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Direito Administrativo (Cadenas) Crime de Servidor contra a Administração

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CURSO ON-LINE - DIREITO ADMINISTRATIVO P/ AFRFB 
(Curso complementar com a parte de Dir. Penal, Lei 8.112 e Ética) 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
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AULA 1 
CRIMES PRATICADOS POR SERVIDORES PÚBLICOS CONTRA A 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
A parte especial do Código Penal, que contém os crimes em espécie, dedica um 
título inteiro aos crimes contra a Administração Pública (Título XI). O objeto do 
nosso edital engloba os Capítulos I, II e II-A. Ressalte-se que, por questões 
práticas, visando aumentar a eficiência do nosso estudo, veremos 
detalhadamente aqueles que mais são cobrados em concursos, apenas 
destacando os pontos principais no texto legal dos demais. 
Aqui também percebemos que as questões de provas costumam focar sua 
atenção no texto legal, sem muitas incursões por discussões doutrinárias, o 
que, em certo aspecto, facilita nosso estudo. Mas isso é ruim pra aquele aluno 
preparado, pois acaba nivelando por baixo. Assim, leia com bastante atenção 
os artigos cobrados, pois são questões que não podem ser perdidas! 
Antes, porém, alguns breves conceitos, importantes para se entender esta 
parte da matéria. 
Tipicidade é a perfeita correlação entre o fato concreto e a norma 
penal abstrata. Há tipicidade quando o agente realiza todos os componentes 
do tipo penal, descritos na norma. Compara-se o fato real (pessoa 
assassinada) com a previsão legal (matar alguém). 
A existência do tipo legal garante o indivíduo contra a arbitrariedade estatal, 
que somente poderá punir de acordo com aquilo previamente inserto na norma 
como crime, dentro de todas as características esmiuçadas pela lei. 
Tipo é a descrição de condutas humanas, em abstrato, tidas por criminosas. 
Nessa descrição, estarão os elementos para bem delinear tal conduta. 
Se o fato observado na vida real se amoldar perfeitamente à roupagem dada 
pelo tipo, há a tipicidade. 
Os crimes previstos neste Título são chamados de crimes próprios, ou seja, 
são os praticados só por certas pessoas, pois exigem uma qualificação ou 
condição especial. Tal condição pode ser natural (homem, gestante), de 
parentesco (pai, filho), jurídica (funcionário público, acionista), profissional 
(médico, advogado). 
Assim, o crime de peculato (art.312) só pode ser cometido por funcionário 
público; o crime de patrocínio infiel (art. 355), só pelo advogado; o de 
infanticídio (art. 123), só pela mãe gestante; o de estupro, na redação antiga, 
só pelo homem (art. 2131). 
 
1 Com a nova redação do art. 213, dada pela Lei nº 12.015, de 07/08/2009, o legislador passou 
a incluir, no art. 213, tanto o estupro na forma antes conhecida, quanto o atentado violento ao 
pudor, tendo sido revogado o art. 214. O texto atual é o seguinte: Estupro. Art. 
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Especificamente os crimes praticados por funcionário público são chamados de 
funcionais, subdividindo-se em próprios e impróprios. 
São funcionais próprios aqueles que somente podem ser praticados por 
servidores, como a prevaricação e a advocacia administrativa. A mesma 
conduta praticada por um particular é atípica. 
Por sua vez, são funcionais impróprios os que podem ser praticados por 
qualquer pessoa, contudo, se o sujeito ativo é um funcionário público, haverá 
uma especializante. Nesse sentido, por exemplo, apropriar-se de bem móvel 
tanto pode configurar o delito de apropriação indébita (art. 168) quanto 
peculato (art. 312). O que vai diferenciar um do outro é o sujeito ativo. 
Em resumo, será funcional próprio quando apenas servidores puderem 
praticar o tipo penal. Se o agente é um particular, a conduta será atípica. Será 
funcional impróprio quando qualquer pessoa puder praticar a conduta 
descrita no tipo, classificando-se como crime comum ou funcional, a depender 
de quem agiu. 
Sujeito ativo: é aquele que pratica a conduta prevista na lei como tal, ou 
seja, o que age de acordo com o tipo penal ou que colabora para tal, chamado 
partícipe. 
No nosso caso específico, então, fica claro que só podem ser praticados por 
funcionário público. Porém, em certas situações o particular também pode ser 
condenado por algum desses crimes, quando, por exemplo, atua como co-
autor com um funcionário público, sabendo dessa condição de seu comparsa. 
Diz-se, então, que ser “funcionário” é elementar do tipo, e que tal se 
comunica ao particular, em caso de concurso, nos termos do art. 302 do 
Código Penal - CP. 
Elementar é a parcela essencial que caracteriza o tipo penal, sem a qual ele 
não existe ou se transforma noutro tipo. As elementares do homicídio são 
“matar” e “alguém”. Por exemplo, se não tiver a elementar “alguém”, ou seja, 
atirar num animal, não se configura o homicídio. De furto, são elementares 
“subtrair”, “para si ou para outrem”, “coisa alheia” e “móvel”. Se faltar a 
elementar “coisa alheia”, ou qualquer outra, não existe furto. 
PROCESSO PENAL. PENAL. PECULATO. ART. 312 CP C/C ART. 29 E 71 
DO CÓDIGO PENAL. MATERIALIDADE E AUTORIA DEMONSTRADAS. 
JUSTIÇA FEDERAL. COMPETÊNCIA. CIRCUNSTÂNICAS ELEMENTARES 
COMUNICAM. ART. 30 CÓDIGO PENAL. 1. O empregado da Empresa 
Brasileira de Correios e Telégrafos, carteiro, que, nessa qualidade, 
pratica crime contra o patrimônio de usuários da empresa, causa 
 
213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a 
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 
10 (dez) anos. § 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é 
menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) 
anos. § 2o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. 
2 Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando 
elementares do crime. 
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prejuízo não só à imagem da empresa prestadora de serviço público, 
como ao seu patrimônio, em face de indenização a que está obrigado 
a pagar. 2. A qualidade de funcionário público é elementar do tipo do 
art. 312 do Código Penal e comunica-se ao particular, conhecedor 
dessa condição pessoal, partícipe, pois, do peculato, nos termos do 
art. 30 do Código Penal.3 
O fato de ser funcionário público, como se viu, é elementar dos tipos penais 
aqui estudados. Nesse sentido, para que nasça o crime funcional, necessário 
que haja a presença de um funcionário público, nessa condição. O fato de ser 
agente público não pode, ao mesmo tempo, fixar o tipo penal e agravar a 
pena, por implicar em dupla punição pelo menos fato (“ne bis in idem”). 
Noutras palavras, não poderia, por um só fato (ser funcionário público) tipificar 
a conduta como crime funcional e, ao mesmo tempo, agravar a pena, se 
houver tal previsão legal. 
Exemplifique-se com o aborto provocado por terceiro (CP, art. 126). Para 
haver tal crime, necessária a existência de uma mulher grávida, elementar do 
crime. Se a condição de grávida já foi necessária para a adequada tipificação, 
não poderá incidir a agravante prevista no art. 61, II, h, do CP, que prevê 
pena maior para aquele que pratica crime contra mulher grávida. 
Por outro lado, se a condição de servidor não for elementar do crime, e houver 
previsão legal, pode haver agravamento na pena, como no caso dos crimes do 
Código de Defesa do Consumidor, cujo art.76 assim dispõe: 
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste 
código:... 
IV - quando cometidos:... 
a) por servidor público... 
Em resumo, ser funcionário público é essencial para a caracterização dos 
crimes funcionais. No entanto, essa condição pessoal do agente pode gerar 
outras conseqüências, a depender do caso concreto e de previsão legal, em 
crimes que não sejam funcionais. 
Circunstância é a parte acessória, que não tem presença obrigatória para 
configurar o tipo, mas altera de alguma forma a sanção penal. Com a presença 
de uma circunstância, a pena aumenta ou reduz; na sua falta, o crime continua 
existindo, mas sem esse acessório. Podem ser objetivas (de caráter material) 
como tempo, modo, lugar, meio de execução; são relativas ao fato. Como 
exemplo pode-se citar a circunstância temporal do crime de furto praticado 
durante o repouso noturno, o que faz com que a pena aumente de um terço 
(art. 155, § 1º). Se praticado durante o dia, continua sendo furto. Também 
podem ser subjetivas (de caráter pessoal), como parentesco com a vítima, 
reincidência, ação sob violenta emoção etc; são relativas ao autor. 
 
