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- 1 - CCUURRSSOO DDEE AATTEENNDDIIMMEENNTTOO EEMM EEMMEERRGGÊÊNNCCIIAA PPRRÉÉ -- HHOOSSPPIITTAALLAARR MMÓÓVVEELL 2010 K I T T - 2 - ÍNDICE Política Nacional de Atenção as Urgências ................................................ 06 Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU ................................ 10 Veículos e equipamentos usados no atendimento Pré-hospitalar ............. 19 Transporte inter hospitalar .......................................................................... 29 Ética e Humanização no Atendimento Pré-hospitalar ................................ 35 Biossegurança ............................................................................................ 48 Cinemática do Trauma ............................................................................... 57 Avaliação da Cena e abordagem da Vítima .............................................. 71 Vias Aéreas e Ventilação ........................................................................... 88 Ferimento Curativos e Bandagens ............................................................ 131 Choque Hipovolêmico e Reposição Volêmica .......................................... 145 Trauma Músculo Esquelético ...................................................................... 151 Técnicas de Imobilizações .......................................................................... 161 Acidentes com Múltiplas Vítimas e Catástrofes ......................................... 187 Traumas Específicos : ................................................................................ 195 Traumatismo Crânio Encefálico ....................................................... 195 Trauma de Face ............................................................................... 208 Traumatismo Raquimedular ............................................................. 220 Traumatismo Torácico ...................................................................... 227 Traumatismo Abdominal .................................................................. 241 Trauma na Criança ........................................................................... 252 Trauma na Gestante ......................................................................... 261 Trauma no Idoso ............................................................................... 268 Choque elétrico .......................................................................................... 274 Queimaduras .............................................................................................. 280 Afogamento ................................................................................................. 294 Intoxicação exógena e Envenenamento ..................................................... 310 Reanimação Cárdiopulmonar Cerebral - adulto e pediátrica ..................... 332 Urgências Clínicas: ..................................................................................... 383 Crise Hipertensiva ....................................................................... 383 Diabetes Mellitus .............................................................................. 389 Síndromes Coronariana Aguda ........................................................ 401 Acidente Vascular Cerebral .............................................................. 411 Convulsão ......................................................................................... 419 Urgências Obstétricas ................................................................................ 432 Assistência ao Parto Normal e Cuidado com Recém-nascido Complicações da Gravidez Hemorragia e Abortamento Complicações Pó-parto Urgências Psiquiátricas .............................................................................. 441 Psicoses Tentativa de Suicídio Depressões - 3 - Conceituação de urgência Conceito formal Segundo o Conselho Federal de Medicina, em sua Resolução CFM n.° 1.451, de 10/3/1995 (CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 1995), temos: Urgência: ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata. Emergência: constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato. Conceito ampliado Segundo Le Coutour, o conceito de urgência difere em função de quem a percebe ou sente: Para os usuários e seus familiares, pode estar associada a uma ruptura de ordem do curso da vida. É do imprevisto que tende a vir a urgência: “eu não posso esperar”. Para o médico, a noção de urgência repousa não sobre a ruptura, mas sobre o tempo, relacionado com o prognóstico vital em certo intervalo: “ele não pode esperar”. Para as instituições, a urgência corresponde a uma perturbação de sua orga- nização, é “o que não pode ser previsto” . No dicionário da língua portuguesa, lê-se que emergência é relativo a emergir, ou seja, alguma coisa que não existia, ou que não era vista, e que passa a existir ou ser manifesta, representando, dessa forma, qualquer queixa ou novo sintoma que um paciente passe a apresentar. Assim, tanto um acidente quanto uma virose respiratória, uma dor de dente ou uma hemorragia digestiva, podem ser consideradas emergências. Este entendimento da emergência difere do conceito americano, que tem perma- nentemente influenciado nossas mentes e entende que uma situação de “emergência” não pode esperar e tem de ser atendida com rapidez, como incorporado pelo próprio CFM. Inversamente, de acordo com a nossa língua, urgência significa aquilo que não pode esperar (tanto que o Aurélio apresenta a expressão jurídica “urgência urgentíssima”). Assim, devido ao grande número de julgamentos e dúvidas que esta ambivalência de terminologia suscita no meio médico e no sistema de saúde, optamos por não mais fazer este tipo de diferenciação. Passamos a utilizar apenas o termo “urgência”, para todos os casos que necessitem de cuidados agudos, tratando de definir o “grau de urgência”, a fim de classificá-las em níveis, tomando como marco ético de avaliação o “imperativo da necessidade humana”. - 4 - Avaliação multifatorial do grau de urgência O grau de urgência é diretamente proporcional à gravidade, à quantidade de recursos necessários para atender o caso e à pressão social presente na cena do atendimento e inversamente proporcional ao tempo necessário para iniciar o tratamento. U = G * A * V * T * • G ra u de urgê ncia • G ra vida de do cas o • Tempo para iniciar o tra ta mento • Atenção: recursos neces s á rios para o tra ta mento • V alor s ocia l que envolve o cas o Gravidade É perfeitamente possível quantificar a gravidade do caso pelo telefone, por meio de perguntas objetivas dirigidas diretamente ao paciente ou à pessoa que ligou solicitando ajuda, utilizando uma semiologia que será definida e abordada nos protocolos específicos. Mais fácil ainda é quantificar as urgências nas transferências inter- hospitalares, quando o contato telefônico é feito diretamente entre médicos. Tempo Tratamos aqui de utilizar o conhecimento dos intervalos de tempo aceitáveis entre o início dos sintomas e o início do tratamento. Quantomenor o tempo exigido, maior a urgência. Nas transferências inter-hospitalares, com o atendimento inicial já realizado, esta avaliação deve ser mais cuidadosa, para evitar precipitações. Atenção Quanto maior for a necessidade de recursos envolvidos no atendimento inicial e no tratamento definitivo, maior será a urgência. Este subfator é o que mais influi na decisão de transferir o paciente. Valor Social A pressão social que envolve o atendimento inicial pode muitas vezes justificar o aumento do grau de urgência de um caso simples. Este fator não pode ser negligenciado, pois muitas vezes uma comoção social no local do atendimento pode dificultar a prestação de socorro. É de pouca influência, porém, nas transferências inter- hospitalares. - 5 - Classificação das urgências em níveis Com o objetivo de facilitar o estabelecimento de prioridades entre os diferentes casos de urgência, podemos didaticamente classificá-las da seguinte forma: Nível 1 : Emergência ou Urgência de prioridade absoluta Casos em que haja risco imediato de vida e/ou a existência de risco de perda funcional grave, imediato ou secundário. Nível 2 : Urgência de prioridade moderada Compreende os casos em que há necessidade de atendimento médico, não necessariamente de imediato, mas dentro de poucas horas. Nível 3 : Urgência de prioridade baixa Casos em que há necessidade de uma avaliação médica, mas não há risco de vida ou de perda de funções, podendo aguardar várias horas. Nível 4 : Urgência de prioridade mínima Compreendem as situações em que o médico regulador pode proceder a conselhos por telefone, orientar sobre o uso de medicamentos, cuidados gerais e outros encaminhamentos. “Conceito de Potencialidade”: Qualquer caso inicialmente classificado em um determinado nível pode mudar sua colocação inicial, em função do tempo de evolução, tipo de transporte e outros fatores, sendo, portanto, necessário estimar a gravidade potencial para cada caso. - 6 - A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO ÀS URGÊNCIAS Antecedentes históricos As urgências vêm sendo objeto de algumas iniciativas do governo federal, mas que não lograram causar impacto significativo na sua atenção. Em junho de 1998, foi publicada a Portaria GM/MS n.