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CURSO LIGA DE MERCADO FINANCEIRO FEA USP INTRODUÇÃO AO MERCADO DE CRÉDITO PARCEIROS 2 1. DEFINIÇÃO ........................................................................................... 3 2. CUSTO DO CRÉDITO .............................................................................. 4 2.1 INADIMPLÊNCIA ........................................................................................ 4 2.2 TAXA BÁSICA DE JUROS ............................................................................... 4 2.3 DEPÓSITOS COMPULSÓRIOS: ..................................................................... 5 2.4 CARGA TRIBUTÁRIA INCIDENTE .................................................................. 6 3. CRÉDITO DE FOMENTO E IMOBILIÁRIO ................................................ 7 3.1 CRÉDITO PARA FOMENTO DA ECONOMIA NACIONAL - BANCOS PÚBLICOS ...................... 7 3.2 CRÉDITO IMOBILIÁRIO - FINANCIAMENTO HABITACIONAL ........................................ 8 4. TRÊS TIPOS DE FINANCIAMENTOS MAIS UTILIZADOS NO BRASIL ....... 8 4.1 SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO PRICE ................................................................... 8 4.2 SAC (SISTEMA DE AMORTIZAÇÕES CONSTANTES) ............................................ 9 4.3 SACRE (SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO CRESCENTE)............................................. 9 5. CRÉDITO BANCÁRIO ............................................................................. 9 5.1 OPERAÇÕES – PESSOA JURÍDICA................................................................ 10 5.2 OPERAÇÕES – PESSOA FÍSICA ................................................................... 12 5.3 ANÁLISES PARA A CONCESSÃO DE CRÉDITO ................................................... 14 6. APROFUNDAMENTO DO MERCADO DE CRÉDITO .................................. 14 7. CRÉDITO DIRECIONADO E CRÉDITO LIVRE ........................................ 15 7.1. CRÉDITO DIRECIONADO .................................................................. 15 7.2. CRÉDITO LIVRE E MERCADO DE CRÉDITO NO BRASIL ........................................ 17 8. O PAPEL DOS BANCOS PÚBLICOS ....................................................... 17 9. DERIVATIVOS DE CRÉDITO................................................................. 19 9.1. SECURITIZAÇÃO ................................................................................... 19 9.2. SWAPS DE CRÉDITO .............................................................................. 20 10. EXERCÍCIOS .................................................................................... 21 11. REFERÊNCIAS .................................................................................. 23 3 1. Definição O mercado de crédito constitui-se em operações nas quais as instituições financeiras (bancos e corretoras) captam recursos dos agentes superavitários e emprestam aos deficitários – financiamento externo indireto. Sobre essas operações, as instituições são remuneradas pelo spread, ou seja, a diferença entre o que cobram dos tomadores e o custo da captação. Intermediação financeira: Fonte: Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro1. A taxa de juros que incide no período é maior sobre a oneração do tomador do que sobre a remuneracao da contraparte. Nesse segmento, as Instituições Financeiras responsabilizam-se pelo risco da inadimplência, o que reduz a exposição dos aplicadores às perdas. Além de alocarem com eficiência os recursos financeiros no mercado, ja que conciliam distintos interesses dos tomadores e poupadores em relação aos prazos e volumes. Tais operações ocorrem, geralmente, para financiar o consumo e o capital de giro das empresas, no curto e médio prazo. 1 Disponível em: <http://www.portaldoinvestidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/publicacao/Livro/LivroTOP- CVM.pdf>. 4 2. Custo do crédito Avalia diversos fatores que elevam o risco e o spread bancário e, assim, o preço do crédito. 