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Sistemas eleitorais

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Universidade Estadual do Rio de janeiro
Disciplina: Introdução à sociologia
Resenha do livro “Sistemas eleitorais”, de Jairo Nicolau
	Em seu livro, o autor trabalha os diferentes sistemas eleitorais em diferentes países, discutindo cada uma das grandes famílias de sistemas eleitorais (majoritários, proporcionais e mistos), suas principais características e variantes. 
	Ainda na introdução, Nicolau remonta o trabalho de outro cientista político, Douglas Era. O primeiro ponto exposto é que existem três fatores básicos dos sistemas eleitorais, que são a magnitude do distrito, a estrutura do voto e a fórmula eleitoral. O primeiro fator, o distrito, é o local de onde os votos são provenientes para a subseqüente distribuição das cadeiras. A magnitude se refere a quantidades de cadeiras de cada distrito, e que podem ser divididos em M=1 ou M>1 (plurinominais). O segundo elemento constitutivo é acerca de como o voto pode ser expressado, podendo ser ordinal ou nominal. O voto ordinal é aquele em que o eleitor pode escolher todos os candidatos, ordenando-os de acordo com sua preferência. Já no voto nominal, o eleitor tem apenas um opção de voto. O terceiro ponto, a fórmula estrutural, são os procedimentos utilizados para a contagem dos votos, e podem ser subdivididos em maioria simples, maioria absoluta ou proporcional. 
	Os sistemas eleitorais estão divididos em três grandes grupos: majoritário, proporcional e misto, cada um deles tendo subdivisões. Dentro do sistema majoritário, podem ser encontrados cinco modelos, sendo esses maioria simples (no Brasil, conhecido como distrital); sistema de dois turnos; voto alternativo; voto único não transferível (ou SNTV, na sigla inglesa; no Brasil chamado de distritão) e o voto em bloco. Nos sistemas mistos, encontramos o modelo de listas e o voto único transferível (ou STV, na sigla inglesa). Já no sistema misto , temos o voto paralelo e o voto de correção.
	O sistema majoritário se caracteriza pela escolha apenas do(s) candidato(s) mais votado nas eleições. No modelo de maioria simples, o candidato eleito é o que recebeu mais votos. Em modelos distritais que usam esse modelo para a Câmara dos deputados, cada partido apresenta apenas um nome, e o eleitor pode votar em apenas um candidato, no qual o mais votado vence. Uma característica marcante é que partidos pequenos ou grupos minoritários dependem de como distribuição de votos será feita, pois mesmo que tais grupos cheguem ao segundo ou terceiro lugar, tendo ou não votação significativa, o único resultado eficiente é ser o mais votado do distrito. 
	O sistema de maioria simples é constantemente criticado por promover distorções na comparação entre a votação e a representação dos partidos. Contudo, um dos principais argumentos em sua defesa é que ele libera que o eleitor tenham um maior controle da atividade dos representantes. Além disso, há a ênfase de uma dimensão especifica, a territorial. Um outro argumento a favor é o de sua capacidade de criar governos em que um partido tem a maioria das cadeiras da Câmara dos Deputados. O sistema de maioria simples, além de sub-representar os partidos menores, tende a sobre-representar os maiores partidos, principalmente os mais votados. Em países parlamentaristas majoritários, os eleitores tem maior controle sobre a natureza do governo, pois o voto no partido vitorioso provavelmente significa o voto no governo desse partido. Tem como exemplo o Reino Unido.
	O sistema de dois turnos compartilha algumas semelhanças com o modelo de maioria simples. Em ambos, o país é divido em distritos, em que cada partido pode apresentar um candidato por região e os eleitores podem votar em um só candidato. Contudo, a grande diferença desse modelo se encontra no fato de que há a exigência de uma maioria absoluta (50% + 1), e caso isso não ocorra, os mais votados disputam uma nova eleição. Os defensores deste modelo afirmam que suas virtudes residem na garantia de representação de comunidades no Parlamento; maior capacidade de controle das atividades do representante; a garantia de que os candidatos serão eleitos por votações expressivas e a tendência ao favorecimento de partidos moderados, em detrimento de partidos extremistas. Tem como exemplo a França.
