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C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.10, n.2, p.142-153, jun./ago. 2017 141 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNI- COS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ES- TADO DO PIAUÍ, BRASIL Gleyson Moura dos Santos * Maryanna Tallyta Silva Barreto *** Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro **** Renata Vieira de Sousa Silva ***** Ruan Luiz Rodrigues de Jesus ****** Higo José Neri da Silva ******* RESUMO A Leishmaniose Visceral (LV) é transmitida por meio da picada de fê- meas de flebotomíneos e constitui-se como um grave problema de sa- úde pública. Este estudo teve como objetivo descrever o perfil epide- miológico da Leishmaniose visceral e sua distribuição espacial no es- tado do Piauí no período de 2012 a 2015. Estudo descritivo de base populacional, utilizando dados secundários de casos autóctones de LV ocorridos entre os anos de 2012 a 2015 no estado do Piauí, registrados no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) e dis- ponibilizados no site do DATASUS. Para análise dos dados e produção do mapa utilizou-se o Tabwin 3.6 e o programa Bioestat 5.0. A incidên- cia no período foi de 7,48 casos/100.000 habitantes. A taxa de letali- dade foi de 5,34%. Os indivíduos pardos, do sexo masculino e na faixa etária de 0 a 4 anos, foram os mais acometidos, assim como os de baixa escolaridade. 12,3% eram coinfectados com o HIV; a taxa de cura foi de 46,2%. O critério de confirmação laboratorial foi utilizado em 87,2% dos casos. No ano de 2012, a maior incidência foi registrada no município de São Miguel da Baixa Grande, 2013 em Capitão Gervásio Oliveira, 2014 em Pavussu e 2015 em Lagoa do Barro do Piauí. Os dados indicaram ocorrência endêmica da doença no Estado. Portanto, é necessária a mobilização constante de recursos para que as ações de controle sejam efetivadas e que profissionais de saúde sejam capa- citados para atuarem nos serviços. Palavras-chave: educação antirracista, Lei 10.639/03, Relações étnico-raciais, Sociabilidades infantis. Nutricionista; Mestrando em Ciên- cias e Saúde (PPGCS/UFPI); Pós- graduando em Fitoterapia Aplicada à Nutrição (UCAM). * Enfermeira; Mestranda em Ciên- cias e Saúde (PPGCS-UFPI); Pós- Graduada em Enfermagem do Tra- balho (IESM). ** Nutricionista; Mestranda em Ciên- cias e Saúde (PPGCS/UFPI); Pós- Graduanda em Nutrição Esportiva e Funcional (UNINOVAFAPI). *** Bióloga; Mestranda em Ciências e Saúde (PPGCS/UFPI); Pós-Gradu- anda em Vigilância Sanitária (UNIN- TER). **** Fisioterapeuta; Mestrando em Ciências e Saúde (PPGCS/UFPI); Pós-Graduado em Neonatologia (UFMA). ***** Biomédico; Mestrando em Ci- ências e Saúde (PPGCS-UFPI); Pós- Graduado em Saúde Coletiva (UFBA); Docente da Faculdade de Tecnologia de Teresina – CET. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 142 C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p. 142-153, jul./dez. 2016 1. INTRODUÇÃO A leishmaniose visceral (LV) ou tri- vialmente conhecida como calazar é uma doença infecciosa sistêmica causada por protozoários digenéticos nomeados de tri- panossomatídeos do gênero Leishmania spp., sendo determinada no continente Americano como principal espécie a Leishmania infantum (=L. chagasi), a qual é transmitida por meio da picada de fê- meas de flebotomíneos (Diptera: Psycho- didae), sobretudo da espécie Lutzomyia- longipalpis (MARCONDES; ROSSI, 2013). A infecção desses flebotomíneos ocorre durante a hematofagia sobre verte- brados contaminados, representados pelo homem e por outros reservatórios, que em geral são o cão (área urbana), a raposa e os marsupiais (ambiente silvestre) (SAN- TANA et al., 2009). A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece a LV como um notável problema de saúde pública. Apesar de en- dêmica em mais de 60 países, Índia, Ban- gladesh, Nepal, Sudão e Brasil são res- ponsáveis por cerca de 90% dos casos (CALDAS et al., 2013). Clinicamente, a LV apresenta-se como uma enfermidade generalizada, crô- nica, caracterizada por febre irregular e de longa duração, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, anemia com leucopenia, hipergamaglobulinemia e hipoalbumine- mia, emagrecimento, edema e estado de debilidade progressivo, levando à caque- xia e, até mesmo, ao óbito (ALVARENGA et al., 2010). No Brasil, o calazar é considerado uma zoonose de difícil controle