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FACULDADE NACIONAL DE DIREITO
LEONARDO PESTANA
NÃO FALE DO CÓDIGO DE HAMURÁBI!
Resenha crítica
RIO DE JANEIRO
2017
Introdução
A presente resenha busca apresentar os principais aspectos do texto “Não fale do código de Hamurábi” de Luciano de Oliveira, que possui como principais tópicos os erros cometidos em teses e dissertações de pós graduandos em direito, que buscam conduzir o tema tratado em seus estudos a partir de uma visão sociológica e histórica. Diante disso, o autor visa explicitar sua críticas e fazer sugestões aos pesquisadores, tratando também do seu ponto de vista sobre o que seria uma pesquisa sócio-jurídica, pontos que também serão tratados nesse trabalho.
Além disso, o estudo apresentado visa construir críticas ao texto em análise sob a perspectiva do direito perante a sociedade, levando em consideração os conceitos passados em aula.
O texto
O trabalho é produzido pelo autor Luciano de Oliveira, que é professor de sociologia-jurídica e examinador de dissertações e teses no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Pernambuco. Nesse sentido, usando sua experiência na área, elaborou esse texto como um meio de refletir sobre a relevância da sociologia jurídica para alunos de doutorado e mestrado.
Para tal, o escritor levou em conta os diversos trabalho já analisados em sua vida, construindo um texto bastante pessoal que exprime suas opiniões em forma de recomendações ao público para o qual se dirige. 
Num primeiro momento, são explicitados os problemas presentes na produção acadêmica nos cursos de doutorado e mestrado em direito, levando em conta que os alunos da pós graduação possuem o objetivo (e o dever) de construírem teses e dissertações acerca de um determinado tema. Diante disso, busca-se examinar também as possíveis contribuições sociológicas para o texto.
A sociologia, aplicada num contexto jurídico, poderia, como explicitado por Eliane Junqueira, possibilitar a confecção de uma pesquisa jurídica, mas “que trabalha não um direito definido juridicamente, mas redefinido pelas ciências sociais, através de pressupostos epistemológicos e teóricos destas” (JUNQUEIRA, 1993:4). Ou seja, enquanto uma pesquisa meramente jurídica abordaria o ordenamento em sua visão doutrinária, pragmática; a sociologia poderia ampliar o campo de visão do pesquisador de modo a proporcionar um olhar “de fora”, pautado também na sociedade e não na simples dogmática jurídica.
Para que a pesquisa seja bem sucedida, seu autor deve sempre levar em conta os seus principais pilares: a objetividade e a neutralidade axiológica. No entanto, esses dois princípios não impedem que o pesquisador tenha um ponto de vista a defender, mas exigem que o mesmo aborde todos os aspectos do tema, incluindo aqueles que contradigam seu ponto de vista, de modo a buscar sempre, na medida do possível, a verdade e a neutralidade.
Luciano de Oliveira explica também que, na realidade, “a maior parte das dissertações ou teses não prima pela pureza”, em outras palavras, significa que, por mais que o tema seja estritamente jurídico, muitas vezes se foge desse foco de forma a abranger (ou pelo menos tentar) uma visão sociológica. Essa fuga decorre da tentativa dos juristas de escaparem da produção de um “saber alienado”, ou seja, distante da realidade. Desse modo, os pesquisadores procuram, em vão grande parte das vezes, colocar uma pitada de contexto social em seus estudos, o que na realidade acaba aproximando seu discurso do senso comum e não da sociologia.
Em seguida, são apresentados os principais erros cometidos pelos pós graduandos em seus trabalhos. Estes são gerados, segundo o professor João Maurício Adeodato por:
 Ignorância sobre como pesquisar, conjugada à falta de tempo para esse tipo de atividade; ampliação exagerada dos temas; escassas referências à jurisprudência e a casos práticos, apesar do contato constante com ambos por força do próprio ofício; uso de manuais e de livros de doutrina, em detrimento de artigos monográficos, etc. (ADEODATO, 1999: 144-146).
Seguindo esse raciocínio, Luciano de Oliveira explicita os principais erros que precisam de atenção total por parte de quem pesquisa. Primeiramente, ele explica o que chama de “manualismo”, que seria o grande e abusivo uso de manuais e livros de doutrina, que são utilizados extensivamente nas pesquisas. Esse uso acaba sendo uma redundância, já que o autor do estudo se aproveita de conceitos e ideias básicas do direito e, por isso, amplamente conhecidas pelos leitores da tese.
Fala-se também sobre o que o professor chama de “reverencialismo”. Essa ideia corresponde à constante apelação dos estudiosos aos chamados “argumentos de autoridade”, em que citam e reverenciam outros autores de modo a tentar dar força às suas ideias. No entanto, seria muito mais proveitoso se utilizar de dados empíricos para demonstrar suas ideias, o que daria muito mais credibilidade à análise.
Além disso, há a questão crucial da falta de tempo dos pós graduandos. Isso decorre do fato de que, diferentemente do que ocorre em outros cursos, os já graduados no curso de direito dispõem de um amplo mercado a seu alcance, de forma que a grande maioria deles concilia estudos da pós graduação com o trabalho. Essa falta de tempo, aliada à ampliação exagerada dos temas, gera os problemas antes aqui citados, já que é muito mais simples recorrer a um manual jurídico, a citações ao acaso, ou até a outras áreas para encontrar informação desejada do que se embrenhar em uma aprofundada pesquisa.
