Buscar

Transposição do Rio São Francisco-TCC

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

SOCIEDADE PERNAMBUCANA DE CULTURA E ENSINO
 FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS DE PERNAMBUCO
 CURSO DE DIREITO
VINÍCIOS DE CARVALHO LIMA
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO – ASPECTOS CONSTITUCIONAIS, ADMINISTRATIVOS E AMBIENTAIS
MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO
Recife -PE
2013
VINÍCIOS DE CARVALHO LIMA
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO – ASPECTOS CONSTITUCIONAIS, ADMINISTRATIVOS E AMBIENTAIS
Monografia apresentada a Banca Examinadora da SOPECE/FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS DE PERNAMBUCO como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Luiz Andrade Oliveira.
Recife-PE
2013
VINÍCIOS DE CARVALHO LIMA
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO- ASPECTOS CONSTITUCIONAIS, ADMINISTRATIVOS E AMBIENTAIS
Aprovado em: --------/---------------/2013.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Presidente da Banca
____________________________________________________
Orientador
___________________________________________________
Componente da Banca
		
Recife-PE
2013
 
RESUMO:
LIMA, Vinícios de Carvalho. TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO- ASPECTOS CONSTITUCIONAIS, ADMINISTRATIVOS E AMBIENTAIS. 2013. Trabalho de Conclusão do Curso – Sociedade Pernambucana de Cultura e Ensino, Faculdade de Ciências Humanas de Pernambuco. Recife.
A presente monografia tem o objetivo de demonstrar quais os perigos e benefícios que podem decorrer do projeto que transpõe o Rio São Francisco, como também os riscos de utilizar um rio poluído, com a área ribeirinha em risco de extinção pela degradação do homem. Ressaltando os aspectos constitucionais, administrativos e ambientais do projeto de transposição, citando também irregularidades que foram atropeladas por interesses políticos.
	
Buscando a verdade sob uma perspectiva real, a respeito do tão sonhado projeto do Ministério da Integração que objetiva levar as águas do rio São Francisco para outras localidades com o intuito de abastecer regiões longínquas que tanto necessitam de recursos hídricos.
	
	Citando ainda todos os pontos do projeto, positivos e negativos, inclusive alternativas para que não fosse preciso aventurar um projeto tão grandioso que é a transposição das águas. Identificando, dentro do nosso ordenamento jurídico, todas as questões que ainda não foram sanadas por parte do Governo Federal.
2. O Projeto da Transposição pelo Governo Federal
 O Rio São Francisco tem aproximadamente 2.800 km de extensão, entre o seu nascedouro, na Serra da Canastra (MG), e a sua foz, entre o pontal do Peba (AL) e a praia do Cabeco (SE). Ele é subdividido em Alto (da Serra da Canastra até Pirapora), Médio (de Pirapora até Remanso), Submédio (de Remanso até Paulo Afonso) e Baixo São Francisco (de Paulo Afonso até o Oceano Atlântico), sendo a sua parte alta responsável por cerca de 70% dos volumes da bacia e de tudo o que se reflete ao longo de todo o rio. É lá onde ocorrem as precipitações que irão abastecer a represa de Sobradinho, responsável direta pela regularização da vazão do rio; e onde são formadas as cheias necessárias para manutenção da vida na sua parte ribeirinha; e onde a pesca e a navegação se fazem com maior intensidade e, portanto, a região que deveria receber um tratamento diferenciado por parte de nossas autoridades, o que, na realidade, não vem acontecendo.[1: Texto retirado do site http://www.pac.gov.br/obra/4244. Acesso no dia 23/11/2013.]
 O Governo Federal estudou várias possibilidades: açudes, poços, cisternas, mas todas essas formas são precárias como fonte de água permanente para abastecer centros urbanos. Nenhuma delas garante segurança hídrica à população.
Nos açudes, por exemplo, a cada metro cúbico guardado, três se perdem com a evaporação. Para controlar o volume e evitar que os açudes salinizem, apenas 22% da água servem para o consumo mesmo no período da seca. Os poços artesianos também não são uma solução, mais de 53 mil poços já foram perfurados no nordeste, mas o alto teor de sais e outros minerais muitas vezes tornam a água imprópria para beber.
Cisternas é uma alternativa válida para a população dispersa, mas não uma solução final, pois sem o uso higiênico elas correm o risco de contaminação.
 O Projeto São Francisco é composto pelo Programa de Revitalização do Rio, pela Integração de Bacias e pelos programas básicos ambientais. O Velho Chico tem acumulado diversos problemas ao longo dos anos, relacionado à ação do homem. Poluição através do agrotóxico nas plantações, esgotos nas diversas cidades ribeirinhas, outro problema é a derrubada da mata nas margens que faz com que o rio se espalhe, derrubando barrancos e formando bancos de areia, que prejudicam a navegação e o habitat dos peixes.
 Para recuperar a profundidade do rio estão sendo retirados em diversos pontos, bancos de areia, que se acumularam ao longo do tempo. O Rio mais profundo recupera o ambiente para reprodução dos peixes e assegura as condições de navegação. A dragagem começou em Ibotirama e na entrada do lago de Sobradinho, ao final vai retomar o funcionamento do antigo trecho da hidrovia do São Francisco, permitindo maior rapidez e menores custos na logística do escoamento da produção do oeste baiano.
O Projeto inclui a integração de bacias. A retirada de água será de 1,4% da vazão que a barragem de Sobradinho-BA envia de forma regular para o oceano.
 O Exército Brasileiro e empresas privadas iniciaram as obras dos canais que seguirão dois eixos, o eixo leste saindo de uma tomada de água no lago de Itaparica em Floresta-PE, interligará o Rio São Francisco com o rio Paraíba, o rio Ipojuca e com açudes da Paraíba e Pernambuco; o eixo norte partindo de Cabrobó-Pe segue para as bacias dos rios Jaguaribe, Piranhas-açu, Apodi e açudes do Rio Grande do Norte e Ceará. Os canais dos dois eixos têm cerca de 5 metros de profundidade e 25 metros de largura, com revestimento de membrana sintética e concreto, passarão por 50 quilômetros de túneis e 16 quilômetros de aquedutos, permitindo que a água atravesse serras e vales. Onze estações de bombeamento serão construídas para subir a elevações de até 300 metros e depois descer por gravidade gerando energia no percurso, onde serão instaladas 06 Hidroelétricas. Serão construídas 26 barragens para regularizar a distribuição da água.
 
