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475 ESTUDO DA CONTAMINAÇÃO DO SUBSOLO DA REGIÃO DO ATERRO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE MURIBECA - PE F. J. S. Oliveira Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco. José F. T Jucá Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco. RESUMO: Estudos sobre a contaminação e de mecanismos de contaminação de solos vem sendo cada vez mais explorados devido a necessidade de segurança a longo prazo exigida para sistemas de contenção de resíduos em geral. Neste sentido, o Grupo de Resíduos Sólidos da UFPE realizou uma investigação da contaminação do solo imediatamente abaixo de uma célula do Aterro da Muribeca, Recife - PE, Brasil, para verificar a impermeabilização da camada de fundo. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: obtenção das características físico-químicas do solo e do chorume do aterro em questão, e confecção de perfis da contaminação vertical no solo imediatamente abaixo de uma célula de lixo promovida pela infiltração de chorume. 1. INTRODUÇÃO O Aterro de Resíduos Sólidos (ARS) da Muribeca, maior da região metropolitana do Recife - PE, recebe diariamente 2.800 toneladas de resíduos urbanos, hospitalares e industriais. Desde 1986, Muribeca funcionava de forma inadequada como depósito de lixo a céu aberto desde 1986. Em 1994, foi iniciado o processo de tratamento dos resíduos e de recuperação ambiental, visando transformação do lixão em um aterro celular controlado. Neste projeto, a área do aterro foi dividida em nove células de aproximadamente 4 hectares cada, de forma a se proceder o tratamento isolado de cada célula, Jucá et al., (1996). Este trabalho apresenta dados físico- químicos do chorume do referido aterro, dados estes que são utilizados no acompanhamento do processo de decomposição dos resíduos confinados e na verificação do potencial poluente do líquido. Apresenta-se também, a investigação da contaminação química da camada de solo de fundo da Célula 2, através da determinação da profundidade da frente de contaminação, verificando desta forma, o avanço de cada contaminante no subsolo da região. 2. MATERIAIS E MÉTODOS A primeira fase da investigação consistiu em obter amostras de líquido durante perfuração do lixo da Célula 2, bem como obter também, amostras em piezômetros pré- instalados nas células, verificando assim as características físico-químicas do contaminante em questão. A amostragem se deu com amostradores tipo caneca de aproximadamente 0,8 m de altura por 0,05 m de diâmetro. As amostras de líquidos foram acondicionadas em recipientes plásticos e encaminhadas aos Laboratórios de Engenharia Ambiental e de Controle da Qualidade do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, para as análises de rotina de parâmetros de qualidade de efluentes. Os ensaios de determinação de concentração de elementos químicos foram executados no 476 Laboratório de ICP, Departamento de Geologia da UFPE. Todos os ensaios físico-químicos foram executados de acordo com as recomendações do Standard Methods, (1992). A partir de sondagem realizada no ponto mais profundo da Célula 2, foi coletada uma amostra (1,5 m de altura por aproximados 0,06 m de diâmetro) do solo imediatamente abaixo do lixo confinado nesta célula. A amostra então, foi subseqüentemente dividida em pequenos corpos de prova de aproximados 0,05 m de altura, que foram transferidos para sacos plásticos providos de vedação, os quais foram acondicionados em recipiente térmico a aproximados 130C. Foram determinados para cada amostra, após secagem e redução a pó em um Shatter box revestido com carbeto de tungstênio, os teores de elementos químicos adsorvidos, Tessier et al., (1979), via extração seletiva, e análise em ICP/AES (mod Iris/AP- TJA) com detetor de estado sólido (CID). Determinou-se também os teores de sólidos voláteis, umidade e pH WHO, (1978). Os resultados