º 2.923, que determinou investimentos nas áreas de Assistência Pré-hospitalar Móvel, Assistência Hospitalar, Centrais de Regulação de Urgências e Capacitação de Recursos Humanos. Em abril de 1999, foi publicada a Portaria GM/MS n.º 479, que criou uma série de pré- requisitos para o cadastramento de hospitais que, depois de habilitados, passaram a receber uma valorização no valor das internações realizadas dentro de uma lista pré- determinada de procedimentos considerados de urgência. Ainda neste período, foram destinados também recursos do Reforsus para equipa- mentos, reforma e modernização gerencial de hospitais que atendessem às urgências. Em abril de 2000, foi realizado o IV Congresso da Rede Brasileira de Coo- peração em Emergências (RBCE), em Goiânia (Rede Brasileira de Cooperação em Emergências, 2000), sob a denominação: “Bases para uma Política Nacional de Atenção às Urgências”, com grande mobilização de técnicos da área de urgências e participação formal do Ministério da Saúde que, a partir desse evento, desencadeou a organização de duas vertentes de atividades relacionadas à atenção às urgências: a) Alguns técnicos foram convidados a compor um grupo-tarefa para avaliação do impacto da aplicação dos recursos acima mencionados, que produziu um relatório que foi remetido ao Reforsus no final de 2000; b) A Secretaria de Assistência à Saúde (SAS) do Ministério da Saúde designou um profissional para interlocução específica da área, que até então não contava com tal representação. A partir da definição dessa interlocução, iniciou-se um ciclo de seminários de discussão e planejamento conjunto de redes regionalizadas de atenção às urgências, envolvendo gestores estaduais e municipais, em vários estados da federação e, ainda neste período, que se estendeu de junho de 2000 até meados de 2002, foi feita uma revisão da Portaria GM/MS n.º 824, de junho de 1999, republicada como Portaria GM/MS n.º 814, em junho de 2001. Foram também elaboradas diretrizes técnicas para as Unidades não Hospitalares de Atendimento às Urgências, Transporte Inter-hospitalar, grades de capacitação para todos os níveis de atenção às urgências e diretrizes gerais para o desenho de uma rede regionalizada de atenção às urgências, que acabaram por compor o texto da Portaria GM/MS n.º 2.048: Regulamento Técnico dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência, publicado em novembro de 2002. - 7 - A Portaria GM/MS n.º 2.048, de 5 de novembro de 2002 A Portaria GM/MS n.º 2.048/02 (BRASIL, 2002a) estabelece os princípios e diretrizes dos sistemas estaduais de urgência e emergência, define normas, critérios de funcionamento, classificação e cadastramento dos hospitais de urgência, determina a criação das Coordenações do Sistema Estadual de Urgências e é composta de sete capítulos em que estão contemplados os seguintes tópicos: Capítulo I: Estruturação dos sistemas locorregionais de atenção às urgências, dentro dos preceitos da Noas-SUS; Capítulo II: Diretrizes da Regulação Médica das Urgências; Capítulo III: Diretrizes e responsabilidades das várias unidades componentes do atendimento pré-hospitalar fixo; Capítulo IV: Diretrizes do Atendimento Pré-hospitalar Móvel; Capítulo V: Diretrizes do componente hospitalar de atendimento às urgências; Capítulo VI: Transferências e transporte inter-hospitalar; Capítulo VII: Diretrizes dos Núcleos de Educação em Urgências com respectivas grades de temas, conteúdos, habilidades e cargas horárias. A Portaria GM/MS n.º 1.863, de 29 de setembro de 2003 No novo ciclo de governo inaugurado em 2003, a área das urgências é considerada prioritária e é publicada na forma da Portaria GM/MS n.º 1.863 (BRASIL, 2003a) a “Política Nacional de Atenção às Urgências”, ocorrendo a incorporação de novos elementos conceituais, além da revisão e retomada de outros já bastante difundidos, que vinham sendo debatidos e formulados com a participação de técnicos de todo o País, a saber: • garantir a universalidade, eqüidade e a integralidade no atendimento às urgências clínicas, cirúrgicas, gineco-obstétricas, psiquiátricas, pediátricas e as relacionadas às causas externas (traumatismos não-intencionais, violências e suicídios); • consubstanciar as diretrizes de regionalização da atenção às urgências, mediante a adequação criteriosa da distribuição dos recursos assistenciais, conferindo concretude ao dimensionamento e implantação de sistemas estaduais, regionais e municipais e suas respectivas redes de atenção; • desenvolver estratégias promocionais da qualidade de vida e saúde capazes de prevenir agravos, proteger a vida, educar para a defesa da saúde e recuperar a saúde, protegendo e desenvolvendo a autonomia e a eqüidade de indivíduos e coletividades; • fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de atendimento às necessidades coletivas em saúde, de caráter urgente e transitório, decorrente de situações de perigo iminente, de calamidades públicas e de acidentes com múltiplas vítimas, a partir da construção de mapas de risco regionais e locais e da adoção de protocolos de prevenção, atenção e mitigação dos eventos; - 8 - • contribuir para o desenvolvimento de processos e métodos de coleta, análise e organizaçãodos resultados das ações e serviços de urgência, permitindo que a partir de seu desempenho seja possível uma visão dinâmica do estado de saúde da população e do desempenho do Sistema Único de Saúde em seus três níveis de gestão; • integrar o complexo regulador do Sistema Único de Saúde, promover intercâmbio com outros subsistemas de informações setoriais, implementando e aperfeiçoando permanentemente a produção de dados e democratização das informações com a perspectiva de usá-las para alimentar estratégias promocionais; • qualificar a assistência e promover a capacitação continuada das equipes de saúde do Sistema Único de Saúde na Atenção às Urgências, em acordo com os princípios da integralidade e humanização. • Define ainda que a Política Nacional de Atenção às Urgências, deve ser implementada a partir dos seguintes componentes fundamentais: • adoção de estratégias promocionais de qualidade de vida, buscando identificar os determinantes e condicionantes das urgências por meio de ações transetoriais de responsabilidade pública, sem excluir as responsabilidades de toda a sociedade; • organização de redes locorregionais de atenção integral às urgências, enquanto elos da cadeia de manutenção da vida, tecendo-as em seus diversos componentes: Componente Pré-Hospitalar Fixo: unidades básicas de saúde e unidades de saúde da família, equipes de agentes comunitários de saúde, ambulatórios especializados, serviços de diagnóstico e terapias, e unidades não-hospitalares de atendimento às urgências, conforme Portaria GM/ MS n.º 2.048, de 5 de novembro de 2002 (BRASIL, 2002a). Componente Pré-Hospitalar Móvel: Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (SAMU) e os serviços associados de salvamento e resgate, sob regulação médica de urgências e com número único nacional para urgências médicas – 192; Componente Hospitalar: portas hospitalares de atenção às urgências das unidades hospitalares gerais de tipo I e II e das unidades h o s p i t a l a r e s de referência tipo I, II e III, bem como toda a gama de leitos de internação, passando pelos leitos gerais e especializados de retaguarda, de longa permanência e os de terapia semi-intensiva e intensiva, mesmo que esses leitos estejam situados em unidades hospitalares que atuem sem porta aberta às urgências; Componente Pós-Hospitalar: • Modalidades de Atenção Domiciliar, Hospitais Dia e Projetos de Reabilitação Integral com componente de reabilitação de base comunitária; • instalação e operação das Centrais de Regulação Médica das Urgências, integradas ao Complexo Regulador da Atenção no SUS; - 9 - • Capacitação e educação continuada das equipes de saúde de todos os âmbitos da atenção, a partir de um enfoque estratégico promocional, abarcando toda a gestão e atenção pré-hospitalar fixa e móvel, hospitalar e pós-hospitalar, envolvendo os profissionais de nível superior e os de nível técnico, em acordo com as diretrizes do SUS e alicerçada nos pólos de educação permanente em saúde, onde devem estar estruturados os Núcleos de Educação em Urgências, normatizados pela Portaria GM/MS n.