Apostila de Saúde Pública Unidade 2

Capítulo 2 Tema: Processo saúde-doença Como já foi elucidado no capítulo 1, na antiguidade quando das religiões politeístas, acreditava-se e a doença ca stigos dos deuses. No entanto, 400 AC, Hipócrates desenvolve o tratado \u201cOs Ares e os Lugares\u201d onde relaciona os locais da moradia, o consumo da água, com a saúde e a doença. A doença era definida como \u201causência de saúde\u201d, sendo a saúde definida como \u201causência de doença\u201d, estas definições nã o eram esclarecedoras. De acordo com estudiosos, consideram múltip los aspectos causais da doença e da manutenção da saúde, tais como fato res psicológicos, sociais e biológicos (ROUQUAYROL, 1999). Atualmente como definimos saúde e doença? Embora haja o reconhecimento de que os as pectos psíquicos e sociais, o meio ambiente e o estilo de vida contribuam na origem das doenças, ainda se conhece pouco sobre a relação entre esses fatores ou eventos e a doença, que são avaliadas por meio de estudos epidemiológicos de risco (BACKES, 2009). A epidemiologia é o eixo da saúde pública, como instrumento de investigação é útil para avaliar a assistência prestada aos usuários nos serviços de sa úde, verificar o perfil socioeconômico e de morbidade da população, analisar as condições de saúde, fornecendo subsídios para intervenções mais efetivas no processo saúde/doença, entre outros (ROUQUAYROL, 1999). Saúde é o estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença. Segundo o Ministério da Saúde (1987), a doença é a alteração ou desvio do estado de equilíbrio de um indivíduo com o meio. Os modelos de explicação do processo saúde-doença: Para explicar a ocorrência da doença são utilizados modelos que representam as relações e os fatores envolvidos na sua produção: Modelo Biológico é aquele qu e está centrado no processo fisiopatológico estrito, portanto, nas alterações das estruturas e funcionamento do corpo. Utilizando o exemplo da anemia ferropriva em gestantes, o modelo bioló gico restringe a explicação de sua ocorrênc ia nos passos da fisiopatologia da anemia, mostrando que o risco fica sobremaneira aumentado durante a gestação porque aumenta a depleção das reservas de ferro da mulher devido não só ao crescimento fetal e plac entário como tam bém ao aumento da volemia (aumento do volume sa nguíneo corporal), próprio da gravidez(ROUQUAYROL, 1999). Modelo Processual é aquele que considera as relaç ões mais amplas com o meio ambiente, incluindo as relações sociais. O exemplo mais conhecido deste modelo é o da História Natural das Doenç as de Leavell e Clark (1950) definido como o \u201dconjunto de processos interati vos que cria o estímulo patológico no meio ambiente ou em qualquer outro l ugar, passando pela resposta do homem ao estímulo, até às alterações que le vam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte\u201d. O início do processo de adoecimento antes que o homem seja afetado, foi designado pelos autores como pré-patogênico e outro, que se inicia com o aparecimento dos sintomas cl ínicos, denominado período patogênico. Esse modelo tem sido muito criticado porq ue, por um lado reforça a ideia da unicausalidade e por outro, induz a pens ar que uma vez desencadeado, o processo de adoecimento não pode mais ser interrompido. As explicações unicausais começam a enfraquecer após a Segunda Guerra Mundial, quando os países industriali zados começam a vivenciar uma \u2018transição epidemiológica\u2019, caracterizada pela diminuição da importância das doenças infecto-parasitárias como causa de morbidade e mortalidade em detrimento do incremento das doenças crônico-degenerativas. A debilidade do modelo unicausal na explic ação de doenças associadas a múltiplos fatores de risco favoreceu o desenvolvimento dos modelos multicausais (RO UQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). História Natural da Doença: A História Natural da Doença é o nome dado ao conjunto de processos interativos compreendendo \u201cas inter-re lações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam o processo gl obal e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou qualquer outro lugar, passando pela re sposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, in validez, recuperação ou morte\u201d (OPAS, 2010; ROUQUAYROL, 1999). Proposto por Leavell e Clark (1976), esse modelo considera a interação, o relacionamento e o condi cionamento de três el ementos fundamentais da chamada \u2018tríade ecológica\u2019: o ambient e, o agente e o hos pedeiro. A doença seria resultante de um desequilíbrio nas auto regulações existentes no sistema. hospedeir o ambien te Agen t e \ue003 Ao tratar a história nat ural de uma doença em particular como sendo uma descrição de sua evolução, desde os se us primórd ios no ambiente até seu surgimento no suscetível e consequent emente desenvolvimento no doente ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). A história natural da doença, portanto, tem desenvolvi mento em dois períodos sequenciados: o período pré-patogênico e o período patogênico No primeiro, o interesse é dirigido para as relaç ões suscetível-ambiente; no segundo, interessam as modificações que se passam no organismo vivo. Abrange, portanto, dois domínios interagentes, c onsecutivos e mutuamente exclusivos, que se completam: o meio ambiente, onde ocorrem as pré-condições, e o meio interno, lócus da doença, onde se proce ssaria, de forma progressiva, uma série de modificações bioquímicas, fisiológ icas e histológicas, próprias de uma determinada enfermidade ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). 