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(Artigo) Paulo Roberto Neves Costa A Ação Política das Classes Dominantes em Marx e Weber

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A AÇÃO POLÍTICA DAS CLASSES DOMINANTES EM MARX E WEBER 
 
Paulo Roberto Neves Costa
Professor de Ciência Política – UFPR
Doutorando em Ciências Sociais – IFCH/UNICAMP
 
Este texto pretende contrapor as análises de Marx e Engels com as de Weber sobre a ação política das camadas dominantes na sociedade capitalista moderna.
Procuramos apreender das obras destes autores: 1- as discussões mais gerais e teóricas sobre a ação política, mais especificamente aquilo que diz respeito às camadas dominantes, passando pela forma como tais coletivos são pensados e definidos; 2- a forma de pensar a especificidade da ação política destes grupos; 3- as análises de processos históricos que envolveram a ação política das camadas dominantes.
O objetivo é conhecer como esta questão foi tratada pelos autores e ver como as idéias, os conceitos e as noções foram por eles próprios operacionalizados nas análises de processos sociais concretos. Com isso, sem a preocupação de comprovar a existência, em tais autores, de uma teoria a respeito deste assunto, pretendemos 1- problematizar a capacidade e a eficácia analítica em relação às formas atuais da ação política das classes dominantes e, por conseguinte, do processo de dominação que caracteriza a sociedade capitalista; e 2- verificar em que isso contribui para uma melhor compreensão da relação entre a ação política das camadas dominantes e o arranjo político-institucional através do qual se dá a relação entre sociedade e Estado, ou seja, o regime político. 
O procedimento adotado será a problematização das questões acima, a partir da leitura e do comentário das obras clássicas dos autores em questão. Toda esta discussão sobre a ação política de classe não pode deixar de considerar, ainda que brevemente, as questões mais gerais acerca do conhecimento científico da realidade social, e a interpretação sobre a sociedade capitalista subjacentes ao pensamento dos autores. Especial atenção será dada às obras voltadas para processos históricos, como O 18 de brumário de Luis Bonaparte e Parlamentarismo e governo numa Alemanha reconstruída. A utilização de comentadores se dará na medida em que tragam contribuições para as nossas pretensões.
Quanto às contribuições de Marx e Weber a respeito da ação política das camadas dominantes, alguns aspectos podem ser aqui, sumariamente, adiantados.
Em primeiro lugar, das obras de Marx e Engels destacam-se: 1- a forma de propriedade e as condições sociais da classe são fundamentais para o processo de organização e ação política; 2- quando as condições econômicas e o modo de vida de uma classe se opõem aos interesses e à cultura de outras classes, dá-se a classe no sentido econômico; e quando se estabelece alguma ligação local, ou quando a similitude de interesses leva a algum tipo de comunidade, associação ou organização política, dá-se a classe no sentido político, ou melhor, a classe propriamente dita; 3 - não só a posse e o controle do capital, enquanto principal meio de produção, mas também o controle das políticas de Estado, é que fazem da burguesia a classe dominante; 4- a importância da dinâmica dos interesses materiais que estão por trás de um conflito em torno de processos políticos — como, por exemplo, a forma de funcionamento de instituições representativas —, muitas vezes travestidos de conflitos entre interesses e posições políticas ou ideológicas; 5- entretanto, é necessário tomar cuidado para não super-dimensionar a determinação econômica, o que poderia levar à desconsideração de ações especificamente políticas ou ideológicas pelos membros da classe; 6- nos contextos de conflito político intenso, os grupos, instituições, alianças e processos promovem "contradições clamorosas" (MARX, 1988) com aquilo que eram e defendiam anteriormente; 7- a importância da luta no interior das classes dominantes na mudança do regime político e da forma de governo, e também das características do arranjo institucional resultante (solidez, estabilidade, limitações, debilidades etc.); ou seja, a dinâmica da luta política no interior das classes dominantes e o resultado institucional que dela resulta, não se dão sem conflitos, mas sim num processo de tensões entre interesses econômicos e políticos, inclusive com os demais agentes e grupos políticos presentes; 8- quando as classes dominantes optam por uma dada forma política, estão estabelecendo a forma como serão resolvidos os conflitos no seu interior e também aqueles com as classes subjugadas; e dependendo da forma escolhida, a burguesia fica mais ou menos exposta neste processo de dominação, e o Estado pode assumir, através de seus aparelhos, maior ou menor papel neste processo de dominação; 9- a importância da relação entre as classes dominantes e a burocracia estatal na disputa pela definição das políticas de Estado e na reprodução das relações de produção.
Enfim, Marx e Engels trabalham com uma concepção de ação política, no que diz respeito às classes dominantes, marcada por: I – a importância da dimensão econômica e social; II - pela necessidade de obter e exercer o poder de Estado; III - pela necessidade de organizar uma forma institucionalizada, em maior ou menor grau, de relação entre as suas "facções", e IV - pela necessidade de reproduzir as relações produção e de dominação.