 O Governo Federal destinou 4,5 bilhões de reais para esta obra que funcionará como uma grande torneira, equilibrando o volume dos açudes de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A integração de bacias vai solucionar de modo permanente o problema do abastecimento, principalmente nas cidades onde vive a maioria da população que mais sofre com a seca.
 Em paralelo ao trabalho de integração de bacias, estão em curso trinta e seis programas básicos ambientais, esses programas e as condicionantes determinadas pelo IBAMA para licenciar a obra, puseram em andamento ao longo dos canais de integração iniciativas ambientais, como a criação de doze áreas de preservação, monitoramento da fauna, flora e da qualidade da água.
 No Brasil, conhecemos experimentos que não despertaram tanta polêmica como a cidade de São Paulo, que é abastecida por uma transposição de bacias, a do rio Piracicaba que extrai mais de 70% da sua vazão natural destinada a foz. Na cidade do Rio de Janeiro é abastecida por uma transposição de bacias, do rio Paraíba do Sul pelo sistema Guandu.
 De acordo com o Ministério da Integração Nacional, pode-se definir o projeto de Transposição da bacia do São Francisco como:[2: Ministério da Integração Nacional. Texto retirado do site www.integracao.gov.br/projeto-sao-francisco1.Acesso em 24/11/2013.]
 “Um grande empreendimento de infra-estrutura hídrica. Serão dois sistemas independentes, denominados Eixo Norte e Eixo Leste, que captarão água do rio São Francisco entre as barragens de Sobradinho e Itaparica. Na altura de Sobradinho ocorre a grande mudança no curso do rio: depois de percorrer mais de 2.000 quilômetros no sentido do Norte, suas águas se deparam com as primeiras elevações de planalto que demarca o semiárido do Nordeste Setentrional e, para contornar o acidente, passam a correr rumo ao Leste, em busca do Oceano Atlântico. Compostos de estações de bombeamento de água, canais, pequenos reservatórios esses dois eixos de integração foram concebidos para superar o déficit histórico no suprimento de água para o Nordeste Setentrional. O objetivo desse empreendimento é viabilizar o fornecimento de água para abastecimento humano e dessedentação de animais, prioritariamente. Quando houver excedente em Sobradinho, previsto na outorga da Agência Nacional de Águas(ANA), será bombeada mais água, que poderá ser usada para ativar a economia da região. O uso mais racional dos recursos das bacias do Nordeste Setentrional, devido à garantia de abastecimento oferecida pelo Projeto de Integração, beneficiará uma área onde vivem cerca de 12 milhões de habitantes.”
 2.1. Avaliações Técnicas sobre o Plano de Interligação 
 O Plano de Interligação da Bacia do Rio São Francisco com as do semiárido alarmou muita gente, logo que se começou a planejar o transporte de águas. Temia-se um “sangramento” excessivo do rio e alguns chegaram a vaticinar a possibilidade de o curso d’água minguar ao ponto de deixar secas algumas áreas. Num ponto tinham razão: o São Francisco já não era o mesmo de quando foi descoberto. Nestes mais de quinhentos anos, o rio foi altamente prejudicado pelas transformações que a ocupação humana vem provocando nos Estados por onde ele e seus afluentes passam, como desmatamentos intensos, poluição, ocupações desordenadas das margens, que, entre outros efeitos perniciosos, contribuem para o carregamento de sedimentos que assoreiam seus cursos prejudicando a pesca e a navegação.
 O diagnóstico de um rio doente explicava a prevenção com que os setores técnicos e ambientalistas olhavam o plano de sugar a água para abastecer a região seca. O São Francisco sobreviverá? Perguntavam-se.
 Os estudos técnicos colocaram a proporção necessária às possibilidades as quantidades de água a serem retiradas, sem ameaças ao caudal- as projeções iniciais de 300 metros cúbicos por segundo baixaram agora para 63,5 m3/s, com um esquema de manejo flexível, de modo à jamais alterar a normalidade do fluxo. 
 Os Ministérios da Integração Nacional (MI) e do Meio Ambiente (MMA) promoveram estudos detalhados para incorporar aos projetos as observações de técnicos e ambientalistas que aconselhavam uma urgente espécie de “regime de engorda fluvial”. Dos estudos técnicos dos ministérios, com ajuda dos órgãos ambientais estaduais, nasceu o programa de recuperação ambiental, que envolve ações voltadas para: combate à erosão, melhoria da qualidade de água do rio, reflorestamento de nascentes, margens e de áreas especialmente degradadas, estudos e obras de conformação do leito navegável do rio, criação de barragens de regularização do Alto e Médio São Francisco, no território mineiro, regularização da irrigação dos 908 hectares da Área de Salitrinho, em Juazeiro, na Bahia. A revitalização inclui ainda ações no Baixo São Francisco, nas margens alagoana e sergipana.[3: Texto retirado do site www.integracao.gov.br/web/guest/bacias-da-integracao. Acesso no dia 24/11/2013.]
 Sobre os estudos e obras de definição do leito navegável do São Francisco, este programa visa a permitir o funcionamento de uma hidrovia entre as cidades de Pirapora- MG e Juazeiro-BA, numa extensão de 1.370 km, com evidente efeito econômico para toda região. Esse trecho já foi totalmente navegável em outros tempos, mas as transformações ambientais ao longo do tempo, como a destruição das matas ciliares e, nos últimos 60 anos, os aproveitamentos hidrelétricos, elevaram o assoreamento da calha do rio ao ponto de impedir a navegação comercial.
 Na avaliação técnica do Ministério da Integração, “o leito do rio encontra-se em progressiva e acelerada degradação. O elevado transporte de detritos sólidos colabora, durante as cheias, na intensa erosão das margens fragilizadas pelo solo da caatinga e desprovidas de proteção vegetal. A erosão fornece a maior parte dos sedimentos responsáveis pela formação descontrolada de bancos de areia móveis. A elevada extensão arenosa da planície de inundação e a intensidade da corrente líquida e suas flutuações diárias, ditadas pelo funcionamento das usinas hidrelétricas, causam instabilidades no leito do rio, com frequência muito superior à natural, provocando novas e maiores erosões e solapamentos e o surgimento de outros bancos de areia. Por outro lado, o significativo desenvolvimento verificado no Vale do São Francisco criou uma demanda reprimida no escoamento da produção que tem, na viabilização da hidrovia, um fator indispensável de otimização de resultados econômicos e progresso da região. A contenção e o controle do processo de degradação ambiental do rio é um aspecto inerente da implantação da hidrovia e as soluções para situações semelhantes já existem em vários países, como o executado com sucesso nos rios Mississipi, Reno, Danúbio e outros.”
 O estudo constata, ainda, que “o desenvolvimento sustentável do Vale do São Francisco passa pela implantação de condições de gestão física, hídrica, ambiental, de navegação e socioeconômica da calha e área de influência direta do rio, corrigindo o processo de degradação que atinge o caudal principal e criando condições e normas que viabilizem seu aproveitamento estratégico e econômico de forma racional, eficiente e não predatória. A Hidrovia do São Francisco constitui-se em ligação privilegiada entre as regiões Sudeste e Nordeste, possuindo um trecho contínuo de 1.370km, entre as cidades de Pirapora(MG) e Juazeiro(BA)/Petrolina(PE), com condições naturais adequadas ao seu desenvolvimento. Tem, portanto, o potencial para se tornar uma importante opção de transporte para grandes volumes de carga, contando ainda com as vantagens de multimodalidade.”
 O objetivo da hidrovia viabilizará as correções consideradas urgentes para recuperar as condições de navegabilidade do rio e sua importância como transportador de riquezas e estimulador de negócios, com o que se pretende atrair o interesse do setor privado para uma parceria no projeto. “A situação atual indica que ações preventivas e corretivas não podem ser postergadas, sob pena de persistir e aumentar o atual processo degenerativo do rio. Nestas condições, o leito continuará a se alargar e assorear, transformando-se, com o tempo, em um largo corpo d’água de baixa profundidade e entrecortado de ilhas.”, alertam os técnicos.
2.2. Possibilidades técnicas versus vontade política
 Citando o mestre João Suassuna a respeito das possibilidades técnicas do projeto de transposição do Velho Chico, fragmenta-se parte do seu livro[4: SUASSUNA, João. Transposição do Rio São Francisco na perspectiva do Brasil real/ João Suassuna. – São Paulo: Porto de Idéias, 2010. Pg. 11]
 “Outro documento a que fazemos referência é a carta nº 12 do Instituto Miguel Calmon – IMCI, tornada pública em maio de 1983, a qual faz um alerta sobre a possibilidade de faltar água no Rio São Francisco, caso o governo implemente o projeto de transposição de suas águas. Segundo este documento, uma vez regularizada a vazão do rio em 3.170 m³/s, o potencial de aproveitamentohidrelétrico, que pode ser utilizado para irrigação, é de apenas 30% deste volume, ou seja, 1.060 m³/s suficientes para irrigar um milhão de ha no Semi-árido. Os projetos de irrigação, em diversos estágios de execução implantados em suas margens, já àquela época, somavam uma área de aproximadamente 738.981 ha e comprometiam 74% do potencial de irrigação do Velho Chico existindo, além do mais, uma área potencial adicional de cerca de 517.000 há com possibilidades técnicas de irrigação. Acrescentando os cerca de 740 mil há, aos 517 mil há com áreas potenciais, tem-se uma oferta equacionada de 1.255.981 há de área irrigável, nos limites do razoável para garantir a segurança na seleção das melhores áreas a serem irrigadas no Nordeste. É o limite do volume d’água do rio. Mas neste contexto de abundância de ótimas áreas com potencial de irrigação, prossegue o documento, pensar em conduzir suas águas através de extensos e quilométricos canais (fala-se em 200 km até o Ceará) é, para ser delicado, uma grande estultice. Com as características de irrigação e o potencial do Vale do São Francisco, qualquer solução que reduza este potencial ignora o nível de conhecimento e de estudos já havidos nesta direção.”
 Somado a estes problemas, não se pode deixar de considerar o intenso potencial evaporimétrico da região, que pode chegar a 2.000 mm anuais, devido à grande quantidade de radiação solar existente. Este fenômeno irá ter consequências diretas na evaporação exacerbada da água nas centenas de quilômetros de canais a céu aberto existentes no projeto, refletindo, igualmente, no agravamento dos problemas de geração e bombeamento de água.
 Outro ponto importante a ser observado diz respeito ao custo da água do Rio São Francisco posta nos estados receptores do projeto. Segundo informações existentes no EIA-RIMA (o relatório e o estudo de impactos ambientais do projeto), o m³ de água posto naqueles estados custará cerca de R$ 0,11. Esse valor é proibitivo para uso no agronegócio, principalmente em atividades irrigacionistas, se considerarmos o custo cobrado pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco – Codevasf, aos seus colonos, de R$ 0,023 o m³. Tudo leva a crer que para tornar viável o projeto, as autoridades irão valer-se dos subsídios cruzados, ou seja, as tarifas de águas dos grandes centros urbanos que não irão receber as águas do Rio São Francisco deverão ser acrescidas para possibilitar o agronegócio. Nesse sentido, já foi divulgada na imprensa de Pernambuco a possibilidade de um aumento na tarifa de água da cidade do Recife – que não irá receber as águas do Rio São Francisco – de cerca de 30% para a viabilização do projeto. Isso vai se tornar uma realidade.
		Tem-se a nítida impressão de que o governo não tem conhecimento de causa com relação às questões do São Francisco. Primeiramente, porque não se estão levando em consideração as reais limitações do rio, notadamente a sua incapacidade de atendimento aos múltiplos usos de suas águas. Em segundo lugar, a proposta nos parece mais viável para ser implementada nos rios que compõem a bacia amazônica, que não se apresentam problemas de vazão. O fato de um aparelho de precisão não registrar, no São Francisco, a diminuição do seu nível aos constantes bombeamentos, não nos parece um bom exemplo a ser analisado.
		Falta-lhe seriedade no tratamento dos assuntos técnicos. Falta a percepção de proporcionalidade entre o volume que está sendo retirado do rio, através do bombeamento, e o volume de água existente no caudal. Sob essa ótica, é acreditar que não existe desgaste no pneu de um automóvel, aos setenta mil quilômetros rodados, pelo simples fato de não se perceber o desgaste que ocorre a cada volta do pneu em contato com o chão. 
		
