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ESTACAS As estacas usuais podem ser classificadas em duas categorias: - Estacas de deslocamento - Estacas escavadas Estacas de deslocamento são aquelas introduzidas no terreno através de algum processo que não promova a retirada de solo. No Brasil, o exemplo mais característico desse tipo de estaca é o das pré-moldadas de concreto armado. Também se enquadram nessa categoria as estacas metálicas, as estacas de madeira, as estacas apiloadas de concreto e também as estacas de concreto fundido no terreno dentro de um tubo de revestimento de aço cravado com ponta fechada, sendo o exemplo mais característico dessas últimas as estacas tipo Franki. Na Bélgica foi desenvolvido recentemente um tipo de estaca de deslocamento moldada "in loco" com elevada capacidade de carga, a estaca Ômega. Estacas escavadas são aquelas executadas "in situ" através da perfuração do terreno por um processo qualquer, com remoção de material, com ou sem revestimento, com ou sem a utilização de fluido estabilizante. Nessa categoria enquadram-se as estacas tipo broca, executadas manual ou mecanicamente, as do tipo "Strauss", as barretes, os estacões, as hélices contínuas, as estacas injetadas, etc. CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS ISOLADAS CONCEITUAÇÃO BÁSICA Uma estaca submetida a um carregamento vertical irá resistir a essa solicitação parcialmente pela resistência ao cisalhamento gerada ao longo de seu fuste e parcialmente pelas tensões normais geradas ao nível de sua ponta. A capacidade de carga Qu é definida como a soma das cargas máximas que podem ser suportadas pelo atrito lateral Qs e pela ponta Qp. Qu = Qs + Qp Designando-se por qs e qp as tensões limites de cisalhamento ao longo do fuste e normal ao nível da base e As e Ap respectivamente a área lateral da estaca e da seção transversal de sua ponta, tem-se: Qu = Qs + Qp = qs As + qp Ap A capacidade de carga pode ser avaliada através de processos diretos e indiretos. Nos processos ditos diretos, os valores de qs e qp são determinados através de correlações empíricas e/ou semi-empíricas com algum tipo de ensaio "in situ”. Nos processos ditos indiretos, as principais características de resistência ao cisalhamento e de rigidez dos solos são avaliadas através de ensaios "in situ" e/ou de laboratório e a capacidade de carga é determinada através da utilização de formulação teórica ou experimental. ASPECTOS TEÓRICOS, FILOSÓFICOS E EXPERIMENTAIS ESTACA DE REFERÊNCIA Tendo em vista a existência de um número muito grande de fatores que influenciam a capacidade de carga de estacas, optou-se por concentrar-se a análise em um tipo admitido como referência e posteriormente analisar-se as diferenças provocadas pelas características peculiares dos diversos tipos de estaca. A estaca de referência aqui considerada é uma estaca de deslocamento, de concreto armado e de seção circular. FORMULAÇÃO TEÓRICA DA CAPACIDADE DE CARGA São inúmeras as teorias existentes para a determinação da capacidade de carga de fundações. A maioria delas se constitui de extensões dos trabalhos clássicos de Prandtl (1921) e Reissner (1924), sendo que as primeiras aplicações práticas, relacionadas a solos foram feitas por Caquot (1934), Buisman (1935), Terzaghi (1943) e Meyerhof (1951). Entre as mais recentes e promissoras destaca-se a do engenheiro brasileiro Ricardo Salgado (1993). Segundo Terzaghi (1943), a capacidade de carga de uma sapata contínua de largura b cuja base se situa a uma profundidade D abaixo da superfície do terreno é dada por : Q = B (cNc + ɤD Nq + ½ ɤ B Nɤ) Onde: c é a coesão do solo Nc, Nq e Nɤ são coeficientes adimensionais de capacidade de carga, função apenas do ângulo de atrito ɸ do solo. No caso de estacas, não interessa a análise bidimensional visto que estacas são peças tridimensionais, em sua maioria de seção circular ou quadrada. Designando por Sc, Sq e Sɤ os fatores de correção para fundações circulares ou quadradas tem se: qp = (Sc cNc + Sq ɤD Nq + ½ Sɤ Bɤ Nɤ) Na figura a seguir, extraída de Vesic (1963), os três tipos de ruptura de fundações em areia, possíveis de ocorrer, são apresentados. Figura - Tipos de ruptura de fundações em areia em função do embutimento relativo D/B e do índice de densidade ID (compacidade relativa). Apud Vesic (1963). Na figura a seguir, também reproduzida de Vesic (1975b), estão indicadas as proposituras de diversos autores para Nq, que é o mais importante coeficiente de capacidade de carga, para o caso de fundações profundas em areia. A tensão de ruptura do solo junto à ponta da estaca é, nesse caso, dada por: q = cNc + σvo Nq Esses valores de Nc e Nq já incorporam os coeficientes de correção para seção circular. Figura - Valores de Nq para fundações profundas de seção circular ou quadrada segundo diversos autores. Apud Vesic (1975 b) Pode-se observar que essas diversas teorias conduzem a resultados tremendamente díspares. De fato, o fator Nq varia cerca de cinco vezes entre os valores máximo e mínimo para ɸ = 30° e cerca de dez vezes para ɸ = 40º. Além do mais, uma variação de apenas 5º no ângulo de atrito, de 30° para 35º, pode significar um aumento de aproximadamente 100% na capacidade de carga, segundo Vesic (1963) e Berezantsev et al (1961), ou de cerca de 150%, segundo Meyerhof (1951). O CONCEITO DE RUPTURA As teorias de capacidade de carga falam de ruptura mas não discutem as deformações necessárias para atingi-la. As verificações experimentais de capacidade de carga apresentam resultados em termos de gráficos carga-recalque, onde a inexistência de condições claras de ruptura se constituem na regra geral. Como então definir ruptura? De Beer (1988) apresenta os conceitos de ruptura física e de ruptura convencional. A ruptura física Quu é definida como o limite da relação do acréscimo do recalque da ponta da estaca (∆SB) pelo acréscimo de carga (∆Q), tendendo ao infinito. Quu = Q para ∆SB / ∆Q = ∞ Décourt (1996a) propôs definir a ruptura física de fundações em geral com base no conceito de rigidez. Define-se rigidez de uma fundação (R) a relação entre a carga a ela aplicada e o recalque produzido pela aplicação dessa carga. Define-se a ruptura física (Quu) como sendo a carga correspondente a um valor de rigidez nulo. Quu = limite de Q quando s → ∞ e portanto R = Q/s → zero A ruptura convencional Quu é definida como sendo a carga correspondente a uma deformação da ponta (ou do topo) da estaca de 10% de seu diâmetro no caso de estacas de deslocamento e de