3 TRF1, ACR 2002.34.00.011891-8/DF, relator Desembargador Federal Tourinho Neto, 
publicação DJ 05/05/2006. 
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Circunstância elementar: não são essenciais para a existência do crime, 
mas alteram os limites da pena, cominando novos valores mínimos e máximos. 
São ditas também qualificadoras. Exemplifica-se com o furto qualificado (art. 
155, § 4º), com nova previsão de penas (reclusão, de dois a oito anos, e 
multa). Assim, a circunstância elementar do art. 155, § 4º, I, é furto “com 
destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa”. Sem ela, é furto 
simples, com outros limites de penas (reclusão, de um a quatro anos, e 
multa). 
Portanto, as circunstâncias pessoais se comunicam ao co-autor ou partícipe 
somente quando elementares do crime. 
Então, as elementares sempre se comunicam ao co-autor, é dizer, ambos 
responderão por elas, desde que sejam conhecidas. 
No caso do crime tipificado no art. 312, peculato, visto a seguir, estará 
configurado quando praticado por funcionário público. Se dois agentes, em 
concurso, apropriam-se de um bem público e um deles é funcionário público, 
ambos responderão por peculato, ainda que o outro não seja, pois essa 
elementar se comunica ao outro. Porém, se este não sabia da condição de 
funcionário público do comparsa, responderá por furto ou apropriação indébita. 
Complementando, sujeito passivo é o titular do bem jurídico que é protegido 
pela norma penal, e aqui será sempre o Estado. Eventualmente poderá ser o 
particular, quando este for o proprietário ou possuidor do bem lesado, ou 
quando sofrer qualquer prejuízo indevido. 
Veremos também que alguns dos tipos específicos deste Título se assemelham 
muito com outros crimes comuns, mas aqui terão penas maiores. Isso se 
justifica em face do fato de o criminoso ser um agente que conta com a 
confiança da Administração Pública, e a viola. 
Assim, para exemplificar, veremos que o peculato é muito semelhante com a 
apropriação indébita. Então o primeiro é uma espécie de “apropriação 
indébita”, cometido pelo servidor. Como se aproveita de sua condição de 
funcionário, tendo acesso à repartição, chaves da sala, conhecimento do local 
etc, o legislador concluiu que sua conduta é mais reprovável que a subtração 
do mesmo bem por um particular que nada tenha com a repartição. 
Mais um dado genérico importante é a definição de funcionário público e a 
possibilidade de uma forma típica qualificada. 
Assim determina o art. 327: 
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, 
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, 
emprego ou função pública.4 
 
4 STF, Inq 2.191/DF, relator Ministro Carlos Britto, julgado em 08/05/2008, Informativo 505: “O 
art. 327, caput, do CP, ao conceituar funcionário público, abrangea todos os que exercessem 
cargo, emprego ou função pública, no âmbito de qualquer dos poderes”. 
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§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego 
ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa 
prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de 
atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, 
de 2000) 
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos 
crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em 
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da 
administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública 
ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, 
de 1980) 
Ressalte-se, então, que, sempre que o autor de qualquer dos crimes aqui 
estudados for ocupante de cargo em comissão ou de função de direção ou 
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia 
mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público, terá sua 
pena aumentada da terça parte. 
Por sua vez, ainda que não seja servidor público propriamente dito, nos termos 
do parágrafo 1º retro transcrito, será equiparado a ele nas hipóteses lá 
mencionadas. Mas essa regra somente vale para os crimes praticados após a 
entrada em vigor da Lei nº 9.983/2000, em homenagem ao princípio da 
irretroatividade da lei penal (CF/88, art. 5º, XL). Segundo decidiu o STJ: 
O médico e o administrador de entidade hospitalar conveniada ao 
SUS exercem função pública delegada e, por isso, são equiparados a 
funcionários públicos para o fim de aplicação da legislação penal. 
Entretanto, não é possível aplicar essa equiparação, estabelecida pela 
Lei n. 9.983, de 2000, a crimes anteriores a essa data, sob a pena de 
violar o princípio constitucional da irretroatividade da lei penal.5 
MÉDICO. HOSPITAL CONVENIADO AO SUS. CONCUSSÃO. 
FUNCIONÁRIO PÚBLICO PARA FINS PENAIS. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA 
FEDERAL. (...) II - O médico de hospital particular conveniado ao 
SUS deve ser considerado funcionário público para fins penais, a teor 
do disposto no art. 327, § 1º, do Código Penal.6 
Outra regra do Código Penal relativa aos crimes contra a administração pública 
refere-se à progressão de regime. 
Progressão de regime é a passagem de um regime para outro menos rigoroso, 
progressivamente, ou seja, se inicia no fechado, deve passar para o semi-
aberto e, só após essa fase, passar para o aberto, segundo o mérito do 
condenado, observados os critérios legais, e ressalvadas as hipóteses de 
transferência a regime mais rigoroso. 
 
5 STJ, HC 115.033/SP, relator Ministro Og Fernandes, julgado em 19/03/2009. Nesse caso, o 
médico era acusado de cobrar R$ 2.000,00 para que pessoas que precisassem de cirurgias não 
aguardassem a fila de espera em atendimentos realizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde). 
6 TRF1, EDRCCR 2002.38.03.005175-2/MG, relator Desembargador Federal Cândido Ribeiro, 
publicação DJ 08/10/2004. 
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Se a condenação foi por crime contra a administração pública, terá a 
progressão de regime condicionada à reparação do dano que causou ou à 
devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais (CP, art. 
33, § 4º)7.Importante tecer algumas considerações acerca da aplicação do princípio da 
insignificância aos crimes em comento. Segundo tal princípio, o Direito Penal 
deve buscar proteger a comunidade de crimes que tenham gravidade razoável, 
evitando punir os chamados crimes de bagatela, como furtar um grampo ou 
um prego. A conduta já nasce insignificante, não sendo o caso de se analisar a 
vontade do agente, seus antecedentes etc. Assim, nos casos em que há 
infração bagatelar, a conduta é atípica (por ficar excluída a tipicidade 
material), não incidindo o Direito Penal. 
Num primeiro momento, a jurisprudência do STJ inclinou-se pela não aplicação 
do princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública, vez 
que entendeu-se que “a norma busca resguardar não somente o aspecto 
patrimonial, mas moral da Administração”: 
HABEAS CORPUS. PECULATO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL: 
ATIPICIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. BEM JURÍDICO 
TUTELADO: A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INAPLICABILIDADE. 
1. A missão do Direito Penal moderno consiste em tutelar os bens 
jurídicos mais relevantes. Em decorrência disso, a intervenção penal 
deve ter o caráter fragmentário, protegendo apenas os bens jurídicos 
mais importantes e em casos de lesões de maior gravidade. 
2. O princípio da insignificância, como derivação necessária do 
princípio da intervenção mínima do Direito Penal, busca afastar de 
sua seara as condutas que, embora típicas, não produzam efetiva 
lesão ao bem jurídico protegido pela norma penal incriminadora. 
3. Trata-se, na hipótese, de crime em que o bem jurídico tutelado é a 
Administração Pública, tornando irrelevante considerar a apreensão 
de 70 bilhetes de metrô, com vista a desqualificar a conduta, pois o 
valor do resultado não se mostra desprezível, porquanto a norma 
busca resguardar não somente o aspecto patrimonial, mas moral da 
Administração.8 
 
7 Redação dada pela Lei no 10.763/2003. 
8 STJ, HC 50.863/PE, relator Ministro Hélio Quaglia Barbosa, publicação DJ 26/06/2006. 
Precisamente esse julgado foi objeto de questão em concurso realizado em 2007 pelo CESPE, 
para Auditor do TCU, a seguir reproduzida. 
Julgue o item a seguir. Considere a seguinte situação hipotética. João, empregado público do 
Metrô, apropriou-se indevidamente, em proveito próprio, de setenta bilhetes integração 
ônibus/metrô no valor total de R$ 35,00, dos quais tinha a posse em razão do cargo (assistente 
de estação) que ocupava nessa empresa pública. Nessa situação, de acordo com o entendimento 
do STJ, em face do princípio da insignificância, não ficou configurado o crime de peculato. 
Gabarito definitivo: errada. Hoje, com base na nova orientação jurisprudencial, certamente a 
resposta seria dado como correta. 
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É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes contra a 
Administração Pública, ainda que o valor da lesão possa ser 
considerado ínfimo, porque a norma busca resguardar não somente o 
aspecto patrimonial, mas a moral administrativa, o que torna inviável 
a afirmação do desinteresse estatal à sua repressão.9 
Contudo, prevalece a orientação do STF, no sentido de ser perfeitamente 
aplicável o princípio em análise também aos crimes funcionais: 
Descaminho considerado como “crime de bagatela”: aplicação do 
“princípio da insignificância”. Para a incidência do princípio da 
insignificância só se consideram aspectos objetivos, referentes à 
infração praticada, assim a mínima ofensividade da conduta do agente; 
a ausência de periculosidade social da ação; o reduzido grau de 
reprovabilidade do comportamento; a inexpressividade da lesão jurídica 
causada (HC 84.412, 2ª T., Celso de Mello, DJ 19.11.04). A 
caracterização da infração penal como insignificante não abarca 
considerações de ordem subjetiva: ou o ato apontado como delituoso é 
insignificante, ou não é. E sendo, torna-se atípico, impondo-se o 
trancamento da ação penal por falta de justa causa (HC 77.003, 2ª T., 
Marco Aurélio, RTJ 178/310).10 
Por fim, acrescento que a ESAF tem cobrado com insistências questões 
envolvendo penas, tanto da Lei de Improbidade, quanto do Código Penal e 
outras. Me parece extremamente reprovável esse tipo de questão, que não 
mede conhecimento de ninguém. Mas o fato é que em todas as últimas provas 
de Auditor da Receita Federal, na parte de Ética, quando era cobrada, caíram 
questões cobrando penas. 
Permitam-se uma dica pouco usual. A chance disso cair é grande, olhando-se o 
passado. Há duas opções: (1) “decorar” todas as penas, torcer para que caia 
alguma delas, e tentar acertar; (2) simplesmente ignorar essa informação, 
torcer para não cair e, se cair, “chutar” com base nas respostas das outras 
questões, ou seja, na letra menos marcada. Sinceramente, as chances de 
acerto numa ou noutra opção são muito próximas, porém, na segunda opção, 
você economiza muito tempo e espaço na sua memória!!! É a minha opção. 
Cada um eleja a sua. As penas serão informadas em cada tópico. 
Vistas essas considerações iniciais, a seguir estudaremos cada um dos tipos 
que nos interessam, ilustrando com recentes julgados dos tribunais pátrios. 
1. PECULATO (art. 312) 
 
