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Travestis e Transexuais no Mercado de Trabalho Luciana Teixeira de Vasconcellos (LATEC / UFF) O artigo abordou a questão social que envolve travestis e transexuais no Brasil. Este segmento social não tem espaço no mercado de trabalho formal por causa do preconceito cultural presente na sociedade. Os métodos utilizados foram o dialético e o observacional. Através da pesquisa bibliográfica e documental, o presente artigo teve os objetivos de socializar informações pertinentes aos travestis e transexuais, sensibilizar e incentivar as organizações a incluírem a diversidade de orientação sexual e de gênero na identidade e estratégia da empresa. Pois uma organização realmente responsável é aquela que promove a diversidade humana e a inclui como responsabilidade social. Palavras-chaves: : Empresas; Responsabilidade Social. Companies; Social Responsibility. ISSN 1984-9354 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 2 Introdução O presente artigo aborda a questão social que envolve travestis e transexuais no Brasil. Este segmento social não consegue um emprego formal e por isso, na maioria das vezes, realiza trabalho informal e/ou atua na prostituição. A hipótese é que isso ocorre devido ao preconceito presente na cultura brasileira, que atinge todos os setores da sociedade, até as organizações. A metodologia utilizada é o método dialético, que analisa a realidade social. E também o método observacional, que examina o problema social em questão e sobre o qual busca informações. Através da pesquisa bibliográfica e documental, busquei os objetivos de informar, sensibilizar e incentivar as organizações a incluírem a diversidade de orientação sexual e de gênero na identidade e estratégia da empresa. Pois acredito que uma organização realmente responsável é aquela que promove a diversidade humana e a inclui como responsabilidade social. A partir de leituras realizadas, constatei que a categoria travesti se identifica com o gênero feminino. Deste modo, considerei mais apropriado utilizar os determinantes femininos (artigos: a, uma; pronomes: esta, ela; entre outros) para identificar as travestis ao longo do presente artigo. Embora saiba que os dicionários existentes afirmam que o substantivo travesti é comum de dois gêneros 1 (os determinantes que distinguem se o substantivo é do gênero feminino ou masculino). Sexo, Identidade de Gênero e Orientação Sexual Em estudos realizados a partir da segunda metade do século XX, observei que há uma diferença entre sexo, gênero e sexualidade. O sexo se refere ao órgão sexual de nascença, podendo ser masculino ou feminino, e o gênero se refere ao significado social atribuído a cada sexo. Já a sexualidade se refere à expressão do desejo sexual, podendo a orientação sexual ser heterossexual, homossexual ou bissexual. Esses três conceitos são diferentes: O fato de um indivíduo se sentir homem ou mulher (sua identidade de gênero) não tem, necessariamente, relação com seu sexo biológico (identidade sexual); nem tampouco com sua orientação sexual (que pode ser heterossexual, homossexual, bissexual). Contudo, no Ocidente, o conceito de gênero está colado ao de sexualidade/reprodução, o que promove uma imensa dificuldade de separar, segundo o senso comum, a problemática da identidade de gênero da de orientação sexual. (LIMA, 2011, p. 169). 1 Veja-se como exemplo o Dicionário Aurélio, o qual afirma que o substantivo travesti pode ser identificado pelos dois gêneros – masculino e feminino (p.754). X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 3 Em nossa cultura acredita-se que o indivíduo que tem o sexo masculino é necessariamente homem e quem tem o sexo feminino é mulher. Esta é uma visão binária – homem e mulher, a qual o gênero é correspondente ao sexo de origem. Porém, o indivíduo pode ter o sexo masculino e se identificar com o gênero feminino e vice-versa. Corroborando Mathieu (2009), o gênero feminino é culturalmente imposto à fêmea para que se torne uma mulher e o gênero masculino ao macho, para que se torne um homem. De acordo com essa autora, há vários aspectos do gênero, tais como: diferenciação da vestimenta, dos comportamentos e atitudes físicas e psicológicas, desigualdade de acesso aos recursos materiais e mentais. Com isso, percebi que o gênero é construído socialmente, sendo influenciado pelos costumes e comportamentos de uma sociedade. Segundo Lima (2011), a heteronormatividade presente em nossa sociedade traduz a ideia de que ser heterossexual é algo natural, instintivo. Assim, a homossexualidade é vista como algo errado e que não é normal. Porém, sabemos que a concepção de certo e errado é criada culturalmente nas sociedades. Essa autora afirma que “a heterossexualidade como norma compulsória a qual todos/as devem se adequar – e que vê a homossexualidade como perversão – tem suas raízes no imaginário judaico-cristão” (p. 170). O pensamento religioso