		No caso específico da transposição, é fundamental se observar que a mesma está sendo proposta em um rio cuja vazão já se encontra em patamares críticos e, portanto, sem ter a mínima disponibilidade hídrica para outros usos. Esse, sim, é o melhor parâmetro para se demonstrar a necessidade atual de se ter que importar energia de outros centros geradores do país, sendo uma questão absolutamente necessária para ser discutida nos fóruns sobre a transposição, na atualidade.
COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO 
Deliberação CBHSF Nº 18, de 27 de outubro de 2004
“Considerando que a alocação de água tem por objetivo principal a garantia de fornecimento de água aos atuais e futuros usuários de recursos hídricos, Considerando a alocação de vazões para uso externo pode afetar as bases de negociação e o equilíbrio que se busca no planejamento da alocação dos usos e espacial das águas da bacia.”
“Art.1º A prioridade da utilização das águas da bacia do rio São Francisco são os usos internos à bacia. Parágrafo Único. Excetuam-se os casos previstos no art. 1º, inciso III da Lei nº. 9.433/1997, para consumo humano e dessedentação animal, em situações de escassez.”
“Considerando que a retirada de vazões para uso externo da Bacia do São Francisco pode representar o comprometimento de seu desenvolvimento atual e futuro e a busca de soluções para a compatibilização entre o uso humano e a proteção da biodiversidade.”
 O Ministério Público Federal e Estadual que atua na região do Rio São Francisco tem hoje o mesmo posicionamento, onde voltaram a atuar na constatação de problemas ambientais identificados no rio. Passando a trabalhar com agrotóxicos, esgotamento sanitário, resíduos sólidos, com toda a problemática que envolve hoje a degradação da bacia do São Francisco. 
 
 A conclusão do Ministério Público é de que o Projeto da Transposição do Rio São Francisco fere a legalidade do País em diversos aspectos, ferindo em primeiro lugar o próprio Estado Democrático de Direito, violando a Constituição Federal no que tange o “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;” onde o Governo afirma que não passa por terras indígenas, porém técnicos do Ministério Público Federal demonstram que o ponto de captação do eixo norte é 80 metros da Ilha Truká (ilha já demarcada do povo indígena Truká) e outros pontos onde passa o traçado no projeto, cortam terras indígenas Truká como a Fazenda Mãe Rosa, Fazenda Toco - Torto, dentre outras no eixo-leste. 
 
 Já existem estudos antropológicos na FUNAI que caracterizam aquela população como indígena, logo a presunção que poderia haver o descumprimento ao artigo 49 da Constituição Federal.
 
 O Projeto de Transposição como está concebido é extremamente danoso, ele traz prejuízos inimagináveis.
 
 Todas as resoluções CONAMA que tratam do licenciamento ambiental foram descumpridas, no que se refere ao licenciamento ambiental desse projeto. Os estudos de impacto ambiental que foram feitos, se destinaram a acompanhar o impacto ambiental onde vão passar os canais, e não levaram em consideração o concreto e os impactos negativos na bacia doadora e receptora, onde não poderia ter sido dada nem ao menos a licença prévia, pois é ela que atesta a viabilidade do empreendimento conforme a legislação. As falhas dos estudos são no meio físico, no meio socioeconômico, no meio biótico, podendo ser elencadas uma série deles, sendo eles colocados em nota pública do Ministério Público Federal.
 
 De acordo com o parecer 31/2005 do IBAMA, os principais impactos avaliados negativos são: Risco de proliferação de vetores, Redução da geração de energia elétrica no rio São Francisco, Interferências com populações indígenas; Risco de eutrofização dos novos reservatórios, Perda de habitat. E os impactos não previstos no estudo são: Salinização de açudes, Competição entre Estados das bacias receptoras e da doadora, Aumentoda geração de efluentes. Ficando ainda condicionados a inclusão de doze novos Programas Ambientais. 
 
3. Aspectos Constitucionais
O grande mestre José Afonso da Silva acerta com precisão ao lecionar que:[5: SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 1994.]
 “O que é importante é que se tenha a consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do Homem, é que há de orientar todas as formas de atuação  no campo da tutela do meio ambiente. Cumpre compreender que ele é um fator preponderante, que há de estar acima de quaisquer outras considerações como as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade, como as da iniciativa privada. Também estes são garantidos no texto constitucional, mas, a toda evidência, não podem primar sobre o direito fundamental à vida, que está em jogo quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente. É que a tutela da qualidade do meio ambiente é instrumental no sentido de que, através dela, o que se protege é um valor maior: a qualidade da vida” 
Segundo Guido Fernando Silva Soares, a consciência da necessidade de proteção do meio ambiente decorre:[6: GUIDO F. S. Soares, As responsabilidades no direito internacional do meio ambiente – tese para professor titular de Direito Internacional Público da Faculdade de Direito da USP, p. 35.]
“- Dos problemas advindos com o crescimento caótico das atividades industriais;
- Do consumismo desenfreado em âmbito local e mundial;
- De uma filosofia imediatista pelo desenvolvimento a qualquer preço;
- Da inexistência de uma preocupação inicial com as repercussões causadas ao meio ambiente pela atividade econômica;
- Da assunção de que os recursos naturais seriam infinitos, inesgotáveis e recicláveis por mecanismos automáticos incorporados à natureza.”
3.1. Princípio da Precaução
 Leva-se em consideração preliminarmente o princípio da Precaução, pois enquanto não se complementarem os estudos de impacto ambiental, não é possível autorizar a realização de uma obra. Complementados os estudos de impacto ambiental e percebendo os impactos reais negativos da obra, se decide fazer ou não a obra e que programas de mitigação deverão ser feitos. 
 
 Como cita o mestre Antônio Beltrão: [7: BELTRÃO, Antônio F. G. Curso de Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2009.]
“Um componente que está profundamente relacionado ao meio ambiente é a incerteza científica. A maioria dos processos da natureza e elementos é complexa, desconhecida em sua inteireza pela comunidade científica. Logo, tal incerteza levanta várias dificuldades quanto ao gerenciamento ambiental e à previsão e mensuração dos potenciais impactos decorrentes de políticas públicas ou de um dado projeto.”
 
 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
- Preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
- Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.
 