9 STJ, REsp 655.946/DF, relatora Ministra Laurita Vaz, publicação DJ 26/03/2007. 
10 STF, AI-QO 559.904/RS, relator Ministro Sepúlveda Pertence, publicação DJ 26/08/2005. No 
mesmo sentido: STF, HC 92438/PR, relator Ministro Joaquim Barbosa, julgamento em 
19/08/2008, Informativo 516, e HC 99.594, relator Ministro Carlos Ayres Britto, julgamento em 
18/08/2009. 
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Peculato 
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou 
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse 
em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não 
tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para 
que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de 
facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. 
Peculato culposo 
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de 
outrem: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se 
precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é 
posterior, reduz de metade a pena imposta. 
Como já dito antes, peculato é uma forma de apropriação indébita11, feita pelo 
funcionário, em razão de seu ofício. 
A coisa objeto da apropriação indevida, em proveito próprio ou alheio, tanto 
pode ser pública, quanto particular, mas a posse sempre ocorre em razão do 
cargo. Percebe-se, então, que o objeto material do peculato é o mesmo do 
furto12, do roubo13 ou da apropriação indébita. 
Ainda que o bem seja de particular, mas encontrando-se em poder da 
Administração Pública, poderá haver peculato, como no caso de qualquer bem 
particular apreendido e depositado numa repartição. 
Ressalte-se que “o peculato não é crime patrimonial, mas crime contra a 
Administração Pública, e ‘o dano necessário e suficiente para a sua 
consumação é o inerente à violação do dever de fidelidade para a mesma 
administração, associado ou não ao patrimonial’”14. 
A doutrina divide essa figura típica noutras, dando outros nomes, importantes 
para o concurso. 
 
11 CP, art. 168 - Apropriar-se decoisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - 
reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
12 CP, art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. 
13 CP, art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou 
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de 
resistência. 
14 TRF1, ACR 1999.01.00.070911-7/AM, relator Desembargador Federal Olindo Menezes, 
publicação DJ 10/03/2006. 
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Assim, o tipo fundamental, previsto no caput do art. 312, se subdivide em 
dois, o peculato-apropriação (1ª parte) e o peculato-desvio (2ª parte). Em 
seguida, temos o peculato-furto (§ 1º) e o peculato-culposo (§ 2º). 
O tipo previsto no art. 313 não consta do edital, mas vamos citar pra não 
correr o risco de errar, pois é perfeitamente possível que possa ser citado em 
uma das alternativas de alguma questão. 
Trata-se do peculato mediante erro de outrem, cujo tipo é de apropriar-se de 
dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de 
outrem. 
Em resumo, temos: 
I – peculato-apropriação (art. 312, caput, 1ª parte): apropriar-se o 
funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou 
particular, de que tem a posse em razão do cargo, em proveito próprio ou 
alheio: neste caso, o funcionário fica com bem que está em seu poder, devido 
ao seu cargo. É exemplo disso o servidor que leva computador que usa na 
repartição para sua casa, com intenção de ficar com ele definitivamente. 
II – peculato-desvio (art. 312, caput, 2ª parte): desviar, o funcionário 
público, dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de 
que tem a posse em razão do cargo, em proveito próprio ou alheio. 
No seguinte julgado, fica bem clara a diferença entre esses dois primeiros tipos 
de peculato, com grifos nossos: 
PENAL. PECULATO-APROPRIAÇÃO. PECULATO-DESVIO. ANIMUS REM 
SIB HABENDI15. ELEMENTO SUBJETIVO. NÃO DEMONSTRAÇÃO. 
OMISSÃO. SERVIÇO PÚBLICO. APOSSAMENTO DEFINITIVO. NÃO 
CONFIGURAÇÃO. APELO MINISTERIAL. IMPROVIDO. 1. No 
peculato-apropriação o agente se dispõe a fazer sua a coisa 
de que tem a posse e no peculato-desvio o agente dá à coisa 
destinação diversa da exigida em proveito próprio ou de 
outrem. 2. O simples envio de determinado motor a uma retífica não 
tem o condão de provar que determinada pessoa é autor de 
peculato-apropriação visto que o delito em questão exige a vontade 
livre e consciente dirigida à apropriação de bem móvel, o animus rem 
sib habendi, e a obtenção de proveito. 3. A omissão do serviço 
público não pode, em tese, ser encaixada na figura do peculato. 4. O 
elemento subjetivo do tipo previsto no art. 312 do CP é a intenção 
definitiva de não restituir a res16. 5. Não há que se falar em peculato-
desvio se não restar demonstrado que os apelados tencionavam se 
apossar de bem móvel.17 
 
15 Animus rem sibi habendi é uma espécie de elemento subjetivo diverso do dolo, que relaciona-
se à intenção do agente fazer seu bem alheio. 
16 Res = coisa. 
17 TRF1, ACR 2001.01.00.013368-4/AM, relator Desembargador Federal Hilton Queiroz, 
publicação DJ 12/12/2005. 
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PENAL E PROCESSO PENAL. PECULATO-DESVIO. AUTORIA E 
MATERIALIDADE COMPROVADAS. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: 
DOLO ESPECÍFICO. 1. Quando o agente público dá destinação 
diversa da exigida, em proveito próprio ou de terceiros, ainda que 
não obtenha vantagem econômica e venha a demonstrar, 
posteriormente, o animus restituendi18, pratica a conduta do 
peculato-desvio. Isso porque, o peculato não é crime patrimonial, 
mas crime contra a Administração Pública, e "o dano necessário e 
suficiente para a sua consumação é o inerente à violação do dever de 
fidelidade para a mesma administração, associado ou não ao 
patrimonial"19. 
PENAL. PECULATO-DESVIO. AUTORIA E MATERIALIDADE 
COMPROVADAS. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO: DOLO 
ESPECÍFICO. 1. Comete peculato-desvio o patrulheiro rodoviário 
federal que, em razão da função de agente público, deixa de recolher 
a motocicleta (objeto de furto), apreendida nas proximidades do 
posto policial, por falta de documentação, e passa a utilizá-la em 
suas atividades pessoais como se sua fosse, vindo a devolvê-la ao 
legítimo proprietário somente após descoberta a ilicitude, meses 
depois. Provadas a autoria, a materialidade do crime e o dolo 
específico, não socorre ao apelado a alegação de ter cometido mera 
irregularidade administrativa, invocando a figura do peculato-uso, 
não contemplada em nosso ordenamento.20 
Note outro exemplo noticiado no sítio do STF: 
Peculato-Desvio: Secretária Parlamentar e Prestação de 
Serviços Particulares 
O Tribunal, por maioria, recebeu denúncia oferecida pelo Ministério 
Público Federal contra Deputado Federal, em que se lhe imputa a 
prática do crime previsto no art. 312 do CP, na modalidade de 
peculato-desvio, em razão de ter supostamente desviado 
valores do erário, ao indicar e admitir determinada pessoa 
como secretária parlamentar, quando de fato essa pessoa 
continuava a trabalhar para a sociedade empresária de 
titularidade do denunciado. Inicialmente, rejeitou-se a argüição 
de atipicidade da conduta, por se entender equivocado o raciocínio 
segundo o qual seria a prestação de serviço o objeto material da 
conduta do denunciado. Asseverou-se que o objeto material da 
conduta narrada foram os valores pecuniários (dinheiro 
referente à remuneração de pessoa como assessora 
parlamentar). No mais, considerou-se que os requisitos do art. 41 
 