no Ocidente tem suas raízes no judaísmo e no cristianismo, que se mescla com os valores greco-romanos. O apóstolo Paulo, segundo Lima (2011), antes de se converter ao cristianismo era judeu e romano. Ele foi o grande disseminador do cristianismo, mas ainda era influenciado por alguns valores do judaísmo. Deste modo, Paulo disseminou na igreja cristã a visão patriarcal e heteronormativa. Mesmo assim, a autora afirma a importância da leitura crítica da bíblia: Uma leitura a partir de uma perspectiva histórico-crítica, que considera quem escreveu, os costumes da época, a língua na qual foi escrita, o texto e o significado atribuídos a determinadas palavras naquele período, bem como as conjunturas histórica e social. Considere-se ainda o trecho do qual se retirou o escrito, pois uma citação retirada do seu contexto pode ser interpretada erroneamente. (LIMA, 2011, p. 172). A influência patriarcal do cristianismo perpetua a dominação do homem sobre a mulher na nossa sociedade. De acordo com os estudos de Molinier e Welzer-Lang (2009, p. 102), o homem é educado desde criança a ser viril: “a virilidade é a expressão coletiva e individualizada da dominação masculina”. O homem que não adota atitudes viris, apresentando certas características que se espera do gênero feminino, sofre discriminação – a conhecida homofobia. Isto é considerado “uma forma de controle social que se exerce sobre todos os homens, desde os primeiros passos da educação masculina” (MOLINIER e WELZER-LANG, 2009, p. 102). X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 4 Com isso, percebi a dificuldade que os indivíduos têm para exercerem a própria sexualidade e identidade de gênero em sua plenitude. Também compreendi que a sexualidade está presente nas relações de poder. Segundo Foucault (1988), o poder é a multiplicidadede correlações de força de uma determinada sociedade. Nas relações de poder, a sexualidade é o elemento de maior instrumentalidade, de articulação às mais variadas estratégias: Não existe uma estratégia única, global, válida para toda a sociedade e uniformemente referente a todas as manifestações do sexo: a ideia, por exemplo, de muitas vezes se haver tentado, por diferentes meios, reduzir todo o sexo à sua função reprodutiva, à sua forma heterossexual e adulta e à sua legitimidade matrimonial não explica, sem a menor dúvida, os múltiplos objetivos visados, os inúmeros meios postos em ação nas políticas sexuais concernentes aos dois sexos, às diferentes idades e às classes sociais. (FOUCAULT, 1988, P. 114). Conforme discorri sobre o assunto, há diversas possibilidades de sexo, gênero e orientação sexual. Mesmo a possibilidade binária – homem e mulher heterossexuais – ser ainda a mais aceita em nossa sociedade atual, os estudos e as políticas públicas nos mostram que essa conjuntura está se modificando. Através dos movimentos sociais, dos meios de comunicação e dos políticos comprometidos com os direitos humanos, a sociedade brasileira vem conquistando espaço na questão da diversidade sexual e de gênero. Diante dessa diversidade, o presente artigo irá abordar o segmento social formado por travestis e transexuais e a participação destes no mercado de trabalho. Travestilidade e Transexualidade Definir as diferenças entre travestis e transexuais é uma tarefa difícil, devido à conjuntura histórica e cultural. De acordo com Barbosa (2013), o renomado médico Benjamin 2 afirmava que as travestis não desejam a cirurgia de transgenitalização, pois sentem prazer com o pênis. Já as transexuais sentem desconforto e profunda infelicidade em relação ao pênis, afirmando que sempre se identificaram como mulheres. E, por isso, precisam de cirurgias de transformação corporal. Porém, observei que há controvérsias em relação à necessidade de cirurgia de mudança de sexo que serão explicitadas mais à frente. 2 Henry Benjamin foi um médico e pesquisador alemão e judeu. Ele deu início à pesquisa da transexualidade em meados do século XX e se tornou uma grande referência na área. Porém, há pesquisas contemporâneas que reveem os conceitos de Benjamin e propõem novos discursos sobre a transexualidade. A filósofa estadunidense Judith Butler tem a linha de pensamento mais de acordo com os interesses do segmento LGBT, atualmente. X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 5 De acordo com Barbosa (2013), no Brasil as travestis na década de 1940 eram vistas como transformistas, associando o termo travesti à performance artística. Já a categoria travesti, enquanto identidade de gênero, vem sendo utilizada desde a década de 1980. Atualmente, o termo travesti está relacionado à prostituição, à criminalidade e à marginalidade, devido à grande maioria das travestis se prostituírem. A categoria transexual vem sendo utilizada desde a década de 1980 após a primeira cirurgia de transgenitalização divulgada no Brasil - cirurgia que até então não era legalizada no país. O processo transexualizador