destes ensaios permitiram definir perfis da frente de contaminação em função da profundidade de solo. A caracterização física se deu no Laborat´rorio de Solos e Instrumentação da UFPE e constou da determinação da granulométrica com peneiramento seguido de sedimentação, executada de acordo com a ABNT NBR 7182. A umidade em campo da amostra foram executadas seguindo a ASTM D-422. Os limites de liquidez e plasticidade segundo ABNT NBR 6459 e ABNT NBR 7180, respectivamente. A massa específica dos grãos foi performada de acordo com a ABNT NBR 6508. A determinação da superfície específica foi executada de acordo com Pejon, (1992), Pejon e Zuquette (1994). 3. RESULTADOS E DICUSSÃO 3.1 Características do chorume e do subsolo da região O chorume de aterros de resíduos urbanos são em geral líquidos de composição variada e complexa, apresentando vários compostos orgânicos, Yasuhara et al., (1997), íons orgânicos, Manning e Bewsher, (1997), elementos químicos diversos, Jucá et al., (1998). O chorume do Aterro da Muribeca é um líquido escuro de composição química e microbiológica variada. Durante a pesquisa, observou-se clara estratificação de cor no líquido nos piezômetros, isto esta relacionado com a infiltração de águas de chuva pela camada de cobertura, pois ela possui elevado coeficiente de permeabilidade in situ, cerca de 4 x 10-5 m/s, determinada com auxílio de permeâmetro Guelph. O pH do líquido em questão, variou entre 7 a 8,3 e a alcalinidade, de 6.000 a 16.000 mg/l de CaCO3, revelando que o líquido é predominantemente alcalino, sendo esta uma das principais características de chorumes em metanogênesis. O elevado teor de cloretos, de 2.000 a 4.000 mg/l de Cl, indica que este é um dos ânions mais abundantes no chorume. Esta acentuada presença é devida pela notada solubilidade que os cloretos em geral possuem, (Leprevost, 1975), podendo ser lixiviados mais facilmente que alguns outros sais. Investigações qualitativas para os ânions nitrito e nitrato quase sempre apresentam resultado como traços leves indicando a presença em menor quantidade. A DBO de 200 a 6.000 mg/l de O2, indica a potencial carga orgânica que o líquido em questão apresenta. A DQO de 500 a 16.000 mg/l de O2 é elevada indicando a presença de materiais orgânicos e inorgânicos passíveis de oxidação. Estas elevadas faixas de variação indicam a complexidade deste líquido. Observa-se que os elementos químicos mais concentrados no chorume são os oriundos de lixiviação de materiais que constituem a camada de cobertura, de materiais aterrados passíveis de corrosão, como peças metálicas, dentre outros. A Tabela 1 apresenta a faixa de variação dos teores de elementos químicos no chorume, como segue: A presença de metais pesados como cobre, chumbo, níquel, zinco, entre outros, em concentrações preocupantes confirmam a disposição de materiais provenientes das industrias aumentando o caráter poluente do líquido em questão. Em geral, os maiores valores de concentração dos elementos químicos são 477 encontrados nas maiores profundidades, que é uma preocupação adicional devido a promoção de um elevado gradiente de concentração elevado na interface solo chorume. Uma outra observação obtida nas sondagens na células é a da existência de uma manta líquida de altura variada, ou seja, desde não existente para células de lixo velho, como a Célula 2 por exemplo, a cerca de 25 m para células de lixo com idade inferior a cinco anos. Tabela 1: Faixa de variação da concentração de elementos químicos no chorume Elemento Faixa de variação a Alumínio 50 - 1800 Cálcio 30 – 1700 Cádmio < 0,01 Chumbo < 0,01 – 1,8 Cobalto < 0,01 – 0,6 Cobre 0,2 – 4,40 Cromo < 0,01 – 6,9 Ferro 30 – 770 Fósforo 10 –20 Magnésio 10 – 220 Manganês < 0,01 – 19 Níquel < 0,01 – 2,70 Potássio 500 - 1500 Sódio 1000 – 3000 Zinco 1 – 90 a Valores em mg/l do elemento A textura do solo de fundo da Célula 2 é de solo fino, classificado, segundoa