 As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
 São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
 
 As terras ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivadas com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação no resultado da lavra, na forma da lei.
 O princípio da precaução se configura quando não há certeza científica do dano ambiental, e mesmo que exista a dúvida, o bem ambiental deve ser protegido.
 É pacífico entre os doutrinadores que o princípio da precaução se constitui no principal orientador das políticas ambientais, além de ser a base para a estruturação do direito ambiental. Nesse sentido, diante da crise ambiental que relega o desenvolvimento econômico sustentável a segundo plano e da devastação do meio ambiente em escala assustadora, prevenir a degradação do meio ambiente passou a ser preocupação constante de todos aqueles que buscam melhor qualidade de vida para as presentes e futuras gerações.
 No direito positivo brasileiro, o princípio da precaução tem seu fundamento na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31/08/1981), mais precisamente no artigo 4, I e IV, da referida lei, que expressa: 
  
Artigo 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:
 I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
 
 IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;
Salienta-se, que o referido princípio foi expressamente incorporado em nosso ordenamento jurídico, no artigo 225, § 1º, V, da Constituição Federal, e também através da Lei de Crimes Ambientais (lei 9.605/1998, art. 54, § 3º).
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
  § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.
O artigo 225, § 1º, inciso IV da Constituição Federal expressa que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1o – Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
IV – Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio do impacto ambiental.
Convém, a título de esclarecimento do conceito do princípio da precaução, citar Derani:[8: DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico. 3ª edição, 2007, Saraiva Jurídico.]
“Precaução é cuidado. O princípio da precaução está ligado aos conceitos de afastamento de perigo e segurança das gerações futuras, como também de sustentabilidade ambiental das atividadeshumanas. Este princípio é a tradução da busca da proteção da existência humana, seja pela proteção de seu ambiente como pelo asseguramento da integridade da vida humana. A partir desta premissa, deve-se também considerar não só o risco eminente de uma determinada atividade, como também os riscos futuros decorrentes de empreendimentos humanos, os quais nossa compreensão e o atual estágio de desenvolvimento da ciência jamais conseguem captar em toda densidade [...].”
 Dessa forma, o princípio da precaução implica uma ação antecipatória à ocorrência do dano ambiental, o que garante a plena eficácia das medidas ambientais selecionadas. Neste sentido, Milaré assevera que "Precaução é substantivo do verbo precaver-se (do latim prae = antes e cavere = tomar cuidado), e sugere cuidados antecipados, cautela para que uma atitude ou ação não venha resultar em efeitos indesejáveis." (apud MIRRA, 2000, p. 62).
 Observe-se que a consagração do princípio da precaução no ordenamento jurídico pátrio representa a adoção de uma nova postura em relação à degradação do meio ambiente. Ou seja, a precaução exige que sejam tomadas, por parte do Estado como também por parte da sociedade em geral, medidas ambientais que, num primeiro momento, impeçam o início da ocorrência de atividades potencialmente e/ou lesivas ao meio ambiente. Mas a precaução também atua, quando o dano ambiental já está concretizado, desenvolvendo ações que façam cessar esse dano ou pelo menos minimizar seus efeitos.
 Nesta linha de pensamento, Machado nos ensina que:[9: MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 10 ed. ver. atual e ampl. São Paulo: Malheiros Editores, 2010.]
“A precaução age no presente para não se ter que chorar e lastimar o futuro. A precaução não só deve estar presente para impedir o prejuízo ambiental, mesmo incerto, que possa resultar das ações ou omissões humanas, como deve atuar para a prevenção oportuna desse prejuízo. Evita-se o dano ambiental através da prevenção no tempo certo.”
 Não se pode olvidar que o princípio da precaução é o corolário do direito ambiental, devendo estar presente na legislação, assim como também na escolha das medidas ambientais adequadas a eventuais riscos para o meio ambiente ocasionado pela ação humana.
 Acrescenta-se a esse panorama que a maior dificuldade na implantação do princípio da precaução é a resistência de alguns Estados em aplicar a legislação ambiental, devido ao fato de que as normas relativas ao meio ambiente implicariam estagnação da economia, o que, na verdade, não se concretiza, porque o que se propõe é a utilização de novas tecnologias que contribuam para a manutenção do equilíbrio ecológico sem prejuízo ao desenvolvimento.
Por tudo isso, afirma-se que o princípio da precaução é a base das leis e das práticas relacionadas à preservação do meio ambiente. É preciso, antes de tudo, se antecipar e prevenir a provável e/ou efetiva ocorrência de uma atividade lesiva, pois há de se considerar que nem todos os danos ambientais podem ser reparados pela ação humana. 
		Desnecessário dizer que, ao se estabelecer a precaução como princípio, esta não pode ser interpretada como uma cláusula geral, aberta e indeterminada. É necessário que se defina o que se pretende prevenir e qual o risco a ser evitado. Isto, contudo, só pode ser feito diante da análise das diferentes alternativas que se apresentam para a implementação ou não de determinado empreendimento ou atividade. A precaução, inclusive, deve levar em conta os riscos da não realização do projeto proposto.
		Rodrigues expressa muito bem a concepção de boa parte da doutrina: [10: RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de Direito Ambiental: parte geral. São Paulo: Max Limonad, 2002. P. 150.]
“Tem se utilizado o postulado da precaução quando se pretende evitar o risco mínimo ao meio ambiente, nos casos de incerteza científica acerca da sua degradação. Assim, quando houver dúvida científica da potencialidade do dano ao meio ambiente acerca de qualquer conduta que pretenda ser tomada (ex. liberação e descarte de organismo geneticamente modificado no meio ambiente, utilização de fertilizantes ou defensivos agrícolas, instalação de atividades ou obra, etc.) incide o princípio da precaução para prevenir o meio ambiente de risco futuro.”
 Kiss, justamente considerado um dos maiores autores mundiais do Direito Ambiental, com o pragmatismo cartesiano que caracteriza a cultura francesa, assim trata do assunto:[11: KISS, Alexandre. Os direitos e interesses das gerações futuras e o princípio da precaução. In: VARELLA, Marcelo Dias; PLAUTAU, Ana Flávia Barros. Princípio da Precaução. Belo Horizonte: ESMPU/ Del Rey, 2004. P. 7.]
“O enfoque inicial do direito das gerações futuras levou à conclusão de que o direito buscou proteger as opções que temos atualmente e procurou transmiti-las às gerações futuras. Entretanto, essa abordagem não é necessariamente satisfatória porque coloca excessiva ênfase nos deveres da geração presente. Não considera o fato de que a própria natureza do conceito exige que seja aplicado ao longo dos séculos. Como pode a mesma quantidade de espaço, de regiões naturais, de água limpa, de animais selvagens, ser garantia para infinitas gerações com número cada vez maior de indivíduos? Deve o mundo ser transformado em um museu ocupado sempre com maior número de monumentos, de artefatos e locais históricos? Mesmo se a humanidade atual pudesse aceitar essa abordagem, não poderia ser aceitável para as gerações futuras. Como podemos saber as preferências das gerações futuras daqui a, por exemplo, cinquenta ou cem anos?”
		Uma primeira exegese do texto do Princípio nº 15 da Declaração do Rio nos indica que:
O critério da precaução não é um critério (princípio) definido pela ordem internacional, mas, ao contrário, é um princípio que se materializa na ordem interna de cada Estado, na exata medida das capacidades dos diferentes Estados. Ou seja, a aplicação de tal princípio deve levar em conta o conjunto de recursos disponíveis, em cada um dos Estados, para a proteção ambiental, considerando as peculiaridades locais. Em outras palavras, as medidas adotadas para prevenir a poluição atmosférica em Hamburgo não são as mesmas necessárias para uma pequena cidade no interior da Costa Rica.
A dúvida sobre a natureza nociva de uma substância não deve ser interpretada como se não houvesse risco. A dúvida, entretanto, não se confunde com mera opinião de leigos ou “impressionistas”. A dúvida, para fins de que se impeça uma determinada ação, é fundada em análises técnicas e científicas, realizadas com base em protocolos aceitos pela comunidade internacional.
Citando o nobre doutrinador Paulo de Bessa Antunes:[12: ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. -14. Ed. – São Paulo: Atlas, 2012. P.39]
	“A única aplicação juridicamente legítima que se pode fazer do princípio da precaução é aquela que leve em consideração as leis existentes no País e que determine a avaliação dos impactos ambientais de uma certa atividade, conforme a legalidade infraconstitucional existente. Infelizmente, tem havido uma forte tendência a se considerar que o princípio da precaução é um superprincípio que se sobrepõe aos princípios fundamentais da República, tal como estabelecidas pela própria Constituição Federal, o que, evidentemente, é uma grave ruptura da legalidade constitucional e prova do precário conhecimento jurídico. Ante a possível existência do conflito entre uma norma legal expressa e um princípio setorial, há que prevalecer a norma positivada, salvo se ela apresentar maculada pela inconstitucionalidade. Observe-se que, no caso, não se trata propriamente da prevalência de um princípio setorial, mas de uma afronta à Constituição, o que é uma preliminar inafastável. O princípio da precaução tem sido prestigiado pelo legislador brasileiro que, em muitas normas positivadas, determina umasérie de medidas com vistas à avaliação dos impactos ambientais reais e potenciais gerados pelos diferentes empreendimentos. Ainda que extremamente relevante- o que é reconhecido por toda a doutrina brasileira e pelo nosso ordenamento jurídico-, o princípio da precaução não é dotado de normatividade capaz de fazer com que ele se sobreponha aos princípios da legalidade (um dos princípios setoriais reitores da administração pública) e, especialmente, aos princípios fundamentais da República, repita-se. A aplicação do princípio da precaução somente se justifica constitucionalmente quando observados os princípios fundamentais da República ante a inexistência de norma capaz de determinar a adequada avaliação dos impactos ambientais. Fora de tais limites, a aplicação do princípio da precaução se degenera em simples arbítrio.”
 4. Aspectos Administrativos
Para que o princípio da participação possa ser efetivado é fundamental que três outros princípios ambientais sejam respeitados e promovidos: Publicidade, informação e educação. 
O direito à informação ambiental está previsto nos artigos. 6º, § 3º, e 10 da Política Nacional do Meio Ambiente, além de ser corolário do direito à informação, previsto nos artigos 220 e 221 da CF/88.
 Art. 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado:
 § 3º Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste artigo deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada.
Art. 10.  A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.
O princípio da informação é diretamente associado ao princípio da publicidade, na medida em que é através deste que o primeiro pode ser materializado. Segundo José dos Santos Carvalho Filho:[13: FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 17. Rio de Janeiro: Lúmen Juris. 2007. P. 21.]
“Os atos da Administração devem merecer a mais ampla divulgação possível entre os administrados, e isso porque constitui fundamento do princípio propiciar-lhes a possibilidade de controlar a legitimidade da conduta dos agentes administrativos. Só com a transparência dessa conduta é que poderão os indivíduos aquilatar a legalidade ou não dos atos e o grau de eficiência de que se revestem.”
Citando o doutrinador administrativista Rafael Carvalho Rezende Oliveira:[14: OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Licitações e contratos administrativos. 2ª Ed. rev. Atual. e ampl.- Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2013.]
“A licitação por ser um processo administrativo, pressupõe o atendimento dos princípios constitucionais aplicáveis à Administração Pública, notadamente aqueles expressamente previstos no art. 37, caput, da CRFB (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência).”
Ao lado dos princípios constitucionais, existem princípios específicos que devem ser observados na licitação. O artigo 3º da Lei 8.666/93 menciona os seguintes princípios: legalidade, impessoalidade, moralidade, igualdade, publicidade, probidade administrativa, vinculação ao instrumento convocatório, julgamento objetivo e outros que lhes são correlatos.
	Em relação aos princípios específicos, podem ser destacados os princípios da competitividade, da isonomia, da vinculação ao instrumento convocatório, do procedimento formal e do julgamento objetivo.
	O caráter competitivo da licitação justifica-se pela busca da proposta mais vantajosa para Administração, motivo pelo qual é vedado admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, cláusulas e condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo (art. 3º, § 1º, I, da Lei 8.666/1993).[15: O princípio da competitividade só poderá sofrer restrições amparadas em razões técnicas e econômicas que a legitimem, bem como que não agridam os princípios constitucionais que regem a atuação da Administração Pública. Nesse sentido, confira-se a lição de Marçal Justen Filho: “Se a restrição for necessária para atender ao interesse coletivo, nenhuma irregularidade existirá em sua previsão Terão de ser analisadas conjugadamente a cláusula restritiva e o objeto da licitação. A invalidade não reside na restrição em si mesma, mas na incompatibilidade dessa restrição com o objeto da licitação” (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 9. Ed. São Paulo: Dialética, 2002. P. 77-78). O TCU, por exemplo, entendeu que a restrição à participação de empresas, que estejam em litígio judicial com a entidade, nas licitações públicas viola os princípios da impessoalidade e competitividade. TCU, Plenário, Acórdão 2.434/11, Rel. Min. Aroldo Cedraz, DOU 14.09.2011.]
	A definição de “obra” consta do inciso I do artigo 6º da Lei 8.666/1993 que prevê: “Obra – toda construção, reforma, fabricação, recuperação ou ampliação realizada por execução direta ou indireta” (ex: construção de uma escola).
	A licitação é um procedimento obrigatório que antecede a celebração de contratos pela Administração Pública. A razão de existir dessa exigência reside no fato de que o Poder Público não pode escolher livremente um fornecedor qualquer, como fazem as empresas privadas. Os imperativos da isonomia, impessoalidade, moralidade e indisponibilidade do interesse público, que informam a atuação da Administração, obrigam a realização de um processo público para seleção imparcial da melhor proposta.
	
