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Filosofia parte 11

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17/08/2015 UNIP ­ Universidade Paulista : DisciplinaOnline ­ Sistemas de conteúdo online para Alunos.
http://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1/9
MÓDULO V – TEXTO 2
 
REGRAS MORAIS E REGRAS JURÍDICAS: O CIRCUITO DO
DEVER­SER[1]
As regras jurídicas não estão isoladas na constituição do espaço do dever­ser
social.  Há  discursos  fundantes  de  práticas  determinadoras  de
comportamento,  dos  quais  temos  a  religião  como  dispersora  de modos  de
ação  (corretos,  bons,  adequados,  virtuosos),  a moral  como  constitutiva  de
um grupo de valores predominantes para um grupo ou para uma sociedade
(e  suas  derivações,  como  a  moral  dos  justos,  a  moral  dos  vencedores,  a
moral  do  “morro”,  a  moral  da  prisão),  as  regras  do  agir  no  trabalho
constitutivas  de  ordem  e  imperativos  de  eficácia  e  organização  funcional
(sem que necessariamente sejam regras jurídico­trabalhistas), entre os quais
aparece o discurso jurídico­normativo.
 
A  norma  jurídica  é  mais  uma  das  possíveis  formas  de  constituição  de
mecanismos de subjetivação dos indivíduos, pertencendo à ordem das regras
imperativas,  politicamente  determinadas,  objetivamente  apresentadas,  das
quais,  sob  nenhuma  excusa  (salvo  as  previstas  em  lei),  pode­se  deixar  de
cumprir. Assim, o grande grupamento da deontologia, o estudo das regras de
dever­ser,  coloca a experiência moral  ao  lado da experiência  religiosa e da
experiência jurídico­política.
 
Pode­se  mesmo  estudar  a  autonomia  do  Direito  em  face  das  outras
experiências,  o  que  se  fará  a  seguir,  mas  não  se  poderá  fazê­lo  sem
considerar  a  importância  de  vislumbrar  que  a matéria  da  qual  se  constitui
toda  a  experiência  jurídica  advêm  do  caudal  das  influências  das  demais
regras de dever­ser. Diga­se, de princípio, que:
 
O Direito  é  forma,  a qual  se  apropria das experiências gerais  da  sociedade
(incluídas  as  morais  dos  grupos,  as  reflexões  religiosas,  os  imperativos
políticos,  as  ideologias  reinantes  etc.)  para  colocá­las  sob  uma  forma,  que
passa  a  determinar  esta  substância  ou  este  conteúdo  como  juridicamente
determinado e vinculante. Uma sociedade hipócrita em seus valores tende a
ter um Direito que resguarda sua hipocrisia (moral hipócrita). Uma sociedade
democrática,  livre,  madura  politicamente,  eticamente  responsável,  tende  a
conceber os seus direitos a partir desses valores.
 
 
Moral e Direito face a face
 
O  tema da  relação entre Direito e Moral,  normalmente,  é  tratado de  forma
que  se  indique  a  experiência  moral  e  a  norma  moral  como  anteriores,
sobretudo tendo­se em vista o cronológico surgimento das regras de Direito
relativamente às regras da moral.
 
Costuma­se  também afirmar que a norma moral é  interior, prescindindo de
qualquer  fenômeno  exterior,  como  geralmente  ocorrer  com  o  fenômeno
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jurídico. Afirma­se, ainda, que a norma moral não é cogente, pois não pode
dispor  do  poder  punitivo  de  uma  autoridade  pública  para  fazer  valer  seus
mandamentos,  recorrendo­se,  normalmente,  a  sanções  diferenciadas  das
jurídicas (consciência, rejeição social, vergonha).
 
E, por fim, afirma­se que a norma moral não é sancionada nem promulgada,
pois  estas  são  as  características  de  normas  estatais  que  se  regulamentam
dentro  de  um  procedimento  formal,  complexo  e  rígido,  com  o  qual  se  dá
publicidade  aos  mandamentos  jurídicos.  No  entanto,  os  autores  que
enunciam essas notas diferenciais entre ambos os grupos de normas; de um
lado, as jurídicas; de outro lado, as morais, reconhecem a falibilidade que os
afeta.
 
