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C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.10, n.2, p.142-153, jun./ago. 2017 141 
 
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNI-
COS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ES-
TADO DO PIAUÍ, BRASIL 
 
Gleyson Moura dos Santos * 
Maryanna Tallyta Silva Barreto *** 
Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro **** 
Renata Vieira de Sousa Silva ***** 
Ruan Luiz Rodrigues de Jesus ****** 
Higo José Neri da Silva ******* 
 
 
RESUMO 
A Leishmaniose Visceral (LV) é transmitida por meio da picada de fê-
meas de flebotomíneos e constitui-se como um grave problema de sa-
úde pública. Este estudo teve como objetivo descrever o perfil epide-
miológico da Leishmaniose visceral e sua distribuição espacial no es-
tado do Piauí no período de 2012 a 2015. Estudo descritivo de base 
populacional, utilizando dados secundários de casos autóctones de LV 
ocorridos entre os anos de 2012 a 2015 no estado do Piauí, registrados 
no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) e dis-
ponibilizados no site do DATASUS. Para análise dos dados e produção 
do mapa utilizou-se o Tabwin 3.6 e o programa Bioestat 5.0. A incidên-
cia no período foi de 7,48 casos/100.000 habitantes. A taxa de letali-
dade foi de 5,34%. Os indivíduos pardos, do sexo masculino e na faixa 
etária de 0 a 4 anos, foram os mais acometidos, assim como os de 
baixa escolaridade. 12,3% eram coinfectados com o HIV; a taxa de 
cura foi de 46,2%. O critério de confirmação laboratorial foi utilizado em 
87,2% dos casos. No ano de 2012, a maior incidência foi registrada no 
município de São Miguel da Baixa Grande, 2013 em Capitão Gervásio 
Oliveira, 2014 em Pavussu e 2015 em Lagoa do Barro do Piauí. Os 
dados indicaram ocorrência endêmica da doença no Estado. Portanto, 
é necessária a mobilização constante de recursos para que as ações 
de controle sejam efetivadas e que profissionais de saúde sejam capa-
citados para atuarem nos serviços. 
 
 
Palavras-chave: educação antirracista, Lei 10.639/03, Relações étnico-raciais, 
Sociabilidades infantis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Nutricionista; Mestrando em Ciên-
cias e Saúde (PPGCS/UFPI); Pós-
graduando em Fitoterapia Aplicada à 
Nutrição (UCAM). 
* Enfermeira; Mestranda em Ciên-
cias e Saúde (PPGCS-UFPI); Pós-
Graduada em Enfermagem do Tra-
balho (IESM). 
** Nutricionista; Mestranda em Ciên-
cias e Saúde (PPGCS/UFPI); Pós-
Graduanda em Nutrição Esportiva e 
Funcional (UNINOVAFAPI). 
*** Bióloga; Mestranda em Ciências 
e Saúde (PPGCS/UFPI); Pós-Gradu-
anda em Vigilância Sanitária (UNIN-
TER). 
**** Fisioterapeuta; Mestrando em 
Ciências e Saúde (PPGCS/UFPI); 
Pós-Graduado em Neonatologia 
(UFMA). 
***** Biomédico; Mestrando em Ci-
ências e Saúde (PPGCS-UFPI); Pós-
Graduado em Saúde Coletiva 
(UFBA); Docente da Faculdade de 
Tecnologia de Teresina – CET. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 
 