º 2.048/02 (BRASIL, 2002a), que são propostos aos gestores como estratégia para implementar a capacitação dos profissionais atuantes em todos os níveis de atenção às urgências, conforme se lê abaixo: • Os Núcleos de Educação em Urgências devem se organizar como espaços de saber interinstitucional de formação, capacitação, habilitação e educação continuada de recursos humanos para as urgências, coordenados pelo gestor público e tendo como integrantes as secretarias municipais e estaduais e as instituições de referência na área de urgência que formam e capacitam tanto o pessoal da área de saúde como qualquer outro setor que presta socorro à população, de caráter público ou privado e de abrangência municipal, regional ou estadual. • Orientação geral segundo os princípios de humanização da atenção. - 10 - SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA SAMU - 192 I - Definição Geral O Ministério da Saúde na Portaria 2048, “considera como nível pré hospitalar móvel na área de urgência, o atendimento que procura chegar precocemente à vítima, após ter ocorrido um agravo à sua saúde (de natureza traumática ou não-traumática, ou ainda psiquiátrica), que possa levar à sofrimento, seqüelas ou mesmo à morte, sendo necessário, portanto, prestar-lhe atendimento e transporte adequado a um serviço de saúde devidamente hierarquizado e integrado ao Sistema Único de Saúde. Em muitas situações de urgência pré – hospitalar, ações de salvamento/ resgate, precisam ser realizadas antes do atendimento propriamente dito, ou seja, pode ser necessário proteger a vítima de situações normalmente adversas e que por elas mesmas constituem risco de vida, sendo necessário para tanto a utilização de equipamentos específicos e pessoal treinado e habilitado para sua utilização. Em muitas situações as ações de resgate e as de atendimento à saúde são realizadas simultaneamente. II - Organização do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU • A elaboração de um diagnóstico loco-regional deve anteceder qualquer projeto de implantação do SAMU em um município ou região. • Roteiro mínimo para elaboração do diagnóstico. • Dados da região/município • Descrição de malha viária urbana (pontes, linhas de trens, rios, córregos outros obstáculos ao trânsito de veículos de socorro.) • Distâncias e condições das estradas. Localizar em mapa rodoviário • Identificar os recursos de saúde por nível de complexidade. Localizar em planta planimétrica. • Fluxos e rotas de deslocamento dos veículos de socorro • Dados demográficos • População – por sexo, faixa etária urbana e/ou rural. • Dados epidemiológicos • Morbidade • Mortalidade • Perfil sócio econômico da população • Iniciar medidas de reanimação de suporte básico da vida III - Níveis da Atenção Pré – Hospitalar Móvel – SAMU A atenção pré – hospitalar no SAMU se dá em dois níveis de complexidade. O objetivo é definir as ações assistenciais que podem ocorrer no nível básico e no nível avançado do atendimento, além dos recursos humanos e os meios necessários para sua execução. - 11 - 1- O Suporte Básico de Vida (SBV) • Primeiro nível de resposta a um pedido de socorro, quando for decidida a necessidade de enviar uma equipe intervencionista ao local de origem do chamado. A decisão de envio do SBV é responsabilidade do médico regulador. • A equipe de suporte básico de vida (SBV) é constituída por auxiliar / técnico de enfermagem e o condutor do veículo de socorro. • O número de ambulâncias de SBV segue parâmetros estabelecidos pelo MS, entre eles o populacional como o mais importante, ou seja: uma ambulância SBV para 100.000 /150.000 habitantes. • A localização das viaturas de SBV deve ser descentralizada no espaço geográfico de abrangência do SAMU, de forma que o deslocamento até o local de origem do pedido de socorro urgente não ultrapasse o tempo máximo de 09 minutos, segundo parâmetro internacional. As ações assistenciais que podem ser realizadas pela equipe de intervenção do SBV são determinadas pela Lei do Exercício Profissional, admitindo-se, no entanto, que sob supervisão direta ou à distância do Enfermeiro e quando devidamente capacitados e habilitados através dos Núcleos de Educação de Urgências, que os técnicos e auxiliares de enfermagem sejam capazes de: Reconhecer sinais precoces de disfunção respiratória Aferir freqüência cardíaca e respiratória, tensão arterial, temperatura, saturação de O2 e controle de glicemia. Manejar equipamentos desuporte ventilatório não invasivos. Realizar prescrições médicas por telemedicina. Reconhecer sinais precoces de doenças circulatórias agudas Realizar monitorização cardíaca e eletrocardiográfica Dominar técnicas de aferição da glicemia e administração de medicamentos e infusões, dentro dos limites da sua função. Ser capaz de avaliar o traumatizado grave e de prestar o atendimento inicial nas medidas de suporte básico a vida. Adotar medidas adequadas no manejo do Trauma Raque Medular, TCE, queimados, trauma na gestante e na criança, quase afogamento, acidentes com múltiplas vítimas e com produtos perigosos, entre outros. Estar habilitado a auxiliar a gestante em trabalho de parto normal. Conhecimento e habilidade psicomotora para realização de ações de salvamento, aquático, terrestre, aquático e em altura. A ambulância de Suporte Básico da Vida é o veículo destinado ao transporte inter-hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pré-hospitalar de pacientes com risco de vida desconhecido, porém sem necessidade potencial de intervenção médica no local e/ou durante transporte até o serviço de saúde de destino. Equipamentos e materiais Sinalizador óptico e acústico; equipamento de rádio-comunicação fixa e móvel; maca articulada e com rodas; suporte para soro; instalação de rede de oxigênio com cilindro, válvula, manômetro em local de fácil visualização e régua com dupla saída; oxigênio com régua tripla (a-alimentação do respirador; b-fluxômetro e umidificador de oxigênio e c - aspirador tipo Venturi); manômetro e fluxômetro com máscara e chicote para oxigenação; cilindro de oxigênio portátil com válvula; maleta de emergência contendo: estetoscópio adulto e infantil; ressuscitador manual adulto/infantil, cânulas orofaríngeas de tamanhos variados; luvas descartáveis; tesoura reta com ponta romba; esparadrapo; esfigmomanômetro adulto/infantil; ataduras de 15 cm; compressas - 12 - cirúrgicas estéreis; pacotes de gaze estéril; protetores para queimados ou eviscerados; cateteres para oxigenação e aspiração de vários tamanhos; maleta de parto contendo: luvas cirúrgicas; clamps umbilicais; estilete estéril para corte do cordão; saco plástico para placenta; cobertor; compressas cirúrgicas e gazes estéreis; braceletes de identificação. Os veículos que atuam no atendimento as urgências traumáticas deverão dispor adicionalmente dos seguintes equipamentos e materiais: prancha curta e longa para imobilização de coluna; talas para imobilização de membros e conjunto de colares cervicais; colete imobilizador dorsal; frascos de soro fisiológico e ringer lactato; bandagens triangulares; cobertores; coletes refletivos para a tripulação; lanterna de mão; óculos, máscaras e aventais de proteção; material mínimo para salvamento terrestre, aquático e em alturas; maleta de ferramentas e extintor de pó químico seco de 0,8 Kg; fitas e cones sinalizadores para isolamento de áreas. Maletas com medicações a serem definidas em protocolos, pelos serviços. 2- O Suporte Avançado de Vida – SAV As ambulâncias de Suporte Avançado, com equipes intervencionistas compostas por condutor, médicos e enfermeiros e com equipamentos para procedimentos mais complexos e invasivos de manutenção da vida, permitem que seja realizado no local do chamado, o diagnóstico inicial, a reanimação e a estabilização do paciente, permitindo que o transporte seja feito diretamente para a unidade hospitalar de tratamento definitivo. Segundo parâmetro populacional do MS as ambulâncias de Suporte Avançado (UTI) serão 01 para cada 400.000 hab. A este critério devem ser agregados os resultados obtidos no diagnóstico situacional, já descrito, para um melhor dimensionamento. A localização das viaturas SAV deve ser descentralizada no território abrangido pelo SAMU de forma que seu deslocamento até o local do chamado, não ultrapasse o tempo máximo de 12 minutos. De acordo com experiências de outros serviços de APH, no mundo, em apenas 10% dos pedidos de socorro urgentes que chegam na central de Regulação do SAMU, é necessário o envio da Viatura de Suporte Avançado. Os SAMU, de acordo com suas especificidades e necessidades, devem elaborar Protocolos de Despacho, contemplando o envio da Viatura de Suporte Avançado em situações padrão, tais como: - Apoio a viatura de Suporte Básico de Vida - Acidentes envolvendo mais de duas vítimas - Dor torácica - Quase afogamento - Desabamentos e soterramentos - Ferimentos por arma branca e de fogo As ações e os procedimentos invasivos realizados pela equipe de suporte avançado do SAMU são considerados Atos Médicos, cabendo unicamente a esse profissional estipular os limites do atendimento. Protocolos Técnicos de Intervenção podem orientar a equipe. - 13 - Ambulância de Suporte Avançado de Vida (SAV) È o veículo destinado ao atendimento e transporte de pacientes de alto risco em emergências pré-hospitalares e/ou de transporte inter-hospitalar que necessitem de cuidados médicos intensivos. Deve contar com os equipamentos médicos necessários para esta função. Sinalizador óptico e acústico; equipamento de rádio-comunicação fixa e móvel; maca com rodas e articulada; dois suportes de soro; cadeira de rodas dobrável; instalação de rede portátil de oxigênio como descrito no item anterior (é obrigatório que a quantidade de oxigênio permita ventilação mecânica por no mínimo duas horas); respirador mecânico de transporte; oxímetro não-invasivo portátil; monitor cardioversor com bateria e instalação elétrica disponível (em caso de frota deverá haver disponibilidade de um