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Aula 18 Teoria Geral da Constituição

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Direito Constitucional
Teoria Geral da Constituição
1. Introdução: O Conceito de Constituição
O Direito Constitucional tem como objeto de estudo a Constituição. Assim é que necessário entendermos, antes do estudo dessa matéria, o que seria a Constituição.
A Constituição seria uma lei fundamental e suprema de um Estado, trazendo em seu bojo a organização e o funcionamento estatal, a definição dos direitos e garantias fundamentais aos seus cidadãos, etc. se valendo de fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico, ou seja, todas as outras normas devem ser compatíveis com ela, sob pena de serem consideradas inconstitucionais.
Importante ressaltar que a doutrina não é pacífica quanto à definição do conceito de constituição, e isso se deve ao fato de que ao buscar conceitua-lá, classificá-la, surgiram diversos critérios, diversas concepções (sentidos). Abaixo elencaremos as que mais aparecem nos Exames de Ordem, eis que esse é o objetivo deste trabalho:
a) Sentido sociológico: definido por Ferdinand Lassalle (século XIX), a Constituição seria a somatória dos fatores reais do poder dentre de uma sociedade. Para Lassalle, uma Constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder social refletindo as relações de poder que existem no âmbito do Estado, ao passo que se isso não ocorresse, ela, Constituição, seria ilegítima, uma simples "folha de papel".
b) Sentido político: na lição de Carl Schmitt, a Constituição é uma decisão política do titular do poder constituinte. Na concepção de Schmitt, Constituição se difere de leis constitucionais; a primeira seria uma decisão política fundamental que visa estruturar e organizar os elementos essenciais do Estado, traduzindo matérias de maior importância. Já as leis constitucionais seriam os demais dispositivos que fazem parte formalmente do texto constitucional, mas que tratam de assuntos de menor importância.
c) Sentido material e formal: esse critério se aproxima ao adotado por Carl Schmitt. Do ponto de vista material, o que definirá se uma norma tem ou não caráter constitucional será o seu conteúdo, pouco importando a forma pela qual foi inserida, essa norma, no ordenamento jurídico. Já do ponto de vista formal, para a norma ter caráter de constitucional, basta verificar como fora introduzida no ordenamento jurídico, pouco importando seu conteúdo, ou seja, será constitucional, a norma introduzida pelo poder soberano por meio de um processo legislativo mais solene, mais dificultoso.
d) Sentido jurídico: definição trazida por Hans Kelsen, a Constituição é uma norma jurídica pura, sem qualquer consideração de cunho sociológico, político ou filosófico. A Constituição é a norma superior e fundamental do Estado, que organiza e estrutura o poder político, limita a atuação estatal e estabelece direitos e garantias individuais. Kelsen aloca a Constituição no mundo do dever-ser, sendo fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais. Kelsen concebeu o ordenamento jurídico como um sistema em que há um escalonamento hierárquico das normas, e nessa ótica, as normas jurídicas inferiores (normas fundadas) sempre retiram seu fundamento de validade das normas jurídicas superiores (normas fundantes). Porém, para Kelsen, a Constituição teria seu fundamento de validade na norma hipotética fundamental, situada no plano lógico (e não no plano jurídico), caracterizando-se como fundamento de validade de todo o sistema. Em suma, no sistema proposto por Kelsen, o fundamento de validade das normas está na hierarquia entre elas. Toda norma apoia sua validade na norma imediatamente superior; com a Constituição positiva (escrita) não é diferente: seu fundamento de validade está na norma hipotética fundamental, que é norma pressuposta, imaginada.
e) Sentido culturalista: a Constituição seria produto de um fato cultural, ou seja, seria fruto de elementos históricos, sociais e racionais produzido pela sociedade, e que nela pode influir.
