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Relatório de Introdução a Engenharia Ocupação Espacial das Cidades

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CENTRO DE TECNOLOGIA 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL 
 
 
 
 
 
ANTONIO HENRIQUE AZEVEDO CARNEIRO - 404276 
KARYNA STEFHANY JORGE CUNHA - 402394 
LETÍCIA DE FÁTIMA SANTOS BRASIL - 404111 
RENATA MONTEIRO JOVINO - 398679 
 
 
 
 
 
 
OCUPAÇÃO ESPACIAL DAS CIDADES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA – CE 
2017 
 
2 
 
ANTONIO HENRIQUE AZEVEDO CARNEIRO 
KARYNA STHEFANY JORGE CUNHA 
LETÍCIA DE FÁTIMA SANTOS BRASIL 
RENATA MONTEIRO JOVINO 
 
 
 
 
 
 
 
OCUPAÇÃO ESPACIAL DAS CIDADES 
 
 
 
 
 
 
Relatório da disciplina de Introdução a 
Engenharia do curso de Engenharia Civil da 
Universidade Federal do Ceará. 
Prof. José de Paula Barros Neto e Prof. 
Francisco de Assis de Souza Filho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA 
2017 
 
3 
 
ANTONIO HENRIQUE AZEVEDO CARNEIRO 
KARYNA STHEFANY JORGE CUNHA 
LETÍCIA DE FÁTIMA SANTOS BRASIL 
RENATA MONTEIRO JOVINO 
 
 
 
OCUPAÇÃO ESPACIAL DAS CIDADES 
 
 
 
Relatório da disciplina de Introdução a 
Engenharia (Turma 02) do curso de 
Engenharia Civil da Universidade Federal do 
Ceará. 
Prof. Dr. José de Paula Barros Neto e Prof. Dr. 
Francisco de Assis de Souza Filho 
 
 
 
Aprovada em: ___/___/______. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
________________________________________ 
Amós Fernandes Guerrato (Orientador) 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
_________________________________________ 
Prof. Dr. José de Paula Barros Neto 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
_________________________________________ 
Prof. Dr. Francisco de Assis de Souza Filho 
Universidade Federal do Ceará (UFC) 
 
4 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4 
2 A URBANIZAÇÃO ............................................................................................................... 5 
3 O PLANEJAMENTO............................................................................................................ 7 
4 A URBANIZAÇÃO NO BRASIL ........................................................................................ 8 
5 A QUALIDADE DE VIDA ................................................................................................. 11 
6 A CIDADE DE FORTALEZA ........................................................................................... 13 
7 OCUPAÇÃO ILEGAL DE ÁREAS URBANAS FRÁGEIS ........................................... 19 
8 PLANO FORTALEZA 2040 .............................................................................................. 23 
8.1 O que é o Plano Fortaleza 2040? ................................................................................. 23 
8.2 Objetivo .......................................................................................................................... 23 
8.3 Fases do Plano ............................................................................................................... 24 
8.4 Planejamento ................................................................................................................. 24 
9 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 27 
10 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 29 
 
 
 
 
5 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Dissertar sobre as cidades, sua origem e desenvolvimento é fazer uma retrospectiva no 
tempo e nos acontecimentos ocorridos ao longo da história, observando o que as cidades 
representaram e representam para a população, pois é nelas que se desenvolvem as principais 
atividades econômicas, políticas, religiosas e sociais. 
A cidade é o local onde o mercado mais se desenvolve, com a circulação das mais 
variadas mercadorias, bem como de pessoas provenientes de aldeias ou povoados. Existe, 
assim, uma diferenciação da vida nas cidades para a vida nas aldeias e povoados, tanto que o 
autor Marcelo Lopes chama as cidades de “assentamentos humanos”, ao passo que as aldeias 
e povoados são denominadas de “assentamentos rurais”. 
A partir da década de 1960, ocorreram alterações nas relações de trabalho no campo e 
na cidade, cujas consequências foram o êxodo rural e o crescimento das cidades brasileiras. 
Tal evidência pode ser observada através dos dados apresentados pelo IBGE (2001), já que 
em 1940 a população do campo era de 68,8%, e em 2000 tal quadro inverte-se, com 81,2% da 
população concentrada na área urbana. 
Segundo Mota (1999, p. 17): “O aumento da população e a ampliação das cidades 
deveria ser sempre acompanhado do crescimento de toda a infraestrutura urbana, de modo a 
proporcionar aos habitantes uma mínima condição de vida.”. Ainda, segundo o mesmo autor: 
“a ordenação deste crescimento faz-se necessária, de modo que as influências que o mesmo 
possa ter sobre o meio ambiente não se tornem prejudiciais aos habitantes.”. 
Entretanto, a realidade do processo de urbanização é bem diferente do ideal. Na 
maioria dos casos, esse processo ocorre a partir de um planejamento inadequado, gerando um 
crescimento desordenado, acompanhado da falta da infraestrutura capaz de garantir a mínima 
qualidade ambiental. 
 
 
6 
 
2 A URBANIZAÇÃO 
 
A urbanização em sua acepção tradicional, enquanto um fenômeno de escala local e 
localizado, é bastante antiga. As primeiras cidades sugiram no Oriente Médio, 
aproximadamente entre 3500 e 3000 a.C., porem até o final do século XVIII esse processo 
permaneceu limitado a uma baixa porcentagem da população e a algumas regiões. 
Foi a partir da Revolução Industrial, da revolução agrícola e dos transportes que a 
sucederam que a urbanização ultrapassou a escala local e deixou de ser localizada, passando a 
realizar-se em ritmo acelerado, tendendo a generalização. Já no final do século XIX, a 
Inglaterra, país pioneiro dessa nova fase, contava com oitenta por cento da sua população 
vivendo no meio urbano, tendência que se observa na maioria dos países industrializados. 
Na escala mundial, sobretudo após a década de 1950, um dos aspectos mais 
marcantes do processo de urbanização foi a rapidez com que ela ocorreu nos países 
periféricos, independente do processo de industrialização. 
Segundo Singer (apud Campos Filho, 1992): 
 
[...] nos países desenvolvidos [...] a mudança ocorre na medida em que 
determinadas inovações tecnológicas “amadurecem”, nos países não 
desenvolvidos ramos inteiros da produção são implantados, de uma só vez, 
submetendo a estrutura econômica a choques muito mais profundos. 
 