estacas escavadas em argila e de 30% de seu diâmetro no caso de estacas escavadas em solos granulares. CAPACIDADE DE CARGA DA ESTACA DE REFERÊNCIA EM AREIA. CONCEITUAÇÃO CLÁSSICA CAPACIDADE DE PONTA Considerando-se a importância reduzida da dimensão característica da fundação, sua largura B ou seu diâmetro d, a tensão de ruptura de ponta é dada por: Qp ≈ Nq X σ’vo onde σ’vo é a tensão efetiva atuante ao nível da ponta da estaca. O MÉTODO DE BEREZANTSEV ET AL (1961) Berezantsev et al (1961) apresentaram um método para o cálculo da capacidade de carga de ponta em areia. De acordo com a formulação original desses autores, a parcela correspondente à dimensão da estaca (B) não é entretanto desprezada, obtendo-se a tensão de ruptura de ponta em solos granulares a partir da seguinte expressão: qp = α ɤs D Nq + ɤp B NɤOnde: α é um fator redutor da tensão vertical devido ao peso de terra (ɤs D) função do embutimento relativo da fundação D/B e do ângulo de atrito do solo ao longo do fuste da estaca, ɸs, que é apresentado na tabela a seguir. . Tabela - Coeficiente em função de D/B e de ɸs, [Berezantsev et al 1961) Os valores de Nq são apresentados na figura abaixo: Figura - Valores de Nq e Nɤ para estacas com ponta em areia. Apud Berezantsev et al (1961) Observe-se que todo o raciocínio até aqui apresentado é válido para areias de sílica. No caso de areias calcárias, diante de natureza muito mais compressível desses solos, as cargas limites de ponta são menores. Houlsby et al (1988) sugerem para areias calcárias não cimentadas. onde σa é a pressão atmosférica (100 kN/m²) e σ’otc tensão efetiva octaédrica ao nível da ponta da estaca. CAPACIDADE POR ATRITO LATERAL A expressão básica para a estimativa do atrito lateral unitário de estacas em areia é: ângulo de atrito entre a estaca e o solo σ’n é a tensão normal efetiva atuando ao redor do fuste da estaca K é a relação entre a tensão normal σ’n e a tensão vertical efetiva σ’vo O valor de K depende do coeficiente de empuxo em repouso K’, do processo de execução da estaca e do índice de densidade inicial da areia. Segundo Fleming et al (1992), K pode ser estimado por: K ≈ Nq / 50 Para a estaca de referência K, varia entre aproximadamente 1,0 e 1.50, com valor médio em torno de 1,2. O ângulo de atrito pode ser admitido como sendo, em primeira aproximação, igual a ɸ. CAPACIDADE DE CARGA DA ESTACA DE REFERÊNCIA EM ARGILA. CONCEITUAÇÃO CLÁSSICA CAPACIDADE DE PONTA Para a determinação da capacidade de carga de ponta em argilas saturadas, há um certo consenso entre os especialistas de que as fórmulas de Meyerhof (1951) e Skempton (1951) são as mais adequadas: qu = c Nc + ɤD Na figura é apresentada a proposta Skempton (1951) para a variação de Nc com o embutimento relativo D/B da estaca no solo. Figura - Coeficiente Nc em função do embutimento relativo D/B. Apud Skempton (1951). Observa-se, pois que para valores de D/B iguais ou superiores a 3 tem-se: qu ≈ 9 cu + ɤD CAPACIDADE POR ATRITO LATERAL O atrito lateral entre estaca e solo depende não somente da resistência ao cisalhamento do solo. Depende também do histórico de tensões ao qual o solo esteve submetido e em particular da relação de sobreadensamento. O atrito lateral unitário é normalmente obtido através da aplicação de um fator empírico à resistência ao cisalhamento não drenada do solo cu. Qc = α cu α varia de 1 a pouco mais que 1 para argilas normalmente adensadas moles até cerca de 0,33 para argilas rijas a duras fortemente pré-adensadas. Segundo Randolph e Wroth (1982) é fundamental também o conceito de relação de resistência dado por cu /σ’vo. Ambos os parâmetros α = qc / cu e β = qc / σ‘vo devem apresentar variação consistente com a relação de resistência. Se admitir-se que para argilas normalmente adensadas α = 1,0, o que é bastante razoável, para argilas pré-adensadas ter-se-ia: Cu / σ’vo ≤ 1,0 ... α = (cu / σ’vo)nc 0,5 (cu / σ’vo) -0,5 e Cu / σ’vo > 1,0 ... α = (cu / σ’vo)nc 0,5 (cu / σ’vo) -0,25 Em consequência o atrito lateral unitário seria dado por: Cu / σ’vo ≤ 1,0 ... qs = (cu / σ’vo)nc 0,5 (cu / σ’vo) 0,5 e para Cu / σ’vo > 1,0 ... qs = (cu / σ’vo)nc 0,5 cu 0,75 σ’vo 0,25 Deve-se ressaltar que o índice nc se refere aos valores de cu / σ’vo para a condição normalmente adensada. CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS LEVANDO EM CONTA A COMPRESSIBILIDADE DO SOLO As teorias '"clássicas" utilizadas para a determinação da capacidade de carga de estacas com base na teoria da plasticidade são inadequadas. Considera-se hoje mais apropriada a utilização de teorias elastoplásticas, entre as quais se destaca a de Vesic (1972). As modificações básicas introduzidas por Vesic se baseiam na teoria da expansão de uma cavidade em uma massa de solo semiinfinita e são as seguintes: 1º) Nq não é função apenas do ângulo de atrito interno de solo, mas também de sua compressibilidade refletida pelo índice de rigidez Ir. 2º) A tensão multiplicadora do coeficiente Nq não é a tensão vertical efetiva como considerado nas teorias clássicas, mas sim a tensão octaédrica (média) definida como: onde K (é o coeficiente de empuxo em repouso do solo. Nq é dado pela expressão: Sendo O, E e respectivamente os módulos de cisalhamento, de elasticidade e o coeficiente de Poisson, o índice de rigidez é dado por: Na figura e na tabela seguinte o coeficiente de capacidade de carga Nq, segundo Vesic (1975a), é apresentado em função de ɸ e IR. Figura - Coeficiente Nq em função de ɸ e IR. Apud Vesic (1975a) O índice de rigidez é definido pela relação entre a rigidez do solo, expressa por seu módulo de cisalhamento, e a resistência ao cisalhamento ao nível da ponta da estaca Utilizando-se as relações da teoria da elasticidade pode-se definir lK em função do módulo de elasticidade do solo como E = 2 G (1+μ): A utilização do índice de rigidez deve ser feita apenas nos casos onde prevaleçam condições não drenadas ou quando a variação volumétrica for pequena, caso, por exemplo, de areias densas. Quando a condição for de drenagem, para se levar em conta a deformação volumétrica média na cunha ativa de Rankine (∆), Vesic (1975b) introduziu o conceito de índice de rigidez reduzido. Os valores de Nc, segundo Vesic válidos para estacas de seção circular ou quadrada, podem ser obtidos pela expressão: A relação entre N e Nq prevista nas teorias clássicas continua válida É interessante observar-se que os valores de Nq, para depósitos homogêneos de areias densas, decrescem substancialmente com o aumento da tensão octaédrica. Por