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Ficha Técnica Autor: © Carlos Manuel Miranda Leite da Silva Revisão: Carlos Manuel Miranda Leite da Silva Composição gráfica e capa: Francisca Silva 1ª Edição ISBN: 978-85-923595-0-8 APOCALIPSE AGORA 1ª Edição - Brasília Carlos Manuel Miranda Leite da Silva 2017 - Somos a geração do “fim do tempo”? - Sumário Antes da introdução 6 Primeiro aviso aos navegantes 6 Segundo aviso aos navegantes 7 Introdução 10 O que é o “fim de uma dispensação”? 11 Parte 1 - Entender o fenômeno profético 16 Por que acontecem profecias? 18 Como acontecem profecias? 23 A “técnica” profética 29 Como confiar nas profecias bíblicas? 35 Exemplo de uma profecia que já se cumpriu 36 Parte 2 - Romper os paradigmas 44 Romper os paradigmas 46 Daniel 9:26, a interpretação clássica equivocada 49 Os vilões do Livro do Apocalipse 57 O Anticristo (ou Falso Profeta) 58 A Besta 70 Quem é a Besta? 70 Qual a origem da Besta? 92 A Grande Prostituta: a Babilônia misteriosa 101 O Dragão 113 A marca da Besta seria mesmo “666?” 120 Parte 3 - Os “últimos dias”, segundo as profecias 132 Daniel, o profeta das datas rigorosas 134 As setenta “semanas” de Daniel 138 Quando começa a contagem das “setenta semanas”? 142 Qual evento na vida de Jesus marca o tempo de 69 “períodos de sete”? 149 A última “semana” de Daniel e a “tribulação de Jacó” 157 O “fim do tempo” 177 Ezequiel 38 e 39: quais nações invadem Israel? 178 Isaías 17: o gatilho para os últimos sete anos? 183 Isaías e Jeremias profetizam a destruição da Arábia? 186 O Terceiro Templo 199 Onde ficava o Templo? 205 Fim da dispensação, era cataclísmica 216 Parte 4 - Autoridade das Escrituras 234 O Alcorão é a palavra incorruptível de Deus? 236 A Bíblia é a palavra inerrante de Deus? 243 O cumprimento das profecias bíblicas 248 A nova dispensação após o grande julgamento 251 Quem é o Dragão e onde está? 255 O status atual da Rebelião de Lúcifer 267 Inferno eterno ou segunda morte? 275 O Filho Criador e o Filho Magisterial 289 O Antigo e Novo Testamento e o Livro de Urântia 311 Epílogo 317 6 Antes da introdução Primeiro aviso aos navegantes Você está prestes a entrar num território que poderá mudar profunda- mente todo o seu entendimento da vida e das razões por que está aqui agora. Você terá a coragem de enfrentar a possibilidade de um corte com o entendimento convencional da história da humanidade? Se for o tipo de pessoa com ideias bem firmes sobre a realidade criada por Deus, pode estar penetrando um campo em que perceberá que Deus sempre o irá surpreender com mais, melhor e maior realidade do que aquela em que você se firmou toda a vida. Corre o risco de ter que reavaliar tudo de novo. Se for o tipo de pessoa que não vê sentido na realidade, prepare-se, porque pode ser que tenha chegado a hora de cair na real, esse real que não é o míope, distorcido, ilusório e pequeno terra-a-terra, mas sim o vaivém espacial terra-cosmos-cosmos-terra que vai ligá-lo com o infinito e a eternidade. É muito pretensioso acreditar que alguns leitores possam ser tão impactados quando lerem as páginas deste livro? Se tal efeito dependesse de mim, com certeza absoluta seria uma pretensão ridícula. Só que não depende de mim, mas sim da palavra de Deus e das profecias que Ele e seus agentes divinos escolheram para gravar à posteridade o pré-aviso do que vai acontecer, pela mão dos seus profetas verdadeiros. Acredite, as profecias vão acontecer. Para quem já percebeu minimamente como a realidade funciona, ou para quem já se capacitou a se entregar à fé, não restam dúvidas de que as profecias vão cumprir- -se. Só não sabemos quando. Enquanto isso, toda hora é hora de nos prepararmos. Para isso as profecias foram expressadas e gravadas no tempo e espaço. 7 APOCALIPSE AGORA Segundo aviso aos navegantes Deus não faz acepção de pessoas. Aos olhos de Deus cada uma de suas criaturas é um Seu filho muito amado, seja o mais portentoso e fiel anjo ou o mais ínfimo ser humano. Então, não se deixe enganar se nas páginas deste livro parecer que está sendo feita discriminação de alguma ordem em relação a algum determinado grupo religioso, étnico, político, etc. No capítulo 19 das profecias de Isaías, se referindo aos tempos após o grande conflito armado do “fim dos dias”, Deus comunicou: 23 Naquele dia, haverá estrada do Egito até à Assíria, os assírios irão ao Egito, e os egípcios, à Assíria; e os egípcios adorarão com os assírios. 24 Naquele dia, Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio da terra; 25 porque o SENHOR dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança. O Egito compõe-se de etnias árabes e norte-africanas; a Assíria é constituída de etnias árabes, persas e turcas; Israel é a nação dos judeus. Inequivocamente, Deus registrou nesses três versículos dessa profecia que todas essas etnias são amadas e prezadas por Ele, todas são da Sua predileção, protegidas e amadas como Seus filhos. Então, peço ao leitor que tenha bem gravado em sua mente, desde a primeira à última página deste livro, que tudo o que for declarado aqui quanto à natureza do islamismo não configura um ato de islamofobia nem racismo. É bem claro para mim, o autor deste livro, o amor e compaixão que devemos consagrar aos nossos irmãos e irmãs muçulmanos. Eles são filhos muito amados de Deus e, consequentemente, são a nossa própria família, nossos irmãos em espírito e humanidade, a quem intensamente desejo toda a libertação, sustentação e amparo de Deus, nosso Pai divino, assim como desejo que meus próprios filhos na carne sejam abençoados 8 ANTES DA INTRODUÇÃO pelo Ser Supremo. Precisamente por essa fraternidade que devemos aos muçulmanos estar totalmente clara em minha mente, alma e coração é que faço este alerta ao leitor, para que fique bem demarcada a distinção entre o respeito fraterno que devemos aos muçulmanos e a exposição que deve ser feita quanto à verdadeira natureza do islamismo. Entenda, uma coisa são os muçulmanos, nossos irmãos amados, outra coisa é o islamismo, uma ideologia criada contra o plano de Deus sobre a Terra. É demasiado extremista esta declaração? Não fique apenas com a minha opinião, nem se informe nas fontes que se opõem ao islamismo, antes consulte as próprias fontes islâmicas: o Alcorão e os hádices, e a vida e o caráter de Maomé segundo os seus frutos como pessoa. Use os dons de análise que Deus lhe deu, e isso, junto com o estudo das fontes islâmicas – o Alcorão e os hádices – será o suficiente para não se deixar enganar. Mas tem que fazer a sua própria investigação, caso contrário você será escravo das opiniões de terceiros e de imãs (sacerdotes islâmicos), como tem sido a esmagadora maioria de todas as gerações de muçulmanos desde há quase 1.400 anos, quando surgiu o islamismo. E o preço dessa escravidão é atroz. Que o digam os muçulmanos, os quais são as primeiras vítimas do islamismo. Que nós possamos acordar a tempo e reagir adequadamente à expansão islâmica, nos protegendo vigorosamente da lei charia, não nos deixando cair na ingenuidade de um relativismo insensato, derivado da nossa ignorância da verdade. Protejamos os nossos filhos, netos e bisnetos da tirânica ideologia fascista que até agora vem oprimindo cerca de 1,6 bilhão de seres humanos e que ameaça submergir e abafar, pela imposição e principalmente pela sua elevada taxa de natalidade, o paradigma espiritual judaico-cristão que Jesus nos legou ao nos mostrar a verdade da natureza amorosa do Pai divino, a verdade de que Deus é nosso Pai. Não, não é teoria da conspiração. Desperte, informe-se, porque a ameaça é real e concreta. Ela mata e escravizapessoas reais, como é patente pelos sofrimentos dos muçulmanos. 10 “Disse-vos, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós creiais” Palavras de Jesus, no Evangelho de João, 14:29 Introdução Somos a geração do “fim do tempo”? Não obrigarei o leitor a chegar ao fim de centenas de páginas para conhecer a resposta. De maneira nenhuma. Darei a resposta à pergunta do subtítulo já na primeira página, e agora mesmo, já no terceiro parágrafo da Introdução: Sim, acredito que somos a geração do “fim do tempo”. Antes que o seu coração dispare e se afunde em apreensões, note que eu escrevi “fim do tempo” dentro de aspas. Por que escrevi assim? Simplesmente porque não iremos viver, de fato e literalmente, um “fim do tempo” ou um “fim do mundo”, mas na verdade tão somente o fim de uma dispensação e o começo de uma nova era. Se você ler a Bíblia de uma ponta à outra e nos mínimos detalhes, nunca encontrará uma profecia que fale de um fim para a história da humanidade. As profecias bíblicas não referem nunca o fim da humanidade, mas na verdade assinalam um período em que muitas das dores globais – desencadeadas por mãos humanas, assim como por cataclismos naturais – terão um final, ou uma pausa. E, após se cumprirem essas dores mais agudas, todos os profetas declaram que será inaugurado um período longo de paz mundial e de progresso espiritual e social. 