Seguindo na esteira dessas críticas, pode-se observar também a constante presença de uma impureza metodológica nos trabalhos. Isso se refere ao já mencionado aspecto da fuga ao foco jurídico em busca de uma visão sociológica (ou histórica, ou filosófica, etc) sobre o tema tratado. No entanto, essa incursão em outras áreas acaba trazendo problemas ao texto, no sentido de que o jurista, que não está exatamente preparado para fazer uma análise histórica ou sociológica – por exemplo – termina por recorrer a lugares comuns ou até a criar uma certa confusão no texto, fazendo diversas referências que muitas vezes nem possuem relação entre si. Decorrente disso, é a frequente referência ao Código de Hamurábi em pesquisas jurídicas, o que originou o título do texto de Luciano Oliveira.
Na realidade o que o referido professor defende, não é um completo esquecimento dos fatores históricos e sociais que rodeiam o pensamento jurídico, mas sim uma aplicação desses conhecimentos de modo cuidadoso, buscando-se evitar essa “confusão epistemológica”.
No último tópico de seu texto, Luciano de Oliveira discorre sobre a pesquisa sócio jurídica. Ele afirma, baseando-se em num texto de Maria Guadalupe da Fonseca, que esse tipo de estudo poderia dar uma contribuição no sentido de que as pesquisas jurídicas poderiam desenvolver ideias muitos mais “incisivas e convincentes” se se baseassem, além da jurisprudência e dos manuais, em dados concreto e empíricos. No entanto, a pesquisa sócio jurídica não incidiria completamente no campo da sociologia, na realidade essa disciplina aparecia como uma espécie de ciência auxiliar, ampliando os horizontes jurídicos.
Por fim, o autor faz recomendações para solucionar os erros debatidos ao longo do texto. Primeiramente, se poderia restringir mais o objeto da pesquisa, definindo-o como o problema a ser averiguado, e buscando solucioná-lo a partir de uma perspectiva jurídica, sem adentrar muito a sociologia ou qualquer outra área do conhecimento. Em segundo lugar, deve-se verificar todos os aspectos jurídicos que norteiam o tema pesquisado. Logo depois, é recomendável iniciar a pesquisa stricto sensu, percorrendo todo o foco do estudo em seus limites. Em último lugar, pode-se buscar novas soluções e possíveis alterações para que se resolva o problema averiguado.
Conclusão crítica
Levando em consideração toda a experiência de Luciano de Oliveira, pode-se concluir que de fato as teses e dissertações produzidas pelos pós graduandosapresentam alguns problemas que podem reduzir sua qualidade.
Por outro lado, é necessário ter em mente que a ciência jurídica não pode ser vista por uma perspectiva meramente legalista. Isso decorre do fato de que a disciplina é um produto da sociedade, da realidade social, que é formada por diversos ângulos de visão diferentes. Dessa forma, uma análise limitada ao ordenamento não poderia formar resultados verdadeiros, já que não demonstraria a real funcionalidade do direito.
Ainda na esteira desse raciocínio, pode-se afirmar que um estudo meramente jurídico reduziria todo o seu arcabouço a algo homogêneo. Em outras palavras, é essencial que se leve em conta todo o contexto histórico, social e espacial que rodeiam a construção do direito. No entanto, Luciano de Oliveira parece querer desestimular esse tipo de análise ao afirmar que na maioria das vezes o que se faz é recorrer ao senso comum.
De certo, é difícil fugir de ideias e conceitos tão firmadas no ideário da sociedade, mas mesmo que essa fuga não seja possível, deve-se sempre analisar o direito levando em consideração sua construção e aplicação social. Então, ainda que a maioria dos pós-graduandos não tenha formação ou preparo para fazer um estudo que percorre aspectos sociológicos ou históricos, estes não podem ser esquecidos, já que são os pilares do ordenamento e essenciais para que se faça a problematização do tema. Dessa forma, para que não se construa o tão abominado “saber alienado”, deve-se sempre – obviamente levando em conta a conexão com o trabalho em formação – buscar uma assimilação entre o tema jurídico estudado e sua aplicação na sociedade e formação histórica.
“Não fale do código de Hamurábi” traz ainda sugestões feitas por seu autor sobre como construir corretamente uma tese ou dissertação. Nessa recomendações, merece especial atenção o fato de Luciano de Oliveira ter valorizado uma metodologia a ser seguida, desde a problematização do tema, até sua perspectiva de solução.
A metodologia é essencial para que a pesquisa tenha reconhecimento no meio em que se pretende inserir. A partir desse passo a passo lógico seguido pelos pesquisadores, é que se permite um “estudo do estudo”. Em outros termos, o caminho percorrido para se alcançar o resultado é essencial para que o trabalho possa ser analisado, contestado ou até que se permita uma evolução dos conceitos apresentados.
O método dá apoio e direcionamento aos estudos, permitindo que se chegue ao resultado pretendido e, também, abrindo espaço para críticas e avaliações. Dessa forma, faz-se com que seja muito importante, assim como explicitado por Luciano de Oliveira, que se tenha um caminho determinado a ser seguido, facilitando e melhorando os frutos do trabalho.
Então, como uma conclusão final, o texto não peca em qualidade, fazendo análises precisas sobre a necessidade de se seguir uma metodologia adequada para se chegar a conclusões mais aproximadas da realidade. No entanto, é possível discordar do seu autor nos pontos que discorre sobre o alcance da sociologia e da história em pesquisas jurídicas. Essas nuances são extremamente necessárias e essenciais para que não se reduza o direito à pura e simples lei, devendo-se levar em conta seus aspectos sociais e históricos, mesmo que para isso se recorra a manuais ou até que se esbarre no senso comum, apenas tomando o devido cuidado com este.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, Luciano. Não fale do código de Hamurábi!. Disponível em: <www.uniceub.br/media/180293/Texto_IX.pdf>. Acesso em: 25 set. 2017

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