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Mediação familiar uma ferramenta útil para a parentalidade positiva

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MEDIAÇÃO FAMILIAR 
Uma ferramenta útil 
para a Parentalidade 
Positiva 
 
«Há palavras que são setas que nos trespassam, há palavras que são sementes que se lançam 
e se acolhem esperando pelo fruto. No ar paira sempre uma pergunta: que fazer deste dia? E 
tudo pode depender de um secreto dom, do impulso e da motivação suscitados pelas palavras 
que recebemos.» Pe. Jesuíta Vasco Pinto Magalhães 
 
 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
1 
 
 
Índice 
 
 
Introdução .................................................................................................................................. 2 
 
O conceito de família, evoluções, transformações e redefinições ............................. 3 
 
Consequências das transformações sociais e familiares no exercício da 
parentalidade ............................................................................................................................. 6 
Modelos de parentalidade ....................................................................................................... 8 
O cérebro da criança ............................................................................................................... 11 
 
Intervir promovendo, prevenir protegendo: o superior interesse da criança ........ 14 
 
Conclusão ................................................................................................................................ 18 
 
Bibliografia ............................................................................................................................... 21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
2 
 
Introdução 
Se é verdade que a família mudou, também continua a ser verdade que é nela 
que o individuo se constrói. A primeira e mais relevante relação que estabelecemos 
com o mundo, decorre do desenvolvimento de um vínculo emocional com as figuras 
que cuidam de nós, nos primeiros anos de vida. A forma como esta relação decorre é 
fundamental para o desenvolvimento de um sentimento de confiança e de segurança 
em si próprio, aumentando assim, as competências da criança para explorar o mundo. 
As maiores dificuldades geralmente relatadas por pais e professores, estão 
relacionadas com os comportamentos de agressividade, impulsividade e desinteresse 
dos filhos e/ou alunos, sendo difícil, por vezes encontrar estratégias para lidar com 
estes comportamentos e gerir estas situações. 
Adequar os estilos ou modelos de educação às novas realidades é um 
imperativo social em qualquer sociedade contemporânea, que pretende responder de 
forma eficiente à mudança. 
 A minha experiência profissional vem me demonstrando que, se antigamente o 
maior numero de Crianças e Jovens que chegavam às casas de acolhimento e aos 
lares de Infância e juventude, era por questões derivadas de maus tratos e/ou abusos 
sexuais, nos últimos anos, chegam cada vez mais jovens com problemas de 
comportamento, em que os pais (na maioria das vezes divorciados) não sabem como 
lidar. 
 O relatório CASA 2015 também demonstra que o perfil dos casos que entram 
nas CPCJs, está também a mudar. Já não são só as famílias carenciadas com 
processos nas Comissões de Proteção de Menores. São cada vez mais os filhos de 
pais separados, que se vêem no enredo dos conflitos conjugais e que apresentam 
problemas de comportamento, absentismo escolar, consumo de drogas, entre outros 
comportamentos desviantes. 
 Com os contributos da neurociência, sabemos hoje, que a agressividade e 
impulsividade estão muitas vezes relacionadas com a maturação cerebral e que para 
que esta se desenvolva de forma correta e harmoniosa, a criança precisa de vínculos 
fortes e seguros e sobretudo de vivências positivas, que lhes permita desenvolver a 
consciência de si e do outro. 
 Sabemos também hoje, que o quociente emocional de uma criança ou 
individuo é mais decisivo para o sucesso, que o quociente de inteligência, já que as 
nossas emoções e a capacidade que temos para as gerir de forma eficiente, é 
fundamental para a obtenção de sucesso, quer na escola, quer na vida em geral. 
 Educar de forma positiva é desenvolver na criança a capacidade de se 
autorregular e se focar no que realmente interessa, permitindo-lhe um 
desenvolvimento emocional potenciador de aprendizagem continua, eficiente e 
integrada na sociedade. Ou seja, será caso para dizer, que hoje, mais importante que 
um bom casamento, é ter um bom divórcio. Livre de conflitos que se perpetuem no 
tempo e que permitam seguir o lema de “Pais Felizes, Crianças Felizes”. 
 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
3 
 
O conceito de família, evoluções, transformações e redefinições 
A família, no sentido amplo do termo, é o que há de mais ancestral na história 
da humanidade, a mais estável mas também a que, actualmente, sofre modificações 
mais radicais, motivadas pelos novos contextos sociais, económicos, políticos, 
científicos, etc.. 
No chamado mundo ocidental, as formas de famílias são muitas no entanto, o 
modelo, ainda predominante, segundo vários estudos, continua a ser o nuclear 
conjugal.1 
Ao longo dos tempos, independentemente da sua forma, a família 
desempenhou essencialmente a função reprodutora, educativa e económica. 
Actualmente a família desempenha também a importante função de espaço de 
construção de identidade. 
De acordo com Almeida, (1985:8), “as famílias deixaram de ser consideradas 
“tábua rasa” onde se vão inscrevendo, mecanicamente, as influências exteriores a ela 
e passa a ter o estatuto de actor capaz de intervir na sua própria dinâmica de vida e de 
relações inter e intra pessoais, gerindo de forma particular, todas as influências 
externas preservando, interpretando e reinventando estratégias. Desta forma 
posiciona-se relativamente ao exterior provocando situações de continuidade ou de 
mudança.” 
A família é originariamente o lugar onde o individuo está inserido por 
nascimento ou adopção e nela se desenvolve, através de experiencias vividas, 
desenvolvendo a sua personalidade e caracter, transmitindo posteriormente também 
as suas crenças e tradições, na família aprendidas e desenvolvidas 
 A importância do papel dos pais na educação dos seus filhos, constitui um 
conceito indiscutível, cuja evidência não necessita ser reforçada, pois a família é o 
meio naturalmente mais adequado para que a interacção criança-adulto se faça de 
forma satisfatória e proporcionadora de um desenvolvimento saudável em todos os 
domínios da sua vida. 
 Uma criança que cresce e interage num ambiente familiar agradável e 
estimulante, terá mais probabilidades de se sentir confiante e segura para os desafios 
que a vida lhe vai colocando. A família constitui uma unidade onde surgem muitas 
interacções e acontecimentos que afectam qualquer um dos membros da família e 
podem ter impacto em todos os seus membros. Se os pais são modelos desajustados, 
oscilando entre a passividade e a ameaça, e entre os quais o conflito é permanente, a 
criança não desenvolve mecanismos de auto-regulação, nem estratégias de solução 
de problema. 
 Já Augusto Conte no seu Traité de sociologie instituant la Religion de 
l’Humanité em 1851, referia que a socialização familiar transforma os indivíduos em 
seres sociais e não apenas em seres familiares. A vida familiar garante a “transição 
real dos instintos egoístas para as simpatias universais”.1
 Agregados domésticos por tipos de composição - http://www.pordata.pt/DB/Portugal/Ambiente+de+Consulta/Tabela 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
4 
 
