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Fichamento Seculo Serio

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Introdução aos Estudos Literários II
Professor: Fábio Andrade
Nicole Gama Antonio - 8608541
	MORETTI, Franco – O século sério. Tradução de Denise Bottmann. In A Cultura do Romance. São Paulo: CosacNaify, 2009.
	pp. 823-863
	Tema: Seriedade na literatura do século XIX.
	Ideias do autor: Estabelecer uma perspectiva do século dezenove, como um século histórico-socialmente sério através das evidências encontradas nos romances, como “preenchimento cotidiânico”, atenção ao escrever e o uso do discurso indireto-livre.
	Palavras-chave: Seriedade. Século XIX. Burguesia. Conservadorismo. Romance. Preenchimento. Bifurcação. Cotidiano. Racional. Realismo. Descrição. Discurso indireto livre. Estilo.
Citações
“(...)alguns grandes valores do século XIX: a impessoalidade, a precisão, a conduta de vida regular e metódica, certo distanciamento emotivo, em uma palavra (uma palavra que sempre voltará), a ‘seriedade’.” p. 823
 “Bifurcação é um ‘possível’ desdobramento da trama; o preenchimento não, é aquilo que acontece entre uma mudança e outra.” p.826
 “Narração: mas do cotidiano. São esses os preenchimentos.” p.827.
“Sério, como na fórmula mágica- ‘imitação séria do cotidiano’ – com a qual Auerbach define o realismo (e já para os Goncourt, no prefácio a Germinie Lacerteux, o romance era ‘a grande forma séria’). Sério: ‘alheio à superficialidade e às frivolidades’ (Bataglia)” p. 827
“O cotidiano se libertou. E tomou um pouco todos de surpresa (...)” p.835
“(...) nas bifurcações; estas são intensas, bruscas, não permitem olhar ao redor com calma; os preenchimentos são suaves, concedem o tempo suficiente para observar os detalhes, para ser precisos (e também um pouco mais ‘imparciais’, dirá The Heart Of Mid-Lothian).” p.836-837
“Trata-se de uma real ‘descoberta’ do cotidiano, a operada pelo romance da primeira parte do século XIX: a trama se adensa, enche-se de mil coisas (como quase tudo na época: as nações se enchem de estradas, depois, de ferrovias; as cidades, de casas, estas, de móveis, os móveis, de infinitos objetos...).” p. 837
“Mas é como se o século XIX quisesse subtrair o cotidiano ao tédio: estremece-lo, fazer dele narração” p.837-838
“Assim, toma forma a urdida secreta daquilo que Mann chamava ‘o meio milênio burguês’. São os ‘ritmos ocultos’ analisados por Zerubavel: aquelas atividades regulares, repetidas, que ‘interferem nos desejos espontâneos do indivíduo’ e que com eles ‘enrijecem’ a vida.” p.842
“(...) o preenchimento é uma tentativa de racionalizar o romance” p. 842
“(...) Por meio do preenchimento a lógica de racionalização investe a própria forma do romance, seu ritmo narrativo”.
“Não um dom, mas uma disciplina: eis o romance do século XIX.” p.845 
“A contenção dos próprios desejos imediatos não é aqui mera repressão: é cultura, estilo.” p. 846
“O estilo analítico-impessoal emerge não tanto na história, mas nas descrições.” p.850
“Descrever significa fixar o curso dos acontecimentos – a rigor: para fazer isso, é necessário parar de narrar – (...)” p. 851
“Mas se os conteúdos das diversas descrições podem ser efetivamente mais ou menos neutros, a forma da descrição, ao contrário, persegue um projeto que não é neutro(...) fixar a história.” p.853
“(...) e essa mistura de narrações burguesas e descrições conservadoras nos faz entender uma verdade importante sobre o romance do século XIX (e talvez sobre a literatura em geral): ele dá o melhor de si ao forjar um compromisso entre sistemas ideológicos diversos.” p.854
“(...) o estilo indireto livre é um lugar de encontro entre discurso direto e indireto, entre personagem e narrador, entre diegese e mimese” p.855
“Por um lado, de fato, o capitalismo moderno necessita de energiasubjetiva um pouco além da média; quer a originalidade e o espirito empreendedor de uma Elizabeth Bennet, por assim dizer (pelo menos da classe média para cima). Por outro, porém, a racionalização das relações sociais também exige o nivelamento, a ‘impessoalidade’, abstração tão bem representados pela voz narrativa de Austen. Bem, o estilo indireto livre é a técnica ideal para dar forma a este compromisso: deixam o espaço livre à voz individual (...); mas ao mesmo tempo mistura e subordina a expressão individual ao tom abstrato e suprapessoal do narrador.” p.858
“É um estilo tolerante, indireto livre, mas é também sempre o estilo da socialização:não da individualidade.” p.859
“(...) Madame Bovary é a realização lógica daquele processo que subtraiu a literatura europeia às suas antigas funções didática: o narrador que tudo sabe e tudo julga sai de cena, substituído justamente por doses maciças de estilo indireto livre.” p.861
“Assim termina o século sério do romance europeu. Essa forma ‘weberiana’ em que o tempo se regulariza, as coisas se tornam graves, a personalidade se oculta e a língua se nivela. Essa forma que nasce metade burguesa e metade conservadora e que não se livra dessa dupla hipoteca, e que deve, aliás, tanto da sua inteligência histórica. Essa forma séria, e um pouco triste, que com tanto empenho busca mudar o imaginário da Europa, e torna-lo, como se diz, menos romanesco.“ p.863
Conclusão
Franco Moretti constrói sua teoria a respeito da “seriedade” do século XIX através de uma série de evidências históricas e literárias. O autor correlaciona os estilos dos romances deste século às características ideológicas e sociais, como a impessoalidade, a precisão, a conduta da vida regular e cotidianica, a burguesia, o conservadorismo e o capitalismo. Os “preenchimentos”, fatos não cruciais das obras, as descrições precisas e especializadas e o discurso indireto livre relacionam-se, respectivamente, à crescente importância do cotidiano burguês do século, à racionalização capitalista metódica weberiana e à impessoalidade e noção do tom abstrato suprapessoal.

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