e ampla distribuição, sendo encontrada nas cinco regiões do país (PRADO et al., 2011). Tendo sua origem nas regiões campes- tres, a doença atualmente predomina em áreas citadinas, tendo essa modificação ocorrida principalmente devido aos pro- cessos de migração rural-urbana, sobre- tudo sob condições sociais e econômicas precárias da população (HARHAY, 2011). A região Nordeste tem os maiores índices da doença, sendo considerada área endêmica com episódios de epide- mia, principalmente na zona urbana; no estado do Piauí, é registrada desde 1934 (COSTA; PEREIRA; ARAUJO, 1990). Alguns estudos mostram que os elevados casos de LV no estado do Piauí estão relacionados às condições climáti- cas favoráveis, apresentadas pela região para o desenvolvimento do vetor que Gleyson Moura dos Santos, Maryanna Tallyta Silva Barreto, Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro, Renata Vieira de Sousa Silva, Ruan Luiz Rodrigues de Jesus, Higo José Neri da Silva C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.10, n.2, p. 142-153, jun./ago. 2017 143 abriga o protozoário causador dessa infec- ção (SILVA et al., 2007; SOARES et al., 2011). Sabendo que a leishmaniose cons- titui um grave problema de saúde pública, sendo um desafio para profissionais do âmbito curativo e autoridades competen- tes, é de extrema valia a promoção de es- tudos que retratem o paradigma de ocor- rência da LV e suas características epide- miológicas, contribuindo para o entendi- mento da dinâmica desse problema, bem como favorecer a realização de importan- tes ações de vigilância em saúde. Sendo assim, este estudo teve como objetivo descrever o perfil epidemio- lógico da Leishmaniose Visceral e sua dis- tribuição espacial no estado do Piauí no período de 2012 a 2015. 2 METODOLOGIA A pesquisa foi conduzida no Estado do Piauí, localizado no Nordeste do Brasil, entre 2° 44’ 49” e 10° 55' 05" de latitude sul e 40° 22' 12" e 45° 59' 42" de longitude oeste, apresentando um total de 224 mu- nicípios e, aproximadamente, 3.118.360 habitantes, sendo uma região de clima se- miárido, apresentando escassez e irregu- laridades de chuvas, com precipitações médias anuais entre 600 mm e 1200 mm e temperaturas elevadas, com longo perí- odo de seca (BRASIL, 2009; SILVA, et al., 2010). Trata-se de um estudo descri- tivo/retrospectivo de base populacional, utilizando dados secundários de casos au- tóctones de Leishmaniose Visceral ocorri- dos entre os anos de 2012 a 2015 no es- tado do Piauí, registrados no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) e disponibilizados no site do DA- TASUS. Foram incluídas para a análise as seguintes variáveis: sexo, faixa etária, es- colaridade, raça, coinfecção com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), crité- rios de confirmação, evolução dos casos e os métodos de diagnóstico laboratorial.Calculou-se o número de casos au- tóctones ocorridos por município entre os anos de 2012 a 2015. Realizou-se a pro- dução do mapa de distribuição dos casos de LV por município do estado, dividindo os valores obtidos em quintis para a clas- sificação dos municípios. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 144 C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p. 142-153, jul./dez. 2016 Para tabulação, análise dos dados e produção do mapa foram utilizados os programas Tabwin 3.6 e o Microsoft Office Excel 2010. As estimativas populacionais empregadas para o cálculo do coeficiente de incidência por 100.000 habitantes fo- ram obtidas do Instituto Brasileiro de Geo- grafia e Estatística (IBGE). O software Tabwin 3.6 e a base cartográfica digital para a produção do mapa foram obtidos no site do DATASUS. Os dados foram analisados medi- ante estatísticas descritivas (medidas de dispersão, frequências absolutas, gráficos e tabela). Foi empregado o teste de Qui- Quadrado de tendência para verificar se houve ou não uma diferença nos números de casos ao longo do tempo estudado. O tratamento dos dados foi feito através do programa Bioestat 5.0 sendo considerado significativo p<0,05. Por se tratar de uma análise funda- mentada em banco de dados secundários e de domínio público, o estudo não foi en- caminhado para apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa, mas ressalta-se que foram tomados os cuidados éticos que preceituam a Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde. 3 RESULTADOS No período de 2012 a 2015 foram registrados 954 casos confirmados de LV em residentes do Estado do Piauí, com uma média de 238,5 casos por ano. Os maiores percentuais de casos foram regis- trados em 2014 (n=285, 29,9%) e em 2015 (n=266, 27,9%) e o menor percentual re- gistrado foi em 2012 (n=191, 20,0%). Desta forma, houve uma diferença estatís- tica significativa (p<0,0001) dos casos de LV no Piauí no período estudado, que pode ser observada na figura 1. Figura 1- Números de casos de Leishmaniose Vis- ceral notificados no Piauí, no período de 2012 a 2015. Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In- formação de Agravos de Notificação - SINAN NET A incidência média no período foi de 7,48 casos/100.000 habitantes. Foram 0 100 200 300 F R E Q U Ê N C IA ANO Casos Confirmad os Gleyson Moura dos Santos, Maryanna Tallyta Silva Barreto, Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro, Renata Vieira de Sousa Silva, Ruan Luiz Rodrigues de Jesus, Higo José Neri da Silva C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.10, n.2, p. 142-153, jun./ago. 2017 145 registradas as seguintes incidências anu- ais: 6,04 casos/100.000 habitantes no ano de 2012; 6,66 casos/100.000 habitantes no ano de 2013; 8,92 casos/100.000 habi- tantes no de 2014 e 8,30 casos/100.000 habitantes no ano de 2015. Sendo assim, não houve diferença estatística significa- tiva (p<0,8179) da taxa de incidência de LV no Piauí no período estudado, que pode ser observada na figura 2. Figura 2-Taxa de incidência dos casos de Leish- maniose Visceral notificados no Piauí, no período de 2012 a 2015. Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In- formação de Agravos de Notificação - SINAN NET. A tabela 1 apresenta as variáveis demográficas relativas aos casos da res- pectiva doença. A baixa escolaridade foi um fator relevante, considerando que em 42,3% dos casos, os indivíduos tinham baixa escolaridade: eram analfabetos ou com referência ao ensino fundamental. A faixa etária mais acometida foi a de 0 a 4 anos (35,1%). Os indivíduos do sexo masculino foram os mais acometidos (63,9%). Demonstrou-se que a LV se apresentou com maior frequência em indi- víduos de cor parda (89,2%). Na tabela 2, pode ser observada a descrição das variáveis clínicas dos casos confirmados de LV em residentes do es- tado do Piauí. No período estudado, 117 dos casos de LV humana apresentaram sorologia para HIV, com uma positividade de 12,3%. A confirmação dos casos baseada em parâmetros clínico-epidemiológicos ocorreu para 122 (12,8%) casos de LV. Em 832 (87,2%) dos indivíduos foi reali- zado diagnóstico laboratorial. Ocorreram 51 óbitos que tiveram a LV como causa básica, registrando a taxa de letalidade de 5,34%. O percentual de cura foi de 46,2%. Tabela 1- Variáveis demográficas dos casos de Leishmaniose Visceral confirmados em residentes do estado do Piauí nos anos de 2012 a 2015. 6,04 6,66 8,92 8,3 2012 2013 2014 2015 Taxa de Incidência ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 146 C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p. 142-153, jul./dez. 2016 Variável Número de Casos (n=954) % Escolaridade Sem Informação 81 8,5 Analfabeto 23 2,4 Ensino Fundamental Incompleto 241 25,3 Ensino Fundamental Completo 139 14,6 Ensino Médio In- completo 49 5,1 Ensino Médio Com- pleto 29 3,0 Ensino Superior In- completo 02 0,2 Ensino Superior Completo 05 0,5 Não se Aplica 385 40,4 Faixa Etária 0 – 4 anos 335 35,1 5 – 14 anos 110 11,5 15 – 19 anos 34 3,6 20 – 39 anos 245 25,7 40 – 59 anos 170 17,8 >60 anos 60 6,3 Raça Sem Informação 26 2,8 Branca 30 3,1 Preta 35 3,7 Amarela 10 1,0 Parda 851 89,2 Indígena 02 0,2 Sexo Masculino 610 63,9 Feminino 344 36,1 Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In- formação de Agravos de Notificação - SINAN NET. Figura 3- Distribuição espacial dos casos de Leish- maniose Visceral (LV) por município do estado do Piauí nos anos de 2012 e 2013. Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In- formação de Agravos de Notificação - SINAN NET. Figura 4- Distribuição espacial dos casos de Leish- maniose Visceral (LV) por município do estado do Piauí nos anos de 2014 e 2015. Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In- formação de Agravos de Notificação - SINAN NET. Gleyson Moura dos Santos, Maryanna Tallyta Silva Barreto, Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro, Renata Vieira de Sousa Silva, Ruan Luiz Rodrigues de Jesus, Higo José Neri da Silva C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.10, n.2, p. 142-153, jun./ago. 2017 147 4 DISCUSSÃO A série temporal da LV no Estado do Piauí, compreendida entre 1 de janeiro de 2012 e 31 de dezembro de 2015, revela a notificação de 954 casos humanos com a média anual de 238,5 casos, o que clas- sifica o Piauí como uma importante área endêmica da Leishmaniose Visceral no nordeste do Brasil. O coeficiente de inci- dência anual variou de 6,04 a 8,92 casos por 100 mil habitantes durante o período estudado, mantendo-se mais elevado do que a média anual brasileira, que é de 2 casos para cada 100 mil habitantes (MAIA-ELKHOURY, 2008). Em relação à escolaridade, notou- se a predominância de pacientes com en- sino fundamental incompleto. Um estudo realizado por Borges et al. (2008) em Mi- nas Gerais, apontou que uma pessoa que nunca frequentou uma escola, ou que se classifica como analfabeto, tem oito vezes mais chances deser acometido por Leish- maniose Visceral. A maior prevalência da LV ocorreu em crianças menores de 10 anos de idade, principalmente entre a faixa etária de 0 a 4 anos (35,1% dos casos). Esta in- cidência de casos é semelhante ao que foi constatado em outros trabalhos, como nos estudos realizados por Ursine et al. (2016) e Oliveira e Pimenta (2014). A razão da maior susceptibilidade das crianças é ex- plicada pelo estado de relativa imaturi- dade imunológica celular, uma vez que a imunidade duradoura se desenvolve com o passar dos anos. E essa vulnerabilidade é agravada pela desnutrição, tão comum nas áreas endêmicas, além de uma maior exposição ao vetor no peridomicílio (BRA- SIL, 2014). Esse estudo constata que os indiví- duos de raça parda são os mais acometi- dos pela LV. Esse resultado deve ser in- terpretado a partir dos dados demográfi- cos da população residente por cor, que segundo o IBGE (2007) a região Nordeste apresenta, em sua maioria, uma popula- ção parda, com 61,5%, seguida da cor branca, com 29,5%. Assim como nos estudos de Gus- mão; Brito e Leite (2014), Ortiz e Anversa (2015), Cavalcante e Vale (2014) a LV ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 148 C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p. 142-153, jul./dez. 2016 acometeu principalmente pessoas do sexo masculino, o que para Goes, Melo e Jeraldo (2012), fatores hormonais e liga- dos à exposição ao vetor têm sido respon- sabilizados pelo aumento do risco deste gênero citado. Giefing-Kroll et al. (2015) explicam que esses fatores hormonais es- tão relacionados a níveis mais altos de testosterona e outros fatores ligados ao cromossomo e isso pode explicar a asso- ciação entre este gênero e a carga parasi- tária. O percentual de coinfectados com o HIV observados no presente estudo en- contra-se superior aos valores descritos para outros países endêmicos em desen- volvimento, que variam de 2,0 á 9,0%, o que difere de países como a Etiópia, cujo percentual de pacientes de LV coinfecta- dos com HIV varia de 15,0 a 30,0% (SOUSA-GOMES, 2011). Embora o critério laboratorial tenha correspondido ao critério de confirmação mais utilizado para o diagnóstico da LV, nesse estudo houve um percentual de não realização de testes laboratoriais para o diagnóstico reportado da LV. Nos casos humanos, essa investigação é rotineira- mente realizada com base em parâmetros clínicos e epidemiológicos. Entretanto, uma análise definitiva requer a demonstra- ção do parasita através de métodos para- sitológicos (GONTIJO; MELO, 2004).Quanto à evolução da doença, da mesma forma como foi relatado por Bar- bosa (2013), assim como em outros estu- dos realizados recentemente, foi obser- vado uma grande porcentagem na evolu- ção de pacientes para cura e baixa por- centagem de evolução para óbito causado pela LV. Entretanto, encontra-se também, na literatura, estudos em que se observa que a cura tem uma tendência de estar re- duzida bem como a letalidade tende a es- tar aumentada, principalmente, quando a LV acomete crianças menores de um ano e idosos acima de 60 anos (CAVAL- CANTE; VALE, 2014). A taxa de letalidade global obser- vada foi de 5,34% na série temporal anali- sada, semelhante ao observado no estudo de Prado et al. (2011), no qual observaram na cidade de Montes Claros- MG, taxas variando de 4,4% a 9,1%. Entre os princi- pais fatores que contribuem para o au- mento da letalidade estão o diagnóstico tardio e a expansão da epidemia acome- tendo grupos de indivíduos com comorbi- dades, sendo que as complicações infec- Gleyson Moura dos Santos, Maryanna Tallyta Silva Barreto, Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro, Renata Vieira de Sousa Silva, Ruan Luiz Rodrigues de Jesus, Higo José Neri da Silva C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.10, n.2, p. 142-153, jun./ago. 2017 149 ciosas e hemorragias são os principais fa- tores de risco para a morte por LV (PAS- TORINO, 2002; OLIVEIRA et al., 2010). 