	O voto alternativo garante que todos os eleitos tenham maioria absoluta de votos sem convocação de novas eleições. O modo utilizado é a transferência de votos dos candidatos menos votado para os outros. Na votação, o eleitor ordena os candidatos de acordo com a sua preferência, colocando um número ao lado de cada nome , e o voto só é considerado se o eleitor ordenar todos os candidatos. Para ser eleito, o candidato precisa de mais de 50% dos votos na primeira preferência, e caso não atinja o número, os votos do menor colocado (que é eliminado) é transferido para os outros candidatos, até que um nome atinja a maioria absoluta. Este modelo dificulta a eleição de candidatos com forte rejeição. Um candidato eleito de um distrito pode ter alta representatividade, mas não elimina distorções entre a votação e a representação dos partidos. Tem como exemplo a Austrália. 
	A fórmula majoritária é utilizada na escolha de presidentes em diversos países, a maioria usando o sistema de dois turnos. Um modelo diferenciado é o estadunidense, em que o presidente é eleito por um colégio eleitoral, composto por delegados escolhidos pelo formato de voto em bloco partidário (com exceção dos estados do Maine e Nebraska). Lá, o candidato vitorioso escolhe todos os representantes, e caso nenhum candidato tenha maioria absoluta dos delegados, a Câmara do Deputados pode escolher os três nomes mais bem colocados. Além disso, o candidato eleito pode não ter tido maioria nas urnas. O sistema de maioria simples é usado em alguns países da Ásia e América latina. O sistema de dois turnos é o mais utilizado para eleições presidenciais, e alguns países como Argentina, Nicarágua e Bolívia adotam variantes do sistema de dois turnos. Um fator relevante em uma disputa de dois turnos é que um candidato que ficou em segundo lugar no primeiro turno, pode ser eleito no segundo. Também, o grau de rejeição dos candidatos do segundo turno e a posição ideológica é um fator decisivo nesse tipo de eleição. O padrão de coalizões também influencia nas eleições; em regimes de maioria simples, as alianças são feitas antes das eleições; em regimes de dois turnos, as coalizões costumam ser feitas após as eleições.
	A fórmula proporcional visa que a diversidade de opiniões esteja presente no Legislativo e a garantia de uma correspondência entre a representação e os votos recebidos pelos partidos. Um ponto a favor é a sua habilidade de espelhar no Legislativo todas as preferências e opiniões relevantes na sociedade; outro ponto é a tentativa de equidade dos votos e das cadeiras dos partidos que disputam uma eleição. Atualmente, é largamente utilizado na Europa, na América latina e em alguns países da África. 
	O voto único transferível foi proposto originalmente pelo jurista Thomas Hare, e tem como propósito garantir que as opiniões individuais e relevantes da sociedade sejam representadas no Parlamento. O processo é complexo. O primeiro passo é calcular uma cota (votos/cadeiras + 1) em cada distrito; os candidatos que atingirem ou ultrapassarem a cotas são eleitos, salvo se todas as cadeiras forem ocupadas dessa maneira, o processo de transferência de votos é acionado. Os votos em excesso são transferidos, e caso não haja votos em excesso ou não são suficientes para que outros chegam à cota, utiliza-se um sistema similar ao do voto alternativo. Tais modelos de transferências são usados até que todas as cadeiras sejam preenchidas. O STV assegura um grau único de escolha, não encontrado em outras variantes do sistema, pois o eleitor tem controle sobre a transferência do seu voto. 
	O sistema de lista é definido pela lista de candidatos apresentada por cada partido, e repartição das cadeiras seria feita de acordo com os votos dados para cada lista partidária. O funcionamentodo modelo é simples, cada partido apresenta uma lista de candidatos, os votos recebidos são contados e as cadeiras são distribuídas proporcionalmente entre os partidos de acordo com os votos recebidos e as cadeira são ocupadas pelos nomes da lista. Contudo, há cinco fatores que o torna mais complexo: a fórmula eleitoral usada para a distribuição; a magnitude dos distritos e a existência de mais de um nível para a alocação de cadeiras; a cláusula de exclusão; a possibilidade de coligações eleitorais e as regras de escolha dos candidatos da lista.
