritário é no sentido de que o tribunal, 
julgando a revisão, pode transformar a condenação proferida 
pelo tribunal do júri em absolvição. Argumenta-se o seguinte: 
a soberania dos veredictos é uma garantia que existe para 
favorecer o réu; se a soberania provocou a condenação, nada 
impede que o réu seja favorecido com o julgamento da 
revisão.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
O entendimento minoritário entende que, julgando procedente 
a revisão, o tribunal deve apenas determinar a realização de 
novo julgamento pelo tribunal do júri, em respeito à soberania 
dos veredictos. Cabe lembrar isso ocorre quando o réu é 
condenado e a defesa interpõe apelação com base no art. 
593, III, d, do CPP. Neste caso, se der provimento à apelação, 
o tribunal não transforma a condenação em absolvição, mas 
apenas determina a realização de nova sessão plenária.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
3- Legitimidade
O art. 623 do CPP autoriza que o próprio réu ajuíze a ação de 
revisão criminal, sem a necessidade de constituir advogado, a 
exemplo do que ocorre no caso de habeas corpus. Neste 
caso, a doutrina e a jurisprudência majoritárias também 
dispensam o advogado.
Entretanto, a minoria entende que o art. 623 do CPP nãofoi 
recepcionado pelo art. 133 da CF.
Discute-se a possibilidade do Ministério Público ajuizar a ação 
de revisão criminal. A maioria afasta tal possibilidade, 
afirmando que inexiste previsão na lei expressa neste sentido.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
Por outro lado, a minoria afirmar que não interessa ao MP 
uma sentença nula ou injusta, destacando que o art. 654 do 
CPP autoriza a impetração de habeas corpus pelo Ministério 
Público, de modo que nada obsta que ajuíze a revisão.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
4- Ônus da prova
Como é sabido, em razão do princípio da inocência, previsto 
no art. 5º, LVII, da CF, cabe à acusação comprovar a prática 
do crime que é imputado ao réu. Havendo dúvida, há de 
prevalecer o princípio in dubio pro reo.
Entretanto, o princípio da inocência afirma que ninguém deve 
ser considerado culpado antes do trânsito em julgado da 
sentença condenatória. Por isso, faz sentido a aplicação do 
princípio in dubio pro reo.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
Mas, diante de uma sentença condenatória transitada em 
julgado, não se pode presumir a inocência do acusado, a qual 
já foi desfeita pela sentença que o condenou 
irrecorrivelmente.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
5- Consequências da revisão
O art. 626 do CPP esclarece que a revisão criminal pode 
ensejar a alteração da classificação da infração, a absolvição 
do réu, a modificação da pena ou a anulação do processo. 
Registre-se que qualquer das medidas não poderá ser 
prejudicial ao réu.
Deve ser utilizado o mesmo raciocínio aplicado na teoria geral 
dos recursos, no que se refere à vedação à reformatio in 
pejus, a qual também se estende, ao menos para a maioria, 
no caso de anulação da sentença, aplicando-se a chamada 
vedação à reformatio in pejus indireta.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
6- Indenização
O art. 630 do CPP autoriza que o tribunal, julgando 
procedente a revisão, reconheça o direito do réu ser 
indenizado.
Houve um erro estatal que ensejou a condenação do réu, o 
qual depois foi reparado, diminuindo-se as suas 
consequências. Mas houve um erro e, portanto, o estado 
deve indenizar o prejudicado. Ressalte-se que o art. 5º, LXXV, 
da CF, prevê expressamente o direito à indenização no caso 
de erro judiciário.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
O art. 630, § 2º, do CPP, prevê dois casos em que se isenta o 
estado do dever de indenizar. 
No inciso II há uma verdadeira aberração. Considera-se que o 
estado, que proferiu a sentença nula ou injusta, não deve ser 
responsabilizado porque a ação foi deflagrada pela vítima. 
Ora, foi a vítima que proferiu a sentença? É claro que a 
responsabilidade é do estado. O entendimento majoritário 
afirma que o art. 630, § 2º, b, do CPP, não foi recepcionado 
pelo art. 5º, LXXV, da CF.
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
7- Competência
A competência para o julgamento da revisão criminal é fixada 
de acordo com a sentença ou o acórdão cuja revisão se 
pretende.
Se o acórdão a ser revisto tiver sido proferido pelo STF, 
caberá ao próprio STF julgar a ação de revisão criminal (art. 
102, I, j, da CF).
Se o acórdão ser revisto tiver sido proferido pelo STJ, caberá 
ao próprio STJ julgar a ação de revisão criminal (art. 105, I, e, 
da CF).
PROCESSO PENAL II
Aula Nº 16
Se a revisão buscar alterar a sentença de juiz federal ou o 
acórdão do TRF, a competência para julgá-la será do TRF 
(art. 108, I, b, da CF).
Se a revisão buscar alterar a sentença de juiz de direito ou o 
acórdão do TJ, a competência para julgá-lo será do TJ (art. 
125, § 1º, da CF).

Continue navegando