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O COMÉRCIO ESCRAVISTA Sul fluminense

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O COMÉRCIO ESCRAVISTA capítulo 1 
 Foram os mundos coloniais da escravidão, da plantation, do racismo, laboratórios de experiências do atlântico, num movimento de gestão que tinha no uso racional econômico da terra e nos seus subprodutos que levaram os europeus a explorarem cada centímetro de ricas produções das colônias tropicais. 
 A partir dos séculos XV e XVI, o comércio se expande seguido da pirataria e dos saques, elevando os custos e diversificando os mercados de diversos gêneros, incluindo os negros. “Não é sem razão que Karl Marx, filósofo e árduo economista criticava os mercados acumulativos escreveu: “Se o dinheiro vem ao mundo com uma mancha congênita de sangue numa das faces”, o capital vem pingando da cabeça aos pés, de todos os poros, sangue e lama.” Comércio, conquista, pirataria, saque, exploração esses os recursos eficientes. Produziram lucros enormes, somas fabulosas, um suprimento de capital que aumentava cada vez mais. �
 Sabe-se que no Brasil o comércio atlântico de almas era o principal instrumento viabilizador da reprodução física dos escravos, especialmente em áreas intimamente ligadas ao mercado internacional em expansão. Já na África, o tráfico possuía perspectivas muito pouco abordadas e estudadas pelos historiadores, que estimam em análises que entre os séculos XVI ao XIX�, entraram no Brasil de quatro a seis milhões de negros oriundos da África.
 A região de procedência dessas almas variou conforme a época e as condições do tráfico. Eles foram trazidos inicialmente da Guiné Portuguesa e, mais tarde, da Costa da Mina, do Congo, de Angola, Moçambique e regiões que abrangiam o chamado afro-asiático. Chegando ao Brasil, eram negociados em mercados nos principais centros: Bahia, Rio de Janeiro, Recife, e em São Luis do Maranhão de onde partiam para vários pontos do Brasil. Pode-se destacar como parte vital para o entendimento do tráfico na África, a forma com que era feita a produção social do cativo. Esta "produção" possuía duas importantes dimensões, a uma delas constituída de conteúdo político-social, que tinha por móvel a cristalização da hierarquia social e das relações de poder nas regiões africanas mais ligadas à exportação de homens. A segunda, de conteúdo econômico, stricto sensu, relacionar-se-ia à forma pela qual se dava produção do cativo, através da violência, o que permitia ao fluxo de mão-de-obra realizar-se a baixos custos. Em relação aos baixos custos, por exemplo, pode-se fazer um paralelo com a esfera da demanda brasileira por escravos. Essa demanda gerava comportamentos muito discutidos historiograficamente, como a super exploração do trabalho e a lógica empresarial da propriedade escrava, que foram descritas pelo historiador Manolo Florentino, em seu livro: “Em Costas Negras”, reafirma que o tipo de lógica demográfica empresarial, que tinha no comércio negreiro seu maior veículo, baseava-se no preço baixo pago pelos cativos, o que beneficiavam as empresas escravistas. Apesar dessa afirmação, fazer todo o sentido, se seguirmos a lógica proposta pelo autor, questões como esta ainda permanecem em constantes polêmicas e discussões, principalmente quanto à captação de africanos e a venda de negros por negros. Esta segunda gerou diversos estudos que apontaram para a polêmica introdução de diversos subprodutos do tráfico, utilizados nessa aquisição por demandas de “braços”.
 De início, os negros destinaram-se às plantações de cana-de-açúcar durante o período de exploração da atividade monocultora que permeou como grande produto de exportação para a Coroa portuguesa até meados do século XVII e mais tarde, no século XVIII empregados na mineração, no século XIX no cultivo de outra monocultura exportadora, o café.
 O tráfico escravo para o Brasil começou a se organizar em meados do século XVI�, com a participação de navegadores portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e holandeses, como principais negociadores. O objetivo era de abastecer de mão-de-obra barata os colonos que se dedicavam ao cultivo de gêneros tropicais nas colônias americanas. As moedas de troca no apresamento dos africanos eram desde miçangas e utensílios sem valor, até mesmo escambo por armas de fogo, aguardente e fumo de rolo. Esses três produtos tinham uma utilidade pratica à medida que cada grupo étnico rival utilizava-se de vantagens com europeus em monopólios comerciais dominando os rivais e a posterior revendendo-os em troca das armas e a sustentabilidade dos vícios em fumo e água-ardente introduzidos pelo elemento explorador europeu, que se valendo destas táticas demarcavam-se seus espaços comerciais em entrepostos estabelecidos no continente negro. 