A  isso  tudo  se  acresça  ainda  a  necessidade  de  segurança  jurídica  para  ter
Direito,  fator  que  propicia  a  criação  de  outras  necessidades  internas  ao
sistema  jurídico,  que  acabam  por  torná­lo  fenômeno  peculiar:  criação  de
autoridades;  divisão  de  competências;  imposição  de  formas  jurídicas;
procedimentalização  dos  atos;  discriminação  taxativa  de  fatos,  crimes,
direitos, deveres e outras.[2]
 
Os esforços de diferenciar Direito e moral não devem ser maiores que os de
demonstrar suas imbricações. O Direito pode caminhar em consonância com
os ditames morais de uma sociedade, assim como andar em dissonância com
os mesmos. Na primeira hipótese, está­se diante de um Direito moral e, na
segunda hipótese, está­se diante de um Direito imoral. Essas expressões bem
retratam a pertinência ou impertinência do Direito com relação às aspirações
morais da sociedade.[3]
 
O curioso é dizer que o Direito imoral, apesar de contrariar sentidos latentes
axiologicamente na sociedade, ainda assim é um Direito exigível, que obriga,
que  deve  ser  cumprido,  que  submete  a  sanções  pelo  não  cumprimento  de
seus mandamentos, ou seja, que pode ser realizado. Em outras palavras, o
Direito imoral, é tão válido quanto o Direito moral. Este, no entanto, é mais
desejável,  pois  em  sua  base  de  formação  se  encontra  o  consentimento
popular, ou seja, o conjunto de balizas morais de uma sociedade, refletindo
anseios e valores cristalizados de modo expressivo e coletivo.
 
Se a moral demanda do sujeito uma atitude  (solidariedade),  seu estado de
espírito,  sua  intenção  e  se  convencimento  interiores  devem  estar
direcionados  no  mesmo  sentido  vetorial  das  ações  exteriores  que  realiza
(intenção solidária, e não interesseira).[4]
 
É certo que a norma ética se constitui, na mesma medida da norma jurídica,
de um comando de ordenação e orientação da conduta humana (dever­ ser),
tornando­se  critério  para  averiguação  da  ação  conforme  ou  desconforme,
mas  há  que  se  notar  esse  diferencial.[5]  Se  o  Direito  demanda  do  sujeito
uma atitude (não matar), conforma­se com a simples não ocorrência do fato
considerado criminoso, não arguindo acerca da volição (rivalidade).
 
De fato, o que se há de dizer é que a moral se caracteriza por uma série de
dados (espontaneidade, consciência, unilateralidade, conduta  interior) que a
faz  algo  distinto  do  Direito  (coercitividade,  bilateralidade,  heteronomia,
atributividade). [6]
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São  provas  que  corroboram  a  tese  da  intensa  intimidade  do Direito  com  a
moral, a saber:
a)  a  obrigação  natural  (ex.:  dívida  de  jogo)  descrita  no  art.  814  do  novo
Código  Civil.  Trata­se  de  obrigação  puramente  moral,  não  exigível
juridicamente,  mas  que,  se  solvida,  não  pode  ser  motivo  de  ação  judicial
(pedido impossível). Tem­se aí a absoluta  indiferença do Direito por um ato
(não  pagamento  de  dívida  decorrente  de  obrigação  natural)  moralmente
recriminável;
 
b) o incesto não é considerado crime no sistema jurídico repressivo brasileiro,
inexistindo tipo penal específico para a apenação do agente. Não obstante a
indiferença  legal  sobre  o  assunto,  trata­se  de  um  típico  comportamento
moralmente condenável;
 
c)  a  preocupação  constitucional  com  o  princípio  da  moralidade  pública,
expressa no art. 37, da Constituição Federal, caput: “A administração pública
direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal  e  dos  Municípios  obedecerá  aos  princípios  de  legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência...”. Aqui se comprova a
relevância  do  princípio  moral  para  a  própria  organização,  manutenção  e
credibilidade cívica dos serviços públicos. O que é moralmente recomendável
tornou­se juridicamente exigível do funcionalismo público;
 
d) toda a teoriado negócio jurídico e dos tratos comerciais circula em torno
da  ideia  de  boa­fé,  estabelecendo  inúmeras  presunções  a  ela  concernentes
(art. 164, C. Civil, 2002);
 