apenas foi regulamentado em 1997: Os serviços que prestam assistência a transexuais que procuram tratamento para a realização do processo transexualizador no Brasil foram organizados a partir da regulamentação desta prática, após a publicação da Resolução nº 1.482/97 do Conselho Federal de Medicina. Considerado um atendimento de alta complexidade, a maioria destes serviços encontra-se em hospitais públicos universitários, localizados nas regiões Sul e Sudeste do país. (ARÁN e MURTA, 2009, p.16). As principais técnicas de cuidado na transexualização são: tratamento hormonal; cirurgias de redesignação sexual; tratamento psicológico e psiquiátrico. Segundo Arán e Murta (2009, p. 25), é no contexto de “revolução tecnológica da biomedicina e de uma maior liberdade sexual que se dá o reconhecimento da possibilidade de mudança de sexo”. E de acordo com Santos (2011, p. 126), Hausman afirma que a emergência da transexualidade dependeu “do desenvolvimento da endocrinologia e da cirurgia plástica como práticas discursivas e tecnológicas, sendo impossível dissociar o entendimento da transexualidade dos suportes tecnológicos”. O processo transexualizador e a regulamentação do Estado 3 para esta transexualização ser realizada são diretamente relacionados ao diagnóstico psiquiátrico. Segundo Arán e Murta (2009, p.26), a condição transexual é entendida pelos manuais psiquiátricos como “a insatisfação decorrente da discordância entre o sexo biológico e a identidade sexual de um indivíduo” e, por isso, há a necessidade de cirurgias e utilização de hormônios. Os/as transexuais foram inseridos no “DSM III (Manual Diagnóstico e Estatístico das Desordens Mentais) e em 1994, com a publicação do DSM IV, o termo ‘transexualismo’ foi substituído por ‘Transtorno de Identidade de Gênero’ (TIG)” (ARÁN e MURTA, 2009, p.26). Esse manual 4, que é considerado a “bíblia da psiquiatria”, diagnostica a travestilidade e a transexualidade 5 como patologias. No manual, o termo travesti significa “travestismo fetichista”, 3 De acordo com Arán e Murta (2009, p. 22), se considera de fundamental importância a ação do Ministério Público Federal em 2001 para a inclusão da cirurgia de transgenitalização na tabela de procedimentos do SUS. Em 2008, foi criada a Portaria nº 1.707 do Ministério da Saúde: Institui, no âmbito do SUS, o Processo Transexualizador a ser implantado nas unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão. 4 O manual DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico das Desordens Mentais) e o CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde), que foi criado pela Organização Mundial da Saúde, diagnosticam a travestilidade e a transexualidade como patologias. (BARBOSA, 2013). A homossexualidade era considerada uma patologia até 1973, quando foi removida do DSM-II. (ARÁN e MURTA, 2009). X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 6 definindo pessoas que se vestem de acordo com um gênero diferente daquele determinado ao nascer. Já o termo transexual significa transtorno de identidade de gênero – formado por transexuais homens e transexuais mulheres. Analisando esse diagnóstico, Butler afirma que: De fato, ele pode ser considerado um dos instrumentos fundamentais, enfim, necessários para fazer a transição e tornar a vida vivível, proporcionando a base para que uma pessoa se desenvolva como um sujeito corporal. Por outro lado, o instrumento assume vida própria e pode tornar a vida mais difícil para aquelas pessoas que sofrem por serem patologizadas e que perdem certos direitos e liberdades, incluindo a custódia das crianças, o emprego e a moradia, devido ao estigma inerente ao diagnóstico ou, mais precisamente, devido ao estigma que o diagnóstico reforça e promove. Embora fosse, sem dúvida, melhor que vivêssemos num mundo no qual não houvesse tal estigma – nem tal diagnóstico –, ainda não vivemos num mundo assim. Além disso, a profundasuspeita a respeito da saúde mental daquelas pessoas que transgridem as normas de gênero estrutura a maioria dos discursos e instituições que regulam questões acerca do direito e da possibilidade de ajuda financeira e assistência médica. (2009, p.109). Arán e Murta (2009) afirmam que o processo de mudança de sexo se apresenta como a única possibilidade de inclusão social para muitas pessoas. Conforme percebemos ao longo do presente artigo, o padrão é ser homem ou mulher. E a sociedade acredita que para ser homem tem que ter pênis e para ser mulher tem que ter vagina. A partir do momento em que há a possibilidade de “se adequar” ao padrão, o processo é valorizado. Porém, a real necessidade da cirurgia deveria ser relativizada, ou seja, ser realizada de acordo com o desejo individual. A travesti, por exemplo, não precisa ter uma vagina para ser do gênero feminino e não deveria precisar disso para ser reconhecida pela sociedade como tal. Em relação à cirurgia de transgenitalização: Constatamos que alguns homens e mulheres