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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Faculdade Mineira de Direito Curso de Direito Direito Constitucional LEIS DELEGADAS Belo Horizonte 2017 1 INTRODUÇÃO A Constituição em seu art. 68 cuida, na parte relativa ao processo legislativo, da delegação externa, entendida como autorização concedida pelo Congresso Nacional ao Presidente da República, para a elaboração de Leis Delegadas. A delegação interna vem prevista na Constituição Federal em seu art.58, §2º, I, que trata das Comissões, dispondo: “Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação. § 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe: I - discutir e votar projeto de lei que dispensar, na forma do regimento, a competência do Plenário, salvo se houver recurso de um décimo dos membros da Casa.” Com muita relutância, a delegação externa passou a ser aceita como mecanismo necessário para possibilitar a eficiência do Estado. Entretanto não se permite a delegação de qualquer matéria. Na própria Constituição há uma restrição prevista em seu art. 68,§1° que enumera que os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre a organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros; nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos serão objeto de delegação. Portanto, Lei Delegada é um ato normativo elaborado e editado pelo Presidente da República mediante autorização do Poder Legislativo, e nos limites estabelecidos por este, constituindo-se verdadeira delegação externa da função legislativa desde que com limitações e como mecanismo para possibilitar a eficiência do Estado. 1.2 Origem As leis delegadas existem de forma implícita no Brasil desde a Constituição de 1891. Nessa época não havia base normativa expressa que a admitisse e o processo era realizado por meio de um antigo costume. Dessa forma, o Executivo recebia autorização legislativa para operar reformas de maior ou menor profundidade nas leis e nas instituições. Essas leis foram introduzidas explicitamente no sistema legislativo brasileiro por meio da Constituição de 1946, com a implantação do regime parlamentar de governo. Já na Constituição de 1967 admitiu-se a delegação a uma Comissão do Congresso Nacional (Comissão mista) ou a uma Comissão da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. Não era propriamente delegação de um poder a outro, já que era uma transferência voluntária de atribuição. Em relação as medidas provisórias, que também são editadas pelo presidente, as leis delegadas são mais seguras e detêm um coeficiente de legitimidade maior, visto que possuem a participação do Poder Legislativo desde o início de sua elaboração 1.3 Natureza Jurídica Embora a necessidade de aprovação pelo Congresso Nacional de uma resolução autorizando o Presidente da República a editá-la, a Lei Delegada, quanto à eficácia e conteúdo tem sua natureza jurídica idêntica às demais previstas no art. 59 da CF.Se trata de um atonormativo primário. Processo Legislativo Especial da Lei Delegada 1.4.1 Fase Introdutória A lei delegada caracteriza-se como exceção ao princípio da indelegabilidade de atribuições, na medida em que a sua elaboração é antecedida de delegação de atribuição do Poder Legislativo ao Executivo, através da chamada delegação externa corporis. O Legislativo pode delegar o poder de elaborar as regras tanto internamente, para as Comissões temáticas, como também externamente, para outro Poder, e essa será a delegação externa corporis, tendo-se como exemplo a lei delegada. A Lei Delegada, segundo o art.68, caput, da Constituição Federal de 1988, é um ato normativo elaborado e praticado pelo o Presidente da República através de uma autorização conferida pelo Congresso Nacional. “ Art.68 As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao Congresso Nacional”. Deste modo, o Presidente da República primeiramente deve fazer uma solicitação para o Congresso Nacional para poder ter autorização para delegar sobre determinados assuntos privativas a ele determinada, principalmente, no art.22 da CF/88, pois não é competência do Presidente legislar, sendo assim, necessita da autorização do Congresso Nacional para poder exercer essa função temporariamente. Percebe-se que a fase introdutória da lei delegada é privativa, ou seja, a iniciativa pertence somente ao legitimado, que pode ser órgão ou autoridades especificas, e no caso desta lei, o legitimado para inicia-la é o Chefe do Executivo no âmbito federal. Segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho: “Não é propriamente uma fase do processo legislativo, mas sim o ato que o desencadeia.” Uma vez encaminhada a solicitação ao Congresso Nacional, a mesma será submetida a votação pelas Casas do Congresso Nacional, em sessão bicameral conjunta ou separada, podendo ser rejeitada ou aprovada. A aprovação exige quórum de maioria simples. Se rejeitado, o legislador simplesmente comunica o Presidente da rejeição. Se aprovado, o Congresso edita uma resolução, na qual estabelece o conteúdo e a extensão dessa delegação. Em relação ao conteúdo de exercício, o congresso nacional pode estabelecer restrições que entender necessárias, como os termos de caducidade da habilitação, linhas gerais da lei, período de vigência, entre outras. É de suma importância ressaltar o caráter temporário da delegação que não poderá ultrapassar o limite estabelecido pela legislação, sob pena de importar em abdicação ou renúncia de Poder Legislativo a sua função constitucional, o que não será permitido. Essa irrenunciabilidade do Poder Legislativo permite que mesmo no prazo concedido ao Presidente da Republica para editar a lei delegada, o congresso Nacional discipline a matéria por meio de lei ordinária. Antes de encerrado o prazo fixado pela resolução, nada impede que o legislativo desfaça a delegação. 