e) o mau proceder moral dos pais, do ponto de vista moral, pode acarretar
efeitos jurídicos sobre o poder familiar, conforme se verifica da leitura deste
artigo da legislação civil (art. 1.638, C. Civil, 2002);
 
f) os próprios princípios gerais de Direito, de possível aplicabilidade em todos
os ramos do Direito na falta de norma jurídica específica (art. 4º, LICC), têm
origem ética  (a ninguém  lesar – neminem laedere; dar a  cada um o  seu –
suum cuique tribuere; viver honestamente – honeste vivere);
 
g) fica o juiz autorizado, jurídica e formalmente, em caso de lacuna da lei, a
aplicar os costumes como forma de solução de litígios (art. 4º, LICC).
 
 
Até mesmo do ponto de vista histórico, pode­se provar a  intrínseca  relação
do  Direito  com  a  moral.  Isso  porque,  a  princípio,  eram  indistintas  nas
comunidades  primitivas  as  práticas  jurídicas,  as  práticas  religiosas  e  as
práticas  morais.  A  sacralidade,  o  espiritualismo  e  o  ritualismo  das  antigas
práticas jurídicas e de suas fórmulas denunciam essa intrínseca relação.[7]
 
O que há que se questionar agora é qual a  relação mantida entre Direito e
moral,  visto  que  foram  analisados  os  principais  aspectos  que  caracterizam
cada qual dos ramos normativos. E, nesse sentido, só se pode afirmar que o
Direito  se  alimenta  da  moral,  tem  seu  surgimento  a  partir  da  moral,  e
convive  com  a  moral  continuamente,  enviando­lhe  e  recebendo  novos
conceitos e normas. A moral é, e deve sempre ser, o fim do Direito.[8]
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Com  isso,  pode­se  chegar  conclusão  de  que  Direito  sem  mora,  ou  Direito
contrário  às  aspirações morais  de  uma  comunidade,  é  puro  arbítrio,  e  não
Direito.[9]
 
Conclusões
 
A ordem mora, por ser espontânea, informal e não coercitiva, distingue­se da
ordem jurídica. No entanto, ambas não se distanciam, mas se complementam
na orientação do  comportamento humano. A  axiologia  é,  portanto,  capítulo
de  fundamental  importância  para  os  estudos  jurídicos,  visto  que  dá
cristalização  reiterada  e  universal  por  meio  dos  costumes  diante  do
surgimento de exigências normativas jurídicas.
Apesar  dos  esforços  teórico­didáticos  no  sentido  de  diferenciar  Direito  e
moral,  não  se  pode  perceber  senão  uma  profunda  imbricação  entre  o
exercício do  juízo  jurídico  e o  exercício do  juízo mora; pode­se até mesmo
perceber esta  inter­relação no ato decisório do  juiz, sempre sobrecarregado
pelas  inflexões  pessoais,  costumeiras,  axiológicas,  contextuais  e
socioeconômicas que circundam o caso sub judice.
 
 
Direito e justiça
Justiça: valor absoluto ou relativo?
 
A ideia de justiça, independentemente de qualquer tomada de posição, traduz
uma  complexidade  de  expectativas  que  tornam  difícil  sua  conceituação.
Reconhecendo a pluralidade de perspectivas em que se desdobra a  ideia de
justiça,  podem­se  detectar,  no  curso  da  história  do  pensamento  ocidental,
inúmeras  corrente  sobre  o  justo  e  o  injusto,  que  se  assinalam  como
habilitadas à discussão e à resposta para a pergunta: o que é a justiça? De
fato,  são  inúmeras  as  tendências  acerca  da  justiça,  e  entre  elas  podem­se
apontar as seguintes: teoria sofista, teoria socrática, teoria platônica, teoria
aristotélica,  doutrina  cristã,  teoria  agostiniana,  teoria  tomista,  teoria
rousseauniana,  teoria  kantiana,  teoria  hegeliana,  teoria  kelseniana,  teoria
rawlsiana.[10]
 