As famílias, são por isso, como refere Ribeiro (1994,p58) “… uma comunidade que 
nasce, cresce, procria, decresce e morre, continuando ao longo das gerações e 
transmitindo a vida… “ Assim se percorre o ciclo de vida da família ao longo do tempo, 
sendo que cada estágio apresenta características e desafios aos quais a família terá 
de responder adequadamente. 
É inevitável que ao longo da vida das famílias os seus membros atravessem uma série 
de estágios previstos, separados por transições previsíveis e por vezes também 
imprevisíveis. 
Cada estágio será marcado por alguma mudança em algum membro da família 
(nascimento, morte, saída de casa etc) e estas mudanças acabam por ter impacto em 
todo o sistema familiar. 
O trabalho de Carter & McGoldrick, referido no artigo de Claudia Cacau Furia Cesar 
(p3), considera a existência de seis grandes estágios do ciclo de vida familiar, 
salientando que, por um lado, nem todos os membros tem obrigatoriamente de passar 
por todos eles, quer seja por impossibilidade ou opção própria e por outro lado, dado 
que a família é composta por diversos membros em diferentes fases de 
desenvolvimento, também pode acontecer que as fases se sobreponham. 
Seis grandes estágios do ciclo de vida familiar: 
1. Adultos jovens – será a fase em que o jovem adulto se separa da família de 
origem. Esta fase requer alguns reajustes nas relações, já que não se pretende 
que rompa com relações. 
2. O casal – o início da vida a dois não é fácil, pois exige uma aliança de valores, 
sobre as quias é necessário expressar e conciliar. 
3. Família com filhos pequenos - Nesta fase, acrescem as discussões 
centralizadas na disposição e partilha das responsabilidades, cuidados com a 
criança, a divisão das tarefas domésticas etc. De acordo com alguns autores, 
esta é a fase do ciclo de vida familiar que possui o índice mais elevado de 
divórcio. 
4. Família com filhos adolescentes - Neste estágio a forma de imposição de 
autoridade torna-se distinta, pois os adolescentes trazem para dentro da família 
novos valores e começam a estabelecer os seus próprios relacionamentos, 
tornando-se importante ajustes especiais entre pais, filhos e avós, para permitir 
e estimular estes novos relacionamentos. 
5. Ninho vazio – A saída de casa de um filho é um grande desafio para o casal, 
que retorna o foco para ele próprio e não para a maternidade ou paternidade. 
Simultaneamente podem assistir ao nascimento de uma nova geração, mas 
podem acumular também a difícil tarefa de acompanhar o envelhecimento dos 
seus pais. A forma como se vive este estágio dependerá muito da forma como 
se desenvolveu o ciclo da família nos estágios anteriores. Se para uns é uma 
fase de libertação, para outros é uma fase de grande perda e depressão. 
6. Família no estágio tardio da vida – nesta fase o individuo pode deparar-se com 
algum vazio existencial, principalmente se ocorre a morte do cônjuge. É uma 
fase onde a união e o apoio familiar são fundamentais. 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
5 
 
Todavia, para além das transições previsíveis, o ciclo da vida da família vive cada vez 
mais momentos imprevisíveis que podem afectar profundamente a vida familiar, e para 
as quais dificilmente estamos preparados. É o caso do divórcio, da doença ou da 
morte precoce de um ente querido, desemprego, etc. 
A verdade é que as sociedades actuais parecem criar desafios cada vez mais 
exigentes à manutenção equilibrada da família e consciente dessa dificuldade, o 
direito e o legislador, tem sentido cada vez mais necessidade de adequar e 
regulamentar as questões familiares, como forma de prevenir ou resolver conflitos 
entre os membros da família. 
Se analisarmos a forma como Portugal vêm adequando a lei às necessidades reais 
das famílias de hoje, percebemos a vontade e a consciência do legislador 
relativamente à realidade actual das relações conjugais. 
Em Portugal, é visível no direito a importância que sempre foi dada à família, 
espelhado, por exemplo, na constituição da Republica Portuguesa (artº 36) e no 
Código civil (art.º 1576 e ss do CCiv). 
Desde a segunda metade do século XX assistiu-se a um conjunto de importantes 
transformações nas sociedades industrializadas. Em Portugal, essas mudanças 
fizeram-se sentir sobretudo nas últimas 4 décadas e tiveram grandes repercussões na 
composição socioprofissional da população portuguesa, com relevo para a crescente 
feminização da população activa e modos de organização da vida familiar. 
Para além da entrada da mulher no mercado de trabalho, surgem novos desafios à 
família e à conjugalidade. O ritmo de vida, a vontade de viver o hoje e o presente, a 
busca da felicidade e da satisfação do Eu, dão muitas vezes origem a pontos de vista 
divergentes, que geram conflito e vontade de dissolver o vínculo familiar do 
casamento. 
A admissibilidade do divórcio para quaisquer casamentos é consagrada na 
Constituição da Republica Portuguesa, no art. 36, com dupla intenção. O n.º2 
consagra um verdadeiro direito ao divórcio dos cônjuges, inclusive o católico; e o n.º 3, 
consagra a igualdade de direitos e deveres dos cônjuges quanto à sua capacidade 
civil e política e à manutenção e educação dos filhos. 
Outros aspectos da lei são exemplificativos da necessidade de legislar de acordo com 
as realidades atuais, veja-se por exemplo, os cuidados que tem vindo a ser tidos em 
matéria de promoção e protecção de menores, tentando sempre adequar a lei e os 
procedimentos, aquilo que é o verdadeiro interesse da criança. 
Saliento o art. 36º/5 da CRP, com a atribuição aos pais do poder-dever de educação 
dos filhos; o art.º 36º/4 com a não discriminação dos filhos nascidos fora do casamento 
(deixa de haver a figura do filho ilegítimo); a protecção da adopção no art. 36º/7; e 
saliento também o CCiv, quando regulamenta a regulação do exercício das 
responsabilidades parentais, bem como a lei de Protecção de crianças e jovens em 
Perigo (Lei n.º 149/99 de 1 de Setembro, revista pela lei n.º 31/2003 de 22 de agosto e 
recentemente actualizada pela lei n.º 23/2017 de 23 de maio, que alarga o período de 
protecção até aos 25 anos). 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
6 
 
A evolução das sociedades deu também origem a novas formas de conjugalidade e 
neste sentido, o legislador, teve também necessidade de regulamentar. É o caso da 
união de facto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. 
Sendo a questão dos direitos e deveres da família, tão complexos, afigura-se hoje, 
cada vez mais a necessidade de trabalhar as situações de conflito na família, 
nomeadamente na conjugalidade e na parentalidade, de forma mais humanista e 
holística. 
Sendo as relações familiares, pontos de equilíbrio do individuo, que lhe permitem ou 
não desenvolver o seu potencial de forma harmoniosa, que interferem com 
sentimentos, emoções, estados de consciência, convocam por isso, abordagens 
diferenciadoras e conciliadoras, que lhes permita ver as coisas e a realidade de forma 
clara e não turva, por um turbilhão de emoções. 
Sendo a família sinonimo de emoções e sentimentos, o conflito, implica na maioria das 
vezes dor, sentimentos contraditórios, pouco claros e na maioria das vezes 
dificuldades de comunicação. 
Neste sentido, a mediação familiar afigura-se como a forma mais humanista de lidar 
com os conflitosfamiliares, permitindo encontrar consensos e reformular relações, que 
se coadunem com as vivências cada vez mais individualistas das sociedades 
contemporâneas. 
Do divórcio surgem muitas vezes novas famílias, ou famílias recompostas e assim, 
novos membros para a família, que antes pouco faziam parte do nosso quotidiano. É o 
caso da madrasta, do padrasto, do irmanastro ou da avónastra. Estes últimos, nomes 
por mim inventados, mas que considero que a curto ou médio prazo, com esta ou 
outra nomenclatura, farão parte do nosso léxico. 
Também a parentalidade sofreu mutações e não se esgota na sua esfera quotidiana e 
domestica. Pelo contrário, a família funciona também, como parte dos sistemas mais 
complexos na qual está integrada e por isso, é também natural que se coloquem 
novos desafios à parentalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Consequências das transformações sociais e familiares no exercício 
da parentalidade 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
7 
 