exemplo, para a areia de Chattahoochee, estudada por Vesic (1975a), para o σ igual a 70kPa, o ângulo de atrito é de 45º e o índice de rigidez reduzido é de 122. Essa mesma areia, submetida a uma pressão confinante média de 10,5 MPa, tem seu ângulo de atrito diminuído para 32,5° e seu índice de rigidez reduzido, diminuído para 10. Os valores correspondentes de Nq são respectivamente 237 e 22, ou seja, uma redução de quase onze vezes. Na Tabela abaixo transcrita de Vesic (1975a) são apresentados alguns exemplos de valores de I. Tabela - Valores dos coeficientes Nc e Nɤ em função de ɸ e de lu Nc .... valores superiores e Nq....... valores inferiores. Tabela - Valores típicos do índice de rigidez lR Apud Vesic (1975a) CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS EM ROCHA CAPACIDADE DE PONTA Análises teóricas e experimentais sugerem que a capacidade de carga de ponta de estacas em rocha seja dada por qp = 10 qu, onde qu é a resistência à compressão simples da rocha. Na prática, porém, considera-se que qp ≈ 3 qu. Admitindo-se um coeficiente de segurança de 3, tem-se uma tensão admissível, qad aproximadamente igual a correspondente a resistência à compressão simples da rocha. Admite-se que essas resistências sejam utilizadas quando a estaca penetra pelo menos um diâmetro na rocha. Poulos e Davis (1980) propõem adotar um valor de qp correspondente a0,3 qs, porém esse valor é muito conservador, devendo ser considerado como um limite interior. CAPACIDADE POR ATRITO LATERAL Segundo Fleming et al (1992), o atrito lateral é proporcional à raiz quadrada da resistência â compressão simples da rocha. A expressão indicada abaixo fornece estimativas em geral conservadoras do atrito lateral unitário qu. Essa expressão deve, entretanto limitar-se aos casos onde a resistência à compressão simples da rocha seja não inferior a 500 kN/m². Em qualquer caso, qs não deve ser superior a 5% da resistência característica do concreto. DETERMINAÇÕES DAS PROPRIEDADES DOS SOLOS NECESSÁRIAS À AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACA SOLO GRANULAR ÂNGULO DE ATRITO INTERNO ɸ A obtenção de um valor correto de ɸ em areias é quase impossível. De fato, a obtenção de amostras indeformadas de areias puras acima do lençol freático é muito difícil, e abaixo dele, praticamente impossível. No Japão tem-se conseguido obter blocos indeformados de areias saturadas abaixo do nível do lençol freático através da técnica de congelamento. Trata- se, porém de procedimento de custo muitíssimo elevado e ainda não disponível no Brasil. Além do mais, o ângulo de atrito interno não é uma característica única de uma dada areia, pois depende fundamentalmente não apenas do tipo de ensaio utilizado para sua determinação, mas também do nível de tensão considerado. Qual seria então o valor de ɸ' a ser considerado em um determinado problema prático? O ɸ' obtido em um ensaio triaxial convencional (CT)? O ɸ' obtido em um ensaio de cisalhamento direto (DS)? O ɸ' obtido em um ensaio tipo deformação plana (PS)? O ɸ' obtido em um ensaio de cisalhamento simples (SS)? Como avaliar corretamente a tensão octaédrica característica "in situ", σ’oct a ser reproduzida em laboratório? Todas essas são questões relevantes para as quais ainda não se conseguiu obter respostas satisfatórias. Por outro lado, supersimplificando o problema, pode-se ignorar tudo isso e procurar obter-se ɸ' através de correlações com o CPT e/ou com o SPT/SPT-T. Meyerhof (1976) propôs uma correlação entre a tensão de ponta-limite do CPT e o ângulo de atrito de areias, que é reproduzida na figura a seguir. Décourt (1989a, 1991b), reanalisou os estudos de De Mello (1967,1981) sobre os clássicos ensaios de Gibbs e Holtz (1957), e apresentou um ábaco e uma tabela que permitem avaliar ɸ' levando em conta a pressão confinante média σ’oct e a eficiência do SPT. Uma outra possibilidade seria a avaliação de ɸ' através dos conceitos de Bolton (1986), possibilidade, essa defendida por Stroud (1988) e Fleming et al. (1992). Segundo Bolton (1986), o ângulo de atrito de uma areia é dado por: ɸ’ = ɸ’cv + 3 IK (graus) Onde: ɸ’ - ângulo de atrito a volume constante IK - densidade relativa corrigida, dada por: IR = ID [ 5.4 – In ( σ’oct / σ ] - 1 Sendo IR a densidade relativa sem correção. Figura - Relação aproximada entre a tensão-limite qc do ensaio CPT e o ângulo dc atrito de areias. Apud Meyerhof (1976) Alguns valores de ɸcv são apresentados na tabela a seguir Tabela - Valores de ɸcv, segundo Bolton (1986). É importante observar que ɸcv pode ser determinado a partir de amostras deformadas. Segundo Fleming et al (1992), a presença de partículas de silte faz com que na prática muito raramente sejam encontradas areias com ɸcv superiores a 30º Deduz-se, pois que para fins práticos pode-se admitir ɸcv = 30º e obter-se ɸ’ através da avaliação do índice de densidade do solo (ID). Na figura a seguir os valores de ɸ’ e ɸcv são dados em função de índice de densidade, ID. Figura - Valores de ɸ’ e ɸcv em função do índice de densidade lD. Apud Bolton (1986) SOLOS COESIVOS SATURADOS. A COESÃO NÃO DRENADA CU Com certa frequência tem-se observado que os valores de cu são determinados através de ensaios de compressão simples executados em amostras indeformadas ou a partir de ensaios de palheta (Vane Tests). Cumpre ressaltar que, se de um lado esses ensaios podem fornecer valores aceitáveis de cu para solos pouco consistentes, o mesmo não ocorre no caso de solos fortemente pré-adensados, de consistência rija ou dura. De fato, Décourt (1991b) demonstrou que os valores de cu determinados a partir de ensaios de compressão simples podem sub avaliar cu em duas ou três vezes. Na figura abaixo é apresentado um ensaio triaxial do tipo não adensado não drenado em uma amostra saturada de argila terciária dura de São Paulo, podendo-se observar a importância da correta consideração da pressão confinante nos resultados dos ensaios. Nesse caso, o valor correto de cu é da ordem de quase três vezes o valor dado pelo ensaio de compressão simples. Figura - Ensaio triaxial não drenado em argila dura. Apud Décourt (1991b) Uma outra possibilidade seria a obtenção de cu a partir de ensaios "in situ", SPT e CPT. Apesar de essas correlações normalmente serem vistas com muita desconfiança, deve-se ressaltar que pelo menos elas não sofrem do grave problema de ter de se avaliar o estado de tensões "in situ" para a execução de ensaios de laboratório, que é a principal fonte de erros na avaliação de cu. É bem possível que