 
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1. INTRODUÇÃO 
 
A leishmaniose visceral (LV) ou tri-
vialmente conhecida como calazar é uma 
doença infecciosa sistêmica causada por 
protozoários digenéticos nomeados de tri-
panossomatídeos do gênero Leishmania 
spp., sendo determinada no continente 
Americano como principal espécie a 
Leishmania infantum (=L. chagasi), a qual 
é transmitida por meio da picada de fê-
meas de flebotomíneos (Diptera: Psycho-
didae), sobretudo da espécie Lutzomyia-
longipalpis (MARCONDES; ROSSI, 
2013). A infecção desses flebotomíneos 
ocorre durante a hematofagia sobre verte-
brados contaminados, representados pelo 
homem e por outros reservatórios, que em 
geral são o cão (área urbana), a raposa e 
os marsupiais (ambiente silvestre) (SAN-
TANA et al., 2009). 
A Organização Mundial de Saúde 
(OMS) reconhece a LV como um notável 
problema de saúde pública. Apesar de en-
dêmica em mais de 60 países, Índia, Ban-
gladesh, Nepal, Sudão e Brasil são res-
ponsáveis por cerca de 90% dos casos 
(CALDAS et al., 2013). 
Clinicamente, a LV apresenta-se 
como uma enfermidade generalizada, crô-
nica, caracterizada por febre irregular e de 
 
 
longa duração, hepatoesplenomegalia, 
linfadenopatia, anemia com leucopenia, 
hipergamaglobulinemia e hipoalbumine-
mia, emagrecimento, edema e estado de 
debilidade progressivo, levando à caque-
xia e, até mesmo, ao óbito (ALVARENGA 
et al., 2010). 
No Brasil, o calazar é considerado 
uma zoonose de difícil controle e ampla 
distribuição, sendo encontrada nas cinco 
regiões do país (PRADO et al., 2011). 
Tendo sua origem nas regiões campes-
tres, a doença atualmente predomina em 
áreas citadinas, tendo essa modificação 
ocorrida principalmente devido aos pro-
cessos de migração rural-urbana, sobre-
tudo sob condições sociais e econômicas 
precárias da população (HARHAY, 2011). 
A região Nordeste tem os maiores 
índices da doença, sendo considerada 
área endêmica com episódios de epide-
mia, principalmente na zona urbana; no 
estado do Piauí, é registrada desde 1934 
(COSTA; PEREIRA; ARAUJO, 1990). 
Alguns estudos mostram que os 
elevados casos de LV no estado do Piauí 
estão relacionados às condições climáti-
cas favoráveis, apresentadas pela região 
para o desenvolvimento do vetor que 
 Gleyson Moura dos Santos, Maryanna Tallyta Silva Barreto, Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro, Renata Vieira de Sousa 
Silva, Ruan Luiz Rodrigues de Jesus, Higo José Neri da Silva 
 
 
 
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abriga o protozoário causador dessa infec-
ção (SILVA et al., 2007; SOARES et al., 
2011). 
Sabendo que a leishmaniose cons-
titui um grave problema de saúde pública, 
sendo um desafio para profissionais do 
âmbito curativo e autoridades competen-
tes, é de extrema valia a promoção de es-
tudos que retratem o paradigma de ocor-
rência da LV e suas características epide-
miológicas, contribuindo para o entendi-
mento da dinâmica desse problema, bem 
como favorecer a realização de importan-
tes ações de vigilância em saúde. 
Sendo assim, este estudo teve 
como objetivo descrever o perfil epidemio-
lógico da Leishmaniose Visceral e sua dis-
tribuição espacial no estado do Piauí no 
período de 2012 a 2015. 
 
2 METODOLOGIA 
A pesquisa foi conduzida no Estado 
do Piauí, localizado no Nordeste do Brasil, 
entre 2° 44’ 49” e 10° 55' 05" de latitude 
sul e 40° 22' 12" e 45° 59' 42" de longitude 
oeste, apresentando um total de 224 mu-
nicípios e, aproximadamente, 3.118.360 
habitantes, sendo uma região de clima se- 
 
