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AS FRONTEIRAS VERTICAIS DAS EMPRESAS Prof. Sérgio Lima, MSc. 07/Out/13 PARTE I: cadeia vertical e o dilema produzir vs. comprar PARTE II: Razões para Comprar (Mercado) PARTE III: Razões para Produzir (Integração Vertical) AGENDA CADEIA VERTICAL E O DILEMA PRODUZIR VS. COMPRAR PARTE I 1. Definição de cadeia de valor: “É o processo que começa com a aquisição de matérias-primas e termina com a venda e distribuição de bens e serviços acabados.” (BESANKO et al., 2012) Uma questão central em estratégia empresarial é a decisão entre (1) organizar as atividades em uma única empresa, ou (2) delegar atividades para empresas independentes do mercado? (1) Execução própria Integração Vertical (PRODUZIR) (2) Encomendar ao mercado Desintegração (COMPRAR) DEFINIÇÃO DAS FRONTEIRAS VERTICAIS DA EMPRESA 2. Exemplo de cadeia de valor (genérica): Fornece- dor MP Beneficia- dor Montador Atacadista Varejista A montante A jusante EMPRESAS DE MERCADO (ESPECIALISTAS) INTEGRAR A JUSANTE INTEGRAR A MONTANTE Definir as fronteiras verticais é determinar até onde a empresa irá produzir (ela própria) e quais etapas ela delegará a especialistas de mercado (comprar). ANÁLISE BENEFÍCIO VS. CUSTO 3. Custos e benefícios de recorrer ao mercado: CUSTOS BENEFÍCIOS Potencial comprometimento da coordenação ao longo da cadeia, gerando disfunções. Empresas de mercado podem usufruir de ganhos de escala que internamente são inviáveis. Possibilidade de vazamento de informações estratégicas. Por serem especialistas, também têm ganhos decorrentes de aprendizagem. Pode haver custos de negociar com empresas de mercado. Por estarem no mercado, precisam ser eficientes e inovadoras, enquanto internamente algumas ineficiências poderiam passar despercebidas. 4. Alguns sofismas do “produzir ou comprar”: I. As empresas devem produzir um bem em vez de comprá-lo, se esse bem for fonte de vantagem competitiva; A empresa deve sempre obter um bem pela fonte mais barata, mesmo que seja o mercado; Neste caso, um bem facilmente obtido no mercado não deveria ser fonte de vantagem competitiva. II. As empresas devem comprar um bem em vez de produzi-lo, evitando assim os custos de fabricação; Os custos de fabricação repassados a um especialista serão de alguma forma cobrados; além disso, há os riscos de problemas de coordenação e ineficiência que têm que ser mitigados. 4. Alguns sofismas do “produzir ou comprar”: III. As empresas devem produzir em vez de comprar, para capturar as margens dos fornecedores, em vez de pagá-las; Essa margem pretendida não leva em consideração o lucro econômico (que contempla os custos implícitos como custos de oportunidade, p. ex.). Considera apenas o lucro contábil; Além disso, deve haver alguma razão porque tal margem “tão lucrativa” não atrai outros concorrentes, reduzindo os preços (elevados custos de entrada, expertise, etc.). 4. Alguns sofismas do “produzir ou comprar”: IV. As empresas devem produzir em vez de comprar, para obter insumos a “preço de custo” e se proteger de flutuações em seus preços, decorrentes de pico de demanda ou escassez; Embora integrar verticalmente reduza os riscos decorrentes das altas de preços dos insumos, pelo mesmo custo da integração seria possível (i) criar uma reserva de capital junto a bancos para superar tais flutuações; ou (ii) recorrer a contratos de longo prazo com fornecedores (hedging). 4. Alguns sofismas do “produzir ou comprar”: V. As empresas devem produzir em casa para “amarrar” um canal de distribuição, ganhando mercado às custas dos rivais; Controlar o canal de distribuição impedindo de vender para concorrentes ou determinando preços mais elevados pode ir de encontro às leis de defesa da livre concorrência (antitruste); Além disso, a aquisição de um ente da cadeia a jusante pode ter um elevado custo. Isso tem maior impacto se, para os concorrentes, não for tão difícil abrir novos canais. RAZÕES PARA COMPRAR (MERCADO) PARTE II 1. Por que as empresas “compram” (delegam ao mercado)? Economias de Escala e de Aprendizagem Eliminação de Burocracia 2. Economias de escala e curvas de aprendizagem: I. As empresas de mercado podem possuir informações proprietárias ou patentes que lhes garantam custos menores; II. Por agregarem a demanda de vários clientes, tais empresas podem usufruir de economias de escalas; III. Por serem especialistas e atenderem a vários clientes, as empresas de mercado podem tirar vantagem da experiência e obter economias de aprendizagem. 