A expulsão da população do campo pelas difíceis condições de vida e sua 
concentração em grandes cidades ocorre de forma muito mais intensa nos países periféricos 
do que na Europa Ocidental, na América do Norte e no Japão. 
Nos dias atuais, as maiores aglomerações urbanas tendem a se localizarem nos países 
periféricos, e justamente nesses países o mercado de trabalho urbano não absorve toda a mão 
de obra existente, como o acesso aos bens de consumo básicos é dificultado pelos baixos 
salários e pelo alcance limitado das medidas de planejamento do poder público, multiplicam-
se, pelas grandes cidades desses países, as periferias, caracterizadas pela precariedade das 
formas de moradia, dos meios de transporte e da rede de saneamento básico. 
Segundo Campos Filho (1992), na maioria das cidades latino-americanas a oferta de 
empregos urbanos não se faz aomesmo ritmo que a chegada de migrantes, gerando os bairros 
de extrema miséria, conhecidos por “barriadas”, “favelas”, “mocambos”, “cortiços” e 
“palafitas”. 
 
7 
 
No Brasil, o intenso êxodo rural e a carência de empregos nos setores secundário e 
terciário trouxeram consequências, como a expansão das favelas, o crescimento da economia 
informal e, em muitos casos, o aumento do contingente de população pobre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
3 O PLANEJAMENTO 
 
Segundo Silva (1997, p. 21): 
 
A urbanização gera enormes problemas, deteriora o ambiente urbano, 
provoca a desorganização social, com carência de habitação, desemprego, 
problemas de higiene e de saneamento básico. Modifica a utilização do solo 
e transforma a paisagem urbana. A solução desses problemas obtém-se pela 
intervenção do poder público, que procura transformar o meio ambiente e 
criar novas formas urbanas. Dá-se então a urbanificação, processo deliberado 
de correção da urbanização, ou na criação artificial de núcleos urbanos [...]. 
 
Fica claro que o processo de urbanização gera impactos tanto ambientais como 
sociais. Esses impactos, entretanto, podem ser evitados - ou ao menos minimizados - 
mediante a um processo eficaz de planejamento urbano. Tal concepção de planejamento está 
associada à ideia de desenvolvimento sustentável. Sobre isso, Mota (1999, p. 22) comenta, “O 
planejamento deve se realizar com base na concepção de desenvolvimento sustentável, assim 
entendido, aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de 
as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades.”. 
De acordo com o planejamento urbano integrado, é necessário agir visando à 
preservação ambiental, pois é mais correto evitar os males gerados pela urbanização ao invés 
de corrigi-los a posteriori. Com isso, entende-se a necessidade de considerar as questões 
ambientais na tomada de decisões relativas ao planejamento urbano. Visto isso, a 
instrumentalização dessas necessidades pode ser conseguida através do planejamento da 
paisagem. 
Nesse sentido, o planejamento da paisagem servirá de base para pensar o 
planejamento urbano. Segundo Nucci (1996, p. 2) planejamento da paisagem é: 
 
[...] uma contribuição ecológica e de design para o planejamento do espaço, 
onde se procura uma regulamentação dos usos do solo e dos recursos 
ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial 
recreativo da paisagem, retirando-se o máximo proveito do que a vegetação 
pode oferecer para a melhoria da qualidade ambiental. 
 
O planejamento da paisagem, então, apresenta-se como uma alternativa metodológica a fim 
de complementar o planejamento urbano, capaz de dar subsídios para a melhoria da qualidade 
ambiental e consequentemente da qualidade de vida. 
 
 
9 
 
4 A URBANIZAÇÃO NO BRASIL 
 
O desenvolvimento da vida urbana no Brasil é relativamente recente, visto que no 
período colonial, salvo alguns núcleos pontualmente localizados ao longo do litoral ou em 
suas proximidades, a vida econômica girava em torno das atividades agrárias e a população 
vivia, em sua grande maioria, no campo. No século XVIII, apenas a área mineradora de Minas 
Gerais conheceu um incipiente processo de urbanização, com o surgimento das vilas que, 
devido à concentração de pessoas vinculadas a atividades mineradoras, acabaram dando 
origem às cidades. 
A alteração efetiva das relações entre a população rural e a população urbana, que 
caracteriza o processo de urbanização, somente teve início nas décadas finais do século XIX, 
e, principalmente, a partir do começo do século XX, quando a indústria vai se tornando 
presente nas cidades da região Sudeste. 
É após a Segunda Guerra Mundial, no entanto, que esse processo se acelera, e a 
população urbana, que se mantinha sempre abaixo dos 10% da população total do país, eleva-
se para cerca de 16% em 1920, atingindo pouco mais de 30 % em 1940 e aumentando 
rapidamente para 45% em 1960, 67% em 1980, 75% em 1990 e 81,2% em 2000, (IBGE, 
2001). Faz-se necessário ressaltar que no Brasil, bem como na maioria dos países periféricos, 
a urbanização se deu de forma acelerada, mesmo em regiões onde a industrialização não 
ocorreu de modo intenso, como é o caso da região Nordeste. 
Os crescimentos da economia industrial e do estilo de vida urbanos cobiçados pela 
grande maioria da população criaram uma densa rede urbana. De uma forma geral, portanto, 
as regiões metropolitanas se desenvolveram com maior velocidade do que o ato de planejar o 
espaço, gerando um crescimento desordenado, que implica em impactos sociais e ambientais. 
O desenvolvimento metropolitano veio, portanto, acompanhado de problemas sociais 
e ambientais, tais como a falta de moradias e favelização, a carência de infraestrutura urbana, 
o crescimento da economia informal, a poluição, a intensificação do trânsito, a periferização 
da população pobre e a ocupação de áreas de mananciais da planície de inundação dos rios e 
de vertentes de declive acentuado. 
A década de 1990, entretanto, consolidou uma nova tendência de urbanização no 
Brasil, que pode ser caracterizada como uma “desmetropolização”, ou seja, uma reversão do 
crescimento das grandes metrópoles em favor de cidades médias, onde os custos de produção 
são menores e as condições de vida tendem a ser melhores. 
 