USC, como CL, argila arenosa. A granulometria consta de 32% de argila, 26% de silte, 27% de areia fina e 15% de areia média. A coloração é amarelo pardo 2.5Y5/4. O limite de liquidez encontrado foi de 37,8% e o índice de plasticidade de 18,6%. A sondagem indicou que a compacidade do material varia entre baixa e medianamente compacta. A superfície específica do solo em questão é 64 m2/g. Abaixo da camada de solo, de profundidade variando desde afloramento de rocha a 6 m, encontra-se uma rocha calcárea. Esta rocha se estende por toda área do aterro em associações com rochas gnaisses formando um embasamento cristalino, Jucá et al., (1996). As elevadas concentrações de elementos químicos no chorume associadas as elevadas pressões hidrostáticas , levam a um transporte difusivo-dispersivo-advectivo, contaminando o subsolo da área. Como o transporte de contaminantes em rochas é muito lento, em relação a meio mais poroso, como alguns solos, um deslocamento longitudinal pode ser preferido, ao a frente de contaminação encontrar o embasamento cristalino. Ocorrendo este deslocamento longitudinal, o sentido do gradiente da região será preferido. Na região do Aterro da Muribeca o gradiente é em direção ao solo aluvionar que circunda toda a área do aterro, podendo assim a pluma alcançar o leito Rio Muribequinha e a água do subsolo da região, que é residencial e agrícola. 3.2 Perfis verticais da contaminação Todos os perfis apresentam clara frente de contaminação em direção ao fundo, sendo o formato das curvas obtidas para alguns parâmetros semelhantes as formas de curvas apresentadas por Quigley et al., (1987) em uma argila siltosa abaixo de um aterro de resíduos sólidos urbanos em Sarnia - Canadá. Para investigar de forma simplificada ou melhor, indicativa, o alcance da frente contaminação orgânica no subsolo do Aterro da Muribeca, o perfil de sólidos voláteis foi traçado. O método usado baseia-se na ignição da amostra, e é recomendado tanto para solos quanto para resíduos ou húmus, WHO, (1979), no entanto, para execução deste ensaio, deve- se partir de amostras secas em estufa até peso constante. A partir desta necessidade, os dados de umidade também foram obtidos. O perfil de umidade em conjunto com o de teor de sólidos voláteis dão indicação da infiltração do chorume no solo, Figura 1. Nota-se um teor de sólidos voláteis não inferior a 5% até profundidade de 1,5 m após interface lixo solo onde se encontra a rocha neste local. Os valores de teor de voláteis em solos da região, em áreas não contaminadas, não são superiores a 2% indicando contaminação orgânica até esta profundidade. O perfil de pH, em água, é apresentado na Figura 2, e indica clara contaminação até aproximados 1,5 m após interface lixo solo 478 visto que o pH de solos da região, apresentam valores em torno de 4,5. Estes dados reforçam a tese de contaminação orgânica até pelo menos a profundidade citada. Nota-se, ver Figura 3, que o teor de cálcio adsorvido, 500 mg/l, é maior que o sódio adsorvido, 300 mg/l, mesmo sendo a concentração do segundo elemento muito maior que a do primeiro no chorume, ver Tabela 1. Este fato deve-se a adsorção preferencial de elementos de maior carga eletrônica em relação aos de menor carga, Mitchell, (1993). 0 5 10 15 20 25 30 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Umidade (%) 0 5 10 15 20 25 30 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Solidos Volateis (%) P ro fu n d id a d e ( m ) Figura 1: Perfis do teor de sólidos voláteis e de umidade 3 4 5 6 7 8 9 10 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 pH P ro fu n d id a d e ( m ) Figura 2:Perfil de pH Observa-se também, um maior deslocamento de ambos elementos acima citados, em relação aos elementos de transição, ver Figura 4 e 6. Isto se deve ao fato destes elementos poderem, em geral, possuir carga trivalente sendo portanto adsorvidos mais fortemente. Adicionado a este fato, têm-se também a propriedade de complexação e precipitação do elementos de transição, principalmente em meios com pH alcalino, como na faixa superior do subsolo contaminado pela frente orgânica do chorume, ver Figura 2, tendendo nestas condições, a formar hidróxidos e/ou complexos de baixo produto de solubilidade, Yong et al., (1992). 