 O tráfico negreiro era monopólio das feitorias erguidas na Costa africana principalmente no Golfo da Guiné. Os portugueses estabeleceram-se no chamado Forte de São Jorge da Mina (daí o termo Costa da Mina) que mais tarde designou a região, tornando-se o principal centro de comércio de escravo do litoral ocidental da África. Tais feitorias utilizaram-se como vimos da violência do sistema imposto, transformando homens em escravos, que para as sociedades africanas, tinham sentidos diversos. Tratava-se de obtenção de mão-de-obra para utilização interna, com o que a escravidão se somava os diversos tipos de relações de dependência pessoal no interior daquelas sociedades. Segundo o historiador Manolo Florentino; “A maior parte dos cativos, porem, se destinava à troca por mercadorias européias e americanas ao serem inseridas no escambo entre as metrópoles e colônias que ao serem inseridas nos tradicionais circuitos africanos de troca, desempenhavam papéis que muito distavam da função quase idílica de meros” bens de prestígio”.
 Segundo a visão exposta pelo historiador o tráfico definiu um duplo papel, enriqueceu rapidamente “agente” das Coroas européias e definiu os espaços geográficos dos reinos, distribuídos principalmente pelo litoral africano. Neste contexto Portugal teve um papel significativo, no universo do comercio escravista segundo Florentino. Pois os gêneros tropicais produzidos na colônia do Brasil, necessitavam de uma rotatividade constante de “braços” ao trabalho, pois a insalubridade das produções de gêneros tropicais reduzia drasticamente à vida útil dos escravos sendo uma constante a obtenção de mão-de-obra, para repor no lugar daqueles que por diversos motivos, inclusive os castigos corporais, iam morrendo ou perecendo aos poucos. 
 Da Guiné portuguesa, o nordeste recebeu negros das tribos fulas e mandingas, representantes da cultura sudanesa mulçumanas, para trabalhar em lavouras canavieiras e nos engenhos de açúcar. Com a fundação de Belém no Pará, muitos representantes dessas tribos foram para a Amazônia. Os fulas destacavam-se, pela cor ligeiramente pálida. Com o tempo, o termo fula passou a designar qualquer negro que tivesse a mesmas características, daí, a origem de expressões como negros fulo é “fulo de raiva”, usada até hoje. Já os mandingas, por serem tidos como grandes conhecedores de feitiços, passaram a ser sinônimo de bruxaria na língua portuguesa. Outros grupos de origem mulçumana (sudanesas), como os hauçás, os tapas, os canures e os grunces, exerceram na Bahia grande influência, em alguns casos, inclusive liderando movimentos de insurreição na primeira metade do século XIX, em cenários de resistência urbana as austeridades do cativeiro.
 Da região do Golfo da Guiné, vieram também para o Brasil negros sudaneses das tribos Fantis e Achantis, Txis, Gás, Eres e Fons (conhecidos no Brasil como Jejes) e Iorubas (chamados de nagôs). Os dois últimos eram muito procurados no início dos trabalhos de mineração, mas por volta de 1750, com a decadência dessa atividade, passaram a ser vendidos principalmente para executar trabalhos domésticos nos centros urbanos e sustentar a crescente atividade cafeeira no sudeste, que tem no início do século XIX. 
 Este século em questão fora marcado por grandes transformações em diversos campos da vida pública no Brasil.Neste período a Família Real portuguesa se estabeleceu na sua mais rica colônia (Brasil) fugida do avanço expansionista de Napoleão, frente aos reinos europeus que mantinham ações de comércio, com a Inglaterra, inimiga e concorrente da França em diversos mercados. 