1.4.2 Fase Complementar A fase complementar compreende a promulgação e a publicação do projeto de lei. A promulgação garante a execução da lei e a publicação garante a notoriedade da lei. Com o retorno da resolução ao Presidente, este poderá fazer a elaboração do texto normativo e, consequentemente, promulga-lo e publica-lo. Se houver pedido de ratificação do parlamento, o projeto elaborado pelo presidente deve retornar a Casa. Sendo votado em sessão única. Não é permitido nessa fase emendas. Se houver aprovação total do Congresso Nacional, o Presidente irá promulgar e determinar a publicação.Caso o Congresso rejeite o projeto, o mesmo deverá ser arquivado e somente poderá ser reapresentado seguindo os termos do artigo 67 da CF/88. A promulgação declara a existência de uma lei e consequentemente o seu cumprimento. A promulgação irá incidir sobre um ato perfeito e acabado. Nos termos do § 7º, do artigo 67 da Constituição Federal, o Presidente da República promulga a lei no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, contado da sanção ou da comunicação da rejeição do veto. Caso o Presidente da República não se manifeste dentro desse prazo a promulgação torna-se competência do Presidente do Senado Federal, ainda assim, caso o Presidente do Senado Federal não se manifeste dentro do prazo de 48 (quarenta e oito) horas, a promulgação torna-se competência do Vice-Presidente do Senado Federal. A publicação do projeto de lei trata-se de uma comunicação a todos dirigida para que cumpram o ato normativo, informando-os de sua existência e de seu conteúdo. O texto promulgado será inserido no Diário Oficial da União. O Presidente da República também é considerado como responsável pela publicação da lei. Após ser publicada, a lei entrará em vigor emtodo o território nacional, quarenta e cinco dias após a data de sua publicação. Poderão haver hipóteses nas quais o próprio texto de lei determine a data do começo de vigência da lei. No Estados estrangeiros, a lei publicada entrará em vigor três meses após a data de sua publicação. 1.5 Espécies de delegação A delegação poderá ser típica ou atípica. Na delegação típica, também denominada de delegação própria, o Presidente da República poderá promulgar o projeto de lei e determinar sua publicação, não sendo necessário o retorno ao Congresso Nacional para aprovação. Caso conste na resolução que o projeto de lei elaborado Presidente da República deverá retornar ao Legislativo para apreciação, a delegação é denominada de atípica ou imprópria. No caso da delegação atípica ou imprópria, o projeto deverá retornar ao Legislativo e será apreciada em votação única, vedada a apresentação de qualquer emenda. Neste caso, ou o Congresso Nacional aprova o todo e envia novamente ao Presidente da República para promulgação, ou rejeita todo o projeto. No que se refere à rejeição, o projeto de lei é arquivado e somente poderá ser reapresentado mediante proposta da maioria absoluta dos membros de quaisquer Casas do Congresso Nacional, nos termos do art. 67 da Constituição Federal. 1.6 O poder do Congresso Nacional de sustar a lei delegada No Brasil, o Congresso Nacional poderá sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem a esfera do poder regulamentar ou os limites da delegação legislativa (CF, art. 49, V). Dessa forma, extrapolando o Presidente da República os limites fixados na resolução concedente da delegação legislativa, poderá o Congresso Nacional, mediante a aprovação de decreto legislativo, sustar a referida lei delegada, paralisando seus efeitos normais. A sustação não será retroativa, operando, portanto, ex nunc, ou seja, a partir da publicação do Decreto Legislativo, uma vez que não houve declaração de nulidade da lei delegada, mas sustação de seus efeitos. Por outro lado, a sustação congressual não obstaculiza e muito menos suplanta a declaração de inconstitucionalidade pelo Poder Judiciário, quando esta se faz necessária. Dessa forma, em havendo violação dos requisitos formais do art. 68 da Constituição, a declaração de inconstitucionalidade poderá ser acionada, se pertinente. Nessa hipótese, o ato de sustação produzirá os seus efeitos retroativamente, ou seja, desde a edição da espécie normativa, possuindo eficácia ex tunc. Isso se deve, pois, ao fato de que a eventual declaração de inconstitucionalidade de lei delegada, por parte do órgão de cúpula do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal, diferir daquela empreendida pelo Congresso Nacional, que, como vimos, possui efeitos não retroativos e não se constitui em óbice para a posterior judicialização de pedidos que versem sobre a possível inconstitucionalidade de tais atos normativos – a saber, as leis delegadas. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal : Centro gráfico, 1988. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional/ Kildare Gonçalves Carvalho. – 12. ed., rev. e atual. – Belo Horizonte: Del Rey, 2016. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional / Alexandre de Moaraes. – 17. ed. – São Paulo : Atlas, 2005. NOLASCO, Lincoln. Especificidades da espécie normativa lei delegada. Disponível em : http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11190/. Acesso em: 6 nov. 2017.
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