5 CONCLUSÕES O estudo realizado permite inferir informações relevantes para a população do Piauí quanto aos casos de Leishmani- ose Visceral relatados, uma vez que, os dados coletados indicam ocorrência endê- mica da doença no Estado. E que apesar da maioria dos casos evoluírem para cura, a letalidade ainda é alta, em especial em crianças e em indivíduos infectados pelo HIV. Portanto, é necessária a mobilização constante de recursos para que os planos e ações de controle propostas pelo Minis- tério da Saúde tornem-se eficazes, e tam- bém que profissionais de saúde sejam ca- pacitados para atuarem nos serviços roti- neiramente. ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 150 C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p. 142-153, jul./dez. 2016 EPIDEMIOLOGICAL AND CLINICAL ASPECTS OF VISCERAL LEISHMA- NIA IN PIAUÍ STATE, BRAZIL ABSTRACT Visceral Leishmaniosis (VL) is disease is transmitted by the bite of female phlebotomines. It is considered as a major health concern. This study aims at the description of the epidemiological profile and spatial distribution of Visceral Leishmaniosis in Piauí state from 2012 to 2015. Sec- ondary data from autochthone cases of VL from 2012 to 2015 in Piauí State, registered on the System for Information and Injuries of Notification (SINAN), available on DATASUS website were used to descriptively study the population base. Tabwin 3.6 and Bioestat 5.0 were used to analyze data and produce maps. Incidence during this period was 7.48 cases / 100,000 habitants. The lethal rate was 5.34%. Male pardo Brazilians from 0 to 4 years old and low education level were the most affected by the disease. HIV coinfection represented 12.3% of the cases. The cure rate was 80%. Lab confirmation was used in 87.2% of the cases. Counties with the highest incidence were registered in São Miguel da Baixa Grande-2012, Capitão Gervásio Oliveira – 2013, Pavussu -2014 and Lagoa do Barro do Piauí – 2015. Data indicated an endemic occurrence of the disease in the state. Thus, a constant mobilization of resources to effectively control the disease and train health professionals to act on these services is highly indicated. Keywords: Leishmaniasis Visceral, Epidemiology, Public Health. Artigo recebido em 31/05/2017 e aceito para publicação em 31/07/2017. REFERENCIAS ALVARENGA, D.G.; ESCALDA, P.M.F.; COSTA, A.S.V.; MONREAL, M.T.F.D. Leishmaniose visceral: es- tudo retrospectivo de fatores associ- ados à Letalidade. Revista da Soci- edade Brasileira de Medicina Tro- pical, v. 3, n. 2, p. 194-197, 2010. BARBOSA, I.R. Epidemiologia da Leishmaniose Visceral no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Revista de Epidemiologia e Controle de In- fecção, v. 3, n. 1, 17-21, 2013. BORGES, B.K.A.; SILVA, J. A.; HADDAD, J.P.A.; MOREIRA, E.C.; MAGALHÃES, D. F.; RIBEIRO, L.M.L.; FIÚZA, V.O.P. 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ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 152 C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p. 142-153, jul./dez. 2016 GONTIJO, C.M.F.; MELO, M.N. Leishmaniose visceral no Brasil, quadro atual, desafios e perspecti- vas. Revista Brasileira de Epidemi- ologia, v. 7, n. 3, p. 338-349, 2004. GIEFING-KROLL, C.; BERGER, P.; LEPPERDINGER, G.; GRUBECK- LOEBENSTEIN, B. How sex and age affect immune responses, suscepti- bility to infections, and response to vaccination. Aging cell, v. 14, n. 3, p. 309-321, 2015. GUSMÃO, J.D.; BRITO, P.A.; LEITE, M.T.S. Perfil epidemiológico da Leishmaniose Visceral no norte de Minas Gerais, Brasil, no período de 2007 a 2011. Revista Baiana de Sa- úde Pública, v. 38, n, 3, p. 615-624, 2014. HARHAY, M.O.; OLLIARO, P.L.; COSTA, D.L.; COSTA, C.H.N. Ur- banparasitology: visceral leishmani- asis in Brazil. Trends in Parasitol- ogy, v. 27, n. 9, p.403-409, 2011. 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