No  entanto,  entre  essas  todas  ressalta­se  o  fato  de  que  o  pensamento
ocidental  e,  inclusive,  os  ordenamentos  jurídicos  e  as  doutrinas  jurídicas
sofreram profundas e diretas influencias das seguintes ideias:
 
a) de Platão advém uma herança segundo a qual a justiça é virtude suprema;
b) de Aristóteles advém uma herança segundo a qual a justiça é igualmente
proporcionalidade;
c)  dos  juristas  romanos  advém  uma  herança  segundo  a  qual  a  justiça  é
vontade de dar a cada um o seu (iustitiaest constans et perpetua voluntas ius
suum cuique tribuendi).[11]
 
Independentemente  da  assunção  de  qualquer  resposta  mais  imediata  à
dimensão  filosófica  da  justiça,  deve­se  ressaltar  o  fato  de  que  inclusive  as
tendências mais modernas  de  teoria  jurídicas  têm dado  importância  a  esta
para a vivência das experiências  jurídicas, contrapondo­se, dessa  forma, ao
mero formalismo decorrente do predomínio da filosofia positivista no seio das
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ideias  jurídicas do século XX. Chegar o  juiz a uma decisão  justa, esta deve
ser  a  meta  de  toda  atividade  jurisdicional;  orientar  o  juiz  nesse
empreendimento,  esta  deve  ser  a meta  da  doutrina  e  da  teoria  do Direito.
Nesse  sentido,  contribuem as posições e  as  ideias de  inúmeros pensadores
contemporâneos.[12]
Nesse  tipo  de  preocupação,  o  positivismo  vê  na  justiça  um  absurdum  ser
combatido,  pois  sua  realidade  seria  metafísica  e  impossível  de  ser
conceituada.  Chaïm  Perelman  ocupa  papel  nessa  discussão  sobre  a  justiça.
[13]  Isso  porque,  além  de  tratar  da  questão  da  justiça,  trazendo­a
novamente  para  o  seio  das  preocupações  jurídicas[14],  vê  como  saída  o
impasse  de  sua  conceituação  o  uso  da  teoria  da  argumentação.  Ora,  para
Perelman,  os  conflitos  em  torno  da  justiça,  e  de  seus  possíveis  enfoques,
podem  ser  dirimidos  ante  um  método  argumentativo,  em  que  todas  as
oportunidades  são  oferecidas  para  a  discussão  dos  valores  envolvidos,
emergindo do diálogo a razoabilidade das respostas.
Chaïm Perelman, em seu ensaio sobre a justiça, não admite que esta seja um
valor absoluto, mas relativo e impassível de ser definido pelo conhecimento;
o  valor  é  relativo  e  depende  da  crença  de  cada  qual.  Ora,  desta  forma,
Perelman aponta como saída para o problema a elevação da questão pra o
nível da razoabilidade prudencial do diálogo e da argumentação.[15]  
 
Portanto, é a discussão  racional,  sobre valores mais ou menos aceitos, que
constitui o objeto de conhecimento sobre a justiça. Estudar justiça, segundo
Perelman,  é  estudar  valores,  e  valores  relativos,  que  se  discutem
historicamente, socialmente, culturalmente.
 
Em face desse relativismo, também reconhecido por Hans Kelsen,[16] não se
pode afirmar algo diferente do que forçosamente se conclui: sendo um valor
relativo,  a  justiça  é  passível  de  várias  acepções,  variáveis  ao  sabor  das
preferências,  tendências,  bem  como  das  culturas,  das  ideologias,  das
políticas,  devendo  ser  admitido  que  o  valor  absoluto  da  justiça  não  é
palpável para o homem. Aliás, Platão mesmo, em suas  investigações,  torna
clara a verdadeira natureza da justiça, que é transcendente e inacessível para
os homens.[17]
 
 
Justiça e finalidade do Direito
 
A questão  da  justiça,  quando  vista  como  elemento  fundante  do  ornamento
jurídico,  pode  ser  considerada  como  algo  relacionado  com  a  doação  do
sentido.  Isso  porque,  desde  a  Antiguidade,  a  justiça  sempre  representou  o
preenchimento das práticas do Direito, que acabou por se transformar em um
mero  proceder  técnico,  vazio,  sem  conteúdo  preciso,  objeto  de  labor,  na
modernidade.
 
