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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL ANTONIO HENRIQUE AZEVEDO CARNEIRO - 404276 KARYNA STEFHANY JORGE CUNHA - 402394 LETÍCIA DE FÁTIMA SANTOS BRASIL - 404111 RENATA MONTEIRO JOVINO - 398679 OCUPAÇÃO ESPACIAL DAS CIDADES FORTALEZA – CE 2017 2 ANTONIO HENRIQUE AZEVEDO CARNEIRO KARYNA STHEFANY JORGE CUNHA LETÍCIA DE FÁTIMA SANTOS BRASIL RENATA MONTEIRO JOVINO OCUPAÇÃO ESPACIAL DAS CIDADES Relatório da disciplina de Introdução a Engenharia do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará. Prof. José de Paula Barros Neto e Prof. Francisco de Assis de Souza Filho FORTALEZA 2017 3 ANTONIO HENRIQUE AZEVEDO CARNEIRO KARYNA STHEFANY JORGE CUNHA LETÍCIA DE FÁTIMA SANTOS BRASIL RENATA MONTEIRO JOVINO OCUPAÇÃO ESPACIAL DAS CIDADES Relatório da disciplina de Introdução a Engenharia (Turma 02) do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará. Prof. Dr. José de Paula Barros Neto e Prof. Dr. Francisco de Assis de Souza Filho Aprovada em: ___/___/______. BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Amós Fernandes Guerrato (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. José de Paula Barros Neto Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Dr. Francisco de Assis de Souza Filho Universidade Federal do Ceará (UFC) 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4 2 A URBANIZAÇÃO ............................................................................................................... 5 3 O PLANEJAMENTO............................................................................................................ 7 4 A URBANIZAÇÃO NO BRASIL ........................................................................................ 8 5 A QUALIDADE DE VIDA ................................................................................................. 11 6 A CIDADE DE FORTALEZA ........................................................................................... 13 7 OCUPAÇÃO ILEGAL DE ÁREAS URBANAS FRÁGEIS ........................................... 19 8 PLANO FORTALEZA 2040 .............................................................................................. 23 8.1 O que é o Plano Fortaleza 2040? ................................................................................. 23 8.2 Objetivo .......................................................................................................................... 23 8.3 Fases do Plano ............................................................................................................... 24 8.4 Planejamento ................................................................................................................. 24 9 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 27 10 REFERÊNCIAS................................................................................................................. 29 5 1 INTRODUÇÃO Dissertar sobre as cidades, sua origem e desenvolvimento é fazer uma retrospectiva no tempo e nos acontecimentos ocorridos ao longo da história, observando o que as cidades representaram e representam para a população, pois é nelas que se desenvolvem as principais atividades econômicas, políticas, religiosas e sociais. A cidade é o local onde o mercado mais se desenvolve, com a circulação das mais variadas mercadorias, bem como de pessoas provenientes de aldeias ou povoados. Existe, assim, uma diferenciação da vida nas cidades para a vida nas aldeias e povoados, tanto que o autor Marcelo Lopes chama as cidades de “assentamentos humanos”, ao passo que as aldeias e povoados são denominadas de “assentamentos rurais”. A partir da década de 1960, ocorreram alterações nas relações de trabalho no campo e na cidade, cujas consequências foram o êxodo rural e o crescimento das cidades brasileiras. Tal evidência pode ser observada através dos dados apresentados pelo IBGE (2001), já que em 1940 a população do campo era de 68,8%, e em 2000 tal quadro inverte-se, com 81,2% da população concentrada na área urbana. Segundo Mota (1999, p. 17): “O aumento da população e a ampliação das cidades deveria ser sempre acompanhado do crescimento de toda a infraestrutura urbana, de modo a proporcionar aos habitantes uma mínima condição de vida.”. Ainda, segundo o mesmo autor: “a ordenação deste crescimento faz-se necessária, de modo que as influências que o mesmo possa ter sobre o meio ambiente não se tornem prejudiciais aos habitantes.”. Entretanto, a realidade do processo de urbanização é bem diferente do ideal. Na maioria dos casos, esse processo ocorre a partir de um planejamento inadequado, gerando um crescimento desordenado, acompanhado da falta da infraestrutura capaz de garantir a mínima qualidade ambiental. 6 2 A URBANIZAÇÃO A urbanização em sua acepção tradicional, enquanto um fenômeno de escala local e localizado, é bastante antiga. As primeiras cidades sugiram no Oriente Médio, aproximadamente entre 3500 e 3000 a.C., porem até o final do século XVIII esse processo permaneceu limitado a uma baixa porcentagem da população e a algumas regiões. Foi a partir da Revolução Industrial, da revolução agrícola e dos transportes que a sucederam que a urbanização ultrapassou a escala local e deixou de ser localizada, passando a realizar-se em ritmo acelerado, tendendo a generalização. Já no final do século XIX, a Inglaterra, país pioneiro dessa nova fase, contava com oitenta por cento da sua população vivendo no meio urbano, tendência que se observa na maioria dos países industrializados. Na escala mundial, sobretudo após a década de 1950, um dos aspectos mais marcantes do processo de urbanização foi a rapidez com que ela ocorreu nos países periféricos, independente do processo de industrialização. Segundo Singer (apud Campos Filho, 1992): [...] nos países desenvolvidos [...] a mudança ocorre na medida em que determinadas inovações