 
 
 
miárido, apresentando escassez e irregu-
laridades de chuvas, com precipitações 
médias anuais entre 600 mm e 1200 mm 
e temperaturas elevadas, com longo perí-
odo de seca (BRASIL, 2009; SILVA, et al., 
2010). 
Trata-se de um estudo descri-
tivo/retrospectivo de base populacional, 
utilizando dados secundários de casos au-
tóctones de Leishmaniose Visceral ocorri-
dos entre os anos de 2012 a 2015 no es-
tado do Piauí, registrados no Sistema de 
Informações de Agravos de Notificação 
(SINAN) e disponibilizados no site do DA-
TASUS. 
Foram incluídas para a análise as 
seguintes variáveis: sexo, faixa etária, es-
colaridade, raça, coinfecção com o Vírus 
da Imunodeficiência Humana (HIV), crité-
rios de confirmação, evolução dos casos e 
os métodos de diagnóstico laboratorial.Calculou-se o número de casos au-
tóctones ocorridos por município entre os 
anos de 2012 a 2015. Realizou-se a pro-
dução do mapa de distribuição dos casos 
de LV por município do estado, dividindo 
os valores obtidos em quintis para a clas-
sificação dos municípios. 
 
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 
 
 
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Para tabulação, análise dos dados 
e produção do mapa foram utilizados os 
programas Tabwin 3.6 e o Microsoft Office 
Excel 2010. As estimativas populacionais 
empregadas para o cálculo do coeficiente 
de incidência por 100.000 habitantes fo-
ram obtidas do Instituto Brasileiro de Geo-
grafia e Estatística (IBGE). O software 
Tabwin 3.6 e a base cartográfica digital 
para a produção do mapa foram obtidos 
no site do DATASUS. 
Os dados foram analisados medi-
ante estatísticas descritivas (medidas de 
dispersão, frequências absolutas, gráficos 
e tabela). Foi empregado o teste de Qui-
Quadrado de tendência para verificar se 
houve ou não uma diferença nos números 
de casos ao longo do tempo estudado. O 
tratamento dos dados foi feito através do 
programa Bioestat 5.0 sendo considerado 
significativo p<0,05. 
Por se tratar de uma análise funda-
mentada em banco de dados secundários 
e de domínio público, o estudo não foi en-
caminhado para apreciação de um Comitê 
de Ética em Pesquisa, mas ressalta-se 
que foram tomados os cuidados éticos 
que preceituam a Resolução 466/12, do 
Conselho Nacional de Saúde. 
 
 
 
3 RESULTADOS 
 
No período de 2012 a 2015 foram 
registrados 954 casos confirmados de LV 
em residentes do Estado do Piauí, com 
uma média de 238,5 casos por ano. Os 
maiores percentuais de casos foram regis-
trados em 2014 (n=285, 29,9%) e em 2015 
(n=266, 27,9%) e o menor percentual re-
gistrado foi em 2012 (n=191, 20,0%). 
Desta forma, houve uma diferença estatís-
tica significativa (p<0,0001) dos casos de 
LV no Piauí no período estudado, que 
pode ser observada na figura 1. 
 
Figura 1- Números de casos de Leishmaniose Vis-
ceral notificados no Piauí, no período de 2012 a 
2015. 
 
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In-
formação de Agravos de Notificação - SINAN NET 
 
A incidência média no período foi 
de 7,48 casos/100.000 habitantes. Foram 
 
 
 
0
100
200
300
F
R
E
Q
U
Ê
N
C
IA
ANO
Casos
Confirmad
os
 Gleyson Moura dos Santos, Maryanna Tallyta Silva Barreto, Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro, Renata Vieira de Sousa 
Silva, Ruan Luiz Rodrigues de Jesus, Higo José Neri da Silva 
 
 
 
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registradas as seguintes incidências anu-
ais: 6,04 casos/100.000 habitantes no ano 
de 2012; 6,66 casos/100.000 habitantes 
no ano de 2013; 8,92 casos/100.000 habi-
tantes no de 2014 e 8,30 casos/100.000 
habitantes no ano de 2015. Sendo assim, 
não houve diferença estatística significa-
tiva (p<0,8179) da taxa de incidência de 
LV no Piauí no período estudado, que 
pode ser observada na figura 2. 
 
Figura 2-Taxa de incidência dos casos de Leish-
maniose Visceral notificados no Piauí, no período 
de 2012 a 2015. 
 