A  própria  história  da  humanidade,  de  suas  ideologias,  bem  como  de  suas
tendências  político­econômicas,  tornou  o  Direito  frágil,  suscetível  e  vassalo
aos  desmandosdo  poder  político  e  econômico.  O  Direito,  muitas  vezes,
arcabouço coercitivo da conduta humana social, se desprovido de essência e
finalidade,  serve  a  qualquer  finalidade,  independentemente  de  qualquer
valor, podendo ser de importante utilidade para a dominação e o interesse de
minorias.
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No entanto, deve­se resgatar a  ideia de que o preenchimento semântico do
Direito pela ideia de justiça tem a ver com a teleologia do movimento do que
é  jurídico em direção ao que não é  jurídico, mas é valorativo e deve  ser a
axiologia a se realizar: a justiça.[18]
A justiça, porém, só se realiza se pensada como igualdade (aspecto material
da justiça). Ela acontece, ela opera, ela se dá nas relações, ou seja, ela está
presente  nas  relações  humanas  e  corporifica­se  como  igualdade,  que  pode
ser aritmética ou geométrica (aspecto formal da justiça), conforme se tenha
em  vista  a  igualdade  absoluta  ou  a  igualdade  proporcional.  A  opção  pela
adoção da justiça geométrica, que tem em consideração a proporcionalidade
(distribuição de deveres e direitos, permitindo a existência de desigualdades)
ou a da aritmética  (igualitarismo  levado ao extremo) dependerá de códigos
fortes e fracos prevalecentes axiologicamente na sociedade.[19]
De qualquer forma, o que se percebe é que Direito e justiça são conceitos
diferentes, que às vezes andam em sintonia, às vezes em dissintonia. Há que
se ressaltar, no entanto, que se nem sempre o Direito caminha pari passu
com a justiça, ainda assim ele a busca, nela deposita sua finalidade de existir
e operar na vida social. O Direito deve ser o veículo para a realização da
justiça. Em outras palavras, a justiça deve ser a meta do Direito.
 
Ademais,  a  justiça  não  é  coercível,  é  autônoma,  correspondendo  a  uma
norma  moral,  e  não  a  uma  norma  jurídica.  Normas  jurídicas  absorvem
conteúdos  de  normas  de  justiça,  funcionam  como  forma  de  compelir
coercitivamente comportamentos injustos, de proscrevê­los socialmente, mas
não há que se negar a natureza da justiça como norma moral, e não jurídica.
 
Vistos  esses  aspectos  do  problema,  deve­se  admitir  que,  com  essas
características, a justiça, em face do Direito, está a desempenhar um tríplice
papel, a saber:
1)  Serve  como  meta  do  Direito,  dotando­o  de  sentido,  de  existência
justificada, bem como de finalidade;
2) Serve como critério para o seu julgamento, para sua avaliação, para que
se possam aferir os graus de concordância ou discordância com suas decisões
e práticas coercitivas;
3) Serve como fundamento histórico para sua ocorrência, explicando­se por
meio de suas  imperfeições os usos humanos que podem ocorrer de valores
muitas vezes razoáveis.[20]
 
  
 
Conclusões
 
A justiça funciona, como valor que norteia a construção histórico­dialética dos
direitos,  como  fim  e  fundamento  para  expectativas  sociais  em  torno  do
Direito.  Apesar  de  a  justiça  ser  valor  de  difícil  contorno  conceitual,  ainda
assim  pode  ser  dita  um  valor  essencialmente  humano  e  profundamente
necessário  para  as  realizações  do  convívio  humano,  pois  nela  mora  a
semente da igualdade.  
 
Contrariando frontalmente o raciocínio positivista, é de se admitir que entre
as tarefas do jurista se encontra propriamente esta, a de discutir o valor da
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justiça.  Nesse  caminho,  o  importante  não  é  nem mesmo  a  solução  que  se
possa encontrar para o dilema, mas a aquisição de consciência a propósito de
sua dimensão.
 
O Direito pode ser dito um fenômeno sem sentido, com Tercio Samapio, se
divorciado  da  dimensão  da  justiça,  à  medida  que  sua  função  técnico­
instrumental  sirva  às  causas  que  garantem  o  convívio  social  justo  e
equilibrado.
 