tecnológicas “amadurecem”, nos países não desenvolvidos ramos inteiros da produção são implantados, de uma só vez, submetendo a estrutura econômica a choques muito mais profundos. A expulsão da população do campo pelas difíceis condições de vida e sua concentração em grandes cidades ocorre de forma muito mais intensa nos países periféricos do que na Europa Ocidental, na América do Norte e no Japão. Nos dias atuais, as maiores aglomerações urbanas tendem a se localizarem nos países periféricos, e justamente nesses países o mercado de trabalho urbano não absorve toda a mão de obra existente, como o acesso aos bens de consumo básicos é dificultado pelos baixos salários e pelo alcance limitado das medidas de planejamento do poder público, multiplicam- se, pelas grandes cidades desses países, as periferias, caracterizadas pela precariedade das formas de moradia, dos meios de transporte e da rede de saneamento básico. Segundo Campos Filho (1992), na maioria das cidades latino-americanas a oferta de empregos urbanos não se faz aomesmo ritmo que a chegada de migrantes, gerando os bairros de extrema miséria, conhecidos por “barriadas”, “favelas”, “mocambos”, “cortiços” e “palafitas”. 7 No Brasil, o intenso êxodo rural e a carência de empregos nos setores secundário e terciário trouxeram consequências, como a expansão das favelas, o crescimento da economia informal e, em muitos casos, o aumento do contingente de população pobre. 8 3 O PLANEJAMENTO Segundo Silva (1997, p. 21): A urbanização gera enormes problemas, deteriora o ambiente urbano, provoca a desorganização social, com carência de habitação, desemprego, problemas de higiene e de saneamento básico. Modifica a utilização do solo e transforma a paisagem urbana. A solução desses problemas obtém-se pela intervenção do poder público, que procura transformar o meio ambiente e criar novas formas urbanas. Dá-se então a urbanificação, processo deliberado de correção da urbanização, ou na criação artificial de núcleos urbanos [...]. Fica claro que o processo de urbanização gera impactos tanto ambientais como sociais. Esses impactos, entretanto, podem ser evitados - ou ao menos minimizados - mediante a um processo eficaz de planejamento urbano. Tal concepção de planejamento está associada à ideia de desenvolvimento sustentável. Sobre isso, Mota (1999, p. 22) comenta, “O planejamento deve se realizar com base na concepção de desenvolvimento sustentável, assim entendido, aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades.”. De acordo com o planejamento urbano integrado, é necessário agir visando à preservação ambiental, pois é mais correto evitar os males gerados pela urbanização ao invés de corrigi-los a posteriori. Com isso, entende-se a necessidade de considerar as questões ambientais na tomada de decisões relativas ao planejamento urbano. Visto isso, a instrumentalização dessas necessidades pode ser conseguida através do planejamento da paisagem. Nesse sentido, o planejamento da paisagem servirá de base para pensar o planejamento urbano. Segundo Nucci (1996, p. 2) planejamento da paisagem é: [...] uma contribuição ecológica e de design para o planejamento do espaço, onde se procura uma regulamentação dos usos do solo e dos recursos ambientais, salvaguardando a capacidade dos ecossistemas e o potencial recreativo da paisagem, retirando-se o máximo proveito do que a vegetação pode oferecer para a melhoria da qualidade ambiental. O planejamento da paisagem, então, apresenta-se como uma alternativa metodológica a fim de complementar o planejamento urbano, capaz de dar subsídios para a melhoria da qualidade ambiental e consequentemente da qualidade de vida. 9 4 A URBANIZAÇÃO NO BRASIL O desenvolvimento da vida urbana no Brasil é relativamente recente, visto que no período colonial, salvo alguns núcleos pontualmente localizados ao longo do litoral ou em suas proximidades, a vida econômica girava em torno das atividades agrárias e a população vivia, em sua grande maioria, no campo. No século XVIII, apenas a área mineradora de Minas Gerais conheceu um incipiente processo de urbanização, com o surgimento das vilas que, devido à concentração de pessoas vinculadas a atividades mineradoras, acabaram dando origem às cidades. A alteração efetiva das relações entre a população rural e a população urbana, que caracteriza o processo de urbanização, somente teve início nas décadas finais do século XIX, e, principalmente, a partir do começo do século XX, quando a indústria vai se tornando presente nas cidades da região Sudeste. É após a Segunda Guerra Mundial, no entanto, que esse processo se acelera, e a população urbana, que se mantinha sempre abaixo dos 10% da população total do país, eleva- se para cerca de 16% em 1920, atingindo pouco mais de 30 % em 1940 e aumentando rapidamente para 45% em 1960, 67% em 1980, 75% em 1990 e 81,2% em 2000, (IBGE, 2001). Faz-se necessário ressaltar que no Brasil, bem como na maioria dos países periféricos, a urbanização se deu de forma acelerada, mesmo em regiões onde a industrialização não ocorreu de modo intenso, como é o caso da região Nordeste. Os crescimentos da economia industrial e do estilo de vida urbanos cobiçados pela grande maioria da população criaram uma densa rede urbana. De uma forma geral, portanto, as regiões metropolitanas se desenvolveram com maior velocidade do que o ato de planejar o espaço, gerando um crescimento desordenado, que implica em impactos sociais e ambientais. O desenvolvimento metropolitano veio, portanto, acompanhado de problemas sociais e ambientais, tais como a falta de moradias e favelização, a carência de infraestrutura urbana, o crescimento da economia informal, a poluição, a intensificação do trânsito, a periferização da população pobre e a ocupação de áreas de mananciais da planície de inundação dos rios e de vertentes de declive acentuado. A década de 1990, entretanto, consolidou uma nova tendência de urbanização no Brasil, que pode ser caracterizada como uma “desmetropolização”, ou seja, uma reversão do crescimento das grandes metrópoles em favor de cidades médias, onde os custos de produção são menores e as condições de vida tendem a ser melhores. 