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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS FACULDADE NACIONAL DE DIREITO (FND) DIREITO CONSTITUCIONAL I PROF: EDUARDO MOREIRA RESUMO DO CONTEÚDO MINISTRADO E COMPLEMENTADO COM A BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA DO DIA 03/10/17 ATÉ O DIA 16/11/17 RIO DE JANEIRO NOVEMBRO DE 2017 I - MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL - Processo informal de mudança da Constituição, que ocorre quando surgem modificações significativas nos valores sociais ou no quadro empírico subjacente ao texto constitucional, que provocam a necessidade de adoção de uma nova leitura da Constituição ou de algum dos seus dispositivos. - Exemplo: ideia de igualdade (XIX - Plessy v. Ferguson / XX - Brown v. Board of Education). -> Transformação de valores sociais - No BR, caso da união estável entre pessoas do mesmo sexo -> Dignidade da pessoa humana + Igualdade (Via STF): Art. 226, §3˚, CF/88 - Importância dos efeitos culturais dessas decisões - Processo mais dinâmico para a mudança constitucional, já que a brasileira é rígida e pode demorar. - Normas mais abertas são as mais suscetíveis à mutação. São dotadas de maior plasticidade (capacidade de aprendizado = mais permeável ao que a realidade social oferece). - Tende a se desenvolver em sociedades mais dinâmicas ou em períodos de maior transformação social. - Living Constitution - Constituição como organismo vivo, em condições de se adaptarem ao ambiente em que as circunda - Não há homogeneidade na doutrina - P/ Barroso, ocorre de 3 maneiras: - Mudança da interpretação - Pela atuação do legislador - Por meio do costume - Também pode-se dar por mudança jurisprudencial, por ato legislativo ou por decisões do governo. - Mudanças devem ser cuidadosas, para que se evite o backlash (mobilização das forças políticas e sociais que se opõem à mudança, o que aumenta a polarização social e a reversão da alteração). - Importante observar o papel do legislativo na interpretação constitucional - Em nome da igualdade constitucional, realizaram a Lei de Cotas - O papel do Executivo pode ser observado em Roosevelt, quando implementou o New Deal, em 1930. - No BR, Decreto 4887/03 -> Disciplina o procedimento de reconhecimento, demarcação e titulação das propriedades dos quilombos remanescentes. - Costume, por mais enraizado que seja, não pode ir contra os valores constitucionais - Ideia do Parlamentarismo à brasileira - É importante impor limites à mutação constitucional - 1: As mudanças não podem justificar alterações que contradigam o texto, devendo ocorrer no âmbito de suas possibilidades oferecidas. - 2: A interpretação deve ocorrer em conformidade com as expectativas normativas que emergem das práticas sociais. - 3: Não é possível que uma mutação implique na desconsideração dos limites impostos pelo sistema constitucional. - Cláusulas pétreas sujeitas à mutação II - INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL - Texto vago dá espaço às mais variadas disputas e controvérsias, sobretudo em sociedades complexas e plurais - Constituição serve de parâmetro para a interpretação das demais normas do ordenamento - Interpretação tb pode ser aplicada na ADM Pública e no controle de constitucionalidade dos atos normativos. - Se dá por meio do diálogo permanente entre corte constitucional, órgãos do Judiciário, Parlamento, governo, comunidade de cidadãos... - Método mais tradicional de interpretação: subsunção - Estruturação do “silogismo perfeito” - Inspirado pelo positivismo e pelas ciências exatas - Chamado de formalismo jurídico - Na contramão, surgiram as teorias que buscavam privilégios materiais, dando maior atenção ao mundo real, se dedicando às lacunas do ordenamento - Entre os métodos de interpretação, não há hierarquia. Eles devem ser combinados, reforçando-se ou controlando-se mutuamente. Podem apontar em sentido convergente ou não, e quando isso ocorre, não há fórmula exata a ser seguida, nem há um critério de desempate. - Caixa de ferramentas para o intérprete mudar seu entendimento - Metodologia prende, filosofia hermenêutica liberta: Essa queria combater o método científico-analítico. - Olhar a interpretação somente por uma “lente” é errado, hoje deve ocorrer uma fusão de