10 
 
Segundo Santos, (1993): 
 
Os mesmos números que revelam um processo de metropolização prestam-
se a outra interpretação desde que demos uma prioridade ao processo de 
macro urbanização. Levando-se em conta uma desagregação maior da 
população urbana segundo o tamanho dos aglomerados, pode levar-nos a 
conclusão de que, paralelamente ao crescimento cumulativo das maiores 
cidades do país, estaria havendo um fenômeno de desmetropolização, 
definida como a repartição com outros grandes núcleos de novos 
contingentes da população urbana. Não se trata aqui da reprodução do 
fenômeno da desurbanização, encontrado em países de primeiro mundo [...]. 
 
Esse fenômeno difere-se da “desurbanização” pelo fato de não se buscar um estilo de 
vida diferente, mas sim a eliminação de problemas gerados pelo crescimento desordenado e 
sem planejamento da metrópole. 
Essa “desmetropolização” surge devido à falta de planejamento urbano, em que a 
cidade se desenvolve motivada pelos interesses imobiliários, ou interesses de outras naturezas. 
Assim, raramente ela se desenvolve seguindo um plano urbanístico, raramente a gestão 
urbana é planejada e contribui com o planejamento. 
Essa urbanização sem planejamento criou uma situação caótica nas principais 
capitais do país e suas regiões metropolitanas, com aumento da pobreza e da violência. O 
processo de modernização da economia brasileira até os dias de hoje não levou à superação da 
pobreza e das desigualdades sociais, tanto que a modernização aprofundou as desigualdades já 
existentes, geradas num passado distante, pois esteve apoiada numa maior concentração de 
renda. Apesar da expansão das camadas médias, que apresentam um bom poder aquisitivo e 
contribuíram para a expansão do mercado consumidor, a diferença de rendimentos entre ricos 
e pobres é hoje muito maior do que no início da modernização. 
Dessa forma, desenvolve-se a trama ou, talvez, o drama da urbanização nos países 
periféricos, um processo muito acelerado que ocorre sem que as condições mínimas 
necessárias para o seu desenvolvimento sejam respeitadas, como infraestrutura e 
planejamento, o que implica em consequências graves. 
Admitindo-se que a urbanização nos países periféricos, dando ênfase ao caso do 
Brasil,ocorre em uma velocidade demasiadamente rápida, temos no decorrer da história um 
acúmulo de imperfeições no que tange ao planejamento urbano, como a implantação da 
infraestrutura necessária e a capacidade do mercado de trabalho, os quais, por não terem sido 
planejados, aconteceram em tempos diferentes. Há como resultado dessa falta de 
planejamento uma desregularização entre crescimento e qualidade de vida, qualidade 
 
11 
 
ambiental, social, política e econômica. Tal cenário pode ser confirmado na medida em que se 
analisa a realidade das metrópoles brasileiras, bem como o processo de “desmetropolização” 
que vem ocorrendo no Brasil. 
Essa realidade urbana brasileira gera impactos e problemas que dão origem a saída 
de setores produtivos das metrópoles em busca de cidades geralmente médias, com condições 
mais adequadas. Esse processo, entretanto, não resolve os problemas que fizeram com que 
tais setores se retirassem da metrópole, pelo contrário, essas novas localidades, geralmente, 
apresentam os mesmos erros cometidos nas metrópoles, o que dará origem, futuramente, aos 
mesmos problemas observados hoje, fazendo com que uma nova mudança venha a ser 
necessária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
5 A QUALIDADE DE VIDA 
 
O planejamento da paisagem emerge como uma proposta metodológica capaz de 
contribuir com o planejamento urbano. Dessa forma, Lamparelli (1978, p.103) analisa três 
alternativas técnicas para o desenvolvimento do processo de planejamento e afirma que o 
controle técnico dos problemas urbanos não é o bastante para a realização de um 
planejamento eficaz, que deve contar com a criação de canais de participação social que 
permitam a explicação das contradições e interesses no processo decisório. 
Percebe-se então a necessidade da inserção da população no processo de 
planejamento, que atualmente conta com alguns instrumentos institucionais, como o 
orçamento participativo. O planejamento deve ser realizado contemplando aspectos 
socioeconômicos, técnicos e também aspectos ambientais. 
Segundo Mota (1999 p.99), no passado realizou-se o planejamento urbano 
considerando principalmente os aspectos sociais, culturais e econômicos, e admitindo que o 
ambiente físico deveria adequar-se às atividades do homem. Considerava-se que os recursos 
naturais podiam ser utilizados e alterados de forma ilimitada, desde que fossem atendidas as 
necessidades básicas dos moradores das cidades como habitação, trabalho, circulação e lazer. 
Os problemas ambientais que resultaram desse tipo de planejamento causam degradação dos 
recursos naturais com reflexos negativos sobre a qualidade de vida do homem, servindo para 
mostrar que as leis da natureza devem ser respeitadas na ocupação de uma área. 
Segundo Forattini (1992, p. 353), qualidade de vida é definida como o grau de 
satisfação no âmbito das áreas física, psicológica, social, de atuação, material e estrutural, 
podendo ser considerada como individual e coletiva. A qualidade de vida coletiva é definida 
segundo o mesmo autor “como a resultante de condições ambientais e estruturais que se 
desenvolvem na sociedade.”. Alguns indicadores utilizados para avaliar a qualidade de vida 
segundo Forattini (1992, p. 356) são: 
a) Ambientais: qualidade da água, do ar e do solo, contaminação doméstica e 
acidental; 
b) Habitacionais: densidade, disponibilidade espacial e condições de 
habitabilidade; 
c) Urbanos: concentração populacional, comunicação e transporte, educação, 
segurança e comportamento, poluição sonora e visual, local e paisagística; 
 