os erros decorrentes dessas avaliações de tensões superem os erros intrínsecos das correlações de cu com N-SPT e/ou qc - CPT, pois para os ensaios "in situ" considerações sobre os estados de tensão são, obviamente, desnecessárias. Segundo Décourt (1989c e 1991b). Cu = qc / 15 - 25 e Cu ≡ 12,5 N72 (MN/m²) Para essas correlações cu foi obtido através de ensaio de compressão triaxial convencional não adensado, não drenado, com devida consideração sendo dada à tensão octaédrica "in situ". O SPT era o brasileiro, com eficiência típica de 72% e o cone considerado o mecânico com ponteira de Begemann. Cuidados devem ser tomados ao analisar-se as diversas correlações propostas na literatura, devendo as seguintes questões ser investigadas. - Qual a eficiência do SPT considerado? - Era o cone do tipo mecânico ou elétrico? - Como foi definida a resistência Cu? SOLOS INTERMEDIÁRIOS São aqui chamados de solos intermediários todos aqueles situados entre os limites extremos de areias e argilas saturadas. Para esses solos, a resistência ao cisalhamento é composta de duas partes, c e ɸ. Não há maneira prática de se avaliar esses parâmetros através de ensaios "in situ", exceção talvez dos ensaios "Bore Hole Shear Test" que, entretanto, não tem nenhuma tradição de utilização no Brasil, e pouquíssima em todo o mundo. Além do mais, as comprovações experimentais de capacidade de carga existentes na literatura internacional de uma maneira geral não contemplam esse tipo de ensaio. MÓDULOS DE CISALHAMENTO E DE ELASTICIDADE O módulo de cisalhamento máximo (G), que corresponde a deformações cisalhantes muitíssimo pequenas, λ ≤ 10-5% pode ser obtido "in situ" através de ensaios Cross-Hole e em laboratório através de ensaios de Coluna Ressonante. Em outros países existe a possibilidade de também se obter esse parâmetro através de outros ensaios não disponíveis atualmente no Brasil, e que por isso não serão aqui abordados. Na prática da engenharia de fundações, o que interessa são módulos correspondentes a deformações λ entre 104 % e 5 x 104%. Décourt (1991b) sugere processo simplificado para se obter G0, 1% a partir de GO. Onde Ip é o índicede plasticidade do solo. Go pode também ser obtido através de correlações com os valores de N-SPT Go ≈ 7N MN/m², Stroud (1988) Essa correlação foi obtida tom o SPT japonês, cuja eficiência varia entre aproximadamente 68% e 85%. Como a eficiência típica do SPT brasileiro é de 72%, sugere-se que essa correlação possa ser considerada como aproximadamente aplicável ao SPT brasileiro. No caso do módulo de elasticidade, uma vez conhecido G. o mesmo pode ser obtido através tia teoria da elasticidade. E = 2 G (l + μ) CAPACIDADE DE CARGA DA ESTACA DE REFERÊNCIA ATRAVÉS DE PROCESSOS EXPEDITOS GENERALIDADES Os métodos teóricos e experimentais e os ensaios laboratoriais são fundamentais para estabelecer a influência relativa de todos os parâmetros envolvidos nos cálculos de capacidade de carga. Sua utilização na prática da engenharia de fundações é, todavia, muitíssimo restrita visto que a maioria dos parâmetros do solo necessários a essas análises é de difícil ou mesmo de quase impossível obtenção. Por outro lado, correlações entre as tensões correspondentes a estados-limites de ruptura e dados de resistências à penetração de ensaios "in situ" são simples de ser estabelecidas. Correlações com boas probabilidades de acerto são aquelas obtidas de forma semi-empírica. A filosofia contida nas mesmas é estabelecer-se através de ajustes estatísticos equações de correlação que tenham embutida em sua essência os princípios definidos nos métodos teóricos e/ou experimentais. Além do mais, conforme enfatiza Wroth (1988), correlações primárias, são preferíveis á correlações secundárias. No Brasil, os dois métodos mais utilizados para o dimensionamento de fundações em estacas são os conhecidos como Aoki e Velloso (1975), e Décourt e Quaresma, (1978). Para tipos específicos de estacas há também métodos específicos, tais como o de Cabral (1986) e o da Brasfond ambos para estacas-raiz. ATRITO LATERAL DEFORMAÇÃO NECESSÁRIA À MOBILIZAÇÃO DO ATRITO LATERAL Em resumo, pode-se dizer que há uma corrente de pensamento que procura associar a deformação necessária ao pleno desenvolvimento de qs ao diâmetro da estaca. Essa deformação seria da ordem de 0,5% a 2% do diâmetro da estaca em argilas e de 1% a 3% em solos granulares. Uma outra postura é admitir-se que essa mobilização seja independente do tipo de estaca, do tipo de solo e das dimensões da estaca. O valor de pico da adesão solo-estaca seria então atingido com movimento relativo de alguns poucos milímetros. Fala- se frequentemente em 10 mm, embora alguns autores procurem definir um intervalo maior de valores. Jamiolkowsky e Lancellota (1988), por exemplo, falam em 5 a 25 mm para o caso de estacas em areia. Quanto mais rígida a estaca e quanto maior a rigidez do solo sob sua ponta, maior será a deformação necessária à plena mobilização do atrito lateral. Isso implica que as dimensões da estaca efetivamente influenciam essa mobilização, assim como as características do solo sob a ponta da mesma, esse último fator normalmente não considerado. A situação de atrito puro é praticamente impossível de ocorrer na realidade das obras, porém ocorre sistematicamente quando uma segunda prova de carga é executada sobre uma estaca já previamente carregada. Imaginando-se uma estaca onde na primeira prova de carga foram atingidos carregamentos bem superiores aos correspondentes do atrito lateral, (idealmente pouco mais do dobro do atrito lateral) no segundo carregamento, até níveis de carga não superiores a cerca de 80% (oitenta por cento) da carga máxima anteriormente aplicada, tudo se passa como se nesse segundo carregamento a transferência de carga fosse apenas por atrito lateral. Na realidade, nessa 2ª prova de carga o atrito lateral medido é a soma do atrito lateral real e da carga de ponta residual devida ao carregamento anterior. VALORES LIMITES PARA AS TENSÕES DE PONTA C DE ATRITO LATERAL Tensões de ruptura máximas na ponta de estacas em areias foram sugeridas em função da experiência dos diversos autores. Vesic (1977) recomenda para (qp) o valor de 10,0 (MN/m²). Coyle e Castelo (1981) citam valores máximos de 15,0MN/m². Décourt (1982), em função da inexistência de dados confiáveis para valores elevados de N-SPT, recomenda como limite superior 10,0MN/m². Fica, pois evidenciado que muito cuidado deve ser tomado se for o caso de ser necessário utilizar-se tensões