2.1 Inadimplência Não cumprimento ou atraso no pagamento do empréstimo, total ou parcial. Situação, na qual se encontra uma pessoa fisica ou juridica insolvente, ou seja, que não consegue cumprir seus compromissos com terceiros. A inadimplência eleva o spread bancário para custear as perdas que os bancos têm com o default. Geralmente, os índices de inadimplência são maiores para pessoas físicas, o que torna a taxa de juros nesse segmento maior do que no de pessoas jurídicas. 2.1.1 Análise conjunta de inadimplência. Do inglês: joint-default analysis (JDA): Avalia a situação de uma empresa considerando o contexto econômico do seu setor, a performance da economia ou sua região demográfica. A análise pode ser utilizada para precificação ou cálculo do spread, cálculo dos limites de exposição da empresa e estimar provisões de devedores duvidosos. 2.2 Taxa básica de juros A taxa de juros determina a atratividade do investimento. Quanto maior a taxa de juros, menor a quantidade de venda a prazo, o que reduz a atividade econômica devido à redução do consumo. O governo pode interferir na economia ao manipular as taxas de juros base, que se baseiam nas operações overnight entre bancos e o governo que negociam títulos federais. A média dessas operações resulta na taxa SELIC, taxa ao ano (252 dias úteis), utilizada para remunerar diversas operações entre os bancos e seus clientes e, dessa maneira, influencia a taxa de juros de toda a economia. a. Capitalização simples: os juros incidem apenas sobre o principal: 5 𝐶𝑇 = 𝐶𝑜(1 + 𝑇𝑖) b. Capitalização composta: os juros são calculados sobre o principal acrescido dos juros acumulados: 𝐶𝑇 = 𝐶𝑜 (1 + 𝑖)𝑇 c. Operações com múltiplas taxas: 𝐶𝑇 = 𝐶𝑜 (1 + 𝑖𝑎)𝑇𝑎(1 + 𝑖𝑏)𝑇𝑏 … (1 + 𝑖𝑛)𝑇𝑛 d. Capitalização continua: os juros são capitalizados continuamente no capital.2 𝐶𝑇 = 𝐶𝑜𝑒𝑖𝑇 Em que: CT – montante final Co – montante inicial T – período i – taxa n – n períodos 2.3 Depósitos compulsórios: O Banco Central do Brasil (Bacen) determina que parte dos recursos captados pelos Bancos seja depositada numa conta, reserva bancária, entre eles e os bancos. Desse modo, o volume de recursos disponíveis para os bancos varia conforme a alíquota imposta pelo Bacen. Caso a alíquota seja elevada, a oferta de recursos será menor na economia, o que eleva o spread 2 Não é usado em operações no Mercado Financeiro. 6 bancário. Se, por outro lado, alíquota for menor, a oferta será maior e o spread tende a diminuir. O Governo pode se utilizar da alíquota para determinar a liquidez da economia no médio prazo. 2.4 Carga tributária incidente Todas operações de crédito são tributadas pelo Governo, que impõe a cobrança do Imposto sobre Operaçõs Financeiras (IOF) sobre o tomador, no início da operação. Assim, ou o cliente toma um valor maior que o desejado para efetuar o pagamento do IOF, ou o cliente toma o valor já com o imposto descontado. Esse imposto é cobrado a uma alíquota anual de 1,5% para pessoas físicas e jurídicas e incide linearmente, sendo tributado apenas no primeiro ano da operação. A incidência linear implica na tributação proporcional ao prazo de pagamento; dessa forma, conforme a base temporal do empréstimo, a alíquota do período seráobtida dividindo-se a alíquota anual (1,5%) por 12 (se for mensal) ou por 365 (se for diário). Amortização mediante pagamento único: 𝑉 = 𝐾 + 𝐼𝑂𝐹 V – Valor total financiado K – quantia líquida de imposto desejada pelo cliente 𝐼𝑂𝐹 = 𝛼𝑛𝑉 𝛼 – alíquota nominal mensal n – período 𝑉 = [ 1 1 − 𝛼𝑛 ] 𝐾 7 𝑇 = 𝐾 [ 1 1 − 𝛼𝑛 ] (1 + 𝑖)𝑛 i – taxa de juros T – valor a pagar no vencimento do empréstimo considerando o IOF Obs: sem o imposto a taxa de juros da operação seria “i”; com a tributação, ela passa a ser maior (y): (1 + 𝑦)𝑛 = [ 1 1 − 𝛼𝑛 ] (1 + 𝑖)𝑛 3. Crédito de Fomento e Imobiliário 3.1 Crédito para fomento da economia nacional - Bancos Públicos Oferecido, majoritariamente, pelo BNDES, tem o intuito de incentivar a criação e expansão das empresas