transexuais podem desejar a cirurgia de transgenitalização pela exclusiva necessidade de reconhecimento social mais amplo, o que nos faz pensar que a cirurgia não necessariamente seria indicada se vivêssemos num mundo onde a diversidade de gênero fosse possível. (ARÁN e MURTA, 2009, p. 21). Há a questão do nome civil que só os/as transexuais conseguem a mudança, apenas após o diagnóstico de transtorno de identidade de gênero e através de ação na justiça. A partir de leituras jornalísticas, observei que nem sempre os juízes concedem a alteração do nome civil, mesmo após a mudança de sexo. Em contrapartida, há juízes que concedem o novo nome civil sem a necessidade de cirurgias. Com isso, constatei que há casos pontuais e não uma garantia plena dos direitos das travestis e dos/das transexuais. Os movimentos LGBTs lutam para retirar os travestis e transexuais dos manuais psiquiátricos que tratam essas identidades de gênero como patologias 6 . Esses movimentos conquistaram diversos direitos e ações de combate à discriminação. Um exemplo de direito 5 Após uma batalha conceitual dos movimentos militantes por direitos LGBT, trocou-se a terminologia transexualismo por transexualidade. Pois o sufixo “ismo” está presente no discurso médico para definir patologias. (CARVALHO, 2012). Essa luta é para eliminar o caráter patológico das identidades de gênero: travestilidade e transexualidade. E também da orientação sexual: homossexualidade. 6 Há a Campanha Internacional de Despatologização. (http://www.stp2012.info/old/pt). X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 7 conquistado é o nome social que travestis e transexuais servidores públicos podem utilizar como identificação no âmbito da Administração Pública Federal Direta, Autárquica e Fundacional 7 . “Entende-se por nome social aquele pelo qual essas pessoas se identificam e são identificadas pela sociedade”8. Nome social é diferente de nome civil, pois este significa que os documentos oficiais terão a alteração do nome. Já o nome social é como a pessoa gostaria de ser chamada e identificada por outrem. Atualmente, nosso país segue os Princípios de Yogyakarta 9 sobre a aplicação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. O Brasil tem o programa “Brasil sem Homofobia” de Combate à Violência e à Discriminação contra GLBT e de Promoção da Cidadania Homossexual, criado pelo Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD/LGBT). Desde 2004, o Brasil comemora o Dia da Visibilidade de Travestis e Transexuais no dia 29 de janeiro – a data marca a luta pelo respeito da identidade de gênero e pelos direitos humanos 10 . Travestis e Transexuais no Mercado de Trabalho Na sociedade atual, o trabalho é central na satisfação das necessidades humanas e na produção da relação entre os indivíduos. Com os avanços técnico-científicos na produção capitalista, alguns especialistas afirmam que a tecnologia é prejudicial ao emprego – pois se acredita que reduz a força de trabalho empregada, enquanto outros afirmam que ela é aliada dos empregados. Mesmo com essas linhas de pensamento opostas, não podemos negar o fato de que o trabalho continua central em nossa sociedade. A respeito da importância do trabalho: Se, para a sobrevivência, o trabalho deveria satisfazer pelo menos as necessidades básicas diárias, na perspectiva psicológica é uma categoria central no desenvolvimento do autoconceito e uma fonte de autoestima. É a atividade fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Em suma, é um forte componente na construção da pessoa que convive bem consigo mesma, acredita e orgulha-se de si. (ZANELLI e SILVA, 1996, p. 21). 7 Há leis em todas as esferas de governo, mas percebemos que há direitos e ações pontuais, que não englobam o segmento travestis-transexuais em sua totalidade. 8 Através da Portaria Nº 233, de 18 de maio de 2010: fica assegurada a utilização do nome social no âmbito da Administração Pública Federal Direta, Autárquica e Fundacional, mediante requerimento da pessoa interessada. 9 A Comissão Internacional de Juristas e o Serviço Internacional de Direitos Humanos desenvolveram um conjunto de princípios (Yogyakarta) jurídicos internacionais sobre a aplicação da legislação internacional às violações de direitos humanos com base na orientação sexual e identidade de gênero, no sentido de dar mais clareza e coerência às obrigações de direitos humanos dos Estados. (http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/principios_de_yogyakarta.pdf.). 10 BRASIL. Travestis e Transexuais comemoram dia de luta por direitos humanos. In: Portal Brasil. Cidadania e Justiça. 2014. X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 8 Quando é dito que o trabalho é atividade fundamental para o desenvolvimento do ser humano, compreendemos a importância do direito ao trabalho. Travestis e transexuais não têm esse direito garantido devido ao preconceito. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% das travestis e transexuais estão se prostituindo no Brasil. “Ainda que elas queiram arranjar um emprego com rotina, horário de trabalho e carteira assinada, o preconceito fica evidente quando elas se candidatam a uma vaga”. (LAPA, 2013). Segundo Berenice Bento (CID, 2008), a inserção no mercado formal é baixíssima. Esta socióloga acredita que o Estado é o principal agressor das transexuais por causa da ausência de políticas públicas e da ação violenta da polícia. Segundo ela: “se faltam diretrizes básicas para a proteção física das transexuais, pensar em inserção no mercado de trabalho é algo muito distante”. Embora seja necessário o Brasil avançar na questão LGBT, observamos no presente artigo conquistas de direitos e políticas públicas. O Brasil é país membro da Organização Internacional do Trabalho (OIT) desde a década de 1950. Em 1965, o país ratificou a Convenção nº 111 da OIT 11 sobre discriminaçãoem matéria de emprego e profissão. Segundo esta Convenção, os países membros que são signatários devem proteger as pessoas contra a discriminação no ambiente de trabalho. Nosso país também adota os Princípios de Yogyakarta e com isto deverá: a) Tomar todas as medidas legislativas, administrativas e outras medidas necessárias para eliminar e proibir a discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero no emprego público e privado, inclusive em relação à educação profissional, recrutamento, promoção, demissão, condições de emprego e remuneração; b) Eliminar qualquer discriminação por motivo de orientação sexual ou identidade de gênero para assegurar emprego e oportunidades de desenvolvimento iguais em todas as áreas do serviço público, incluindo todos os níveis de serviço governamental e de emprego em funções públicas, também incluindo o serviço na polícia e nas forças militares, fornecendo treinamento e programas de conscientização adequados para combater atitudes discriminatórias. (2007, p. 20). No âmbito municipal, a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro conquistou o projeto “Damas”12. Este projeto, pioneiro no Brasil, é voltado para a reinserção social e profissional de travestis e transexuais, através de capacitação, incentivo à escolaridade e empregabilidade. Assim, as travestis e as transexuais (só há pessoas do gênero feminino no projeto, por isso o nome Damas) se sentem mais confiantes para entrarem no mercado de trabalho formal. 11 A Convenção 111 trata a discriminação como sendo “toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão”. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D62150.htm). 12 A Coordenadoria conseguiu prorrogar o projeto DAMAS até o fim de 2015. (http://www.cedsrio.com.br/site/noticias/2013-04/projeto-damas-e-prorrogado-ate-2015) X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 9 Outra frente de ação que visa à reinserção de travestis e transexuais no mercado de trabalho é o site de empregos criado em 2013 13 , voltado especificamente para este segmento social. O portal de empregos chamado “Trans Empregos” cadastra os currículos das pessoas interessadas e oferece vagas de emprego. Há vagas de estágio, trabalho temporário ou de período integral, em diversas cidades do país. No próprio site há um apelo às empresas para que façam justiça social e invistam em talentos, independente do gênero que possuem: Caso você seja empresário ou recrutador e, sua empresa esteja preocupada em fazer justiça social, ao mesmo tempo que precisa de pessoas dinâmicas, pró-ativas, cheias de vontade de encontrar um emprego em que elas possam ser valorizadas como profissionais, independente da identidade de gênero que possuem, cadastre sua vaga em nosso site. Entre em contato com nossos profissionais e, ouse experimentar dar uma oportunidade a quem geralmente só recebe “nãos” quando vai procurar emprego – e isso em nada se deve ao fato de não possuírem competência e capacidade de se adaptarem a novos ambientes e situações, pois para superar as adversidades da vida, essas pessoas já demonstram estar à frente de muitos outros. (TRANS EMPREGOS, 2013). Deste modo, compreendemos a centralidade do trabalho na sociedade, a dificuldade de travestis e transexuais se inserirem no mercado de trabalho formal e as ações voltadas a esse segmento social. A seguir irei discorrer sobre a responsabilidade social frente a essa questão e a empregabilidade das travestis e dos/das transexuais. Responsabilidade Social A nova estrutura organizacional das empresas considera o capital intelectual (as pessoas) o diferencial competitivo que mantém e promove o sucesso organizacional. As pessoas hoje não são mais consideradas funcionárias e sim parceiras/colaboradoras das empresas. As pessoas detêm as competências individuais que as empresas precisam para a realização da missão e visão, conforme os valores estabelecidos. E o que é competência? Competência é o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias ao bom desempenho