13 
 
d) Sanitários: morbidade e mortalidade, assistência médica e hospitalar, estado 
nutricional; 
e) Sociais: condições socioeconômicas e de classes, consumo, necessidades e 
desigualdades, família e sexualidade, condições de trabalho, profissão, 
recreação, lazer e turismo, sistema político-administrativo. 
Com a melhoria dos indicadores citados acima, tem-se, consequentemente, uma 
melhor qualidade de vida. O planejamento urbano e a conservação dos recursos naturais 
podem contribuir com essa melhoria. No processo de planejamento urbano, a conservação dos 
recursos naturais deve ser considerada, tendo em vista a sua capacidade de melhoria da 
qualidade de vida. Nesse sentido, o planejamento da paisagem vem contribuir para o estudo 
do planejamento urbano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14 
 
6 A CIDADE DE FORTALEZA 
 
A cidade de Fortaleza, capital cearense, é hoje destaque nacional pelos índices de 
crescimento econômico capitalista, investimentos relacionados ao turismo e densidade 
populacional. No entanto, a sua expansão urbana, a concentração de investimentos em 
determinadas áreas da cidade e as políticas públicas pouco condizentes com a realidade local 
apontam Fortaleza como uma das cidades de maior desigualdade social dentro do país. 
O espaço urbano de Fortaleza é resultante da interação entre diversos fatores e 
agentes. A ação do Estado pode ser vislumbrada em diversos eixos, sejam eles na promoção 
de determinadas infraestruturas urbanas, tais como construção de avenidas, rede de água, 
esgoto, energia elétrica, incentivos fiscais, instalação de indústrias, comércios e turismo. Os 
promotores imobiliários, de acordo com Lustosa (2007), atuam na mercantilização da cidade, 
submetendo o valor de uso dos espaços da cidade ao valor de troca, para servir aos seus 
interesses, visando ao lucro. 
A população, por sua vez, produz um espaço pautado nas diferentes formas de 
habitar, numa relação de desigualdades e segregação que é histórica. Aqueles de menor poder 
aquisitivo se apropriam da cidade muitas vezes criando seus próprios mecanismos de 
construção de casas, em terrenos sem condições adequadas para recebê-los, tais como áreas de 
fragilidade ambiental, dunas, beira de rios, lagoas, áreas sem esgotamento sanitário, escolas e 
postos de saúdes para atender suas necessidades. 
A moradia construída em lugares inadequados no que diz respeito à falta de serviços 
não é uma construção apenas da população pobre, pois o Estado, na história de sua política 
habitacional, também atuou construindo casas em locais distantes, onde a moradia era 
concebida apenas enquanto o espaço físico para abrigar uma família, desconsiderando-se o 
entorno e as outras necessidades da população, tais como áreas destinadas ao lazer, 
proximidade do local de trabalho, dentre outros. Em Fortaleza, a década de 80 marca esse 
modelo de intervenção na cidade, a exemplo dos conjuntos consolidados no distrito industrial 
de Maracanaú e no conjunto José Walter. 
Para a Geografia, a produção do espaço aparece como condição, meio e produto das 
atividades humanas, em sua complexa totalidade. Estando inserido no modo de produção 
capitalista, o espaço é também colocado na lógica da produção de mercadorias (Carlos, 2011). 
Sendo assim, para compreender o processo de urbanização e consolidação de Fortaleza 
enquanto metrópole, faz-se necessário um retorno à sua história. 
 
15 
 
Fortaleza tem se expandido rapidamente, marcada por uma urbanização intensiva, 
uma alta concentração populacional e por significativas mudanças de sua paisagem num curto 
espaço de tempo. As principais atividades da metrópole estão ligadas ao setor de serviços, 
seguido pela indústria. Sua atual configuração espacial está intimamente ligada ao seu 
processo de urbanização e industrialização, intensificado após o início da reestruturação de 
uma malha viária complexa, da Região Metropolitana de Fortaleza, e do distrito industrial em 
Maracanaú, na década de 1970. 
O dinamismo econômico e comercial aprofundoua migração dentro do estado, onde 
os fluxos migratórios passaram a convergir para Fortaleza. A cidade foi a maior receptora dos 
migrantes vindos do campo, ocorrendo um forte adensamento populacional na cidade. Essa 
expansão urbana atingiu outras cidades no Brasil, acarretando o aumento significativo das 
migrações campo-cidade, intraestadual e interestadual. O crescimento industrial e as 
mudanças no meio rural impostas pela concentração fundiária foram fatores preponderantes 
para impulsionar esse crescimento. 
Quanto às mudanças no campo, podemos citar o avanço capitalista e o predomínio de 
grandes fazendas de produção, tanto agrícola como pecuária, que absorviam pouca mão-de-
obra, em detrimento das pequenas propriedades de agricultura familiar, aliado aos regimes de 
seca, imersos na pouca intervenção do Estado para minimizar a problemática. 
Outros dois momentos são apontados como de grande importância no processo de 
urbanização de Fortaleza, de acordo com Carleial e Matos (2010), os anos de 1970 e 1980, em 
virtude dos incentivos da Sudene, e posteriormente a década de 90, quando a cidade passa por 
uma reestruturação produtiva vinculada ao capital do sul e sudeste do país, que passou a 
investir principalmente no ramo de calçados (ATLAS DE FORTALEZA 2000, 2010). 
Essa reestruturação produtiva no estado do Ceará, com consequências específicas 
para Fortaleza e Região Metropolitana, faz parte de um movimento contínuo de reprodução 
do capital nas cidades, através do processo de urbanização. De acordo com Harvey (2004), o 
capital sobrevive num movimento contínuo de criação de novas paisagens geográficas, para 
favorecer a acumulação. 
Fortaleza, do ponto de vista espacial e econômico, passou à condição de localidade 
central em relação a outras áreas, sendo ponto de referência por já concentrar as atividades 
administrativas do Estado, e passar ainda a receber investimentos em infraestrutura, junto a 
intervenções urbanísticas. A cidade passou a receber cada vez mais comerciantes, famílias 
abastadas e uma população migrante, que busca na capital uma melhoria das condições de 
 