que, geralmente, necessitam de um grande montante de recursos. Através dessa modalidade, o governo tem a possibilidade de alocar recursos para os setores da economia que deseja fomentar. Por se tratarem de operações de longo prazo e taxas de juros subsidiadas (abaixo da taxa do mercado), os bancos privados preferem não participar desse segmento de crédito (aversão ao risco). A estrutura de funding dos bancos públicos deve se basear em organismos de desenvolvimento internacionais, fundos parafiscais e recursos próprios. Dessa forma, os recursos obtidos estão sujeitos a menores instabilidades de oferta de crédito dos bancos comerciais e de investimento. Em relação às taxas cobradas pelos Bancos Públicos, o BNDES apresenta uma das menores, definida pela TJLP (taxa de juros fixada a longo prazo) mais um spread pequeno. Assim, a inadimplência é muito baixa. 8 3.2 Crédito Imobiliário - Financiamento habitacional Financiamento para construção de habitações, abertura de crédito para compra ou construção de casa própria, financiamento de capital de giro a empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de construção. Captam recursos por meio de depósitos de poupança, emissão de letras3 e cédulas hipotecárias e depósitos interfinanceiros. 4. Três tipos de financiamentos mais utilizados no Brasil 4.1 Sistema de amortização Price O sistema Price possui prestações fixas, juros decrescentes e amortizações crescentes. Pode ser desvantajoso num país com altas taxas de inflação, pois as prestações são reajustadas de acordo com a inflação, por meio de indexadores como a TR (taxa referencial), pós-fixada. Cálculo da prestação: 𝑃𝑀𝑇 = 𝑃𝑉 (1 + 𝑖)𝑡 × 𝑖 (1 + 𝑖)𝑡 − 1 PMT: Valor da prestação PV: Valor presente i: Taxa t: Período Exemplo4: 3 Letra de Crédito Imobiliário (LCI) é isento de imposto de renda, remunera uma porcentagem do CDI, mas para obtê-la muitas vezes é necessário de um aporte de milhões de reais. 4 Valores em Reais. 9 4.2 Sac (Sistema de Amortizações Constantes) No SAC, as prestações e juros variam e as amortizações são constantes. No início as prestações são maiores, então, a amortização é mais rápida e um total menor de juros é pago. Nesse sistema há uma menor ocorrência de inadimplência, dado que as prestações diminuem com o tempo. Exemplo: 4.3 Sacre (Sistema de Amortização Crescente) Sistema de amortização no qual as prestações sobem até atingir um valor máximo e depois decrescem, ao passo que os juros vão diminuindo. Nesse sistema há o resgate pela TR. 5. Crédito bancário Destinado a consumidores, pessoas físicas e pessoas jurídicas, o crédito ao consumidor financia a compra de diversos bens e se dá no curto e médio prazo. A garantia do banco é a alienação fiduciária e, geralmente, a Instituição Financeira capta recursos através de LCs e CDBs. Principal Taxa de Juros Número de Períodos PMT 500.000,00 5% 5 115.487,40 Total da Dívida Prestação Amortização Juros 500.000,00 - 0 0 409.512,60 115.487,40 90.487,40 25.000,00 314.500,83 115.487,40 95.011,77 20.475,63 214.738,47 115.487,40 99.762,36 15.725,04 109.988,00 115.487,40 104.750,48 10.736,92 0,00 115.487,40 109.988,00 5.499,40 Principal Taxa de Juros Número de Perídos PMT 500.000,00 5% 5 100.000,00 Total da Dívida Prestação Amortização Juros 500.000,00 400.000,00 125.000,00 100.000,00 25.000,00 300.000,00 120.000,00 100.000,00 20.000,00 200.000,00 115.000,00 100.000,00 15.000,00 100.000,00 110.000,00 100.000,00 10.000,00 - 105.000,00 100.000,00 5.000,00 10 Já o crédito às pessoas físicas tem taxa de juros elevadas e é destinado ao curto prazo. Por fim, o crédito para as empresas financia necessidades quanto ao capital de giro. 5.1 Operações – pessoa jurídica 5.1.1 Capital de giro Crédito destinado ao capital de giro, em que taxas, garantias e prazos são estabelecidos em contrato. Por exemplo, as empresas vendem seus serviços a prazo e necessitam de caixa para arcar com as despesas geradas com os fatores de produção, desse modo, tomam crédito das instituições financeiras. Assim, os fornecedores são pagos à vista e o ciclo produtivo da empresa permanece inalterado. Caracteriza-se por operações entre 30 a 80 dias e tem como garantia duplicatas e notas promissórias. 