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Gênero como construção social

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FICHAMENTO
http://www.scielo.br/pdf//pc/v17n2/v17n2a04.pdf
Diante de leituras e levantamentos bibliográficos, este artigo continua considerado a argumentação em relação as transformações realizadas nas ligações de gênero sob a expectativa do feminismo, da crise da masculinidade e demais modificações econômicas, sociais e culturais em curso.
Para Scott, o termo o termo “ gênero” torna-se, antes, uma maneira de indicar “ construção culturais“ - a criação inteiramente social de idéias sobre papeis adequados aos homens e às mulheres.
Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres. “Gênero” é, segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. Com proliferação dos estudos sobre sexo e sexualidade, “gênero” tornou-se uma palavra particularmente útil, pois oferece um meio de distinguir a prática sexuais atribuídos às mulheres e aos homens ( Scott, 1995: 75). Na definição de Scott ( 1995), gênero é um elemento constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e tembém um modo primordial de dá significado às relações de poder. Para ela, essas duas proposições estão intrinsecamente relacionadas. A s mulheres na organização das relações sociais correspondem sempre a mudanças nas representações de poder, mas a direção da mudança não segue necessariamente um único sentido. Embora gênero não seja o único campo no qual o poder se articula, ele parece ter constituído um meio persistente de dar eficácia à significação do poder no ocidente, nas tradições juadaico-cristã e islâmicas.
Segundo Butler fazendo uma manobra semelhante à Joan Scott, pretende relatar o corpo e o sexo, separando a dicotomia sexo x gênero, que fornece às feministas possibilidades limitadas de problematização da ”natureza biológica” de homens e de mulheres.
Assim para Butler, o conceito de gênero cabe à legitimação dessa ordem, na medida em que seria um instrumento expresso principalmente pela cultura e pelo discurso que inscreve o sexo e as diferenças sexuais fora do campo do social, isto é o gênero aprisiona o sexo em uma natureza difícil à nossa crítica e desconstrução.
“O gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente dado”, defende Butler (2010, p 25), “[...] tem designar também o aparato mesmo de produção mediante o qual os próprios sexos são estabelecidos.”
Butler considera que as regulações de gênero não são apenas mais um exemplo das formas de regulamentação de um poder mais extenso, mas constituem uma modalidade de regulação específica que tem efeitos constitutivos sobre a subjetividade. As regras que governam a identidade inteligível são parcialmente são parcialmente estruturadas a partir de uma matriz que estabelece a um só tempo uma hierarquia entre masculino e feminino e uma heterossexualidade compulsória.
Nestes termos o gênero não é nem expressão de uma essência interna, nem mesmo um simples artefato de uma construção social. O sujeito gendrado seria, antes, o resultadode repetições constitutivas que impõe efeitos substancializantes. Com base nestas definições, a autora chega a a firmar que o gênero é ele próprio uma norma (Butler, 2006:58). 
 Sujeitado ao gênero, mas subjetivado pelo gênero, o “eu” nem precede, nem segue o processo dessa “criação de um gênero”, mas apenas emerge no âmbito e como a matriz das relações de gênero propriamente ditas (Butler, 1993:7)
 
 Um dos exemplos mais notáveis da naturalização dos processos de construção da identidade decorrentes da repetição das normas constitutivas seria a interpelação medica. Nesse caso, através do procedimento da ultra- sonografia, transforma-se o “ bebê” antes mesmo de nascer em “ele” ou “ela”, na medida em que se torna possível um enunciado performativo do tipo: “é uma menina”! A partir dessa nomeação, a menina é “feminizada” e, com isso, inserida nos domínios inteligíveis da linguagem e do parentesco através da determinação do seu sexo.
Dessa forma, a nomeação é uma ato performativo de denominação e coerção que institui uma realidade social através da construção de percepção da corporeidade bastante especifica. A partir dessa perspectiva pode-se entender que gênero é uma “identidade tenuamente construída através do tempo” por meio de uma repetição incorporada através de gestos, movimentos e estilos ( Butler, 2003:200).
Se um gênero é uma norma, não podemos deixar de lembrar o que há de frágil na sua incorporação pelas subjetividades. Há sempre uma possibilidade de deslocamento que é inerente à repetição do binarismo masculino-femenino. Não é à toa que, como afirma Butler, expressões tais como “ problemas de Gênero,” “gender blending” “transgeneros” e “cross-gender” já sugerem o ultrapassamento deste binarismo naturalizado (Butler, 2006:60)
Ainda assim, para formular uma nova concepção de subjetivação que acompanhe a diferença entre uma interpretação estruturalista da subjetividade - que pressupõe a permanência da hierarquia, do binarismo, da heterossexualidade e da diferença sexual como a condição da cultura -, e uma concepção histórica e contingente, que permita pressupor a ultrapassagem subversiva dessas fronteiras normativas. Mesmo que se queira mantê-las numa relação de tensão, é importante não perder de vista a necessidade de uma leitura critica mais apurada dos pontos de vista sobre gênero e desejo fundado numa perspectiva estrutural.
ARAN, Márcia; PEIXOTO JUNIOR, Carlos Augusto. Subversões do desejo: sobre gênero e subjetividade em Judith Butler. Cad. Pagu,  Campinas ,  n. 28, p. 129-147,  June  2007 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332007000100007&lng=en&nrm=iso>. access on  18  Mar.  2018.  http://dx.doi.org/10.1590/S0104-83332007000100007.

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