16 
 
vida. O cenário político e o processo de industrialização ao qual o estado do Ceará foi 
submetido têm íntima relação com a expansão urbana e populacional na cidade, e no 
significativo aumento da migração. 
A expansão de Fortaleza se dá em meio a um processo gerador de desigualdades 
sociais atrelado ao processo de industrialização, e a histórica segregação no campo. Fica 
evidente tal situação ao analisarmos os dados da tabela 1, com o período político-econômico 
nos anos 80, por exemplo, quando houve forte incremento industrial na Região Metropolitana 
de Fortaleza. A população passa a se concentrar em Fortaleza, formando um exército de 
reserva para servir aos interesses do capital, favorecendo a expansão econômica capitalista, 
dando condições à expansão industrial na RMF através da exploração da força de trabalho. 
Para Bruno e outros autores (2002): 
 
O governo do Estado justifica que a agricultura não é priorizada por causa da 
baixa qualidade do solo, que os investimentos na área seriam inviabilizados. 
Mas estes são argumentos que apelam para a esfera da racionalidade 
econômica. A questão da pequena agricultura é uma questão de equidade 
social. Se o critério for a rentabilidade, os pobres vão sair perdendo sempre 
(Bruno et al, 2002 p. 66). 
 
Tabela 1 – Incremento Populacional em Fortaleza em 
1900, 1950, 1980 e 2009 
Anos Absolutos Incremento % 
1900 48.000 100,00 
1950 270.169 463,00 
1980 1.307.611 2.624,00 
2009 2.505.552 5.120,00 
Fonte: Atlas de Fortaleza 2000, 2010 
 
O Estado atua colocando como prioridade a questão econômica em detrimento dos 
direitos dos moradores, ocasionando o aumento da pobreza, a falta de serviços básicos como 
educação, saúde e principalmente moradias, pois não foram priorizados investimentos e 
políticas públicas a nível estadual que pudessem atender a população de forma integrada, 
relacionando o campo e cidade. Pelo contrário, o campo e a cidade são colocados em 
oposição. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1950 
 
17 
 
74% da população do estado vivia no campo, já em 1991 esse número era de apenas 34,63% 
(IBGE, 1950, 1991). 
Num quadro nacional de avanço capitalista e de desenvolvimento econômico 
desigual entre as cidades brasileiras, e desacompanhado de crescimento da qualidade de vida 
social em mesmas proporções, houve no Brasil um crescente processo de favelização nas 
metrópoles, ocorrido não puramente pela mobilidade populacional, uma vez que é também de 
direito das populações a liberdade de ir e vir, mas pela forma de como tal processo ocorre, 
sujeito ao capital, envolvendo classes e não somente indivíduos. 
Outro fato é o da inserção das cidades na lógica capitalista de acumulação, colocando 
em segundo plano o atendimento das necessidades da população, fazendo crescer 
significativamente o número de favelas. De acordo com o Programa das Nações Unidas para 
os Assentamentos Humanos (UN-Habitat), o “domicílio de favela” caracteriza-se como sendo 
um grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto em área urbana, com ausência de um ou mais 
desses serviços: moradia durável, áreas de convívio coletivo suficiente, acesso a água tratada, 
ao saneamento e a posse segura da terra. 
Em Fortaleza, a ocorrência de favelas é apontada a partir da década de 30, próximas 
ao centro produtivo da cidade, junto a um forte crescimento na demografia da cidade, 
compreendendo uma ampliação de sua área urbana, somando-se o fato que tal crescimento de 
Fortaleza não foi acompanhado de um beneficiamento das áreas crescentes com infraestrutura 
urbana, conforme aponta Silva (1992), fazendo com que parte da população passasse a viver 
sob condições precárias na zona periférica da cidade, ainda para o autor: 
 
Esse “crescimento” de forma espontânea e desordenada deu lugar a 
aglomerações de edificações precárias na periferia da cidade. Data do início 
da década de 1930 a origem desses aglomerados com características de 
favelas. Entre 1930 – 1955 surgiram as seguintes favelas na cidade: Cercado 
do Zé Padre (1930), Mucuripe (1933), Lagamar (1933), Morro do Ouro 
(1940), Varjota (1945), Meireles (1950), Papoquinho (1950), Estrada de 
Ferro (1945) (SILVA, 1992. P.93). 
 
Observamos na cartografia da cidade a disseminação das favelas de forma 
heterogênea no espaço. Carleial e Matos (2003) chamam a atenção para a desconstrução da 
visão de cidade partida, com um lado rico e outro pobre, ao observarem a convivência 
contraditória e dialética de opulência e miséria nos bairros de Fortaleza. O mapa 1 mostra a 
disposição das favelas no tecido urbano da metrópole. 
 
18 
 
As favelas ocorrem de forma heterogênea na cidade, havendo presença desse tipo de 
ocupação em quase todos os bairros da cidade. As principais favelas em dimensão territorial 
estão localizadas nos bairros Barra do Ceará, Cristo Redentor e Pirambu, no litoral oeste, Vila 
Velha, Genibaú, Granja Portugal, a Sudoeste, onde se nota a presença de favelas 
principalmente no percurso dos rios Ceará, Maranguapinho, e bairros Cais do Porto e Vicente 
Pizon, no litoral leste. No corredor sudoeste da cidade, há presença de favelas ao longo do 
percurso do Rio Cocó, a exemplo dos bairros Jardim das Oliveiras e Cidade dos Funcionários, 
e ainda nos bairros mais periféricos ao Sudoeste, a exemplo do bairro São Bento. 
 