18 Vontade, intenção de restituir. 
19 TRF1, ACR 1999.01.00.070911-7/AM, relator Desembargador Federal Olindo Menezes, 
publicação DJ 10/03/2006. 
20 TRF1, ACR 93.01.01258-8/MG, Desembargador Federal Olindo Menezes, publicação DJ 
24/02/2006. 
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do CPP teriam sido devidamente preenchidos, havendo justa causa 
para a deflagração da ação penal, inexistindo qualquer uma das 
hipóteses que autorizariam a rejeição da denúncia (CPP, art. 43, 
hoje art. 395, na redação da lei). Vencidos os Ministros Marco 
Aurélio e Celso de Mello, que rejeitavam a denúncia por reputar 
atípica a conduta imputada ao denunciado.21 
III – peculato-furto (art. 312, § 1º): não tendo a posse do dinheiro, 
funcionário público subtrai valor ou bem, ou concorre para que seja subtraído, 
em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a 
qualidade de funcionário: neste tipo, o funcionário não tem a posse do bem, 
mas se aproveita das facilidades que o cargo lhe proporciona para subtrair o 
bem ou permitir que outrem o faça, como levar o computador da sala vizinha à 
sua, que tem acesso em função de seu cargo. Por outro lado, se o funcionário 
arromba sala de uma repartição qualquer, responderá por furto, posto que não 
se aproveitou da sua condição de funcionário. Nesse rumo, segundo o STF, 
“para a configuração do peculato-furto o agente não detém a posse da coisa 
(valor, dinheiro ou outro bem móvel) em razão do cargo que ocupa, mas sua 
qualidade de funcionário público propicia facilidade para a ocorrência da 
subtração devido ao trânsito que mantém no órgão público em que atua ou 
desempenha suas funções”.22 
PENAL. PROCESSO PENAL. PECULATO-FURTO. PROVA. CONJUNTOHARMONIOSO. Servidor da Empresa de Correios e Telégrafos, que é 
encontrado em casa comercial, fazendo compras com vales 
alimentação, que tinham sido subtraídos da empresa. Testemunha 
que, no inquérito, reconheceu o acusado e outras pessoas que com 
ele se encontravam, fazendo compras e pagando com vales 
alimentação, e, cinco anos depois, diz que o acusado fez o 
pagamento em dinheiro e que as outras pessoas, que estavam com 
ele, é que fizeram o pagamento com os tíquetes-alimentação 
subtraídos da ECT. O primeiro depoimento da testemunha aliado ao 
fato de que era o acusado o responsável pela triagem das 
encomendas SEDEX, de onde foram furtados os vales-alimentação, e, 
também, e somada a alegação do acusado que não foi trabalhar no 
dia da chegada, na agência do ECT, dos vales-alimentação, e, no 
entanto, demonstrado ficou, pela folha de freqüência, que 
compareceu ao serviço nesse dia, levam à conclusão que foi ele o 
autor do crime.23 
PENAL. PROCESSO PENAL. PECULATO - ART. 312, § 1º, DO CP. 
INSS. SAQUE DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DE SEGURADO 
FALECIDO. AUTORIA E MATERIALIDADE DEMONSTRADAS. 
SENTENÇA MANTIDA. (...) 4. Comete o crime do art. 312, § 1º, do 
 
21 STF, Inq 1.926/DF, relatora Ministra Ellen Gracie, julgado em 09/10/2008, Informativo 523. 
22 STF, HC 86.717/DF, relatora Ministra Ellen Gracie, Informativo 516. 
23 TRF1, ACR 1998.32.00.000854-3/AM, relator para o acórdão Desembargador Federal Tourinho 
Neto, publicação DJ 10/06/2005. 
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CP, na modalidade peculato-furto, o agente que, embora não tendo a 
posse do dinheiro, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em 
proveito próprio, benefício previdenciário de segurado falecido, 
utilizando-se da facilidade que o cargo ocupado à época dos fatos lhe 
oferecia.24 
IV – peculato-culposo (art. 312, § 2º): o peculato é o único crime deste 
Capítulo que admite a modalidade culposa. Nos termos do parágrafo único
do art. 18, CP25, todos os crimes são punidos na sua forma dolosa. Se houver 
previsão expressa, podem ser também punidos se praticados de forma 
culposa. O crime é dito culposo quando o agente deu causa ao resultado por 
imprudência, negligência ou imperícia. Neste caso, ele não quer o resultado, 
tampouco assume o risco de produzi-lo, mas a ele dá causa. Não admite 
tentativa, consumando-se no momento em que se consuma o crime do outro, 
que se aproveita da falha do funcionário. Assim, pode-se exemplificar com a 
falta de cuidado do responsável pelo depósito da repartição, que vai embora 
deixando a porta destrancada. Se não houver nada, não praticou nenhum 
crime. Porém, se alguém se aproveitou e subtraiu algo desse depósito, estará 
consumado o peculato-culposo além, é claro, do outro crime, que pode ser 
furto, roubo, ou mesmo peculato, se efetivado por outro funcionário público, 
sem a participação do primeiro. 
Neste caso, importante observação deve ser feita! Se reparado o dano antes 
da sentença irrecorrível, é extinta a punibilidade26; se posterior, a pena 
imposta fica reduzida à metade. Tal reparação pode ser efetivada pelo 
próprio funcionário ou outra pessoa em seu nome, e não vale para o terceiro 
que se aproveitou da falha dele, respondendo normalmente por seu crime 
(furto, roubo, peculato). Esse benefício existe tão somente no caso de crime 
culposo, não no doloso: 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. PECULATO-DESVIO. APROPRIAÇÃO 
INDEVIDA DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. ARREPENDIMENTO 
EFICAZ. INOCORRÊNCIA. 1. Comprovado haver os réus cometido o 
crime de peculato, com apropriação indevida de benefício 
previdenciário titularizado por terceiro, deve ser confirmada a 
sentença condenatória pela prática do delito. 2. O ressarcimento 
antes do recebimento da denúncia, no peculato doloso caracterizado 
como peculato-desvio, não extingue a punibilidade e nem caracteriza 
o arrependimento eficaz.27 
 
24 TRF1, ACR 1997.01.00.020330-0/MG, relator Desembargador Federal Hilton Queiroz, 
publicação DJ 26/10/2004. 
25 Art. 18 - Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de 
produzi-lo; II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência 
ou imperícia. Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por 
fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. 
26 STF, HC 95.625/RJ, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgado em 10/02/2009, 
Informativo 535. 
27 TRF1, ACR 2000.31.00.000817-0/AP, relator Desembargador Federal Olindo Menezes, 
publicação 31/03/2006. 
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PENAL. PECULATO-APROPRIAÇÃO. PECULATO-DESVIO. 
DESCLASSIFICAÇÃO. PECULATO-CULPOSO. DOLO. PROVA. 
INEXISTÊNCIA. 1. Ocorre o peculato-culposo previsto no § 2º, do 
artigo 312, do Código Penal, quando o funcionário, por negligência, 
imprudência ou imperícia, permite que haja apropriação ou desvio, 
subtração ou concurso para esta. 2. Inexistindo prova suficiente que 
permita concluir que o Réu, na modalidade de peculato-apropriação, 
agiu com dolo, "consistente na vontade livre e consciente de 
apropriar-se", ou, na modalidade de peculato-desvio, "vontade livre e 
consciente de desviar", "em proveito próprio ou alheio", resulta 
correta a sentença monocrática que o condenou pela prática do crime 
de peculato-culposo.28 
V – peculato mediante erro de outrem ou peculato-estelionato (art. 
313): apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do 
cargo, recebeu por erro de outrem. Exemplifique-se com um fornecedor de 
impressoras que entrega uma delas numa seção indevidamente. O recebedor 
se aproveita do erro do entregador e apropria-se indevidamente da mesma. 
PENAL. PROCESSUAL PENAL. PECULATO. ARTIGO 313 DO CP. 
VENCIMENTOS PAGOS A MAIS A FUNCIONÁRIO PÚBLICO. O CRIME 
CONSUMA-SE COM A MORA EM DEVOLVER OS VENCIMENTOS 
INDEVIDOS, APÓS NOTIFICAÇÃO. ART. 47 DA LEI Nº 9.527/97. 
Apelação contra sentença condenatória do réu como incurso no artigo 
313 c.c. o art. 71, ambos do CP. - No caso de vencimentos pagos a 
mais ao funcionário, a jurisprudência entende que o crime só se 
consuma quando este, chamado a dar conta, cai em mora e não os 
devolve (RT 521/355). O entendimento está harmônico com a nova 
redação do artigo 47 dado pela Lei n° 9527/97. Em 29.04.96 o 
acusado foi notificado para devolver o débito no valor de 23.942,59 
UFIR. Em 07.04.97 foi intimado a devolver 7.399,65 UFIR.29 
PECULATO. ARTIGO 312 DO CÓDIGO PENAL. VERBA PÚBLICA. Longe 
fica de configurar crime de peculato o emprego de verba pública em 
obra diversa da programada, fazendo-se ausente quer a apropriação, 
quer o desvio em proveito próprio ou alheio.30 
Temos que o sujeito ativo é sempre funcionário público, qualidade que se 
comunica, como já vimos, ao particular, que age em conjunto com o 
funcionário, conhecendo-lhe essa característica. Sujeito passivo constante 
será sempre o Estado. Eventualmente poderá ser o particular, quando este for 
o proprietário ou possuidor do bem lesado. 
 