11 APOCALIPSE AGORA O que é o “fim de uma dispensação”? O fim de uma dispensação marca o fechamento de uma era e o começo de um novo ciclo. O exemplo mais evidente que temos de um fato desses nos nossos registros históricos é o da vinda de Jesus (Yeshua) à carne, o qual inaugurou uma nova era e uma nova aliança entre Deus e os homens, que já dura há cerca de 2 mil anos. Yeshua, como ser divino que é, pela sua própria presença e o modo como viveu, veio revelar ao homem como Deus é e como Deus se relaciona conosco. Simultaneamente, sendo divindade perfeita que se fez homem, ele foi como Deus mesmo que veio experimentar a vida da sua própria criatura, que veio conhecer pela carne, integralmente, o nosso ponto de vista, o ponto de vista de uma criatura finita, imatura e imperfeita. Há muitos aspectos relevantes que definem esse período de fecha- mento de uma era e o começo de um novo ciclo. Por agora, quero apenas referir o exemplo de Yeshua, quando ele revelou um conceito mais espiritual e divino da Pessoa Santa do nosso Pai celestial do que aquele registrado nas páginas do Antigo Testamento. Bastará por agora dizer que, passo a passo, era após era, Deus providencia ao homem uma revelação cada vez mais elevada, profunda e abrangente de Si Mesmo. O leitor com certeza se lembrará de episódios em que Yeshua, por assim dizer, veio aperfeiçoar conceitos e espiritualizar preceitos que tinham ficado determinados como dogmas no Antigo Testamento para regulamentação da vida religiosa e, até mesmo, da vida prática dos judeus. Pareceria que Yeshua estava desautorizando as Escrituras, certo? Por exemplo, ele disse que o homem não foi criado para servir ao sábado, mas sim o sábado foi estabelecido para servir ao homem.1 Recorrentemente, esta questão do sábado foi uma das grandes di- vergências entre as autoridades religiosas judaicas e Yeshua. Esta divergência foi, por diversas vezes, o argumento para Yeshua ser acusado de blasfêmia, como alguém que supostamente estaria, dessa forma, renegando a lei dada por Deus aos homens. Um cristão, contudo, sabe que Yeshua não veio renegar o sábado nem as Escrituras, mas sim trazer 1 Ver Marcos, 2:23-28. 12 INTRODUÇÃO um entendimento mais claro e aprofundado da vontade de Deus para os homens. Yeshua também disse: Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.2 Mais uma vez, Yeshua não renega a lei anterior (“Não adulterarás”, o sétimo dos Dez Mandamentos recebidos por Moisés), mas traz um entendimento ainda mais elevado e claro dessa lei. Houve preceitos das Escrituras antigas, no entanto, com os quais Yeshua determina uma ruptura clara. Por exemplo, este em que ele diz: Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.3 Já somos perfeitos? O leitor conhece alguém perfeito? Ou já ouviu falar de alguém perfeito, além do próprio Yeshua? Nunca, certo? O bom senso nos mostra que o crescimento de cada um de nós é um processo em aberto, que espiritualmente e mentalmente ainda estamos dando os primeiros passos, como crianças que mal se sustentam de pé. Quando Yeshua voltar pela segunda vez, com certeza a sua revelação do Pai celestial será ainda mais plena e com contornos de uma 2 Mateus 5:27-28. 3 Mateus 5:43-48. 13 APOCALIPSE AGORA profundidade que não era possível apresentar às mentes dos homens de dois milênios atrás. Não é por acaso que desde Gênesis, Levítico, etc., desde os profetas mais antigos aos mais recentes, vemos que a Bíblia revela uma progressão do entendimento espiritual humano relativamente à natureza de Deus. Que pretensão a dos humanos, pensar que algum dia um livro (por muito sagrado que fosse) alguma vez iria conter a totalidade das revelações de Deus. Não existe fim para o rio das revelações; o leito oceânico da absorção da alma humana jamais ficará absolutamente repleto das águas da verdade divina. Não façamos como os fariseus e saduceus da época de Yeshua, os quais tinham as mentes e corações fechados, eram prisioneiros do dogma, porque acreditavam cegamente que Deus já tinha revelado a plenitude de sua Lei. Por isso perseguiram e mataram Yeshua, como antes haviam perseguido e matado profetas que trouxeram algo que desafiava as verdades de cada era. E, ainda hoje, o número dos mártires continua aumentando porque há muitos milhões de pessoas que não suportam ver seus dogmas serem colocados em cheque ou contrariados. Não façamos como os islâmicos, que inadvertidamente foram vítimas de um suposto livro perfeito e de um suposto último profeta. Para sua grande desventura, fecharam a porta a um crescimento da comunhão com o Deus vivo porque acreditam que já vivem a religião perfeita e que têm um livro sagrado perfeito, acreditam que já conhecem a Deus como Ele é. Mas não conhecem como Deus verdadeiramente é, não sabem quem Deus é. Ter zelo pelo Deus verdadeiro cria bênçãos espirituais em nós, independentemente das condições externas. Quem convive verdadeiramente com Deus, e com a Palavra verdadeira de Deus, espalha bênçãos espirituais, não fomenta destruição nem impõe perseguição aos seus irmãos, como se vê endemicamente no islamismo. A árvore conhece-se pelos frutos. Entendamos, portanto, que as revelações de Deus ao homem não estão represadas no tempo nem encerradas em um único livro. O Antigo Testamento, acredita-se, foi escrito entre cerca de 15 a 4 séculos antes de Cristo, e, em larga medida, é o livro sagrado dos judeus, a Torá, além 14 INTRODUÇÃO de, segundo muitos cristãos, ser a própria Palavra de Deus. Quanto ao Novo Testamento, foi escrito entre o ano 40 e a década de 90 da nossa era. Na perspectiva cristã, o Yeshua descrito no Novo Testamento cumpre as Escrituras anteriores, amplia o nosso conceito da lei divina e revela o caminho da comunhão crescente com Deus. O próprio Yeshua é a prova deque esse crescimento espiritual e do nosso entendimento não tem um fim à vista, e que culminará no alcance da perfeição. Por muito inspiradora e sublime que a Bíblia seja, ainda que seja ela um sólido testemunho à verdade da aliança de Deus com os homens, ela ainda é pobre quando comparada com a Realidade Mesma de Deus e a Realidade Viva da sua relação pessoal com cada um de nós. A História que Deus está escrevendo, com a participação livre do nosso arbítrio, permanentemente abrirá novas e inéditas páginas de Escrituras contínuas. A revelação divina não tem fim à vista. Mantenhamos coração, alma e mente abertos para a crescente revelação de Deus. Encaremos, portanto, as dores do fim da dispensação como o árduo mas compensador prenúncio de um crescimento espiritual desejável, no qual encontraremos o conforto sublime de uma ainda maior aproximação da divindade à humanidade. Depois das dores globais, a aliança com Deus será mais firme e conheceremos mais claramente a realidade do Seu Amor incondicional, bem como a Ele Mesmo. E a humanidade sairá desses eventos apocalípticos mais madura e mais capacitada para a constante ampliação das revelações de Deus. Abracemos com fé o fim da dispensação. “Vem, Senhor Jesus!”4 4 Apocalipse, 22:20. Parte 1 Entender o fenômeno profético 18 Por que acontecem profecias? Há um fenômeno generalizado, nos nossos tempos, em que, de forma paradoxal, multidões ficam atentas às previsões de adivinhos e videntes para cada ano que inicia, no entanto, relativamente pouquíssimas pessoas estudam os profetas do Antigo e Novo Testamento, por intermédio dos quais foi revelada parte do mais essencial do nosso futuro. No mundo ocidental moderno instalou-se uma espécie de aversão generalizada em torno a tudo o que se refira à espiritualidade cristã e aos documentos bíblicos. Na Europa, nomeadamente, a esmagadora maioria das pessoas se relaciona com a religião cristã de um modo quase que exclusivamente cultural. Ou seja, as pessoas nascem e crescem num contexto em que a religião é uma expressão cultural, e não necessariamente espiritual. Por quê? Porque o paradigma secular e humanista invadiu todos os aspectos da vida europeia. Essa foi a consequência de uma revolta extremada, iniciada no Iluminismo do século 18, contra a tirania eclesial de uma Igreja que se arrogou o papel de Deus na Terra. Essa mudança de paradigma teve a vantagem de libertar o ocidente da escravidão às superstições, mas foi uma revolução tão acentuada que caiu no extremo oposto: a escravidão ao secularismo e materialismo. E agora, passados quase três séculos, faz-se urgente estabelecer um novo paradigma, uma vez que esses dois (o eclesial e o secularismo) construíram muralhas contra a verdade que liberta. De um lado, o paradigma eclesial sacerdotal perpetua o dogma que amortece o espírito; do outro lado, o secularismo sem Deus está nos levando a uma derrocada civilizacional. Deus é a origem e sustentação de toda a realidade. Remover Deus das nossas vidas leva-nos inexoravelmente à irrealidade. A relação pessoal de 19 APOCALIPSE AGORA cada indivíduo com Deus não é somente uma parcela da vida, é antes a vida inteira, porque Deus é a própria vida. E, como é Ele a Vida, quando pretendemos viver sem Deus, individual ou coletivamente, estamos nos condenando ao desastre individual e coletivo, e, por fim, à extinção da vida espiritual e até, em última instância, física. Quando se semeia uma vida sem Deus, apenas se poderá colher a morte. Neste início do terceiro milênio vive-se, na Europa quase integral- mente, e nas Américas, parcialmente, sob o domínio da razão sem Deus. Como a razão poderia existir sem o próprio Ser Pensante? Porque somente por existir O Ser Pensante é que podem existir todos os seres pensantes. Nós não temos origem em nós mesmos. Contudo, temos origem num Ser, Aquele que É. A própria razão nos impõe esse axioma. A razão sem Deus é cega, irracional; assim como a ciência sem Deus sempre e apenas observará a casca da realidade, em vez da realidade mesma; assim como a filosofia sem Deus jamais chegará à causa das causas. Então, vivendo segundo o preceito