Os objectivos gerais da educação parental, que se perpetuam ao longo dos tempos, 
são o desejo que os nossos filhos sejam felizes, respeitando as regras e os limites. O 
que muda é a forma como queremos lá chegar. 
Se em termos sociais, temos dificuldade em entender as ditaduras, perpetivando a 
necessidade de autoridades mais democráticas, que respeitem o outro, o mesmo 
acontece no seio da família. As relações de poder esbatem-se e promove-se o igual 
valor. Entre marido e mulher e também entre pais e filhos. 
A primeira e mais relevante relação que estabelecemos com o mundo, decorre do 
desenvolvimento de um vínculo emocional com as figuras que cuidam de nós, nos 
primeiros anos de vida. A forma como esta relação decorre é fundamental para o 
desenvolvimento de um sentimento de confiança e de segurança em si próprio, 
aumentando assim, as competências da criança para explorar o mundo. 
As transformações do papel da mulher no seio da família, trouxeram também 
consequências na forma como se exerce hoje a parentalidade, começando mesmo a 
falar-se de coparentalidade. 
De acordo com o artigo 1878º do CCiv, n.º 1, “compete aos pais, no interesse dos 
filhos, velar pela segurança e saúde destes, promover ao seu sustento, dirigir a sua 
educação, representá-los, ainda que nascituros e administrar os seus bens”. 
Embora o termo, coparentalidade, seja bastante recente, a bibliografia sugere que este 
tenha surgido, não pela partilha das responsabilidades parentais em ambiente 
conjugal, mas parece mesmo ter surgido no contexto de famílias divorciadas, 
possivelmente porque quando os pais se separam, a relação coparental mantem-se e 
para sempre. 
No entanto, este termo não surge na legislação portuguesa, nem quando a Lei n.º 
61/2008, de 31 de outubro, introduziu importantes alterações às regras que 
estabelecem o exercício das responsabilidades parentais dos filhos menores em caso 
de dissociação familiar. 
“A primeira alteração consistiu na substituição da expressão “poder paternal” por 
“responsabilidades parentais” (artigo 3.º da Lei n.º 61/2008, de 31 de outubro), em 
consonância com a ideia de que aquela expressão se mostrava pouco adequada a 
refletir a realidade jurídica subjacente e a exprimir, com rigor, a natureza e conteúdo 
dos direitos e deveres inerentes designadamente: a) a criança como sujeito de 
direitos; b) a criança como titular de uma autonomia progressiva, reconhecida em 
função do desenvolvimento das suas capacidades, da sua idade e da sua maturidade 
(artigos 5.º, 12.º e 14.º, n.º 2 da Convenção sobre os Direitos da Criança); c) a 
funcionalidade dos poderes que integram as responsabilidades parentais; d) a 
vinculação do seu exercício ao interesse do menor; e) a igualdade de direitos e de 
deveres de ambos os pais relativamente à pessoa e ao património dos filhos menores; 
f) a corresponsabilidade de ambos os pais pela sua educação, desenvolvimento e bem 
estar.” (Guia pratico Divórcio e Responsabilidades Parentais, 2013) 
Contudo, importa referir que a coparentalidade no seio da relação conjugal é também 
um factor de extrema importância para o desenvolvimento emocional harmonioso de 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
8 
 
qualquer criança. A partilha de valores comuns na educação das crianças, cria um 
ambiente coerente e seguro, fundamental para o seu desenvolvimento. 
Por outro lado, em caso de separação ou divórcio, quanto mais pacífica e conciliadora 
for a forma de educar em conjunto, mas fácil vai ser reorganizar os sistemas familiares 
em separado. 
 
Modelos de Parentalidade 
Grande parte da literatura tem vindo a categorizar ou tipificar os diferentes estilos 
parentais, procurando avaliar o impacto das práticas parentais em diversas dimensões 
da vida das crianças. (Baumrind, 1966, 1968; Maccoby e Martin,1983; Feinberg,2003; 
Dias, 2015; COHEN, 2010 e outros) 
A educação autoritária, caracteriza-se pela imposição da obediência e do respeito pela 
autoridade. Os pais autoritários são exigentes, pouco tolerantes e pouco 
compreensivos, dando origem a filhos submissos de aparente conformismo. Estas 
práticas podem provocar emoções intensas, como hostilidade, medo e ansiedade, 
revolta interferindo na capacidade de a criança ajustar o seu comportamento às 
situações com que é confrontada. As necessidades da criança não são tidas em conta. 
O que importa é que a criança obedeça sem questionar, desencorajando-se assim, o 
diálogo, anulando-se qualquer tentativa por parte da criança para contestar ou discutir 
as regras impostas que não resultam de qualquer consenso prévio. O ambiente 
assemelha-se ao de uma ditadura ou de um regime militar. 
A educação permissiva é o oposto da anterior. Muitos pais, não se revendo no modelo 
autoritário de educação acabam por cair no modelo da permissividade, que promove 
ainda mais a insegurança da criança, já que todos precisamos de regras, limites e 
rotinas. 
Os pais permissivos são compreensivos, tolerantes e afectuosos. Utilizam pouco a 
punição e evitam sempre que possível o exercício da autoridade ou a imposição de 
regras e restrições. No entanto, não conseguem estabelecer limites, permitindo 
comportamentos desadequados causadores de problemas. Não exigem um 
comportamento maduro, respeitador e adequado, permitindo às crianças que elas 
regulem o seu próprio comportamento, tomem as suas próprias decisões e utilizem 
poucas regras na gestão do dia-a-dia (horas de deitar, refeições, tempo para ver 
televisão, etc.) Evitando a todo o custo a punição, mostram-se totalmente disponíveis 
e receptivos aos desejos e “caprichos” da criança, acabando por ser vistos por estas 
como um recurso para a realização dos seus desejos e não como um modelo, nem 
como uma figura de referência, responsável por moldar ou direccionar o seu 
comportamento. 
A educação negligente, ao contrário do que acontecia há uns anos, não é um 
apanágio de uma classe social com dificuldades económicas ou baixa literacia. É hoje 
transversal a todas as classes, encontrar adultos, que embora sejam pais, não 
assumiram a 100% o papel de educadores. 
Pais negligentes não são nem afectuosos, nem exigentes, nem compreensivos. 
Tendem a manter os seus filhos à distância, respondendo somente às suas 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
9 
 