5.1.1. Hot-Money Linha de crédito pré-aprovada de curtíssimo prazo concedida apenas a clientes preferencias. Tem como garantia duplicatas ou notas promissórias e a taxa de juros cobrada é a taxa DI-over somada a um spread bancário. 5.1.2. Conta garantia Operação de crédito rotativo disponível em conta corrente pronto para ser utilizado a qualquer momento ou pela movimentação na conta ou pela solicitação formal à instituição financeira. Os prazos são gerados a partir da modalidade de crédito e de acordo com a sua aprovação; Os juros podem ser pré-fixados ou pós-fixados e se 11 baseiam na taxa DI (CDI); O banco pode ter como garantia, de acordo com o contrato, bens móveis e imóveis, aplicações financeiras, etc. 5.1.3 Compror Crédito destinado ao financiamento de ativos adquiridos pela empresa. Nessa operação, o vendedor recebe à vista e, assim, pode oferecer condições melhores a empresa que paga a prazo ao banco. 5.1.4 Vendor Crédito destinado ao financiamento das vendas realizadas a prazo pelas empresas. Nessa operação, a empresa vende a prazo para o cliente e recebe do banco a quantia vendida à vista. Em geral, a instituição financeira fica com os direitos creditórios da empresa, e, portanto, incutirá nos riscos da operação. 5.1.5 Recursos externos Linha de crédito captada no exterior por instituições financeiras, indexada à variação cambial. Financia o capital de giro ou o ativo fixo das empresas. 5.1.6 Desconto de duplicatas Adiantamento de recursos vinculados às duplicatas mercantis e outros recebíveis. Nessa operação de curto prazo, o possuidor da duplicata antecipa o valor a ser recebido e o banco cobra o emitente dela na data estipulada pelo contrato da duplicata. 12 5.1.7 Financiamento à importação Financiamento vinculado às linhas de crédito externa, destinadosà importação de bens ou serviços. 5.1.8 Cheque especial Limite de crédito para utilização do tomador, no curto prazo, sem a necessidade de comunicação previa com a instituição financeira. 5.1.9 Leasing A instituição financeira concede um bem, por uso temporário, ao cliente, mediante o pagamento de uma quantia periódica. No fim do prazo, há a possibilidade de o cliente adquirir o bem por um valor pré-acordado (residual). 5.1.10 ACC/ACE Destinado a exportadores que precisam de recursos para financiar a produção (ACC – Adiantamento sobre Contratos de Câmbio) ou a comercialização (ACE – Adiantamento sobre Capitais Entregues). 5.2 Operações – pessoa física 5.2.1 Crédito pessoal não consignado Corresponde aos empréstimos pessoais, não vinculados à aquisição de bens ou serviços, na qual as prestações são pagas sem descontos na folha de pagamento. 13 5.2.2 Crédito pessoal consignado Corresponde aos empréstimos pessoais com descontos na folha de pagamento. 5.2.3 Cartão de crédito À vista: operações sem incidências de juros; Rotativo: financiamento do saldo devedor após o vencimento da fatura; Parcelado: operações parceladas com incidência de juros. 5.2.4 Cheque especial Limite de crédito para utilização do tomador, no curto prazo, sem a necessidade de comunicação previa com a instituição financeira. 5.2.5 Leasing A instituição financeira concede um bem, por uso temporário, ao cliente, mediante o pagamento de uma quantia periódica. No fim do prazo, ha a possibilidade de o cliente adquirir o bem por um valor pré-acordado (residual). 5.2.6 Aquisição de bens CDCs (Crédito Direto ao Consumidor) para aquisições de bens e serviços e apenas pagos com a renda futura do cliente. 14 5.3 Análises para a concessão de crédito 5.3.1 Abordagem cinco Cs5: Caráter: compromisso para o cliente efetuar o pagamento. Capacidade: possibilidade de geração de recursos futuros. Capital: posse de bens do cliente. Condições: eventos macroeconômicos relacionados à atividade do cliente. Garantias (Colateral) 5.3.2 Análise das demonstrações contábeis: Análise vertical, em que é possível identificar as participações de cada índice financeiro no balanço. Análise horizontal, em que se podem determinar tendências ao mensurar a evolução dos índices financeiros nos períodos estudados. 