secularista, só é natural que as pessoas, paradoxalmente, por um lado, tenham fascínio por previsões de adivinhos e videntes que se vão confirmando, e ao mesmo tempo, por outro lado, tenham perdido de vista o espantoso tesouro profético adormecido que as aguarda nas páginas das bíblias escrupulosamente arrumadas e fechadas nas prateleiras das bibliotecas caseiras, ou pairando perdido na “nuvem” da grande enciclopédia virtual, no setor das consultas secundárias ou listas de leituras jamais realizadas. Nunca foi tão fácil investigar a verdade, e isso ainda torna mais chocante a evidência de a esmagadora maioria das pessoas não aproveitar o repositório de sabedoria espiritual e profética que está tão acessível. E pior, regra geral, as pessoas não investigam a Bíblia por mero preconceito. Elas, muitas vezes crendo que estão emancipadas num suposto discernimento científico, nem percebem que estão escravizadas ao preconceito, e que estão na verdade tão esclerosadas nos seus conceitos secularistas pseudoavançados quanto estavam os seus antepassados submetidos à Igreja de antanho. Ambos os casos, o antigo e o moderno, revelam os mesmos vícios de pensamento. E esse vício de pensamento tem raiz na crença do homem de que ele sabe por si mesmo. Digamos que as coisas não mudaram assim tanto, pelo menos 20 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO em essência. Até quando deverá o homem ficar repassando o socrático “só sei que nada sei” para se proteger do seu próprio (des)entendimento? Desta omissão, todavia, também não se salva o chamado crente, até mesmo aquele cristão que supostamente (e até mesmo efetivamente) esteja absorvendo o espírito das Escrituras, e não apenas a letra. Embora muitos cristãos protestantes, católicos, ortodoxos e outros estejam vivendo a fé viva, quando chega a hora de estudarem a Palavra, a grande maioria evita ler as profecias bíblicas. Também os cristãos ativos padecem de uma série de mitos. Alguns não estudam as profecias porque pensam que elas já se cumpriram. Errado. Bem pelo contrário, a parte mais substancial das profecias está para ser cumprida. Assim demonstrarei neste livro. Outros acham que o enfoque nas profecias é uma distração ao essencial das Escrituras. Errado. Por que teria havido tanto desperdício de páginas nas Escrituras, já que cerca de um terço da Bíblia é profético? Por que o próprio Senhor Yeshua teve o cuidado de correlacionar diversos eventos da sua vida com as profecias já velhas de muitos séculos na sua própria época? E os apóstolos fizeram o mesmo nos Evangelhos e nas Epístolas. Logo no ato inaugural de sua vida pública, na sinagoga de Nazaré, Yeshua escolheu uma passagem do profeta Isaías para falar de si mesmo ao povo que o escutava: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do Senhor”.5 Então, passou Jesus a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir”.6 Ou seja, Yeshua estava informando o povo que aquela era uma profecia verdadeira, e que tinha sido enunciada para referir a sua própria vinda à Terra. 5 Isaías, 61:1-2a. 6 Lucas, 4:21. 21 APOCALIPSE AGORA E, no final da sua vida, Yeshua mencionou outra profecia sobre ele mesmo. Vejam bem. Yeshua iniciou sua carreira pública com a declaração de que estava cumprindo uma profecia. E quando terminou a sua vida, dependurado na cruz, exalando seu último alento, ainda aí ele ficou declamando o Salmo 22. Este salmo era profético,falava sobre o próprio Yeshua, na plenitude da sua entrega ao Senhor Deus, contando a sua própria história na carne. Todos os que me veem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça: Confiou no Senhor! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer. [...] A ti me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus. Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda. [...] Uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés. Posso contar todos os meus ossos; eles estão me olhando e encarando em mim. Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes. [...] Tudo isso aconteceu na paixão de Yeshua, quando ele foi traído e pregado na cruz. Apesar do Salmo 22 começar com a frase “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?”, todo este Salmo é na verdade um louvor a Deus por Ele jamais nos abandonar, muito menos no meio da maior aflição. Então Yeshua, ao declamar este Salmo 22, estava precisamente dizendo à posteridade dos seus crentes e seguidores que tudo tinha acontecido verdadeiramente sob a proteção do Pai divino e se consumado segundo as Escrituras proféticas. Ele estava falando verdadeiramente de toda a sua entrega incondicional, nos dando exemplo e coragem para as entregas que nós mesmos tenhamos que decidir, até mesmo a entrega das nossas vidas físicas, se for o caso. Vejam como, no final do Salmo 22, Yeshua fala de como ele é o Senhor do mundo desde então, e de como virá um tempo em que todos a ele se converterão: 22 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações. Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações. Todos os opulentos da terra hão de comer e adorar, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele, até aquele que não pode preservar a própria vida. A posteridade o servirá; falar-se-á do Senhor à geração vindoura. Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem o fez. Yeshua abriu e fechou com profecias a cena da sua paixão pública de cerca de três anos. E, pelo meio, foi cumprindo outras profecias e as revelando ao seu povo enquanto as cumpria. Ele não queria que sua vinda e sua passagem fossem segredo para os seus conterrâneos e as gerações vindouras. Sempre que cumpria uma profecia em sua vida, ele tinha o cuidado de indicar esse cumprimento aos seus apóstolos e discípulos. E é esse o espírito das profecias, elas não são formuladas como um acontecimento oculto ou difícil de discernir. As profecias estão expressas de tal forma que, quando acontecem os eventos descritos por elas, são eventos discerníveis e que claramente as comprovam. Deus transmite-nos antecipadamente alguns dos acontecimentos que nos aguardam no futuro porque a profecia é uma das formas mais eficazes, adequadas e perfeitas de que Ele se mune para nos preparar e nos encher de ânimo, para que, quando chegar a hora das tribulações, nós estejamos revestidos da fé com que nos cingiremos, da força com que suportaremos as dores, sabendo de antemão sobre o glorioso destino reservado a quem bebe o cálice até o fim. E nessa hora da consumação, também há a sublime comprovação de que o nosso Deus tudo sabe, fica demonstrado na prática que realmente Ele é onisciente. E é esta natureza onisciente que ainda não foi adequadamente entendida por muita gente quando ela se expressa no fenômeno profético. O que explicarei em seguida pode ser, para muitos, um novo enfoque para se entender melhor aspectos dessa natureza onisciente de Deus. 23 Como acontecem profecias? Primeiro, temos que fazer uma demarcação importante: profetas não são simples adivinhos. No Antigo Testamento vemos profetas sendo chamados de videntes. Profetas podem de fato ser videntes, mas não são meros adivinhos. A adivinhação é seguir palpites, impressões, sugestões psíquicas, especulações mentais, etc. Alguém que faz adivinhação vai acertar alguns palpites e falhar outros. É fato que um adivinho pode em algum momento receber uma profecia. Mas quando essa profecia vem imiscuída com a prática da adivinhação, isso configura algo que não foi o método como os profetas bíblicos verdadeiros receberam suas revelações. Os profetas bíblicos foram homens que se graduaram espiritual- mente para receberem as suas revelações ao preço de uma entrega incondicional a Deus. E quando essas revelações proféticas chegaram a eles, não foram fenômenos de palpites nem especulações, mas sim revelações que se impuseram ao entendimento e visão dos profetas de forma indelével e poderosa, de maneira totalmente nítida e avassa- ladora, sem margens para dúvidas nem hesitações. Além disso, essas pro- fecias não surgiram porque os profetas as pretenderam receber, mas sim porque Deus, por intermédio dos seus agentes celestiais, ou por meio dos circuitos espirituais, estabeleceu que essas profecias deveriam ser reveladas a esses homens nesse momento. Nas Escrituras vemos que os profetas não estavam recebendo revelação profética em todo o tempo. Por diversas vezes, nos vários livros proféticos, está registrado o fato de, na vida dos profetas, terem passado anos entre uma profecia e outra. Isso é evidência de que cada profecia é o corolário de algo único e destacado, algo que foi criteriosamente selecionado para ser preservado à posteridade. 