necessidades básicas. Não conseguem organizar-se de modo a fornecerem cuidados 
e apoio continuados aos seus filhos. Ora estão, ora não estão. Demonstram pouco 
envolvimento, no dia-a-dia e na socialização dacriança, não supervisionando o seu 
comportamento, pois estão apenas centrados em si próprios. A ausência de contenção 
e de orientação vai ter como consequência uma manipulação do mundo exterior por 
parte das crianças, pois esse é o padrão relacional a que se habituaram no seu dia-a-
dia. A meu ver, é essencialmente sobre este tipo de parentalidade que recai a 
alienação parental. Os filhos são vistos como instrumento, para alcançar os seus 
próprios objectivos. 
A educação Democrática, tem vindo a ser defendida como a mais equilibrada, pois 
traduz-se num ambiente familiar com poucas tensões, traduzindo-se em pessoas mais 
relaxadas, mais aptas a lidar com problemas (de forma optimista) e a sobreviver 
socialmente. 
Parece também o estilo educativo que mais vai de encontro aos direitos da criança, 
uma vez que parece salvaguardar o nº2 do artigo 1878º do CCiv, segundo o qual “os 
filhos devem obediência aos pais; estes, porém, de acordo com a maturidade dos 
filhos, devem ter em conta a sua opinião nos assuntos familiares importantes e 
reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida.” 
Nos últimos anos, com o surgimento da psicologia positiva e muito por influência dos 
contributos da neurociência, este estilo de educação democrático tem sido estudado, 
aprofundado e apelidado de Educação Positiva. 
A parentalidade positiva caracteriza-se por um tipo de parentalidade que embora mais 
tolerante é também exigente em relação aos filhos, mas numa lógica de reciprocidade. 
Os filhos devem responder às exigências dos pais, mas os pais também aceitam a 
responsabilidade de responderem, quanto possível, aos pontos de vista e razoáveis 
exigências dos filhos. Encorajam-lhes a autonomia, ouvem-lhe as opiniões, mas não 
hesitam no caminho a seguir e não descuram o cumprimento de regras. A negociação 
e o compromisso são possíveis. Trabalha-se a empatia, ou seja, a capacidade de nos 
colocarmos no lugar do outro. Estimulam a discussão e partilham pontos de vista e as 
regras são na maioria das vezes discutidas em conjunto. 
Também aqui, creio que o direito e o legislador têm tentado ir de encontro a esta 
perspetiva, nomeadamente com a introdução da possibilidade de audição de crianças 
e jovens, no caso de separação e divórcio dos progenitores e regulação das 
responsabilidades parentais, (quando assim se justifique) entendendo as crianças 
como “sujeitos de direitos”, que devem ser ouvidos sobre todas as matérias que lhes 
dizem directamente respeito, conforme o artigo 12º da Convenção dos Direitos da 
Criança (CDC) acolhida na ordem jurídica nacional pela Resolução da Assembleia da 
República n.º 20/90, de 8 de Junho de 1990, e pelo Decreto do Presidente da 
República n.º 49/90, de 12 de Setembro, que estabelece que: “Os Estados Partes 
garantem à criança com capacidade de discernimento o direito de exprimir livremente 
a sua opinião sobre as questões que lhe respeitem, sendo devidamente tomadas em 
consideração as opiniões da criança, de acordo com a sua idade e maturidade. Para 
este fim, é assegurada à criança a oportunidade de ser ouvida nos processos judiciais 
e administrativos que lhe respeitem, seja directamente, seja através de representante 
ou de organismo adequado, segundo as modalidades previstas pelas regras de 
processo da legislação nacional.” 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
10 
 
Contudo, entre psicólogos, esta participação e audição de crianças não é pacífica, 
sendo que muitos alertam para o facto de esta participação poder agravar a já 
debilitada estabilidade emocional dos filhos perante o conflito parental, por força das 
vivências negativas, associadas à iminente separação dos progenitores. 
Neste sentido, a Lei Tutelar Educativa (Lei n.º 166/99, de 14 de Setembro) fornece um 
precioso contributo para a determinação das regras de audição do menor, ao definir no 
seu artigo 47.º (Audição do menor) que: “A audição do menor é sempre realizada pela 
autoridade judiciária. A autoridade judiciária pode designar um técnico de serviço 
social ou outra pessoa especialmente habilitada para acompanhar o menor em acto 
processual e, se for caso disso, proporcionar ao menor o apoio psicológico necessário 
por técnico especializado”. No seu artigo 96.º (Local da audiência e trajo profissional) é 
ainda consignado que: “Oficiosamente ou a requerimento, o juiz pode determinar que 
a audiência preliminar decorra fora das instalações do tribunal, tendo em conta, 
nomeadamente, a natureza e gravidade dos factos e a idade, personalidade e 
condições físicas e psicológicas do menor. Os magistrados, os advogados e os 
funcionários de justiça usam trajo profissional na audiência preliminar, salvo quando o 
juiz, oficiosamente ou a requerimento, considerar que não é aconselhado pela 
natureza ou gravidade dos factos, pela personalidade do menor ou pela finalidade da 
intervenção tutelar”. 
Muito se tem falado das audições técnicas especializadas de menores e a meu ver 
muito ainda há a fazer, já que mais do que reconhecer a criança como sujeito de 
direitos, a educação positiva centra-se na forma como a criança apreende a realidade, 
a transforma e a reproduz. Ou seja, na forma como determinados acontecimentos 
interferem no desenvolvimento das suas emoções, ou seja, na sua inteligência 
emocional. 
Para educar de forma positiva e empática, precisamos perceber como funciona o 
outro, neste caso, como funciona a cabeça dos nossos filhos. Precisamos perceber os 
diferentes estágios de desenvolvimento, para acolher, reconhecer, compreender e 
direccionar o comportamento da criança. 
Torna-se por isso de extrema importância que técnicos e progenitores, conheçam os 
diversos estágios de desenvolvimento da criança e adquiram competências para 
acolher, reconhecer e apoiar a criança na organização dos seus sentimentos e 
emoções, não esquecendo que, a vinculação que se estabelece entre pais e filhos é o 
segredo da auto-estima. 
Os primeiros estudos sobre a importância do vínculo, foram feitos por Harry Harlow, 
com o objectivo de compreender melhor os processos de aprendizagem na infância. 
Efectuou diversas experiencias interessantes com macacos, chegando à conclusão, 
de que aqueles que eram privados do contacto materno desenvolviam 
comportamentos psicológicos graves, como apatia, tristeza ou mesmo agressividade.2 
Estando inicialmente em desvantagem, no início da relação parental, (já que não 
carregou no ventre, não amamentou) o pai, consegue com carinho, amor e dedicação, 
 