Nas palavras de Alexandre Mazza[16: MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. – São Paulo: Saraiva, 2011. P.305.]
 
“A realização do procedimento licitatório serve para duas finalidades fundamentais: a) buscar a melhor proposta, estimulando a competitividade entre os potenciais contratados a fim de atingir o negócio mais vantajoso para a Administração; b) oferecer iguais condições a todos que queiram contratar com a Administração, promovendo, em nome da isonomia, a possibilidade de participação no certame licitatório de quaisquer interessados que preencham as condições previamente fixadas no instrumento convocatório.”
Esse duplo objetivo da licitação está enunciado no artigo 3º da Lei 8.666/1993: “A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhe são correlatos.”
Os diversos conceitos apresentados pela doutrina permitem identificar as características fundamentais da licitação.
Celso Antônio Bandeira de Mello: “Licitação é um certame que as entidades governamentais devem promover e no qual abrem disputa entre os interessados em com elas travar determinadas relações de conteúdo patrimonial, para escolher a proposta mais vantajosa às conveniências públicas”.[17: BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 26 ed. São Paulo: Malheiros, 2009. P. 517.]
Hely Lopes Meirelles: “É o procedimento administrativo mediante o qual a administração pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse.”[18: MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 27 ed. São Paulo: Malheiros, 2002. P. 260.]
Maria Sylvia Zanella Di Pietro: “... o procedimento administrativo pelo qual um ente público, no exercício da função administrativa, abre a todos os interessados,que se sujeitem às condições fixadas no instrumento convocatório, a possibilidade de formularem propostas dentre as quais selecionará e aceitará a mais conveniente para a celebração de contrato.”[19: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2001. P. 350.]
4.1. RDC: Regime Diferenciado de Contratações Públicas
	Sabe-se que a modalidade de licitação aprovada pelo Ministério da Integração a respeito da transposição de águas do rio São Francisco foi a do Regime Diferenciado de Contratações Públicas, abstendo-se da modalidade de licitação Concorrência, pelo fato dessa modalidade possuir maiores formalidades, exigida, normalmente, para contratações de grande valor econômico, seria, com isso, a mais indicada para esta obra.
	Entretanto, a constitucionalidade da Lei 12.462/2011, que estabelece normas sobre o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), tem sido questionada no âmbito acadêmico, bem como no âmbito do Supremo Tribunal Federal.[20: Constam duas ADIs que questionam o RDC no STF, ambas de relatoria do Min. Luiz Fux, pendentes de julgamento: a) ADI 4.645, proposta pelo PSDB, DEM e PPS; e b) ADI 4.655, apresentada pela Procuradoria-Geral da República. ]
	Os vícios formais, em síntese, seriam os seguintes: a) ausência de relevância e urgência (art. 62 da CRFB) para edição da MP 527/2011, convertida posteriormente na Lei 12.462/2011; e b) abuso do poder de emenda parlamentar, tendo em vista que a redação original da MP 527/2011 não tratava do RDC, e o tema foi inserido no Congresso por emenda parlamentar ( arts. 2º, 59 e 62 da CRFB).
	Por outro lado, os alegados vícios materiais da Lei 12.462/2011 podem ser assim sintetizados: a) excesso de vagueza da norma e ampla margem de discricionariedade para regulamentação por parte de entidades administrativas, como a Autoridade Pública Olímpica (APO), o que violaria os artigos 22, XXVII, e 37, XXI, da CRFB; b) contratação integrada, com a elaboração do projeto básico pelo licitante vencedor, inexistindo critérios objetivos prévios para tratamento isonômico entre os interessados; c) remuneração variável; d) restrição à publicidade de determinados atos (sigilo) em afronta aos princípios da publicidade e da moralidade; e) pré-qualificação permanente, com possibilidade de licitação restrita aos pré-qualificados, ofendidas a competitividade e a isonomia ( art. 37, XXI, da CRFB); e f) relativização de exigências ambientais, com a previsão de compensações ambientais e aparente facultatividade no cumprimento dos requisitos de sustentabilidade ambiental (art. 225 da CRFB). 
	A utilização do RDC, depende de previsão expressa no instrumento convocatório, bem como de decisão administrativa devidamente motivada.
4.2. Irregularidades Administrativas
	Jornais de grande circulação veicularam reportagens a respeito do projeto de transposição da bacia do São Francisco, motivados por alegações de irregularidades nos processos licitatórios, tais como superfaturamento e manutenção irregular das obras.
	Transcrevo, por conseguinte, a matéria do jornal O Estado de S. Paulo, alertando que o Trecho 5 da obra feita no Rio São Francisco custou R$ 29 milhões a mais, segundo o Tribunal de Contas da União; preço da areia chegou a subir 143%.[21: MARTA SALOMON / BRASÍLIA - O Estado de São Paulo. 29 de março de 2012 | 3h 10. Acesso em 26/10/2013.]
As irregularidades no edital do lote cinco da obra foram consideradas graves, e incluem preços de até 143% acima dos cobrados pelo mercado.
Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) apontou superfaturamento de 29 milhões de reais num dos trechos da obra da transposição do rio São Francisco, localizado no Ceará, e mandou rever os custos do negócio. As novas licitações deverão consumir 2,6 bilhões de reais, segundo previsão do Ministério da Integração.
As irregularidades encontradas no edital do lote cinco da obra foram consideradas graves, e incluem preços de até 143% acima dos cobrados pelo mercado, no caso da areia, além de suposta restrição à concorrência. O TCU mandou rever o edital antes do lançamento, previsto para abril. Mas, logo depois do anúncio da decisão do tribunal, o ministério informou que o edital já foi lançado no início de março. À revelia, portanto, do processo em curso no tribunal.
A licitação do chamado lote cinco havia sido suspensa em janeiro por causa de reclamações apresentadas por empresas concorrentes. Trata-se de um dos trechos mais complicados da obra. O lote cinco já passou por duas tentativas fracassadas de licitação desde 2007 e prevê a construção de seis barragens, duas pontes, quatro trechos de canais de concretos e 463 metros de túneis.
A transposição do São Francisco é o mais caro dos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Só no governo Dilma Rousseff, os preços aumentaram 71% e saltaram para 8,2 bilhões de reais. O trecho cinco tem custo estimado em 720 milhões de reais, de acordo com o TCU, mas o edital lançado vinte dias antes da aprovação da auditoria do tribunal teve preço fixado em 693 milhões de reais, segundo o ministério.
A transposição prevê a construção de mais de 600 quilômetros de canais de concreto para desviar parte das águas do rio São Francisco para o semiárido de quatro estados do Nordeste: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O principal uso da água serão projetos de irrigação.
Em fevereiro, a presidente Dilma Rousseff visitou a obra e destacou sua importância "estratégica" para o País. "O ministro Fernando Bezerra Coelho negociou contratos, reequilibrou esses contratos e agora nós temos uma clara perspectiva de fazer com que essa obra entre em regime de cruzeiro e não tenha nenhum problema de continuidade", declarou a presidente, conforme registro do evento feito pela equipe da Integração.
O lote cinco é o mais atrasado no cronograma da transposição. A mais recente previsão indica a conclusão desse trecho em dezembro de 2015, mais de cinco anos depois da previsão original. A transposição do São Francisco tem outros três trechos parados. As obras remanescentes nesses locais passarão por novas licitações até junho, informou o Ministério da Integração.
Só neste mês, o Ministério da Integração Nacional lança quatro novos editais para a licitação de R$ 2 bilhões em obras. Até junho, outros dois editais serão lançados, ao custo estimado em R$ 645 milhões. O total é superior ao previsto pelo ministro Fernando Bezerra Coelho menos de três meses atrás, quando revelou ao jornal O Estado de S. Paulo que a obra custaria R$ 1,2 bilhão extra.
Responsável pela obra, o Ministério da Integração atribuiu o aumento do custo da obra a adaptações no empreendimento, em decorrência do detalhamento dos projetos. O Ministério do Planejamento, que coordena o PAC, autorizou o aumento do custo da obra. “Os aditivos são explicados pelo avanço dos projetos executivos, que têm identificado, com maior grau de precisão, as intervenções necessárias para a completude (sic) do projeto de interligação (sic) do São Francisco”, informou em nota a assessoria da ministra Miriam Belchior.
Segundo o Ministério da Integração, é responsabilidade das empreiteiras já contratadas recuperarem cerca de 900 metros de canais de concreto danificados antes mesmo de entrarem em uso. “Essas falhas serão refeitas, sem custo adicional para os cofres públicos”, reiterou a pasta.
	A definição de fraude para a Auditoria é um ato intencional de omissão ou manipulação de transações, adulteração de documentos, registros e demonstrações contábeis.
Como sendo licitações públicas, faz necessário que seu procedimento seja público, não podendo haver sigilo. Portanto, para a garantia dessa prerrogativa temos como principio das licitações a publicidade.
Na maioria dos processos licitatórios para assegurar as fraudes, não são publicadas no Diário Oficial, nem mesmo em editais de convocação, para que possa haver concorrência e devida escolha da melhor oferta para o Poder Público.
Destarte, as fraudessão mais comuns, primeiramente, o superfaturamento, ou seja, a cobrança de preços superiores aos de mercado. Por exemplo, quando o governo paga R$ 18 por um remédio vendido em qualquer farmácia por menos de R$ 7. O superfaturamento geralmente é acompanhado do direcionamento ou dispensa da licitação e pode também ser consequência de acordo prévio entre os concorrentes.
Essa fraude pode ser observada ainda quando a convocação de licitação não é publicada no Diário Oficial. Em compras de menor valor, o responsável pela licitação também pode escolher sempre as mesmas empresas ou chamar duas que não conseguirão competir com o fornecedor beneficiado pelo acordo.
Outra fraude encontrada nos processos é a inexigibilidade de licitação. Recurso que só pode ser usado quando não existe possibilidade de competição, isto é, quando existe somente um fornecedor de produto ou serviço, desde que ele apresente atestado de exclusividade. Há casos de pessoas que se aproveitam dessa brecha na legislação para direcionar e superfaturar uma compra ilegalmente. A inexigibilidade também pode ser usada para a contratação de artistas e especialistas comprovadamente reconhecidos pela sociedade.
Pensando em conter algumas fraudes, o legislador cuidou de regular o possível abuso quanto a invocação de dispensa e inexigibilidade de licitação, ao impor uma sanção penal em seu artigo 89 que aduz: “dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes a dispensa ou a inexigibilidade”, terá pena de detenção de 3 a 5 anos, além de multa. Interessante ainda é que o beneficiário da contratação também fica sujeito as sanções do mesmo artigo em seu parágrafo 1º ao dizer que “na mesma incorre aquele, que tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público”.