24 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO O apóstolo Pedro assinala esse diferencial, quando diz: nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.7 Como acontecem as profecias? Esta questão mesma implica conhecer mais da natureza de Deus. O Espírito da Verdade enviado por Yeshua em Pentecostes veio nos ajudar a entender um pouco mais da natureza de Deus. É a presença do próprio Deus em nosso coração e mente que nos permite perscrutar um pouco sobre Ele, caso contrário não haveria possibilidade de nossas mentes humanas materiais cobrirem o imensurável hiato que vai do finito ao Infinito, do mortal ao Imortal. É porque os Elohim (Pai, Filho e Espírito) nos fizeram à Sua imagem e semelhança que conseguimos captar algo da natureza e essência da Trindade divina, o Deus único manifestado em Três Pessoas divinas, caso contrário não haveria qualquer ponte em nossas mentes que nos permitisse algum discernimento, e nem haveria base para o Espírito da Verdade se firmar em nós desde o dia de Pentecostes. A mente de Deus, por assim dizer, é a polaridade oposta à mente humana. O pensamento de Deus é infinito e perfeito, absolutamente abrangente da Realidade integral; o pensamento humano é finito e imperfeito, apenas discernimos de modo fragmentado, desconexo, inclusive distorcendo a leitura da realidade segundo a nossa subjetividade pessoal. As profecias são uma antecipação do futuro. No que diz respeito ao tempo, a mente humana, para tentar entender a realidade, usa referenciais sequenciais. Nós sentimos e percebemos a nossa vida de forma linear, a nossa percepção sempre é que viemos do passado, estamos no presente e caminhamos para o futuro. Vemo-nos caminhando em uma sequência histórica. Ora, não é assim que Deus interage com a 7 2 Pedro, 1:20-21. 25 APOCALIPSE AGORA Realidade que Ele mesmo criou. Deus não está condicionado a uma linha histórica sequencial, porque “Deus habita o círculo da eternidade”. Nada é novo para Deus e nenhum evento cósmico jamais surge como uma surpresa; Ele habita o círculo da eternidade. Os Seus dias não têm princípio nem fim. Para Deus não há passado, presente ou futuro; todo tempo é presente, em qualquer instante.8 Em umade suas profecias entregue a Zacarias, Deus, se referindo ao futuro, declarou: “porque, agora, vejo isso com os meus olhos”.9 É isso que está sendo afirmado no parágrafo 2:1.5 do Livro de Urântia: Deus está vendo todo o futuro agora, desde sempre e a toda a hora! Uma grande confusão é despertada na mente humana diante de tal aparente paradoxo. Como conciliar isso com o livre arbítrio do homem? É que Deus não nos cria robôs, no entanto, Ele já sabe de todo o nosso futuro no momento em que Ele nos criou. Deus já sabe os eventos que ocorrerão, bem como sabe quais criaturas participarão desses eventos e como. Deus não fica encenando as sequências históricas a seu bel-prazer, nem condiciona as escolhas feitas pelos seres humanos e anjos, a quem criou com a dignidade do livre arbítrio, para que cada criatura opte livremente pelo plano divino, ou então livremente rejeite participar dos propósitos perfeitos do nosso Pai divino. Foi desse livre arbítrio que nasceu a própria rebelião de Lúcifer;10 foi desse livre arbítrio que se originou a queda de Adão e Eva;11 foi esse livre arbítrio que Yeshua manifestou, na fatídica noite no Jardim do Getsêmani, quando implorou “Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”;12 é desse mesmo livre arbítrio que o 8 O Livro de Urântia, Documento 2, “A Natureza de Deus”; tópico 1, “A Infinitude de Deus”; parágrafo 5. 9 Zacarias 9:8. 10 O Livro de Urântia, Documento 53 (“A Rebelião de Lúcifer”) e Documento 54 (“Os Problemas da Rebelião de Lúcifer”). 11 O Livro de Urântia, Documento 75 (“A Falta de Adão e Eva”). 12 Mateus, 26:42. 26 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO ser humano constrói o seu destino, ou se submetendo cada vez mais inteiramente à vontade perfeita de Deus, ou se demarcando da vontade divina, se afundando cada vez mais na irrealidade, até finalmente sofrer a segunda morte, a definitiva, a morte da alma. Há passagens nas Escrituras em que Deus é descrito como estando aparentemente a condicionar as decisões de alguns homens. Na verdade, o que essas passagens significam é que Deus usa todas as decisões das criaturas – quer sejam boas ou más decisões – para servir aos seus planos perfeitos. Nada sai do controle absoluto dos desígnios divinos. E Deus consegue aplicar esse controle absoluto sem interferir jamais no livre arbítrio das criaturas. Essa condição é parte intrínseca da onipotência e onissapiência de Deus. Uma das objeções que pessoas fazem a este paradigma (Deus vê todo o futuro a todo momento) é o seguinte argumento: “Se Deus estivesse vendo o futuro de cada criatura, quando Ele visse que uma criatura iria ser iníqua e sofrer a morte da alma, então Ele já nem sequer criaria essa criatura que estaria nascendo já condenada à perdição”. Mas a verdade é que ninguém nasce condenado à perdição. As almas perdem-se somente por causa das suas próprias decisões. Pensar que Deus apenas criaria criaturas que garantidamente iriam fazer a Sua vontade e se salvar revela uma visão, digamos, açucarada da vida. Esse argumento demonstra que a pessoa ainda não percebeu que se Deus criasse pessoas que nunca iriam optar por decisões contrárias à Sua vontade, então Ele estaria criando robôs. Deus faz questão absoluta de as suas criaturas terem livre arbítrio. Além disso, aquele argumento desmorona quando se olha objetivamente para a realidade humana: este planeta está repleto de misérias, perdição, queda moral, bancarrota espiritual, abusos ao próximo, etc. Deus tem culpa disso? É Deus quem está fazendo essas coisas por intermédio das suas criaturas? Ou isso é antes consequência das escolhas das criaturas que edificam cenários tão errôneos e chocantes, tão opostos a tudo o que a nossa consciência percebe cristalinamente ser o desejo divino para nós? Deus é supremamente Bom; Ele só quer o nosso Bem, e nada mais que o nosso Bem. 27 APOCALIPSE AGORA A seriedade da vida real é absoluta. O nosso Deus é um Deus de misericórdia e inabalável perfeição, mas Ele não vai deixar de manifestar uma posição mais severa caso assim Ele nos ajude mais eficazmente a crescer e garantir a salvação da nossa alma. Bem pelo contrário, se na sua sabedoria perfeita Ele vê que essa será a melhor ajuda para nós, então essa atitude divina mais justiceira será posta em ação, e nesses casos temos tendência a pensar que estamos sendo castigados, quando de fato estamos sendo ajudados da forma mais eficaz. Muitas vezes somos assim beneficiados por uma intervenção divina mais aguda, digamos, com caráter emergencial. Deus é plenamente sabedor das nossas necessidades, e conhece absolutamente as nossas tendências pessoais na reação aos eventos em nossas vidas. Ele tudo fará para nos salvar, até intervir com atos de correção quando se fazem necessários. O que vou afirmar agora poderá tornar o paradoxo ainda mais den- so. Na verdade, não é que Deus crie pessoas das quais já conhece todo o percurso futuro, pessoas que Ele já sabe como irão decidir em cada passo da vida. Não! O paradigma que apresento é outro. Enquanto Deus não cria a pessoa, Deus não fica vendo o futuro dessa pessoa. Por quê? Porque essa pessoa simplesmente não existe. A mente e o pensamento de Deus são tão perfeitos que Ele não fica fazendo especulações. Deus só lida com a Realidade. Ele é a própria Realidade; Ele não é feito de especulações. Ele não precisa fazer cálculos antecipados para que os seus planos não corram riscos de desvios e sofram resultados negativos inesperados. A Realidade que ele cria já é inerentemente perfeita e sem risco de falhas na eternidade, simplesmente porque Ele mesmo é a perfeição. Especulações são da esfera mental das criaturas relativas, não da esfera mental do Criador perfeito e absoluto. Mas quando Deus cria a pessoa, aí sim, não há volta atrás, a pessoa já faz parte da Realidade. E, inerentemente, no exato primeiro milionésimo de segundo (na verdade, fora do tempo), Deus está vendo (não prevendo, não calculando, mas sim vendo) todo o futuro que essa pessoa irá definir para si mesma pelas suas próprias decisões, pelo seu próprio livre arbítrio. Relembro, “para Deus não há passado, presente ou futuro; todo tempo é presente, em qualquer 28 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO instante”;13 “porque, agora, vejo isso [o futuro] com os meus olhos”,14 disse o Senhor Deus. Por outras palavras, quando Deus ou os seus agentes celestiais entregam uma profecia a um ser humano, isso quer dizer que os eventos descritos já ocorreram no futuro. Sim, é isso mesmo! Você não leu errado. Repito, os eventos descritos já ocorreram no futuro. Lembre-se, é futuro para as criaturas, mas Deus “habita no círculo da eternidade”, ou seja, para Deus tudo é presente, ou, melhor dizendo, tudo é fora do tempo. O livre arbítrio das criaturas foi respeitado por Deus, porque foram elas que fizeram as suas escolhas, e Deus simplesmente está olhando o que as suas criaturas decidiram no futuro. Sim, você leu corretamente: é decidiram (passado), e não decidirão (futuro). Deus já está “lá”, no futuro, percebendo os eventos e as escolhas das criaturas como fatos já consumados, fora do tempo. Como Deus é o único ser que absolutamente transcende todo o tempo e espaço, Ele tem a capacidade inerente de trazer memórias do futuro para o tempo humano presente, o que é conhecido como profecias. Profecias são memórias do futuro. Vamos olhar a “técnica” exposta no Livro do Apocalipse, para enten- dermos melhor como funciona esse paradoxo. 13 O Livro de Urântia, Documento 2, “A Natureza de Deus”; tópico 1, “A Infinitude de Deus”; parágrafo 5. 14 Zacarias, 9:8. 