2 Cu st o m éd io A B S Qtde. de automóveis/freios produzida Q* 2. Economias de escala e curvas de aprendizagem: 1. PRODUZIR (Integrar verticalmente, própria GM); 2.1 PRODUZIR e vender o excedente para concorrentes; 2.2 COMPRAR (Delegar para a ABS Systems). MES: Minimum efficient scale (Escala de eficiência mínima) Q’ Q” C* C’ O exemplo da fabricação de freios ABS (pela ABS Systems) e de automóveis (pela GM): 1 3. Eliminação da burocracia: I. Custos de agência: i. Custos das negligências; ii. Custos de controle e monitoramento para evitá-las; Os custos de agência podem passar despercebidos em uma estrutura integrada verticalmente, sendo assim, de mais difícil detecção. 3. Eliminação da burocracia: II. Custos de influência: i. Custos relacionados ao ato de realizar lobbying; ii. Custos decorrentes das más decisões tomadas sob tal influência; A alocação de recursos entre as várias divisões de uma organização é um processo permeado de jogo político e lobby. RAZÕES PARA PRODUZIR (INTEGRAÇÃO VERTICAL) PARTE III 1. A importância dos contratos: I. As empresas não confiam totalmente em seus parceiros de negócios; II. Relacionam os grupos de tarefas que cada uma das partes espera que a outra execute; III. Especificam sanções em caso de descumprimento de obrigações. 2. A eficiência dos contratos: I. Corpo de leis de proteção a contratos (segurança jurídica, legal e institucional); II. Completude (completeness). Existem contratos completos? 3. A incompletude dos contratos: INCOMPLETUDE DOS CONTRATOS Informação Assimétrica Desempenho Inobservável Racionalidade Limitada - Má coordenação entre as etapas da cadeia; - Relutância dos parceiros em desenvolver ou compartilhar informações estratégicas; - Custos de transação. Razões que levam uma empresa a “Produzir” em vez de “Comprar” 3.1. Racionalidade limitada (Herbert Simon): A capacidade dos indivíduos de processar informações, lidar com a complexidade e buscarem objetivos racionais é limitada! Não é possível prever todas as contingências possíveis durante uma transação. NÃO É POSSÍVEL ELABORAR CONTRATOS COMPLETOS! 3.2. Desempenho inobservável: Na tentativa de buscar [sem sucesso] todas as formas possíveis de especificar e medir o desempenho, muitas vezes os contratos são redigidos com linguagem evasiva, vaga; 3.3. Informação assimétrica: Mesmo que fosse viável prever todas as contingências, e mesmo que o desempenho fosse totalmente observável, sempre haverá informações conhecidas por só uma das partes Oportunismo! NÃO É POSSÍVEL ELABORAR CONTRATOS COMPLETOS! 4. Surgem então as motivações para “Produzir”: INCOMPLETUDE DOS CONTRATOS Informação Assimétrica Desempenho Inobservável Racionalidade Limitada - Má coordenação entre as etapas da cadeia; - Relutância dos parceiros em desenvolver ou compartilhar informações estratégicas;- Custos de transação. Razões que levam uma empresa a “Produzir” em vez de “Comprar” 4.1. Má coordenação entre as etapas da cadeia: Coordenação: a melhor ação para um indivíduo depende das ações de outros; As empresas buscam coordenação por meio de SLA’s (Service Level Agreement): bônus e penalidades de desempenho; As possíveis disfunções [falta de coordenação] entre os elos são um complicador para uma gestão horizontalizada incentivo à integração vertical (Produzir!). Fornece- dor MP Beneficia- dor Montador Atacadista Varejista 4.2. Relutância dos parceiros em desenvolver ou compartilhar informações estratégicas: Da perspectiva dos parceiros: há resistência ao estabelecimento de parcerias (contratos) em virtude da relutância em compartilhar informações estratégicas; Da perspectiva interna, da empresa: há a mesma relutância. Ao transacionar com o mercado, necessariamente as empresas estarão “cedendo” informações; Logo, a proteção de informações é um incentivo a “Produzir” ao invés de “Comprar”. 4.3. Custos de transação (Ronald Coase, 1937; Oliver Williamson, 1975): Definição: São todos os custos necessários para “usar” o mercado, os quais, através da empresa, são reduzidos. Ex.: tempo e despesas de negociações, ritos burocráticos, oportunismo, etc.; A própria natureza incompleta dos contratos já pode ser considerada um custo de transação, por dar margem ao oportunismo; Para melhor compreender os custos de transação, é necessário recorrer aos seguintes conceitos: (i) Ativos Específicos de Relacionamento; (ii) Rendas e Quase-Rendas; e (iii) Holdup Problem. 