10 Segundo Santos, (1993): Os mesmos números que revelam um processo de metropolização prestam- se a outra interpretação desde que demos uma prioridade ao processo de macro urbanização. Levando-se em conta uma desagregação maior da população urbana segundo o tamanho dos aglomerados, pode levar-nos a conclusão de que, paralelamente ao crescimento cumulativo das maiores cidades do país, estaria havendo um fenômeno de desmetropolização, definida como a repartição com outros grandes núcleos de novos contingentes da população urbana. Não se trata aqui da reprodução do fenômeno da desurbanização, encontrado em países de primeiro mundo [...]. Esse fenômeno difere-se da “desurbanização” pelo fato de não se buscar um estilo de vida diferente, mas sim a eliminação de problemas gerados pelo crescimento desordenado e sem planejamento da metrópole. Essa “desmetropolização” surge devido à falta de planejamento urbano, em que a cidade se desenvolve motivada pelos interesses imobiliários, ou interesses de outras naturezas. Assim, raramente ela se desenvolve seguindo um plano urbanístico, raramente a gestão urbana é planejada e contribui com o planejamento. Essa urbanização sem planejamento criou uma situação caótica nas principais capitais do país e suas regiões metropolitanas, com aumento da pobreza e da violência. O processo de modernização da economia brasileira até os dias de hoje não levou à superação da pobreza e das desigualdades sociais, tanto que a modernização aprofundou as desigualdades já existentes, geradas num passado distante, pois esteve apoiada numa maior concentração de renda. Apesar da expansão das camadas médias, que apresentam um bom poder aquisitivo e contribuíram para a expansão do mercado consumidor, a diferença de rendimentos entre ricos e pobres é hoje muito maior do que no início da modernização. Dessa forma, desenvolve-se a trama ou, talvez, o drama da urbanização nos países periféricos, um processo muito acelerado que ocorre sem que as condições mínimas necessárias para o seu desenvolvimento sejam respeitadas, como infraestrutura e planejamento, o que implica em consequências graves. Admitindo-se que a urbanização nos países periféricos, dando ênfase ao caso do Brasil,ocorre em uma velocidade demasiadamente rápida, temos no decorrer da história um acúmulo de imperfeições no que tange ao planejamento urbano, como a implantação da infraestrutura necessária e a capacidade do mercado de trabalho, os quais, por não terem sido planejados, aconteceram em tempos diferentes. Há como resultado dessa falta de planejamento uma desregularização entre crescimento e qualidade de vida, qualidade 11 ambiental, social, política e econômica. Tal cenário pode ser confirmado na medida em que se analisa a realidade das metrópoles brasileiras, bem como o processo de “desmetropolização” que vem ocorrendo no Brasil. Essa realidade urbana brasileira gera impactos e problemas que dão origem a saída de setores produtivos das metrópoles em busca de cidades geralmente médias, com condições mais adequadas. Esse processo, entretanto, não resolve os problemas que fizeram com que tais setores se retirassem da metrópole, pelo contrário, essas novas localidades, geralmente, apresentam os mesmos erros cometidos nas metrópoles, o que dará origem, futuramente, aos mesmos problemas observados hoje, fazendo com que uma nova mudança venha a ser necessária. 12 5 A QUALIDADE DE VIDA O planejamento da paisagem emerge como uma proposta metodológica capaz de contribuir com o planejamento urbano. Dessa forma, Lamparelli (1978, p.103) analisa três alternativas técnicas para o desenvolvimento do processo de planejamento e afirma que o controle técnico dos problemas urbanos não é o bastante para a realização de um planejamento eficaz, que deve contar com a criação de canais de participação social que permitam a explicação das contradições e interesses no processo decisório. Percebe-se então a necessidade da inserção da população no processo de planejamento, que atualmente conta com alguns instrumentos institucionais, como o orçamento participativo. O planejamento deve ser realizado contemplando aspectos socioeconômicos, técnicos e também aspectos ambientais. Segundo Mota (1999 p.99), no passado realizou-se o planejamento urbano considerando principalmente os aspectos sociais, culturais e econômicos, e admitindo que o ambiente físico deveria adequar-se às atividades do homem. Considerava-se que os recursos naturais podiam ser utilizados e alterados de forma ilimitada, desde que fossem atendidas as necessidades básicas dos moradores das cidades como habitação, trabalho, circulação e lazer. Os problemas ambientais que resultaram desse tipo de planejamento causam degradação dos recursos naturais com reflexos negativos sobre a qualidade de vida do homem, servindo para mostrar que as leis da natureza devem ser respeitadas na ocupação de uma área. Segundo Forattini (1992, p. 353), qualidade de vida é definida como o grau de satisfação no âmbito das áreas física, psicológica, social, de atuação, material e estrutural, podendo ser considerada como individual e coletiva. A qualidade de vida coletiva é definida segundo o mesmo autor “como a resultante de condições ambientais e estruturais que se desenvolvem na sociedade.”