28 TRF1, ACR 2000.01.00.003914-4/RR, relator Desembargador Federal Mário César Ribeiro, 
publicação DJ 05/02/2003. 
29 TRF3, ACR 2000.03.99.011516-0/SP, relator Juiz André Nabarrete, publicação DJ 29/10/2002. 
30 STF, AP 375/SE, relator Ministro Marco Aurélio, publicação DJ 17/12/2004. 
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Como já mencionado, perfeitamente cabível a aplicação do princípio da 
insignificância ao peculato, conforme se denota da notícia abaixo, veiculada no 
Infomativo 438 do STF: 
Princípio da Insignificância e Crime contra a Administração 
Pública 
Em conclusão de julgamento, a Turma, por maioria, deferiu habeas 
corpus impetrado em favor de militar denunciado pela suposta 
prática do crime de peculato (CPM, art. 303), consistente na 
subtração de fogão da Fazenda Nacional, não obstante tivesse 
recolhido ao erário o valor correspondente ao bem. No caso, o 
paciente, ao devolver o imóvel funcional que ocupava, retirara, com 
autorização verbal de determinado oficial, o fogão como 
ressarcimento de benfeitorias que fizera — v. Informativo 418. 
Reconheceu-se a incidência, na espécie, do princípio da 
insignificância e determinou-se o trancamento da ação penal. O 
Min. Sepúlveda Pertence, embora admitindo a imbricação da 
hipótese com o princípio da probidade na Administração, asseverou 
que, sendo o Direito Penal a ultima ratio, a elisão da sanção penal 
não prejudicaria eventuais ações administrativas mais adequadas à 
questão. Vencido o Min. Carlos Britto, que indeferia o writ por 
considerar incabível a aplicação do citado princípio, tendo em conta 
não ser ínfimo o valor do bem e tratar-se de crime de peculato, o 
qual não tem natureza meramente patrimonial, uma vez que 
atinge, também, a administração militar. O Min. Eros Grau, relator, 
reformulou seu voto.31 
2. INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMAS DE INFORMAÇÕES (art. 313-
A) 
Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de 
dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos 
sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração 
Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para 
outrem ou para causar dano: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
Esse novo tipo penal foi incluído pela Lei nº 9.983/200032, com vistas a 
proteger os sistemas informatizados da Administração Pública contra 
ingerências indevidas em seu conteúdo. 
 
31 STF, HC 87.478/PA, relator Ministro Eros Grau, julgamento em 29.8.2006, Informativos 418 e 
438. 
32 Publicada no DOU de 17/07/2000, entrou em vigor apenas 90 dias após, em 15/10/2000, 
prevendo, nesse interregno, uma vacatio legis, criticada por muitos. 
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Neste tipo temos como núcleos os verbos: inserir, facilitar, alterar ou excluir. É 
conhecido como tipo misto alternativo, de forma que, ainda que se aplique 
mais de um verbo a um mesmo sujeito passivo, considerar-se-á um tipo único. 
Só é admitido na forma dolosa, ou seja, fundamental a intenção do agente 
dirigida à pratica de alguma dessas condutas. Além disso, exige um fim 
específico, qual seja o de “obter vantagem indevida para si ou para outrem ou 
para causar dano”. 
HABEAS CORPUS. LIBERDADE PROVISÓRIA. CRIMES DE FORMAÇÃO 
DE QUADRILHA, ESTELINATO, CORRUPÇÃO E INSERÇÃO DE DADOS 
FALSOS NO SISTEMA INFORMATIZADO DO INSS. (...) O término do 
procedimento disciplinar não constitui condição de procedibilidade da 
ação penal, assim como decisão administrativa alguma vincula o 
Poder Judiciário, porquanto há independência das instâncias. O 
paciente foi condenado não só pelos crimes de inserção de dados 
falsos no sistema informatizado do INSS e estelionato, como também 
por corrupção passiva e formação de quadrilha, da qual foi 
considerado líder. O argumento de que não foram suspensos os 
benefícios revistos pelo réu não leva à conclusão de que praticou 
nenhuma conduta criminosa.33 
3. MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE 
INFORMAÇÕES (art. 313-B) 
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de 
informações ou programa de informática sem autorização ou 
solicitação de autoridade competente: 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade 
se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração 
Pública ou para o administrado. 
Também acrescentado pela Lei nº 9.983/2000, esse tipo penal visa proteger a 
incolumidade dos sistemas de informações e programas de informática da 
Administração Pública. 
Neste tipo temos como núcleos os verbos: modificar e alterar. É também um 
tipo misto alternativo, de forma que, ainda que se aplique mais de um verbo 
a um mesmo sujeito passivo, considerar-se-á um tipo único. 
Só é admitido na forma dolosa, ou seja, fundamental a intenção do agente 
dirigida à pratica de alguma dessas condutas, e não exige um fim específico. 
 
33 TRF3, HC 2004.03.00.010987-6/SP, relator Juiz André Nabarrete, publicação DJ 10/08/2004. 
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Seu parágrafo único prevê uma causa de aumento de pena, de um terço até 
metade, se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração 
Pública ou para o administrado. 
Tal dano é mero exaurimento do crime, já que sua consumação se dá com a 
modificação ou alteração do sistema de informações ou programa de 
informática, quando não autorizado. 
4. CONCUSSÃO (art. 316) 
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, 
ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, 
vantagem indevida: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. 
Trata-se da conduta do agente público que exige vantagem indevida em 
razão de sua função. 
É uma forma de extorsão praticada por funcionário público contra o particular. 
Se o crime é contra a ordem tributária, incide o tipo específico previsto na Lei 
nº 8.137/90, art. 3º, II, com grifos nossos: 
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos 
previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - 
Código Penal (Título XI, Capítulo I): (...) 
II – exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou 
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu 
exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar 
promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar 
tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena 
- reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. 
Em sendo esse um crime próprio, só pode ser praticado por funcionário 
público, ainda que antes de assumir sua função. 
Para se configurar o crime, fundamental a relação entre a exigência e o cargo, 
e que a vantagem seja indevida, atual ou futura, para si ou para outrem. 
Além disso, é importante ressaltar a correlação entre a concussão e outros 
tipos penais. 
Assim, se o ato não tem nenhuma relação com a função, não há concussão, 
podendo haver extorsão (art. 15834, CP). Se a vantagem beneficia a própria 
Administração, pode haver excesso de exação (art. 316, § 1º, CP), visto no 
próximo item. 
 
34 CP, art. 158 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de 
obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou 
deixar fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. 
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Se não exige, mas apenas solicita, há corrupção passiva (art. 317, CP), 
também visto adiante. Por outro lado, se é o particularque oferece, pode 
configurar, para este, a corrupção ativa (art. 33335, CP). 
Sendo crime formal, sua consumação independe do efetivo recebimento da 
vantagem indevida, sendo este o exaurimento do crime. 
Pode haver tentativa como, por exemplo, a realizada por escrito. 
Como casos práticos, veja decisões exemplificativas: 
RECURSO EM HABEAS CORPUS. CONCUSSÃO. PRISÃO PREVENTIVA. 
REVOGAÇÃO. PEDIDO PREJUDICADO. FLAGRANTE PREPARADO. 
INOCORRÊNCIA. (...) 2. A concussão é, di-lo Damásio E. de Jesus, 
"delito formal ou de consumação antecipada. Integra os seus 
elementos típicos com a realização da conduta de exigência, 
independentemente da obtenção da indevida vantagem" (in Código 
Penal Anotado, 17ª edição, Saraiva, 2005, p. 972). 3. Exigida a 
vantagem indevida, antes de qualquer intervenção policial, não há 
falar em ocorrência de flagrante preparado.36 
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CONCUSSÃO. 
ILEGITIMIDADE PASSIVA. NEGATIVA DE PARTICIPAÇÃO. MÉDICO 
CREDENCIADO PELO SUS. CONDUTA ANTERIOR À LEI Nº 
9.983/2000. ALTERAÇÃO DO § 1º, DO ARTIGO 327 DO CÓDIGO 
PENAL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO 
APLICABILIDADE. (...) 3. Mesmo que a conduta praticada em janeiro 
de 2000, antes da entrada em vigor da Lei 9.983/2000, que alterou o 
§ 1º, do artigo 327 do Código Penal, considera-se funcionário público 
para fins penais, o médico que realiza consulta pelo SUS. Incidência 
no caput do artigo 327, não havendo que falar em atipicidade pela 
modificação realizada pela Lei 9.983/2000. 4. O bem jurídico que se 
visa resguardar no crime de concussão é a Administração Pública, a 
confiabilidade de seus agentes. Inobstante a exigência de quantia 
mínima da vítima (quarenta reais), não é hábil a desqualificar a 
conduta a ponto de torná-la atípica por aplicação do princípio da 
insignificância, pois houve lesão ao Estado, sujeito passivo do 
crime.37 
PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE CONCUSSÃO. SISTEMA 
ÚNICO DE SAÚDE - SUS. COBRANÇA INDEVIDA DE SEGURADO. 
AGENTE PRIVADO. 1. A cobrança ou a complementação pelo 
segurado do preço do serviço prestado por médico ou por dirigente 
de hospital privado conveniado com o Sistema Único de Saúde - SUS, 
configura crime (concussão) da competência da justiça estadual, 
 
