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AULA DE CRIMINOLOGIA

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CRIMINOLOGIA
O crime sempre foi um motivo de atenção no meio social.
I. Conceito – etimologicamente criminologia deriva do latim crimen ( crime ) logos ( estudo ). Para Afrânio Peixoto, criminologia “ é a ciência que estuda os crimes e os criminosos, isto é, a criminalidade”. Todavia, a criminologia não estuda apenas o crime e o criminoso, mas também as circunstancia sociais, a vítima, o criminoso, o prognóstico delitivo, etc. Para Antonio Garcia-Pablos de Molina “ uma ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima, e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema social –, assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente.”
A palavra criminologia foi usada pela primeira vez por Paul Topinard, antropólogo francês, em 1879. Todavia, foi aceito internacionalmente com a publicação da obra CRIMINOLOGIA de Raffaele Garafalo em 1885.
Pode-se conceituar CRIMINOLOGIA como ciência empírica ( baseada em observações e na experiência ) e interdisciplinar que tem por objeto de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da vítima e do controle social das condutas criminosas.
Como ciência empírica, a criminologia é uma ciência do “ser” ( baseada na observação e experiência ), na medida que seu objeto ( crime, criminoso, vítima e controle social ) é visível no mundo real e não no mundo dos valores, como ocorre com o direito, que uma ciência do “dever-ser”, portanto, valorativa, normativa.
A interdisciplinariedade da criminologia decorre da sua própria consolidação histórica como ciência dotada de autonomia, à vista da influência profunda de diversas outras ciências, tais como a sociologia, psicologia, o direito, a medicina legal, etc.
Nada obstante para os criminólogos haja um consenso que a criminologia ocupe uma instância superior, esta não se dá de forma piramidal. NÃO EXISTE PREFERÊNCIA POR SABER PARCIAL.
Para Antonio Garcia-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes sustentam que as características da moderna criminologia são:
O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa;
Aumenta o espectro de ação da criminologia, para alcançar também a vítima e as instâncias de controle social;
Acentua a necessidade de prevenção, em contraposição à ideia de repressão dos modelos tradicionais;
Substitui o conceito de “tratamento” ( conotação clínica e individual ) por “intervenção” ( noção mais dinâmica, complexa, pluridimensional e próxima da realidade social ) 
Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos objetos da criminologia;
Não afasta a análise etiológica do delito ( desvio primário )
II. Objeto – O objeto da criminologia é o crime. Todavia, o direito penal também se ocupe do crime como objeto de seu estudo, porém ambos se dediquem a enfoques diferentes ao fenômeno criminal.
O direito penal é ciência valorativa, normativa visualizando o crime como conduta anormal para a qual se fixa uma punição. O direito penal trabalha com três conceitos de delito: material, formal e analítico. Material – crime está vinculado ao ato que possui danosidade social, ou que provoque lesão a um bem jurídico. Formal – está vinculado ao fato de existir uma lei penal que descreva determinado ato como infração penal. Analítico, expõe os elementos estruturais e aspectos essenciais do conceito de crime. ( fato típico, ilícito e culpável ( punível, para outros )).
Segundo Lelio Braga Calhau, “ A Criminologia moderna não mais se assenta no dogma que convivemos numa sociedade consensual. Pelo contrário convivemos numa sociedade conflitiva. Não basta afirmar que o crime é um conceito legal. Isso não explica tudo e não ajudo quase nada na percepção da origem do crime. O crime é muito complexo, ele pode ter origens das mais diversas como excessivos desnível social de uma localidade, defeitos hormonais no corpo de uma pessoa, problemas de origem psíquicas como traumas, fobias e transtornos de toda ordem emocional, etc. 
A Criminologia moderna busca se antecipar aos fatos que precedem o conceito jurídico-penal de delito. O Direito penal só age após a execução ( ex. tentativa ) ou Na consumação do delito. A Criminologia quer mais ! ela quer entender a dinâmica do delito e intervir neste processo com o intuito de dissuadir o agente de praticar o crime, o que pode ocorrer das mais variadas formas. Mas para que isso seja feito, aq Criminologia teve que desenvolver outros conceitos para o delito. Conceitos estes mais próximos e íntimos da realidade que o fenômeno criminal apresenta. 
