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Da conversão da união estável em casamento.

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Da conversão da união estável em casamento
Primeiramente cabe expor que a senhora, avó de Fernanda, pode se manter em união estável, como já se encontra; uma forma de formalizar sua união pode ser solicitando uma certidão em qualquer cartório de notas do Brasil, desde que não se enquadre nos casos de impedimento legal, ou também através de um contrato particular, feito com o auxílio de nosso escritório. Nesse documento, tanto público quando particular, o casal pode estipular a data de início da convivência, o regime de bens e as regras aplicáveis em caso de separação. 
Quanto ao regime de bens, este só é optável na hipótese de a senhora ter menos do que 70 (setenta) anos, e caso esta não seja septuagenária e o casal não definir o regime de bens, este será o da comunhão parcial de bens. Porém, sendo septuagenária o regime será o da separação obrigatória de bens. Acrescento que a certidão de união estável não altera o estado civil do casal, pois os dois continuam sendo solteiros perante a lei, e porventura, caso ocorra, o fim do relacionamento oficial também deve ser registrado em cartório.
No entanto MUITO MAIS SEGURO se mostra a conversão da união estável em casamento, que tem por fundamento legal o disposto no artigo 226, § 3º, da Constituição da República, que reconhece a união estável como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento, por considerar a família, base da sociedade, e ter especial proteção do Estado, conforme caput do referido artigo.
Este dispositivo constitucional foi regulamentado pelo artigo 8º da Lei nº 9.278/1996, o qual deixa claro que “Os conviventes poderão, de comum acordo e a qualquer tempo, requerer a conversão da união estável em casamento, por requerimento ao Oficial do Registro Civil da Circunscrição de seu domicílio.”.
E também pelo artigo 1.726 do Código Civil de 2002, que ampliou as formas de conversão, trazendo que “a união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.”.
No entanto o dispositivo do Código Civil nada dispôs acerca do procedimento a ser adotado, da necessidade de expedição de proclamas ou do procedimento de habilitação, nem mesmo esclareceu se o procedimento do pedido de conversão da união estável em casamento seria administrativo ou judicial.
Cabe aqui expor as formas para a conversão de união estável em casamento, são elas: a administrativa e a judicial. 
A conversão administrativa, no presente caso, submete-se ao determinado pela Corregedoria-Geral de Justiça do Estado do Paraná, que no capítulo 02, seção 09, de seu Código de Normas disciplina sobre, no intuito de evitar que os impedimentos matrimoniais fossem violados.
Segundo o regulamento, especificamente os artigos 280 à 282 determinam que a conversão de união estável em casamento deve ser realizada há requerimento dos conviventes, direcionado ao Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais do seu domicílio, no qual obrigatoriamente mencionar-se-á a data de início da união estável, devendo ser acompanhado de declaração de que mantêm união estável, que têm perfeita ciência de todos os efeitos desta declaração e que não estão impedidos para o casamento.
Recebido o requerimento, devem ser cumpridas as formalidades do processo de habilitação e da publicação de editais de proclamas, os quais deveram haver expressa indicação de que se trata de conversão de união estável em casamento. Não se dispensa vista do Ministério Público, no entanto, apenas havendo impugnação desde, do oficial ou de terceiro, o pedido será submetido a homologação pelo juiz corregedor de primeiro grau, conforme artigo 1.526 do Código Civil. Superados os impedimentos legais e submetidos a todas as normas de ordem pública pertinentes ao casamento, o assento da conversão da união estável em casamento é lavrado no Livro B, independentemente de celebração e solenidades do matrimônio, sujeitando-se o casamento ao regime de bens escolhido e às normas de ordem pública, no entanto na ausência de indicação de regime de bens específico, instrumentalizado em contrato escrito, obrigará os conviventes, no que couber, ao regime de comunhão parcial de bens, conforme exigência do art. 1.725 do Código Civil, tudo conforme artigos 283 á 289 do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça do TJPR.
Cabe aqui a ressalva quanto a escolha e indicação do regime de bens; a escolha apenas será possível se a senhora ainda não tiver atingido 70 (setenta) anos de idade, conforme artigo 1.641, inciso II do Código Civil, pois caso seja setuagenária aplica-se a obrigatoriedade do regime de separação obrigatória de bens.
Consistente ao presente caso, para habilitação requerida por viúvo ou viúva nubente, no Paraná não se exige inventário negativo, o qual pode ser substituído por declaração de inexistência de bens, mediante manifestação escrita, porém neste caso será obrigatória a adoção do regime de separação de bens (Artigo 251 do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça do TJPR). Ou então apresentar-se-á a certidão de inventário dos bens, expedida pela Vara da Família do Fórum da cidade onde foi feito o inventário, certificando se houve ou não o inventário dos bens do casamento anterior, ou ainda, fotocópia da escritura pública do inventário, para poder escolher o regime de bens, caso não haja outra causa que obrigue a casar no regime de separação de bens, como anteriormente exposto.
Por fim, constará da certidão de casamento por conversão da união estável o termo inicial da convivência, servindo como prova da duração de tal união para fins de produção de efeitos em período anterior à conversão em casamento, conforme artigo 290 do Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça do TJPR
A conversão judicial é requerida perante o Juiz de Direito e depende de verificação da existência de união estável, por meio de procedimento que prevê juntada de provas e designação de audiência e que permite intervenções. Uma vez homologada, o Juiz de Direito determina sua lavratura ao Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais, independentemente de habilitação ou publicação de edital de proclamas, devendo constar do assento a data de início da união estável, caso tenha sido fixada. 
Embora alguns tribunais possuem “uma interpretação literal” do artigo 8º da Lei 9.278/96, em que levaria à conclusão de que a via adequada para a conversão de união estável em casamento seria a administrativa, e que a via judicial só seria acessível aos contratantes se negado o pedido extrajudicial, sabe-se que o artigo 1726 do Código Civil prevê a possibilidade de se obter a conversão diretamente pela via judicial, pois “a união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz...” e para tanto será necessário o patrocínio de advogado ou defensor público. 
Não pode-se restringir a via administrativa pois o objetivo delineado pela Constituição Federal é o da facilitação da conversão de união estável em casamento e, é justamente este o fim alcançado pela conjugação das normas infraconstitucionais, uma vez que estas oferecem opções e a possibilidade dos conviventes elegerem a via mais conveniente a eles para o pedido.

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