monitor cardioversor com marca-passo externo não-invasivo); bomba de infusão com bateria e equipo; maleta de vias aéreas contendo: máscaras laríngeas e cânulas endotraqueais de vários tamanhos; cateteres de aspiração; adaptadores para cânulas; cateteres nasais; seringa de 20ml; ressuscitador manual adulto/infantil com reservatório; sondas para aspiração traqueal de vários tamanhos; luvas de procedimentos; máscara para ressuscitador adulto/infantil; lidocaína geléia e "spray"; cadarços para fixação de cânula; laringoscópio infantil/adulto com conjunto de lâminas; estetoscópio; esfigmomanômetro adulto/infantil; cânulas orofaríngeas adulto/infantil; fios-guia para intubação; pinça de Magyll; bisturi descartável; cânulas para traqueostomia; material para cricotiroidostomia; conjunto de drenagem torácica; maleta de acesso venoso contendo: tala para fixação de braço; luvas estéreis; recipiente de algodão com anti-séptico; pacotes de gaze estéril; esparadrapo; material para punção de vários tamanhos incluindo agulhas metálicas, plásticas e agulhas especiais para punção óssea; garrote; equipo de macro e microgotas; cateteres específicos para dissecção venosa tamanho adulto/infantil; tesoura, pinça de Kocher; cortadores de soro; lâminas de bisturi; seringas de vários tamanhos; torneiras de 3 vias; equipo de infusão de 3 vias; frascos de soro fisiológico, ringer lactato e soro glicosado; caixa completa de pequena cirurgia; maleta de parto como descrito nos itens anteriores; sondas vesicais; coletores de urina; protetores para eviscerados ou queimados; espátulas de madeira; sondas nasogástricas; eletrodos descartáveis; equipo para drogas fotossensíveis; equipo para bombas de infusão; circuito de respirador estéril de reserva; equipamentos de proteção a equipe de atendimento: óculos, máscaras e aventais; cobertor ou filme metálico para conservação do calor do corpo; campo cirúrgico fenestrado; almotolias com anti-séptico; conjunto de colares cervicais; prancha longa para imobilização da coluna. Nos casos de frota, em que existe demanda para transporte de paciente neonatal deverá haver pelo menosuma Incubadora de transporte de recém-nascido com bateria e ligação a tomada do veículo (12 volts). A incubadora deve estar apoiada sobre carros com rodas devidamente fixadas quando dentro da ambulância; respirador e equipamentos adequados para recém natos. Os equipamentos que as viaturas transportam, devem obedecer a alguns critérios básicos: • Permitir Suporte Vital • Devem ser leves e portáteis, permitindo uso contínuo em situações adversas. • Auto-suficientes, ou seja devem ter bateria suficientes para até duas vezes o tempo estimado de transporte. • De fácil montagem e manuseio • Resistentes • Não devem interferir com instrumentos de navegação se for o caso. • De fácil limpeza e manutenção. - 14 - Retaguarda Hospitalar Todo sistema de APH deverá contar com uma rede hospitalar de referência conveniada, obedecendo a critérios de hierarquização e regionalização, ou seja, os hospitais serão divididos pelo grau de resolutividade em terciários, secundários e primários e de acordo com sua localização geográfica. Dessa forma o critério adotado é o seguinte: “ levar o paciente certo, na hora certa para o hospital certo “ • Treinamento e Reciclagem • Treinamento especifico na área deve preceder a qualquer atividade desenvolvida pelos profissionais, nos diferentes níveis, no APH – SAMU. • Considerar que por maior as experiências que o profissional tenha, as situações vivenciadas no serviço são de alto risco, estressantes e adversas, exigindo por parte de quem trabalha adaptação anterior, conseguida através de capacitação. • Planos de reciclagem devem ser pré - estabelecidos e seguidos rigorosamente, contribuindo para o constante aperfeiçoamento do profissional. • Supervisão e Controle de Qualidade • Meios adequados de supervisão devem ser encontrados e adotados, de acordo com as características de cada serviço. O controle de qualidade deve ser estabelecido, por exemplo, a partir da discussão e revisão dos casos, leitura das fichas de atendimento e seguimento do paciente já a nível hospitalar. Qualidades desejáveis para os profissionais do SAMU: • Amabilidade - inspirar confiança e transmitir calma e segurança para o paciente que está atendendo • Cooperação - sempre buscar a melhor harmonização com os integrantes da equipe, buscando o melhor atendimento para o paciente. • Improvisação - ser capaz de improvisar utilizando meios que estejam a mão, buscando solucionar situações inesperadas, que possam ocorrer. • Iniciativa - ser capaz de iniciar o atendimento, dentro dos seus limites, sem que precise que outro o faça por ele. • Liderança - ser capaz de “tomar conta do caso " sempre que isto for de sua responsabilidade e isto inclui controlar a cena da ocorrência. • Discrição -respeitar as informações de cunho pessoal ou de foro Intimo que lhe foram confiadas pelo paciente. Lembrar que fora das circunstâncias que o levaram a prestar a assistência, seria pouco provável que ela lhe confiasse estas informações. • Controle de Hábitos Pessoais e de Vocabulário, Boa Apresentação Pessoal. IV - FASES DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL - SAMU 1- O Chamado Através do número nacional para urgências médicas – 192 , exclusivo e gratuito, o serviço deve ser acionado. Neste momento considera-se que o atendimento já começou e o tempo resposta começa a ser contado. As informações obtidas pelo telefonista são fundamentais para a próxima etapa. O telefonista deve acalmar o solicitante e perguntar, por exemplo: O Local do acidente (bairro, rua, referências). A Identificação do solicitante (nome, idade, telefone). A Natureza da ocorrência (o que está acontecendo). O número de vítimas (número e condições aparentes). Se há riscos potenciais (fogo, trânsito local, cabo de energia). - 15 - Considerar ainda: Condições climáticas no momento. Rotas e fluxo para o local da ocorrência. Hora e dia da semana. Outras informações a critério do serviço. Para que o SAMU possa funcionar de forma apropriada é importante que você saiba utilizar o serviço. Ele deve ser acionado somente quando existe uma situação de urgência. Evite sobrecarregar o sistema com outros problemas que não se caracterizam como tal. Oriente as pessoas, em especial as crianças, para que não façam trotes com este serviço. O tempo e os recursos gastos com isto podem fazer com que atrase o atendimento a um paciente em situação de ameaça imediata à vida. Se você identifica uma situação de urgência, disque 192. Este número é gratuito, não exigindo o uso de cartões telefônicos. Identifique-se e diga qual é o problema que está ocorrendo com o paciente. Responda as perguntas efetuadas pela telefonista (TARM) de forma clara e correta. Forneça endereço completo, indicando pontos de referência de como chegar mais rapidamente. Isto reduz os riscos da ambulância gastar tempo procurando o local. Quando estiver conversando com o médico procure informar para o mesmo qual é o problema, quem é a vitima, sua idade (mesmo que aproximada) e o sexo. Faça observações também sobre doenças prévias, medicações e a evolução das queixas. Verifique ainda se a pessoa está acordada ou desacordada, além de transmitir outras informações. Elas permitirão que o médico regulador tome as melhores decisões e mande o melhor recurso para cada tipo de atendimento. Em caso de trauma, identifique quantas vítimas têm no local, se existe alguma presa nas ferragens, o estado de consciência das mesmas e como e o que de fato ocorreu. Siga os conselhos orientados pelo médico regulador enquanto aguarda a chegada do socorro. Solicite uma outra pessoa para esperar e sinalizar para a ambulância quando a mesma estiver chegando ao local. Qualquer nova informação ligue novamente para 192 e relate as mudanças ocorridas. - 16 - 2 - Regulação Médica: O que faz? - Atende aos chamados telefônicos 24 horas sem interrupção, feitos através do número 192; - Tem presente sempre um médico regulador; - Ouve a solicitação, analisa e dá a melhor resposta possível; - Garante o acesso do paciente a unidade de saúde (Pronto Atendimento, Pronto Socorro, Hospital Geral ou Especializado) conforme for sua necessidade; - Garante suporte básico de vida (SBV), acompanhado de auxiliar de enfermagem, ou suporte avançado de vida (SAV) com médico e enfermeiro, de acordo com o quadro clínico do paciente; - Acompanha e monitoriza o atendimento até a recepção no serviço de saúde para o qual foi encaminhado; - Acompanha a situação das unidades de urgência, se estão com muitos casos para atender, se as equipes médicas estão completas, se existe leitos vagos, a situação das UTI, dos equipamentos para dia diagnostico entre outras necessidades. As funções: Tranqüilizar quem solicitar ajuda de socorro. Escolher para cada caso a melhor solução. Evitar: ações desnecessárias. Hospitalização inúteis. Trotes. Melhorar as condições dos pacientes que correm riscos. Orientar cuidados até que chegue a ambulância. Informar a equipe que vai fazer o atendimento tudo que conhecer da situação. Entrar em contato com o serviço que vai receber o paciente. Informar ao medico do serviço sobre as condições do paciente e o que foi feito no atendimento pré-hospitalar. Médico Regulador Dialoga, conversa, obtém as melhores informações possíveis de quem fez a ligação pedindo ajuda. Decide qual a melhor providência a ser tomada. Coordena todo o atendimento. Solicita apoio do corpo de bombeiros para os casos que necessitemde resgate. Solicitar apoio/auxilio da Policia Militar/ Policia Civil em intercorrências em que é necessário isolar a área de ocorrência para evitar nova vitimas e proteger, a equipe e/ou paciente. - 17 - 3 - O envio do recurso A partir das informações dadas pelo solicitante ocorre o despacho do recurso mais adequado para o atendimento. Protocolos previamente estabelecidos podem ajudar na decisão do Médico Regulador. Enviar sempre o recurso mais próximo do local do chamado para diminuir o tempo resposta. Durante o trajeto, para o qual se deve estabelecer a melhor e a mais conhecida rota, dar atenção as informações que chegam via rádio. Elas com certeza ajudarão na avaliação prévia da gravidade do chamado. 