de ponta superiores a 10,0 ou 15,0 MN/m². Isto se deve não a restrições teóricas, mas pela ausência de adequada comprovação experimental. O mesmo ocorre para o atrito lateral unitário. Décourt (1982) recomenda limitar- se esse valorem 0,18 MN/m², o que equivale aproximadamente a N-SPT ≡ 50. Tomlinson (1975) recomenda valores máximos de 0,1 MN/m². Baguelin e Gianeselly (1981) também não recomendam valores superiores a 0,1 MN/m². Em contraposição, Gomez et al (1988) constataram valores de qs de 0,25MN/m²' para estacas cravadas em pedregulhos. RECALQUE DE ESTACAS ISOLADAS Os recalques da estaca de referência isolada sob condições de carga de trabalho, isto é, coeficiente de segurança maior ou igual a dois, são em geral desprezíveis. Entretanto, caso se julgue conveniente proceder-se a estimativas desses recalques, pode-se recorrer tanto a métodos teóricos quanto a procedimentos empíricos. MÉTODOS TEÓRICOS Os métodos teóricos fazem uso da teoria da elasticidade e sua utilização prática pode ser feita através de gráficos como os das figuras abaixo (Poulos 1989), onde K representa a relação entre os valores dos módulos de elasticidade da estaca EL e do solo, ES. K = EL / ES Segundo Poulos (1989), um valor bem típico de K é 1000. Figura - Influência dos parâmetros adimensionais D/d e K no recalque de estaca isolada de atrito em solo homogêneo. Apud Poulos (1989). Figura - Relação entre o recalque de uma estaca de ponta e o de uma estaca flutuante em solos homogêneos. Apud Poulos (1989) RECALQUE DE GRUPO DE ESTACAS Para grupos de estacas é hoje possível estabelecer-se ligações entre o recalque do grupo e o de uma estaca isolada. Define-se como relação de recalque (RS) o quociente entre o recalque do grupo de estacas pelo recalque de uma estaca isolada submetida à carga média por estaca do grupo. Um outro índice também utilizado é o fator de redução do grupo (RG), também chamado fator de eficiência. RG é definido por: RG = rigidez do grupo soma das rigidezes individuais das estacas Para um grupo de n estacas têm-se RS = n RG Fleming et al (1992) sugerem que para um grupo de n estacas tem-se: R = n w onde w varia entre 0,4 e 0,6 na maioria dos casos. O valor mais baixo, 0,4, corresponde a estacas de atrito, enquanto o mais alto, 0,6, corresponde a estacas de ponta. Conclui-se, pois que para um grupo de estacas capeadas por um bloco rígido a relação de recalque, RS, não depende da configuração das estacas, dependendo apenas do seu número. Assim, dois grupos com dezesseis estacas, porém com configurações diferentes, 4X4 e 8X2, por exemplo, terão recalques praticamente iguais. FUNDAÇÕES MISTAS INTRODUÇÃO Nos projetos convencionais de fundações profundas, como se sabe, a contribuição dos blocos na transferência das cargas ao solo tem sido totalmente desprezada. A ideia de se levar em conta a contribuição dos blocos nos projetos de fundações por estacasfoi proposta pela primeira vez, há 30 anos, por Kishida e Meyerhof (1965). As primeiras análises racionais desse tipo de fundação foram feitas por Poulos (1968). Hoje em dia, esse tipo de fundação vem tendo crescente aceitação em todo o mundo diante das suas características extremamente atraentes de segurança, economia e rapidez. Isso não significa que não haja ainda uma certa desconfiança quanto ao funcionamento desse sistema, principalmente pela pouca divulgação de seus princípios de funcionamento. Porém, "contra factus non valit argumentum", como diziam os antigos romanos, ou seja, "contra fatos não valem argumentos". O edifício mais alto da Europa, o Messe Turn, com 250,0 m de altura, cuja construção terminou em Frankfurt há cerca de cinco anos, tem suas fundações constituídas por "radiers" estaqueados, onde as cargas estruturais são distribuídas ao solo tanto pelas estacas quanto pelo "radier". Os edifícios mais altos do mundo, com 450m de altura, atualmente em fase final de construção em Kuala Lumpur, Malásia, têm também suas fundações constituídas por "radiers" estaqueados. TIPOS DE FUNDAÇÕES MISTAS Designa-se aqui por fundações mistas aquelas compostas por dois elementos, um vertical e um horizontal. A transferência das cargas estruturais ao solo se faz por três maneiras: ao longo do fuste e da ponta do elemento vertical como nas estacas convencionais e também pelo seu topo, como nas fundações rasas. Em função da proporção das cargas transferidas por cada elemento, duas situações típicas são definidas. FUNDAÇÕES BASICAMENTE PROFUNDAS Diante das características do terreno, as fundações são projetadas basicamente em estacas. Não se despreza, porém a contribuição do elemento horizontal, o que faz com que o número total de estacas possa vir a ser reduzido. Essa redução é tipicamente de 20 a 40%. A rigidez do conjunto, entretanto, pouco difere da rigidez do grupo de estacas. FUNDAÇÕES BASICAMENTE RASAS O terreno superficial é de qualidade razoavelmente boa, sendo os coeficientes de segurança de fundações rasas perante a ruptura do solo plenamente satisfatórios. Porém, ou por motivo de espaço físico para a implantação das sapatas ou por receio de que os recalques totais e/ou diferenciais possam vir a serem elevados, algumas poucas estacas são colocadas sob o "radier" ou sob as sapatas (elementos horizontais), com o objetivo único da redução dos recalques. Nesses casos, o número de estacas a ser utilizado é pequeno, tipicamente três a quatro vezes menor do que o correspondente à alternativa em fundação profunda convencional, ou seja, as reduções são da ordem de 65% a 75%. A rigidez da fundação é nesses casos substancialmente aumentada. ESTACA E SAPATA COM CONTACTO FÍSICO. FUNDAÇÕES TIPO ESTACA-T GENERALIDADES Essas fundações são formadas a partir de um elemento vertical único, em geral um fuste de estaca de concreto armado e de um elemento horizontal, designado por topo, normalmente concretado na obra. A ligação entre o elemento horizontal e o vertical é feita de modo tal que, idealmente, apenas esforços verticais de compressão sejam transferidos ao elemento vertical (estaca convencional). O elemento horizontal simplesmente se apoia sobre a cabeça do elemento vertical, sem que haja qualquer tipo de engastamento. Esforços horizontais e momentos fletores são, pois transferidos diretamente ao solo pelo topo. Na figura a seguir é apresentada de forma esquemática uma fundação tipo Estaca-T. Figura - A Estaca-T A conceituação de segurança é totalmente diversa da utilizada para estacas isoladas. Contrariamente ao caso dessas últimas, onde a ruptura frágil