Há ainda a infração penal disposta no artigo 90 da Lei 8.666/93 onde viola de maneira frontal a finalidade da licitação, que é possibilitar a igualdade de oportunidades em competição entre terceiros para contratar com a Administração Pública, evitando apadrinhamentos, favoritismos e perseguições.
Portanto, aquele que frustra ou frauda, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação, pratica crime e está sujeito à pena de detenção de 2 a 4 anos, e multa.
Os crimes contra a Administração Pública em matéria de Licitações e Contratos Administrativos estão previstos na Lei 8.666/1993, nos artigos transcritos a seguir:
Artigo 92- Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor do adjudicatório, durante a execução dos contratos celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade.
Artigo 96- Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação instaurada para aquisição ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente: a) elevando arbitrariamente os preços; b) vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada; c) entregando uma mercadoria por outra; d) alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria fornecida; e) tornando, por qualquer modo, injustamente, mais onerosa a proposta ou a execução do contrato.
	O patrocínio direto ou indireto de interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário, está sujeito à pena de detenção de seis meses a dois anos, e multa.
	Para sedimentar a questão de crimes contra a Administração no que tange o processo Licitatório, os mestres Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino nos ensina:[22: ALEXANDRINO, Marcelo & PAULO, Vicente. Direito Administrativo Descomplicado. – 18 ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2010. P. 616]
Se ocorrer ilegalidade na prática de algum ato do procedimento, esse ato deverá ser anulado, e sua anulação implica nulidade de todas as etapas posteriores do procedimento, dependentes ou consequentes daquele ato.
Com efeito, a regra geral é a possibilidade de a Administração Pública, também com base no poder de autotutela, revogar os seus atos discricionários, por motivo de oportunidade e conveniência, ressalvadas somente aquelas hipóteses em que a revogação não é cabível.
	A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade não gera obrigação de indenizar (artigo 49, §1º). Entretanto, a nulidade do contrato não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e pó outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que a causa da nulidade não lhe seja imputável (ao contratado), promovendo-se a responsabilidade de quem deu causa à nulidade (artigo 59, parágrafo único).
	Hely Lopes Meirelles ensina que “diversamente do que ocorre com a anulação, que pode ser total ou parcial, não é possível a revogação de um simples ato do procedimento licitatório, como o julgamento, por exemplo. Ocorrendo motivo de interesse público que desaconselhe a contratação do objeto da licitação, é todo o procedimento que se revoga.”
	Evidentemente, depois de assinado o contrato, não se pode mais revogar a licitação. Já a anulação da licitação pode ser feita mesmo depois de assinado o contrato e, como visto, a nulidade da licitação implica a nulidade do contrato dela decorrente.
	Na área criminal, a lei estabeleceu, em relação aos participantes e agentes públicos, várias figuras penais, como, por exemplo, fraudar a licitação, dispensar a licitação fora das hipóteses previstas na lei, impedir ou perturbar qualquer ato de licitação, devassar o sigilo da proposta, contratar com empresa declarada inidônea, entre outros. As penas variam, conforme o caso, de seis meses a seis anos de detenção e multa.
5. Aspectos Ambientais
Nas palavras de Paulo de Bessa Antunes:
“A água é um elemento indispensável a toda e qualquer forma de vida. Sem a água é impossível a vida. Essa afirmação, absolutamente óbvia e elementar, por incrível que pareça, é incapaz de sensibilizar muitas pessoas e comunidades, de forma que estas possam proteger e preservar as águas. De fato, o desperdício dos recursos hídricos é um fato que se repete muitas vezes. Os níveis atuais de uso de água doce não poderão ser mantidos se a população humana atingir 10 bilhões em 2050.”
	Da água doce existente no mundo são utilizados 73% na agricultura, 21% na indústria e 6% como água potável. A água utilizada na agricultura é grandemente desperdiçada, pois quase 60% de seu volume total se perde antes de atingir a planta. A água dita potável é de qualidade muito precária, pois, nos países pobres do chamado Terceiro Mundo, mais de 80% das doenças e mais de um terço da taxa de mortalidade são decorrência da má qualidade da água utilizada pela população para o atendimento de suas diversas necessidades.
	Merece ser mencionado o fato de que quase 1,5 bilhão de pessoas não tem água potável e quase 2 bilhões não dispõe de instalações sanitárias, dos quais 330 milhões habitam em países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Ocorre que o problema é ainda mais grave do que a simples análise quantitativa do consumo de água pode demonstrar. Em realidade, apenas a análise qualitativa é capaz de apontar a verdadeira dimensão de uma catástrofe que se avizinha, se não forem tomadas medidas urgentes e realistas por parte das pessoas responsáveis deste e por este planeta. É de se observar que o consumo de água tem o perfil da estrutura social. As distorções sociais refletem-se e se reproduzem no consumo de água individualmente considerado.As desigualdades Norte-Sul, igualmente, refletem-se na gravíssima questão do abastecimento de água que é, sem dúvida, um dos principais desafios chamado desenvolvimento sustentado.
	Inúmeros são os tratados e convenções internacionais voltados para a proteção do meio ambiente aquático. O Brasil é signatário de inúmeros documentos internacionais que foram estabelecidos com a finalidade de proteção dos recursos marítimos.
	Os graves problemas que afetam as águas em todo o mundo levaram a comunidade internacional a afirmar alguns princípios fundamentais para a utilização sustentada das águas e para a sua conservação para as futuras gerações. Os princípios ora referidos foram estabelecidos pela Conferência Internacional sobre Água e Desenvolvimento, realizada em Dublin, Irlanda, no ano de 1992. Os princípios são os seguintes:
A água é um recurso finito e vulnerável, essencial para a manutenção da vida, do desenvolvimento e do meio ambiente;
O desenvolvimento e a administração da água devem estar baseados em uma abordagem participativa, envolvendo os usuários, planejadores e elaborados de políticas públicas, em todos os níveis;
A mulher desempenha uma papel central na administração, na proteção e na provisão da água;
A água tem valor econômico em todos os seus usos e deve ser reconhecida como um bem econômico.
A presente principiologia é importante, pois incorpora, ao setor hídrico do direito ambiental, especificidades que merecem, e devem, ser ressaltadas e sublinhadas. Em realidade, a água é tida, especialmente entre nós brasileiros, como um recurso infinito e sem qualquer valor. Assim não é, efetivamente. Aprender a valorizar a água como um recurso escasso é fundamental para que esta não seja desperdiçada.
A Constituição Federal de 1988, assim como diversas Cartas anteriores, também dispôs sobre as águas. Assim é que o artigo 20, III, determina que são bens da União:
Os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais.
	O domínio da União, na forma do determinado pelos incisos IV, V, VI, VII, VIII do artigo 20, é integrado por:
Ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as áreas referidas no artigo 26, II; os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; o mar territorial; os terrenos da marinha e seus acrescidos; os potenciais de energia hidráulica.
	O artigo 26, em seus incisos I, II e III, arrola entre os bens pertencentes aos Estados os seguintes:
As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
As áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
As ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União.
Nas palavras do doutrinador civilista Flávio Tartuce:[23: TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil : volume único. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2011. P. 869.]
“O artigo 1.290 do CC trata das nascentes das águas e do escoamento das águas pluviais, prevendo que o proprietário de nascente, ou do solo onde caem águas pluviais, satisfeitas as necessidades de seu consumo, não pode impedir, ou desviar, o curso natural das águas remanescentes pelos prédios inferiores. As nascentes são as águas que surgem naturalmente, ou por indústria humana, e correm dentro de um só prédio particular, e ainda que o transponham, quando elas não tenham sido abandonadas pelo proprietário do mesmo (artigo 89 do Código das Águas). Nota-se que o proprietário do imóvel da nascente é obrigado a permitir o escoamento das águas pelos prédios inferiores, pois o curso de água que do seu imóvel surge tem importante finalidade social. Essa preocupação com a coletividade ainda inspira o artigo 94 do Código de Águas, pelo qual o proprietário de uma nascente não pode desviar o seu curso quando desta se abasteça uma população.”
Citando Luiz Edson Fachin sobre o tema:[24: FACHIN, Luiz Edson. Direitos de vizinhança e o novo Código Civil brasileiro: uma sucinta apreciação. São Paulo: Método, 2004. V. 2, P. 205.]
“A mercantilização do dano ambiental que coroa a interpretação equivocada do princípio do poluidor-pagador pode conduzir a conclusões como as que surgem da literalidade do artigo 1291: somente é proibida a poluição das águas indispensáveis à sobrevivência; quanto às demais, haveria uma pretensa ‘faculdade’, desde que com posterior reparação do prejuízo. Em uma sociedade na qual tudo teria valor de troca, poder-se-ia ‘comprar’ o ‘direito’ de poluir, com a retificação total do próprio meio ambiente. Essa hermenêutica – que pode decorrer da redação pouco elogiável do Código Civil – não é aceitável. A ilicitude da poluição se estende tanto ao possuidor que polui águas essenciais como àquele que polui águas não indispensáveis à vida dos possuidores dos prédios inferiores. Trata-se de um juízo que extrapola interesses individuais de natureza econômica, dizendo respeito à manutenção de um meio ambiente equilibrado”.
Afrânio de Carvalho ensina-nos que:[25: CARVALHO, Afrânio. Águas interiores. São Paulo: Saraiva, 1986. P. 121.]
“O rio, no seu todo, compõe-se de três elementos, água, leito e margem, dos quais a água é o principal, servindo o leito e a margem para contê-la. Ao passo que a água é um elemento autônomo, o leito e a margem se completam e solidarizam na função de continente dela. A margem, como prolongamento lateral ascendente do leito ou álveo, chega até a orla saliente da calha do rio, onde serve para lindar a contenção da água no seu curso normal. Na parte mais baixa, também é chamada de praia, e na mais alta, de ribanceira, ou barranca, pois costuma haver uma gradação, maior ou menor, de uma para outra, embora seja por vezes quase repentina a mudança, como nos “canhões” do rio. Assim como o leito, a margem é parte integrante do rio, mas ao mesmo tempo, ambos não passam realmente de extremidades do solo ribeirinho, dada a homogeneidade de sua composição.”
	