horizontes, já que os direitos se comunicam pelas diferenças constitucionais - A interpretação só deve ser feita quando a lei for clara ou obscura - Isso é uma estupidez - Fatores para mudanças na interpretação: - 1) A constituição deve ter princípios e/ou normas abertas - 2) Idade do documento - Papel pode ser acessório em países que tem muitas emendas - Interpretação constitucional evolutiva (Teoria do Moreira): - Mesma coisa de fato ou direito, mas atualizar uma lei em face à constituição - Construção constitucional - Poucas diferenças para mutação - Tipos de interpretação: - A escolha do método deve ser avaliada não a partir de pautas utilitaristas, ou de preferências subjetivas de cada intérprete, mas com base no sistema de valores da própria Constituição. - 1) Gramatical: busca extrair a norma do que o texto consagra. - Geralmente é o primeiro a que se recorre - Problemas na interpretação de princípios - Fixa os limites da decisão judicial - Regra de restrição do intérprete às possibilidades interpretativas a que se abre o texto. - 2) Histórica: busca subsídios na vontade do legislador - Examina-se as razões que motivaram a edição de um ato normativo, a exposição de motivos e os debates parlamentares - Intérprete se assemelha a um historiador, por meio da pesquisa de documentos passados - Relevância do elemento histórico é inversamente proporcional ao tempo decorrido desde a edição da norma, com base nos valores da época. - Críticos apontam que é impossível analisar qual seria a posição do constituinte sobre questões que sequer haviam surgido - 3) Sistemática: preconiza que cada norma jurídica deve ser interpretada com consideração de todas as demais, e não de forma isolada. - Direito compõe um ordenamento, em que cada parte tem conexão com o todo, à luz do qual deve ser compreendida. - Valores constitucionais conferem unidade ao sistema jurídico. - Cabe ao intérprete buscar integrar as partes e, na medida do possível, harmonizá-las. - 4)Teleológica: busca a finalidade subjacente ao preceito a ser interpretado. - Pode ser usado para dar suporte a uma interpretação extensiva da garantia constitucional, mas também pode ser usada em sentido oposto, para afastar determinada incidência de norma. - A importância dos métodos de interpretação se encontra no controle de arbítrio do intérprete. O papel deste é buscar a solução mais razoável e justa para o caso concreto sem lhe conferir liberdade ilimitada de ação. - Interpretação é concebida como parte do processo de concretização constitucional, que inclui desde a definição das possibilidades interpretativas do texto até a decisão do caso concreto, a qual demanda consideração da realidade abrangida pela norma a ser concretizada. - O intérprete deveconsiderar a realidade, sob pena ou de decidir o impossível ou de deixar de extrair todas as potencialidades do texto constitucional. - O papel do intérprete é buscar prever qual será o impacto de sua decisão na sociedade. III - HISTÓRIA DO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO - 8 Constituições editadas até agora, sem constitucionalismo - A maior parte das constituições não limitou de forma eficaz a ação dos governantes em favor dos direitos dos governados. - Hiato vem diminuindo pós-88 - Constituições brasileiras: - A) 1824: - Época de D. Pedro I - Outorgada por ele - Conservadora na política - Sempre deveria haver um governante português no Brasil - 179 Artigos = Analítica - Muito atrasada em relação à norte-americana - Na Assembleia Constituinte, prevalecia o sentimento liberal, que se encaminhavam para a adoção de uma monarquia constitucional, com separação de poderes e limites rígidos ao poder do imperador. - D. Pedro dissolve a assembleia e exila os constituintes - D. Pedro cria uma comissão para criar uma nova constituição e chama de Conselho do Estado - Frei Caneca se insurge contra o projeto - Foi ratificada pelas câmaras municipais - Caráter liberalista-conservador e semi-absolutista - Influenciada pela constituição francesa de 1814 - Garantia direitos individuais e modelo censitário de direitos políticos - Existência do Poder Moderador - Com Executivo, Legislativo e Judiciário - Semi-absolutista - Susta atos do Legislativo e do Executivo - Consagrava a monarquia hereditária - Catolicismo