 
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In-
formação de Agravos de Notificação - SINAN 
NET. 
A tabela 1 apresenta as variáveis 
demográficas relativas aos casos da res-
pectiva doença. A baixa escolaridade foi 
um fator relevante, considerando que em 
42,3% dos casos, os indivíduos tinham 
baixa escolaridade: eram analfabetos ou 
 
 
 
com referência ao ensino fundamental. A 
faixa etária mais acometida foi a de 0 a 4 
anos (35,1%). Os indivíduos do sexo 
masculino foram os mais acometidos 
(63,9%). Demonstrou-se que a LV se 
apresentou com maior frequência em indi-
víduos de cor parda (89,2%). 
Na tabela 2, pode ser observada a 
descrição das variáveis clínicas dos casos 
confirmados de LV em residentes do es-
tado do Piauí. No período estudado, 117 
dos casos de LV humana apresentaram 
sorologia para HIV, com uma positividade 
de 12,3%. 
A confirmação dos casos baseada 
em parâmetros clínico-epidemiológicos 
ocorreu para 122 (12,8%) casos de LV. 
Em 832 (87,2%) dos indivíduos foi reali-
zado diagnóstico laboratorial. Ocorreram 
51 óbitos que tiveram a LV como causa 
básica, registrando a taxa de letalidade de 
5,34%. O percentual de cura foi de 46,2%. 
 
Tabela 1- Variáveis demográficas dos casos de 
Leishmaniose Visceral confirmados em residentes 
do estado do Piauí nos anos de 2012 a 2015. 
 
 
 
 
6,04 6,66
8,92 8,3
2012 2013 2014 2015
Taxa de Incidência
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 
 
 
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Variável Número de 
Casos (n=954) 
% 
Escolaridade 
Sem Informação 81 8,5 
Analfabeto 23 2,4 
Ensino Fundamental 
Incompleto 
241 25,3 
Ensino Fundamental 
Completo 
139 14,6 
Ensino Médio In-
completo 
49 5,1 
Ensino Médio Com-
pleto 
29 3,0 
Ensino Superior In-
completo 
02 0,2 
Ensino Superior 
Completo 
05 0,5 
Não se Aplica 385 40,4 
Faixa Etária 
0 – 4 anos 335 35,1 
5 – 14 anos 110 11,5 
15 – 19 anos 34 3,6 
20 – 39 anos 245 25,7 
40 – 59 anos 170 17,8 
>60 anos 60 6,3 
Raça 
Sem Informação 26 2,8 
Branca 30 3,1 
Preta 35 3,7 
Amarela 10 1,0 
Parda 851 89,2 
Indígena 02 0,2 
Sexo 
Masculino 610 63,9 
Feminino 344 36,1 
 
 
 
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In-
formação de Agravos de Notificação - SINAN NET. 
 
Figura 3- Distribuição espacial dos casos de Leish-
maniose Visceral (LV) por município do estado do 
Piauí nos anos de 2012 e 2013. 
 
 
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In-
formação de Agravos de Notificação - SINAN 
NET. 
 
Figura 4- Distribuição espacial dos casos de Leish-
maniose Visceral (LV) por município do estado do 
Piauí nos anos de 2014 e 2015. 
 
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de In-
formação de Agravos de Notificação - SINAN 
NET. 
 
 Gleyson Moura dos Santos, Maryanna Tallyta Silva Barreto, Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro, Renata Vieira de Sousa 
Silva, Ruan Luiz Rodrigues de Jesus, Higo José Neri da Silva 
 
 
 