2. Constitucionalismo e Neoconstitucionalismo
2.1 Constitucionalismo
O constitucionalismo pode ser entendido como um movimento político-social cujo objetivo é a limitação do poder estatal. O constitucionalismo não foi um movimento homogêneo em todos os Estados. J.J. Gomes Canotilho se vale da expressão "movimentos consitucionais" ao identificar vários constitucionalismos (como o inglês, o americano, o francês). Em sua obra Direito constitucional e teoria da constituição, 7ª ed., p. 51, Canotilho afirma ser o constitucionalismo uma "... teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade.".
Importante para o estudo da origem do constitucionalismo, fazermos distinção de dois grandes momentos, quais sejam, o constitucionalismo antigo e o constitucionalismo moderno. Vejamos:
2.1.1 Constitucionalismo antigo: a doutrina aponta que o constitucionalismo teve origem na antiguidade clássica, mais precisamente no seio do povo hebreu, que se organizava politicamente por meio do regime teocrático, onde os detentores do poder estavam limitados pela lei do Senhor, que também precisava ser respeitada pelos governados. 
Na Idade Média, uma importante manifestação do constitucionalismo foi a Magna Carta inglesa (1215), que representou uma limitação ao poder monárquico, que, antes, podia tudo o que quisesse. A vontade do rei estaria, a partir de então, limitada pela lei. 
Na Idade Moderna, a doutrina identifica novas manifestações do constitucionalismo, como o Petition of Rights (1628), Habeas Corpus Act (1679) e o Bill of Rights (1689). Todos esses foram documentos que garantiram proteção aos direitos fundamentais da pessoa humana, limitando a ingerência estatal na esfera privada.
Visto isso, percebe-se que o conceito de constitucionalismo está ligado, em um primeiro momento, à necessidade de se limitar e controlar o poder político, garantindo-se a liberdade dos indivíduos perante o Estado. Não havia, nesse primeiro momento do constitucionalismo (o denominado constitucionalismo antigo), a obrigatoriedade/imposição de que existissem Constituições escritas. Essa é uma característica que aparece no "constitucionalismo moderno".
2.1.2 Constitucionalismo moderno: ainda que em um primeiro momento as ideias do constitucionalismo não estivessem condicionadas à existência de Constituições escritas, com o passar do tempo essas se tornaram ferramentas essenciais para o movimento. Nesse sentido, são marcos do constitucionalismo moderno a Constituição dos Estados Unidos da América (1787) e a Constituição da França (1791). 
O constitucionalismo moderno nasce com um forte viés liberal, consagrando como valores maiores a liberdade, a proteção à propriedade privada, a proteção aos direitos individuais e a exigência de que o Estado se abstenha de intervir na esfera privada. Para Canotilho, “o constitucionalismo moderno representa uma técnica específica de limitação do poder com fins garantísticos.” 
Com a ascensão do constitucionalismo moderno, também surgem novas ideias e práticas constitucionais, dentre as quais citamos a separação de poderes, a proteção e garantia dos direitos individuais e a supremacia constitucional. A Constituição deixa de ser vista como apenas um manifesto de índole político, passando a ser considerada norma fundamental e suprema, fundamento de validade de todo o ordenamento jurídico de um Estado. 
2.2 Neoconstitucionalismo
O neoconstitucionalismo, também chamado por alguns de constitucionalismo pós-moderno, pós-positivismo, tem como marco histórico o pós-Segunda Guerra Mundial. Ele representa uma resposta às atrocidades cometidas pelos regimes totalitários (nazismo e fascismo) e, justamente por isso, tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Esse novo pensamento se reflete no conteúdo das Constituições; se antes se limitavam a estabelecer os fundamentos da organização do Estado e do Poder, agora passam a prever valores em seus textos (especialmente referentes
à dignidade da pessoa humana), a prever opções políticas gerais (p. ex., a redução das desigualdades sociais), bem como passa a prever opções políticas específicas (p. ex., a obrigação do Estado de prover saúde, educação). 