como religião oficial - Mantinha a escravidão - Não tinha controle de constitucionalidade - Tinha caráter semi-rígido. As normas consideradas substancialmente constitucionais demandavam um processo bastante complexo de alteração, enquanto que o resto poderia ser alterado conforme legislação ordinária. - Só teve uma mudança formal: Ato adicional de 1834: Mudança da regência trina para regência una e a ampliação da autonomia das províncias. - Não dispunha de limites materiais - Voto censitário: maiores de 25 anos, renda mínima de 200.000 réis e homens - Possuía limite temporal de 4 anos e espaço de seis dias entre as seções, com as propostas lidas 3 vezes. - B) 1891: - Contrária ao Regime conservador - República foi proclamada quase apoio popular - Comissão de 5 juristas para a elaboração da nova constituição - Texto inspirado na constituição norte-americana - Comissão de 21 parlamentares, um de cada Estado da federação - Eleições diretas para presidente e senado - Presidente: Chefe de Estado + Chefe de Governo - Era liberalista republicana e moderada - Texto enxuto, com 90 artigos + 9 ADCT - Fortemente federalista (caráter dual: separação da esfera federal e estadual) - Poder legislativo era bicameral: Câmara dos Deputados e Senado - Existia o STF, mas foi adotado o controle difuso e concreto. - Direitos políticos: - Maiores de 21, excluindo: - Analfabetos, mendigos, praças militares e integrantes de ordens religiosas que renunciassem à liberdade individual. - Existência de diversas garantias processuais e penais, como: ampla defesa, juiz natural, pessoalidade na pena… - Habeas Corpus foi constitucionalizado - Separava Estado da Igreja - Eleições diretas para presidente e senadores - Criação da Justiça Federal e Estadual - STF com 15 Ministros - Abolição do voto censitário - Homens com mais de 25 anos (mulheres eram incapazes) - Defendia as liberdades públicas (Direitos de 1º dimensão) - Constituição era rígida, consagrava limites materiais (vedava a abolição da forma republicana federativa, ou a igualdade de representação dos Estados no Senado) - Tinha caráter liberal, comprometida com o Estado de Direito, mas na real, era marcada pelo coronelismo, pela fraude eleitoral e pelo arbítrio dos governos. - Instituição do controle de constitucionalidade - Sofreu apenas 1 emenda, em 1926, que tinha o viés centralizador e anti-liberal - Emenda do perigo da revolução - Aumenta a intervenção nos Estados - Teve pouca efetividade: País constitucional (Liberal e democrático) e País real (autoritário e oligárquico). - Inexistência do voto secreto = coronelismo - 3 Cláusulas pétreas: República, Federação e Igualdade entre os Estados membros - C) 1934: - Durou pouco, não resistiu à radicalização do regime e o clima social da época - “Não vigorou” - Voto para as mulheres - Criação do regime classista, fortalecimento do trabalhador e sindicalismo - Criação dos Ministérios da saúde, educação e trabalho - Nacionalização das fontes energéticas - Supressão do Senador como órgão legislativo - Inaugura o constitucionalismo social no Brasil - Rompe com o modelo liberal anterior - Constituição extensa e disciplinava várias matérias (economia, trabalho, família, educação, cultura…) - Inspirada na constituição de Weimar - Voto era direto e secreto - Figura do vice-presidente foi suprimida - STF com 11 MInistros, que poderia chegar até 16 - Justiça do Trabalho foi criada, mas fazia parte do Executivo - Mudanças no controle de constitucionalidade: - 1 - Instituição do princípio da reserva de plenário - 2 - Competência do Senado para suspender execução de normas inconstitucionais - 3 - Criação de mecanismo de controle preventivo obrigatório de constitucionalidade das leis que decretavam intervenção federal - Instituiu amplo rol de direitos e garantias individuais - Traz o Mandado de segurança, ação popular e a função social da propriedade - Previu os direitos sociais - Principalmente os direitos trabalhistas - Surgimento dos direitos positivos, que reclamavam a atuação dos poderes públicos em favor do cidadão e, também, para a atuação entre particulares, como o caso dos trabalhistas. - Consagra o Estado intervencionista - No que tange à reforma, era rígida e contemplava a revisão e a emenda - D) 1937: - Apelidada de “polaca” - Golpe