é a regra geral, a fundação tipo Estaca-T é praticamente, impossível de sofrer ruptura por plastificação do solo (ruptura geotécnica). Se a carga aplicada à estaca atingir valores superiores dos previstos o que irá ocorrer será apenas um recalque adicional, de proporção relativamente moderada, jamais uma ruptura plena. Um bom projeto avaliará a carga "máxima maximõrum" possível de ser transferida ao elemento vertical e o dimensionará estruturalmente para esse nível de solicitação. Os controles rotineiramente disponíveis no caso de estacas pré-moldadas cravadas, tais como medidas de repique, medidas com o PDA (Pile Driving Analyser) e as provas de carga dinâmicas, poderão ser acionados para uma verificação de campo da capacidade de carga geotécnica do elemento vertical. O requisito básico para o sucesso desse novo tipo de fundação é que o terreno sob o topo tenha características de resistência e de compressibilidade superiores a um certo mínimo. De uma maneira geral, solos com valores de Neq (N equivalente do SPT-T) iguais ou superiores a cerca de seis, permitem a utilização vantajosa desse tipo de fundação. PROCESSO SIMPLIFICADO PARA O DIMENSIONAMENTO DE FUNDAÇÃO TIPO ESTACA-T De uma forma simplificada, porém suficientemente correta para ser utilizada com sucesso na prática da engenharia, essa fundação pode ser dimensionada como segue: I - Com base no SPT-T ou em outro ensaio qualquer julgado adequado, é feita a avaliação da capacidade de carga da estaca convencional. II - Admite-se, a favor da segurança, que 70% dessa capacidade de carga seja mobilizada para recalque de seu topo de 15 a 20 mm. III - Tipicamente uma estaca (ou eventualmente mais de uma) é selecionada e seu topo é projetado como um misto de bloco de coroamento e fundação rasa. A carga líquida a ser suportada pelo topo é admitida igual a carga nominal do pilar menos a carga suportada pela(s) estaca(s), aproximadamente 70% de sua carga de ruptura. MÉTODO BASEADO NA TEORIA DA ELASTICIDADE GENERALIDADES Na aplicação da teoria da elasticidade ao problema da determinação dos deslocamentos horizontais de estacas carregadas transversalmente será utilizado o procedimento proposto por Décourt, (1991a e 1991c), que por sua vez se baseia no trabalho de Poulos e Hull (1989). A escolha desse método se deveu ao fato de ser o único que utiliza parâmetros do solo obtidos através do SPT/ SPT-T que como se sabe são os ensaios mais utilizados na prática da engenharia. Esses autores analisaram o deslocamento horizontal de estacas carregadas transversalmente, à luz da teoria da elasticidade. É claro que para aplicações práticas, através de cálculos simplificados, algumas limitações têm que ser aceitas. A primeira delas diz respeito ao tipo de solo. Dois casos são passíveis de solução simples. A de solos homogêneos e a de solos tipo Gibson. Os solos podem ser considerados homogêneos, para fins de aplicação das fórmulas a serem a seguir propostas, quando suas características elásticas pouco variarem com a profundidade. Um caso clássico é o de argilas pré-adensadas. O solo tipo Gibson apresenta módulos de cisalhamento e elástico nulos à superfície do terreno, crescendo linearmente com a profundidade. É o caso típico de areias puras, preferencialmente, abaixo do lençol freático. Na prática da engenharia, raramente alguma dessas situações ocorre, razão pela qual a criatividade e a competência do engenheiro são fundamentais para a elaboração de um perfil esquemático equivalente do solo. Um outro conceito extremamente importante é o de comprimento crítico, Lc. Define-se como sendo comprimento crítico de uma estaca carregada transversalmente aquele a partir do qual um aumento de comprimento não mais afeta o comportamento de seu topo. Com frequência, veem-se na prática da engenhariacasos de estacas longas submetidas a esforços horizontais, sem que haja consciência de que comprimentos maiores que o crítico são inúteis, em nada melhorando o desempenho das estacas carregadas transversalmente. Uma outra distinção importante deve ser feita entre estacas flexíveis e estacas rígidas. Uma estaca é considerada flexível quando seu comprimento é superior ao Lc. É considerada rígida quando seu comprimento é inferior a Lc/S. Deve-se ainda fazer uma importante distinção entre as situações de topo livre e de topo fixo. O topo fixo difere do topo livre pela impossibilidade de rotação, sendo os movimentos da estaca apenas deslocamentos horizontais. GRUPOS DE ESTACAS Tudo o que foi dito até aqui refere-se a estacas isoladas. No caso de grupos de estacas, a situação é muitíssimo mais favorável, visto que as estacas internas ficam praticamente isentas do efeito de atrito negativo. Esse assunto foi amplamente estudado por Kuwabara e Poulos (1989). A figura abaixo foi transcrita do referido trabalho. A letra K designa o fator de rigidez da estaca definido por K = Ra Ep. onde Ra = 4 Ap / πd², sendo Ap área efetiva da seção da estaca e do seu diâmetro. Figura - Atrito negativo em grupos de estacas. Apud Kuwabara e Poulos (1989). A SEGUIR SÃO TRANSCRITAS AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES A QUE CHEGARAM ESSES AUTORES: I - A força de arraste máxima nas estacas do grupo decresce significativamente à medida que o espaçamento entre estacas decresce. II - A redução na força de arraste não depende substancialmente do número de estacas, desde que o grupo tenha mais que aproximadamente nove estacas. III - As estacas internas do grupo desenvolvem força de arraste menor do que as externas; em correspondência, o comprimento onde o deslizamento pleno ocorre é geralmente significativamente menor para as estacas internas do que para as estacas externas. IV - O movimento superficial do solo necessário à mobilização do deslizamento total dentro do grupo de estacas pode ser muito maior do que o correspondente a uma estaca isolada. V - Para um grupo de estacas com bloco de coroamento rígido, é possível que forças de tração se desenvolvam na parte superior das estacas externas. Concluem ainda esses autores que: “quando aplicada a um caso de obra, essa teoria demonstrou razoável concordância com o comportamento observado". Deve-se, porém ressaltar que outras medidas de casos reais de obra, que permitiriam outras comparações semelhantes, são praticamente inexistentes. TUBULÕES E CAIXÕES INTRODUÇÃO Dentro da conceituação imposta pela pratica profissional de engenharia de fundações no Brasil, são chamados de tubulões as fundações profundas, de grande porte, com seção circular