Mapa 1 – Disposição das Favelas em Fortaleza-CE, 2009 
 
Fonte: ATLAS DE FORTALEZA (2010) 
 
Fortaleza é hoje uma das metrópoles brasileiras portadoras de um enorme déficit 
habitacional, fruto de desigualdadeseconômicas e sociais presentes e históricas ao seu 
processo de urbanização e metropolização. O censo 2010 mostra a metrópole com 396.370 
pessoas vivendo em condições precárias de moradia, distribuídas em 194 aglomerados 
subnormais (favelas). Essa população é subestimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
 
19 
 
Estatística (IBGE), que considera a aglomeração mínima de 50 domicílios, mas é sabido que 
em Fortaleza, por exemplo, encontram-se inúmeros assentamentos com menor tamanho. 
O capitalismo exprime na cidade as desigualdades de seu desenvolvimento, criando 
espaços diferenciados e desiguais, que se expressam nas formas de habitar. O acesso às 
condições dignas de moradia nas metrópoles como Fortaleza é seletivo: uma parcela da 
população se apropria da cidade enquanto mercadoria, dentro da lógica formal de aquisição de 
habitações, enquanto outra parcela considerável se apropria da cidade de forma “ilegal”, ou 
seja, fora dos padrões urbanísticos, e das previsões de planejamento, vivendo em favelas e 
áreas de risco ambiental. 
A falta de políticas públicas voltadas para a construção de uma cidade mais justa, 
com foco na diminuição das desigualdades, bem como a abertura brasileira aos interesses do 
capital internacional, em muito contribuíram para a promoção da segregação, que hoje se 
caracteriza dentro da cidade. Fortaleza passou a concentrar áreas específicas para atender os 
interesses e as necessidades das classes abastadas, concomitantemente ao adensamento 
populacional em outras áreas sem infraestrutura. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
7 OCUPAÇÃO ILEGAL DE ÁREAS URBANAS FRÁGEIS 
 
Em Fortaleza, a área que tem oferecido os maiores benefícios e serviços é a do setor 
sudeste. Diante dos benefícios oferecidos, como transporte, emprego e acesso aos diversos 
serviços, é mais viável a busca por moradia dentro desse setor, mesmo que de forma irregular. 
O resultado é que a “sobra” dos terrenos da cidade, ou seja, áreas desprezadas pelo mercado 
imobiliário ou impossibilitadas legalmente, são ocupadas para fins de moradia, de forma 
ilegal. 
Enquadram-se nesses terrenos menos valorizados da cidade, pela impossibilidade de 
ocupação legal, as Áreas de Preservação Permanente (APP). Na cidade de Fortaleza, as APPs 
constituem-se principalmente por margens de rios, cursos d’água, lagoas e áreas de dunas. 
 
Mapa 2 – Ocupações Irregulares em Áreas Frágeis e Medianamente Frágeis em 
Fortaleza 
 
Fonte: Artigo Científico (baseado no Plano Local de Habitação de Interesse Social, 2011 e no 
Diagnóstico Geoambiental de Fortaleza, 2009) 
 
 
21 
 
No que diz respeito à ocupação das áreas ambientalmente vulneráveis, observa-se 
que não se trata apenas da questão da distribuição de renda como fator preponderante para a 
ocupação desses territórios: o capitalismo do mercado imobiliário é o principal responsável 
para essa segregação, já que submete a população em situação de vulnerabilidade econômica 
às regiões de risco que “sobraram”, por serem ambientalmente frágeis. Outrora, a apropriação 
das terras ambientalmente frágeis também possui benefícios para o capitalismo imobiliário, 
que variam desde o barateamento dos lotes danosos, até a apropriação da natureza como fator 
atrativo para os futuros compradores adquirirem o terreno. A privatização do recurso natural é 
feita de modo a valorizar o empreendimento, sendo agregado o valor paisagístico-natural ao 
preço do lote, o que só favorece no núcleo do imobiliário. 
Nesse contexto, por meio do mapa 2, percebe-se exatamente essas ocorrências na 
ocupação das áreas de risco ambiental, sendo ocorrentes de forma heterogênea no espaço, 
situando-se preponderantes no litoral oeste, na vertente sul e sudeste, e nos corredores dos 
Rios Cocó, Maranguapinho e Rio Ceará. Em Fortaleza, a ocorrência das áreas de risco está 
intimamente ligada ao percurso dos rios Cocó e Maranguapinho e Ceará que percorrem os 
setores Sudoeste-Oeste e Sudeste-Leste, respectivamente, onde se percebe o apelo da 
ocupação de áreas ambientalmente frágeis pela população empobrecida concomitante ao uso 
de áreas afins por uma população abastada, shoppings e especulação imobiliária, 
principalmente na bacia do Cocó. 
 
Mapa 3 – Áreas de risco em Fortaleza - CE no ano de 2008 
 
Fonte: ATLAS DE FORTALEZA 2000 (2010) 
 
22 
 
Dentre as formas de ocupação de áreas frágeis na cidade, observa-se a presença de 
grandes assentamentos em áreas de dunas primárias e secundárias (mostradas no Mapa 2), 
incluindo desde ocupações mais antigas da cidade, como o Pirambu (à oeste), até outras mais 
recentes no campo de dunas da Praia do Futuro (leste). Tais exemplos nos trazem duas 
distribuições de renda diferentes: uma região com maior índice de favelização e outra um 
pouco mais elitizada. 
Todavia, mesmo sendo mais economicamente forte, inclusive como ponto turístico, o 
sistema ambiental da Praia do Futuro é bastante frágil, constituído em grande parte por dunas 
primárias e secundárias. Sendo considerados por profissionais da área como áreas impróprias 
a quase todos os tipos de uso, e por sua excessiva fragilidade, sequer deveriam ser locais de 
grande passagem. Em Fortaleza, são áreas onde o lençol freático é baixo, o que acarreta 
contaminação do solo diante do despejo de esgoto das diversas comunidades instaladas sem 
infraestrutura. 
A ausência dos serviços de infraestrutura acarreta o agravamento do problema 
ambiental em várias comunidades, e isso é particularmente recorrente nas ocupações em 
APPs. Diante da incerteza de permanência destes moradores, a instalação de algumas redes 
mais caras como a de esgotamento sanitário é postergada pelo poder público até o último 
momento. O resultado disso é a contaminação de recursos hídricos e do solo, causando 
prejuízos tanto à população local (riscos de saúde) como para a cidade inteira, devido à 
contaminação de seus sistemas ambientais (MOTA, 2003). 
Ou seja, é nítido que, tanto para as regiões mais ricas como para as regiões mais 
pobres, o risco ambiental dessas áreas de proteção permanente é um problema para ambos. 
Nesse contexto, evidencia-se a ausência de processos de planejamento de forma a atender a 
interesses coletivos como a proteção ambiental e o direito à cidade. O caso de Fortaleza traz à 
tona a necessidade de que o planejamento da expansão urbana inclua um efetivo controle do 
estado sobre a atuação dos agentes do mercado no sentido de conter os processos de aumento 
especulativo dos preços dos terrenos implantando políticas de combate a retenção do lote 
vazio. 
Assim, as áreas de risco ambiental em Fortaleza, em sua geral classificação, são 
consideradas de risco tanto para a população pobre, quanto para a população rica. No entanto, 
não é isso que observamos quanto às ocupações nesse tipo de ambiente. Os pobres tendem a 
se apropriar dessas áreas como forma de sobrevivência e inserção na cidade, estando sujeitos 
a outros fatores de risco, como doenças infecciosas, dentre outras, enquanto a população rica 
 