Quanto a Weber, podemos destacar: 1- a importância fundamental do "empresário capitalista" no surgimento, consolidação e reprodução do capitalismo moderno, dado que lhe cabe concentrar sob suas posses os bens de produção, além de submetê-los a uma racionalidade de procedimentos (contabilidade) voltada para a lucratividade, na produção de mercadorias que satisfaçam necessidades, ou, dizendo de outra forma, a satisfação de necessidades através de atividades econômicas de caráter lucrativo; assim, há uma ênfase mais propriamente econômica na importância atribuída ao "empresário"; 2- isto seria o elemento econômico da posição dominante do empresário no capitalismo moderno, enfim a posse, o controle e a utilização capitalista dos bens de produção e a função de satisfazer, de forma lucrativa, necessidades sociais; 3- a dominação política tem como condição que tais empresários também controlem o "agrupamento político denominado Estado" (WEBER, 1993); 4- assim, a noção de burguesia parece mais relacionada à questão dos interesses gerais, e conseqüentemente políticos, da classe e da ordem social capitalista e sua posição na hierarquia social, enquanto que empresário capitalista diz mais respeito a dimensão do agente social econômico, ou a dimensão mais propriamente ligada à atividade econômica da burguesia, que por sua vez, contemplaria outras categorias não-empresariais; 5- a burguesia se apresenta, no âmbito da ação política, menos como classe e mais através da figura do político; 6- daí a importância da relação entre este político, representante da burguesia, e a burocracia pública, na condução do funcionamento do Estado e da sociedade (WEBER, 1985b).
Enfim, Weber trabalha com uma concepção de ação política, no que tange às classes dominantes marcada por: I – a importância econômica do "empresário capitalista" e política da burguesia, dado que esta tem que, II – através da figura do político, III - exercer o controle sobre a burocracia do Estado e comandar o funcionamento da sociedade.
Ainda que não tenham produzido um enunciado conceitual, como o fez Weber, em relação às classes sociais, Marx e Engels desenvolveram análises — com maior ou menor preocupação teórica e política — do desenvolvimento econômico, social, político e ideológico daquela que seria a classe que revolucionou a ordem remanescente do feudalismo, e se tornou dominante, o demiurgo da moderna sociedade capitalista, "burguesa".
E podemos observar que, por sua vez, Weber tem a preocupação de enunciar seu conceito de classe, mas não desenvolve uma análise teórica da dinâmica política das classes sociais, em especial daquela que exerceria a dominação na ordem social capitalista. No entanto, em obras mais históricas, como Parlamentarismo e governonuma Alemanha reconstruída, onde a análise tem uma preocupação menos sociológica, as observações de Weber sobre a relação entre burguesia e política são bastante interessantes.
Por último, tanto Marx quanto Weber sugerem aspectos interessantes da relação entre a luta política das classes dominantes e a burocracia estatal. No entanto, poucas são as contribuições para a compreensão do fenômeno da burocracia privada, empresarial, na sua relação com a ação e a organização política das classes dominantes. E Marx e Weber parecem concordar com que a república parlamentar é o melhor arranjo político institucional para acomodar os interesses da burguesia e suas frações, e das classes subalternas. Segundo Marx, esta seria "... a única forma de governo no qual seu interesse geral de classe podia submeter ao mesmo tempo tanto as reivindicações de suas diferentes facções como as demais classes da sociedade" (MARX, 1988: 57). Weber, por sua vez, aponta para as vantagens do sistema parlamentar na resolução dos conflitos políticos e no controle do aparelho de Estado (WEBER, 1985b).
* * *
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(Utilizadas neste resumo)
MARX, Karl e ENGELS, Freidrich. (s/d). Manifesto do Partido Comunista. In: Karl Marx e Freidrich Engels: Obras Escolhidas. Volume 1. São Paulo, Alfa-Omega.
MARX, Karl. (1978). "A formação da burguesia". In: Teorias de estratificação social. Octávio Ianni (org.). São Paulo, Nacional.
MARX, Karl. (1980a). "Fundamentos da história". In: Karl Marx: Sociologia. Octávio Ianni (org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo, Ática.
MARX, Karl. (1980b). "Condições históricas da reprodução social", reproduzido de "Posfácio" de "Contribuição à crítica da Economia Política". In: Karl Marx: sociologia. Octávio Ianni (org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo, Ática.
MARX, Karl. (1987). Para a crítica da Economia Política. In: Marx. Coleção Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural.
MARX, Karl. (1988). O dezoito de brumário de Luiz Bonaparte. In: Karl Marx - Os pensadores. São Paulo. Abril Cultural.
WEBER, Max. (1985a). "História geral da economia". In: Max Weber. Coleção Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural.
WEBER, Max. (1985b). "Parlamentarismo e governo numa Alemanha reconstruída". In: Max Weber. Coleção Os Pensadores. São Paulo, Abril Cultural.
WEBER, Max. (1986). "A ‘objetividade’ do conhecimento das Ciências Sociais". In: Max Weber: sociologia. Gabriel Cohn (org.) Coleção Grandes Cientistas Sociais. 3ª ed. São Paulo, Ática.
WEBER, Max. (1991). Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Volume 1. Brasília, EdUnb.
WEBER, Max. (1993). Ciência e Política: duas vocações. Cultrix. São Paulo.

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