29 A “técnica” profética Vamos fazer o exercício salutar da especulação. Pode bem ser que no processo isso nos faça ficar um pouco mais próximos das maravilhasde Deus, e com certeza que tal nos faz crescer na admiração da Sua obra sublime e do Seu plano perfeito, mesmo que no Paraíso venha a ser-nos dito que apenas arranhamos a superfície desse entendimento. Inquirir da natureza e estratégias divinas só pode ser construtivo e edificante. Ainda enquanto as conclusões da mente humana permaneçam toscas, embotadas pela imperfeição do buscador, o estudo das profecias nos faz crescer em sabedoria. Não é acaso que no Livro do Apocalipse, logo na abertura, recebemos uma bênção: “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo”.15 Nem tampouco são acaso estas palavras proferidas pelo arcanjo revelador, Gabriel, ao profeta Daniel, no encerramento do seu livro profético: “Daniel, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim; muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará”.16 Fica claro que o estudo das profecias, o querer entendê-las e tentar interpretá-las, nos traz potencialmente bem-aventurança e sabedoria. “Buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á”!17 É típico dos livros proféticos que em sucintas palavras, rigorosamente selecionadas, sejam transmitidos conceitos profundíssimos e informações vitais. As terminologias promovidas pelos ajudantes celestiais e proferidas pelos profetas abrangem diversas camadas de significado, e 15 Apocalipse, 1:3. 16 Daniel, 12:4. 17 Lucas, 11:9. 30 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO constituem-se como chave que abre vastas informações. Assim, logo no primeiro versículo do Livro do Apocalipse somos elucidados sobre um aspecto da “técnica” da mensagem profética. João, o apóstolo, inicia o Livro do Apocalipse com as seguintes palavras: Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João.18 Nesse primeiro versículo vemos quatro pessoas alinhadas sequen- cialmente, para que fosse possível a informação profética viajar desde o Paraíso à Terra: 1. Deus 2. Jesus 3. Anjo 4. João Analisemos o papel de cada uma dessas quatro pessoas: 1. Deus. Como expus antes, Deus é o único conhecedor absoluto de toda a Realidade a toda a hora, passada, presente e futura. Ele é a fonte primeira da informação profética, porque só Ele está olhando agora mesmo, sempre, todo o futuro já consumado segundo as escolhas livres das criaturas intervenientes pelo futuro inteiro. Como Ele disse a Zacarias: “agora, vejo isso [o futuro] com os meus olhos”.19 2. Jesus. Todos os estudantes da Bíblia, e mesmo a maioria dos cristãos que quase não a leram, têm memória da declaração do Mestre quando ele 18 Apocalipse, 1:1. 19 Zacarias, 9:8. 31 APOCALIPSE AGORA estava se referindo ao tempo do “fim da dispensação”: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai”.20 No Livro de Urântia podemos ler estas palavras proferidas por Yeshua (Jesus): “A época da volta do Filho do Homem, todavia, é conhecida apenas nos conselhos do Paraíso, nem mesmo os anjos dos céus sabem quando isso ocorrerá. Contudo, vós deveríeis entender que, quando este evangelho do Reino houver sido proclamado a todo o mundo, para a salvação de todos os povos, e quando o tempo tiver alcançado a sua plenitude, o Pai vos enviará uma outra outorga dispensacional, ou então, o Filho do Homem retornará para julgar a idade. E agora, a respeito das atribulações de Jerusalém, sobre as quais vos falei, mesmo esta geração não passará antes que minhas palavras se cumpram; mas a respeito da época do retorno do Filho do Homem, ninguém no céu ou na Terra pode presumir falar. Mas deveríeis ser sábios a respeito do amadurecimento de uma idade; deveríeis estar alerta para discernir os sinais dos tempos. Vós sabeis que, quando a figueira mostra seus tenros galhos e folhas, é porque o verão está próximo. Do mesmo modo, quando o mundo tiver passado pelo longo inverno de mentalidade materialista e já discernirdes a vinda da primavera espiritual de uma nova dispensação, deveríeis saber que se aproxima o verão de uma nova visitação.”21 Mesmo tendo “subido à direita” do Pai e sendo o soberano que ocupa o trono, Yeshua não tem o conhecimento absoluto, o qual é prerrogativa do Pai divino. Por isso o primeiro versículo de Apocalipse indica que Yeshua recebeu a profecia da parte de Deus. Yeshua é o ser elevado que consegue receber a palavra diretamente de Deus. Quanto ao conhecimento específico do dia e hora do julgamento, é bem possível 20 Mateus 24:36; Marcos, 13:32. 21 O Livro de Urântia, Documento 176, “Terça-feira à noite no Monte das Oliveiras”; tópico 2, “A Segunda Vinda do Mestre”; parágrafos 5-6. 32 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO que Yeshua neste momento já tenha recebido essa informação, talvez até mesmo ele já a tivesse recebido quando enviou a revelação a João, apesar de não conhecê-la enquanto ainda vivia na carne. Mas se for esse o caso, foi decidido não se passar a informação específica do dia e hora aos seres humanos. 3. Anjo. Em livros como os dos profetas Daniel e Ezequiel, fica bem patente o papel dos anjos como mensageiros, os intermediários que entregam as mensagens proféticas aos homens. Em Daniel, é o arcanjo Gabriel quem traz revelação; em Ezequiel, é um ser celestial que ele descreve como “ser vivente” e outros. O mesmo se passa aqui em Apocalipse: existe um intermediário, um Anjo, a quem Yeshua incumbiu de notificar o seu servo João. Os anjos também não conhecem o dia e a hora do julgamento dispensacional, mas muitas vezes, senão em todas, desempenham um papel essencial para amparar o profeta e ajudá-lo a registrar a profecia. As comunicações divinas não se processam numa estéril abstração de pura transcendência. Deus, de modo prático, escolhe usar as Suas criaturas em todos os níveis para servirem à Sua causa e realizar Seus desígnios desempenhando sempre algum serviço útil no incomensurável concerto cósmico da Sua criação sublime. Deus sempre escolhe delegar aos Seus filhos as tarefas que estejam ao alcance deles. Deus sempre aproveita as mínimas oportunidades para conceder às Suas criaturas o prazer e honra do serviço a Ele, à causa Dele e à irmandade cósmica. 4. João. E finalmente vemos o elemento humano, o profeta, receptor final da mensagem que Deus enviou com um propósito específico, para, com o registro escrito do seu testemunho, orientar, despertar e amparar os seres humanos para a hora e o dia em que a profecia culminará. O ser humano está na escala mais baixa da existência. Com a sua notória imperfeição, simplicidade mental, fragilidade emocional e imaturidade espiritual, o humano reside no polo mais afastado de Deus. É imprescindível ao diminuto ser humano que as revelações 33 APOCALIPSE AGORA lhe cheguem frequentemente por intermediários celestiais, já que dificilmente o homem consegue captar Deus em toda a Sua pureza espiritual, e com certeza não está capacitado a subir aos céus enquanto viver na carne. É dito que se fosse levado agora mesmo ao Paraíso e posto diante de Deus, cara a cara, o homem seria incapaz de ver ou perceber o que fosse. De quase nada essa viagem lhe aproveitaria agora. Paulo registrou: Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir.22 O próprio Paulo, em seu arrebatamento até o que ele chamou de “terceiro céu”, tinha dúvidas sobre se ele tinha sido levado no corpo ou fora docorpo. Segundo O Livro de Urântia, esse arrebatamento, na verdade, foi do seu próprio Espírito, fora do corpo. A carne humana não está capacitada a se deslocar para as dimensões sutis da realidade nem pelo espaço sideral. A carne humana é matéria, é o tabernáculo criado para que o espírito possa interagir com a matéria e habitar nela. Daí que usualmente são anjos que entregam as mensagens proféticas aos homens espiritualizados e preparados para essa função, e não os próprios homens que sobem aos níveis sutis da realidade para aí receberem as revelações. O Livro de Urântia explica o que aconteceu nessa experiência de Paulo (uso estas chavetas [ ] para inserir meus comentários no meio da citação; os itálicos também são meus): Deveríeis considerar a declaração sobre o “céu” e sobre o “céu dos céus”. O céu concebido pela maioria dos vossos profetas é o primeiro mundo das mansões do sistema local. Quando o apóstolo falou sobre ter sido “levado ao terceiro céu”, referia- se ele à experiência na qual o seu Ajustador [N. A.- Espírito] 22 2 Coríntios, 12:2-4. 34 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO destacava-se dele durante o sono e, nesse estado inusitado, fazia uma projeção ao terceiro dos sete mundos das mansões. Alguns dos vossos sábios tiveram a visão do céu maior, “o céu dos céus”, do qual a experiência sétupla no mundo das mansões [N. A.- Onde somos ressuscitados] não é senão o primeiro céu; o segundo, sendo Jerusém [N. A.- Capital do nosso Sistema que atualmente coordena mais de 600 mundos habitados, que no futuro chegarão a ser cerca de 1.000 mundos habitados]; o terceiro, Edêntia e seus satélites [N. A.- Capital da nossa Constelação, composta de 100 Sistemas, ou seja, abrangendo no futuro cerca de 100 mil mundos habitados]; o quarto, Sálvington e as esferas educacionais que a circundam [N. A.- Capital do Universo Local, que governa 100 Constelações, ou seja, cerca de 10 milhões de mundos habitados]; o quinto, Uversa [N. A.- Capital do Superuniverso, o qual governa 100 mil Universos Locais, ou seja, cerca de 1 trilhão de mundos habitados no tempo e no espaço]; o sexto, Havona [N. A.- que é o Universo Central fora do tempo e espaço,23 criado já perfeito, composto de 1 bilhão de esferas perfeitas, habitadas por criaturas perfeitas]; e o sétimo, o Paraíso [N. A.