O Prof. Luís Roberto Barroso, em interessante trabalho (Neoconstitucionalismo: O triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil - htttp://www.conjur.com.br/static/text/43852) nos explica que o neoconstitucionalismo identifica um amplo conjunto de modificações ocorridas no Estado e no direito constitucional, apontando três marcos fundamentais que definem a trajetória do direito constitucional para o atual estágio de "novo". São eles: o histórico, o filosófico e o teórico.
O marco histórico dessas mudanças é a formação do Estado constitucional de direito, cuja consolidação se deu ao longo das últimas décadas do século XX (começa a se formar no pós-Segunda Guerra Mundial), onde se verifica a constituição passando a ser o centro do sistema, dotada de uma intensa carga valorativa, superando assim a ideia de Estado Legislativo de Direito.
O marco filosófico é o pós-positivismo, que reconhece a centralidade dos direitos fundamentais e reaproxima o Direito da Ética e da Justiça. O princípio da dignidade da pessoa humana ganha relevância; busca-se a concretização dos direitos fundamentais e a garantia de condições mínimas de existência aos indivíduos, ou seja, garantindo-se um “mínimo existencial”. Nessa fase existe um processo de constitucionalização de direitos, com a Constituição ganhando um forte conteúdo axiológico, onde os princípios passam a ser encarados como verdadeiras normas jurídicas.
Já o marco teórico do neoconstitucionalismo se dá pelo conjunto de mudanças que incluem: (I) a força normativa da Constituição; (II) a expansão da jurisdição constitucional; (III) nova dogmática da interpretação constitucional. 
3. Jusnaturalismo, Positivismo e Pós-Positivismo
O jusnaturalismo, o positivismo e o pós-positivismo são correntes doutrinárias com distintas concepções acerca do Direito, exercendo grandes influências no direito moderno e contemporâneo, e, por isso, merecem ser estudadas.
A corrente jusnaturalista defende que o direito é uno, imutável e independente da vontade humana. Para os jusnaturalistas, a lei é válida em todo e qualquer lugar, não se altera com o tempo, sendo fruto da razão, e não da vontade humana. Essa corrente afirma que há um direito anterior ao direito positivo (escrito), que é resultado da própria natureza (razão) humana: trata-se do chamado direito natural.
Para o positivismo, o direito se resume àquele criado pelo Estado na forma de leis, independentemente de seu conteúdo, sendo a Constituição seu fundamento de validade. Os positivistas afirma que a Constituição tem como fundamento de validade a norma hipotética fundamental, uma vez que “a Constituição deve ser obedecida” (sentido lógico-jurídico de Kelsen). Na ótica positivista, direito e moral são coisas distintas; não há qualquer vínculo entre direito e moral ou entre direito e ética.
Já para o pós-positivismo, o direito não se encontra isolado da moral, devendo esta ser considerada tanto quando de sua criação como quando de sua aplicação.
4. Hierarquia das normas no ordenamento jurídico interno
Para melhor compreensão do Direito Constitucional, torna-se de fundamental importância estudarmos a "hierarquia das normas". Para tanto, iremos no valer do que a doutrina denomina “pirâmide de Kelsen”, que se baseia na ideia de que as normas jurídicas inferiores (normas fundadas) retiram seu fundamento de validade das normas jurídicas superiores (normas fundantes).
A pirâmide de Kelsen traz a Constituição em sua cúpula (topo), por ser esta fundamento de validade de todas as demais normas do sistema. Assim é que nenhuma norma do ordenamento jurídico pode se opor à Constituição, sob pena de se tornarem normas inconstitucionais.
Existe na Constituição normas constitucionais originárias e derivadas. As normas constitucionais originárias são produto do Poder Constituinte Originário (o poder que elabora uma nova Constituição), integrando o texto constitucional desde sua promulgação, in casu, nossa Constituição da República de 1988. Já as normas constitucionais derivadas são aquelas que resultam da manifestação do Poder Constituinte Derivado (o poder que altera a Constituição), traduzindo-se nas emendas constitucionais, que na pirâmide de Kelsen, também se situam no topo,no vértice. 