 No Brasil, valendo-se de uma posição privilegiada, após o apoio à transferência para cá da família real portuguesa, o governo inglês consegue a assinatura do “Tratado de Aliança e Amizade”, de 28/02/1810, celebrado entre D. João VI e o Rei Jorge III da Inglaterra. Nesse tratado D. João compromete-se a “convencido da má política do comércio de escravos” cooperar com o Rei da Grã Bretanha e a adotar em seus domínios uma “gradual abolição do comércio de escravos”. Ficava também vedado aos portugueses continuar o tráfico na África fora dos domínios de Portugal. Além de estabelecer privilégios alfandegários, quanto à diminuição de taxas de importação de produtos ingleses. 
 Em 1815, Portugal e Inglaterra celebram novo pacto para abolição do tráfico de escravos em todos os lugares da costa da África ao norte do Equador. Além dessa medida o texto reafirma que D. João adotaria em seus domínios uma gradual diminuição do comércio de escravos. 
Em 1817, firma-se ainda entre Portugal e Inglaterra, uma convenção que estabelece o direito mútuo de visita e busca nos navios de ambas as bandeiras, suspeitos de tráfico negreiro, constituindo na prática, de uma autorização dada à Coroa britânica para agir sobre os navios portugueses, já que só a marinha inglesa teria o necessário poder bélico. Criava ainda comissões mistas para o julgamento dos navios apresados que passaram a funcionar em Serra Leoa e no Rio de Janeiro. A Inglaterra desenvolvia em solos tropicais, uma verdadeira fonte confiável de negócios e base para empreendimentos em todo continente Sul da América. Cada vez mais, apesar do combate gradual contra o tráfico escravo, este comércio se estabelecia como um dos mais sólidos investimentos dos homens de negócios britânicos. 
Com advento da cafeicultura obteve-se um avanço gradual do plantel, principalmente nas regiões de mata de encosta no Rio de Janeiro, hoje conhecido como Maciço da Pedra Branca e Floresta da Tijuca. �Esta última por seus mananciais que abasteciam boa parte da Corte, foi quase que totalmente devastada pelo frenético ritmo imposto com a plantação indiscriminada de café e chá. Por ocasião, os mananciais foram se secando levando a um colapso no abastecimento publico de água durante o Segundo Reinado. 
 Nas províncias do Sul, especificamente Rio de Janeiro (Vale do Paraíba) e São Paulo (região oeste), a expansão do café impunha aos senhores de terras e escravos maior quantidade de trabalhadores, de modo a produzir mais para ganhar liquidez continua, sendo o produto perecível e de cultivo delicado. Rapidamente, o tráfico/comércio inter-regional de escravos tornou-se grande negócio, ganhando um volume nunca dantes visto. Além disso, a cada ano que se passava aumentava o número de crioulos em relação aos nascidos na África. Esta diferenciação crescente entre negros nativos e as matrizes africanas levaram a um ajuste de conduta, entre as propriedades onde o elemento nativo era mais adaptado ao sistema de “plantations”.
 Os cafeicultores, também, conseguiam empréstimos mais vultosos de acordo com o número de escravos que possuíam, garantindo aos bancos maior probabilidade de retorno financeiro. Assim, vários bancos emprestavam dinheiro em longo prazo – 15 anos, e sob juros bem favoráveis aos fazendeiros. –nas regiões assinaladas, a partir da primeira metade do século XIX.12 Neste período, foi feita a mais intensa movimentação de compra e venda de escravos, uma vez que os cafeicultores já anteviram a queda dos lucros com o café: tinham um tempo “definido” para conseguirem lucrar o máximo, que pudessem com sua mercadoria, necessitando cada vez mais da mão-de-obra escrava. Assim acreditavam, pelo debate político, no breve final da escravidão no Brasil, mesmo sem saber quando seria a data específica, sendo fundamental adquirir escravos antes disso. Definitivamente, o escravo havia se tornado a mais cara “mercadoria” nestas terras, pois a mão-de-obra cativa continuava a ser lucrativa ( Jaime Rodrigues).13
 Em resumo, acreditamos que o preço real do escravo – ou seja, o valor da produção feita pela escravaria da fazenda, dividido pelo número de escravos da mesma –, do ponto de vista dos senhores engajados na produção de café e açúcar, efetivamente aumentava.