2 Vídeo experiência Harry Harlow com macacos - https://www.youtube.com/watch?v=_O60TYAIgC4 
 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
11 
 
alcançar uma vinculação tão importante, quanto a da mãe. Basta haver, presença, 
toque, cumplicidade e amor, principalmente nos primeiros anos de vida. 
“Quando uma criança se sente segura e incondicionalmente querida, cresce a sentir-
se uma pessoa importante e que merece sentir-se bem. Ajudar o seu filho a ter uma 
boa auto-estima é dar-lhes a possibilidade de uma vida feliz. Pense bem, o mundo 
está cheio de pessoas que têm tudo e que, no entanto, se sentem desgraçadas.” 
(Bilbao 2016) 
 
O Cérebro da Criança 
Para perceber a importância e as vantagens de educar de forma positiva, fortalecida 
nas emoções e reforce o vínculo, precisamos portanto, conhecer a forma como se 
desenvolve o cérebro de uma criança. 
O cérebro é composto pelo hemisfério esquerdo e direito, sendo que o direito é mais 
imaginativo e o esquerdo mais racional, contudo, nas crianças esteestá em evolução, 
considerando-se que só fica formado, por volta dos 23 anos. (Siegel, 2015) O seu 
desenvolvimento depende do tempo e da idade, mas também das experiencias vividas 
e a forma como a criança as interpreta. 
Ao falarmos de forma empática, ou seja, reconhecendo as necessidades do outro, 
com o lado direito do cérebro dos nossos filhos, o lado dos sentimentos, estamos 
também a desenvolver o lado esquerdo, o lado da compreensão e da razão. 
Quando as crianças estão agitadas, pressionadas ou sobre stress, o cérebro delas 
não tem capacidade de reter nada. Ninguém está aberto à aprendizagem ou à 
compreensão nos momentos de stress, muito menos uma criança. Para entender isso, 
é preciso dividir o cérebro em dois estados: o receptivo e o reativo. 
Quando nós nos conectamos às emoções da criança, tiramo-la do estado de reação e 
a levamo-la a um estado receptivo, em que está disposta a ouvir e aprender. Só 
vamos conseguir atingir esse ponto se pararmos para pensar, porque é que a criança 
está a agir dessa forma, o que desencadeou aquela reação brusca ou que emoção 
está por trás daquele comportamento. 
Quando queremos conectar-nos com as crianças, é necessário mais do que as 
palavras certas, o acolhimento e reconhecimento das emoções. Conseguirmos 
colocarmo-nos no lugar dela e demonstrar que estamos a perceber o que está a sentir. 
O nosso grande objectivo é que a criança sinta, de fato, que sabemos o que é que ela 
sente e que estamos ali para orientar, se for preciso. Importa acolher os sentimentos, 
sem julgar; tocar na criança e “liga-la à terra”; falar primeiro para o lado direito do 
cérebro, para sermos escutados; falar depois para o lado esquerdo para encontrar 
estratégias de solução. (Dias, 2015) 
Por outro lado, Daniel Siegel (2015) baseando-se na análise do cérebro triuno, divide 
também o cérebro da criança em andar de baixo e andar de cima, sendo que o de 
baixo é apelidado de primitivo, pois é ele que comanda as funções mais básicas. O 
andar de cima é onde está o juízo e o controlo das emoções. 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
12 
 
As birras e os impulsos estão no andar de baixo e à medida que o cérebro se vai 
desenvolvendo o andar de cima vai começando a funcionar como filtro das emoções e 
reacções. Por isso, é importante reconhecermos os impulsos do andar de baixo de 
forma empática e com “humor” de forma a darmos ferramentas para que o andar de 
cima se desenvolva. 
O andar de cima é a área do cérebro mais refinada, mais elaborada. É nela que se 
desenvolve a noção de moral, onde nasce a empatia e é esta área que nos ajuda a 
planear e a tomar decisões. É uma espécie de filtro das emoções e onde se decide o 
comportamento a adoptar. 
No entanto, é no andar de baixo que se encontra o sistema límbico. É a área que 
responde por impulso, mas é também a área onde se arquivam as memórias 
sensoriais e vivem as emoções. Para um correto desenvolvimento desta área do 
cérebro na primeira infância, o maior contributo é do vínculo parental seguro. 
Quando agimos sem pensar a responsabilidade é toda desta área. Conhecida por 
cérebro primitivo. Integrar os dois andares permite-nos realizar tarefas complexas, 
como parar para pensar, antes de decidirmos, reconhecer os sentimentos dos outros, 
fazer julgamentos éticos e morais. 
Dai a expressão “saltou-me a tampa”. O andar de baixo, “empurrou” (a tampa) o andar 
de cima. Agimos por impulso, sem pensar. 
Se o andar de cima apenas fica fechado, por volta dos 23 anos e se são necessárias 
experiencias boas o suficiente para o estimular, assim como, paciência e serenidade, 
a brincadeira, para que possamos saber que cada coisa tem o seu momento, não 
podemos esperar que um adolescente tenha um controlo tão refinado e elaborado 
como tem um adulto. 
Ou seja, numa situação de conflito, medo, perda ou de comportamento menos 
adequados, é fundamental que possamos integrar todas as áreas do cérebro e falar 
com aquelas que nos irão ajudar a “normalizar” e “serenar” o que a criança está a 
sentir. 
Importa ainda falar de outros componentes do sistema límbico, pois é este que 
comanda certos comportamentos necessários à sobrevivência, mas também ajuda a 
decidir o que nos agrada ou não. É também ele o responsável por desenvolver as 
funções afectivas, dependente portanto também, da vinculação parental. É também 
aqui que têm origem sentimentos como amor, ódio, tristeza, raiva. 
É constituído pela amigdala que identifica o perigo, gerando medo e ansiedade. Está 
directamente ligada às sensações de medo e raiva, e também é graças a ela que 
fazemos o reconhecimento das expressões faciais como o medo e reparamos nas 
expressões de ameaça e perigo. 
O Hipocampo lida com a memória, sobretudo de longa duração. Quando esta é 
atingida, deixamos de conseguir memorizar as informações que nos são dadas. As 
lesões do hipocampo impedem a pessoa de construir novas memórias e a pessoa tem 
a sensação de viver num lugar estranho, onde tudo o que experimenta simplesmente 
se dissipa. O Tâlamo está ligado as alterações das emoções. A Área pré-frontal, 
embora não faça parte do sistema límbico, lida directamente com ele e dai ser tão 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
13 
 