No tocante a hierarquia dessas normas constitucionais originárias e derivadas, cabe destacar que doutrina e jurisprudência afirmam que:
- Não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias, não importando qual é o conteúdo da norma. Todas as normas constitucionais originárias têm o mesmo status hierárquico;
- Não existe hierarquia entre normas constitucionais originárias e normas constitucionais derivadas. Todas elas se situam no mesmo patamar. 
Em que pese não existir hierarquia entre normas constitucionais originárias e derivadas, cumpre apontar uma importante diferença entre elas: as normas constitucionais originárias não podem ser declaradas inconstitucionais (não podem ser objeto de controle de constitucionalidade), diferentemente das normas constitucionais derivadas (emendas constitucionais), que sim, podem sim ser objeto de controle de constitucionalidade.
Com a promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004, os tratados e convenções internacionais de direitos humanos aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, passaram a ser equivalentes às emendas constitucionais. Situam-se, portanto, no topo da pirâmide de Kelsen, tendo “status” de emenda constitucional. Diz-se que os tratados de direitos humanos, ao serem aprovados por esse rito especial, ingressam no chamado “bloco de constitucionalidade”.
As normas imediatamente abaixo da Constituição (e dos tratados internacionais sobre direitos humanos), quais sejam, as leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, as medidas provisórias, os decretos legislativos, as resoluções legislativas, os tratados internacionais em geral incorporados ao ordenamento jurídico, e os decretos autônomos, são denominados de normas infraconstitucionais, não possuindo hierarquia entre si, segundo doutrina majoritária. Essas normas são primárias, que geram direitos e criam obrigações, desde que não contrariem a Constituição.
Abaixo apresentamos alguns entendimentos doutrinários e jurisprudenciais muito cobrados em prova:
 - Leis federais, estaduais, distritais e municipais possuem o mesmo grau hierárquico.
- Existe hierarquia entre a Constituição Federal, as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas dos Municípios, haja visto a Constituição Federal se encontrar num patamar superior ao das Constituições Estaduais, que, por sua vez, são hierarquicamente superiores às Leis Orgânicas. 
- Leis complementares têm o mesmo nível hierárquico das leis ordinárias. Apesar da Lei Complementar ser aprovada por um procedimento mais dificultoso, o que a diferencia da Lei Ordinária é o seu conteúdo (matéria).
- É plenamente possível Lei Complementar tratar de tema reservado às leis ordinárias (será considerada lei complementar em seu aspecto formal, mas materialmente ordinária, possível de ser revogada ou modificada por simples lei ordinária). Por outro lado, as Leis Ordinárias não podem tratar de tema reservado às leis complementares (inconstitucionalidade formal "nomodinâmica").
Abaixo das leis primárias, encontram-se as normas infralegais, tidas como normas secundárias, que não tem o condão de gerar direitos tampouco de impor obrigações. Essas normas secundárias, infralegais, não podem contrariar as normas primárias, sob pena de invalidade. É o caso dos decretos regulamentares, portarias, instruções normativas, dentre outras.
5. Poder Constituinte
5.1 Introdução
A organização dos seres humanos em sociedade só foi possível em virtude da celebração de um
“pacto social”, de uma "declaração de direitos" em que todos, sem exceção, renunciaram seus direitos (exceto o “direito à vida”) para um órgão central, qual seja, o Estado, que passou a coordenar o exercício dos direitos naturais de cada indivíduo, garantindo assim a paz social.
Mas a preservação da sociedade, segundo Manoel Gonçalves Ferreira Filho, exige o Poder Político e “para estabelecê-lo, institucionalizá-lo, limitá-lo, o povo, comunidade resultante do pacto, gera o poder constituinte composto de representantes extraordinários (o qualificativo está na obra) dele mesmo. Tal poder constituinte edita a Constituição e com isto encerra a sua missão (ainda que o povo possa quando quiser reconstituí-lo). A Constituição é a lei do Poder, que há de comandar segundo as formas que ela prescrever, nos limites que ela admitir. Essa lei haverá de prever o governo por representantes do povo, mas representantes ordinários que não poderão mudar a Constituição” (Direitos humanos fundamentais. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 4). 