dentro do golpe: Para combater o comunismo - Escrita por Francisco Campos - Plebiscito para ver a validade da CF - Nunca foi convocado - Não desempenhou papel importante no Estado Novo. - Não forneceu parâmetros jurídicos para a ação do Estado - Previu um modelo de Estado autoritário e corporativista - Influenciada pela constituição polonesa de 35 - Dissolveu o Legislativo - Caráter centralizador, principalmente pela nomeação de interventores pelo governo federal - Extinguiu a Justiça Federal e aumentou o poder da Justiça do Trabalho (Fazia parte do Ministério do Trabalho) - Impedia outros partidos - Admitia pena de morte para crimes políticos e traição à pátria - Criação das Universidades Públicas Federais - Presidente da república era a “Autoridade suprema do Estado” - Com mandato de 6 anos - Eleições eram indiretas - Com relação à mudanças (funcionou como flexível, na prática): - 1: Poderia ser deflagrada pelo Presidente - 2: Poderia ser deflagrada pela Câmara dos Deputados - Na prática, não funcionou. Não tinha Parlamento - Rejeitava as técnicas de democracia liberal, como o voto direto e a separação de poderes, ainda que impusesse limites significativos ao exercício do poder. - Não havia limites materiais ao poder de reforma - Funcionou, naprática, como uma constituição flexível, porque não havia qualquer diferença entre o processo de edição de normas infraconstitucionais e o de alteração da Constituição. Em ambos os casos, bastava a vontade singular do Presidente. - A censura era institucionalizada - Aboliu a atividade partidária - Direitos sociais não eram assegurados de forma universalista, mas só a determinadas categorias profissionais ou econômicas - Direito à saúde, só aos trabalhadores formais - Sofreu 21 modificações, pelas chamadas “Leis constitucionais” - E)1946 - Tentativa de democracia - Trazia Direitos Fundamentais - Disciplinou, de maneira mal-feita, a política de freios e contrapesos entre os Poderes - Limitou o Nº de partidos - Voto se torna obrigatório - Insurgiu na época da “onda” do constitucionalismo pós-segunda guerra - Buscou conciliar o liberalismo político e a democracia com o Estado social. - Se afastou do autoritarismo de 37, com o pluripartidarismo e a separação dos poderes, sem abdicar dos direitos trabalhistas e a da intervenção do Estado na economia. - Era analítica, com 222 artigos + 36 ADCT - Restaurou o federalismo - Separação rígida entre os poderes, que gerou problemas no futuro - Retorno da figura do vice-presidente - Justiça do trabalho foi integrada ao Poder Judiciário e a Justiça Eleitoral também retornou. - Positivação das liberdades públicas tradicionais (reunião, expressão…) e com os remédios constitucionais (habeas corpus, mandado de segurança…) - Voto direto, secreto e universal - Constitucionalização dos direitos trabalhistas condicionamento da propriedade ao “bem-estar social” - Garantias sociais como educação, cultura… - Era rígida pq o processo de emenda era complexo - Limites materiais: a federação e a república - Emenda 4˚: Instituiu o Parlamentarismo, em 1961 - Sofre várias modificações (16 Emendas) - AI-1: Torna a CF Flexível - Várias limitações (principalmente aos direitos políticos) - F)1967 - Refletiu a vontade dos “Castelistas” - Continha traços autoritários - Concentração de poder no sentido vertical (centralização no pacto federativo), como no horizontal (hipertrofia do Executivo) - Eleições indiretas com mandato de 4 anos, sem reeleição - Era rígida, ainda que não fosse difícil alterá-la - G) 1969 - Contradição entre nova constituição ou emenda à anterior - Primeira é majoritária na doutrina - Mudanças no funcionamento dos poderes - Mandato presidencial: 5 anos - MP passou a ser parte do executivo - Retrocesso no âmbito dos direitos fundamentais - Emendada 2 vezes no governo Médici - H)1988 - Amplamente debatida no âmbito da Constituinte - Coroa a passagem do autoritarismo para a democracia - Participação popular e democrática - Muitos Lobbys - Compromisso com direitos fundamentais, relações políticas, sociais e econômicas - Construção de uma sociedade fundada na dignidade da pessoa humana - Constituição longa e analítica - Buscaram a positivação de muitas normas em nome da “incerteza” legislativa brasileira - Fenômeno da Constitucionalização