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4 DISCUSSÃO 
 
A série temporal da LV no Estado 
do Piauí, compreendida entre 1 de janeiro 
de 2012 e 31 de dezembro de 2015, revela 
a notificação de 954 casos humanos com 
a média anual de 238,5 casos, o que clas-
sifica o Piauí como uma importante área 
endêmica da Leishmaniose Visceral no 
nordeste do Brasil. O coeficiente de inci-
dência anual variou de 6,04 a 8,92 casos 
por 100 mil habitantes durante o período 
estudado, mantendo-se mais elevado do 
que a média anual brasileira, que é de 2 
casos para cada 100 mil habitantes 
(MAIA-ELKHOURY, 2008). 
Em relação à escolaridade, notou-
se a predominância de pacientes com en-
sino fundamental incompleto. Um estudo 
realizado por Borges et al. (2008) em Mi-
nas Gerais, apontou que uma pessoa que 
nunca frequentou uma escola, ou que se 
classifica como analfabeto, tem oito vezes 
mais chances deser acometido por Leish-
maniose Visceral. 
A maior prevalência da LV ocorreu 
em crianças menores de 10 anos de 
idade, principalmente entre a faixa etária 
 
 
 
 
 
 
de 0 a 4 anos (35,1% dos casos). Esta in-
cidência de casos é semelhante ao 
que foi constatado em outros trabalhos, 
como nos 
estudos realizados por Ursine et al. (2016) 
e Oliveira e Pimenta (2014). A razão da 
maior susceptibilidade das crianças é ex-
plicada pelo estado de relativa imaturi-
dade imunológica celular, uma vez que a 
imunidade duradoura se desenvolve com 
o passar dos anos. E essa vulnerabilidade 
é agravada pela desnutrição, tão comum 
nas áreas endêmicas, além de uma maior 
exposição ao vetor no peridomicílio (BRA-
SIL, 2014). 
Esse estudo constata que os indiví-
duos de raça parda são os mais acometi-
dos pela LV. Esse resultado deve ser in-
terpretado a partir dos dados demográfi-
cos da população residente por cor, que 
segundo o IBGE (2007) a região Nordeste 
apresenta, em sua maioria, uma popula-
ção parda, com 61,5%, seguida da cor 
branca, com 29,5%. 
Assim como nos estudos de Gus-
mão; Brito e Leite (2014), Ortiz e Anversa 
(2015), Cavalcante e Vale (2014) a LV 
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 
 
 
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acometeu principalmente pessoas do 
sexo masculino, o que para Goes, Melo e 
Jeraldo (2012), fatores hormonais e liga-
dos à exposição ao vetor têm sido respon-
sabilizados pelo aumento do risco deste 
gênero citado. Giefing-Kroll et al. (2015) 
explicam que esses fatores hormonais es-
tão relacionados a níveis mais altos de 
testosterona e outros fatores ligados ao 
cromossomo e isso pode explicar a asso-
ciação entre este gênero e a carga parasi-
tária. 
O percentual de coinfectados com 
o HIV observados no presente estudo en-
contra-se superior aos valores descritos 
para outros países endêmicos em desen-
volvimento, que variam de 2,0 á 9,0%, o 
que difere de países como a Etiópia, cujo 
percentual de pacientes de LV coinfecta-
dos com HIV varia de 15,0 a 30,0% 
(SOUSA-GOMES, 2011). 
Embora o critério laboratorial tenha 
correspondido ao critério de confirmação 
mais utilizado para o diagnóstico da LV, 
nesse estudo houve um percentual de não 
realização de testes laboratoriais para o 
diagnóstico reportado da LV. Nos casos 
humanos, essa investigação é rotineira-
mente realizada com base em parâmetros 
clínicos e epidemiológicos. Entretanto, 
 