 
[1] Texto adaptado da obra Curso de Filosofia do Direito, 6ª Ed. da autoria de Eduardo C.B.
Bittar & Guilherme Assis de Almeida, Ed. Atlas, São Paulo, 2008.
[2]  “Essas  reflexões  não  significam,  de  modo  algum,  que  o  direito  não  possua  uma
especificidade,  pela  qual  se  afasta  dos  pontos  de  vista  próprios  da  ética.  Com  efeito,  a
importância especial concedida em direito à segurança jurídica explica o papel específico do
legislador e do juiz, tão oposto à autonomia da consciência que caracteriza a moral”.
[3] Cf. Ferraz Júnior. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, dominação, 1994, p.
326­329.
[4] “A qual dessas categorias pertencerá a Moral? Podemos dizer que a Moral é o mundo da
conduta espontânea, do comportamento que encontra em si próprio a sua ração de existir. O
ato moral implica a adesão do espírito ao conteúdo da regra”. (REALE. Lições preliminares de
direito. 1994, p. 44).
[5]  “A norma ética estrutura­se, pois, como um juízo de dever ser, mas  isto significa que
ela estabelece, não apenas uma direção a  ser  seguida, mas  também a medida da conduta
considerada lícita ou ilícita. Se há, com efeito, algo que deve ser, seria absurdo que a norma
não explicitasse o que deve ser feito e como se deve agir”. (REALE. Lições preliminares de
direito. 1999, p. 36).
[6]  Cf.  Reale.  Lições  preliminares  de  Direito.  1994,  p.  57.  "No  tridimensionalismo,  por
exemplo, o direito é a um só tempo fato, valor e norma, ou seja, nele está imerso o juízo de
valor, o costume, a axiologia... não podendo ser concebido como um fenômeno apartado da
moral,  com  ela  se  relacionando  intensamente"  (Direito  como  experiência;  Filosofia  do
direito; Lições preliminares de direito).
[7] Cf. Gusmão. Introdução ao estudo do direito. 1999, p. 67­70.
[8]  “A  relação entre os  seus  respectivos domínios normativos  consiste, em nossa opinião,
sobretudo no  seguinte:  a moral  é  ao mesmo  tempo, por um  lado,  o  fim do direito,  e,  por
outro, também, o fundamento da sua validade obrigatória” (RADBRUCH. Filosofia do direito.
1997, p.109).
[9] "Está­se aqui a contrariar frontalmente a teoria normativista de Hans Kelsen. O Direito
da Teoria Pura não pode ser por essência um fenômeno moral" (KELSEN. Teoria pura do
direito. 1976, p.107).
[10]Ver,  a  esse  respeito,  Bittar,  Teorias  sobre  a  justiça:  apontamentos  para  história  da
filosofia do direito, 2000, p.1­235.
[11] GUSMÃO. Introdução a estudo do direito. 1999, p. 71­73
[12] Nesse sentido se destacam Esser, Pawlowski, Kriele, Rawls.
[13]  Perelman  aponta  em  um  de  seus  artigos  (Ubër  die  Gerechtigkeit)  seis  conceitos  de
justiça:  “1.A  cada  um  o  mesmo;  2.  A  cada  um  segundo  os  seus  méritos;  3.  A  cada  um
segundo as suas obras;4. A cada um segundo as suas necessidades; 5. A cada um segundo a
sua  posição;  6.A  cada  um  o  que  lhe  é  devido  pó  lei”  (LARENZ. Metodologia  da  ciência  do
direito. 1989, p. 204) .
[14] "O mérito de Perelman é o de ter legitimado de novo a discussão do conceito de justiça
com  propósito  cientificamente  sério”  (LARENZ.  Metodologia  da  ciência  do  direito.  1989,
p.208).
[15] São sua palavras, citadas por Larenz: "deve­se­ia deitar as mãos à obra, no sentido de
elaborar uma  lógica dos  juízos de valor, na qual se  tivesse como ponto de partida o modo
como as pessoas raciocinam sobre valores.Isto deveria acontecer sob a forma de uma teoria
de argumentação” (LARENZ. Metodologia da ciência do direito. 1989, p. 206). E isso é o que
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realmente  faz  Perelman,  posteriormente,  inclusive  ao  lado  de  Tytea,  durante  seu  percurso
intelectualao  escrever:  Nova  retórica,  Ética  e  direito,  Tratado  da  argumentação,  entre
outras obras ligadas à ideia do raciocínio valorativo, próprio do jurista.
[16] KELSEN. O que é justiça? A justiça, o direito e a política no espelho da ciência, 1998, p.
23­25
[17] A respeito, consulte­se Bittar, Teorias sobre a justiça, 2000, p. 9­32
[18] Cf. Ferraz Júnior. Introdução ao estudo do direito. 1991, p. 361 ss.
[19] idem
[20] GUSMÃO. Introdução ao estudo do direito. 1999, p. 73 
Exercício 1:
Leia as alternativas abaixo:
I. O tema da relação entre Direito e moral  é normalmente tratado de forma que se indique a experiência moral e a norma
moral como anteriores, sobretudo tendo­se em vista o cronológico surgimento das regras de Direito relativamente às
regras da moral.
II. Costuma­se afirmar que a norma moral é exterior, prescindindo de qualquer fenômeno interior; como, geralmente, só
ocorre com o fenômeno jurídico.
III. Afirma­se que a norma moral é cogente, pois pode dispor do poder punitivo de uma autoridade pública para fazer valer
seus mandamentos; recorrendo­se, normalmente, a sanções diferenciadas das jurídicas.
IV. Afirma­se que a norma moral não é sancionada nem promulgada, pois estas são as características de normas estatais
que se regulamentam dentro de um procedimento formal, complexo e rígido, com o qual se dá publicidade aos
mandamentos jurídicos.
 