4 - A avaliação da cena Na chegada ao local do acidente considerar que o atendimento as vítimas envolve uma série de ações complexas onde estão envolvidos diversos fatores agravantes tais como: tipo de acidente, local e o número de vítimas. Cada acidente é diferente um do outro, no entanto alguns princípios devem ser estabelecidos e seguidos em todos os casos, visando principalmente garantir a segurança da equipe e da vítima. Existem 3 perguntas (passos) que devem ser respondidas por quem chega primeiro no local e que ajudam na avaliação da cena e dos riscos potenciais. *Qual é a situação? *Até onde posso ir? (riscos potenciais) * O que farei e como farei para controlar a situação? (ações e recursos) Outros Passos - O Atendimento (reanimação e estabilização do paciente). - O transporte adequado ao serviço de saúde mais indicado a resolução do problema do paciente. - O término do caso e preparação para novo chamado. Além do atendimento emergencial em casos de incidentes com vítimas, o SAMU atua de diversas formas para melhorar a qualidade do atendimento de urgência a população. Conheça abaixo o procedimento de atendimento a uma chamada. Atendente recebe a ligação e pega informações básicas como nome de quem ligou e sua relação com a vítima, nome da vítima, endereço da ocorrência, bairro, ponto de referência e telefone. É de grande importância a correta transmissão dessas informações iniciais Médico regulador solicita informações sobre o paciente. Já nesse momento podem ser sugeridos procedimentos emergenciais. De acordo com os resultados, unidades móveis serão acionadas. - 18 - Atendimento telemédico: não havendo necessidade do envio de uma unidade, o chamado é registrado na base de dados do SAMU (ação 5). Atendimento móvel: sendo necessário, uma unidade móvel é imediatamente enviada para o local. Pode ser enviado um veículo simples, para remoção ou tratamento de casos simples, ou uma unidade SAMU completa com toda a aparelhagem para atendimento a emergências no local. Ambos são deslocados com uma equipe de médico, enfermeiro e motorista. No local: em alguns casos o atendimento é realizado no local e, de acordo com o diagnóstico do médico, o paciente é imediatamente liberado. No hospital: não sendo possível o atendimento no local, o paciente é levado para o pronto-socorro mais próximo, onde todas as informações da ocorrência são passadas para a equipe responsável. Concluído o atendimento, todas as informações da ocorrência são registradas. Elas serão utilizadas para posteriores análises estatísticas de atendimento. - 19 - VEÍCULOS E EQUIPAMENTOS USADOS NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR Introdução No atendimento a uma situação de emergência é essencial que a viatura destinada a atender estes tipos de ocorrência, esteja equipada com todo o equipamento e material indispensável a oferecer assistência pré-hospitalar a vítima traumatizada. Além disso, a guarnição escalada na viatura deve estar perfeitamente treinada, com conhecimento profundo quanto a identificação rápida dos equipamentos e materiais, bem como, das técnicas de utilização dos mesmos, tornando assim o atendimento ágil e eficiente. 1. Unidades Móveis O SAMU trabalha na lógica de um sistema organizado regionalmente e dentro do Estado, onde dispõe de unidades próprias e atua em conjunto com outras instituições para o atendimento às urgências. Assim sendo descreve-se abaixo a definição das várias ambulâncias e outras unidades móveis componentes deste sistema conforme Portaria Ministerial 2048. Define-se ambulância como um veículo (terrestre, aéreo ou aquaviário) que se destine exclusivamente ao transporte de enfermos. As dimensões e outras especificações do veículo terrestre deverão obedecer às normas da ABNT – NBR 14561/2000, de julho de 2000. As Ambulâncias são classificadas em: TIPO A – Ambulância de Transporte: veículo destinado ao transporte em decúbito horizontal de pacientes que não apresentam risco de vida, para remoções simples e de caráter eletivo. TIPO B – Ambulância de Suporte Básico: veículo destinado ao transporte inter- hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pré- hospitalar de pacientes com risco de vida desconhecido, não classificado com potencial de necessitar de intervenção médica no local e/ou durante transporte até o serviço de destino. TIPO C - Ambulância de Resgate: veículo de atendimento de urgências pré- hospitalares de pacientes vítimas de acidentes ou pacientes em locais de difícil acesso, com equipamentos de salvamento (terrestre, aquático e em alturas). TIPO D – Ambulância de Suporte Avançado: veículo destinado ao atendimento e transporte de pacientes de alto risco em emergências pré-hospitalares e/ou de transporte inter-hospitalar que necessitam de cuidados médicos intensivos. Deve contar com os equipamentos médicos necessários para esta função. TIPO E – Aeronave de Transporte Médico: aeronave de asa fixa ou rotativa utilizada para transporte inter-hospitalar de pacientes e aeronave de asa rotativa para ações de resgate, dota- da de equipamentos médicos homologados pelo Departamento de Aviação Civil - DAC. - 20 - TIPO F – Embarcação de Transporte Médico: veículo motorizado aquaviário, destinado ao transporte por via marítima ou fluvial. Deve possuir os equipamentos médicos necessários ao atendimento de pacientes conforme sua gravidade. VEÍCULOS DE INTERVENÇÃO RÁPIDA Este veículos, também chamados de veículos leves, veículos rápidos ou veículos de ligação médica são utilizados para transporte de médicos com equipamentos que possibilitam oferecer suporte avançado de vida nas ambulâncias do Tipo A, B, C e F. OUTROS VEÍCULOS: Veículos habituais adaptados para transporte de pacientes de baixo risco, sentados (ex. pacientes crônicos) que não se caracterizem como veículos tipo lotação (ônibus, peruas, etc.). Este transporte só pode ser realizado com anuência médica. 2. Classificação dos Equipamentos e Materiais Para fins didáticos, estaremos classificando os equipamentos e materiais da seguinte forma: Equipamentos de comunicação móvel e portátil; Equipamentos para segurança no local o acidente; Equipamentos de reanimação e administração de oxigênio; Equipamentos de imobilização e fixação de curativos; Materiais utilizados em curativos; Materiais de uso obstétrico; Equipamentos para verificação de sinais vitais; Macas e acessórios; Equipamentos de uso exclusivo do médico. - 21 - 3. Definição dos Equipamentos e Materiais 3.1. Equipamentos de Comunicação Móvel e Portátil: Equipamentos de comunicaçãomóvel, rádios VHF/FM: são os mais utilizados no Corpo de Bombeiros, são capazes de identificar chamadas possuindo no mínimo 16 canais a 64 canais. Possuem scan com prioridade dupla e grande visor alfanumérico de 14 caracteres. Equipamentos de comunicação portátil - rádios VHF/FM: O rádio Portátil possui várias opções e características que destacam seu desempenho sendo utiliza- dos no Corpo de Bombeiros modelos que possuem desde 16 canais a 64 canais, sem visor ou com visor alfanumérico de 8 caracteres, várias faixas de freqüência PL/DPL, VOX integrada e múltiplas opções de baterias. Fig 5.2 – Rádio portátil 3.2. Equipamentos para Segurança no Local do Acidente Equipamento de proteção individual – este conjunto de equipamentos destinam- se a proteção do socorrista e da vítima, objetivando evitar a transmissão de doenças, seja pelo contato com a pele ou através da contaminação das mucosas; materiais de uso obrigatório no atendimento no interior das viaturas do Corpo de Bombeiros: luvas descartáveis, máscara de proteção facial, óculos de proteção, aventais e capacetes (em locais de risco iminente de acidentes) - 22 - Equipamento de segurança no local – este conjunto de equipamentos destinam-se a garantir a segurança das guarnições no local do acidente, bem como, das vítimas envolvidas e da população em geral; destacam-se entre esses materiais os cones de sinalização, lanternas, fitas para isolamento e extintores de incêndios. Fig 5.4 – Equip. Segurança 3.3. Equipamentos de Reanimação e Administração de Oxigênio Cânula orofaríngea ou Cânula de Guedel – equipamento destinado a garantir a permeabilidade das vias áreas em vítimas