 
uma análise definitiva requer a demonstra-
ção do parasita através de métodos para-
sitológicos (GONTIJO; MELO, 
2004).Quanto à evolução da doença, da 
mesma forma como foi relatado por Bar-
bosa (2013), assim como em outros estu-
dos realizados recentemente, foi obser-
vado uma grande porcentagem na evolu-
ção de pacientes para cura e baixa por-
centagem de evolução para óbito causado 
pela LV. Entretanto, encontra-se também, 
na literatura, estudos em que se observa 
que a cura tem uma tendência de estar re-
duzida bem como a letalidade tende a es-
tar aumentada, principalmente, quando a 
LV acomete crianças menores de um ano 
e idosos acima de 60 anos (CAVAL-
CANTE; VALE, 2014). 
A taxa de letalidade global obser-
vada foi de 5,34% na série temporal anali-
sada, semelhante ao observado no estudo 
de Prado et al. (2011), no qual observaram 
na cidade de Montes Claros- MG, taxas 
variando de 4,4% a 9,1%. Entre os princi-
pais fatores que contribuem para o au-
mento da letalidade estão o diagnóstico 
tardio e a expansão da epidemia acome-
tendo grupos de indivíduos com comorbi-
dades, sendo que as complicações infec-
 Gleyson Moura dos Santos, Maryanna Tallyta Silva Barreto, Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro, Renata Vieira de Sousa 
Silva, Ruan Luiz Rodrigues de Jesus, Higo José Neri da Silva 
 
 
 
C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.10, n.2, p. 142-153, jun./ago. 2017 149 
ciosas e hemorragias são os principais fa-
tores de risco para a morte por LV (PAS-
TORINO, 2002; OLIVEIRA et al., 2010). 
 
5 CONCLUSÕES 
 
O estudo realizado permite inferir 
informações relevantes para a população 
do Piauí quanto aos casos de Leishmani-
ose Visceral relatados, uma vez que, os 
dados coletados indicam ocorrência endê-
mica da doença no Estado. E que apesar 
da maioria dos casos evoluírem para cura, 
a letalidade ainda é alta, em especial em 
crianças e em indivíduos infectados pelo 
HIV. Portanto, é necessária a mobilização 
constante de recursos para que os planos 
e ações de controle propostas pelo Minis-
tério da Saúde tornem-se eficazes, e tam-
bém que profissionais de saúde sejam ca-
pacitados para atuarem nos serviços roti-
neiramente. 
 
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E CLÍNICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL 
 
 
150 C&D-Revista Eletrônica da FAINOR, Vitória da Conquista, v.9, n.2, p. 142-153, jul./dez. 2016 
EPIDEMIOLOGICAL AND CLINICAL ASPECTS OF VISCERAL LEISHMA-
NIA IN PIAUÍ STATE, BRAZIL 
ABSTRACT 
Visceral Leishmaniosis (VL) is disease is transmitted by the bite of female phlebotomines. It is 
considered as a major health concern. This study aims at the description of the epidemiological 
profile and spatial distribution of Visceral Leishmaniosis in Piauí state from 2012 to 2015. Sec-
ondary data from autochthone cases of VL from 2012 to 2015 in Piauí State, registered on the 
System for Information and Injuries of Notification (SINAN), available on DATASUS website 
were used to descriptively study the population base. Tabwin 3.6 and Bioestat 5.0 were used 
to analyze data and produce maps. Incidence during this period was 7.48 cases / 100,000 
habitants. The lethal rate was 5.34%. Male pardo Brazilians from 0 to 4 years old and low 
education level were the most affected by the disease. HIV coinfection represented 12.3% of 
the cases. The cure rate was 80%. Lab confirmation was used in 87.2% of the cases. Counties 
with the highest incidence were registered in São Miguel da Baixa Grande-2012, Capitão 
Gervásio Oliveira – 2013, Pavussu -2014 and Lagoa do Barro do Piauí – 2015. Data indicated 
an endemic occurrence of the disease in the state. Thus, a constant mobilization of resources 
to effectively control the disease and train health professionals to act on these services is highly 
indicated. 
Keywords: Leishmaniasis Visceral, Epidemiology, Public Health. 
 
 Artigo recebido em 31/05/2017 e aceito para publicação em 
31/07/2017. 
 
REFERENCIAS 
 
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BARBOSA, I.R. Epidemiologia da 
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Rio Grande do Norte, Brasil. Revista 
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BORGES, B.K.A.; SILVA, J. A.; 
HADDAD, J.P.A.; MOREIRA, E.C.; 
MAGALHÃES, D. F.; RIBEIRO, 
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