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SOBRE A ÉTICA DO ADVOGADO CRIMINALISTA

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SOBRE A ÉTICA DO ADVOGADO CRIMINALISTA
Por Rayane Souza
A violência sempre foi um fator-chave e constante na história da humanidade. Com o desenvolvimento das civilizações e, por conseguinte, maior contato nas relações entre os indivíduos, disparidade econômica, divisão delineada das classes sociais e precariedade nos serviços básicos ofertados pelo Estado, o período contemporâneo tende a lidar com frequência sobre os mais diversos tipos de crimes, sobretudo no Brasil, que apresenta atrasos consideráveis nas formas de resoluções de conflitos e remédios judiciais adequados.
A exposição insistente e sensacionalista da mídia sobre a violência, gera sensação ampliada de impunidade, insegurança e pânico, qual grande parte do povo responde sensivelmente aos estímulos negativos, exigindo respostas e medidas imediatas, gerando pressão social sobre os julgamentos, sem a preocupação com a veracidade dos fatos, ou sobre os princípios básicos da Constituição e do próprio Direito Penal, tal como a presunção da inocência, devido processo legal, dentre outros.
O pré-julgamento surge nessa vértice, onde antes mesmo da averiguação e da atuação jurídica, já são apontados culpados, vítimas e condenações. O advogado criminalista apresenta-se, nesse ponto, independente da opinião pública, pessoal ou ideológica, com o simples dever de lutar pelo primado da Justiça, conforme dita o Código de Ética e Disciplina da OAB.
A partir do momento que uma conduta é imputada a alguém, ela possui direito a defesa, que é incluído pelo Art. 5, inc. LV da Constituição Federal de 88, conforme:
“LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”
Para que esse direito seja efetivado adequadamente, o advogado se faz, majoritariamente, necessário. Seja para intimação dos atos processuais, manifestação sobre as provas produzidas, teses precisas e o tanto mais indispensável para o fim que se destina, a atuação do profissional referido possui função súpera do meramente técnico. Por muitas vezes o criminalista é a única chance de voz do acusado, o único dedo que não está em riste, aquele que não enxerga um bandido, e sim um ser que compõe mera parte de um processo.
A reputação do jurista é posta em questionamento ao assumir uma função pertinente ao seu trabalho. A atividade do advogado consiste em defender os interesses de quem o contrata. Confunde-se, no meio social, advogado com réu, cúmplice, infrator por tabela. Cobra-se a ciência da culpa, do dolo, da má-fé. Julga-se em conjunto. Como supramencionado, a atuação profissional independe do juízo de valor posto pelo próprio defensor particular sobre o caso. A voz emitente é a do cliente, o contratado é operador da vontade do contratante. Sendo assim, disciplina o artigo 21 do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil: “É direito e dever do advogado assumir a defesa criminal, sem considerar sua própria opinião sobre a culpa do acusado”.
Ressalta-se que o objetivo da atividade advocatícia não é a simples absolvição do réu, o que se busca é a apuração dos fatos, aproximação com o mais justo possível. Frente a força massiva e acusadora do Estado, estima-se que esteja disponível todas as ferramentas necessárias para a equidade na relação jurídica, que pode culminar tanto na tentativa de pena mais justa, assim como, obviamente, em absolvição.
O Brasil é falho em muitos segmentos, o sistema judiciário é um deles. Mormente tantas injustiças acontecendo, onde classe e raça pode definir o desfecho de cada processo, o criminalista deve se valer da ética e profissionalismo para, ao menos, tentar dirimir tais deficiências inerentes à natureza do Estado, que se apresenta, ainda, muito imaturo, com uma sociedade emocionada e fadigada com a recorrente sensação de insegurança. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, em conjunto à nação brasileira, rumo à justiça, humanidade e segurança, ora jurídica, ora de ordem pública. Porém, com mais atenção aos estudos das ciências criminais, racionalização ao lidar com questões sociais e públicas sérias, tudo pode ser transformado e aprimorado. Quem sabe um dia, assim, o clamor por justiça seja realmente sobre justiça, não sobre vingança ou reações automáticas ao noticiário.

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