4.3.1. Ativos específicos de relacionamento: Definição: É um investimento feito para apoiar uma determinada transação. São de [pelo menos] quatro tipos [ou especificidades]: i. Ativos localização: buscam reduzir custos de transporte e estoques ou facilitar processos de produção; ii. Ativos de forma física: propriedades físicas ou de projeto são adaptadas para uma transação em particular, o que aumenta o “custo da troca”; iii. Ativos dedicados: construídos especificamente para atender um comprador em particular; iv. Ativos relacionados a pessoas: uma equipe que adquiriu know-how e informações mais valiosas dentro de um relacionamento em particular do que fora dele. 4.3.1. Ativos específicos de relacionamento: Transformação Fundamental (Williamson, 1985): Quando não se estabelece uma relação de longo prazo, busca-se maximizar os ganhos em cada transação (são as “barganhas de grandes números” com “n” possíveis fornecedores). Ao estabelecer uma parceria com uma empresa especialista do mercado, só há agora “barganhas de pequenos números” junto a um mesmo parceiro; A presença de Ativos Específicos de Relacionamento leva às possibilidades de apropriação (holdup) da quase-renda. Analisemos estes conceitos agora. 4.3.2. Renda e Quase-renda: Suponha um investimento inicial “I” de $ 8.500.000 para implantar uma fábrica de displays ao lado da fábrica de celulares da Apple (ativo específico de relacionamento: dedicado e de localização); - A demanda anual será de 1.000.000 de displays; - Custo de cada display é $ 3; - O preço de mercado é $ 4; - A Apple concordou em pagar $ 12 por cada display, em função do investimento inicial elevado para os ganhos operacionais. 4.3.2. Renda e Quase-renda: Situação 1) A Apple rompe o contrato após o investimento ser concretizado [fábrica de displays construída]: Há um Investimento Específico no Relacionamento (RSI) com a Apple que não poderá ser recuperado, mesmo que a empresa venda todos os 1.000.000 de displays para outros clientes (2ª melhor alternativa), ao preço de mercado, cobrindo, pelo menos, seus custos variáveis; RSI = 8.500.000 – 1.000.000 x (4 – 3) RSI = $ 7.500.000 4.3.2. Renda e Quase-renda: Situação 2) O negócio a Apple ocorre normalmente: RENDA = 1.000.000 x (12 – 3) – 8.500.000 RENDA = $ 500.000 Renda é o lucro que se espera ter com a fábrica, presumindo o contrato plenamente respeitado. QUASE-RENDA (QR) = 1.000.000 x (12 – 4) QR = $ 8.000.000 Quase-renda é a diferença entre o lucro previsto na situação 2 [Apple respeita o contrato] e a situação 1 [Apple rompe o contrato]. 4.3.3. Holdup problem (apropriação da quase-renda): Se um ativo não é específico de um relacionamento, o preço unitário pago pelo cliente parceiro (melhor alternativa) tende a ser o mesmo preço de mercado (da 2ª melhor alternativa em diante) QR tende a ZERO; Mas quando é um ativo específico, há quase-renda positiva, pois sempre obterá mais de sua melhor alternativa do que da segunda melhor alternativa; Aí surge oportunidade para apropriação da quase-renda (QR) 4.3.3. Holdup problem (apropriação da quase-renda): Situação 3) De forma oportunista, a Apple quebra o contrato [incompleto] e pleiteia a redução do preço por display de $ 12 para $ 8 (ela sabe que qualquer preço entre $ 12 e o preço de mercado $ 4 será aceito, pois os custos litigiosos são enormes); A Apple neste caso aumentará seu lucro em $ 4.000.000 RENDA = 1.000.000 x (8 – 3) – 8.500.000 RENDA = $ (3.500.000) A RENDA antes era de 1.000.000 x (12 – 3) – 8.500.000 = $ 500.000 4.3.3. Holdup problem (apropriação da quase-renda): O Holdup e o oportunismo acabam por ampliar os custos de transação: Negociações de contrato mais difíceis e renegociações mais frequentes; Necessidade de investimentos para suportar casos de tentativa de holdup; Desconfiança e o excesso de salvaguardas a incluir nos contratos; Subinvestimentos em ativos específicos de relacionamento. Em síntese... sobre “por que produzir”: INCOMPLETUDE DOS CONTRATOS Informação Assimétrica Desempenho Inobservável Racionalidade Limitada - Má coordenação entre as etapas da cadeia; - Relutância dos parceiros em desenvolver ou compartilhar informações estratégicas; - Custos de transação. Razões que levam uma empresa a “Produzir” em vez de “Comprar” RESUMO – FRONTEIRAS VERTICAIS DA EMPRESA Comprar Delegar para especialistas do mercado; Produzir Integração vertical; Incentivos para “Comprar” (i) Economias de escala dos especialistas; (ii) economias de aprendizagem; (iii) redução de custos relativos a problemas de agência e influência, que podem passar despercebidos; Incentivos para “Produzir” Decorrem da incompletude dos contratos: (i) dificuldades de coordenação dos parceiros; (ii) indisposição para compartilhar informações estratégicas; (iii) custos de transação (oportunismo, apropriação de quase-renda advinda de investimentos específicos em relacionamento).
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