e que apresentam, em geral, a base alargada. Às vezes torna-se difícil distinguir os tubulões das estacas escavadas e, deste modo, os tubulões podem ser vistos como estacas escavadas, de grande diâmetro, com ou sem base alargada. Até há alguns anos, admitia-se que os tubulões permitiam ou previam a descida de alguém até a sua base, para a finalização dos serviços e para a inspeção antes de concretagem. Mas com a utilização de equipamentos para escavação mecânica esta prática poderá ser abandonada, mesmo nos casos de fustes de grande diâmetro. Atualmente, na literatura internacional, as fundações chamadas de tubulões no Brasil são tratadas como estacas escavadas, moldadas "in loco", com base alargada. Reserva-se a denominação de caixões para as peças de seção quadrada, ou mesmo retangular, que têm as paredes laterais pré-moldadas. A descida ou implantação destes elementos no subsolo se faz com a escavação do solo, na parte interna, até que se atinja a profundidade adequada para seu apoio. Para White (1962), caixão é uma estrutura, em forma de um paralelepípedo, que é mergulhada a partir da superfície do solo ou água, até atingir a profundidade desejada. Exposições mais detalhadas sobre caixões aparecem em White (1962) bem como em Jumikis (1971). TIPOS DE TUBULÃO Os tubulões podem ser agrupados em dois tipos básicos: os tubulões a céu aberto e os que empregam ar comprimido. TUBULÕES A CÉU ABERTO SEM CONTENÇÃO LATERAL Estes tubulões, também chamados de pocinhos, têm seu fuste aberto por escavação manual, ou mecânica, sendo que a base é, em geral, escavada manualmente. Não utilizam nenhum escoramento lateral e, portanto o fuste e, em especial, a base, somente podem ser executados em solos que apresentem um mínimo de coesão capaz de garantir a estabilidade da escavação. Nestes casos o diâmetro final resulta sempre maior do que o previsto em projeto (de 5% a 10%), e o atrito lateral ao longo do fuste é reduzido quando comparado com a resistência "in situ" no contato solo-solo. Esta redução no atrito lateral depende do alívio de tensões, ao passar de uma situação em repouso para uma condição ativa, e da umidade cedida pelo concreto ao solo circundante, o que depende do fator água/cimento do concreto empregado. COM CONTENÇÃO LATERAL PARCIAL Estas contenções parciais têm da ordem de 2m e o solo é escorado antes de prosseguir a escavação. Estes revestimentos são, em geral, recuperados, e um exemplo é o tubulão tipo Chicago, que emprega revestimento de madeira, e suas variantes. COM CONTENÇÃO LATERAL CONTINUA Um exemplo deste tipo é o Gow, que emprega revestimentos metálicos telescópicos, os quais são recuperados à medida que o concreto é lançado para o interior da escavação. Alguns tipos de equipamentos cravam uma camisa metálica, desde a superfície, ao mesmo tempo em que realizam mecanicamente a escavação, como por exemplo, o tubulão tipo Benotto. Neste tipo de solução o atrito lateral fica sensivelmente reduzido, pois o processo provoca um amolecimento do solo que, frequentemente, é irrecuperável. Normalmente estes tubulões a céu aberto são executados acima do lençol freático, pois a escavação manual da base, ou mesmo do fuste, não pode ser executada abaixo do nível da água. Nada impede, entretanto, que se estenda a escavação utilizando-se de rebaixamento do lençol. Quando se emprega um sistema de rebaixamento, dois problemas podem ocorrer: - volume de água a esgotar, que é função da permeabilidade do solo e do desnível de água; - forças de percolação prejudiciais à estabilidade das paredes laterais do tubulão e, em especial, do alargamento da base. O rebaixamento do lençol freático pode ser executado por qualquer processo, até mesmo pela instalação de bombas no interior dos próprios tubulões, ou então em poços destinados a esta operação. Cuidados especiais devem ser tomados nestes casos, pois a escavação abaixo do NA, especialmente a da base, é sempre muito perigosa. Este perigo aumenta quando a bomba está posicionada no interior de um tubulão, situação em que o fluxo de água se faz no sentido de reduzir a estabilidade da escavação. TUBULÕES PNEUMÁTICOS Para tornar possível a escavação abaixo do lençol freático emprega-se ar comprimido com pressão equivalente à pressão de água intersticial. Em solos arenosos a pressão é ligeiramente superior para compensar as perdas de carga e as perdas de ar, e também para favorecer a estabilidade (cuidados devem ser tomados para evitar o secamento da areia). Para solos argilosos a pressão aplicada pode ser pouco menor do que a pressão neutra. Os tubulões pneumáticos são atualmente muito pouco empregados no mundotodo devido aos riscos e custos envolvidos, e no Brasil observa-se atualmente uma tendência de redução de sua utilização. VANTAGENS DOS TUBULÕES Os tubulões apresentam, quando comparados a outros tipos de fundações, uma série de vantagens: - os custos de mobilização e de desmobilização são menores que os de bate- estacas e outros equipamentos, aspecto este muito importante para pequenas obras, nas quais este item representa uma parcela significativa dos custos totais; - o processo construtivo produz vibrações e ruídos de muito baixa intensidade, o que é muito importante para obras urbanas próximas a edifícios; - os engenheiros de fundações podem observar e classificar o solo retirado durante a escavação e compará-lo às condições de subsolo previstas no projeto - o diâmetro e o comprimento dos tubulões podem ser modificados durante a escavação para compensar condições de subsolo diferentes das previstas; - as escavações podem atravessar solos com pedras e matacões, especialmente para grandes diâmetros, sendo possível até penetrar em vários tipos de rocha; - regra geral é possível apoiar cada pilar em fuste único, em lugar de diversas estacas, eliminando a necessidade de bloco de coroamento. COMPORTAMENTO DOS TUBULÕES Os tubulões são empregados para transferir, ao solo, cargas verticais de compressão ou tração bem como cargas horizontais. Quando solicitado por uma carga vertical de compressão, as forças presentes são as indicadas na figura a seguir: Figura - Esquema do carregamento vertical de compressão Para a condição de equilíbrio, pode-se escrever a equação: Q + G = Qsm + Qbm com Qsm = ms Qsf Qbm = mb Qbf + σ’vb onde: Qsm é a parcela mobilizada da resistência lateral Qbm é a parcela mobilizada da resistência de base: Ms e Mb são os fatores de mobilização da carga lateral última e da carga última de base, respectivamente. Qsf e Qbf são as