. Alguns indicadores utilizados para avaliar a qualidade de vida segundo Forattini (1992, p. 356) são: a) Ambientais: qualidade da água, do ar e do solo, contaminação doméstica e acidental; b) Habitacionais: densidade, disponibilidade espacial e condições de habitabilidade; c) Urbanos: concentração populacional, comunicação e transporte, educação, segurança e comportamento, poluição sonora e visual, local e paisagística; 13 d) Sanitários: morbidade e mortalidade, assistência médica e hospitalar, estado nutricional; e) Sociais: condições socioeconômicas e de classes, consumo, necessidades e desigualdades, família e sexualidade, condições de trabalho, profissão, recreação, lazer e turismo, sistema político-administrativo. Com a melhoria dos indicadores citados acima, tem-se, consequentemente, uma melhor qualidade de vida. O planejamento urbano e a conservação dos recursos naturais podem contribuir com essa melhoria. No processo de planejamento urbano, a conservação dos recursos naturais deve ser considerada, tendo em vista a sua capacidade de melhoria da qualidade de vida. Nesse sentido, o planejamento da paisagem vem contribuir para o estudo do planejamento urbano. 14 6 A CIDADE DE FORTALEZA A cidade de Fortaleza, capital cearense, é hoje destaque nacional pelos índices de crescimento econômico capitalista, investimentos relacionados ao turismo e densidade populacional. No entanto, a sua expansão urbana, a concentração de investimentos em determinadas áreas da cidade e as políticas públicas pouco condizentes com a realidade local apontam Fortaleza como uma das cidades de maior desigualdade social dentro do país. O espaço urbano de Fortaleza é resultante da interação entre diversos fatores e agentes. A ação do Estado pode ser vislumbrada em diversos eixos, sejam eles na promoção de determinadas infraestruturas urbanas, tais como construção de avenidas, rede de água, esgoto, energia elétrica, incentivos fiscais, instalação de indústrias, comércios e turismo. Os promotores imobiliários, de acordo com Lustosa (2007), atuam na mercantilização da cidade, submetendo o valor de uso dos espaços da cidade ao valor de troca, para servir aos seus interesses, visando ao lucro. A população, por sua vez, produz um espaço pautado nas diferentes formas de habitar, numa relação de desigualdades e segregação que é histórica. Aqueles de menor poder aquisitivo se apropriam da cidade muitas vezes criando seus próprios mecanismos de construção de casas, em terrenos sem condições adequadas para recebê-los, tais como áreas de fragilidade ambiental, dunas, beira de rios, lagoas, áreas sem esgotamento sanitário, escolas e postos de saúdes para atender suas necessidades. A moradia construída em lugares inadequados no que diz respeito à falta de serviços não é uma construção apenas da população pobre, pois o Estado, na história de sua política habitacional, também atuou construindo casas em locais distantes, onde a moradia era concebida apenas enquanto o espaço físico para abrigar uma família, desconsiderando-se o entorno e as outras necessidades da população, tais como áreas destinadas ao lazer, proximidade do local de trabalho, dentre outros. Em Fortaleza, a década de 80 marca esse modelo de intervenção na cidade, a exemplo dos conjuntos consolidados no distrito industrial de Maracanaú e no conjunto José Walter. Para a Geografia, a produção do espaço aparece como condição, meio e produto das atividades humanas, em sua complexa totalidade. Estando inserido no modo de produção capitalista, o espaço é também colocado na lógica da produção de mercadorias (Carlos, 2011). Sendo assim, para compreender o processo de urbanização e consolidação de Fortaleza enquanto metrópole, faz-se necessário um retorno à sua história. 15 Fortaleza tem se expandido rapidamente, marcada por uma urbanização intensiva, uma alta concentração populacional e por significativas mudanças de sua paisagem num curto espaço de tempo. As principais atividades da metrópole estão ligadas ao setor de serviços, seguido pela indústria. Sua atual configuração espacial está intimamente ligada ao seu processo de urbanização e industrialização, intensificado após o início da reestruturação de uma malha viária complexa, da Região Metropolitana de Fortaleza, e do distrito industrial em Maracanaú, na década de 1970. O dinamismo econômico e comercial aprofundoua migração dentro do estado, onde os fluxos migratórios passaram a convergir para Fortaleza. A cidade foi a maior receptora dos migrantes vindos do campo, ocorrendo um forte adensamento populacional na cidade. Essa expansão urbana atingiu outras cidades no Brasil, acarretando o aumento significativo das migrações campo-cidade, intraestadual e interestadual. O crescimento industrial e as mudanças no meio rural impostas pela concentração fundiária foram fatores preponderantes para impulsionar esse crescimento. Quanto às mudanças no campo, podemos citar o avanço capitalista e o predomínio de grandes fazendas de produção, tanto agrícola como pecuária, que absorviam pouca mão-de- obra, em detrimento das pequenas propriedades de agricultura familiar, aliado aos regimes de seca, imersos na pouca intervenção do Estado para minimizar a problemática. Outros dois momentos são apontados como de grande importância no processo de urbanização de Fortaleza, de acordo com Carleial e Matos (2010), os anos de 1970 e 1980, em virtude dos incentivos da Sudene, e posteriormente a década de 90, quando a cidade passa por uma reestruturação produtiva vinculada ao capital do sul e sudeste do país, que passou a investir principalmente no ramo de calçados (ATLAS DE FORTALEZA 2000, 2010). Essa reestruturação produtiva no estado do Ceará, com consequências específicas para Fortaleza e Região Metropolitana, faz parte de um movimento contínuo de reprodução do capital nas cidades, através do processo de urbanização. De acordo com Harvey (2004), o capital sobrevive num movimento contínuo de criação de novas paisagens geográficas, para favorecer a acumulação. Fortaleza, do ponto de vista espacial e econômico, passou à condição de localidade central em relação a outras áreas, sendo ponto de referência por já concentrar as atividades administrativas do Estado, e passar ainda a receber investimentos em