importante. Por exemplo, numa situação em que a amígdala dá o alerta de medo, o 
lobo pré-frontal, será quem vai ajudar a vencer esse medo. Quando de alguma forma 
não se desenvolve ou é lesionado, o individuo fica incapaz de tomar responsabilidades 
sociais, de se concentrar, sentir empatia. Esta área é fundamental para potenciar os 
afetos. 
Mas porquê falar do cérebro, quando falamos de mediação familiar e parentalidade 
positiva? 
Porque, se para o correto desenvolvimento do sistema límbico, a criança necessita de 
vínculo. Se é este que lhe trás segurança, e se quanto mais segura e serena ela se 
encontra, maior a sua capacidade de se desenvolver, aprender e crescer de forma 
saudável, então o conflito e a desvinculação parental são os maiores inimigos de um 
correto e saudável desenvolvimento cerebral. Sabendo isto, a mediação familiar pode 
assumir um papel de extrema importância na manutenção do equilíbrio infantil perante 
o conflito. 
Quando a criança se sente ligada/ vinculada, o cérebro funciona a todo o vapor e ela 
está disponível e atenta. O sistema límico sabe interpretar a linguagem não-verbal e 
perceber se deve ou não sentir-se ameaçada, se deve ou não ligar o estado de alerta. 
Se o ambiente está tranquilo, a criança consegue gerir o impulso, a memória é 
realizada e consegue pensar, sentir empatia e tomar melhores decisões. 
Ou seja, quanto mais positiva for a relação que a criança desenvolve com os adultos, 
mais segura, física e emocionalmente, ela se sentirá. É a qualidade desta relação que 
irá ajudar a criança a formar a inteligência. Quando a criança vive no meio do conflito, 
ou quando ralhamos de forma stressada, a criança que está em busca de vínculo, não 
o encontra e o cérebro dela não consegue escutar. Não compreende totalmente. A 
verdadeira união de uma família não se cria pelos laços de sangue, mas sim através 
do carinho e do respeito mútuo. 
De acordo com Teicher (s/d) (psiquiatria, professor na Universidade de Harvard), os 
maus tratos, a negligência e a falta de vinculação parental na infância não provocam 
apenas traumas psicológicos reversíveis. Mas também danos permanentes no 
desenvolvimento e funções cerebrais. Os hemisférios esquerdos de pessoas vitimadas 
pela violência desenvolvem-se significativamente menos do que deveriam. 
O efeito do abuso infantilpode manifestar-se de várias formas, em qualquer idade. 
Internamente pode aparecer como depressão, ansiedade, pensamentos suicidas ou 
stress pós-traumático, mas pode também expressar-se externamente como agressão, 
impulsividade, delinquência, hiperactividade ou abuso de substâncias. 
Em termos cerebrais, os estudos demonstram que, os maus tratos na infância podem 
estimular as amígdalas a um estado de irritabilidade eléctrica elevada ou danificar o 
hipocampo em desenvolvimento por meio de uma exposição excessiva stress. Pode 
também ocorrer uma redução da amígdala (principalmente a esquerda) que se 
correlacionava com sentimentos de depressão, irritabilidade ou hostilidade. 
Os estudos demonstram também, que os hemisférios direitos de pacientes que 
sofreram abusos desenvolveram-se tanto quanto os dos do grupo de controle, mas 
seus hemisférios esquerdos ficaram substancialmente para trás. (Teicher, s/d) 
Joaquim Silva, conhecido pelo “juiz que defende os filhos de pais em guerra”, tem 
utilizado muitos destes estudos para alertar pais, advogados, técnicos de acção social 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
14 
 
e comunidade em geral, para as consequências nefastas do conflito parental, no 
desenvolvimento infantil. De acordo com o próprio, na maioria das vezes, os pais, 
quando alertados para as consequências do conflito no desenvolvimento dos filhos, 
tendem a procurar o acordo e a resolver o conflito, evitando que o processo siga a via 
judicial.3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Intervir promovendo, prevenir protegendo: o superior interesse da 
criança 
De acordo com os dados do PORDATA 2013, por cada 100 casamentos, há 70 
divórcios. 
Muito haveria a dizer sobre estes dados, mas ficarei apenas por uma pequena reflexão 
sobre a conjugalidade da sociedade contemporânea. Creio que o que acontece é que 
 
3
 http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2016-01-30-O-juiz-que-defende-os-filhos-de-pais-em-guerra 
 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
15 
 
a constituição e a manutenção da vida em conjunto, da coabitação, são muito 
influenciadas pelos valores do individualismo. Os ideais contemporâneos da relação 
conjugal enfatizam mais a autonomia e a satisfação de cada cônjuge do que os laços 
de dependência entre eles, deixando praticamente de existir uma identidade conjugal. 
Assim, o natural será que a relação conjugal se mantenha enquanto der prazer, 
enquanto preencher totalmente os ideais do indivíduo. Há um aumento das 
expectativas, uma extrema idealização do outro e ao mesmo tempo uma exigência de 
si mesmo, o que provoca tensões e conflitos na relação podendo levar à separação. A 
ideia do casamento para sempre e único não prevalecem na conjugalidade 
contemporânea. Giddens (2001) denomina de “amor confluente” aquele que presume 
a igualdade no dar e receber o afecto, desenvolvendo-se na intimidade do casal, mas 
este laço conjugal só se poderá manter se for capaz de proporcionar satisfação a 
ambos os parceiros. Ao analisar as “transformações da intimidade: sexualidade, amor 
e erotismo nas sociedades modernas”, Giddens (2001), salienta que os ideais do amor 
romântico, relacionados à liberdade individual e ao auto realização, desligam ou 
afastam os indivíduos das relações sociais e familiares mais amplas, demarcando com 
mais clareza a esfera do relacionamento conjugal, que passa a ser mais valorizada. 
O indivíduo tem tendência para viver intensamente a paixão, para desejar o outro por 
inteiro, acreditando que essa sensação de preenchimento jamais terminará. Todavia, 
na vida a dois e no dia a dia das sociedades modernas, esta identificação permanente 
e constante não é possível. A dada altura o indivíduo tem necessidade de ser ele 
próprio enquanto indivíduo “só” e não um indivíduo “com” de forma constante e 
permanente. 
De acordo com esta análise poderemos dizer que se hoje existem mais divórcios e 
separações talvez não seja apenas porque os indivíduos dão menos importância ao 
casamento ou à conjugalidade, mas talvez porque lhe dêem demasiada importância 
no sentido em que não aceitam que este não corresponda às suas expectativas, caso 
contrário seria difícil explicar que muitos dos indivíduos que se separam, procurem 
novos relacionamentos. 
Aqui poderá residir também a gravidade e a violência dos conflitos conjugais. O ideal 
de felicidade foi depositado no outro, que de alguma forma de fraldou as expectativas. 
Atribuem-se culpas, procuram-se culpados a quem punir e castigar, por uma 
infelicidade, que não é culpa de ninguém. “Se queremos encontrar a felicidade, 
devemos empenhar-nos em trabalhar mais arduamente para a encontrar, porque, 
apesar de existir um passo fácil para a infelicidade – não fazer nada – não existem 
passos fáceis para a felicidade”. Devemos contudo, permitirmo-nos viver o presente, 
retirando dele o melhor partido, em vez de sermos escravos do passado ou do futuro, 
já que uma das barreiras mais comuns à felicidade é a falsa expectativa de algo. 
(Bem-Shahar, 2009) 
Na tentativa de punir o outro, o individualismo extremo, leva-nos a uma nova 
realidade, que afecta a relação entre pais e filhos, ocorrendo principalmente no 
momento em que um casal se separa, seja no período do divórcio ou pós-divórcio, 
podendo, no entanto, também verificar-se quando o casal ainda está junto. 
Falamos de Alienação Parental quando um dos pais da criança manipula o seu filho de 
forma a que a criança fique com uma imagem distorcida do outro progenitor, levando-
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
16 
 