Diversos conceitos foram surgindo no desenvolvimento da Criminologia. Já forma tratados três conceitos utilizados pelo direito penal, os quais são obrigatórios pontos de partida da Criminologia, mas não esgotam o problema.
Garofalo chegou a criar a figura do delito natural, ou seja, delito seria: “ uma lesão daquela parte do sentido moral, que consiste nos sentimentos altruísta fundamentais ( piedade probidade ) segundo o padrão médio em que se encontram as raças humanas superiores, cuja medida é necessária para a adaptação do indivíduo à sociedade.”
A sociologia criminal já utiliza outro padrão, bastante em voga na atualidade: a conduta desviada ou desvio. Esse critério utiliza como paradigma as expectativas da sociedade. As condutas desviadas são aquelas que infringem o padrão de comportamento esperado pela população num determinado momento.
Anthony Giddens ensina que podemos definir o desvio como o que não está em conformidade com determinado conjunto de normas aceitas por um número significativo de pessoas de uma comunidade ou sociedade. Como já foi enfatizado, nenhuma sociedade pode ser dividida de um modo linear entre os que se desviam das normas e aqueles que estão em conformidade com elas. A maior parte das pessoas transgride, em certas ocasiões, regras de comportamento geralmente aceitas. Quase tida a gente, por exemplo, já cometeu em determinada altura atos menores de furto, como levar alguma coisa de uma loja sem pagar ou apropriar-se de pequenos objetos do emprego – como papel de correspondência – e dar-lhes uso privado. A dada altura de nossas vidas, podemos ter excedido o limite de velocidade, feito chamadas telefônicas de brincadeira, etc...
Desvio e crime não são sinônimos, embora muitas vezes se sobreponham. O âmbito do conceito de desvio é mais vasto do que o conceito de crime, que se refere apenas à conduta inconformista que viola a lei. Muitas formas de comportamento desviante não viola a lei. Muitas formas de comportamento desviante não são sancionadas pela lei. Assim sendo, os estudos sobre desvio podem examinar fenômenos tão diversos como naturalistas ( nudistas ), cultura rave, etc... O conceito de desvio pode aplicar-se tanto ao comportamento do indivíduo como às atividades dos grupos.
O conceito de desvio tem íntima relação com a política de controle da criminalidade conhecida como tolerância zero. O controle da criminalidade naquele modelo começa na repressão de condutas desviadas.”
Como dito, a Criminologia vê o crime como problema social, um verdadeiro fenômeno comunitário, abrangendo quatro elementos constitutivos, a saber: incidência massiva na população – não se pode tipificar o crime como um fato isolado. Ex.: Lei 7.643/87; incidência aflitiva do fato praticado – o crime deve causar dor à vítima e à comunidade – “ É natural que o crime produza dor quer na vítima, quer na sociedade como um todo. Assim, é desarrazoado que um fato, sem qualquer relevância social seja punido em esfera criminal. Exemplo da inexistência de dor, que deve ser ínsita ao crime , é a lei que pune todos aqueles que utilizam, inadequadamente a expressão “couro sintético”. Lei 4.888/65.”; persistência espaço-temporal do fato delituoso – é preciso que o delito ocorra reiteradamente
por um período significativo de tempo no mesmo território. Art. 155, § 5º do C.P.; consenso inequívoco acerca da etiologia e técnicas de intervenção eficazes – a criminalização de condutas depende de uma análise minuciosa desses elementos e sua repercussão na sociedade. Ex.: álcool. “ Seguramente poderíamos qualificar o álcool como droga lícita, mas uma droga que produz profundas consequências não somente para todos os dependentes, bem como quanto para todos quantos têm que se relacionar com o adicto. Não se tem dúvida, pois, de que o uso indiscriminado de bebidas alcoólicas produz consequências massivas, aflitivas, e de que tais consequências tem uma persistência espaço-temporal. Mas quantos estudiosos sérios proporiam a criminalização do uso ou contrabando do álcool? Quantos cometeriam o mesmo erro do passado, no período da Lei Seca nos Estados Unidos ? sem dúvida, não são todos os fatos que que, aflitivos ou massivos, com persistência espaço-temporal, devem ser considerados crimes. Na realidade, qualquer reforma penal deveria averiguar o preenchimento dos critérios acima elencados para a verificação do juízo de necessidade da existência de cada fato delituoso. 