- Centro dos universos, onde habita Elohim, as Três Pessoas da Trindade, o Pai Universal, o Filho Eterno e o Espírito Infinito].24 Nas raras cenas mostradas a João e a outros profetas em que aparecem Anciãos sentados em tronos para julgamento da humanidade, esses Anciãos não são Deus, mas sim elevadíssimas entidades celestiais a quem é dado governar sobre o reino dos homens e dos anjos em nome de Deus. Esses Anciãos habitam em Uversa, a capital do Superuniverso. 23 O Livro de Urântia descreve uma cosmogonia em que a parte habitada dos universos evolucio- nários do tempo e espaço compõe-se de 7 trilhões de mundos, repartidos por 7 Superuniversos com 1 trilhão de mundos em cada. Todos esses universos estão no tempo e no espaço, servindo de berço e caminho evolucionário para incontáveis criaturas (talvez só Deus conheça esse número). Segundo a mesma revelação, o grande universo do tempo e do espaço é finito e circunscrito (só Deus é infinito e eterno, sem princípio nem fim), e na sua maior parte está ainda desabitado, mas destina-se a ser todo ele residido por números inconcebíveis de criaturas materiais e celestiais. Fora do tempo e do espaço, temos o centro do universo, a chamada Ilha do Paraíso, único local estacionário em todo o cosmos, a qual está rodeada pelo universo central já criado perfeito. Só depois, externamente ao universo central, orbitam os primeiramente referidos 7 superuniversos evolucionários do tempo e do espaço. 24 O Livro de Urântia, Documento 48, “A Vida Moroncial”; tópico 6, “Os Serafins dos Mundos Moronciais”; parágrafo 23. 35 APOCALIPSE AGORA Em jeito de conclusão, a “técnica” profética, regra geral, acontece com a mensagem original sendo intermediada de alguma maneira, com a participação de ajudantes celestiais, até ser entregue à menor das criaturas de vontade nos universos: o ser humano. É uma espécie de “escada de Jacó”, em que as revelações vêm sendo intermediadas desde as personalidades mais elevadas até às de menor porte espiritual, finalmente fazendo chegar a Palavra de Deus ao homem. Como confiar nas profecias bíblicas? Explicado algo da “técnica” profética, a qual nos permite entender um pouco da integração dos vários planos da realidade (do divino ao hu- mano, passando pelo angélico), quero abordar a questão da veracidade e confiabilidade das profecias bíblicas. Todos estamos familiarizados com a expressão “falsos profetas”. Por que essa familiaridade? Talvez porque estejamos mais habituados a ver adivinhos do que profetas. Só há uma maneira de se comprovar se a árvore é boa: pelos frutos. Se os frutos são bons, a árvore é boa. Por outras palavras, se as profecias se comprovam, então estamos diante de um verdadeiro profeta. Será assim de esperar que tudo o resto que o profeta mencionou se materializará em algum futuro determinado. Nada mais natural, então, do que começar a ler as profecias bíblicas com os olhos abertos para aquelas que já se cumpriram. Só assim teremos fé que as profecias ainda não cumpridas se concretizarão. Na Bíblia, graças a Deus, encontramos uma lista enorme de profecias cumpridas. Só relativamente à primeira vinda de Yeshua ao nosso planeta contam-se mais de trezentas passagens bíblicas. Em todo este estudo, não abordarei aquele tipo de profecia que eu chamaria de “preventiva”, ou condicional. Essas profecias “preventivas”, ou condicionais, são as que foram proferidas para que indivíduos ou povos inteiros se desviassem de alguma catástrofe anunciada, que estaria iminente caso esses indivíduos ou povos não se arrependessem dos seus caminhos e práticas pecaminosas, e não voltassem a se regular pelas leis entregues por Deus à humanidade. Na verdade, há uma quantidade 36 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO limitada desse tipo de profecia “preventiva” na Bíblia, e quando ocorre é autoexplicativa. Neste livro, todavia, quero apresentar apenas profecias determinadas, tanto cumpridas e cumpridas parcialmente quanto as que ainda não se cumpriram. Exemplo de uma profecia que já se cumpriu Uma das mais famosas profecias já cumprida encontra-se em Ezequiel 37. O profeta Ezequiel viveu quase seis séculos antes de Cristo. Ele foi um dos judeus cativos no exílio da Babilônia. Estima-se que as suas revelações aconteceram ao longo de um período de mais de vinte anos. A primeira de suas profecias registradas foi quando ele tinha 30 anos, “no quinto ano de cativeiro do rei Joaquim”, em 593 a.C.25 A última registrada ocorreu “no ano vigésimo-quinto do nosso exílio [...] catorze anos após ter caído a cidade”.26 Jerusalém foi destruída por Nabucodonosor, o rei da Babilônia, em 586 a.C. Depreende-se, assim, que os capítulos 40 a 48 de Ezequiel foram profetizados em 572 ou 571 a.C., quando Ezequiel já teria 51 ou 52 anos. Este foi um dos profetas que não somente teve visões, mas de fato foi visitado por seres celestiais, os quais ele chamou de “seres viventes”, cuja impressionante descrição é feita por Ezequiel logo no início do seu livro. O livro de Ezequiel está repleto de profecias cumpridas, muitas delas poucos anos depois de serem proferidas. Mas a que eu quero mencionar é uma das mais famosas e diz respeito a tempos muito próximos a nós, ou seja, o período da Segunda Guerra Mundial e pós-guerra, desde 1939 até 1948. Com uma antecedência de mais de 2.500 anos, Ezequiel profetizou o retorno dos judeus à sua terra-mãe após serem substancialmente dizimados na Segunda Guerra Mundial. Os seguintes versículos compõemo capítulo 37 de Ezequiel. 25 Ver Ezequiel, 1:1-2. 26 Ezequiel 40:1. 37 APOCALIPSE AGORA 1 Veio sobre mim a mão do SENHOR; ele me levou pelo Espí- rito do SENHOR e me deixou no meio de um vale que estava cheio de ossos, 2 e me fez andar ao redor deles; eram mui numerosos na super- fície do vale e estavam sequíssimos. 3 Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão reviver estes ossos? Respondi: SENHOR Deus, tu o sabes. 4 Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR. 5 Assim diz o SENHOR Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. 6 Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o SENHOR. 7 Então, profetizei segundo me fora ordenado; enquanto eu profetizava, houve um ruído, um barulho de ossos que batiam contra ossos e se ajuntavam, cada osso ao seu osso. 8 Olhei, e eis que havia tendões sobre eles, e cresceram as carnes, e se estendeu a pele sobre eles; mas não havia neles o espírito. 9 Então, ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. 10 Profetizei como ele me ordenara, e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso. 11 Então, me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a nossa esperança; estamos de todo exterminados. Até ao versículo 11, está profetizado que os judeus chegariam muito perto do extermínio. É provável que quase metade dos judeus tenha sido aniquilada na Segunda Guerra Mundial. Atualmente (2017) há perto de 15 milhões de judeus. Segundo os censos demográficos, os judeus estão prestes a chegar ao número que se acredita era a população judaica espalhada pelo mundo antes do deflagrar da Segunda Guerra, 16 milhões. Se a guerra não tivesse terminado em 1945, quem sabe 38 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO ocorreria o extermínio integral dos judeus pela mão dos nazistas? As imagens mostradas a Ezequiel são extremamente sugestivas. Elas fazem lembrar aquelas fotos que já se tornaram parte do consciente coletivo, os corpos escanzelados de judeus, com os ossos à flor da pele, por trás das cercas dos campos de concentração nazistas enquanto vivos, ou como cadáveres empilhados às dezenas antes de serem enterrados em valas comuns ou de serem queimados nos fornos crematórios. Continuemos o capítulo 37. Ele traz revelações cada vez mais es- pantosas. 12 Portanto, profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Eis que abrirei a vossa sepultura, e vos farei sair dela, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. 13 Sabereis que eu sou o SENHOR, quando eu abrir a vossa sepultura e vos fizer sair dela, ó povo meu. 14 Porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa própria terra. Então, sabereis que eu, o SENHOR, disse isto e o fiz, diz o SENHOR. A partir do versículo 12, vemos a reviravolta inesperada. Quando tudo parecia perdido para os judeus, porém, eis que a Segunda Guerra Mundial termina, e acontece aquilo que quase ninguém imaginava que poderia jamais voltar a acontecer: a nação de Israel ressurge das cinzas do primeiro século da nossa era. A comunidade internacional dos Aliados vencedores da guerra decide criar o estado de Israel. Os judeus voltam a reaver pelo menos uma parte do território que era a sua antiga nação, de onde tinham sido expulsos há quase 2 mil anos, no ano 70, quando Jerusalém foi destruída pelas legiões lideradas por Tito, general romano. E as imagens reveladas a Ezequiel não poderiam ter sido mais premonitórias, uma vez que a principal razão que suscitou essa decisão da comunidade internacional foi um ímpeto para tentar compensar o Holocausto judeu sofrido às mãos dos nazistas. Já em 1917 tinha sido formalizada a intenção de se criar “um Lar Nacional para o Povo Judeu”, com a Declaração de Balfour.27 27 Citação obtida da Wikipédia: “Declaração de Balfour é uma carta de 2 de novembro de 1917, do então secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, dirigida ao Barão 39 APOCALIPSE AGORA As nações mais poderosas à época (Império Britânico, França, EUA) estavam sensibilizadas para a criação de Israel, caso o Império Britânico derrotasse o Império Otomano na Primeira Guerra Mundial. O palco estava