a, inclusivamente, a romper os laços afetivos. A intenção do progenitor que manipula a 
criança é de a predispor contra o outro progenitor. 
A Alienação Parental, tem sido entendida como criação de uma relação de carácter 
exclusivo entre a criança e um dos progenitores com o objectivo de excluir o outro. 
Trata-se de um distúrbio que se traduz num conjunto de “sintomas resultantes do 
processo pelo qual um progenitor transforma a consciência dos seus filhos, mediante 
diferentes estratégias, com o objectivo de impedir, obstaculizar ou destruir os seus 
vínculos com o outro progenitor” (Aguilar, 2008). 
Este fenómeno conhecido pelos especialistas como Síndrome de Alienação Parental 
(SAP) tem sido um dos grandes desafios dos Tribunais de Família, pois acarreta 
danos, muitas vezes irreversíveis para os menores. O desafio de advogados e 
mediadores familiares, passa, na maioria das vezes, por tentar consciencializar pais e 
familiares para o facto de que o fim da relação conjugal, não pode ou não deve 
implicar, o fim da relação parental e que toda a criança deve ter o direito e a 
oportunidade de ela própria construir a imagem dos seus progenitores, libertando-se 
dos olhares conflituosos, amargurados e distorcidos, que muitas vezes, o fim do 
casamento acarreta, tal como está consagrado no artigo 24º da Carta dos Direitos 
Fundamentais da União Europeia (2000), “todas as crianças têm o direito de manter 
regularmente relações pessoais e contactos diretos com ambos os progenitores, 
exceto se isso for contrário aos seus interesses”. 
A ciência psicológica demonstra que existe uma clara vantagem de um exercício 
conjunto da parentalidade, que promova o vínculo afetivo com ambos os progenitores, 
permitindo o aumento da rede de suporte emocionale social da criança. 
Estudos revelam também que não é o divórcio em si, que causa traumas na criança, 
mas sim a vivência do conflito. 
Se o divórcio for gerido de forma equilibrada e os vínculos parentais não forem 
quebrados é possível à criança passar pelos vários estágios de forma natural. Ou seja, 
é natural que inicialmente a criança viva a fase da negação; posteriormente a fase da 
raiva (porque é que eles me fizeram isto); a fase da culpa e negociação (se eu me 
portar bem e não fizer mais birras vocês voltam a ficar juntos?); a fase da depressão 
(pela dúvida de como vai ser dali para a frente. Será que vão continuar a gostar de 
mim?); a fase da aceitação (até é bom ter duas casas) e a fase da cura (a criança 
percebe que continua a ter uma família que a ama, só vivem em espaços separados). 
Contudo, não raras vezes, as situações de conflito no divórcio, acabam por tomar 
graves proporções, envolvendo, as E.M.A.T. (Equipa Multidisciplinar de Assessoria 
aos Tribunais), as C.P.C.J., (Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco) 
constituídas por técnicos de áreas diversas que acompanham e avaliam os casos que 
envolvem menores, e que são referenciados para tribunal, dando conhecimento da 
evolução das situações aos juízes responsáveis pelos casos. Infelizmente são 
escassos os técnicos nestas equipas, para os milhares de processos existentes e por 
outro lado, são também escassos os técnicos com conhecimentos na área da 
mediação familiar e educação e parentalidade positiva. 
Só assim se explica que os sucessivos relatórios C.A.S.A. (Caracterização Anual da 
Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens) apresentem resultados negativos 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
17 
 
relativamente à primeira medida de promoção e protecção definida na lei n.º 147/99, 
ou seja, medidas a executar no meio natural de vida. 
“1 - As medidas de promoção e protecção são as seguintes: a) Apoio junto dos pais; b) 
Apoio junto de outro familiar; c) Confiança a pessoa idónea; d) Apoio para a autonomia 
de vida; e) Acolhimento familiar; f) Acolhimento em instituição; g) Confiança a pessoa 
seleccionada para a adopção ou a instituição com vista a futura adopção. 2 - As 
medidas de promoção e de protecção são executadas no meio natural de vida ou em 
regime de colocação, consoante a sua natureza, e podem ser decididas a título 
provisório. 3 - Consideram-se medidas a executar no meio natural de vida as previstas 
nas alíneas a), b), c) e d) do n.º 1 e medidas de colocação as previstas nas alíneas e) 
e f); a medida prevista na alínea g) é considerada a executar no meio natural de vida 
no primeiro caso e de colocação no segundo.” 
 
Se analisarmos o relatório CASA 2015, verificamos que 60% das crianças que foram 
institucionalizadas, a causa foi a falta de supervisão e acompanhamento, seguida de 
exposição a modelos parentais desviantes (33,3%) e muito próximo a negligencia ao 
nível da educação (32,3%). 
A idade com que os jovens são institucionalizados, também tem vindo a aumentar. 
Aqui deveríamos reflectir sobre as políticas de educação. O alargamento da 
escolaridade obrigatória até ao 12º ano e o pouco investimento no ensino profissional, 
também dão origem a novos conflitos familiares, com jovens desmotivados para a 
escola e impedidos de ingressar no mercado de trabalho, que acabam por também 
engrossar o número de casos sinalizados nas CPCJs. 
Outro dado relevante é o facto de que dos jovens institucionalizados, o número dos 
que foi identificado como tendo problemas de comportamento, de saúde mental, de 
debilidade mental, de consumo de substâncias ou de algum tipo de deficiência física 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
18 
 
ou mental aumentou 38%, num só ano. Se pensarmos que a vinculação parental e as 
vivências positivas na infância, são um factor fundamental para o correto 
desenvolvimento do cérebro e adequação comportamental, estes dados não são de 
estranhar. 
O próprio relatório admite que se “Poderão levantar-se questões sobre a eficácia das 
medidas em meio natural de vida, e sobre o real investimento que nelas é efectuado, 
quer sob o ponto de vista do acompanhamento técnico, quer na intervenção 
desenvolvida” (CASA, 2015), apontando a necessidade de investimento de novas 
politicas ao nível da mediação familiar e da formação parental, apelando ao 
alargamento dos CAFAPs (Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental), já 
regulamentados pela Portaria n.º 139/2013 de 2 de abril, mas quase inexistentes em 
todo o pais. 
Sendo a institucionalização uma medida de fim de linha, será que estamos a 
salvaguardar o superior interesse da Criança? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conclusão 
Não há dúvida de que com a lei 61/2008, de 31 de outubro, foram introduzidas 
importantes alterações ao regime jurídico do divórcio, às suas consequências e ao 
exercício das responsabilidades parentais dos filhos menores. 
A ideia foi de alguma forma flexibilizar o processo, entendendo-se que o fim do 
casamento é um processo natural e legitimo da vontade das partes, sendo apenas 
necessário regular situações como, o exercício das responsabilidades parentais, a 
atribuição da morada de família, a fixação da pensão de alimentos e a partilha dos 
bens do casal. 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
19 
 