23 
 
apropria-se das áreas ditas como “de risco” de forma diferenciada, explorando seu potencial 
paisagístico, gerando valorização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
8 PLANO FORTALEZA 2040 
8.1 O que é o Plano Fortaleza 2040? 
 
O Plano Fortaleza 2040 foi idealizado pela Prefeitura de Fortaleza em conjunto com 
a sociedade, entrando em consenso sobre um futuro comum para a cidade, apontando 
problemas e propondo soluções para que, futuramente, Fortaleza seja um lugar melhor para se 
morar.Todo o planejamento será considerado pelo atual prefeito da cidade e também 
contará com seus sucessores, pois é um plano a curto, médio e longo prazo (tendo como 
enfoque o ano de 2040), havendo a necessidade de visibilidade por parte das novas gestões. 
Para isso, o Plano Fortaleza 2040 encontra-se estruturado em 6 módulos, coincidindo com o 
cronograma das próximas seis gestões do Executivo Municipal: 2017-2020, 2021-2024, 2025-
2028, 2029-2032, 2033-2036, 2037-2040. 
O projeto foi dividido em 3 eixos principais: 
a) Plano Mestre Urbanístico; 
b) Plano de Mobilidade; 
c) Plano de Desenvolvimento Econômico e Social. 
Houve uma integração entre os eixos urbanístico, social, econômico, ambiental e de 
mobilidade, para que todos possam trabalhar em conjunto, complementando-se, com uma 
ampla participação da sociedade. 
 
8.2 Objetivo 
 
O principal objetivo do Plano Fortaleza 2040 é a transformação da cidade de 
Fortaleza em uma cidade mais justa, acessível e acolhedora; com o incremento de 
oportunidades apoiadas por uma maior mobilidade entre seus espaços públicos e privados e 
com um controle eficiente do crescimento econômico e, consequentemente, a diminuição das 
desigualdades sociais. 
 
8.3 Fases do Plano 
 
O plano foi dividido em três partes e foi entregue à cidade em dezembro de 2016, 
sendo essa divisão em: 
 
25 
 
a) “Fortaleza Hoje” 
A primeira etapa do plano buscou fazer uma reflexão sobre a cidade de Fortaleza na 
atualidade, envolvendo mais de 4 mil pessoas e 524 instituições representativas dos interesses 
dos bairros de Fortaleza, mobilizadas por meio das Secretarias Regionais, sob coordenação do 
IPLANFOR. 
b) “A Fortaleza que Queremos” 
A segunda etapa do plano buscou debater e definir a cidade de Fortaleza que seria 
ideal no ano de 2040, tal que diversos segmentos da sociedade puderam opinar na realidade 
atual da cidade e na realidade de uma Fortaleza em que gostariam de viver futuramente. 
c) “Visão de Futuro e Plano de Ação” 
A terceira e última etapa do plano buscou validar uma visão de futuro e objetivos 
estratégicos propostos a partir de fóruns temáticos, setoriais e territoriais que ocorreram nos 
meses de outubro e novembro de 2015, seguidos pela composição de grupos de trabalho para 
tratar as ideias obtidas. 
 
8.4 PLANEJAMENTO 
 
A elaboração do plano foi coordenada pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza 
(IPLANFOR), com a execução técnica da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura 
(FCPC/UFC), de forma que foram contratados vários especialistas e consultores, sendo um 
desses o Prof. Dr. Flávio José Craveiro Cunto, e com a participação voluntária de milhares de 
pessoas que atuaram durante as três fases de elaboração. 
Ao conversar sobre o plano com o Prof. Dr. Flávio José Craveiro Cunto, professor 
adjunto do Departamento de Engenharia de Transporte e membro efetivo da Fundação 
Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC/UFC) que atua no eixo de mobilidade urbana do Plano 
Fortaleza 2040, pode-se ter um maior conhecimento acerca da temática como um todo. 
O Prof. Dr. Flávio José Craveiro Cunto mostrou um mapa da cidade de Fortaleza, no 
qual há algumas informações que serão implantadas ao longo do plano, mostrando corredores 
exclusivos de ônibus que já existem e os que ainda serão implantados no decorrer dos anos. 
Explicou-nos, também, como a mobilidade urbana afeta na qualidade de vida da sociedade, 
pois, tendo um planejamento efetivo para o tráfego urbano, haverá um menor percurso para 
quem usa o transporte coletivo, evitando, como dizem os especialistas, um deslocamento 
negativo. 
 