dos colaboradores nas organizações. Segundo Fleury e Fleury (2001, p. 188), competência é: “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. Por consequência, constatamos que as empresas dependem das pessoas e suas respectivas competências para atingir o sucesso organizacional. Porém, não observamos identidade de gênero, 13 Notícia do site Estadão, na parte de Economia & Negócios (http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,ha-vagas-para-transexuais-e-travestis,1093997,0.htm). X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 10 orientação sexual e aparência dentre as competências exigidas por uma organização. Logo, concluo que a discriminação às travestis e aos transexuais é algo cultural nas organizações. Segundo Abrahão 14 : De um modo geral, em nossa sociedade, há a promoção de um único padrão, eleito como o normal, o bom, o belo, o correto e, em torno deste padrão único são planejadas todas as coisas, dos espaços arquitetônicos aos benefícios oferecidos aos empregados, da comunicação aos produtos, serviços e atendimento oferecidos aos clientes. Por várias razões, em nosso país, esse padrão de normalidade tem sido masculino, heterossexual, branco, sem deficiência, adulto, magro, católico, entre outros atributos que se confundem com os de normalidade, moralidade, beleza e capacidade para decidir e liderar as organizações. Com base nesse padrão único se formam os estereótipos, surgem preconceitos e práticas de discriminação que nem mesmo são reconhecidas como tais, uma vez que o correto é ter o perfil deste padrão. (ABRAHÃO, 2014). A discriminação que as travestis e os/as transexuais sofrem no mercado de trabalho deve ser revertida em responsabilidade social para as empresas. Em toda sociedade há diversidade de raça, de gênero, de orientação sexual, de aparência, de pensamento ideológico e de visão de mundo. Por que não abordar e promover a diversidade nas empresas? Incluir pessoas diferentes num mesmo ambiente promove inclusão, criatividade, maior produção de ideias e opiniões sobre um determinado assunto, integração, sentimento de pertencimento e aceitação social, retenção de talentos, entre outros benefícios. Uma pessoa que trabalha numa empresa que aceita a diversidade humana se sente respeitada e motivada pela organização. A gestão da diversidade é: A gestão de pessoas em suas singularidades, com o que há de semelhante e de diferente, cuidando da qualidade das relações num ambiente respeitoso e inclusivo das muitas perspectivas, expectativas, histórias de vida e demandas. É por meio da gestão que a riqueza em si da diversidade humana se transforma em adição de valor para aspessoas, para o negócio e para a sociedade. (Grifo próprio). (MANUAL LGBT – ETHOS, 2013, p. 32). O Instituto Ethos 15 vem produzindo uma série de manuais e guias para subsidiar e estimular as empresas a desenvolver práticas relacionadas à valorização da diversidade. Diante do aumento das violações aos direitos da população LGBT e das dificuldades de direcionamento de políticas públicas e iniciativas privadas na proteção e defesa desse segmento social, o Instituto ETHOS criou em 2013 o manual 16 : O Compromisso das Empresas com os Direitos Humanos LGBT – Orientações para o Mundo Empresarial em Ações Voltadas a Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. O manual reconhece que: 14 Jorge Abrahão é presidente do Instituto Ethos e é um dos que discursam sobre a promoção da diversidade social. 15 O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável. (http://www3.ethos.org.br/). 16 O manual chamado “O Compromisso das Empresas com os Direitos Humanos LGBT – Orientações para o Mundo Empresarial em Ações Voltadas a Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais” é uma publicação do Instituto Ethos, no âmbito do Grupo de Empresas e Direitos Humanos, com apoio da Embaixada do Reino dos Países Baixos. (http://www3.ethos.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Manual-LGBT_Dez_2013.pdf). X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 11 As empresas buscam resultados, como qualquer outra organização, incluindo, nesse caso, resultados financeiros e lucro, a consistência da ação está no compromisso com a promoção dos direitos humanos LGBT como parte integrante de sua identidade e de sua estratégia. É uma defesa de abordagem na ótica da responsabilidade social empresarial, acreditando-se firmemente no seu potencial para gerar diferencial significativo e competitivo em relação a abordagens que consideram apenas o anunciado poder aquisitivo do segmento LGBT. (Grifo próprio). (MANUAL LGBT – ETHOS, 2013, p. 28). A empresa Txai Consultoria e Educação formou parceria com o Intituto Ethos para a realização do “Fórum de Empresas e Direitos LGBT”. Assim, criou-se um espaço de diálogo, que objetiva articular e disseminar conhecimentos sobre práticas empresariais de gestão de diversidade, com foco nos direitos LGBT, no combate à homofobia