Este processo de divórcio, por mútuo consentimento, passou a poder ser instaurado 
na conservatória do registo civil, sendo que no caso dos menores, o Ministério Publico, 
terá à posteriori de se pronunciar. 
O artigo 1774.º do CC passou a consagrar a possibilidade de os cônjuges, em 
processo de divórcio, recorrerem aos serviços de Mediação Familiar. Antes do início 
do processo de divórcio, as Conservatórias do Registo Civil e os Tribunais têm o dever 
de informar os cônjuges sobre a existência dos serviços de Mediação Familiar e os 
seus objetivos. Contudo, embora esteja previsto, o dever de informação aos cônjuges, 
por parte dos tribunais e das conservatórias do registo civil, sobre a existência e os 
objectivos da mediação familiar, o facto é que tal, nem sempre acontece. 
Diversos estudos demonstram que, em caso de conflito, os acordos alcançados em 
sede de mediação são mais duradouros, que os acordos feitos por imposição de um 
juiz, já que de alguma forma as partes se sentem vinculadas à solução encontrada. 
Por outro lado, trata-se de uma forma mais humanista de lidar com conflitos tão 
delicados como o vínculo familiar, que envolve sentimentos e emoções, que fragiliza 
as partes e lhes exige tempo e calma para reflexão. 
A Lei n.º 29/2013, de 19 de abril, apesar de não regular especificamente a Mediação 
Familiar, estabelece os princípios gerais aplicáveis à mediação realizada em Portugal, 
bem como os regimes jurídicos da mediação civil e comercial, dos mediadores e da 
mediação pública. 
Tratando-se os conflitos familiares, tão específicos e de contornos tão diferentes dos 
demais, a meu ver, mereciam uma legislação própria que a regulamentasse, não 
devendo estar equiparados aos demais, admitindo-se apenas algumas 
especificidades. 
Desde já porque a referida lei, considera que o processo de mediação familiar, tal 
como a mediação dos outros conflitos civis ou comerciais, pressupõe que as duas ou 
mais partes em conflito, pretendam voluntariamente, a assistência de uma terceira 
pessoa, imparcial, independente e desprovida de poderes de imposição, o apoio para 
o entendimento das partes e assima resolução de um conflito existente. O princípio da 
voluntariedade, está consagrado no art. 4, da referida lei. 
Embora compreenda a intenção do legislador, não me parece, que em matéria de 
conflitos conjugais que se estendem a conflitos parentais, este princípio deva existir, 
ou ser salvaguardado. 
Ou seja, tal como acontece já em outros países, nomeadamente Brasil, Estados 
Unidos, Canadá, quando o conflito inclui crianças e jovens a mediação familiar, não só 
é obrigatória, como em alguns estados se completa com a existência de oficinas de 
parentalidade, ou seja, oficinas para pais e filhos. 
A experiencia destes países têm demonstrado o sucesso destas oficinas, quer para o 
casal, quer para os filhos envolvidos no conflito. 
As oficinas com pais, podem cumprir um duplo objectivo. Por um lado, alertar e 
responsabilizar os pais pela vida dos filhos e pelas consequências do conflito no seu 
desenvolvimento, e por outro, criar algum "Empowerment" Parental. 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
20 
 
Para os filhos podem significar um apoio, para ultrapassar este ciclo familiar de forma 
minimamente harmoniosa e equilibrada. 
No caso dos pais, estas oficinas poderiam ser divididas em três momentos ou tipo de 
conteúdos: 
1. Os efeitos do conflito nos filhos 
2. Boas práticas parentais – Parentalidade positiva 
3. Questões jurídicas – Tipos de guarda; pensão de alimentos, etc. 
As oficinas com filhos, deveriam ser divididas por idades. Ou seja, entre crianças e 
adolescentes e teriam como objectivo: 
1. Explicar aos filhos que o fim da relação conjugal não implica o fim da relação 
parental. 
2. Acolher e reconhecer os seus sentimentos, demonstrando-lhes, que é normal 
que se sintam tristes com a separação e explicando-lhes os diferentes passos 
da reorganização familiar. 
3. Os seus direitos – por ex. não presenciar brigas, não servir de mensageiro, não 
ouvir dizer mal do outro, etc. 
 
A mediação familiar afigura-se neste momento, como a melhor e única estratégia, para 
apoiar casais com filhos, na redefinição dos laços familiares, com vista à promoção de 
uma parentalidade positiva, que tenha em linha de conta as reais necessidades de 
desenvolvimento dos menores, libertando-os das consequências nefastas, do conflito, 
permitindo-lhes manter e assegurar um vinculo parental seguro e pleno de afeto. 
Só assim, o estado e as instituições, estarão realmente a salvaguardar o superior 
interesse da criança. 
 
 
 
 
Sofia Cid – Socióloga – Pós-graduada em Sociologia da Família; Mediação Familiar e Educação e 
Parentalidade Positiva. 
Formações complementares nas áreas da Neuropsicologia infantil e Mindfulness para Crianças. 
email: saltercid.sofia@gmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
21 
 
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MAFFESOLI, Michel, 2000, “O Tempo das Tribos – O declínio do individualismo nas sociedades de massa”, Rio de 
Janeiro: Forense Universitária 
NELSEN, Jane, LOTT Lynn, 2012, Positive Discipline for teenagers – Empowering your teens and yourself througt kind 
and firm parenting, Harmony Books. 
RELVAS, Ana e ALARCÃO, M., 2002, (coord.). “Novas formas de família”, Coimbra: Quarteto Editora. 
SIEGEL, DANIEL Payne Bryson Tina, 2015, “Disciplina sem dramas: Zangas para quê? – os segredos da neurociência 
para educar os filhos tranquilamente, Ed. Lua de Papel. 
SIEGEL, DANIEL Payne Bryson Tina, 2015, “the whole brain child workbook”, PESI Publishing & Media. 
SIMMEL, Georg. , 1998, “O indivíduo e a liberdade”, in: SOUZA, Jessé e ÖELZE, Berthold (orgs.), Simmel e a 
Modernidade, Brasilia; Editora UnB. 
SINGLY, François, 2001, “Livres Juntos – O individualismo na vida comum”, Lisboa: Publicações Dom. Quixote. 
VALENTE, Cristina, 2016, “O que se passa na cabeça do meu filho” Lisboa, Ed. Manuscrito. 
XIBERRAS, Martin, 1996, “As Teorias da Exclusão. Para Uma Construção do Imaginário do Desvio”, Lisboa: Instituto 
Piaget. 
TEICHER, Martin H. (S/d), “Feridas que não cicatrizam: a neurobiologia do abuso infantil. Maus tratos na infância 
podem ter efeitos negativos duradouros”, Universidade Harward 
 
Outros: 
 Constituição da República Portuguesa 
 Convenção dos Direitos da Criança 
 Guia Prático do Divórcio e das Responsabilidades Parentais 
 Decreto Lei n.º 20/90 
 Decreto Lei n.º 49/90 
 Lei nº147/99 
 “Mediação familiar: uma ferramenta útil para a parentalidade positiva” Sofia Salter Cid 
22 
 
 Lei n.º 166/99 
 Lei nº78/2001 
 Lei n.º 31/2003 
 Lei n.º 61/2008 
 Lei nº 29/2013 
 Lei n.º 23/2017 
 Novo Código do Processo Civil 
 Portaria 344/2013 
 Relatório de Caracterização Anual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens – CASA 2015

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