35 CP, art. 333 – Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-
lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e 
multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12/11/2003) 
36 STJ, RHC 15.933/RJ, relator Ministro Hamilton Carvalhido, publicação DJ 02/05/2006. 
37 STJ, RHC 17974/SC, relator Ministro Hélio Quaglia Barbosa, publicação DJ 13/02/2006. 
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visto que o prejuízo recai diretamente sobre o patrimônio do 
particular segurado, e não sobre o órgão previdenciário. Precedente 
do Supremo Tribunal Federal (HC nº 77.717-7/RS, in DJ 12/03/99).38 
PENAL. RECURSO ESPECIAL. CONCUSSÃO. ADMINISTRADORES DE 
HOSPITAL CONVENIADO AO SUS. FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS. 
EXERCÍCIO DE FUNÇÃO PÚBLICA DELEGADA. 1. O médico e o 
administrador de entidade hospitalar conveniada ao SUS exercem 
função pública delegada e, por isso, equiparam-se a funcionários 
públicos para fim de aplicação da legislação penal, entendimento que 
se sustenta mesmo antes do advento da Lei n. 9.983/00, que deu 
nova redação ao § 1º do art. 327 do Código Penal. 2. Por força do 
caput do art. 327 do Código Penal, o conceito de funcionário público, 
na seara penal, é amplo, incluindo todas as pessoas que exerçam 
cargo, emprego ou função pública.39 
Outro exemplo de concussão vê-se na conduta daquele que exige de um 
estelionatário determinada quantia para que sua confissão, prestada em 
depoimento lavrado em termo de declarações, não fosse enviada à Delegacia 
de Policia onde o suposto crime estava sendo investigado40. 
5. EXCESSO DE EXAÇÃO (art. 316, §§ 1º e 2º) 
Art. 316 (...) 
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe 
ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança 
meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. 
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o 
que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 
O excesso de exação é um tipo de concussão, sendo diferenciado deste 
especialmente pelo fim a que se destina, é dizer, o funcionário público não 
busca proveito próprio ou alheio, mas sim atua com excesso. 
O tipo penal não exige que o funcionário tenha como atribuição a arrecadação 
tributária, podendo caracterizar-se ainda quando o agente não tenha tal 
competência. 
Subdivide-se o tipo em duas figuras: 
 
38 TRF1, RCCR 2002.38.03.005426-8/MG, relator Desembargador Federal Olindo Menezes, 
publicação DJ 21/10/2005. 
39 STJ, REsp 252.081/PR, relator Ministro Arnaldo Esteves Lima, publicação DJ 24/04/2006. 
40 STJ, HC 43.416/RS, relator Ministro Og Fernandes, julgado em 24/03/2009. 
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I – exigência indevida de tributo ou contribuição social: neste caso, o sujeito 
ativo cobra exação que sabe indevida. A elementar aqui é a expressão 
“indevido”; se devido o tributo, a conduta é atípica, salvo configurar outro 
delito ou a hipótese seguinte; 
II – cobrança através de meio vexatório ou gravoso: embora devidos os 
valores pelo contribuinte, o sujeito ativo cobra de forma não admitida na lei. É 
vexatório o meio que humilha, envergonha o sujeito passivo. Gravoso é aquele 
que exige maiores despesas. Se houver previsão legal, a conduta é atípica. 
Em ambos os casos, exige-se o dolo, vontade livre e consciente de cobrar 
tributo ou contribuição social que “sabe”, ou “deveria saber”, indevido. 
Sendo crime formal, consuma-se no momento da exigência, independente do 
pagamento, que, se ocorre, é exaurimento do crime. 
Admite-se a tentativa. 
É previsão do parágrafo 2º um tipo qualificado, com penas maiores no caso do 
funcionário que desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu 
indevidamente para recolher aos cofres públicos. Esse tipo com penas 
agravadas aplica-se tão somente ao excesso de exação, e não à figura do 
caput, concussão. 
Assim, o sujeito ativo recebe imposto ou contribuição, indevidamente, para 
recolher aos cofres públicos e, em seguida, desvia o valor recebido. 
Se o desvio ocorre após o pagamento do imposto, há peculato. 
Neste caso, a consumação dá-se com o efetivo desvio, sendo possível a 
tentativa. 
PENAL. PROCESSO PENAL. EXCESSO NA EXAÇÃO DESCLASSIFICADO 
PARA CONCUSSÃO. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE REDUZIDA. 1. A 
exigência de vantagem indevida, em razão da função, configura o 
crime de concussão, previsto no artigo 316, 'caput', do CPB e não o 
de excesso de exação, tipificado do parágrafo 2º, pois esta forma 
pressupõe recebimento de tributo indevidamente com a finalidade de 
recolher aos cofres públicos. 2. A condição de funcionário público e a 
obtenção de ganhos indevidos são elementos inerentes ao tipo 
previsto no artigo 316, 'caput', do CPB. Por essa razão, não podem 
ser considerados como causas de agravamento da pena privativa de 
liberdade imposta ao réu.41 
HABEAS CORPUS. COBRANÇA DE EMOLUMENTOS EM VALOR 
EXCEDENTE AO FIXADO NO REGIMENTO DE CUSTAS. 
CONSEQÜÊNCIA. 1. Tipifica-se o excesso de exação pela exigência de 
tributo ou contribuição social que o funcionário sabeou deveria saber 
indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório 
ou gravoso, que a lei não autoriza. 2. No conceito de tributo não se 
 
41 TRF4, EINACR 95.04.16896-5/RS, relator Desembargador Federal Vladimir Passos de Freitas, 
publicação DJ 04/09/2002. 
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inclui custas ou emolumentos. Aquelas são devidas aos escrivães e 
oficiais de justiça pelos atos do processo e estes representam 
contraprestação pela prática de atos extrajudiciais dos notários e 
registradores. Tributos são as exações do art. 5º do Código Tributário 
Nacional. 3. Em conseqüência, a exigibilidade pelo oficial registrador 
de emolumento superior ao previsto no Regimento de Custas e 
Emolumentos não tipifica o delito de excesso de exação, previsto no 
§ 1º, do art. 316 do Código Penal, com a redação determinada pela 
Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990.42 
Destaque-se que o Código de Defesa do Consumidor contém crime parecido. 
Contudo, pelo princípio da especialidade, será aplicado o tipo a seguir 
reproduzido quando não se tratar de exigência tributária por funcionário 
público: 
Art. 71. Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, 
constrangimento físico ou moral, afirmações falsas incorretas ou 
enganosas ou de qualquer outro procedimento que exponha o 
consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu 
trabalho, descanso ou lazer: Pena Detenção de três meses a um ano 
e multa. 
6. CORRUPÇÃO PASSIVA (art. 317) 
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou 
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas 
em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal 
vantagem: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. 
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da 
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar 
qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. 
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de 
ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou 
influência de outrem: 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. 
O tipo relativo à corrupção envolve dois aspectos distintos, um quanto ao 
sujeito que corrompe, e outro quanto ao corrompido. O Código Penal brasileiro 
optou por separar ambas as condutas em dois tipos penais distintos. Um deles 
é o aqui reproduzido, topologicamente localizado no Capítulo destinado aos 
crimes praticados por servidores públicos contra a Administração Pública. O 
outro, dito corrupção ativa, está posicionado no Capítulo II, dos crimes 
praticados por particular contra a administração em geral, e assim foi redigido: 
 