5.3.3 Principais índices: 5.3.3.1 Endividamento – participação de capital alheio 5.3.3.2 Liquidez – capacidade de cumprir compromissos firmados com terceiros. 5.3.3.3 Rentabilidade – retorno sobre o capital próprio 5.3.3.4 Caixa – capacidade de arcar com compromissos no curto prazo. 6. Aprofundamento do Mercado de Crédito Uma importante medida da atuação do mercado de crédito nos países é o seu tamanho em relação ao PIB. Em geral, vemos que as economias mais desenvolvidas tendem a oferta de crédito como uma maior porcentagem do PIB. Países como Estados Unidos, que apresenta Crédito/PIB maior que 200%, ou China com relação superior a 100%, ainda contrastam com o valor 5 É importante ressaltar que essas características dependem do julgamento do funcionário que autorizará a concessão de credito. 15 desse indicador no cenário brasileiro, que atualmente é de 56,1% de acordo com o relatório do Banco Central do Brasil de 26 de agosto de 2014. Dessa forma, vemos que o Brasil ainda possui um mercado de crédito modesto em relação às economias desenvolvidas, como às economias em desenvolvimento. Devido principalmente por fatores históricos de instabilidade macroeconômica, como a época da hiperinflação, a oferta de crédito no Brasil ainda é pequena quando comparado com outros países no mesmo estágio de desenvolvimento, Esse aspecto, no entanto, dá espaço para mais possibilidades de aprofundamento de crédito no mercado. 7. Crédito Direcionado e Crédito Livre Há no mercado duas modalidades de crédito, a saber, o Crédito Direcionado e o Crédito Livre; e a diferença entre eles diz respeito à abrangência dos setores aos quais o fundo faz referência e à fonte dos recursos (se é um banco privado ou um banco de desenvolvimento). Dessa forma, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal são os bancos brasileiros que fornecem o serviço do crédito direcionado. Estes bancos, no entanto, não se restringem ao Crédito Direcionado, tendo grande importância para o desenvolvimento do Mercado de Crédito como um todo, sendo fundamentalmente importante como agente anticíclico durante as crises financeiras. 7.1. Crédito Direcionado Esta modalidade de crédito é caracterizada por ser destinada a um setor ou atividade específica, e com recursos previstos em lei ou normativo. Sua finalidade é o desenvolvimento de nichos específicos, geralmente aqueles ligados à infraestrutura econômica e social. “O Início dos mecanismos compulsórios de poupança, base para os créditos direcionados, deu–se entre as décadas de 1960 e 1980 com o objetivo de atenuar tanto o mercado de capitais incipientes quanto a baixa 16 poupança interna, que tornavam virtualmente impossível a concessão de empréstimos de longo prazo”. (2005, Apud Laux, 2006, p.30) Destacamos aqui algumas das principais modalidades de crédito direcionado utilizadas pelos bancos públicos: O BNDES é um dos principais fornecedores dessa modalidade de crédito; com linhas de crédito como o FINAME, que visa o investimento em máquinas nas empresas brasileiras; e o BNDESPar que tem por objeto social a capitalização de empreendimento controlados por grupos privados, visando o fomento do empreendedorismo no Brasil e o crescimento econômico. Além disso, os financiamentos habitacionais, que são concedidos no âmbito do Sistema Financeiro Habitacional (SFH), têm como principal canal de distribuição a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, que, através do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), é o principal financiador desta modalidade de crédito. O crédito direcionado representava, em 2005, cerca de 40% do total dos créditos ofertador no país, porém apresentava tendência declinante. Crescimento do Crédito ao ano (%). Fonte: O Ponto Base, BACEN. 