infraestrutura, junto a intervenções urbanísticas. A cidade passou a receber cada vez mais comerciantes, famílias abastadas e uma população migrante, que busca na capital uma melhoria das condições de 16 vida. O cenário político e o processo de industrialização ao qual o estado do Ceará foi submetido têm íntima relação com a expansão urbana e populacional na cidade, e no significativo aumento da migração. A expansão de Fortaleza se dá em meio a um processo gerador de desigualdades sociais atrelado ao processo de industrialização, e a histórica segregação no campo. Fica evidente tal situação ao analisarmos os dados da tabela 1, com o período político-econômico nos anos 80, por exemplo, quando houve forte incremento industrial na Região Metropolitana de Fortaleza. A população passa a se concentrar em Fortaleza, formando um exército de reserva para servir aos interesses do capital, favorecendo a expansão econômica capitalista, dando condições à expansão industrial na RMF através da exploração da força de trabalho. Para Bruno e outros autores (2002): O governo do Estado justifica que a agricultura não é priorizada por causa da baixa qualidade do solo, que os investimentos na área seriam inviabilizados. Mas estes são argumentos que apelam para a esfera da racionalidade econômica. A questão da pequena agricultura é uma questão de equidade social. Se o critério for a rentabilidade, os pobres vão sair perdendo sempre (Bruno et al, 2002 p. 66). Tabela 1 – Incremento Populacional em Fortaleza em 1900, 1950, 1980 e 2009 Anos Absolutos Incremento % 1900 48.000 100,00 1950 270.169 463,00 1980 1.307.611 2.624,00 2009 2.505.552 5.120,00 Fonte: Atlas de Fortaleza 2000, 2010 O Estado atua colocando como prioridade a questão econômica em detrimento dos direitos dos moradores, ocasionando o aumento da pobreza, a falta de serviços básicos como educação, saúde e principalmente moradias, pois não foram priorizados investimentos e políticas públicas a nível estadual que pudessem atender a população de forma integrada, relacionando o campo e cidade. Pelo contrário, o campo e a cidade são colocados em oposição. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1950 17 74% da população do estado vivia no campo, já em 1991 esse número era de apenas 34,63% (IBGE, 1950, 1991). Num quadro nacional de avanço capitalista e de desenvolvimento econômico desigual entre as cidades brasileiras, e desacompanhado de crescimento da qualidade de vida social em mesmas proporções, houve no Brasil um crescente processo de favelização nas metrópoles, ocorrido não puramente pela mobilidade populacional, uma vez que é também de direito das populações a liberdade de ir e vir, mas pela forma de como tal processo ocorre, sujeito ao capital, envolvendo classes e não somente indivíduos. Outro fato é o da inserção das cidades na lógica capitalista de acumulação, colocando em segundo plano o atendimento das necessidades da população, fazendo crescer significativamente o número de favelas. De acordo com o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (UN-Habitat), o “domicílio de favela” caracteriza-se como sendo um grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto em área urbana, com ausência de um ou mais desses serviços: moradia durável, áreas de convívio coletivo suficiente, acesso a água tratada, ao saneamento e a posse segura da terra. Em Fortaleza, a ocorrência de favelas é apontada a partir da década de 30, próximas ao centro produtivo da cidade, junto a um forte crescimento na demografia da cidade, compreendendo uma ampliação de sua área urbana, somando-se o fato que tal crescimento de Fortaleza não foi acompanhado de um beneficiamento das áreas crescentes com infraestrutura urbana, conforme aponta Silva (1992), fazendo com que parte da população passasse a viver sob condições precárias na zona periférica da cidade, ainda para o autor: Esse “crescimento” de forma espontânea e desordenada deu lugar a aglomerações de edificações precárias na periferia da cidade. Data do início da década de 1930 a origem desses aglomerados com características de favelas. Entre 1930 – 1955 surgiram as seguintes favelas na cidade: Cercado do Zé Padre (1930), Mucuripe (1933), Lagamar (1933), Morro do Ouro (1940), Varjota (1945), Meireles (1950), Papoquinho (1950), Estrada de Ferro (1945) (SILVA, 1992. P.93). Observamos na cartografia da cidade a disseminação das favelas de forma heterogênea no espaço. Carleial e Matos (2003) chamam a atenção para a desconstrução da visão de cidade partida, com um lado rico e outro pobre, ao observarem a convivência contraditória e dialética de opulência e miséria nos bairros de Fortaleza. O mapa 1 mostra a disposição das favelas no tecido urbano da metrópole. 18 As favelas ocorrem de forma heterogênea na cidade, havendo presença desse tipo de ocupação em quase todos os bairros da cidade. As principais favelas em dimensão territorial estão localizadas nos bairros Barra do Ceará, Cristo Redentor e Pirambu, no litoral oeste, Vila Velha, Genibaú, Granja Portugal, a Sudoeste, onde se nota a presença de favelas principalmente no percurso dos rios Ceará, Maranguapinho, e bairros Cais do Porto e Vicente Pizon, no litoral leste. No corredor sudoeste da cidade, há presença de favelas ao longo do percurso do Rio Cocó, a exemplo dos bairros Jardim das Oliveiras e Cidade dos Funcionários, e ainda nos bairros mais periféricos ao Sudoeste, a exemplo do bairro São Bento. Mapa 1 – Disposição das Favelas em Fortaleza-CE, 2009 Fonte: ATLAS DE FORTALEZA (2010) Fortaleza é hoje uma das metrópoles brasileiras portadoras de um enorme déficit habitacional, fruto de desigualdadeseconômicas e sociais presentes e históricas ao seu processo de urbanização e metropolização. O censo 2010 mostra a metrópole com 396.370 pessoas vivendo em condições precárias de moradia, distribuídas em 194 aglomerados subnormais (favelas). Essa população é subestimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 19 Estatística (IBGE), que considera a aglomeração mínima de 50 domicílios, mas é sabido que em Fortaleza, por exemplo, encontram-se inúmeros assentamentos com menor tamanho. O capitalismo exprime na cidade as desigualdades de seu desenvolvimento, criando espaços diferenciados e desiguais, que se expressam nas formas de habitar. O acesso às condições dignas de moradia nas metrópoles como Fortaleza é seletivo: uma parcela da população se apropria da cidade enquanto mercadoria, dentro da lógica formal de aquisição de habitações, enquanto outra parcela considerável se apropria da cidade de forma “ilegal”, ou seja, fora dos padrões urbanísticos, e das previsões de planejamento, vivendo em favelas e áreas de risco ambiental. A falta de políticas públicas voltadas para a construção de uma cidade mais justa, com foco na diminuição das desigualdades, bem como a abertura brasileira aos interesses do capital internacional, em muito contribuíram para a promoção da segregação, que hoje se caracteriza dentro da cidade. Fortaleza passou a concentrar áreas específicas para atender os interesses e as necessidades das classes abastadas, concomitantemente ao adensamento populacional em outras áreas sem infraestrutura. 20 7 OCUPAÇÃO ILEGAL DE ÁREAS URBANAS FRÁGEIS Em Fortaleza, a área que tem oferecido os maiores benefícios e serviços é a do setor sudeste. Diante dos benefícios oferecidos, como transporte, emprego e acesso aos diversos serviços, é mais viável a busca por moradia dentro desse setor, mesmo que de forma irregular. O resultado é que a “sobra” dos terrenos da cidade, ou seja, áreas desprezadas pelo mercado imobiliário ou impossibilitadas legalmente, são ocupadas para fins de moradia, de forma ilegal. Enquadram-se nesses terrenos menos valorizados da cidade, pela impossibilidade de ocupação legal, as Áreas de Preservação Permanente (APP). Na cidade de Fortaleza, as APPs constituem-se principalmente por margens de rios, cursos d’água, lagoas e áreas de dunas. Mapa 2 – Ocupações Irregulares em Áreas Frágeis e Medianamente Frágeis em Fortaleza Fonte: Artigo Científico (baseado no Plano Local de Habitação de Interesse Social, 2011 e no Diagnóstico Geoambiental de Fortaleza, 2009) 21 No que diz respeito à ocupação das áreas ambientalmente vulneráveis, observa-se que não se trata apenas da questão da distribuição de renda como fator preponderante para a ocupação desses territórios: o capitalismo do mercado imobiliário é o principal responsável para essa segregação, já que submete a população em situação de vulnerabilidade econômica às regiões de risco que “sobraram”, por serem ambientalmente frágeis. Outrora, a apropriação das terras ambientalmente frágeis também possui benefícios para o capitalismo imobiliário, que variam desde o barateamento dos lotes danosos, até a apropriação da natureza como fator atrativo para os futuros compradores adquirirem o terreno. A privatização do recurso natural é feita de modo a valorizar o empreendimento, sendo agregado o valor paisagístico-natural ao preço do lote, o que só favorece no núcleo do imobiliário. Nesse contexto, por meio do mapa 2, percebe-se exatamente essas ocorrências na ocupação das áreas de risco ambiental, sendo ocorrentes de forma heterogênea no espaço, situando-se preponderantes no litoral oeste, na vertente sul e sudeste, e nos corredores dos Rios Cocó, Maranguapinho e Rio Ceará. Em Fortaleza, a ocorrência das áreas de risco está intimamente ligada ao percurso dos rios Cocó e Maranguapinho e Ceará que percorrem os setores Sudoeste-Oeste e Sudeste-Leste, respectivamente, onde se percebe o apelo da ocupação de áreas ambientalmente frágeis pela população empobrecida concomitante ao uso de áreas afins por uma população abastada, shoppings e especulação imobiliária, principalmente na bacia do Cocó. Mapa 3 – Áreas de risco em Fortaleza - CE no ano de 2008 Fonte: ATLAS DE FORTALEZA 2000 (2010) 22 Dentre as formas de ocupação de áreas frágeis na cidade, observa-se a presença de grandes assentamentos em áreas de dunas primárias e secundárias (mostradas no Mapa 2), incluindo desde ocupações mais antigas da cidade, como o Pirambu (à oeste), até outras mais recentes no campo de dunas da Praia do Futuro (leste). Tais exemplos nos trazem duas distribuições de renda diferentes: uma região com maior índice de favelização e outra um pouco mais elitizada. Todavia, mesmo sendo mais economicamente forte, inclusive como ponto turístico, o sistema ambiental da Praia do Futuro é bastante frágil, constituído em grande parte por dunas primárias e secundárias. Sendo considerados por profissionais da área como áreas impróprias a quase todos os tipos de uso, e por sua excessiva fragilidade, sequer deveriam ser locais de grande passagem. Em Fortaleza, são áreas onde o lençol freático é baixo, o que acarreta contaminação do solo diante do despejo de esgoto das diversas comunidades instaladas sem infraestrutura. A ausência dos serviços de infraestrutura acarreta o agravamento do problema ambiental em várias comunidades, e isso é particularmente recorrente nas ocupações em APPs. Diante da incerteza de permanência destes moradores, a instalação de algumas redes mais caras como a de esgotamento sanitário é postergada pelo poder público até o último momento. O resultado disso é a contaminação de recursos hídricos e do solo, causando prejuízos tanto à população local (riscos de saúde) como para a cidade inteira, devido à contaminação de seus sistemas ambientais (MOTA, 2003). Ou seja, é nítido que, tanto para as regiões mais ricas como para as regiões mais pobres, o risco ambiental dessas áreas de proteção permanente é um problema para ambos. Nesse contexto, evidencia-se a ausência de processos de planejamento de forma a atender a interesses coletivos como a proteção ambiental e o direito à cidade. O caso de Fortaleza traz à tona a necessidade de que o planejamento da expansão urbana inclua um efetivo controle do estado sobre a atuação dos agentes do mercado no sentido de conter os processos de aumento especulativo dos preços dos terrenos implantando políticas de combate a retenção do lote vazio. Assim, as áreas de risco ambiental em Fortaleza, em sua geral classificação, são consideradas de risco tanto para a população pobre, quanto para a população rica. No entanto, não é isso que observamos quanto às ocupações nesse tipo de ambiente. Os pobres tendem a se apropriar dessas áreas como forma de sobrevivência e inserção na cidade, estando sujeitos a outros fatores de risco, como doenças infecciosas, dentre outras, enquanto a população rica 23 apropria-se das áreas ditas como “de risco” de forma diferenciada, explorando seu potencial paisagístico, gerando valorização. 