e na adição de valor às marcas. O Fórum foi inaugurado em 2013, com a participação de diversas empresas, e foram elaborados os “10 Compromissos da Empresa com a Promoção dos Direitos LGBT” que estão presentes no Manual LGBT do Instituto Ethos: Os 10 Compromissos oferecem parâmetros e, junto com os indicativos de ação e indicadores de profundidade, permitem à empresa realizar um diagnóstico da situação e seu plano de ação para manter, incrementar ou criar suas práticas de promoção dos direitos LGBT. Eles estão baseados nas demandas expressas nos documentos internacionais produzidos no âmbito do movimento LGBT, da ONU e do governo federal, sobretudo o Programa Brasil sem Homofobia e as conferências nacionais, que contaram com ampla participação da sociedade civil organizada. (2013, p.47). Portanto, compreendemos que as ações do Instituto Ethos buscam orientar empresas em relação à gestão da diversidade e promover a responsabilidade social. Muitas empresas não sabem como agir frente à diversidade de orientação sexual e de gênero e, por isso, acabam não investindo nesse segmento. Ainda há muito preconceito e pouca valorização das pessoas LGBT e os direitos ainda não são totalmente garantidos na legislação e na jurisdição. Porém, há muita luta em torno disso e a conjuntura atual irá mudar em breve. E se a questão racial, a questão da mulher e a questão da pessoa com deficiência foram incluídas na sociedade e nas organizações em geral, a questão LGBT está indo para o mesmo caminho. Estou de acordo com o manual, quando afirma que: O que hoje ainda aparece como uma escolha, amanhã poderá ser uma obrigação legal e moral, como ocorre com outros segmentos da população antes invisíveis e hoje fonte de adição de valor aos negócios e à sociedade. Portanto, o melhor é antecipar-se e gerar aprendizados que ajudem os profissionais a lidar com a realidade atual e futura. (MANUAL LGBT – ETHOS, 2013, p.31). Na Constituição Federal Brasileira, dentre os objetivos fundamentais da República constituídos no artigo 3º, consta este objetivo: “IV - promover o bem de todos, sem preconceitos X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 12 de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”17. Logo, tanto o Estado quanto a sociedade e o mercado devem eliminar a discriminação e promover o bem social. Porém, como a discriminação aos travestis e transexuais – em suas variadas formas – ainda está presente na sociedade brasileira, criminalizar 18 a transfobia é um dever do Estado. Entretanto, se pararmos para refletir, as mudanças de atitudes não deveriam estar vinculadas ao medo da punição. Assim, refletir sobre os próprios comportamentos e formas de pensar deveriam ser um dever do cidadão consciente e responsável. Empregabilidade de Travestis e Transexuais Ao longo do artigo, discorri sobre o que é ser travesti e transexual, sobre como estas identidades de gênero são percebidas e repercutidas pela ciência, sociedade, Estado, movimentos sociais e empresas. Há muito desconhecimento sobre o assunto e muitas divergências de opinião. Há muitas barreiras a serem enfrentadas, mas as empresas que enxergarem esse segmento social como um diferencial competitivo, que agrega valor à organização, dará um passo à frente na história da diversidade social. Não há como afirmar que travestis e transexuais não são capazes e competentes só pelo fato de assumirem suas identidades de gênero perante a sociedade. Pois afirmar isto é promover a intolerância ao diferente e negar a existência de todos os direitos conquistados até hoje. Promover a diversidade é se apresentar como responsável diante da realidade social. É demonstrar que respeitar as diferenças humanas gera integração entre as pessoas e crescimento em todos os setores da sociedade. Ao respeitar e incluir a pessoa que nos é diferente nós mostramos que somos cidadãos conscientes. Segundo Puente-Palacios, Seidl e Silva: A vivência da diversidade deve ser percebida tanto na condição de diferencial competitivo, como também enquanto oportunidade de convivência interpessoal. A cada dia estamos mais inseridos em um cenário onde pessoas diferentes se encontram, logo, a capacidade de aproveitar as vantagens dessa diversidade é uma necessidade. (2008, p. 87). A empregabilidade de travestis e transexuais se torna um desafio em razão do preconceito estabelecido na sociedade brasileira. Porém, não é algo impossível de ser realizado. Conforme o que o manual LGBT do Instituto Ethos nos apresenta, há diversas empresas brasileiras que já17 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm). 