17 7.2. Crédito Livre e mercado de crédito no Brasil Está modalidade de crédito é caracterizada pela grande abrangência dos setores de empréstimo, não sendo destinada a nenhum agente ou atividade específica. É a principal modalidade de crédito usada pelos bancos privados, sendo também usada em parte pelos agentes públicos. Nos últimos anos, no entanto, vemos um crescimento da atuação do governo na concessão de crédito, e, consequentemente, maior participação deste no mercado. Segundo Ulrich, no final do primeiro semestre de 2013, os bancos públicos detinham cerca de 50% do total de crédito do país (2013, Ultich). Analisemos o seguinte gráfico: Crescimento do Crédito ao ano (%). Fonte: O Ponto Base, BACEN. Podemos ver um papel dos bancos públicos como agentes anticíclicos. Esse é um tema muito importante e que será tratado no próximo tópico. 8. O papel dos Bancos Públicos Um dos maiores problemas enfrentados pelo mercado de crédito em todo o mundo é a volatilidade, que é ligada principalmente aos ciclos financeiros e à taxa de juros básica da economia; se esta for suficientemente 18 grande, os bancos optam por investir no tesouro direito e não pelo mercado de crédito(foi o que aconteceu durante o período de hiperinflação no Brasil). Sendo assim, podemos notar em que momentos de crise financeira internacional ou instabilidade macroeconômica interna, a oferta privada de crédito tende a se retrair, devido aos altos riscos ligados à conjuntura econômica. No sentido oposto, vemos que, em cenários favoráveis, a oferta de crédito pelo setor privado cresce rapidamente. É nesse aspecto que podemos analisar o papel dos bancos públicos e, no caso do Brasil, mais especificamente o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, como agentes anticíclicos na oferta interna de crédito. Crescimento do Crédito ao ano (%). Fonte: O Ponto Base, BACEN. Vemos no gráfico que a oferta de crédito pelo setor público raramente segue a tendência do setor privado. A diferença é mais acentuada no período de crise, como podemos ver pela grande separação da oferta entre outubro de 2008 e julho de 2011. 19 Assim, os bancos públicos se mostram importantes agentes estabilizadores do mercado de crédito brasileiro. Essa atuação é de suma importância em momentos de crise, quando a oferta de capital ficaria mais escassa, e o investimento recrudesceria. O que, no entanto, é mitigado pelo crescimento da oferta de crédito pelos bancos públicos. 9. Derivativos de Crédito O maior problema enfrentado pelas entidades intermediadoras no fornecimento de crédito é o risco de default. Para suprir essa assimetria na informação, foram desenvolvidos mecanismos de hedge, os quais são principalmente de duas formas: Securitização e Swaps de Crédito. 9.1. Securitização Segundo o dicionário de finanças Uqbar, Securitização “é o processo pelo qual um grupo relativamente homogêneo de ativos é convertido em títulos mobiliários passíveis de negociação.”. Este é um dos principais processos pelos quais entidades financeiras mitigam riscos relacionados aos empréstimos que concedem. Dessa forma, é possível que os bancos vendam sua carteira de ativos de empréstimos para terceiros, o que dilui o risco entre muitos indivíduos. É importante ressaltar, que diferentemente dos swaps de crédito, nessa modalidade de hedge há a transferência permanente dos ativos para uma entidade emissora dos títulos; enquanto naquele, há apenas a troca dos fluxos de caixa acordados no contrato. O processo ocorre da seguinte forma: os bancos, ao concederem empréstimos, acumulam em sua carteira ativos que são aproximadamente homogêneos. À procura de livrar-se dos riscos relacionados à inadimplência, eles podem vender uma “cesta” de ativos para uma entidade emissora, mediante um desconto do valor de face do título. A partir desse momento, não há mais ligação dos ativos com a entidade financeira. 