preparado desde trinta anos antes, e finalmente os horrores do Holocausto nazista dos judeus foram o gatilho final para que as nações mais poderosas materializassem a vontade de Deus expressada pelos seus profetas. Israel renasceria como a Fênix mitológica, o povo da Aliança voltaria ao território que Deus lhe prometera, conforme as Escrituras. Todos os profetas deixaram bem claro que os judeus seriam espalhados por todas as nações do mundo, mas que Deus os levaria de volta à Terra Prometida. Até o século 19 quase ninguém imaginaria que seria possível à nação de Israel voltar à existência. Afinal, mais de 18 séculos tinham passado em cima da aniquilação de Israel como nação. Nem entre os círculos religiosos, fossem cristãos ou judaicos, sequer já se acreditava nisso, excetuando meia dúzia de peculiares crentes “ingênuos”. Apesar de esse fato estar claramente exposto nas Escrituras, tal não fazia com que os teólogos convencionais lhe dessem relevância. Já tinha, por essa época, sido criada a “teologia da substituição”. Essa teologia defende que os Rothschild, líder da comunidade judaica do Reino Unido, para ser transmitida à Federação Sionista da Grã-Bretanha. A carta se refere à intenção do governo britânico de facilitar o estabelecimento do Lar Nacional Judeu na Palestina, caso a Inglaterra conseguisse derrotar o Império Otomano, que, até então, dominava aquela região. A carta foi escrita nos seguintes termos: “Caro Lord Rothschild, “Tenho o grande prazer de endereçar a V. Sa., em nome do governo de Sua Majestade, a seguinte declaração de simpatia quanto às aspirações sionistas, declaração submetida ao ga- binete e por ele aprovada: ‘O governo de Sua Majestade encara favoravelmente o estabelecimento, na Palestina, de um Lar Nacional para o Povo Judeu, e empregará todos os seus esforços no sentido de facilitar a realização desse objetivo, entendendo-se claramente que nada será feito que possa atentar contra os direitos civis e religiosos das coletividades não-judaicas existentes na Palestina, nem contra os direitos e o estatuto político de que gozam os judeus em qualquer outro país.´ “Desde já, declaro-me extremamente grato a V. Sa. pela gentileza de encaminhar esta decla- ração ao conhecimento da Federação Sionista. “Arthur James Balfour.” O texto da carta foi publicado na imprensa uma semana depois, em 9 de novembro de 1917. A Declaração de Balfour foi posteriormente incorporada ao Tratado de Sèvres, que selou a paz com o Império Otomano, e também ao documento que instituiu o Mandato Britânico da Palestina. O documento original encontra-se na British Library.” In: Wikipédia. 40 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO cristãos substituíram os judeus na nova Aliança com Deus, diante da recusa do judaísmo em reconhecer Jesus como o Messias prometido. Só que Deus é Deus. Deus não pensa como os seres humanos, nem tem atitudes humanas. Deus não se equivoca. Quando Ele decreta, não há volta atrás. O que Ele decretou não é revogado, o que Ele determina vai acontecer, nem que seja a última das probabilidades, de fato, nem que haja zero probabilidades à luz da razão humana. E Ele tem provado isso à exaustão. Deus declarou pelos seus profetas que a nação de Israel jamais terá fim enquanto o mundo existir, então é isso que vai acontecer.As correlações continuam pelos versículos seguintes de Ezequiel 37: 15 Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: 16 Tu, pois, ó filho do homem, toma um pedaço de madeira e escreve nele: Para Judá e para os filhos de Israel, seus companheiros; depois, toma outro pedaço de madeira e escreve nele: Para José, pedaço de madeira de Efraim, e para toda a casa de Israel, seus companheiros. 17 Ajunta-os um ao outro, faze deles um só pedaço, para que se tornem apenas um na tua mão. 18 Quando te falarem os filhos do teu povo, dizendo: Não nos revelarás o que significam estas coisas? 19 Tu lhes dirás: Assim diz o SENHOR Deus: Eis que tomarei o pedaço de madeira de José, que esteve na mão de Efraim, e das tribos de Israel, suas companheiras, e o ajuntarei ao pedaço de Judá, e farei deles um só pedaço, e se tornarão apenas um na minha mão. 20 Os pedaços de madeira em que houveres escrito estarão na tua mão, perante eles. 21 Dize-lhes, pois: Assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu tomarei os filhos de Israel de entre as nações para onde eles foram, e os congregarei de todas as partes, e os levarei para a sua própria terra. 22 Farei deles uma só nação na terra, nos montes de Israel, e um só rei será rei de todos eles. Nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão em dois reinos. 41 APOCALIPSE AGORA Não apenas Ezequiel profetizou que os judeus voltariam a tomar posse da sua terra original, como também que a futura Israel seria uma só nação, que abrangeria os dois reinos aniquilados à sua época. Esta afirmação pode parecer estranha para quem desconheça a história antiga. É que no ano 932 a.C., após a morte de Salomão, mais de 300 anos antes de Ezequiel, o povo judeu ficou dividido em duas nações: Israel e Judá. À época do nascimento de Ezequiel, contudo, já só existia a nação de Judá, porque Israel tinha sido exterminada em 722 a.C., pouco mais de um século antes. Ou seja, Ezequiel, já como profeta, viveu num contexto histórico em que Israel (o reino do norte) já não existia, e Judá (o reino do sul) estava no exílio da Babilônia, só tendo permanecido em Jerusalém e Judá os judeus mais empobrecidos. Com mais de 2.500 anos de antecedência, Ezequiel viu que Israel renasceria e que para sempre abrangeria as duas nações, a do norte e a do sul, como uma só. O restante do capítulo fala do futuro ainda não consumado de Israel (itálicos meus): 23 Nunca mais se contaminarão com os seus ídolos, nem com as suas abominações, nem com qualquer das suas transgressões; livrá-los-ei de todas as suas apostasias em que pecaram e os purificarei. Assim, eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. 24 O meu servo Davi reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor, andarão nos meus juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão. 25 Habitarão na terra que dei a meu servo Jacó, na qual vossos pais habitaram; habitarão nela, eles e seus filhos e os filhos de seus filhos, para sempre; e Davi, meu servo, será seu príncipe eternamente. 26 Farei com eles aliança de paz; será aliança perpétua. Estabelecê- los-ei, e os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles, para sempre. 27 O meu tabernáculo estará com eles; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. 28 As nações saberão que eu sou o SENHOR que santifico a 42 PARTE 1 - ENTENDER O FENÔMENO PROFÉTICO Israel, quando o meu santuário estiver para sempre no meio deles. Fica claro que do versículo 23 ao 28, o restante do capítulo, está a parte da profecia que ainda não se consumou. Quase todos os profetas e, inclusive, o Livro do Apocalipse corroboram esta última parte. Acontecerá um momento histórico a partir do qual nunca mais Israel será assolada pelos seus inimigos e permanecerá intocável, imperturbada e indestrutível. Pessoalmente, estou convencido que a nossa geração testemunhará esse evento. E é esse o corolário de todos os profetas e quase todas as profecias, com exceção dos capítulos 20, 21 e 22 do Livro do Apocalipse, capítulos esses que acredito se consumarão daqui a pouco mais de mil anos. Mas antes que venha esse período próximo de paz milenar, coisas terríveis irão suceder, num grau de dores globais como nunca antes a humanidade viveu, e como jamais voltará a sofrer. E esses eventos estão parcialmente profetizados nos capítulos 38 e 39 do Livro de Ezequiel, logo na sequência do capítulo 37 que acabamos de estudar. Essas são profecias que analisarei na Parte 3 do livro, a qual apresentará um estudo de profecias ainda não consumadas que acredito testemunharemos pessoalmente. Parte 2 Romper os paradigmas 46 Romper os paradigmas Os estudos sobre profecias bíblicas se multiplicaram exponencialmente desde o século 19 até agora. A Reforma Protestante, durante o século 16, de onde derivaram as traduções modernas da Bíblia, dos idiomas originais hebraico, aramaico e grego para os idiomas vivos de cada nação; a invenção da máquina tipográfica, ocorrida antes, em meados do século 15, que tornou a Bíblia acessível ao estudioso não eclesiástico; e a consequente universalização dos setores educacionais, inclusive da escolástica religiosa, foram fatores prévios que proporcionaram à literatura religiosa, a partir do século 19, um número crescente de eruditos, além de curiosos amadores, e cada vez mais obras que se propuseram investigar as profecias bíblicas e tornar inteligível o que nos aguarda no futuro. Nesta passagem do segundo para o terceiro milênio, o número dos curiosos amadores em estudos proféticos disparou e não para de crescer, até este ano de 2017. Obviamente, o fator responsável é, além da profusão de denominações religiosas cristãs, a fácil acessibilidade à quantidade massiva de informações e estudos que estão invadindo a internet. Este terceiro milênio, ainda no seu ano 17, já testemunhou a decodificação de diversos enigmas proféticos que tinham ficado prisioneiros de interpretações que desde há séculos nos desviavam da verdade, interpretações errôneas que fragilizavam a credibilidade das profecias bíblicas e mantinham tantos crentes desinteressados pelo aspecto profético das Escrituras. Por que