42 STJ, RHC 8.842/SC, relator Ministro Fernando Gonçalves, publicação DJ 13/12/1999. 
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Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário 
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação 
dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) 
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da 
vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, 
ou o pratica infringindo dever funcional. 
Em função da proximidade, é bastante comum questões de concursos 
confundindo ambos os crimes, portanto ressaltemos cada um deles: 
I – corrupção ativa: particular que oferece ou promete vantagem indevida; 
II – corrupção passiva: funcionário público que solicita, recebe ou aceita 
promessa vantagem indevida. 
Repetindo, o crime praticado por servidores públicos contra a Administração 
Pública é o de corrupção passiva, e é neste que vamos fixar nossos 
comentários. 
Como visto, o sujeito ativo desse tipo é o funcionário público, ainda que fora 
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, ou seja, aproveita-se do 
fato de ser funcionário, ou de vir a ser funcionário público, para obter ou tentar 
obter vantagem indevida. 
Quando solicita, é o funcionário que toma a iniciativa da conduta delituosa. 
Por outro lado, quando recebe, quem toma a iniciativa é o particular, que, no 
caso, também estará praticando crime, a corrupção ativa. 
Relembre-se que o funcionário que “exige” pratica concussão43. 
Se o ato a ser praticado pelo servidor for ilegal, diz-se que a corrupção é 
própria, chamando-se imprópria quando o ato é lícito. 
Assim, deve haver correlação entre a ação do agente público e a realização ou 
não do ato administrativo. Se cobra vantagem desvinculada de qualquer ação 
ou omissão relativa a suas atribuições, não se configura este tipo, podendo, no 
entanto, enquadrar-se noutro previsto na lei penal. 
Aliás, esse art. 317 prevê a hipótese genérica da corrupção passiva. A 
depender da situação, a conduta poderá ter enquadramento diferente, em 
outras regras específicas, como no caso de crime contra a ordem tributária ou 
aquele praticado por testemunha, perito, tradutor ou intérprete judicial. 
Vigora, aqui, o princípio da especialidade. Vejamos esses dois casos, com 
grifos nossos: 
 
43 STF, HC 89.686/SP, relator Ministro Sepúlveda Pertence, publicação DJ 17/08/2008: 
Concussão e corrupção passiva. Caracteriza-se a concussão - e não a corrupção passiva - se a 
oferta da vantagem indevida corresponde a uma exigência implícita na conduta do funcionário 
público, que, nas circunstâncias do fato, se concretizou na ameaça. 
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Lei n° 8.137/90, art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem 
tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): (...) 
II – exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou 
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu 
exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar 
promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar 
tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena 
- reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. 
CP, art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade 
como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em 
processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo 
arbitral: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Pena - 
reclusão, de um a três anos, e multa. 
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é 
praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter 
prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo 
civil em que for parte entidade da administração pública direta ou 
indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) 
A corrupção é ainda dividida quanto ao momento da entrega da vantagem 
indevida: se feita antes de realizado o ato, diz-se antecedente; se 
posterior, chama-se subseqüente. 
A vantagem a ser recebida deve ser indevida, tratando-se de elemento 
normativo do tipo, cuja ausência torna a ação atípica nesse sentido, podendo 
enquadrar-se noutro crime, a depender do caso. 
Mas não é o recebimento de qualquer vantagem que será considerado crime. 
Presentes dados em reconhecimento pela atuação do servidor, dentro de 
certos limites, são admitidos, desde que não configurem uma contraprestação 
específicapela realização de algum ato de ofício. Assim, presentes dados 
genericamente aos funcionários, como no Natal, podem ser tidos como 
regulares, a depender da análise concreta do caso. 
Nesse sentido, o Presidente da República baixou o Decreto de 26/05/1999, que 
criou a Comissão de Ética Pública. Em seu art. 9º previu que, como regra, a 
autoridade pública não pode aceitar presentes, salvo de autoridades 
estrangeiras nos casos protocolares em que houver reciprocidade. Porém, 
não se consideram presentes os brindes que (art. 9º, parágrafo único): 
I – não tenham valor comercial; ou 
II – distribuídos por entidades de qualquer natureza a título de 
cortesia, propaganda, divulgação habitual ou por ocasião de eventos especiais 
ou datas comemorativas, não ultrapassem o valor de R$ 100,00 (cem 
reais). 
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Entre todas essas figuras (solicitar, receber ou aceitar), só cabe a tentativa no 
caso da primeira (solicitar), se feita por escrito, por exemplo, tendo sido 
interceptada a missiva antes de chegar ao seu destino. 
Sendo um crime formal, a consumação independe do efetivo recebimento de 
qualquer valor ou de prática de qualquer ato administrativo pelo servidor. 
Se, além de prometer fazer ou deixar de fazer algo em troca da vantagem 
indevida, com infração de dever funcional, o agente cumpre a promessa, 
aumenta-se a pena em um terço (causa de aumento de pena, art. 317, § 
1º). Trata-se de caso no qual o exaurimento do crime gera uma penalidade 
maior. Como o ato praticado é ilícito, diz-se que se trata de corrupção passiva 
própria. Se pratica ato lícito, não incide essa causa de aumento de pena, e 
chama-se de corrupção passiva imprópria. 
Tem-se um tipo privilegiado se o funcionário pratica, deixa de praticar ou 
retarda ato de ofício, com infração de dever funcional (corrupção passiva
própria privilegiada), cedendo a pedido ou influência de outrem (art. 
317, § 2º). Como há uma espécie de “justificativa” para seu crime, previu-se 
uma pena, em abstrato44, menor. Neste caso, o agente age “a pedido” de 
alguém, pouco importando se é influente ou não. 
CORRUPÇÃO PASSIVA. ART. 317, 71 E 29 DO CP. 
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O CRIME DO ART. 321 DO CP 
(ADVOCACIA ADMINISTRATIVA). INVIABILIDADE. LEI 9.268/96. 
PERDA DO CARGO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Pratica o crime 
de corrupção passiva a agente do INSS que, com o auxílio de 
comparsas, mediante contrato de prestação de serviços, 
compromete-se a agilizar a concessão da revisão do benefício 
previdenciário a pensionistas da autarquia, mediante o pagamento de 
um percentual sobre o valor conseguido a maior. 2. Não é viável a 
desclassificação para o crime do art. 321 do CP, visto que a tarefa a 
que a agente propôs-se a executar, fazia parte de suas funções 
rotineiras. Ademais, a vantagem indevida, não consistia em mera 
retribuição por serviços prestados, mas sim em verdadeira solicitação 
por parte da fiscala do instituto.45 
7. FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO (art. 318) 
Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de 
contrabando ou descaminho (art. 334): 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada 
pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) 
 