do direito - Observada pela ótica do compromisso político - Dirigente e programática - Pluralista e social - 1˚ vêm os direitos fundamentais, dps a organização do Estado - Proteção daqueles de maior vulnerabilidade - Voto como cláusula pétrea - Promoveu maior grau de descentralização administrativa financeira - Manteve o presidencialismo (confirmado pelo plebiscito em 93) - Mas nessa época ainda não havia reeleição - Obrigatoriedade de Presidente e Vice integrarem a mesma chapa para evitar crises políticas - É capitalista, mas moderada, não como foram as dos Estados Liberais-burgueses - Trouxe a igualdade material e a justiça social - Revisão de 93 foi um fiasco: 6 emendas aprovadas, dentre mais de 17.000 propostas - Emendas importantes: - Reeleição (EC 16/97) - Reforma administrativa (EC 19/98) - Reforma previdenciária (EC 20/98) - Teto para taxa de juros (EC 40/03) - LRF (limite aos gastos públicos) - FHC traz o “Presidencialismo de coalizão” IV - PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE - Proporcionalidade (Ponderação): - Proporcionalidade é um dos mais importantes instrumentos da hermenêutica constitucional - Ponderação: do inglês Balanceamento entre princípios constitucionais - Ainda que sejam diferentes, Moreira os utiliza de forma igual - Trabalhado por Alexy - Este fala que algumas metodologias (princípios) são neutros: Proporcionalidade, Razoabilidade, Igualdade formal, transparência e universalidade. - Seu excesso pode levar à arbitrariedade - Se ampliar demais, leva a uma discricionariedade ignorante - Apesar de se ter dificuldade em ter outra ferramenta que resolva colisão de princípios constitucionais - Contudo, se corretamente aplicada, fecha a discricionariedade - Moreira acredita que cada conflito deve ter seus parâmetros específicos - Jurisprudência que formula isso - Não têm balanceamento com vários direitos de um lado e poucos do outro - Sua principal finalidade é conter o arbítrio estatal, promovendo critérios para o controle de medidas restritivas de direitos fundamentais ou de outros interesses juridicamente tutelados. - Utilizada para equacionar colisões entre normas constitucionais, no contexto da ponderação de interesses - Bastante utilizada no controle de constitucionalidade dos atos legislativos - Não existe previsão expressa, na CF/88, do princípio da proporcionalidade - Moreira admite que a proporcionalidade é uma Metodologia Constitucional - Subprincípios: - 1) Adequação: - Subprincípio da “idoneidade” - Os fins perseguidos pelo Estado devem ser legítimos - Os meios adotados devem ser aptos para, pelo menos, contribuir para o atingimento dos referidos fins. - Identificar a finalidade subjacente ao ato estatal examinado e esta não deve contrariar o sistema constitucional - Adequação forte x fraca: - Forte: enseja a efetiva consecução dos fins que lhe conferem sentido - Fraca: basta que a medida contribua de alguma maneira para a promoção daqueles fins - 2) Necessidade: - O Estado deve optar sempre pela menos gravosa - Segundo Jellinek: “Não se abatem pardais com tiros de canhão” - Procedimento: - 1) Examina-se se as eventuais medidas alternativas àquela questionada possuem ou não idoneidade, no mínimo, equivalente, para promover o objetivo visado. - 2) Verifica-se se as medidas alternativas que passaram no primeiro teste são menos gravosas do que aquela que foi adotada. - Pela ótica quantitativa: a medida alternativa promove o objetivo tanto como a medida questionada - Pela ótica qualitativa: ela o faz tão bem quanto a medida impugnada? - Se aplica na comparação entre a onerosidade das medidas. - Deve limitar à invalidação daquelas medidas que sejam patentemente excessivas - 3) Proporcionalidade em sentido estrito - A restrição ao direito ou ao bem jurídico imposta pela medida estatal seja compensada pela promoção do interesse contraposto. - Análise comparativa entre os custos e benefícios da medida examinada, tendo em vista o sistema constitucional de valores - Deve-se perceber que determinados interesses recebem maior proteção no ordenamento do que outros,por isso, em algumas hipóteses, surgem alguns interesses prima facie. - É preciso analisar o peso abstrato e o peso concreto dos direitos em questão - Em casos de empate ponderativo, ou de