A teoria do poder constituinte foi desenvolvida pelo abade Emmanuel Sieyès no manifesto "O que é o terceiro estado?" e contribuiu para a distinção entre poder constituído e poder constituinte. Poder Constituinte é aquele que cria a Constituição, enquanto os poderes constituídos são aqueles estabelecidos por ela, ou seja, são aqueles que resultam de sua criação.
A titularidade do poder constituinte, portanto, pertence ao povo. Entretanto, o seu exercício está reservado à Assembleia Nacional Constituinte (representantes eleitos pelo povo). 
O poder constituinte pode ser dividido em Poder Constituinte Originário e Poder Constituinte Derivado. Vejamos cada um deles:
 
5.2 Poder Constituinte Originário
O poder constituinte originário (poder constituinte de primeiro grau) constitui o poder de elaborar uma nova Constituição, que consiste na norma mais importante do ordenamento jurídico, já que todas as outras (as normas infraconstitucionais – ex. leis ordinárias) retiram dela seu fundamento de validade.
Como é a primeira norma (no sentido da importância) do ordenamento, não há qualquer limite jurídico à sua elaboração, caracterizando-se como poder de fato e absoluto, podendo prever qualquer assunto e da forma como melhor lhe convier. A doutrina se divide quanto a essa característica do Poder Constituinte. Os positivistas entendem que, de fato, o Poder Constituinte Originário é ilimitado juridicamente; já os jusnaturalistas entendem que ele encontra limites no direito natural, ou seja, em valores suprapositivos. No Brasil, a doutrina majoritária adota a corrente positivista, reconhecendo que o Poder Constituinte Originário é ilimitado juridicamente. 
Temos como características do poder constituinte originário: 
a) é inicial pelo fato de instaurar uma nova ordem jurídica;
b) é juridicamente ilimitado; 
c) é incondicionado, não se sujeitando a qualquer regra de forma ou de fundo;
d) é autônomo, pois a nova Constituição será estruturada de acordo com a determinação dos que exercem o poder constituinte. 
Diante de tais características é que o Supremo Tribunal Federal já manifestou o entendimento de que não há se falar em controle de constitucionalidade de normas constitucionais originárias (Acórdão da ADIN-MC 3.300 - rel. Min. Celso de Mello, j. 03.02.2006, Informativo STF 414).
5.3 Poder Constituinte Derivado
	O Poder Constituinte Derivado (poder constituinte de segundo grau) é o poder de modificar a Constituição Federal, bem como de elaborar as Constituições Estaduais. É fruto do poder constituinte originário, estando previsto na própria Constituição. Tem por características ser um poder:
a) Jurídico, eis que regulado pela Constituição, estando, portanto, previsto no ordenamento jurídico vigente;
b) Derivado, eis que fruto do poder constituinte originário;
c) Limitado (ou subordinado), uma vez que é limitado pela Constituição, não podendo desrespeitá-la, sob pena de inconstitucionalidade;
d) Condicionado, haja vista que a forma de seu exercício é determinada pela Constituição. 