5.1. Situação da mata ciliar e da caatinga no Vale do São Francisco
Mata ciliar são florestas, ou outros tipos de cobertura vegetal nativa, que ficam às margens de rios, igarapés, lagos, olhos d´água e represas. O nome “mata ciliar” vem do fato de serem tão importantes para a proteção de rios e lagos como são os cílios para nossos olhos. No Cerrado brasileiro, a mata ciliar é conhecida como mata de galeria, e é composta por vegetação mais frondosa.
	A exploração dos recursos hídricos, minerais, vegetais e humanos de toda a bacia do Rio São Francisco durante mais de 500 anos trouxeram danos, alguns irreparáveis, a toda a região. Assoreamento, desmatamento, erosão e poluição são problemas enfrentados pela população do vale há anos, e o tipo de impacto ambiental está diretamente ligado à atividade econômica desenvolvida em cada região. O uso indiscriminado dos recursos naturais é, atualmente, o maior perigo à sobrevivência do rio. Certas análises apontam que esses abusos podem resultar em um desgaste e até mesmo esgotamento dessas fontes.
 No Alto São Francisco, a concentração demográfica, as atividades econômicas do quadrilátero ferrífero e as indústrias de transformação da Grande Belo Horizonte respondem pela degradação ambiental daquele trecho. Além destes, o garimpo de diamantes desfigura o leito do rio com grandes dragas, lançando depois o material retirado em suas margens que voltam ao rio nas enxurradas.
 Ainda no Alto São Francisco, mas já entrando no Médio e Sub-Médio, a principal fonte de poluição é a agricultura, praticada sem preocupações com a preservação dos recursos hídricos. Os projetos de irrigação e a agricultura provocam o desmatamentoda mata ciliar e, consequentemente, carregam sedimentos para o leito do Rio. A vegetação nativa, que em 1970 cobria 85% dos 12 milhões de hectares do norte de Minas Gerais, em 1990 estava reduzida a 35%. E a cada ano, mais de 400 mil hectares de cerrado são desmatados na bacia, o equivalente a mais de mil hectares por dia.
 A construção de hidrelétricas ao longo do rio também é um grave problema, que põe em risco sua própria existência. Além das transformações significativas que obras como barragens e usinas provocam na área onde são instaladas, com reflexos diretos na vegetação e vida animal, o regime das águas também é afetado. No Baixo São Francisco, uma preocupação de cientistas e ambientalistas é a regularização do fluxo de água, prejudicado e tornado irregular com todas as mudanças feitas no percurso e pelo uso excessivo do recurso.
 As sucessivas barragens feitas ao longo do rio provocam um processo quase irreversível de assoreamento, pois diminuem a correnteza natural, formam bancos de areia e transformam os drenos naturais de água em áreas pantanosas. Além disso, a regularização dessas usinas tem provocado efeitos também na atividade pesqueira e na cultura do arroz feitas pela população da área. A extinção de lagoas e várzeas naturais onde ocorria a reprodução e captura dos peixes, e onde tradicionalmente se fazia a plantação do arroz, ameaça a sobrevivência de espécies naturais e da própria população local.
 A Caatinga já teve 45,4% de seu território desmatado, cerca de 400 km² a menos de vegetação original. O desmatamento mais recente do bioma está ligado com a exploração ilegal de madeira para produção de carvão. Além da ameaça do desmatamento, o bioma é um dos mais vulneráveis às mudanças climáticas, com áreas sob grave risco de desertificação.
 Todo o semiárido brasileiro está sujeito ao processo de desertificação. Cerca de 50% da área da caatinga já não possui mais cobertura vegetal. Para tentar frear a intensa degradação da caatinga, tem-se investido na conscientização da população, visando o uso sustentável da terra e de seus recursos. 
 