	Há, no sistema proporcional, o uso de fórmulas eleitorais, que podem ser divididas em maiores médias (divisor) e as maiores sobras (cotas). As maiores médias dividem os votos recebidos pelos partidos por números de série. As fórmulas mais utilizadas são a D’Hondt, Sainte-Lagüe e Sainte-Lagüe modificada. Na D’Hondt, os votos são divididos em série (1, 2, 3, 4...) e é a menos proporcional; a Sainte-Lagüe é feita por números impares (1, 3, 5, 7...) e produz resultados mais proporcionais; e na Sainte-Lagüe modificada, a mudança está no primeiro divisor (1,4, 3, 5, 7...) dificulta o acesso de pequenos partidos, mas é mais proporcional que a versão original. Já as fórmulas de maiores sobras trabalham em duas maneiras, na qual a primeira é o cálculo que de uma cota que será usada como denominador da votação de cada partido; e a segunda maneira é a distribuição das cadeiras restantes. A principal diferença se encontra no cálculo da cota, que pode ser feito pelo cota Hare (votos/cadeiras) ou pela cota Droop (votos/cadeiras + 1). Outro fator importante é a clausula de exclusão, adotada por algumas democracias e que afeta a representação, determina que um partido só pode obter representação se receber um determinado contingente de votos. O propósito da cláusula é dificultar que pequenos partidos cheguem ao Legislativo, porque uma grande proporcionalidade poderia gerar um Legislativo fragmentado, que afetaria a governabilidade. Atualmente, a maioria dos países que utiliza o sistema de lista proporcional tem uma clausula de exclusão. 
	A magnitude é um fator extremamente relevante, já que quanto maior a magnitude, mais fácil é para o partido ter representação, pois a proporcionalidade tende a ser maior quando se compara o percentual de votos e as cadeiras dos partidos. Cada distrito geralmente está associado às subdivisões locais, e o cálculo para as cadeiras é feito em cada um desses distritos e a configuração desses distritos afeta a representação nacional. Em países de baixa magnitude, partidos pequenos têm menos chances de representatividade e a proporcionalidade costuma ser menor; já em países com grandes distritos eleitorais, esses mesmo partidos têm mais chances de eleição e a proporcionalidade cresce. Alguns países adotam os distritos superiores, que são caracterizados por agregar as sobras após a primeira rodada de alocação nos distritos locais; corrigir distorções produzidas nos distritos locais e alocar parte das cadeiras de maneira independente nos distritos locais. O ponto de partida é a utilização de uma cota para separar as cadeiras; as cadeiras não alocadas são agrupadas em nível superior e redistribuídas conforme a soma das sobras dos distritos; tal manobra tende a dar mais chances para os partidos pequenos. Um outro propósito, como na Bélgica e na África do Sul, o distrito superior é feito para corrigir as diferenças entre os votos e cadeiras de cada distrito. Uma terceira opção é a que os representantes do distrito superior são eleitos de forma independente dos representantes dos distritos locais. 
	As coligações são uma estratégia que podem ser feitas pelos partidos para disputar o Legislativo, em que mantêm a autonomia organizacional e têm sua própria lista de candidatos, mas no final seus fotos serão agregados para o cálculo das cadeiras; logo, aumentam as chances dos partidos pequenos de terem representação. O processo de repartição das cadeiras pode ocorrer de duas maneiras, na qual a primeira é feita entre os partidos e as coligações; já na segunda maneira, as cadeiras são distribuídas entre os partidos coligados. 