44 Pena em abstrato é a pena prevista na lei penal, variando entre um mínimo e um máximo. 
Pena em concreto é aquela fixada pelo juiz, analisando o caso concreto. 
45 TRF4, ACR 1999.04.01.134886-7/PR, relator Desembargador federal Vladimir Passos de 
Freitas, publicação DJ 28/08/2002. 
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Para bem entender esse tipo penal, importante saber o que vem a ser o 
contrabando e o descaminho, crimes praticados por particular contra a 
administração em geral: 
Art. 334 - Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no 
todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela 
entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos. 
§ 1º - Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 
4.729, de 14/07/1965) 
a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em 
lei; (Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14/07/1965) 
b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou 
descaminho; (Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14/07/1965) 
c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer 
forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade 
comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que 
introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente 
ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território 
nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; (Incluído 
pela Lei nº 4.729, de 14/07/1965) 
d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no 
exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de 
procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal, 
ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. (Incluído 
pela Lei nº 4.729, de 14/07/1965) 
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste 
artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de 
mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. 
(Redação dada pela Lei nº 4.729, de 14/07/1965) 
§ 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou 
descaminho é praticado em transporte aéreo. (Incluído pela Lei nº 
4.729, de 14/07/1965) 
Nesses termos, contrabando é importar ou exportar mercadoria 
proibida; descaminho é iludir, no todo ou em parte, o pagamento de 
direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de 
mercadoria, é dizer, importar/exportar/consumir produto lícito sem pagar os 
valores devidos. 
Importante guardar bem essa diferença: o crime do particular é o de praticar o 
contrabando ou descaminho; o crime do funcionário público é o de facilitar, 
com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho. 
Tecnicamente falando, o agente que ajuda o contrabandista é partícipe do 
crime de contrabando. Porém, preferiu o legislador criar um tipo específico 
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para essa conduta, respondendo, então, o funcionário pelo art. 318, enquanto 
que o contrabandista responde pelo crime previsto no art. 334. 
Como sujeito ativo temos o funcionário público que tem como competência o 
dever de evitar ou fiscalizar o contrabando, ou cobrar os impostos devidos. 
Segundo a CF/88: 
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e 
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem 
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos 
seguintes órgãos: 
I - polícia federal; 
II - polícia rodoviária federal; 
III - polícia ferroviária federal; 
IV - polícias civis; 
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, 
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-
se a: ... 
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação 
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de 
competência; ... 
Então, não é apenas a Polícia Federal que tem competência constitucional para 
prevenir e reprimir o contrabando e o descaminho, incluindo-se as demais 
políciase os agentes da Receita Federal. Desta forma, tais são os agentes que 
podem praticar o crime de facilitação do contrabando e do descaminho. 
Fundamental a existência da “infração ao dever funcional” (elemento 
normativo do tipo), sem qual torna-se o fato atípico quanto a esse crime. 
Se um servidor auxilia no contrabando, sem infringir seu dever funcional, 
responderá como partícipe do crime de contrabando (art. 334). 
O crime pode ser praticado tanto na modalidade comissiva quanto omissiva, 
sendo passível de tentativa apenas na primeira hipótese. 
Sendo crime formal, independe, para sua consumação, da efetividade do 
contrabando ou descaminho. A mera facilitação basta para sua consumação. 
Não se confunde este com o crime de prevaricação, visto a seguir, pois, na 
facilitação, há participação tanto de quem corrompe quanto do corrompido. 
Como veremos, na prevaricação, só há atuação do funcionário público. 
PENAL. FACILITAÇÃO AO CONTRABANDO OU DESCAMINHO. 
CORRUPÇÃO PASSIVA. 1. A prova, suficiente à comprovação da 
prática do tipo do art. 318 do CP, pode ser insuficiente para tipificar a 
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conduta do art. 317, cuja figura exige solicitação, recebimento ou 
promessa de vantagem indevida.46 
FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO E DESCAMINHO. ART. 318 DO 
CÓDIGO PENAL. ESCUTA TELEFÔNICA AUTORIZADA 
JUDICIALMENTE. NULIDADE E CERCEAMENTO DE DEFESA 
INEXISTENTES. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS. 
SUJEITO ATIVO. DEVER FUNCIONAL. (...) 4. A materialidade do 
delito previsto no art. 318 do CP mostra-se indiscutível, restando a 
autoria evidenciada pela prisão em flagrante, transcrição de 
conversas telefônicas e demais elementos probatórios coligidos aos 
autos. 5. O Patrulheiro Rodoviário Federal, cujo cargo foi 
transformado para o de Policial Rodoviário Federal com a Lei 
9.654/98, tinha o dever funcional de combater e reprimir o 
contrabando e descaminho, razão pela qual pode ser ele sujeito ativo 
do delito tipificado no art. 318 do CP.47 
FACILITAÇÃO AO CONTRABANDO OU DESCAMINHO. ART. 318 DO 
CP. PROVA TESTEMUNHAL. VALOR PROBANTE. PRINCÍPIO DO LIVRE 
CONVENCIMENTO MOTIVADO. AUTORIA E MATERIALIDADE. 
COMPROVADAS. SUJEITO ATIVO. PATRULHEIRO RODOVIÁRIO 
FEDERAL. CONSUMAÇÃO. (...) 2. O policial rodoviário federal que 
facilita a prática de contrabando ou descaminho, consciente de estar 
infringindo dever funcional, sujeita-se às penas estabelecidas no art. 
318 do Código Penal. 3. Se a prova testemunhal encontra arrimo nos 
demais elementos de convicção coligidos aos autos deve ser admitida 
como suporte da acusação, podendo o juiz atribuir-lhe o valor que 
entender apropriado, forte no princípio do livre convencimento 
motivado. 4. O cargo de patrulheiro rodoviário federal, com o 
advento da Lei nº 9.654/98 (art. 1º, par. único), foi transformado em 
cargo de policial rodoviário federal. Logo, o patrulheiro rodoviário 
federal não só pode ser sujeito ativo do crime capitulado no art. 318 
do CP, como tem o dever funcional de reprimir e combater a prática 
do contrabando e do descaminho. 5. O tipo penal descrito no art. 318 
do CP é formal e se consuma com a simples ação de facilitar, com 
infringência de dever funcional, independentemente da solicitação de 
qualquer vantagem em favor do agente ou de terceiro ou de se 
efetivar o contrabando ou o descaminho.48 
PENAL. FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO. ART. 
318. POLICIAL CIVIL. COMPETÊNCIA. FLAGRANTE DELITO. 1. As 
autoridades policiais civis têm o dever funcional de reprimir o ilícito 
penal previsto no art. 334 do CP, ainda que não seja de sua 
 
46 TRF1, ACR 1999.01.00.010509-1/MG, relator Juiz Cândido Moraes, publicação DJ 20/02/2003. 
47 TRF4, ACR 2004.04.01.012540-6/RS, relator Desembargador Federal Tadaaqui Hirose, 
publicação DJ 15/03/2006. 
48 TRF4, ACR 2004.04.01.039550-1/RS, relator Desembargador Federal Paulo Afonso Brum Vaz, 
publicação DJ 18/05/2005. 
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competência, quando se deparam com agentes em flagrante delito, 
situação em que os infratores deverão ser conduzidos a quem de 
direito.49 
ART. 318 DO CP. FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU 
DESCAMINHO. TIPO OBJETIVO. TIPO SUBJETIVO. NÃO 
COMPROVAÇÃO. ART. 319 DO CP. PREVARICAÇÃO. OCORRÊNCIA. 
SENTIMENTO PESSOAL. DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL. (...) 2. O 
tipo objetivo da infração do art. 318 do CP é tornar fácil, auxiliar, 
afastar as dificuldades para a prática do contrabando ou 
descaminho. Mas não só isso. Há que restar comprovado também o 
tipo subjetivo, ou seja, a vontade do agente em facilitar, com a 
consciência de estar infringindo dever funcional, ponto este que não 
restou provado nos autos, uma vez que a prova testemunhal deixou 
claro que o agente deixou de vistoriar o ônibus em razão de uma 
disputa interna, de uma disputa de poder, de autoridade, entre 
membros da mesma Polícia. 3. A prova aponta porém, para a prática 
do outro delito, que fora objeto da denúncia, previsto no art. 319 do 
CP, prevaricação, uma vez que, embora não movido por interesses 
econômicos ou materiais, o agente, delegado da Polícia Federal, por 
sentimento pessoal, deixou de praticar ato de ofício, 
indevidamente.50 
HABEAS CORPUS. INOCORRÊNCIA DO CRIME DE FACILITAÇÃO DE 
CONTRABANDO. AUSÊNCIA DE VÍNCULO SUBJETIVO A DEMONSTRAR 
O CONCURSO DE PESSOAS. 1. O crime do art. 318 do Código Penal 
tem como pressuposto a infração a dever funcional, somente 
podendo ser praticado pelo funcionário que tem, como atribuição 
legal, prevenir e reprimir o contrabando ou descaminho. 2. Assim, 
não pratica o delito em questão o funcionário estadual, em cujas 
atribuições não se incluir a repressão ao crime do art. 334 do Código 
Penal.51 
Especificamente quanto ao descaminho e à possibilidade ou não de aplicação 
do princípio da insignificância e o valor limite para tal, houve muita discussão 
jurisprudencial, divergindo o STF do STJ. Contudo, recentemente isso foi 
pacificado, como já citado alhures. 
A jurisprudência do STF se firmou no sentido de ser possível sua aplicação, 
desde que o valor do tributo sonegado não ultrapasse R$ 10.000,00. O STJ 
tinha posição no sentido de que tal limite seria R$ 100,00. 
Veja alguns julgados: 
 
49 TRF4, AC 2002.71.05.008927-5/RS, relator Desembargador Federal Edgard Antônio Lippmann 
Júnior, publicação DJ 15/10/2003. 
50 TRF4, ACR 1999.70.02.003776-2/PR, relator Desembargador Federal José Luiz B. Germano da 
Silva, publicação DJ 25/09/2002. 
51 TRF1, HC 1999.01.00.017549-9/RO, relator Juiz Osmar Tognolo, publicação DJ 10/09/1999. 
CURSO ON-LINE - DIREITO ADMINISTRATIVO P/ AFRFB 
(Curso complementar com a parte de Dir. Penal, Lei 8.112 e Ética) 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
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CRIME DE DESCAMINHO. O arquivamento das execuções fiscais cujo 
valor seja igual ou inferior ao previsto no artigo 20 da Lei n. 
10.522/02 é dever-poder do Procurador da Fazenda Nacional, 
independentemente de qualquer juízo de conveniência e 
oportunidade. Inadmissibilidade de que a conduta seja irrelevante 
para a Administração Fazendária e relevante no plano do direito 
penal. O Estado somente deve ocupar-se das condutas que 
impliquem grave violação ao bem juridicamente tutelado [princípio 
da intervenção mínima em direito penal]. Aplicação do princípio da 
insignificância (HC 95.089/PR e HC 92.438/PR, DJ 19/12/2008, 
Informativo 516). 
A relevância penal da conduta imputada é de ser investigada a partir 
das diretrizes do artigo

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