 À medida que se prolongavam os prazos na aquisição de créditos dos cafeicultores, junto aos Bancos e casas de comércio inglês, nesses lastros vinha também o comércio de africanos para suprir as demandas agrárias impulsionadas pelas cifras do chamado “ouro negro”. Os traficantes criaram também uma companhia de seguros, que cobrava 10% do valor da carga e, no caso de apreensão do navio por cruzadores ingleses, pagava metade de seu valor total. Pois nesse período os mercados africanos, principalmente na zona denominada de afro-asiático que se estendiam do litoral do Marrocos até a África do Sul, era um espaço de atuação para os traficantes de extremo risco, mesmo antes das leis internacional que seguiram gradualmente durante os primeiros anos do século XIX, não afastaram os mercadores de suas praças de atuação ou muitos menos os traficantes de se arriscarem em trazerem cada vez mais almas africanas. Tal risco mercadológico era justificado pela necessidade dos cafeicultores, do Vale do Paraíba em adquirir cada vez mais mão de obra. Sobre o tráfico de escravos para o Sudeste, os historiadores (Florentino), 14defendem, para a primeira metade do século XIX, que os senhores de grande quantidade de escravos das fazendas do Sudeste tinham consciência das transformações que a compra de escravos poderia trazer nas relações sociais estabelecidas entre os mesmos. Desta forma, tais senhores teriam incentivado políticas de desintegração dos laços sociais de solidariedade entre escravos, na construção ou não de famílias, desde que a paz social estivesse mantida. Para os autores, isto realmente ocorreu, tendo continuação na intensificação do tráfico interno de escravos para o sudeste, depois de 1850. Entretanto, o historiador Manolo Florentino saliente que para uma cultura africana de referências semelhantes no sudeste que, ao contrário, pela rota do tráfico internacional, teria alimentado a formação de uma consciência de comunidade coletiva nas fazendas de café, onde vários protestos escravos ocorreram. Tal fato criou condições mais severas da exploração dos senhores.
 O litoral Sul Fluminense sempre fez parte do cenário do tráfico internacional. Um exemplo forte desta região e a Ilha Grande e sua adjacência15. A Ilha Grande teve um importante papel histórico, de destaque internacional, registrando episódios de pirataria, tráfico de escravos e contrabando de mercadorias ocorridos entre os séculos XVI e XIX.
 Com a descoberta do ouro e da prata no Peru, no fim do século XVI, a bacia do Prata tornou-se o local de onde as riquezas vindas do Peru eram carregadas pela frota espanhola. Entre a Europa e a bacia do Prata os locais mais convenientes ( ao sul ) para o reabastecimento de água e lenha eram as ilhas de Santa Catarina, São Sebastião e Ilha Grande.
 No mesmo período, ocorreu o fim da “Invencível Armada” , quando Portugal ficou sob o domínio espanhol que incorporou a maior parte da armada lusitana . Portugal, desfalcado de sua Marinha, ficou a costa brasileira despoliciada. Desse fato resultou a intensificação do contrabando do Pau-brasil e depois, de muitos outros tipos de contrabando.
 Piratas e aventureiros de várias nacionalidades navegavam pela costa brasileira e assaltavam as naus espanholas carregadas de riquezas. Diversos pontos da costa brasileira serviam de refúgio, abrigo e porto de abastecimento. A Ilha Grande, ao sul, destaca-se. Nela os contrabandistas e Piratas encontravam o abrigo mais seguro, além da tranqüilidade paraobter o repouso necessário e produtos para o sustento das viagens. 
 Com as descobertas das minas brasileiras, que exigiam cada vez mais mão de obra, a Ilha foi base do contrabando de escravos, principalmente no século XIX, quando foi proibido o tráfico negreiro, pois as lavouras do café usavam o trabalhador africano que era proibido de entrar regularmente no país. O caminho novo para as Minas Gerais e os caminhos para as Províncias do Rio de Janeiro e São Paulo, eram contrabandeados da 
A história registra um grande número de corsários ingleses que surgiram em nossa costa, ora traficando escravos e contrabandeando pau-brasil, ora abordando navios e saqueando cidades. No Sul, seus lugares preferidos para a espreita eram as ilhas: da Marambaia, dos Porcos, Grande, São Sebastião, Santa Catarina, onde passavam as frotas espanholas e lusitanas que iam e vinham do Prata carregando riquezas.