1. Período de Pré-Patogênese: É o primeiro período da história natural: é a própria evolução das inter-relações dinâmicas, que envolvem, de um lado, os condicionantes sociais e ambientais e, do outro, os fatores próprios do suscetível, até que se chegue a uma configuração favorável á instalação da doença. 2. Período de Patogênese: A história natural da doença tem se guimento com a sua implantação e evolução no homem. É o período da patog ênese. Este período se inicia com as primeiras ações que os agentes patogêni cos exercem sobre o ser afetado. Seguem-se as perturbações bioquímicas em nível celular, continuam com as perturbações na forma e na função, evoluindo para defeitos permanentes, cronicidade, morte ou cura. Prevenção: Os primeiros conceitos de promoção da saúde foram definidos pelos autores Winslow, em 1920, e Sigerist, em 1946. Es te definiu como as quatro tarefas essenciais da medicina: a promoç ão da saúde, a prevenção das doenças, a recuperação e a reabilitação. Post eriormente, Leavell &Clark, em 1965, delinearam o modelo da histór ia natural das doenças, que apresenta três níveis de prevenção: primária, secundária e terc iária. As medidas para a promoção da saúde no nível de prevenç ão primário não são vo ltadas para determinada doença, mas destinadas a aumentar a saúde e o bem-estar (ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). \u2022P r o m o ç ã o \ue003 de \ue003 Saúde: \ue003 moradia \ue003 adequada, \ue003 alimentação \ue003 \u2022P r o t e ç ã o \ue003 específica: \ue003 imunização, \ue003 controle \ue003 de \ue003 vetores, \ue003 higiene \ue003 pessoal. Pr ev enç ão \ue003 Primária \ue003 \u2022 Diagnóstico \ue003 precoce \ue003 : \ue003 exames \ue003 periódicos \u2022 Limitação \ue003 da \ue003 incapacidade: \ue003 evitar \ue003 sequelas Pr ev enç ão \ue003 Secundária \ue003 \u2022 reabilitação \u2022 fisioterapia \u2022t e r a p i a \ue003\ue003 ocupacional \u2022e m p r e g o \ue003 para \ue003 o \ue003 reabilitado \ue003 Pr ev enç ão \ue003 Te r c i á r i a \ue003 Doenças Transmissíveis e Modos de transmissão: As doenças, sob o ponto de vista do mecanismo etiológico subjac ente, pertencem a duas categorias: doenças infecciosas e não infecciosas . ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010) Mas o que seria uma infecção? À penetração e desenvolvimento ou multiplicação de um agente infeccioso (vír us, bactéria, protozoário, helminto) no organismo de uma pessoa ou animal. Infecção não é sinônimo de doença infecciosa. Uma vez estabelecida, poderá ou não, dependendo de fatores próprios do organismo paras itado, haver evolução para um estado mórbido. A doença infecciosa é a doença clinic amente manif esta do homem ou dos animais, resultado de uma infecção. Sob o aspecto de duração as doenças são crônicas e agudas. As doenças crônicas são as que se desenrolam a l ongo prazo (meses, anos), enquanto as agudas são de curta duração. O termo infestação de pessoas ou animais refere-se ao alojamento, desenvolvimento e reprodução de artróp odes na superfície do corpo ou nas Doença Infecciosa \u2022 é a doença clinicamente manifesta, do homem ou dos animais, resultante de uma infecção. Doença Não Infecciosa \u2022 serão todas aquelas que não resultar em de infecção, por exemplo, diabetes, hipertensão vestes. Podemos citar como um exemplo, a pediculose, o piolho (de cabeça e corpo). A doença contagiosa é uma doença infeccio sa cujos agentes etiológicos se difundem por meio do contato direto co m os indivíduos infectados. Exemplo: sarampo, transmitidos por secreções oronas ais, e as doenças transmitidas por contato sexual, como por exemplo, a gonorreia. (ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). A expressão de doença transmissível é termo técnico e uso generalizado e definido pela organizaç ão Pan-americana de saúde: \u201cÉ qualquer doenç a causada por um agente infeccioso específi co, ou seus produtos tóxicos, que se manifesta pela transmissão deste agente ou de seus produtos, de uma pes soa ou animal infectado ou de um reservatór io a um hos pedeiro suscetível, direta ou indiretamente por meio de um hospedeiro intermediário , de natureza vegetal ou animal, de um vetor ou do meio ambi ente inanimado\u201d. A expressão doença transmissível pode ser sintetizada como doe nça cujo agente etiológico é v ivo e é transmissível. São doenças transmi ssíveis aquelas em que o organismo parasitante pode migrar do parasitado par a o sadio, havendo ou não uma fase intermediária de desenvolvimento no ambiente (ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). Doenças Emergentes e Reemergentes: Em linhas gerais, doenças emergentes são doenças novas, desconhecidas da população. São causadas por v írus ou ba ctéria nunc a antes descritos ou por mutação de um vírus já existente. Ta mbém é possível que sejam causadas por um agente que só atingia animais, e que agora afeta também seres humanos. Dentro desse conceito, a Aids apar ece como a mais importante doença emergente. Até o início da década de 80, era completamente desconhecida no mundo (ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). O termo emergente também pode ser utilizado para descrever quando uma doença atinge uma região ant es indene, ou seja, onde até então nunca tinha sido detectado caso da moléstia. Um ex emplo claro é o da hantavirose. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2004, foram notificados 30 caso s da doença no Distrito Federal (DF). A han tavirose já tinha sido detectada em outros estados do país, como em S ão Paulo e Paraná, mas nunca no DF (ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). Já as doenças reemergentes são aqu elas já conhecidas e que foram controladas, mas voltaram a apr esentar ameaça para a saúde humana. A dengue entra nesse conceito. Até a reintrodução do Aedes aegipyti no país, em 1967, a dengue chegou a ser considerada erradicada. Porém, depois foi registrada uma série de surtos, o maior deles em 2002, quando foram notificados quase 800 mil casos da doen ça (BRASIL, 2001; BRASIL, 2010; OPAS, 2010). Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT): As doenças crônicas não-transmissíveis , denominação esta não consensual, compõem um grupo de entidades que se ca racterizam por apresentar, de uma forma geral, longo período de latência, te mpo de evolução prolongado, etiologia não elucidada totalmente, lesões irreve rsíveis e complicações que acarretam graus variáveis de incapacidade ou óbito (ROUQUAYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). As Doenças Crônicas Não Transmissíve is (DCNT) sã o a causa principal de mortalidade e de incapac idade prematura na maioria dos paí ses de nosso continente, incluindo o Brasil (ROUQU AYROL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). Este fenômeno, denominado \u201ctransição epidemiológica\u201d, ocorre devido à mudança do padrão de mortalidade que afet a a população. Anteriormente, no início do século passado, às doenças infecciosas eram as que mais lev avam ao óbito enquanto que hoje, com as me lhorias de condições sócio-econômico- culturais, a mortalid ade é preponderantemente co nsequência das doenças crônicas não transmissíveis (ROUQUAYR OL, 1999; ANS, 2007; BRASIL, 2001; BRASIL, 2010). São exemplos das Doenças Crônicas Não Transmissíveis: 1. As doenças cardiovasculares, at ualmente, na ci dade de São Paulo, as principais causas de óbito são: as doenças isquêmicas do coração e as doenças cérebro vasculares e os principa is fatores são as doenças crônicas hipertensão e diabetes (BRASIL, 2001; BRASIL, 2010; OPAS, 2010; ANS, 2007). 2. O câncer, particularmente o cérvico-ut erino e o de mama em mulheres e de estômago e pulmão nos homens, 3. Doenças Respiratórias Crônicas. Referências Bibliográficas: ANS. Agência Nacional de Saúde Suplem entar (Brasil). Promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças na saúde su plementar: manual técnico. Rio de Janeiro : 2007. BACKES, M.T.S. et al . Conceitos de saúde e doença ao longo da história sob o olhar epidemiológico e antropológico . Rev. Enferm. UERJ. 2009; 17 (1): 111- 117. BRASIL. Instituto para o desenvolvim ento da saúde. Universidade de São Paulo. Ministério da Saúde. M anual de Enfermagem. Brasília: 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. Brasília: 2010. BRASIL. Vigilância Epidemiológica. Disponível em: http://por tal.saude.gov.br. CRUZ, M.M. \ue003 Concepção de saúde-doença e o cu idado em saúde. Disponível em: \ue003 http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_14423743.pdf. OPAS. Organização Pan-Am ericana da Saúde. Módulos d e Princípios de Epidemiologia para o Cont role de Enfermidades. Módulo 2: Saúde e doença na população. Brasília: 2010. OPAS. Organização pan-americana de saúde. Doenças crônicas não transmissíveis. Disponível em: \ue003 http://www.paho.org. ROUQUAYROL, M.Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e Saúde \u2013 5 ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 1999.

Apostila de Saúde Pública Unidade 2

UNISA

Saúde Pública

Continue navegando

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Analise o conceito abaixo, em seguida, indique a opção CORRETA: Unidade de saúde para prestação de atendimento ambulatorial em várias especialidade...

Redes de atenção à saúde pública -Territorialização, segundo a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) significa: (BRASIL, 2017): A definição ...

119:50 Progresso:0/10 2 HORAS AVALIAÇÃO – SAÚDE PÚBLICA 1 Em relação ao conceito de Saúde Pública, analise os itens a seguir: I A saúde públic...

114:52 Progresso:4/10 2 HORAS AVALIAÇÃO – SAÚDE PÚBLICA 1 Em relação ao conceito de Saúde Pública, analise os itens a seguir: I A saúde públic...

Outros materiais