24 8 PLANO FORTALEZA 2040 8.1 O que é o Plano Fortaleza 2040? O Plano Fortaleza 2040 foi idealizado pela Prefeitura de Fortaleza em conjunto com a sociedade, entrando em consenso sobre um futuro comum para a cidade, apontando problemas e propondo soluções para que, futuramente, Fortaleza seja um lugar melhor para se morar.Todo o planejamento será considerado pelo atual prefeito da cidade e também contará com seus sucessores, pois é um plano a curto, médio e longo prazo (tendo como enfoque o ano de 2040), havendo a necessidade de visibilidade por parte das novas gestões. Para isso, o Plano Fortaleza 2040 encontra-se estruturado em 6 módulos, coincidindo com o cronograma das próximas seis gestões do Executivo Municipal: 2017-2020, 2021-2024, 2025- 2028, 2029-2032, 2033-2036, 2037-2040. O projeto foi dividido em 3 eixos principais: a) Plano Mestre Urbanístico; b) Plano de Mobilidade; c) Plano de Desenvolvimento Econômico e Social. Houve uma integração entre os eixos urbanístico, social, econômico, ambiental e de mobilidade, para que todos possam trabalhar em conjunto, complementando-se, com uma ampla participação da sociedade. 8.2 Objetivo O principal objetivo do Plano Fortaleza 2040 é a transformação da cidade de Fortaleza em uma cidade mais justa, acessível e acolhedora; com o incremento de oportunidades apoiadas por uma maior mobilidade entre seus espaços públicos e privados e com um controle eficiente do crescimento econômico e, consequentemente, a diminuição das desigualdades sociais. 8.3 Fases do Plano O plano foi dividido em três partes e foi entregue à cidade em dezembro de 2016, sendo essa divisão em: 25 a) “Fortaleza Hoje” A primeira etapa do plano buscou fazer uma reflexão sobre a cidade de Fortaleza na atualidade, envolvendo mais de 4 mil pessoas e 524 instituições representativas dos interesses dos bairros de Fortaleza, mobilizadas por meio das Secretarias Regionais, sob coordenação do IPLANFOR. b) “A Fortaleza que Queremos” A segunda etapa do plano buscou debater e definir a cidade de Fortaleza que seria ideal no ano de 2040, tal que diversos segmentos da sociedade puderam opinar na realidade atual da cidade e na realidade de uma Fortaleza em que gostariam de viver futuramente. c) “Visão de Futuro e Plano de Ação” A terceira e última etapa do plano buscou validar uma visão de futuro e objetivos estratégicos propostos a partir de fóruns temáticos, setoriais e territoriais que ocorreram nos meses de outubro e novembro de 2015, seguidos pela composição de grupos de trabalho para tratar as ideias obtidas. 8.4 PLANEJAMENTO A elaboração do plano foi coordenada pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza (IPLANFOR), com a execução técnica da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC/UFC), de forma que foram contratados vários especialistas e consultores, sendo um desses o Prof. Dr. Flávio José Craveiro Cunto, e com a participação voluntária de milhares de pessoas que atuaram durante as três fases de elaboração. Ao conversar sobre o plano com o Prof. Dr. Flávio José Craveiro Cunto, professor adjunto do Departamento de Engenharia de Transporte e membro efetivo da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC/UFC) que atua no eixo de mobilidade urbana do Plano Fortaleza 2040, pode-se ter um maior conhecimento acerca da temática como um todo. O Prof. Dr. Flávio José Craveiro Cunto mostrou um mapa da cidade de Fortaleza, no qual há algumas informações que serão implantadas ao longo do plano, mostrando corredores exclusivos de ônibus que já existem e os que ainda serão implantados no decorrer dos anos. Explicou-nos, também, como a mobilidade urbana afeta na qualidade de vida da sociedade, pois, tendo um planejamento efetivo para o tráfego urbano, haverá um menor percurso para quem usa o transporte coletivo, evitando, como dizem os especialistas, um deslocamento negativo. 26 No mapa, há uma zona que está pintada de verde, uma mais escura do que a outra. Essa zona significa alguns polos de convivência na cidade, no qual se tentará ter a maior concentração de pessoas, podendo fazê-lo com a implantação de novas escolas, hospitais, serviços de lazer, policiamento e etc., e assim haverá um maior número de pessoas vivendo em seus entornos (região verde mais clara). Com essas regiões todas bem alinhadas, poderá haver um transporte que seja bem mais efetivo, passando por todas elas. Além disso, não haverá tanta necessidade de a população realizar um grande deslocamento, pois, em tese, já haverá todo o serviço necessário nas redondezas de sua habitação. Assim, não existirão motivos para fazer longos percursos e, consequentemente, diminuirá os congestionamentos nas vias, economizando tempo. Com esse incentivo, a meta é, aos poucos, ir descentralizando a cidade e deixando-a mais homogênea, para que pessoas de baixa renda possam conviver com pessoas de alta renda, cessando a segregação socioespacial que atualmente permeia a cidade de Fortaleza. Mapa 4 – Mapa do Plano de Mobilidade do Fortaleza 2040 Fonte: Prof. Dr. Flávio José Craveiro Cunto 27 