inconscientes devido a queda da língua contra as estruturas do palato, promovendo a passagem de ar através da orofaringe. Possui vários tamanhos Reanimador ventilatório manual ou Ambu – equipamento destinado a estabelecer ventilação artificial manual. Composto de bolsa, valva ou válvula e máscara, garantindo assim eficiente insuflação de ar e maior concentração de oxigênio para a vítima. Equipamento disponível nos tamanhos adulto e infantil. Fig 5.6 – Ambu Fig 5.7 – Oxigênio portátil Equipamento de administração de oxigênio portátil – unidade portátil destinada a dar suporte de oxigênio a vítima acidentada no local da ocorrência inicial, com capacidade de 300 litros e fluxômetro a fim de dosar a administração de pelo menos 12 litros de oxigênio por minuto. Toda a ambulância possui uma segunda unidade fixa com capacidade de armazenamento maior, possibilitando a continuação da administração de oxigênio durante o deslocamento até o pronto socorro. - 23 - Equipamento para aspiração – destinado a aspiração de secreções da cavidade oral, as quais obstruem a passagem de oxigênio sendo indispensável uma unidade potátil e uma unidade fixa na ambulância. Fig 5.8 – Aspirador 3.4. Equipamentos de Imobilização e Fixação de Curativos Tala articulada de madeira e tala de papelão – são equipamentos indispensáveis na imobilização de fraturas e luxações. Bandagens triangulares e ataduras de crepom – destinam-se a fixação de talas e curativos. Cintos de fixação – cintos flexíveis e resistentes que destinam-se a prender a vítima junto a tábua de imobilização. Fig 5.9 – Talas e bandagens e cintos de fixação Tração de fêmur – equipamento destinado a imobilização de membros inferiores, com fraturas fechadas. Confeccionado em alumínio ou aço inox, possuindo regulagem de comprimento com fixação através de tirantes e sistema de catraca. Fig 5.10 – Tração de fêmur - 24 - Colete de imobilização dorsal (ked)- equipamento destinado a retirada de vítimas do interior de veículos que estiverem sentadas, objetivando a imobilização da coluna cervical, torácica e lombar superior. Sua fixação dá-se através de tirantes flexíveis fixos e móveis. Fig 5.11 – Colete de imobilização dorsal (ked) Colar cervical – equipamento destinado a imobilização da coluna cervical quanto a movimentos axiais, confeccionado em polietileno, dobrável e de vários tamanhos e modelos. Fig 5.12 – Colar cervical Tabua de imobilização – equipamento destinado a imobilização da vítima deitada, de vários modelos e tamanhos, possuindo aberturas para fixação de cintos e imobilizadores de cabeça. Imobilizadores de cabeça – equipamento destinado a imobilização total da cabeça da vítima acidentada. Confeccionado em espuma revestida de um material impermeável e lavável. Fig 5.13 – Tabua de imobilização com cintos e imobilizador lateral de cabeça - 25 - 3.5. Materiais Utilizados em Curativos Gaze, ataduras de crepom, bandagem, fita adesiva – material indispensável na limpeza superficial de ferimentos e contenção de hemorragias em vítimas. 3.6. Materiais de Uso Obstétrico Material de assistência ao parto – material esterilizado, normalmente colocado em pacotes hermeticamente fechados, contendo campos duplos e simples, clamps para laqueadura umbilical, lençóis e tesoura. 3.7. Equipamentos para Verificação de Sinais Vitais Esfigmomanômetro – equipamento destinado a aferição da pressão arterial. Estetoscópio - aparelho destinado a ausculta cardíaca e pulmonar. Oxímetro de pulso portátil - aparelho eletrônico destinado a medição da saturação periférica de oxigênio. Desfibriladores automáticos externos (DEA) – equipamento destinado a verificação de arritmias ventriculares (taquicardia e fibrilação), que se confirmadas através da obediência aos comandos emana- dos, resultará na aplicação de choques buscando a reversão do quadro apresentado. OBS: a Classificação do DEA, neste grupo deve-se ao mesmo atuar também como monitor cardíaco, identificando o padrão de atividade elétrica do coração, é um material de uso de pessoal treinado, mas não necessariamente de profissional de saúde, o que o diferencia do cardioversor. Fig 5.18 – DEA Fig 5.17 – Oxímetro de pulso - 26 - Fig 5.19 – Maca retrátil 3.8. Macas e Acessórios Maca – equipamento destinado ao transporte de vítima, sendo confeccionado em alumínio, com mecanismo de travamento, possibilitando que a maca aumente ou diminua a altura. Cobertor e manta aluminizada – material destinado ao conforto térmico da vítima. Fig 5.20 – Cobertor e manta térmica 3.9. Equipamentos de Uso Exclusivo do Médico Pode estar disponível no próprio veículo de emergência ou em uma maleta médica que é transportado pelo médico quando se dirige a cena. Inclui: Laringoscópio - material de uso exclusivo do médico, destinado a visualização da laringe a fim de realizar o procedimento de colocação de cânulas de entubação endotraqueal. Fig 5.21 – Laringoscópio - 27 - Cânulas de entubação endotraqueal – equipamento que garante a ventilação manual ou mecânica, garantindo a permeabilidade das vias aéreas devido ao um balonete que sela a traquéia. Fig 5.22 – Cânulas de entubação Monitor cardíaco – equipamento destinado ao monitoramento das atividades cardíacasda vítima, objetivando o acompanhamento da melhora ou não do quadro clínico do paciente. Fig 5.23 – Monitor cardíaco Medicamentos – são ‘drogas’ utilizadas no atendimento que aplicadas pelo médico buscam estabilizar o quadro geral do paciente até a chegada ao pronto socorro Fig 5.23 – Medicamentos - 28 - Cardioversor – equipamento destinado ao monitoramento das atividades cardíacas, conjugado com a verificação de arritmias ventriculares (taquicardia e fibrilação), que se confirmadas resultarão na aplicação de choque, a fim de restabelecer os batimentos cardíacos do paciente. Este equipamento só é operado pelo médico de serviço. Fig 5.24 – Cardio - 29 - TRANSPORTE INTER HOSPITALAR I - AS TRANSFERÊNCIAS INTER-HOSPITALARES 1. MISSÃO Existem Centrais Reguladoras de urgência, que ocupam-se especificamente da regulação das transferências de pacientes entre serviços de saúde de diferentes complexidades. Geralmente estes pacientes recebem um primeiro atendimento em um serviço de saúde onde não existe retaguarda diagnóstica e/ou terapêutica para dar continuidade ao caso, geralmente em municípios menores, necessitando serem transferidos para hospitais de maior complexidade. 2. PRINCÍPIOS OPERATIVOS Uma central reguladora de Urgência, que atua na regulação das transferências inter- hospitalares, recebe um variado leque de “solicitações” que nem sempre serão casos de urgência passíveis de regulação. Logo, precisamos diferenciar inicialmente um chamado ou solicitação endereçada a central de um atendimento (caso efetivamente regulado pelo médico). 2.1.Contatos sempre de médico para médico Nas solicitações de transferências inter-hospitalares, a comunicação deve ser feita de médico para médico. O médico solicitante deve informar o seu nome, serviço e número do CRM. O médico regulador, com base nos dados acima obtidos, irá estimar a gravidade e se há mesmo necessidade e condições para efetuação da transferência, antes do contato com o serviço receptor. O médico regulador deve avaliar o motivo da solicitação e a sua pertinência, ou seja: se existe caracterizada uma necessidade de cuidado terapêutico ou diagnóstico de urgência ou emergência sem o qual o paciente corre risco de vida ou de danos orgânicos ou funcionais imediatos e irreparáveis, levando em consideração a necessidade e as condições do paciente e a infra-estrutura do serviço de origem. Sendo a solicitação considerada pertinente, ele deve procurar o recurso mais adequado para o caso e o mais próximo possível do solicitante. Caso não haja pertinência, o médico regulador orienta o solicitante a como conduzir tecnicamente o caso ou como utilizar os recursos locais. Quando existirem dúvidas, podemos consultar profissionais especializados nos serviços. 