18 Há o Projeto de Lei que criminaliza a homofobia e a transfobia: PLC 122 (http://www.plc122.com.br/). X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 13 realizam boas práticas na promoção dos direitos LGBT. Este manual cita 11 empresas: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Dow Química, Google, Grupo Fleury, HSBC, Itaú Unibanco, KPMG, Procter & Gamble (P & G) e Walmart. No Brasil, há diversas empresas que já investem no segmento LGBT como responsabilidade social, mas as que ainda não promovem a diversidade têm a seguinte dúvida: como empregar travestis e transexuais? Não há uma única resposta e sim variadas possibilidades de ação. O presente artigo visa sensibilizar as empresas, os recursos humanos e os próprios colaboradores a promoverem a diversidade de orientação sexual e de gênero. Sugiro que as organizações promovam debates sobre a temática e busquem romper com os preconceitos presentes na cultura organizacional. A cultura é mutável e, em se tratando de organizações, ela sofre influências tanto do alto escalão quanto dos colaboradores da base da estrutura de hierarquia. Assim, entendemos que as organizações podem mudar seus valores e incluir a diversidade de orientação sexual e de gênero como estratégia de negócio e como responsabilidade social. E para realizar tais mudanças, é importante a comunicação com todos os níveis hierárquicos. Logo, concordo com a seguinte afirmação: Quando pensamos em mudanças, devemos analisá-las como algo positivo, que trará melhorias para a organização, que estará atualizando-se para se manter competitiva e, assim, alcançar os resultados esperados. Uma cultura organizacional que priorize a comunicação, justificando por que certas ações são mais valorizadas que outras, se adaptará melhor às mudanças do que uma cultura em que a forma como as pessoas devem agir é imposta, sem explicações ou justificativas. A comunicação e a participação efetiva dos funcionários é de fundamental importância em situações de mudança. As pessoas precisam entender por que devem mudar para que haja menos resistência. (FERNANDES e ZANELLI, 2006, p. 67). Incluir a diversidade na organização é transformar os valores em prol do bem social, compreendendo os sujeitos como seres singulares, com diferenças que contribuem para o crescimento e sucesso organizacional. Uma empresa realmente responsável está preocupada com a realidade social e suas respectivas questões sociais. Ela busca minimizar os problemas sociais se engajando em práticas boas para a sociedade. Logo, a promoção da diversidade de orientação sexual e de gênero deve fazer parte desse engajamento. X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 14 Conclusão Ao concluir este artigo, apreendi o quão importante é se posicionar frente às questões sociais no Brasil. As pessoas assim como as empresas têm o dever de promover o bem social. E em se tratando de diversidade de orientação sexual e de gênero, é um dever se engajar na promoção de direitos ao segmento LGBT. O direito ao trabalho foi abordado neste artigo com intuito de sensibilizar os leitores sobre o drama que é buscar emprego e não ser selecionado devido à orientação sexual e identidade de gênero. É um drama vivido por muitas pessoas e isto precisa ser revertido em responsabilidade social nas empresas. Ao longo dos anos, o segmento LGBT vem conquistando direitos e ações sociais, deste modo, é um caminho natural as empresas incluírem a promoção da diversidade na identidade e estratégia da empresa. Há diversas possibilidades de ação na promoção à diversidade. As empresas podem promover debates sobre o assunto, envolver os colaboradores numa campanha da diversidade, socializando informações pertinentes ao segmento LGBT. Além disso, as organizações podem buscar capacitação através de consultores engajados com a questão da diversidade de orientação sexual e de gênero. Como também utilizar as orientações do manual LGBT do Instituto Ethos para subsidiar as práticas de promoção à diversidade. Por fim, concluo que as empresas que se engajarem nesse assunto estarão colaborando para um futuro melhor no Brasil. Onde há espaço para o diferente, há a troca produtiva entre as pessoas e onde o trabalho é um direito garantido a todos os cidadãos brasileiros. Este artigo realizou a socialização de informações pertinentes aos travestis e transexuais, a sensibilização sobre a importância da diversidade de orientação sexual e de gênero dentro das organizações e o estímulo às empresas para que promovam a responsabilidade social com este segmento social em específico. X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 15 Referências bibliográficas ABRAHÃO, Jorge. Um avanço nos direitos LGBT. In: Notícias, Instituto Ethos. 2014. Disponível em: http://www3.ethos.org.br/cedoc/um-avanco-nos-direitos-lgbt/#.UyC7vD9dWgQ. Acesso em: 16 março 2014. ARAN, Márcia and MURTA, Daniela. Do diagnóstico de transtorno de identidade de gênero às redescrições da experiência da transexualidade: uma reflexão sobre gênero, tecnologia e saúde. Physis [online]. 2009, vol.19, n.1, pp. 15-41. ISSN 0103-7331. BARBOSA, Bruno Cesar. "Doidas e putas”: usos das categorias travesti e transexual. Sex., Salud Soc. (Rio J.) [online]. 2013, n.14, pp. 352-379. 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