9 CONCLUSÃO O processo da ocupação das cidades ocorreu de forma diferente nos países centrais, visto que, por serem mais desenvolvidos, aconteceu de uma forma mais organizada que nos países periféricos. No Brasil, tal processo ocorreu de forma acelerada, devido ao intenso êxodo rural durante o período da Segunda Guerra Mundial, com dados que indicam que, em 2000, 81,2% da população vivia na zona urbana (IBGE, 2001). Quando, em crescimento rápidos como este, está aliada a à falta de planejamento urbano, geram-se situações que são difíceis de se resolver, tais como problemas ambientais, habitacionais e sociais. Isso porque com grande parte da população migrando do campo para as cidades, há um inchaço na zona urbana, ocasionando uma desregularização entre crescimento e qualidade de vida. Como resultado dessa falta de planejamento, surgem as periferias. O mercado de trabalho e as cidades, no processo de urbanização do Brasil, não estavam preparados para um crescimento tão acelerado. Por motivos de falta de empregos ou de condições dignas para se viver, os indivíduos passaram a morar em lugares que não tinham qualidade de vida adequada para moradia. Tais lugares, hoje, são denominados favelas. Assim como nas outras metrópoles, o processo de urbanização se intensificou com o surgimento das indústrias e principalmente pelos fluxos migratórios intraestaduais. Fortaleza contou com incentivos da Sudene e da reestruturação produtiva ligada ao capital do sul e sudeste, voltada para o ramo de calçados. No entanto, na capital cearense, em 1930, começaram a surgir favelas, dentre as quais estão: Cercado do Zé Padre, Mucuripe e Lagamar. Atualmente, em quase todos os bairros está presente esse tipo de moradia. As maiores favelas estão localizadas nos bairros: Barra do Ceará, Cristo Redentor, Pirambu, Vila Velha, Genibaú, Granja Portugal, Maranguapinho, Cais do Porto, Vicente Pizon, Jardim das Oliveiras, Cidade dos Funcionários e São Bento. Segundo o censo de 2010, 396.370 pessoas viviam em condições precárias de moradia, distribuídas em 194 aglomerados subnormais (favelas). A desigualdade em Fortaleza é muito perceptível, visto que uma parcela da população se apropria de habitações formalmente, enquanto outra parcela considerável se apropria da cidade de forma “ilegal”, ou seja, fora dos padrões urbanísticos. 28 A ocupação pela parcela populacional de baixa renda e a apropriação privada por parte do mercado imobiliário são os principais responsáveis por formarem complexos periféricos em Fortaleza, e a Região do Lagamar é o maior destaque da metrópole. Regiões ambientalmente frágeis são áreas desvalorizadas no mercado imobiliário, custando mais barato, assim as famílias que possuem renda baixa podem se apropriar desses terrenos, vivendo, muitasvezes, em condições precárias. Além disso, a ocupação dessas regiões impossibilita a ampliação da mobilidade urbana. Em Fortaleza, a região sudeste é a que oferece mais benefícios para a população, como transporte, emprego e acesso aos diversos serviços, tornando mais viável a busca por moradia dentro deste setor, mesmo que de forma irregular. Urge, então, uma necessidade de minimizar ou até mesmo solucionar o problema da ocupação espacial da capital cearense. O Plano Fortaleza 2040 é um projeto idealizado pela Prefeitura de Fortaleza em conjunto com a sociedade visando soluções para que a cidade seja um melhor lugar para viver. Dividido em três eixos – Plano Mestre Urbanístico, de Mobilidade, e de Desenvolvimento Econômico e Social – o plano tem como objetivo tornar Fortaleza uma cidade com o controle do crescimento econômico e diminuição das desigualdades sociais. Foi entregue em dezembro de 2016 e possui três etapas: Fortaleza Hoje, A Fortaleza que Queremos e a Visão de Futuro e Plano de Ação. Especialistas e consultores foram contratados e coordenados pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor) e com execução técnica da Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura (FCPC/UFC), com o objetivo de descentralizar Fortaleza e torná-la mais homogênea, minimizando a segregação de classes sociais existentes na cidade. Portanto, pode-se afirmar que o presente trabalho atendeu ao objetivo de analisar como se deu a ocupação das cidades, sendo possível estudar o caso da cidade de Fortaleza, percebendo sua forma de crescimento, assim como os planos para melhorá-la, a fim de amenizar os problemas trazidos com a ocupação espacial sem planejamento, que ocorreu devido ao país ser periférico. 29 10 REFERÊNCIAS CAMPOS FILHO, C. M. Cidades Brasileiras: seu controle ou o caos. São Paulo. Nobel 2ª ed, 1992. FORATTINI, O. P. Ecologia, Epidemiologia e Sociedade. São Paulo Artes Médicas: Editora da Universidade de São Paulo, 1992. LAMPARELLI, C. M. Metodologia do Planejamento Urbano, In Planejamento Urbano em Debate. São Paulo: CORTEZ & SOARES, 1978, 187p. MOTA, S. Urbanização e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 1999. 353p NUCCI, J. C. 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Fortaleza: expansão urbana e organização do espaço. In Ceará: um novo olhar geográfico / Organizadores, José Borzacchiello da Silva, Tércia Correia Cavalcante, Eustógio Wanderley Correia Dantas, Maria Salete Sousa. [et al] – 2 ed. Atual – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007. HARVEY, David. Espaços de Esperança. São Paulo: Ed. Loyola, 2004. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 1950, 1991, 2010. SILVA, José Borzzachiello da. Formação sócio-territorial urbana. In: ____. Os incomodados não se retiram: uma análise dos movimentos sociais em Fortaleza. Fortaleza: Multigraf Editora, 1992. MOTA, S. Urbanização e meio ambiente. 3 ed. Rio de Janeiro: ABES, 2003. 30 SITE OFICIAL DO PLANO FORTALEZA 2040. Disponível em: <http://fortaleza2040.fortaleza.ce.gov.br/site/>. Acesso em: 04 nov. 2017.
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