0 200 400 600 800 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Sódio (mg/l Na) 0 500 10001500200025003000 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Calcio (mg/l Ca) P ro fu n d id a d e ( m ) Figura 3: Perfil de sódio e cálcio 0 1 2 3 4 5 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Aluminio (g/l Al) 0 1 2 3 4 5 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Ferro (g/l Fe) P ro fu n d id a d e ( m ) Figura 4:Perfil de alumínio e ferro 479 0 20 40 60 80100120140160 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Cobalto (mg/l de Co) 0 1 2 3 4 5 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Cromo (mg/l de Cr) P ro fu n d id a d e ( m ) Figura 5: Perfil de cobalto e cromo 0 5 10 15 20 25 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Cobre (mg/l de cu) 0 20 40 60 80 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Manganês (mg/l de Mn) P ro fu n d id a d e ( m ) Figura 6: Perfil de cobre e manganês Teores de fósforo adsorvido, Figura 7, em concentrações superiores a máxima apresentada no chorume revela o acúmulo deste elemento com a infiltração do chorume. Partindo das espécies com transporte mais e menos amortecidos, estipulou-se a velocidade de infiltração das espécie químicas, relacionando o comprimento de alcance de fronte com o tempo médio. Obteve-se 0,06 m/ano para as mais sorvidas e 0,125 m/ano (duas vezes maior que a anterior) para as menos sorvidas, sendo ambas velocidades altas indicando que o transporte das não é predominantemente difusivo (velocidade de infiltração abaixo de 0,005 m/ano, Shackelfor, (1993)), concordando com a textura de areia argilosa verificada na sondagem. O alcance de algumas espécies à rocha (profundidade em torno de 1,5 a partir da interface lixo solo) aponta para possibilidade de transporte longitudinal, como exposto anteriormente. 0 50 100 150 200 250 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Fósforo (mg/l P) 0 20 40 60 80 -24 -23,5 -23 -22,5 -22 Manganésio (mg/l Mn) P ro fu n d id a d e ( m ) Figura 7:Perfil de magnésio e fósforo 5 CONCLUSÕES O chorume do Aterro da Muribeca apresenta elevados teores de DBO, DQO, Cloretos, elementos químicos variados, e revelam que o líquido é um potencial poluente para o solo e recursos hídricos. A alteração do pH adicionado a elevação do teor de voláteis no solo dá clara indicação de infiltração de chorume e por conseguinte, contaminação do solo. A frente de contaminação de alguns elementos químicos alcançaram o embasamento cristalino da região. Metais de transição tem transporte mais amortecidos que os alcalinos por possuírem capacidade de precipitação e complexação adicionada a carga eletrônica tri e/ou bivalentes que facilita a adsorção no solo e em pólos de algumas moléculas orgânicas. A notada sorção do solo em questão à alguns elementos químicos é devido a alta superfície especifica deste, fato que está de acordo com a finura do material associada à compactação mediana. Altas velocidades de infiltração de contaminantes são observadas, indicando que ou o transporte das espécies não é predominantemente difusivo. 480 6. REFERÊNCIAS American Public Health Association (APHA). (1992). Standard Methods for the Examinations of Water and Wastewater. Washington, DC. Jucá, J.F.T.; Mariano, M.O.H. & Barreto Campello, E.M. (1996). Ground and surface water contamination due to Municipal Solid Waste in Recife, Brazil. Proc. of 2th Environmental Geotechnics, 1, 91, Roterdam: Balkema Jucá, J.F.T.; Oliveira,F.J.S. & Azoubel, P.M. (1998). 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