2.2. Solicitações sempre documentadas por fax e Registro contínuo das gravações telefônicas Além da ficha de regulação preenchida pelo médico regulador, deve ser anexado fax do serviço solicitante de forma a ter comprovado o que foi passado. - 30 - 3.TÉCNICAS DE REGULAÇÃO DAS TRANSFERÊNCIAS INTER-HOSPITALARES Primeira etapa: “Recepção do chamado” Identificação e localização do chamado: O auxiliar de regulação faz a recepção inicial, realizando a identificação da chamada,que consiste em registrar: - A Unidade Solicitante - Nome e CRM do médico solicitante - Nome, idade e origem do paciente Deve ainda diferenciar uma solicitação de informação. A seguir, o auxiliar de regulação deve passar o telefone para o médico regulador. Segunda etapa: “Abordagem Do Caso” A abordagem dos casos endereçados as centrais de regulação das transferências inter-hospitalares consiste em reunir a maior quantidade de dados possíveis sobre o caso, que podemos relacionar da seguinte forma. • Dados clínicos do paciente: - QP (Queixa principal) - Sinais e Sintomas Associados - Sinais de Gravidade - Antecedentes e fatores de risco - Exame físico e sinais vitais • Conduta inicial: medicamentos e procedimentos • Exames realizados • Evolução: alterações verificadas após a conduta inicial • Recurso solicitado para o caso • Justificativa para a solicitação E de posse destas informações pode ser definida a pertinência do caso, ou seja, se é necessária a transferência ou não. Além de todos estes dados, temos de ter em mente quem são nossos clientes e porque nos procuram, ou seja, quais os principais motivos das solicitações de transferência de um paciente: a) Gravidade do quadro clínico e disponibilidade de apoio diagnóstico e terapêutico no hospital Existem casos clássicos, onde invariavelmente existe consenso quanto a gravidade do caso e portanto quanto a necessidade de remoção para um hospital de maior Complexidade. Em situações de doenças menos graves, a gravidade pode ser influenciada por uma série de fatores além da doença em si e das condições do paciente, como: os recursos de apoio existentes no local, o número de profissionais e a capacitação técnica do médico assistente. Alguns casos podem ser considerados de extrema gravidade num hospital e constituir-se num episódio corriqueiro em outro. Este tipo de entendimento e o conhecimento da realidade dos hospitais da mesma região geográfica deve ser do domínio dos médicos, especialmente daqueles plantonistas que recebem pacientes dos hospitais menores, como forma de reduzir conflitos. b) Incapacidade técnica do médico e/ ou Desejo do médico: Existem situações nas quais o hospital oferece os meios essenciais para diagnóstico e para tratamento, mas o médico plantonista é incapaz de adotar os procedimentos recomendados ou não sabe como proceder e, por isso, trata de providenciar, o quanto antes, a transferência do paciente. - 31 - Entretanto existem situações onde o hospital e os médicos possuem condições materiais e técnicas para prestar um adequado atendimento, mas que se trata de um quadro clínico ou cirúrgico que exigirá muita observação e acompanhamento ou novas condutas por parte do médico assistente, e principalmente, são pacientes do SUS. Nestes casos, para não ter pacientes complicados ou que possam vir a agravar o quadro clínico, bem como para não ter atividades extras desnecessárias, é possível que o médico o encaminhe a outro hospital, geralmente de maior complexidade, embora o caso clínico não requeira a transferência. É a típica situação do "mandar para a frente para não me incomodar" e que certamente tende a apresentar considerável aumento dos finais de semana e feriados prolongados. c) Solicitação dos próprios pacientes e/ou familiares: Em muitas situações de urgência/emergência, em que pese existir recursos materiais suficientes no hospital e um atendimento médico adequado, os pacientes desejam ser transferidos pelas mais variadas razões. Atribuições dos solicitantes: São atribuições do Médico Assistente: a) fazer a indicação da necessidade de transferência; b) avaliar qual a composição da equipe médica necessária para efetuar a remoção, de conformidade com o estado de saúde do paciente; c) acompanhar o paciente nos casos em que a presença do médico é obrigatória ou designar médico substituto, de acordo com as normas da instituição, utilizando o apoio da Direção Técnica/Clínica, se necessário; d) elaborar relatório de transferência registrando "a hipótese diagnóstica", os procedimentos efetuados, exames e medicações realizadas e os motivos da transferência; (não deve ser esquecido de assinar e de colocar o carimbode identificação pessoal. Terceira etapa: “Orientação Técnica” Conselho Médico ou orientação técnica a um colega médico sobre a conduta a ser tomada para melhor estabilização do paciente antes da transferência ou mesmo para evitar a transferência. Quarta Etapa: Decisão Técnica O médico regulador deve avaliar a necessidade de intervenção, decidir sobre o recurso disponível mais adequado a cada caso, levando em consideração: gravidade, necessidade de tratamento cirúrgico, os meios disponíveis, relação custo benefício, avaliação tempo-distância. Em resumo, ele decide qual o recurso e o nível de complexidade que o caso exige. Quinta Etapa: Avaliação dos Recursos e Decisão Gestora: Aspectos técnicos éticos e regulamentares Uma vez constatada a necessidade de transferência, o próximo passo é a procura e/ou escolha do hospital referenciado para o qual o paciente será encaminhado, o que nem sempre se constitui em tarefa simples e rápida quando não existem muitas opções, como no caso de necessidade de UTI tanto adulto quanto neonatal. Diante do estabelecimento da necessidade de transferência, a Central procura o recurso necessário dentro de sua grade. Em caso de dificuldade de recurso disponível, esgotadas as possibilidades de sua área, irá procurando recursos sucessivamente nas demais centrais. - 32 - Aspectos éticos: Código de Ética Médica (CEM) o : Art. 2 O alvo de toda atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional" Art. 57 :que veda ao médico: "Deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente." Art. 47 : Discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto." CEM Art. 48 sobre solicitação de transferências por familiares veda ao médico: "Exercer sua autoridade de maneira a limitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a sua pessoa ou seu bem-estar". Art. 56: veda ao médico: "Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida." Manual de Orientação Ética e Disciplinar refere, a página 58 que: "Se um paciente necessita, deve ou quer ser transferido para outra cidade em situação de urgência/emergência o médico deverá fazê-lo no "bom momento" clínico, ou seja, quando o paciente não está em risco iminente de morte e apresenta estáveis seus sinais vitais, mesmo em níveis não ideais." Em conclusão, o ideal é que o médico atenda ao desejo do paciente ou de seu representante legal e adote os procedimentos técnicos e a conduta ética compatíveis ao caso em questão, nas condições acima referenciadas. Procedimentos necessários: • Definir de acordo com a necessidade de cada caso, complexidade e disponibilidade do serviço de destino, considerando a grade de regionalização e hierarquização do Sistema; • Comunicar a equipe no local da ocorrência o destino do paciente • Acionar serviço receptor • Comunicar o envio do paciente, providenciando seu acesso no serviço de destino; • Acionamento de múltiplos recursos ou combinação para otimizar recursos dispersos • Adaptação dos meios • Comunicar ao solicitante • Confirmar o recebimento com o solicitante e/ou com a equipe de transporte para que possa ser providenciada a melhor recepção possível para o paciente • Pactuar com o hospital os casos de recebimento única e exclusivamente para realização de exames com segundo transporte posterior; Dificuldades enfrentadas: . Médico do serviço referenciado alega Inexistência de leito vago (enfermaria ou UTI) . O que o que fazer? encaminhar o paciente mesmo sem garantia de vaga ou até mesmo com negativa de vaga, ou mantê-lo no hospital de origem com risco de vida para o paciente e, talvez, servir de fonte de denúncia contra o próprio médico? - 33 - Nestes momentos, o bom senso e a prudência devem prevalecer. Cada caso é um caso e cada momento é diferente do outro. Talvez por isso, pela complexidade da questão, nenhuma norma responde claramente e com segurança esta questão. Alguma regulamentação a ser considerada: o A Resolução CFM N o 1.529/98 e a Portaria MS N 824/99 abordam, de maneira detalhada, os vários aspectos envolvidos no Transporte Inter-Hospitalar, que vão desde os contatos prévios até a obrigatoriedade de atendimento pelo hospital de destino, passando pelo esclarecimento das responsabilidades médicas e pelo adequado monitoramento do paciente a ser removido e a necessidade de acompanhamento pelo médico assistente. Médico que atendeu o paciente indica transferência mediante transporte inter- hospitalar. De quem é a responsabilidade em acompanhar o paciente durante sua remoção? o a Resolução CREMESC N o 027/97: Art. 3 - "Na remoção de pacientes com risco de vida iminente, avaliado pelo seu médico assistente, este deverá acompanhar o mesmo na ambulância ou designar outro médico para tal, até o atendimento por outro médico no local de destino." Fica claro, portanto, que nas condições acima, o médico deverá estar sempre presente na ambulância e que a avaliação do risco de vida do paciente será do próprio médico assistente. Se houver possibilidade, poderá ser designado outro médico para tal, sempre de comum acordo entre ambos. Mas e se o Médico está sozinho no Hospital? A grande maioria dos médicos têm o entendimento de que não poderiam abandonar seu plantão e, portanto, não deveriam acompanhar o paciente. No entanto, este não é o procedimento correto, tendo em vista o Parecer aprovado pelo Plenário do CREMESC o sobre a Consulta N 407/97 já anteriormente mencionada e cujo consulente, em seu encaminhamento, entendia que as remoções são freqüentes e que não seria possível acompanhar os pacientes porque deixaria "a descoberto" o hospital. O Parecer aprovado pelo Corpo de Conselheiros é taxativo e afirma o seguinte: "... não podemos concordar com as alegações apresentadas. Os colegas reunidos consideram o assunto polêmico; quanto a isso até podemos concordar, mas não resta qualquer dúvida de que a responsabilidade sobre as eventuais ocorrências