razão os principais interessados, os próprios crentes, ficariam frios e distanciados das profecias do fim dos tempos? Porque, bem 47 APOCALIPSE AGORA no fundo, eles sentem que há algo nas interpretações convencionais que não se coaduna à realidade. Sem que os próprios crentes saibam explicar o incômodo, porque nem pararam um pouco para analisar, o Espírito da Verdade fala às suas almas e mentes, dizendo que algo está fora de compasso, nessas interpretações convencionais defendidas pela esmagadora maioria dos eruditos, pastores, sacerdotes e ministros. É necessário romper diversos paradigmas da interpretação bíblica convencional, e isso, graças a Deus, está acontecendo desde há poucos anos e ainda agora. Será que até mesmo o fato de essas interpretações inovadoras terem surgido recentemente está prenunciando que o tempo está próximo e que é agora, já em seguida? Faz sentido pensar que aspectos essenciais das profecias bíblicas só seriam suficientemente compreendidos bem em cima dos acontecimentos, com pouco tempo de antecipação ao “fim”. Este capítulo pretende explanar sobre algumas dessas descobertas muito recentes que romperam os paradigmas e, finalmente, trouxeram sentido às profecias do “fim do tempo”, um sentido que vinha escapando por força de teorias interpretativas que não encontravam validação nem autênticas evidências no campo das realidades humanas, a não ser evidências forçadas, não naturais, aquelas decorrentes de se querer adaptar os fatos às teorias, em vez de se teorizar em cima dos fatos. O foco fundamental de quase todas as profecias ainda não cumpridas é assinalar o fim da atual dispensação e o início de um governodivino planetário, com o cetro da soberania nas mãos de um Filho de Deus. Daí que, compreensivelmente, a ânsia primordial dos cristãos é saber quanto à segunda vinda de Yeshua, com toda e cada geração desejando ser sua testemunha direta; já os judeus ficariam muito satisfeitos com a primeira vinda do seu Messias, porque eles ainda não perceberam que ele já veio, e ainda por cima veio da maneira que tinha sido claramente profetizada, com conta, peso e medida, como se costuma dizer. Sim, até mesmo o ano em que ele surgiria foi previsto rigorosamente em Daniel 9:25. Explicarei essa profecia detalhadamente na Parte 3. E é precisamente o versículo seguinte, o 9:26 de Daniel, que deu origem a um dos mais sérios equívocos das interpretações das 48 PARTE 2 - ROMPER OS PARADIGMAS profecias bíblicas. Como sempre, nem Deus nem o profeta tiveram responsabilidade nesse equívoco. Foram os preconceitos humanos e as disputas religiosas os fundamentais precursores desse equívoco, e são esses mesmos preconceitos e disputas religiosas que vêm perpetuando esse erro interpretativo. 49 Daniel 9:26, a interpretação clássica equivocada É apenas natural que, ao longo das diversas gerações de cristãos, os intérpretes das profecias sempre tenham identificado os vilões apocalípticos (o Dragão; a Besta; a Prostituta; o Falso Profeta) com individualidades ou coletividades às quais eles se opusessem em sua época. Quando ocorreu a Reforma Protestante, no século 16, não demorou muito para que os novos protestantes demonizassem a Igreja Católica, passando a considerar que esta instituição religiosa seria a famosa Prostituta do Apocalipse, e, consequentemente, o papa seria o Falso Profeta. Antes de prosseguir, quero deixar bem claro que eu não defendo nenhuma das facções desta cisão do cristianismo. O meu patamar de análise está isento desse conflito religioso. Eu não sou adepto do catolicismo nem sigo nenhuma denominação protestante. Apenas sou um seguidor de Jesus, sem vínculos institucionais, apenas os espirituais. Historicamente, nos sérios confrontos sangrentos do século 16 e 17 derivados da Reforma, nos episódios violentos ocorridos em diversas regiões da Europa, acho difícil (na verdade, considero secundário) saber qual lado teve mais vítimas. Católicos e protestantes foram igualmente chacinados aos milhares pelos seus opositores, e Deus nada teve a ver com isso. As motivações dos dois lados do confronto foram bem humanas, nada santas. Mas é compreensível que essa fratura tenha acontecido, diria mesmo que se fez necessário que ela acontecesse. Há 50 PARTE 2 - ROMPER OS PARADIGMAS muito a Igreja Católica tinha perdido de vista a pureza doutrinária, e simplesmente se arrogou um papel soberano no palco político do mundo ocidental, tendo o seu “sal” espiritual, no geral, perdido o sabor. Não quero, porém, fazer aqui uma análise geopolítica, nem sequer teológica, das duas facções e seu confronto. Não é esse o foco deste estudo. Prossigamos, pois. Dizia eu que não demorou para que os cristãos protestantes identificassem Roma como sendo a Prostituta do Apocalipse, defendendo que o Anticristo seria um indivíduo romano/italiano, ou que, no mínimo, ele viria do império romano revivificado, ou seja, surgiria de alguma das nações europeias. Durante séculos, essa interpretação se foi firmando principalmente entre as diversas denominações do protestantismo. Desde as duas últimas décadas do século 20, essa teoria culminou na proposição de que a UE (União Europeia) seria a Besta do Apocalipse. Se o leitor investigar a internet, verificará que a esmagadora porcentagem das teorias apocalípticas está fundamentada em que o Vaticano/Roma é a Prostituta, o papa é o Falso Profeta e a União Europeia é a Besta. Depois deve haver um residual minoritário que refere Nova York como a Prostituta, sendo que, a cada quatro anos, cada novo presidente americano é eleito o novo candidato ao papel do Anticristo. O único candidato a Anticristo que, principalmente nos estudos norte-americanos, bate de longe qualquer presidente americano, e talvez consiga mesmo ultrapassar o papa, é Putin, presidente da Rússia. E antes de Putin, era qualquer presidente soviético e russo. Desde que fosse comunista (e agora, russo), estava de bom tamanho para preencher “perfeitamente” os requisitos ao cargo de Anticristo. A Besta, quando não é algo concreto, como a União Europeia, especula-se que seja uma qualquer ordem mundial difusa e de difícil identificação, sob as ordens de organizações nebulosas e não totalmente discerníveis, sejam os Illuminati ou as mais poderosas famílias no mundo financeiro que supostamente estão criando uma Nova Ordem Mundial. Há outras proposições quanto à identidade dos vilões do Apocalipse, mas não vou fazer o leitor perder tempo com isso. O essencial que pretendo deixar registrado é como os vilões apocalípticos sempre são escolhidos entre as figuras políticas ou religiosas com quem não 51 APOCALIPSE AGORA simpatizamos nem concordamos. É natural e humano pegar nos ódios de estimação e demonizá-los, sejam indivíduos, coletividades ou instituições religiosas. Mas os vilões campeões das teorias apocalípticas parecem ser Roma como a Prostituta e o papa (qualquer papa) como o Falso Profeta. De onde surgiram essas teorias apocalípticas? Todas surgiram de uma única interpretação errônea de um único versículo do Antigo Testamento: Daniel 9:26. E bastou pegar nesse fundamento errado, de um único versículo, e logo se tiraram ilações totalmente distorcidas de outros versículos e profecias por arrastamento. A partir daí, em catadupa, se consideravam diversos versículos proféticos do Antigo e Novo Testamento como confirmações do fundamento errôneo de Daniel 9:26. Mas suspeito que essas teorias não passam de uma tentativa inconsciente de acomodar as Escrituras aos ódios de estimação, como uma forma de legitimar qualquer divergência teológica, em vez de se usar as Escrituras para ler os fatos da realidade, e, com relativa facilidade, detectar as nítidas contradições dessas teorias errôneas diante de outros versículos da Bíblia. Qual foi, então, a distorção das interpretações? Passo a explicar. Em Daniel 9:26b lemos: [...] o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário [...] As interpretações cristãs desta parcela do versículo são quase unânimes em declarar que esta profecia, com a antecedência de mais de cinco séculos, se refere ao momento em que Jerusalém e o Templo seriam destruídos, no ano 70 da era de Cristo. Vamos analisar cada um dos elementos da frase. 1) [...] a cidade e o santuário [...] Já sabemos que se refere a Jerusalém e ao Templo. 52 PARTE 2 - ROMPER OS PARADIGMAS 2) [...] um príncipe que há de vir [...] Refere-se ao Anticristo que surgirá no fim da presente dispensação. 3) [...] o povo de um príncipe que há de vir [...] É aqui que se originou toda a confusão das teorias posteriores. As interpretações convencionais afirmam que esse povo era o romano. Consequentemente, o Anticristo surgiria do povo romano/italiano, ou, no mínimo, de alguma das nações/regiões que tivessem pertencido ao extinto Império Romano (supostamente, a atual União Europeia, ou, grosso modo, a Europa). Só que esse povo referido que destruiria Jerusalém e o santuário no ano 70 não é o povo romano, e nem sequer era europeu. Por que as teorizações clássicas ficaram insistindo que “o povo de um príncipe que há de vir” seria o romano? Há que reconhecer que foi fácil cair inadvertidamente nesse erro. Afinal, tinha sido o general romano Tito, futuro imperador de Roma, quem comandou as suas legiões na conquista definitiva de Jerusalém; e essas legiões eram adjetivadas como sendo legiões romanas. Os soldados dessas legiões ditas romanas, todavia,
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