O poder constituinte derivado subdivide-se em duas espécies, quais sejam:
a) Poder constituinte derivado reformador: é o poder de alterar a Constituição por meio a elaboração de Emendas Constitucionais. O exercício do poder constituinte derivado reformador sofre limites, classificados em circunstanciais, materiais, formais (ou procedimentais) e temporais:
 - Circunstanciais: são determinadas situações de crise política que, de acordo com o art. 60, § 1.º, são: intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio. Nestas circunstâncias não é possível alterar a CF. Esta limitação objetiva garantir a possibilidade de alteração constitucional sem as pressões políticas decorrentes do cenário de instabilidade institucional;
- Materiais: são assuntos que dada a sua extrema importância para a sociedade, não podem ser modificados por meio de Emenda Constitucional. Tais limitações recebem o nome de cláusulas pétreas (ou “núcleo constitucional intangível”) e estão previstas no art. 60, § 4.º. Uma observação importante merece ser feita quanto aos direitos e garantias: o rol do art. 5.º é meramente exemplificativo, tanto que o STF entendeu que o princípio da anterioridade em matéria tributária (art. 150, III, b, da CF) é direito fundamental e, portanto, cláusula pétrea (ADIn 939-7); 
- Formais ou procedimentais: são as disposições referentes ao processo legislativo, abrangendo, assim, as fases introdutória (iniciativa para apresentação da proposta de emenda), constitutiva (deliberação parlamentar e deliberação executiva) e complementar (promulgação e publicação). Estão previstas no art. 60, I a III e §§ 2.º a 5.º; 
- Temporais: não foram adotadas pela Constituição de 1988, mas consistem em previsões que proíbem a alteração em determinado período, como por exemplo, “não poderá a Constituição ser alterada nos três anos posteriores à sua elaboração”. 
b) Poder constituinte derivado decorrente: é o poder de os Estados elaborarem suas próprias Constituições Estaduais, dentro dos limites traçados pela Constituição Federal. A doutrina costuma apontar como limitações ao poder constituinte derivado decorrente (que permite que os Estados-membros elaborem a sua própria Constituição) os seguintes princípios: 
 I – princípios constitucionais sensíveis (ou apontados ou enumerados), que são aqueles cuja inobservância pelos Estados-membros no exercício de suas competências legislativas, administrativas ou tributárias pode acarretar a sanção politicamente mais grave existente em um Estado Federal, que é a intervenção na sua autonomia política;
II – princípios constitucionais estabelecidos (ou organizatórios), que consistem em determinadas normas que se encontram espalhadas pelo texto da Constituição que além de organizarem a própria federação, estabelecem preceitos centrais de observância obrigatória aos Estados-membros em sua auto-organização; 
III – princípios constitucionais extensíveis, que são as normas centrais comuns à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, portanto, de observância obrigatória no poder de organização do Estado.
	Importante observar que diversas normas de Constituições Estaduais são declaradas inconstitucionais pelo STF por violação ao princípio da simetria, segundo o qual deverá existir correspondência entre o modelo existente na Constituição Estadual e o modelo da Constituição Federal. 
6. Aplicabilidade das Normas Constitucionais
	O estudo da aplicabilidade das normas constitucionais é essencial à correta interpretação da Constituição Federal. É a compreensão da aplicabilidade das normas constitucionais que nos permitirá entender exatamente o alcance e a realizabilidade dos diversos dispositivos da Constituição. 
	Todas as normas constitucionais apresentam juridicidade, sendo imperativas e cogentes. O que se afirma é que todas as normas constitucionais surtem efeitos jurídicos: o que varia entre elas é o grau de eficácia. 
	A classificação
das normas quanto à sua aplicabilidade mais aceita no Brasil foi a proposta pelo Prof. José Afonso da Silva. A partir da aplicabilidade das normas constitucionais, o ilustre doutrinador classifica as normas constitucionais em três grupos:
1. Normas constitucionais de eficácia plena: são normas dotadas de aplicabilidade imediata, plena, integral, ou seja, dispensam qualquer ato normativo para ter aplicabilidade, como, por exemplo, o art. 2.º da CF/1988: “São poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. 
2. Normas constitucionais de eficácia contida: são aquelas que embora tenham eficácia imediata (não precisam de lei posterior para surtir todos seus efeitos), podem ter sua aplicabilidade reduzida ou restringida por uma norma infraconstitucional. Exemplo é o art. 5.º, XIII da CF/1988: “é livre o exercício de qualquer ofício ou profissão, atendidas as qualificações que a lei estabelecer”. Tal norma fornece fundamento de validade à previsão legal (Lei 8.906/1994) do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Algumas profissões não têm exame semelhante, diante da ausência de lei exigindo tal requisito.