incerteza na avaliação jurisdicional, a medida questionada deve ser mantida. - Seus críticos afirmam que é incompatível com a democracia e a separação dos poderes, além debilitar os direitos fundamentais - Consequências da ponderação: - 1) Mitiga a teoria da eficácia das normas - 2) Nem sempre é a melhor solução. O método é o melhor? Só dá para pensar pela teoria do conflito? - Vale harmonizar? - 3) Ela foi feita para resolver casos difíceis. - E os casos trágicos? Aborto, células-tronco… - Feminismo x Conservadorismo (direito x religião) - Sai dos limites constitucionais - 4) Ponderação não é corriqueira. Só se deve usar com uma lente de lupa, se os 2 primeiros subprincípios forem ultrapassados - Se não, é aplicação de 1 princípio - 5) Não se poderam regras constitucionais - Interpretação (mutação) majoram as regras constitucionais - 6) Não se ponderam garantias constitucionais - 7) Funciona melhor como parâmetros do que como fórmula. Não tem + valor de um princípio sobre outro, prima facie (em primeira mão) - Dignidade da pessoa humana x outro princípios - Antes, Sarmento acreditava que ele valia mais, hj, não mais. - Liberdade de fala x outros princípios - Ainda que esteja se restringindo o discurso de ódio - Ponderação x proteção deficiente - Liberdade de expressão em tempos ditatoriais - Razoabilidade - Usado quando o julgamento quer fugir de uma conduta absurda - Mencionado pela primeira vez nos EUA, na Suprema Corte Norte-americana, em 40. - É uma metodologia neutra, não tem valor como igualdade ou justiça - Também chamado de critério procedimental - Alguns também chamam de princípio, apesar de não ter conteúdo axiológico. - Surge como instrumento para aferir meios e fins. Os meios utilizados pela parte podem ser justificados pelo resultado obtido? - Aplicação requer menos fases, o que pode levar a uma moralidade, até mesmo uma arbitrariedade - Se volta à contenção do arbítrio estatal - Associada a noções vagas e imprecisas, de bom senso, racionalidade e justiça na atuação estatal - Relação de pertinência entre a medida prevista pelo legislador e os critérios adotados por ele para definir seus destinatários - Correspondência entre a medida estatal e o quadro fático que lhe é subjacente - Também se relaciona com a equidade (Aplicação de uma norma geral e abstrata sobre um caso concreto produziria resultados profundamente injustos ou inadequados) - Seu conteúdo ainda não está sedimentado na doutrina V- MUDANÇAS NAS FONTES DO DIREITO - As fontes do direito são elementos de integração para entender o ordenamento jurídico - No passado, a lei era o centro. E quando esta não fosse clara, verifica-se outras fontes - O Direito Constitucional trouxe os princípios constitucionais - Deixa de dar papel acessório a eles e passar a dar um papel central no ordenamento. - Direito não é só formado por regras, os princípios reordenam e dirigem decisões - Com a irradiação dos direitos fundamentais, o papel da analogia diminuiu - Isso faz com que haja uma intercomunicação entre os campos do direito. - Fontes secundárias: - Costumes: O qual quase desaparece e é uma fonte tradicional do direito inglês, e não do brasileiro - Doutrina: Fonte do direito no aspecto material (Argumento de autoridade) - Fontes primárias: - Jurisprudência, a qual se tornou mais importante que a analogia e o costume - Vinculante: tem força de lei e dita como a mesma deve ser interpretada - Estado legal: monólogo de fontes - Não existe mais no Brasil, vai contra a supremacia constitucional - Ainda que alguns países trabalhem com o diálogo entre as fontes - Estado constitucional: - Supremacia constitucional V - Direito Constitucional intertemporal - Poder Constituinte - Inaugura uma nova ordem jurídica - Para segurança jurídica, cláusulas pétreas regulam o direito intertemporal (direito adquirido) - Direitos fundamentais, tributos - Lida com os conflitos de leis no tempo, buscando solucionar problemas que surgem em decorrência da sucessão de normas, definindo a esfera de incidência de cada uma delas. - Mas o problema do direito brasileiro não é isso, é quando importar em ofensa ao direito adquirido (DA), ao ato jurídico perfeito (AJP) ou à coisa julgada (CJ) - Irretroatividade das leis é essencial para a ideia de Estado de Direito, e até mesmo