 Os holandeses também marcaram presença na Ilha Grande, no início do século XVII. Registraram-se alguns conflitos entre holandeses e mestiços índios-portugueses que habitavam a Ilha. Assim como os lusitanos deixaram também uma herança genética na ilha, o que pode ser observada pela presença de nativos com alguns traços índios, olhos azuis e cabelos loiros. Com a invasão holandesa no norte do Brasil, a freqüência daqueles navios deixou de ser uma constante, pois os holandeses a partir de então tiveram uma passagem curta pela Ilha Grande.
 Os franceses, no início do século XVIII e por 17 anos (1701 - 1718). Um dos pontos de interesse dos corsários franceses pela Ilha Grande residia no fato da ilha ser vizinha à Paraty, porto marítimo de escoamento do ouro extraído das minas gerais; a inexistência de fortificações e de tropas; abundância de lenha e água, além do que, preferiam a Ilha Grande para se refrescarem, pois a geografia dela apresentava, ante qualquer surpresa, uma melhor possibilidade de fuga. Existem registros de que vários navios carregados de mercadoria de origem francesa, principalmente de tecidos, descarregaram na Ilha Grande, precisamente nas enseadas das Palmas, Abraão e Sítio Forte.
 Mesmo com a extinção da pirataria francesa em função de tratados de política internacional, os franceses continuaram navegando a costa legalmente, transportando colônias de franceses destinados a ilhas francesas no extremo sul da América Latina. As razões pelas quais eles continuaram a preferir as águas da baía da Ilha Grande explicam-se: na época, os navios de carga não pagavam os carregamentos de água e lenha, mas se esses eram feitos no porto do Rio de Janeiro havia sempre despesas e intermediários para o transporte até o navio. Atracar na Ilha Grande e dela tirar o que quisessem era bem mais fácil do que nos portos da Corte, por exemplo.16
 Em 1827 aconteceram três ataques de corsários argentinos na Ilha Grande, autorizados pelo governo argentino. Um contra a fazenda de Dois Rios, outro ocorreu na ponta de Castelhanos e o último deu-se na enseada das Palmas. Os três ataques foram rebatidos pelos fazendeiros e forças militares postadas na Ilha. Batalhas foram travadas. No último ataque, os argentinos perderam um navio que foi incendiado pelas forças brasileiras.
 Procedido ao desembarque, os escravos eram conduzidos, clandestinamente, para as imediações de Paraty e baía de Ilha Grande onde eram engordadas para um melhor rendimento, pois durante as viagens ficavam desnutridas e doentes.
 No século XVIII, eram rotineiros os desembarques nas enseadas das Palmas e do Abraão, locais que eram habitados por gente pobre que vivia em palhoças e onde existiam também fazendas que exploravam a mão- de- obra africana. Os registros apontam que em 1837, uns totais de 524 negros foram desembarcados na praia de Dois Rios, onde havia uma grande fazenda. Por fonte histórica não identificada temos conhecimento de que em frente à fazenda foram incendiados dois navios e que sua carga de escravos foram reduzida a cinzas nos porões dos navios.
 Na primeira metade do século XIX, os portugueses começaram a ser pressionados pelos ingleses a proibirem e combaterem o tráfico de escravos. Os ingleses tinham grande interesse na industrialização, que surgiu com a invenção da máquina a vapor, por James Watt. Com isso, foi intensificada a fiscalização na costa, que não funcionava na prática, pois as autoridades portuguesas tinham interesse econômico no tráfico. Foi quando em 1850, as autoridades decidiram cooperar com os Ingleses e tornou realmente eficaz o patrulhamento feito nas enseadas de Lopes Mendes, Palmas, Abraão e Estrelas, tendo nesta última, a Marinha mantido um posto avançado. Tal medida não diminuía os contrabandos na localidade, apenas servia como paliativo contra as ações ilegais e uma resposta aos críticos do governo sobre a questão17.