20 Os títulos, que agora estão em posse da entidade emissora, têm seu valor diretamente ligado à performance dos ativos subjacentes. Eles serão, então, avaliados por uma agência classificadora de acordo com o seu risco de crédito, para posteriormente serem emitidos no mercado de capitais. Dessa forma, o risco de crédito é diluído entre todos aqueles que investiram nos títulos mobiliários, e a entidade originadora dos empréstimos acaba com sua exposição aos riscos. 9.2. Swaps de Crédito Swaps de crédito são instrumentos financeiros que viabilizam a transferência de risco. Desta forma, as instituições financeiras procuram mitigar o seu risco pagando um prêmio àqueles interessados em assumi-lo. O Retorno financeiro do agente tomador de risco são juros cobrados sobre o principal do contrato; estando ele, no entanto, obrigado a restituir à contraparte uma porcentagem do principal em caso de Default. É dessa forma que os intermediadores de crédito são capazes de diminuir os prejuízos financeiros provenientes da inadimplência. As consequências do desenvolvimento do mercado de derivativos de crédito para a economia são cogentes e se referem principalmente ao spread bancário e à formação de bolhas especulativas. Como já foi discutido anteriormente, o spread é a diferença entre o custo do dinheiro capitado pela instituição financeira e o retorno dela devido às aplicações. Esse spread está fortemente correlacionado com o risco que a empresa toma como credora, e o principal motivo desse risco é a assimetria de informação: o banco não sabe ao certo se o indivíduo que contrai a dívida será capaz de honrá-la. Dessa forma, o aprofundamento do uso de swaps creditícios diminui essa incerteza ao transferir o risco para terceiros, que estão interessados em receber o prêmio por acharem que a possibilidade de default é baixa o suficiente para ele ter um lucro financeiro no período. Assim, a divergência na formação de opinião sobre a possibilidade de default é um pré-requisito para a formação desse mercado. A instituição financeira, no entanto, não pode arcar com os riscos incutidos no processo, e, para ela, é mais interessante pagar um prêmio, como um seguro. As bolhas especulativas se referem principalmente à especulação sobre ativos com incertezas muito maiores do que as esperadas. Elas ocorrem da 21 seguinte forma, por exemplo: a economia está, no contexto, em pleno desempenho, de forma que os gestores do banco X nunca estiveram tão confiantes; Assim, como eles acreditam que todos os tomadores de empréstimos serão capazes de arcar com o contrato, eles começam a disponibilizar crédito de maneira menos restritiva. Os gestores do banco X, então, decidem financiar os imóveis de certo número de pessoas. o banco, para não ter que arcar com o risco de inadimplência, vende os ativos de empréstimo para outros banco, e, então, já recebe o dinheiro que havia desembolsado. Isso ocorre seguidamente, de um banco para outro, até que todos eles estão encadeados com esse tipo de ativo. O que acontece é que, com a economia aquecida, a inflação começa a corroer o poder de compra desses indivíduos que financiaram suas casas, a um ponto que eles não são mais capazes de pagar suas dívidas. O papel que estava sendo negociado na economia a um preço muito alto, devido ao pensamento geral de que a inadimplência seria muito baixa, agora está completamente desvalorizado, e os bancos têm que arcar com esse prejuízo financeiro. Alguns deles não serão capazes de arcar com esse prejuízo e serão liquidados. O resultado disso é uma crise financeira. Foi essa a conjuntura econômico-financeira que influenciou a crise subprime em 2008 nos Estados Unidos. Por fim, há também a possibilidade de swaps de crédito entre instituições financeiras. Bancos atuam em vários mercados, sendo que alguns deles têm expertise num nicho específico. Dessa forma, quando um banco acredita no crescimento da taxa de inadimplência no seu setor econômico e atuação e na diminuição nessa taxa em outro setor, essa instituição financeira, se houver uma contraparte para a negociação, pode fazer a troca do seu risco pelo de outro nicho econômico. Neste tipo de swap, há a troca de fluxos de caixa concernentes aos riscos incutidos nos mercados, dessa forma, possibilitando a exposição em outros setores econômicos. 