Estão corretas:
 
A ­ Apenas as alternativas I e IV. 
B ­ Apenas as alternativas II e III. 
C ­ Apenas as alternativas III e IV. 
D ­ Apenas as alternativas II e III. 
E ­ Apenas as alternativas I, II e IV. 
Comentários:
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Exercício 2:
2) Assinale  a  alternativa  correta quanto às provas que corroboram a  tese da  intensa  intimidade do
Direito com a moral, a saber:
I. a obrigação natural (ex.: dívida de  jogo) descrita no art. 814 do novo Código Civil. Trata­se de obrigação
puramente moral,  não  exigível  juridicamente, mas  que,  se  solvida,  não  pode  ser motivo  de  ação  judicial
(pedido  impossível).  Tem­se  aí  a  absoluta  indiferença  do  Direito  por  um  ato  (não  pagamento  de  dívida
decorrente de obrigação natural) moralmente recriminável;
II.  o  incesto  não  é  considerado  crime  no  sistema  jurídico  repressivo  brasileiro,  inexistindo  tipo  penal
específico  para  a  apenação  do  agente. Não  obstante  a  indiferença  legal  sobre  o  assunto,  trata­se  de  um
típico comportamento moralmente condenável;
III.  a  preocupação  constitucional  com  o  princípio  da  moralidade  pública,  expressa  no  art.  37,  da
Constituição Federal,  caput:  “A administração pública direta e  indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade,  publicidade  e  eficiência...”.  Aqui  se  comprova  a  relevância  do  princípio  moral  para  a  própria
organização, manutenção e credibilidade cívica dos serviços públicos. O que é moralmente  recomendável
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tornou­se juridicamente exigível do funcionalismo público;
IV.  toda  a  teoria  do  negócio  jurídico  e  dos  tratos  comerciais  circula  em  torno  da  ideia  de  boa­fé,
estabelecendo inúmeras presunções a ela concernentes (art. 164, C. Civil, 2002);
V. o mau proceder moral dos pais, do ponto de vista moral, pode acarretar efeitos  jurídicos sobre o poder
familiar, conforme se verifica da leitura deste artigo da legislação civil (art. 1.638, C. Civil, 2002);
VI. os próprios princípios gerais de Direito, de possível aplicabilidade em todos os ramos do Direito na falta
de norma jurídica específica (art. 4º, LICC), têm origem ética (a ninguém lesar – neminem laedere; dar a
cada um o seu – suum cuique tribuere; viver honestamente – honeste vivere);
VII.  fica o  juiz autorizado,  jurídica e  formalmente, em caso de  lacuna da  lei, a aplicar os costumes como
forma de solução de litígios (art. 4º, LICC).
a) Apenas a I, a III, a IV e a V;
b) Apenas a II, a IV, a VI e a VII;
c) Apenas a I, a II, a II e a IV;
d) Apenas a IV, a V, a VI e a VII;
e) Todas são corretas.
A ­ 
B ­ 
C ­ 
D ­ 
E ­ 
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