 Uma vez que os senhores de escravos eram obrigados a lidar com a escassez de sua mão-de-obra, não poderiam desperdiçá-la em castigos mais violentos, que obliterassem a sua atividade econômica. Quem iria substituir um escravo incapacitado fisicamente pelos castigos de um feitor? Uma vez acontecido um crime, quem iria substituir o escravo que fosse condenado? Complicava-se mais ainda se houvesse mais de um escravo envolvido. Por outro lado, os escravos em alguma medida reconheciam as mudanças no contexto social mais amplo, sabendo da impossibilidade de traficar escravos da África para o Brasil, e como este fator modificava o seu valor econômico. Avançando, teriam chances de negociar com feitores, administradores e senhores as regras do trabalho, exigindo até certas “regalias”, como os dias de descanso, as horas de
trabalho, o livre trânsito para outras regiões, assim como praticar pequeno comércio, se compararmos com os tempos anteriores a 1850.17
 O historiador Manolo Florentino ,utiliza-se do termo “espaço de negociação” para falar sobre as estratégias de alargamento das regras de trabalho, como um mecanismo para os escravos conquistarem seus objetivos diversos. Em vez de optarem pelas revoltas envolvendo assassinatos de brancos da região, partiriam para as mais variadas construções de alianças sociais. Isto seria o alargamento dos limites da escravidão contidos nas mais diversas formas de experiência social.
 Desta feita, identificamos o problema senhorial de continuar operando com os mesmos mecanismos de controle do trabalhador escravo, e deste por achar “brechas” nesta nova conjuntura, lutando por acordos nas regras trabalho.
 Parte dos argumentos citados acima, parte da primícia de que nem sempre o aumento da produção estava associado ao barateamento de mão-de-obra. Mesmo por que segundo estimativas a vida útil de um escravo era de aproximadamente 15 anos de produção, em um sistema penoso e extremamente nocivo a saúde física dos escravos. Por tal motivo eram que os traficantes e mercadores traziam cada vez mais jovens para o trabalho.
 Sabendo desta triste matemática produtiva e do futuro caminho imposto contra a escravidão. Os senhores começaram a traficar dentro do território brasileiro comprado escravos de regiões onde as produções não eram mais lucrativas como no Nordeste, por exemplo. 
 Outro contraponto para os senhores equacionarem era a diferença entre mulheres e homens neste mercado. O número de homens sempre fora superior ao de mulheres traficadas. Esta balança desfavorável era compreendida, no contexto produtivo do café, pois o trabalho masculino era em termos horários mais produtivos, levando-se em conta que as proporções corporais e de robustez para o serviço. Apesar desta diferenciação os senhores durante o século XIX devido às dificuldades de aquisição de peças traficadas, permitiram de maneira controlada, a formação de famílias de escravos através de casamentos consentidos pelos senhores.
 Na Corte havia toda uma preocupação quanto aos constantes desembarques clandestinos de africanos, principalmente a mestiçagens entre europeus e negros. Que para alguns cientistas da época o Brasil era umgrande laboratório racial: era essa a imagem do Brasil no final do século XIX. Constituída pelos inúmeros viajantes que aqui aportavam a ilusão a um país de raças híbridas encontrava boa acolhida entre nossos intelectuais, juristas, médicos, literatos, naturalistas.
 Como entender que estes mesmo pensadores tenham feito das teorias raciais deterministas e evolutivas os seus baluartes intelectuais, espalhados pela sociedade brasileira noções de superioridade racial e o estigma do pensamento pessimista quanto ao futuro de uma noção mestiça?
 O país era descrito como uma nação composta por raças miscigenadas, porém em transição. Essas, passando por um recesso acelerado de cruzamento e depuradas formas de seleção natural que tinham bases metodológicas nos estudos de naturalistas como Charles Dawim 19que apresentou um trabalho inédito para época onde colocava que o mundo estava sob uma constante evolução, caindo por terra às teorias criacionista formulada pela igreja de onde o surgimento dos seres e do universo são atribuídas às criações divinas.
 A mesma linha defendida na Europa chegava com toda força ao Brasil que era um verdadeiro laboratório para se entender como as raças compostas eram formas de como se podia em linhas gerais se definir o papel do elemento branco predestinado a salvar as outras raças de uma estagnação genética.