		Sobre o assunto abordado, têm-se uma matéria postada pelos autores Andrea Zellhuber e Ruben Siqueira onde explanam da seguinte maneira:[26: Andrea Zellhuber e Ruben Siqueira. http://meuvelhochico.blogspot.com.br/2009/08/rio-sao-francisco-em-descaminho.html. 10 de Agosto de 2009. Acesso em 27/10/2013.]
“Dos indícios de degradação salta aos olhos o assoreamento. Calculam-se 18 milhões de toneladas de arraste sólido carreados anualmente para a calha do rio, até o reservatório de Sobradinho. A erosão, que é fruto do desmatamento e do consequente desbarrancamento (vide embaixo), além de alargar a calha do rio, gera uma carga elevada de sedimentos, que forma bancos de areia e “ilhas” (as chamadas “coroas” ou “croas”, no linguajar ribeirinho), constantemente se movendo e mudando de lugar.
O Rio São Francisco, pode-se dizer, é um milagre da natureza, pois faz o capricho de correr ao contrário e se estende do Sul mais baixo para o Norte mais alto, devido à falha geológica denominada “depressão sanfranciscana”. Tornando muito vulnerável, pois a pequena declividade (em média 7,4 cm por km) na maior parte de sua extensão, justamente a que recebe poucos afluentes, favorece o desbarrancamento e o assoreamento.
O assoreamento provoca anualmente uma perda de 1% da capacidade dos reservatórios (Coelho 2005, 138-139). Um indicador deste processo acelerado de assoreamento é a condição precária atual de navegabilidade do Rio São Francisco. Até pouco tempo o Rio era navegado sem maiores restrições entre Pirapora e Petrolina/Juazeiro (1.312 km), no médio curso, e entre Piranhas e a foz (208 km), no baixo curso. Hoje só apresenta navegação comercial no trecho compreendido entre os portos de Muquém do São Francisco (Ibotirama), na Bahia, e Petrolina/Juazeiro, na divisa entre Bahia e Pernambuco. Mesmo neste trecho, a navegação vem sofrendo revezes por deficiência de calado, sobretudo na entrada do lago de Sobradinho, onde um intenso assoreamento multiplica os bancos de areia (ANA et al. 2004b, 32).
Outro sinal alarmante da situação deplorável do Rio é a diminuição da sua vazão. Em 2001 o reservatório de Sobradinho chegou a 5% de sua capacidade (ANA et al 2004b, 20-21), em outubro de 2007 chegou a um pouco mais de 20% . Em combinação com a elevada carga de poluição doméstica e industrial que cai no Rio, o ecossistema aquático, nos períodos mais secos, regularmente chega ao colapso. O resultado são mortandades de peixes.
Em outubro de 2007, aconteceu em proporções inéditas um desastre ecológico decorrente desta poluição e da diminuição da vazão: uma contaminação com algas azuis (cianobactérias) que se proliferaram no Rio das Velhas e no Médio São Francisco, levando a uma enorme mortandade de peixes e à inadequação da água para consumo humano e animal, enquanto não aumentasse o volume com a chegada das chuvas nas cabeceiras. A infestação é efeito de uma alta concentração de emissões de esgotos domésticos e industriais, de agroquímicos e fertilizantes usados nas lavouras, que resultam em uma eutrofização dos cursos d’água. O mais problemático é o Rio das Velhas que coleta a maior parte do esgoto da região metropolitana de Belo Horizonte e que por isso é um dos rios mais poluídos da Bacia do São Francisco. Esta contaminação com cianobactérias mostra que em épocas de poucas chuvas o Rio não consegue mais diluir os poluentes. Mesmo com algumas melhorias dos sistemas de saneamento nos córregos Arrudas e Onça, em Belo Horizonte, o Rio não suporta mais carga de poluição, não tem mais capacidade de diluição das emissões. Isso pode ser causado por um aumento de poluição, mas com certeza é um indicador da diminuição da vazão. Além disso, este desastre leva à tona o fato que a eutrofização pela agricultura intensiva não é resolvida com melhorias no saneamento ambiental das cidades.”
5.2. Regime jurídico dos recursos hídricos
	A Constituição Federal de 1988 é um marco significativo na mudança de concepção sobre o meio ambiente e de sua proteção legal. Infelizmente, muitos aspectos verdadeiramente inovadores da Carta ainda não passaram pela necessária densificação legislativa. Felizmente, naquilo que diz respeito aos recursos hídricos, o legislador federal estabeleceu uma nova normatização que possibilitou o estabelecimento da Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH que não é antagônica à Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA, ao contrário, ambas são complementares. A Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH está estabelecida pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997.
	A Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH tem por objetivos os seguintes:
Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;
A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;
A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.
Os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores cujo objetivo é fundamentar e orientar a implantação da Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH, bem como o gerenciamento dos recursos hídricos. Os Planos de Recursos Hídricos caracterizam-se por serem planos de longo termo. O plano deverá ter o seguinte conteúdo mínimo:
Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;
Análise das alternativas de crescimento demográfico, de evolução das atividades produtivas e da modificação dos padrões de ocupação do solo;
Balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;
Metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis;
Medidas a serem tomadas, programas

Outros materiais