para a manutenção do princípio da dignidade da pessoa humana - Ordenamento brasileiro é filiado à teoria subjetiva, a qual se centra na noção de direito adquirido, impedindo não apenas a incidência de lei superveniente sobre fatos passados (retroatividade máxima) como também a sua aplicação sobre casos pendentes (retroatividade média) e futuros (retroatividade mínima), de atos praticados no passado. - Nenhuma lei futura atinge um fato passado (eficácia máxima) - Nenhuma lei futura atinge fatos futuros sob determinadas condições (eficácia mínima) - Caso do Usucapião pós-CF/88 = Recontagem de tempo - Para o Moreira, STF errou na interpretação - Emendas podem afetar o direito adquirido? - Se for cláusula pétrea, não - Em confronto, prevalece a cláusula sobre a emenda - Moreira é simpático à teoria que pode afetar direito adquirido proporcionalmente, não mudando o passado, mas dali para frente - Constituições, em regra, têm aplicação imediata, passando a vigorar logo após seu advento, mas isso não impede o retardo da própria constituição ou de alguns de seus dispositivos, pelo constituinte. - Contudo, o PCO não é obrigado a respeitar o DA, AJP e a CJ, isso segundo o STF. - Problema: e quando a constituição for omissa? - Em tempos de CF/88, STF determinou que a regra é a incidência imediata com retroatividade mínima dos preceitos constitucionais - P/ Sarmento, deve-se olhar dois pontos, os quais são opostos: - 1) O PCO tem a perspectiva de um “recomeço”, o que envolve a ruptura com o passado. Assim, não deve ser superdimensionada a força de uma situação e/ou algum vínculo jurídico pré-constitucional, o que pode estar em desarmonia com os valores e princípios do novo regime - 2) Não se pode ignorar a proteção à segurança jurídica, ainda que não haja previsão explícita no texto - Embora uma nova constituição revogue totalmente a anterior, isso não impede a validade de preceitos específicos ou até de partes inteiras da anterior, de forma provisória ou mesmo definitiva. - Isso decorre do PCO e é chamado de recepção material - Fenômeno da desconstitucionalização: quando a constituição anterior não é compatível com a nova ordem, mas continua vigorando, mas em patamar hierárquico inferior, como simples lei. Contudo, esta deve ser expressa, não pode ser invocado em caso de silêncio constitucional - Quando há nova constituição, que não trata de tal tema, a antiga ainda vale na matéria, mas como norma infraconstitucional (automaticamente) - Na doutrina brasileira, exige-seque só possa ocorrer desconstitucionalização expressa (geralmente no ADCT) - Ex: CF/34 e CF/37 - Desde então, BR não adota desconstitucionalização automática - Pela ótica da flexibilização, vale o que for deliberado em acordo coletivo ou contrato, como as leis trabalhistas. - Teoria da recepção: visa conciliar os componentes da tensão entre rompimento e continuidade. A norma jurídica anterior a uma Constituição, que não seja materialmente incompatível com ela, continuará a vigorar após seu advento, mas agora com outro fundamento de validade: o novo diploma constitucional. - Como as normas infraconstitucionais são recebidas pela CF, sendo que estas são inferiores à ela. - A análise sempre se dá pelo mérito, e não da formalidade (porque a lei foi feita conforme a formalidade da CF antiga) - Ela pode alterar a natureza de um ato normativa, quando a nova CF passa a exigir espécie normativa diversa para a disciplina do mesmo assunto. - E as normas formalmente compatíveis mas produzidas de forma gravemente antidemocrática? - Quando não recepcionada, lei é declarada inconstitucional ou é revogada? - ADPF resolveu isso, pq se fosse declarada inconstitucionalidade, poderia-se propor ADI, se fosse revogada, não poderia propor ADI, assim, no segundo caso poderia ser verificada pelos juízes, no julgamento de lides concretas submetidas à sua apreciação - ADPF é erga omnes e efeitos vinculantes - Como lidar com a repristinação? - STF não admite a figura repristinação constitucional tácita - Exceto se for expresso na nova lei - Declaração de inconstitucionalidade produz, em regra, efeitos repristinatórios. Isso porque, ao invalidar uma norma, a decisão retira do ordenamento os efeitos que a norma produziu, dentre os quais a eventual revogação da norma anterior que