 Para o Brasil os cientistas tinham formulações de como o mundo poderia ser disposto.Já em relação aos racistas que eram partidários de políticas de desvalorização racial principalmente as diversas etnias de origem africana e possivelmente a instituições buscavam tais teorias para vislumbrar no Brasil a noção de um país com visão para um futuro e uma ligação constante com elementos tipicamente europeu em uma sociedade tipicamente tropical elementos da cultura do velho mundo, trouxe a disposição de que o Brasil tem uma disposição genética muito, marcada pelas diferenças e o imperador D. Pedro II, era partidário de mudanças na condução da disposição genética, autoriza a vinda de imigrantes europeus para o Brasil, não com intuito de desenvolver certas habilidades de comércio e gerações de renda, mas o de concertar a formação genética de forma a impor o branqueamento na sociedade brasileira. 
 Ao enfrentarem tais disposições de melhoramento genético os diversos grupos abolicionistas nos inúmeros veículos de imprensa do período levam a tona à ligação dos políticos e autoridades em defenderem valores europeus, e principalmente a culpa joga aos negros por todas as mazelas de doenças e epidemias, onde o elemento negro era visto como o vilão de uma história ritmada pelos conflitos genéticos onde estes, indivíduos, explorados pela máquina expansionista européia em franca expansão tropical de cenários para expor ao mundo que o branco era puro e capaz de transmitir as demais raças valores não só morais e sim, expor que eram a mais capacitada a levar o mundo a noção de modernidade e progresso.
 Uma estratégia racista a ênfase dada pelos governos imperial e o posterior republicano ao combate de certas doenças que acometiam mais as populações européias, em detrimentos as outras o ideólogo é obvio que o caminho estava aberto para a construção de linhas sistemáticas de que os negros eram geneticamente menos preparados por uma linha de raciocínio de que o trópico ou continente negro era naturalmente demográfico a incidência de doenças e de homens fracos, devido à aridez do terreno e do ares africanos. 
 No ano de 1865 o viajante naturalista americano Louis Agassiz 20em visita ao país, principalmente às lavouras de café do Vale do Paraíba, elabora um denso estudo sobre a mestiçagem na região e Corte. Sua visão sobre tal fenômeno levou a seguinte descrição:
 “Que qualquer um que duvide dos males da mistura de raças, e inclua por mal-entendida filantropia, a botar abaixo todas as barreiras que separam, venham ao Brasil. Não poderá negar a deterioração decorrente da amálgama das raças mais geral aqui do que em qualquer outro país do mundo, e que vai apagando rapidamente as melhores qualidades do branco, do negro e do índio deixando um tipo indefinido, híbrido, deficiente em energia física e mental, ou seja, seres disformes e feios, comprometendo a moral da sociedade brasileira”. 
 Era essa a maneira pelo qual o naturalista via o povo brasileiro, tratava-se de uma população totalmente mulata, viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia. Agassiz ao analisar tal fenômeno define que a mistura de raças prejudicou e muito a formação de uma sociedade progressista no Brasil, sendo relegado que o cruzamento genético não apurando levou a formação de sub-raças fracas no tocante a produções e desenvolvimento tecnológico da sociedade brasileira. 
 Neste com em outros casos, a mestiçagem existente no Brasil não só era descrita como adjetivada, constituindo uma pista para explicar o atraso ou uma possível inabilidade da nação. Não se trata apenas de citações ou estudos cientifico e sim de um plano em escala global de por fim não só ao trabalho escravo no Brasil mais de definir a África como uma a região a ser explorada pelo elemento branco capaz de levar o desenvolvimento a um continente marcado pela depuração genética e atrasos deformação humana e tecnológica.
 Observado com cuidado pelos viajantes, e com certo ceticismo os curandeiros e suas ervas, bem como beberagens eram motivos de descrições vexatórias dos cientistas, pois a medicina alternativa dos negros era usada com freqüência pelos senhores e população branca em geral, como foram de se livrar das mazelas de doenças do corpo e da alma. Estas doenças da alma eram vista como chacota pelos e motivo de escárnio por parte de viajantes e cientistas, pois acreditar que tais porções e rezas poderiam livrar de “doenças caídas” apelidadas de mal olhados e outras que segundo os negros curandeiros eram doenças de cunho espirituais e deveriam ser curadas com remédios e rezas próprias.