Desde os primórdios até os dias atuais a criminologia sofreu mudanças importantes em seu objeto de estudos. Houve tempo que a criminologia apenas se ocupava com o estúdio do crime ( Beccaria ), passando pela verificação do delinquente ( Escola Positiva ). Após a década de 1950, alcançou projeção o estudo da vítima e também mecanismos de controle social, havendo uma ampliação de seu objeto, que assumiu, portanto, uma feição pluridimensional e interacionista.
Atualmente o objeto da criminologia está dividido em quatro vertentes: delito, delinquente, vítima e controle social.
No que tange ao delito, a criminologia tem toda uma atividade verificativa, que analisa a conduta antissocial, suas causas geradoras, o efetivo tratamento dado ao delinquente visando sua não reincidência, bem assim as falhas de sua profilaxia preventiva. 
A criminologia moderna não pode se limitar à adoção de conceito jurídico-penal de delito, pois isso fulminaria sua independência e autonomia, transformando-se em mero instrumento de auxílio do sistema penal. De igual sorte, não aceita o conceito sociológico de crime como uma conduta desviada, que foge ao comportamento padrão de uma comunidade.
Assim, para a criminologia o crime é um fenômeno social, comunitário e que se mostra como um “problema” maior, a exigir do pesquisador uma empatia para se aproximar dele e o entender em suas múltiplas facetas. Destarte, a relatividade do conceito de delito é patente na criminologia, que o observa como problema social.
III. Delinquente – 
Para a Escola Clássica – o criminoso era um ser que pecou, que optou pelo mal, embora pudesse e devesse escolher p bem.
O auge do valor do estudo do criminoso ocorreu durante o período do positivismo penal, com destaque para antropologia criminal, a sociologia criminal, a biologia criminal, etc. a Escola Positiva entedia que o criminoso era um ser atávico, preso a sua deformação patológica ( às vezes nascia criminoso ). 
Para a Escola Correcionalista ( de grande influência a América Espanhola ) para a qual o criminoso era um ser inferior e incapaz de se governar por si próprio, merecendo do Estado uma atitude pedagógica e de piedade.
Para o Marxismo, entedia o criminoso como vítima inocente das estruturas econômicas.
O estudo atual da criminologia não confere mais a extrema importância dada ao delinquente pela criminologia clássica, deixando-o em segundo plano de interesse.
Para Sérgio Salomão Sheccaria,” o criminoso é um ser histórico, real, complexo e enigmático, um ser absolutamente normal, pode estar sujeito às influências do meio ( não aos determinismos )”. E conclui: “ as diferentes perspectivas não se excluem; antes, completam-se e permitem um grande mosaico sobre o qual se assenta o direito penal atual.”
III. Vítima – 
 A vítima nos dois últimos séculos foi relegada a segundo plano pelo direito penal. Foi desprezada a uma insignificante participação na existência do delito.
Na história verifica-se a ocorrência de três grandes momentos da vítima nos estudos penais: a “idade de ouro”; a neutralização do poder da vítima e a revalorização de sua importância.
A idade de ouro compreende desde os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média ( auto tutela, Lei de Talião, etc ); o período de neutralização do poder da vítima se dá com o surgimento do processo inquisitivo e pala assunção do Poder Público do monopólio da jurisdição; e, por derradeiro, a revalorização da vítima ganhou destaque no processo penal, após o pensamento da Escola Clássica, porém só recentemente houve um direcionamento efetivo de estudos nesse sentido, com o 1º Congresso Internacional de Vitimologia ( Israel, 1973 )
Tem-se como fundamental o estudo do papel da vítima na estrutura do delito, principalmente em face dos problemas de ordem moral, psicológica, jurídica etc., justamente naqueles casos em que o crime é levado a efeito por violência ou grave ameaça.