10. Exercícios 22 10.1. 6 Calcular o IOF cobrado em uma operação de crédito de 10 prestações, sabendo-se que o valor da prestação é de $ 450.00 e a taxa de juros é 5% a.m. 10.2. Você é dono de um restaurante que ficou muito famoso depois de receber para jantar o time de futebol da Alemanha durante a copa do mundo de 2014. Depois desse ocorrido, você percebeu que o restaurante começou a ficar cheio todos os dias, e os empregados estavam ficando exaustos no final do turno. Por essa razão, vocêdecidiu que precisava melhorar o seu restaurante, investindo no espaço físico, comprando mais panelas, talheres e também contratando mais empregados. Você pesquisou bastante no mercado qual seria o banco mais apropriado para tomar um empréstimo, e encontrou um que oferecia uma taxa muito atrativa de apenas 7% ao ano. Você contratou um Engenheiro para analisar a obra, e sua secretária pesquisou os preços das melhores panelas pro seu negócio, e, depois de muitas reuniões, vocês três chegaram à conclusão de que seriam necessários R$ 700.000,00 para realizar todo o projeto. Você calculou que um tempo bom para amortizar todo o empréstimo seria de 10 anos. Qual o valor da prestação que você terá que pagar ao banco anualmente? Além disso, pede-se que calcule o total de juros pagos na negociação. Considerando que sua receita vai aumentar em R$ 55.000,00 ao ano após a reforma (que será feita instantaneamente) vale a pena fazer o investimento (sua receita é maior que seu prejuízo financeiro)? (Sugere-se usar o Excel para fazer as contas). 10.3. Explique como o banco central, alterando a alíquota de depósito compulsório, pode controlar a disponibilidade de crédito na economia e também o multiplicador bancário. 10.4. Exemplifique três modalidades de crédito direcionado e discorra sobre o papel dos bancos públicos como agentes anticíclicos na concessão de crédito. 10.5. Como os derivativos de crédito podem diminuir o spread bancário? (Tente formular uma resposta o mais completa possível, quanto mais informações, melhor foi o seu aprendizado). 6 Retirado de Matemática Financeira Moderna. 23 11. Referências Securitização. Uqbar: Dicionário de Finanças. Disponível em: http://manual.uqbar.com.br/portal/Manual/default/Content?action=2&uri= %2FManual%2FS%2Fsecuritizacao.html. Acesso em: 20/09/2014. ULRICH, Fernando. Uma radiografia do crédito bancário no Brasil. Disponível em: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1648. Acesso em: 26/09/2014 LAUX, Guilherme. Mercado de Crédito no Brasil: Características e Respostas a Choques. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/1815/Guilher meLaux2006.pdf?sequence=3. Acesso em: 20/09/2014 LUNDBERG, Eduardo Luis. Bancos oficiais e Crédito Direcionado – O que Diferencia o Mercado de Crédito Brasileiro?. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/pec/wps/port/td258.pdf. Acesso em: 20/09/2014 ITAÚ BBA. Mercado de Crédito em 2013: Queda da Inadimplência e Desaceleração do Saldo. Disponível em: https://www.itau.com.br/itaubba- pt/analises-economicas/publicacoes/macro-brasil/mercado-de-crédito-em- 2013-queda-da-inadimplencia-e-desaceleracao-do-saldo. Acesso em: 18/09/2014 SANT’ANNA, André; BORÇA JÚNIO, Gilberto; QUARESMA DE ARAÚJO, Pedro. Mercado de crédito no Brasil: Evolução Recente e o Papel do BNDES. Disponível em: http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galeria s/Arquivos/conhecimento/revista/rev3102.pdf. Acesso em: 20/09/2014. LINS ARCOVERDE, Guilherme. O Mercado de Crédito no Brasil. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/pec/notastecnicas/port/2002nt15creditmarketbrazilp .pdf. Acesso em: 20/09/2014 24 INTOO BLOG. Como Funciona o Mercado de Crédito no Brasil. Disponível em: http://intoo.com.br/blog/funciona-mercado-crédito-brasil/. Acesso em: 20/09/2014.
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