cargas limites últimas na ligação tubulão-solo e no apoio da base, respectivamente. σ’vb é a tensão vertical efetiva à cota de apoio do tubulão Tem sido prática usual admitir como sendo nula a tensão lateral, ao longo do fuste, e deste modo toda a carga do pilar é transferida ao subsolo pelo apoio da base. Entretanto, várias provas de carga realizadas em tubulões indicam que sob baixas deformações (admissíveis) a parcela de resistência lateral, para tubulões longos, é significativa e se desenvolve plenamente (ms = 1,0), com deformações da ordem de 5 a 10mm independentemente do diâmetro do fuste (Df). Mas a plena mobilização da resistência de base somente se efetiva para grandes deformações, da ordem de 10% a 20% do diâmetro da base (Db). Portanto, para a carga de trabalho o tubulão pode ter um comportamento muito diferente do previsto em projeto, caso a parcela de resistência lateral não seja considerada. Na tabela abaixo são apresentados os valores experimentais de deformações obtidos por Reese & O’Neill (1988) e necessários à plena mobilização das parcelas resistentes. • valores da carga de base continuam a crescer após a mobilização do que seria a resistência última. Tabela - Deformações necessárias à mobilização das parcelas resistentes (Reese & O’Neill, 1988). Bowles (1988) sugere, para solos coesivos, que a plena mobilização da resistência lateral se verifica com um recalque de 0,05 Db, após o que ms diminui até um valor limite de 0,40. Para a base, a plena mobilização se verifica com recalques de (0,10 a 0,15) Db. Para o caso de fuste reto, ou seja. sem alargamento de base, este recalque aumenta para 0,20 Db. Na literatura são encontradas recomendações de mshm de 0,45 a 0,75. Berezantzev et al. (1961) afirmam que para tubulões em areia a plena mobilização da carga última da base somente se verifica com recalques de 0,20 Db. Danziger (1983) obteve qsf variando de 50 a 70 kPa para deformações de 0.0005 Db; Monteiro (1985) obteve, para provas de carga em areia argilosa de Ilha Solteira-SP, qsf de 26 kPa para recalques de 1 a 2mm; Orlando (1990) apresenta valores de qsf variáveis de 25 a 40 kPa com deslocamentos de (0,002 a 0,004) Db. Valores medidos em provas de carga nos campos experimentais de São Carlos e de Bauru, para areia fina argilosa, forneceram qsf de cerca de 30 kPa, para pequenas deformações. A mobilização das parcelas resistentes depende dos recalques e do tipo de solo, da forma de execução, do comprimento e da relação Db/Dr. RECALQUES Geralmente os recalques de tubulões sob a carga de trabalho são baixos (inferiores a 25mm) e perfeitamente aceitáveis para a grande maioria das estruturas. Entretanto, naqueles casos em que a maior parte de capacidade de suporte se deve à base, o recalque pode ser elevado e seu valor deve ser estimado. Quando se depara com o problema de estimar o recalque de tubulões, a primeira dificuldade que surge é com relação à calibragem dos inúmeros métodos disponíveis, devido a pouca informação encontrada na literatura geotécnica sobre esse tipo de fundação. Os custos de provas de carga, devido à ordem de grandeza do carregamento necessário, são fatores preponderantes que inibem os profissionais e empresas de realizá-las. Na literatura nacional, em livros textos ou anais de congressos e outros eventos científicos, encontra-se muito pouca referência sobre o comportamento desse tipo de fundação, sejam resultados de provas de carga ou de medidas de recalque. Os fatores que interferem na magnitude dos recalques de um tubulão são as cargas aplicadas, as características do solo subjacente à cota de apoio, as características do solo ao longo do fuste e as propriedades elásticas dos materiais utilizados na execução do fuste. No Brasil há uma certa tradição de se considerar no projeto de tubulões apenas a resistência do solo subjacente à cota de apoio como responsável pelo suporte da carga aplicada no topo, admitindo-se que o atrito, ou adesão ao longo do fuste, seja apenas suficiente para suportar o peso próprio do concreto. Em determinadas situações esse critério pode ser excessivamente conservador, levando inclusive a uma interpretação errônea do comportamento real do solo subjacente à base, pois o atrito ou adesão estará atuando ao longo do fuste, e com isso reduzindo a parcela de carga na base do tubulão, quer tenha sido considerado ou não no cálculo. O recalque do topo de um tubulão é dado por duas parcelas distintas: o encurtamento elástico do concreto, funcionando como coluna, e a deformação do solo subjacente à base, devido ao acréscimo de tensões. ESFORÇOS DE TRAÇÃO Em projetos de fundações não é rara a necessidade da determinação da capacidade de carga à tração. O caso mais comum de fundações tracionadas ocorre nas torres de linhas de transmissão. O esforço de tração nas fundações desse tipo de estrutura é proveniente de várias ações, entre as quais o vento na própria torre e principalmente nos cabos, e também eventuais rupturas de cabos. Há vários métodos de cálculo para se avaliar a resistência à tração de fundações. Uma descrição completa desses métodos pode ser encontrada na monografia de Campelo (1995) ou nas dissertações de mestrado de Danziger (1983). Orlando (1985), Matos (1989) e Campelo (1994), ou na tese de doutoramento de Carvalho (1991). DIMENSIONAMENTO DO TUBULÃO Segundo Paladino (1975), "o dimensionamento do tubulão consiste em determinar os valores da profundidade, diâmetro do fuste e diâmetro da base. Essa determinação é feita por tentativas, de modoa atender as três solicitações (arrancamento, compressão e esforço horizontal) e que seja o tubulão mais econômico". "A profundidade e o diâmetro da base estão ligados ao dimensionamento do arrancamento e compressão, devendo também a profundidade ser compatível para atingir a resistência do solo considerada. Com o acréscimo da profundidade há considerável aumento na resistência à compressão. Definido o diâmetro da base e a profundidade mais conveniente, o diâmetro do fuste fica condicionado ao método executivo e ao dimensionamento ao esforço horizontal". BIBLIOGRAFIA CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações. Vol. 1, 2, 3. Editora LTC, Rio de Janeiro, 4ª/6ª ed. 2012/2013/2014. HACHICH, W; FALCONI, F F; SAES, J L. Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora PINI, São Paulo, 2012. VELLOSO, D.; LOPES, F.R. Fundações: Fundações Profundas. Volumes 2, Editora Oficina Texto/COPPE-UFRJ, Rio de Janeiro, 2004.
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