Ressalte-se que a vitimologia permite estudar a criminalidade real, efetiva, verdadeira, por intermédio de coleta de informes fornecidas pelas vítimas e não informados às instâncias de controle ( cifra negra de criminalidade ). 
Outra classificação: vitimização primária, secundária e terciária.
Vitimização primária – é aquela que se relaciona ao indivíduo atingido diretamente pela conduta criminosa.
Vitimização secundária – é um derivativo das relações existentes entre vítimas primárias e o Estado em face do aparato repressivo ( polícia, burocratização do sistema, falta de sensibilidade dos operadores do direito envolvidos com processos bastante delicados, etc. )
Vitimização terciária – é aquela decorrente de um excesso de sofrimento, que extrapola os limites da lei do país, quando a vítima é abandonada, em certos delitos, pelo Estado e estigmatizada pela comunidade, incentivando a cifra negra. 
IV. Controle Social – conjunto de mecanismos que e sanções sociais que buscam submeter os indivíduos às normas de convivência social.
Quanto ao modo de exercício do controle social
O controle pode ser analisado de duas formas: como instrumento de orientação e como meio de fiscalização do comportamento social da pessoa. Em grande número de ocasiões o controle pode ser orientador e fiscalizador ao mesmo tempo, como na atuação da Polícia e do Ministério Público.
Com relação aos destinatários
Nessa condição o controle poderá ser difuso ou localizado.
Difuso – fiscalizando toda comunidade.
Localizado – controle intenso de grupos estigmatizados como os ciganos, etc.
Com relação aos agentes fiscalizadores 
Poderá ser realizado pela sociedade civil ou pelos agentes do Estado.
Controle Social Informal – ( Família, escola, religião, profissão, clubes de serviços, etc ) com nítida visão preventiva e educacional.
Controle Social Formal – ( Polícia, Ministério Público, Forças Armadas, Justiça, Administração Penitenciária, etc. ), mais rigoroso que o controle formal e de conotação político-criminal.
Policiamento-comunitário – se entrelaçam as duas formas de controles. 
Quanto ao âmbito de atuação
O controle de social poderá ser exercido diretamente nas pessoas e aí será direto e indiretamente por intermédio das instituições sociais. Ex.: um policial pode exercer um controle social direto sobre uma comunidade, mas pode ser influenciado em seu controle pela Corregedoria de Polícia, que pode expedir recomendações alterando a rotina do exercício do controle social que esse policial fazia.
FORMAS DE CONTROLE SOCIAL
. Sanções formais e informais
. Controle positivo e negativo
. Controle interno e externo
O controle social pode ser exercido de diversas formas:
As sanções formais são aplicadas pelo Estado – sanções cíveis, administrativas ou penais. Já as sanções informais não possuem coercibilidade.
Através de meios positivos ( prêmios ou incentivos ) ou negativos ( reprovações co
aplicação de sanções ). Esse sistema costuma ser aplicado na educação. Os alunos são premiados quando executam tarefas como apresentar trabalhos em grupo, fazer resumo crítico de um livro, comparecer em um seminário. Os prêmios e as sanções podem possuir gradações bem diferentes.
O controle interno é também chamado de autodisciplina. Desde que somos crianças aprendemos regras sociais. Elas vão sendo internalizadas e com o passar dos tempos passam a nos orientar sobre como devemos agir para cumprir as regras sociais de cada situação. Quando a autodisciplina falha, a pessoa pode ser compelida a agir por meio do controle externo. Ele pode se dar pela ação da sociedade ou até do Estado. Um exemplo típico de controle externo social é o de aplicação de multas de trânsito e ambientais. O caso mais grave do controle externo é o de aplicação de pena de prisão pelo Estado.

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