	Dentro do sistema de listas há três tipos. No modelo de lista fechada, os partidos emitem uma lista pré-ordenada antes das eleições, e o eleitor deve escolher apenas uma para votar; na lista aberta e na lista livre, o eleitor escolhe quais nomes das listas serão eleitos; e na lista flexível o partido emite uma lista de candidatos em ordem, mas o eleitos pode estabelecer preferência para candidatos específicos. 
	A lista fechada é mais freqüente em novas democracias que escolheram o sistema proporcional, cujo funcionamento parte de uma decisão, antes das eleições, de quais candidatos e em que ordem estarão na lista. O eleitor vota em uma lista, não podendo mostrar preferências por candidatos específicos, e as cadeiras que cada partido ganhar serão preenchidas pelos primeiros nomes da lista. Um argumento positivo é que permite que o partido tenha um maior controle dos nomes parlamentares eleitos, além de um possível equilíbrio entre os vários segmentos do partido. Porém, uma desvantagem é a impossibilidade dos eleitores poderem influenciar uma escolha individual dos representantes. Tem como exemplo a África do Sul.
	Na lista aberta, é função exclusiva do eleitor escolher quais candidatos serão selecionados para as cadeiras conquistadas pelos partidos (ou pelas coligações). Nela, cada partido libera uma lista não ordenada de candidatos e o eleitor vota em um dos nomes, os votos recebidos pelos candidatos são somados e utilizados para saber quantas cadeiras o partido conquistou. Graças à esse procedimento, a lista aberta permite que a escolha do eleitor seja mais “personalizada” que a lista fechada ou a lista flexível. Nela, os partidos grandes costumam escolher nomes de liderança e personalidades de “alta popularidade”; contudo, o partido não tem muitas chances de favorecer eleições com lideranças partidárias pouco carismáticas. Uma critica sofrida é que a lista aberta estimularia a competição entre os candidatos do mesmo partido. Tem como exemplo Brasil e Finlândia.
	A lista livre oferece um número maior de escolhas do que na lista aberta. Os partidos oferecem um lista não-ordenada e o eleitor pode votar em um partido ou em um ou mais candidatos, o eleitor também pode votar em um número de candidatos igual à da magnitude do distrito. Há ainda a possibilidade de votar duas vezes no mesmo candidato (acumulação) e de votar em candidatos de diferentes partidos (panachage; pouco utilizado. Durante a apuração, os votos dos candidatos de cada lista são somados e o total é utilizado para distribuir as cadeiras entre os partidos. Tem como exemplo a Suíça.
	A lista flexível concede ao eleitor a possibilidade de intervir no ordenamentos dos candidatos em uma lista feita pré-eleição. Se concordar com a lista, vota no partido; caso não concorde, o eleitor pode indicar sua preferência de dois jeitos, marcando os nomes na lista, ou reordenando de acordo com suas preferências. No primeiro modo, as cadeiras são distribuídas entre os candidatos após o cálculo de uma cota, e os candidatos que receberem uma quantidade de votos preferenciais acima à cota estão eleitos. Enquanto isso, o segundo jeito é configurado pela reordenação que o eleitor pode fazer. No sistema de apuração, o candidato ordenado em primeiro recebe tantos pontos quantos forem os candidatos da lista, o segundo um ponto a menos, o terceiro dois pontos a menos etc; quando os eleitores votam apenas na legenda, o mesmo sistema de apuração é aplicado. As criticas se configuram basicamente em torno de dois argumentos, que seriam uma demasiada ênfase no pensamento de que as eleições servem para representar. A fórmula proporcional tende a punir menos os partidos pequenos; produz governos mais instáveis; produz maior fragmentação parlamentar, já que dificilmente um único partido consiga maioria absoluta das cadeiras e, por isso, precisa fazer alianças; além da possibilidade das coalizõesafastar o governo criado das preferências dos eleitores. A segunda crítica é mais relacionada ao tipo de distrito eleitoral adotado, pois a maioria exige distritos plurinominais. Isso reduziria a capacidade de conexão dos eleitores com seus deputados, pois teriam dificuldade de identificar o representante e avaliá-lo, seja para punir ou recompensar.

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