 O que impressionavam os tais estudiosos era a utilização de remédios poucos convencionais para o tratamento de malaria, febre amarela, bicheira, entre outras doenças, mostrando que ate mesmo os brancos confiavam na medicina e curandeirismo dos negros. O próprio Agassiz ficou impressionado como os senhores de uma fazenda nos arredores de Vassouras no Vale do Paraíba região Sul Fluminense recorria ao curandeirismo dos negros para curarem doenças das crianças como forma de males que segundo os “fulas e mandingueiros”, negros responsáveis por rezas e curandeirismos eram consultados pelos senhores locais. Segundo o naturalista isto era prova de que o Brasil não estava geneticamente apurado, pois absorvia os valores do atraso de raças depuradas. 
 À medida que os elementos de uma apuração genética eram reivindicados por intelectuais partidários de uma linha racista de ciência, onde o mais otimistas desses homens da ciência apontavam para uma predestinação do Brasil para liderar a América latina, mas contudo deveriam eliminar todos os valores africanos e indígenas de sua sociedade.
 Como um grande laboratório racial: era essa a imagem do Brasil no final do século XIX. Construída tais pensadores tenha feito das teorias raciais deterministas e evolutivas o seu baluarte intelectual, espelhando pela sociedade brasileira noções de superioridade racial e o estigma do pessimismo quanto ao futuro de uma nação mestiça por natureza?
 As acomodações das raças e o número de negros nas diversas regiões do Brasil, segundo esses cientistas eram argumentos mais que poderosos para a que a todo o momento se redobrassem as tensões quanto articulações das diversas sociedades negras e controle social das doenças que no afã dos mais exaltados racistas eram marcas de uma cultura pronto africana no Brasil.
 Sem duvida tais processos de controle social e das matrizes africanas foram primordiais para a abolição da escravidão no Brasil o último paísenvolvido com a escravidão e o infame comércio do tráfico. 
� MARX, Carl Hendrix. O Capital. Ed. Ediouro. 
2 ver. KARASCH, Mary C. “A vida dos escravos no Rio de Janeiro” 1808-1850. Cia das Letras.
� Ver. FLORENTINO, Manolo.”Em Costas Negras”: Uma História do Tráfico Atlântico de Escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos: XVIII e XIX).1993 Arquivo Nacional. 
� A floresta da Tijuca é a maior floresta urbana do mundo. No século XIX ,era uma das principais fontes de abastecimento de água da cidade, sendo enviado através da elevatória de Santa Tereza sob o aqueduto da Lapa. 
 Os escravos costumavam reunir-se em torno das bicas em volta da Lapa, para abastecer as casas de seus senhores e também venderem água. 
12 FLORENTINO, Manolo Garcia. “Em costas negras: Uma história do tráfico Atlântico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (Séculos XVIII e XIX)”. Ed. Arquivo 
13 RODRIGUES, Jaime. “O infame comércio”. Propostas e Experiências no Final do Tráfico de Africanos Para o Brasil (1800-1850). Ed. UNICAMP
14 FLORENTINO, Manolo Garcia. “Em costas negras: Uma história do tráfico Atlântico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (Séculos XVIII e XIX)”. Ed. Arquivo 
15 MATTOS, Hebe de Castro. “Resgate: Uma Janela Aberta para o Oitocentos”. Topbooks, Rio de Janeiro, 1995.
 RODRIGUES, Jaime. “O infame comércio”. Propostas e Experiências no Final do Tráfico de Africanos Para o Brasil (1800-1850). Ed. UNICAMP
16 FLORENTINO, Manolo Garcia. “Em costas negras: Uma história do tráfico Atlântico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (Séculos XVIII e XIX)”. Ed. Arquivo 
17 A Ilha Grande é formada por um conjunto de ilhas, que eram utilizadas devido a distância dos aparatos policiais da Corte uma zona estratégica para desembarques ilegais de africanos. 
17 1850 foi o ano onde passou a vigorar a ratificação no Brasil da Lei contra o Tráfico internacional de escravos, sob pressão da Inglaterra.
19 DARWIN, Charles. A origem das espécies. Ed. D.E.L. Intrnational Publishers Ltda. 
 
20 CHALHOUB, S. “Visões da Liberdade”. Uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Cia. Das Letras, 1990.

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