que surjam com o paciente, após ser prestado um primeiro atendimento, enquanto não chegar a seu destino e até ser recebido por outro médico, será sempre daquele que o encaminhou. Quanto a possibilidade de chegada de outro paciente, deve ser lembrado que já existe um paciente enquanto a chegada de outro é uma possibilidade. Para tal possibilidade é óbvio que poderá e deverá estar a disposição outro médico substituto." Em caso de óbito de pacientes durante o transporte entre hospitais sem o devido acompanhamento médico, quem responde perante o CRM, o médico, responsável técnico pela empresa transportadora de pacientes com risco de vida indeterminado, ou o médico assistente e/ou substituto?" - 34 - “O médico assistente é responsável por: a) indicação da transferência; b) avaliação do risco de vida durante o transporte e da necessidade de médico acompanhante; c) acompanhamento do paciente ou providência de seu substituto; d) elaboração do relatório de transferência”. Portanto, o médico assistente é quem responde perante o CRM em caso de morte de paciente, decorrente de sua própria patologia, transportado sob sua orientação, sem acompanhamento de equipe médica, em ambulância devidamente regularizada." Em última análise, sempre que houver risco iminente de vida para o paciente, este deverá sempre ser acompanhado, durante a remoção, por um médico, seja seu médico assistente ou outro disponível. Nos casos em que não exista um segundo médico no hospital ou mesmo na cidade, o plantonistadeverá sempre ir junto na ambulância, recomendando-se que seja informado o hospital mais próximo para alertar o seu Diretor Técnico/Clínico sobre a situação e para eventual cobertura, se for o caso. o Deve ser lembrado, porém, que nos termos da Resolução N 027/97, cabe ao médico assistente a avaliação sobre a existência ou não de risco de vida iminente. Neste sentido, o Parecer a consulta Nº 407/97 completa: “Da mesma forma, é totalmente do médico que presta o atendimento e está encaminhando o paciente, a decisão de não acompanhar os casos que ele considerar desnecessário, já que a responsabilidade é dele.” A grande dificuldade , uma vez decidida a transferência em tempo hábil e estabilizadas as condições clínicas do paciente, está no transporte dos pacientes graves de uma cidade para outra. a quase totalidade dos hospitais em particular aqueles de pequeno e médio porte, não possuem ambulância própria para realizar de forma adequada o transporte de paciente na situação referenciada. Se considerarmos que muitas vezes alguns poucos minutos sem uma assistência adequada são a tênue linha divisória entre a vida e a morte, é fácil imaginar, embora difícil de quantificar, que muitos pacientes ficam expostos indevidamente a grandes riscos, talvez até mesmo com evolução para o êxito letal. Nesta encruzilhada encontra-se o médico dos hospitais sem os recursos adequados para transferir pacientes, principalmente nas cidades de pequeno porte e com toda a pressão do paciente e/ou da família para que se agilize o transporte e sem que este procedimento possa ser realizado pela simples razão de que inexiste ambulância disponível. Sexta Etapa:Transporte e finalização Consiste em orientar quanto ao transporte mais adequado e checar se as condições do paciente correspondem ao que foi passado. - 35 - ÉTICA E HUMANIZAÇÃO NO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR DA OUSADIA DE MUDAR À LUTA DO FAZER Atenção as Urgências no marco lógico da integralidade. O sonho é ver as formas invisíveis Da distância imprecisa, e, com sensíveis Movimentos da esperança e da vontade, Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -- Os beijos merecidos da Verdade. (Fernando Pessoa – Horizonte) Saúde é promoção de qualidade de vida. Há 15 anos dizemos que construímos a saúde do povo brasileiro promovendo eqüidade, universalidade e integralidade, fortalecendo o controle social sobre o maior plano de saúde deste continente, patrimônio do povo brasileiro, que é o Sistema Único de Saúde. Saúde, como vemos, só é possível ser produzida na inter - setorialidade dos saberes, estejam eles na ciência acadêmica, estejam eles protegidos na história oral dos grupos populacionais, habitantes das cidades e do campo. Uma Política Nacional de Atenção as Urgências deve considerar necessariamente a integralidade da atenção, que se traduza, por exemplo, na conclusão inequívoca de que calçadas precisam ser tratadas, para serem evitadas quedas de idosos e crianças; que nossas ruas, praças e esquinas recebam iluminação adequada, para que se evitem violências e atropelamentos; que pessoas portadoras de hipertensão arterial, de diabetes sejam identificadas precocemente e acompanhadas rotineiramente, para serem evitados infartos, acidentes vasculares cerebrais e perda da acuidade visual. A atenção as urgências deve desse modo fluir em todos os níveis do Sistema Único de Saúde, organizando-se desde as equipes de saúde da família até os cuidados pós- hospitalares na convalescença e recuperação. A integralidade da atenção é o fundamento de nossa Política Nacional de Atenção Integral as Urgências, que em seu primeiro momento se inicia com a implantação ou implementação dos Serviços de Atendimento Móvel de Urgência, os SAMUs e suas Centrais de Regulação-192, nas capitais brasileiras e cidades com mais de cem mil habitantes, em todo o território nacional. - 36 - Mas, necessário destacar que estes serviços de saúde do atendimento pré-hospitalar deverão desempenhar papel mais amplo, por apresentarem características de funcionamento que possibilitam contribuir ativamente para com os Conselhos Tutelares da Infância e da Adolescência, para com os órgãos responsáveis pela política da Saúde do Trabalhador, das Mulheres, dos Negros, dos Idosos, para com o Sistema Nacional de Transplantes ... Se os serviços de urgência devem por atributo histórico acolher todas as dores decorrentes de contratos sociais não cumpridos, ocultas na sombra e no silêncio da sociedade - no trânsito, no trabalho, no lazer, na família e nos (des) caminhos da cidade - ela se constitui em espaço privilegiado para observação do desempenho do SUS, possuindo potencial concreto para ordenar a dinâmica nos diferentes níveis de atendimento, e animada sob o imperativo das necessidades humanas. Quando em 1949, Albert Camus, prêmio Nobel de Literatura, visitou o Brasil, ele expressou seu horror as atitudes de indiferença ao sofrimento humano, ao testemunhar a condição de abandono de uma vítima de atropelamento ... Diz-nos o notável romancista francês ... “De novo, uma mulher estendida, sangrando, diante de um ônibus. E uma multidão olha, em silêncio, sem prestar-lhe socorro. (...) Durante todo esse tempo, deixaram esta infeliz em meio aos gemidos” 1. Mais de cinqüenta anos depois, este fato infelizmente ainda é realidade em muitos lugares do Brasil. Hoje é consenso no mundo todo que muito se pode fazer no atendimento as urgências antes da porta dos hospitais para diminuir o sofrimento, aumentar as possibilidades de sobrevivência, e reduzir seqüelas físicas e emocionais. Existem condições de oferecer solidariedade no momento de crise, que é como toda urgência é sentida pelo cidadão, seus familiares e amigos. Oferecer cuidados os mais apropriados e necessários em todas e quaisquer circunstâncias. Estes cuidados, esta assistência terão como princípio a equidade, garantida através dos protocolos de regulação médica das urgências, construindo-se uma assistência sem preconceitos ou privilégios. Ou seja, não serão ambulâncias regidas pelo clientelismo político, e o atendimento variável com a natureza do pedido de socorro poderá se manifestar como um conselho ao demandante, assim como poderá se manifestar no envio de uma ambulância, tripulada por médico ou por equipe de enfermagem, a terem seus atos terapêuticos monitorados on line pelo médico regulador, desde o local do evento até a porta hospitalar de referência. O atendimento as urgências, não deve ser visto como espetáculo cinematográfico, mas como um momento de cuidados, atenção, competência técnica, de respeito e preservação dos direitos da pessoa. Por essa razão os profissionais de saúde atuantes nos SAMUs terão suas responsabilidades claramente determinadas em lei e receberão através dos Núcleos de Educação em Urgência a formação e qualificação necessárias a prestação de um serviço de qualidade ao cidadão. - 37 - Precisamos que nossas equipes advoguem o direito a saúde da população, precisamos que nossas equipes e ambulâncias sejam respeitadas e contem com a solidariedade no trânsito de motoristas e pedestres, para que o acionar das luzes seja reconhecido como alerta, pedido de passagem, usando o menos possível sirenes, que aumentam a angústia do paciente transportado; angústia extensiva a todos que acompanham em suas casas, em seus locais de trabalho a trajetória muitas vezes difícil e ao mesmo tempo gritante de um pedido de passagem. Milton Santos, geógrafo da cidadania, do território do cidadão, afirmava que a “grande cidade é um fixo enorme, cruzado por fluxos enormes (homens, produtos, mercadorias, ordens, idéias...), diversos em volume, intensidade,
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