poderosas e invisíveis que modelam o comportamento e influenciam as emoções. O conhecimento delas no interior das mulheres é um ramo novo de conhecimento sobre as mulheres, ramo este que vem crescendo. Quando a mulher sabe quais "deusas" são as forças dominantes no seu íntimo, ela adquire autoconhecimento a respeito: a) da força de certos instintos, b) das prioridades e habilidades e c) das possibilidades de encontrar significado pessoal através de escolhas que nem todos poderiam encorajar. Os padrões de deusa também afetam o relacionamento com os homens. Eles ajudam a explicar algumas das dificuldades e afinidades que certas mulheres têm com certos homens. Elas escolhem homens que têm poder e que são bem sucedidos no mundo? Acomodados e criativos? Infantis? Qual deusa é o ímpeto invisível que impulsiona a mulher a um determinado homem? Tais padrões influenciam as escolhas e a estabilidade dos relacionamentos. Os padrões de relacionamento também trazem a marca de determinadas deusas. Pai- filha, irmão-irmã, mãe-filho, namorado-namorada, ou mãe-filha. Cada par representa uma configuração que é natural para uma determinada deusa. Toda mulher tem dons "concedidos por deusas", que ela deve aprender e aceitar com gratidão. Toda mulher também tem deficiências "concedidas por deusas", deficiências que ela deve reconhecer e superar para que haja modificação. A mulher não pode opor-se a um padrão determinado por um arquétipo subjacente de deusa até que ela esteja consciente de que tal padrão existe e procura realizar-se através dela. Mitos como instrumentos de insight O primeiro traço-de-união importante que vi entre os padrões mitológicos e a psicologia das mulheres foi fornecido por Erich Neumann. Ele é analista junguiano. Em seu livro Amor and Psyche, Neumann usava a mitologia como meio de descrever a psicologia feminina. Percebi que a combinação de Neumann entre mito e comentário psicológico era um poderoso instrumento de insight. No mito grego de Amor e Psique, por exemplo, a primeira tarefa de Psique era a de separar um enorme e desordenado monte de sementes, colocando cada espécie de grão num montículo separado. Sua reação inicial a esta tarefa, bem como às três tarefas seguintes, foi de desespero. Percebi que o mito se encaixava a certo número de minhas pacientes mulheres que estavam se esforçando com várias tarefas importantes. Uma era estudante graduada que sentiu-se incapacitada diante de uma dissertação, não sabendo como poderia organizar o amontoado de matéria. Uma outra era uma jovem mãe oprimida. Ela tinha que calcular o que fizera de seu tempo, selecionar prioridades e encontrar um modo para continuar a pintar. Cada mulher era chamada a fazer mais do que era capaz, como Psique, porém num setor que ela mesma escolhera. Ambas reagiram ao mito que espelhou a situação delas, proporcionou-lhes insight para o modo como elas reagiam a novas exigências, e deu um sentido amplo a seus esforços. Quando a mulher sente que há uma dimensão mítica para alguma coisa que ela esteja empreendendo, o conhecimento toca e inspira profundos centros criativos nela. Os mitos evocam sentimento e imaginação e tocam temas que são parte da herança coletiva humana. Os mitos gregos - e todos os outros contos de fada e mitos que ainda são contados há milhares de anos - permanecem correntes e pessoalmente relevantes, porque há uma ressonância de verdade neles sobre experiências humanas compartilhadas. Quando um mito é interpretado, intelectual ou intuitivamente, isso pode resultar em alcance novo de compreensão. Um mito é como um sonho do qual nos lembramos, até mesmo quando não é compreendido, porque ele é simbolicamente importante. De acordo com o mitologista Joseph Campbell, "sonho é mito personalizado; mito é sonho despersonalizado".2 Não é de admirar que os mitos invariavelmente pareçam algo vagamente familiar. Quando um sonho é corretamente interpretado, a pessoa que sonha tem um lampejo de insight - expresso por um "Aha!" - pois a situação à qual o sonho se refere torna-se clara. A pessoa que sonha intuitivamente agarra e conserva o conhecimento. Quando, ao interpretar um mito, alguém deixa escapar um "Aha!", o mito determinado está simbolicamente chamando a atenção para alguma coisa que é importante para ele ou ela. A pessoa agora compreende alguma coisa e vê através da verdade. Este nível mais profundo de compreensão tem ocorrido em auditórios para os quais eu tenho falado. Isso acontece quando conto os mitos e depois interpreto seus significados. E um modo de aprender que lembra algo no qual a teoria sobre a psicologia feminina torna-se autoconhecimento ou conhecimento sobre mulheres expressivas com quem os homens e as mulheres da platéia estão relacionados. Comecei a usar a mitologia em seminários sobre a psicologia das mulheres quase no fim dos anos 60 e começo dos anos 70. Usei-a primeiramente no centro médico da Universidade da Califórnia, no Instituto Psiquiátrico Langley Porter; depois em Santa Cruz, na Universidade da Califórnia e no Instituto C. G. Jung, em São Francisco. Na década e meia seguinte, a palestra deu-me mais oportunidade para desenvolver meus pensamentos e obter respostas dos auditórios nos seguintes lugares: Seattle, Minneapolis, Denver, Kansas City, Houston, Portland, Fort Wayne, Washington D.C., Toronto, New York e a área da baía de São Francisco, onde moro. Onde quer que eu palestrasse, a resposta era a mesma: quando eu usava mitos em combinação com material clínico, experiências pessoais e insights do movimento feminista, o resultado era uma nova e mais profunda compreensão. Eu tinha iniciado com o mito de Psique, um mito que falava para mulheres que enfatizavam em primeiro lugar os relacionamentos. Depois falei de um segundo mito, cujo significado eu tinha desenvolvido. Esse mito descrevia as mulheres que se sentiam desafiadas em vez de desarmadas quando existiam obstáculos a serem superados ou tarefas a serem dominadas, e que, conseqüentemente, poderiam se desempenhar melhor na escola e fora, no mundo. A heroína mitológica era Atalanta, mensageira e caçadora que foi bem sucedida em ambos os papéis, vencendo os 2 Joseph Campbell, The Hero with a Thousand Faces, Bollingen Series 17. Princeton University Press, Princeton, N. J., 1968, p. 19. homens que tentavam vencê-la. Ela era uma bela mulher que fora comparada com Ártemis, deusa grega da caça e da lua. Esse modo de ensinar naturalmente incitava perguntas sobre outras deusas, e eu comecei a ler e a querer saber sobre o que elas representavam. Comecei a experimentar meus próprios "Aha!" como reação. Por exemplo, certa mulher ciumenta e vingativa entrou em meu consultório, e reconheci nela a raivosa e humilhada Hera, deusa do casamento e esposa de Zeus. O flerte de seu cônjuge provocou a deusa, levando-a a repetidos esforços de busca e destruição "da outra". Esta paciente era uma mulher que tinha acabado de descobrir que seu marido estava tendo um "caso". Tornou-se então obcecada com a outra mulher. Tinha fantasias vingativas, investigava os- atos e caminhos da outra. Tanto tentou pegá-los em flagrante que sentiu-se enlouquecer. Como típico de Hera, sua raiva não se voltava para o marido, que mentira para ela ou lhe fora infiel. Foi muito útil para minha paciente ver que a infidelidade de seu marido tinha uma resposta ao modo de Hera. Agora compreendia por que se sentia tão tomada pela raiva e como isso era destrutivo para ela. Pôde ver que precisava confrontar seu marido e o comportamento dele. Precisava encarar os problemas conjugais deles, mais do que tomar atitudes