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Direito Processual do Trabalho 2 Métodos de Solução dos Conflitos Trabalhistas

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MÉTODOS DE SOLUÇÃO DOS CONFLITOS TRABALHISTAS
Autodefesa ou Autotutela: consiste no mais antigo método de solução de conflitos, através do qual alguém mediante suas próprias forças e instrumentos de defesa impõe à outra parte um sacrifício não consentido.
Na área trabalhista as formas mais comuns de autodefesa são a greve e o lockout. A primeira é direito social devidamente previsto no art. 9º, da CF/88 regulamentada pela Lei n. 7.783/89, por meio do qual os trabalhadores se organizam coletivamente paralisando suas atividades de forma total ou parcial com a finalidade de defender ou buscar a proteção de seus direito. Já o lockout é prática expressamente vedada pela Lei n. 7.783/89 – art. 17 – e art. 722 da CLT - e consiste na paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com a finalidade de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos empregados.
Há salientar que o lockout tem raríssima ocorrência em território nacional, não apenas em razão da vedação legal, mas também porque o direito material do trabalho não permite a interrupção do pagamento de salários neste caso, uma vez que o empregado estará à disposição da empresa.
Autocomposição: trata-se também de forma direta de solução do conflito de interesses, na qual os litigantes, de comum acordo e sem emprego da força, fazem concessões recíprocas mediante ajuste de vontades com a finalidade de prevenir ou extinguir conflitos de interesses.
No âmbito coletivo temos autocomposição na celebração de Convenções Coletivas do Trabalho e de Acordos Coletivos, bem como na mediação e na conciliação, inclusive a firmada perante as Comissões de Conciliação Prévia (entendimento majoritário, pois há aqueles que entendem que havendo alguma intervenção de terceiro não se pode mais falar em auto, mas sim em heterocomposição).
Heterocomposição: se dá quando um terceiro é chamado a solucionar o conflito de interesses substituindo a vontade das partes por sua decisão.
Tal método ocorre na arbitragem e na jurisdição, embora no Brasil a primeira seja bastante mitigada na seara trabalhista, haja vista que, são passiveis de arbitragem apenas os direitos patrimoniais disponíveis e como retratado nos princípios tópicos acima, grande parte dos direitos sociais do trabalho são considerados indisponíveis.
Comissões de Conciliação Prévia: instituídas pela Lei n. 9958/2000 que acrescentou art. 625-A A 635-h na CLT, regulamentadas pela Portaria MTE 329/2002 alterada pela Portaria MTE 230/2004, permitem às empresas e aos sindicatos classistas a instituição de Comissões de Conciliação Prévia, com composição paritária entre representantes dos empregados e dos empregadores com a função de tentar conciliar conflitos que envolvam trabalhadores pertencentes à categoria profissional e à base territorial das entidades sindicais que as tiverem instituído.
A composição variará de 2 a 10 membros, sendo que os representantes dos empregados apenas se afastarão de suas atividades, sem prejuízo do salário, quando convocados para as sessões.
Os representantes dos empregados nas CCPs detém estabilidade de um ano após o término do mandato que é de um ano
Questões bastantes discutíveis a respeito das CCPs dizem respeito ao art. 625-D e 625-E da CLT, os quais determinam que:
Art. 625-D. Qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido instituída a Comissão no âmbito da empresa ou do sindicato da categoria. (Incluído pela Lei nº 9.958, de 12.1.2000)
Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado, pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. (Incluído pela Lei nº 9.958, de 12.1.2000)
Parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. (Incluído pela Lei nº 9.958, de 12.1.2000)
Pela interpretação literal do primeiro artigo supra citado leva a crer que nos locais onde se instituiu CCP o empregado deve se submeter à esta para só então ter a possibilidade de adentrar com reclamação trabalhista. Todavia, em 2009 o STF por meio de decisão liminar realizada nas ADIs ns 2139 e 2160 entendeu que o trabalhador pode ingressar na Justiça mesmo sem tentar conciliação prévia. Tal entendimento passou a ser então acolhido pelo TST e demais Tribunais do Trabalho. O argumento é que a CLT estaria neste ponto agredindo ao art. 5º, inc. XXXV que prevê o princípio de amplo acesso ao Poder Judiciário.
No que refere ao segundo artigo acima citado, o questionamento criado é quanto à eficácia liberatória do acordo firmado na CCT, pois a teor do art. 625-E o termo traria eficácia liberatória geral, cabendo ao empregado fazer suas expressas ressalvas.
Há jurisprudência em ambos sentidos tendo o E. TST a partir de 2015 preponderado no sentido da atribuição de eficácia liberatória, todavia, pensamos conforme Carlos Henrique Bezerra Leite, que no âmbito protetivo do hipossuficiente o termo de quitação firmado perante CCP deve ser interpretado restritivamente em razão da indisponibilidade e irrenunciabilidade dos direitos trabalhistas, de modo que o termo só tenha eficácia liberatória quanto às verbas expressamente previstas no mesmo.
Referências
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 14 ed. 2016, São Paulo: Saraiva;
MOREIRA MAGALHÃES, Jean de. Entenda o que é “lockout”: prática proibida no Brasil e que se assemelha à greve. IN http://jeanrox.jusbrasil.com.br/artigos/181085084/entenda-o-que-e-o-lockout-pratica-proibida-no-brasil-e-que-se-assemelha-a-greve
Trabalhador pode ingressar na Justiça mesmo sem tentar conciliação prévia. IN http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=108151

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