3. Normas constitucionais de eficácia limitada: são aquelas que necessitam ser regulamentadas pela atividade do legislador infraconstitucional, para que produzam todos os seus efeitos. Por este motivo, sã normas de aplicabilidade mediata e reduzida (ou diferida). Sem essa norma infraconstitucional, a norma constitucional não terá condição de ser aplicada em sua totalidade. Importante observar que essas normas produzem um mínimo efeito, qual seja o de vincular o legislador infraconstitucional aos seus ditames. José Afonso da Silva as divide em dois grupos: 
I – normas de princípio institutivo (ou organizativo), que contêm as regras para a estruturação das instituições, órgãos ou entidades (ex.: art. 18, § 2.º); e 
II – normas de princípios programáticos, que veiculam programas a serem implementados pelo Estado visando a realização de fins sociais (ex.: art. 196). Vale dizer que estas normas programáticas não são direcionadas ao povo e sim ao legislador, tendo, portanto, natureza jurídica de mera expectativa de direitos, eis que não pode ser invocada pelo cidadão. Como exemplo, temos o art. 37, VII, da CF/1988 que prescreve que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica. Enquanto não fosse editada essa lei, os servidores não poderiam entrar em greve. Contudo, o plenário do STF decidiu, por unanimidade, declarar a omissão legislativa quanto ao dever constitucional em editar lei que regulamente o exercício do direito de greve no setor público e, por maioria, aplicar, no que couber, a lei de greve vigente no setor privado (Lei 7.783/1989) (Mandado de Injunção nº 712). 
	Uma observação importante deve ser feita: as normas constitucionais de eficácia limitada produzem um mínimo de eficácia, no sentido de revogar ou não recepcionar as que com elas são incompatíveis. Além disso, vinculam o legislador, ao estabelecerem o dever de legislar no futuro e em observância aos seus ditames. 
 
7. Princípios Fundamentais (Arts. 1.º a 4.º, CF)
	Os princípios fundamentais, segundo José Afonso da Silva, “são as regras básicas do ordenamento constitucional”, ou seja, “constituem a síntese de todas as demais normas da Constituição” e estão previstos no Título I da CF: princípios federalista, republicano, democrático, da divisão de poderes, da organização da sociedade e orientadores das relações internacionais.
	Dispõe o art. 1.º da CF que a República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I – a soberania; 
II – a cidadania; 
III – a dignidade da pessoa humana; 
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V – o pluralismo político. 
De acordo com o parágrafo único do aludido dispositivo, “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. No artigo supracitado está consagrado o princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, sendo vedada a secessão, já que o art. 60, § 4.º, I, da CF revela a sua natureza de cláusula pétrea. 
	A Constituição prevê, outrossim, a separação de poderes. Trata-se de nomenclatura que não é compatível com a técnica, pois considera-se que o poder é uno e deriva do povo (conforme art. 1.º, parágrafo único, da CF). O correto seria falar-se em separação de funções. 
Dispõe o art. 3.º que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II – garantir o desenvolvimento nacional; 
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
	Nas relações internacionais a República Federativa do Brasil rege-se pelos seguintes princípios: 
I – independência nacional; 
II – prevalência dos direitos humanos; 
III – autodeterminação dos povos; 
IV – não intervenção; 
V – igualdade entre os Estados; 
VI – defesa da paz; 
VII – solução pacífica dos conflitos; 
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X – concessão de asilo político. 
	Visando assegurar a observância dos aludidos princípios, o art. 7.º do ADCT determina que: “O Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos”, revelando a sua natureza de norma programática. Para implementar o aludido compromisso, a EC 45/2004 (Reforma do Judiciário) incluiu o § 4.º no art. 5.º da CF, pelo qual “O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”.
www.eduqc.com
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