cuidava dessa matéria. - Já que a norma inconstitucional nunca produziu efeitos - Mas esses efeitos podem ser afastados pela própria decisão judicial - Brasil admite leis “ainda constitucionais” - Não são plenamente constitucionais, antes da constituição criaria um problema muito pior - Ex: Prazos especiais para a Defensoria, até que ela esteja equipada como os grandes escritórios - Constitucionalidade superveniente - Não aceita no BR - Quando uma norma é editada de maneira incompatível com a CF - E, com isso, aprova-se emenda que a torna compatível - Emendas podem suscitar questões de Direito Intertemporal - Entre norma constitucional originária e emenda superveniente, envolve o uso do critério cronológico para a resolução de antinomias jurídicas VI - NEOCONSTITUCIONALISMO - Teoria integradora, porque não se separa da política, das decisões, da sociedade, da ética-moral, todos os elementos presentes em um saber cultural. - Teoria maximizada por elementos da filosofia do direito e da filosofia política - Dimensão da filosofia do direito: preocupação com o que ocorre no mundo e a derivação concreta das leis - Dimensão da filosofia política: redefine o papel dos elementos do estado num mundo cosmopolita - Paradigma que revisa a teoria da norma, a teoria da interpretação, a teoria das fontes, suplantando o positivismo, para integrá-las sob uma base útil e transformadora. - É oposta ao positivismo, se afasta das inconsistências do jusnaturalismo e não se abandona o realismo jurídico e sua dimensão sociológica - O que falta ao neoconstitucionalismo é aliá-lo ao garantismo, torná-lo mais protetista - É sinônimo de direito constitucional avançado - É a mudança do papel das cortes constitucionais por meio do uso de mecanismos e ferramentas que se misturam e permitem o avanço da matéria - As teorias buscam evitar a injustiça, apesar de terem seus defeitos - Segundo Dworkin, estas não partem dos Direitos Humanos - Ocorre no Séc XXI, mas seus elementos vêm sendo construídos no Séc XX - Consequências do Neoconstitucionalismo: - 1) Transformação das fontes do direito para uma nova teoria da interpretação + revisão da estrutura das normas - Interpretação: - A teoria da interpretação a partir da Constituição não pode ser a mesma que a teoria da interpretação a partir da lei, pq as normas constitucionais estimulam outro tipo de raciocínio - Recebeu influência da tópica (de Vieweg), da hermenêutica e da argumentação jurídica. - Avanço da interpretação permite o desenvolvimento de teorias e metodologias constitucionais construtivistas, aptas a responder anseios sociais. - Fontes: - Julgados do STF, súmulas, princípios… - Antigas fontes do direito não mais a melhor ferramenta para o contexto atual - 2) Interpretação: - Toda interpretação é interpretação constitucional - Sentidos de interpretação conforme a Constituição, para o neoconstitucionalismo: - 1) Literal: Interpretar as normas à luz da constituição. - 2) Interpretar conforme quando está presente mais uma hipótese interpretativa (Frequentemente atribuído pela jurisprudência e doutrina brasileira). - Lei que tenha mais de 1 possibilidade interpretativa - É uma maneira de salvar a norma legal e firmar a orientação constitucional - Ex do Estatuto do Idoso e participação do MP - 3) Verificação no caso concreto, quando excepcionalmente os efeitos da regra são retirados, por uma situação não prevista. - Também conhecida como derrotabilidade (mantém o funcionamento do sistema constitucional, sem abalos) - A problemática da repercussão geral aliada às metodologias constitucionais - Antes só existia a interpretação e a mutação - Contudo, o uso indiscriminado das ferramentas de interpretação pode ser perigoso, devido a concessão de demasiada força aos tribunais - Hoje, ponderação e unidade constitucional convivem, harmoniosamente, trabalhando-se as duas até em um mesmo caso concreto, sem qualquer prejuízo. - 3) Nova estrutura da norma jurídica constitucional - Não mais, apenas, o critério do “tudo ou nada” - Extraída da constituição em nome da busca de um resultado - impactou todos os campos do direito, desenvolvendo: o direito civil-constitucional, ponderação no campo penal, controle judicial das políticas públicas….
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