26 
 
No mapa, há uma zona que está pintada de verde, uma mais escura do que a outra. 
Essa zona significa alguns polos de convivência na cidade, no qual se tentará ter a maior 
concentração de pessoas, podendo fazê-lo com a implantação de novas escolas, hospitais, 
serviços de lazer, policiamento e etc., e assim haverá um maior número de pessoas vivendo 
em seus entornos (região verde mais clara). 
Com essas regiões todas bem alinhadas, poderá haver um transporte que seja bem 
mais efetivo, passando por todas elas. Além disso, não haverá tanta necessidade de a 
população realizar um grande deslocamento, pois, em tese, já haverá todo o serviço necessário 
nas redondezas de sua habitação. Assim, não existirão motivos para fazer longos percursos e, 
consequentemente, diminuirá os congestionamentos nas vias, economizando tempo. 
Com esse incentivo, a meta é, aos poucos, ir descentralizando a cidade e deixando-a 
mais homogênea, para que pessoas de baixa renda possam conviver com pessoas de alta 
renda, cessando a segregação socioespacial que atualmente permeia a cidade de Fortaleza. 
 
Mapa 4 – Mapa do Plano de Mobilidade do Fortaleza 2040 
 
Fonte: Prof. Dr. Flávio José Craveiro Cunto 
 
 
 
 
27 
 
9 CONCLUSÃO 
 
O processo da ocupação das cidades ocorreu de forma diferente nos países centrais, 
visto que, por serem mais desenvolvidos, aconteceu de uma forma mais organizada que nos 
países periféricos. No Brasil, tal processo ocorreu de forma acelerada, devido ao intenso 
êxodo rural durante o período da Segunda Guerra Mundial, com dados que indicam que, em 
2000, 81,2% da população vivia na zona urbana (IBGE, 2001). 
Quando, em crescimento rápidos como este, está aliada a à falta de planejamento 
urbano, geram-se situações que são difíceis de se resolver, tais como problemas ambientais, 
habitacionais e sociais. Isso porque com grande parte da população migrando do campo para 
as cidades, há um inchaço na zona urbana, ocasionando uma desregularização entre 
crescimento e qualidade de vida. 
Como resultado dessa falta de planejamento, surgem as periferias. O mercado de 
trabalho e as cidades, no processo de urbanização do Brasil, não estavam preparados para um 
crescimento tão acelerado. Por motivos de falta de empregos ou de condições dignas para se 
viver, os indivíduos passaram a morar em lugares que não tinham qualidade de vida adequada 
para moradia. Tais lugares, hoje, são denominados favelas. 
Assim como nas outras metrópoles, o processo de urbanização se intensificou com o 
surgimento das indústrias e principalmente pelos fluxos migratórios intraestaduais. Fortaleza 
contou com incentivos da Sudene e da reestruturação produtiva ligada ao capital do sul e 
sudeste, voltada para o ramo de calçados. 
No entanto, na capital cearense, em 1930, começaram a surgir favelas, dentre as 
quais estão: Cercado do Zé Padre, Mucuripe e Lagamar. Atualmente, em quase todos os 
bairros está presente esse tipo de moradia. As maiores favelas estão localizadas nos bairros: 
Barra do Ceará, Cristo Redentor, Pirambu, Vila Velha, Genibaú, Granja Portugal, 
Maranguapinho, Cais do Porto, Vicente Pizon, Jardim das Oliveiras, Cidade dos Funcionários 
e São Bento. 
Segundo o censo de 2010, 396.370 pessoas viviam em condições precárias de 
moradia, distribuídas em 194 aglomerados subnormais (favelas). A desigualdade em Fortaleza 
é muito perceptível, visto que uma parcela da população se apropria de habitações 
formalmente, enquanto outra parcela considerável se apropria da cidade de forma “ilegal”, ou 
seja, fora dos padrões urbanísticos. 
 
28 
 
A ocupação pela parcela populacional de baixa renda e a apropriação privada por 
parte do mercado imobiliário são os principais responsáveis por formarem complexos 
periféricos em Fortaleza, e a Região do Lagamar é o maior destaque da metrópole. 
Regiões ambientalmente frágeis são áreas desvalorizadas no mercado imobiliário, 
custando mais barato, assim as famílias que possuem renda baixa podem se apropriar desses 
terrenos, vivendo, muitasvezes, em condições precárias. Além disso, a ocupação dessas 
regiões impossibilita a ampliação da mobilidade urbana. 
Em Fortaleza, a região sudeste é a que oferece mais benefícios para a população, 
como transporte, emprego e acesso aos diversos serviços, tornando mais viável a busca por 
moradia dentro deste setor, mesmo que de forma irregular. 
Urge, então, uma necessidade de minimizar ou até mesmo solucionar o problema da 
ocupação espacial da capital cearense. O Plano Fortaleza 2040 é um projeto idealizado pela 
Prefeitura de Fortaleza em conjunto com a sociedade visando soluções para que a cidade seja 
um melhor lugar para viver. 
Dividido em três eixos – Plano Mestre Urbanístico, de Mobilidade, e de 
Desenvolvimento Econômico e Social – o plano tem como objetivo tornar Fortaleza uma 
cidade com o controle do crescimento econômico e diminuição das desigualdades sociais. Foi 
entregue em dezembro de 2016 e possui três etapas: Fortaleza Hoje, A Fortaleza que 
Queremos e a Visão de Futuro e Plano de Ação. 
Especialistas e consultores foram contratados e coordenados pelo Instituto de 
Planejamento de Fortaleza (Iplanfor) e com execução técnica da Fundação Cearense de 
Pesquisa e Cultura (FCPC/UFC), com o objetivo de descentralizar Fortaleza e torná-la mais 
homogênea, minimizando a segregação de classes sociais existentes na cidade. 
Portanto, pode-se afirmar que o presente trabalho atendeu ao objetivo de analisar 
como se deu a ocupação das cidades, sendo possível estudar o caso da cidade de Fortaleza, 
percebendo sua forma de crescimento, assim como os planos para melhorá-la, a fim de 
amenizar os problemas trazidos com a ocupação espacial sem planejamento, que ocorreu 
devido ao país ser periférico. 
 
 
 
29 
 
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<http://fortaleza2040.fortaleza.ce.gov.br/site/>. Acesso em: 04 nov. 2017.

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