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Teoria Geral do Processo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin Sujeitos do Processo • Considerações Iniciais • Partes do Processo • Capacidade Processual • Procuradores • Substituição Da Parte • Litisconsórcio • Intervenção de Terceiros · Aprender um pouco mais sobre os principais sujeitos do processo, o autor e o réu, bem como outros institutos processuais correlatos a essas importantes partes da relação processual. · Em grande parte dos casos, há somente um autor e um réu; contudo, há outras diversas possibilidades de configuração dos polos ativo e passivo, que precisam ser mais bem conhecidos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante tema: os “Sujeitos do Processo”. Então, procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o mate- rial complementar. Não esqueça! A leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de anotá-las e de transmiti-las ao professor tutor. Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra no ambiente mais interativo possível, na pasta de Atividades, você também encontrará as atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a videoaula. Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado. Por favor, estude todos com atenção! ORIENTAÇÕES Sujeitos do Processo UNIDADE Sujeitos do Processo Contextualização Litigando sozinho ou com outras pessoas ao seu lado? Vamos imaginar que diversos servidores públicos, ao verificarem seus informativos de pagamento, constatam que há uma gratificação que todos recebiam e que, misteriosamente e sem qualquer explicação, foi retirada de seus vencimentos. Buscando entender o que ocorreu, eles, de forma lacônica, são informados que essa mudança se deu em virtude de uma reestruturação da folha de pagamento e que eles não mais irão receber aquela vantagem salarial. Em situações como essas, cada um dos prejudicados, não encontrando outra forma de buscar a satisfação de suas pretensões, pode apresentar à jurisdição uma Ação Judicial para que seja reconhecida a ilegalidade dessa medida adotada pela Administração Pública. Ocorre que isso fará com que, em poucos dias, o Poder Judiciário receba centenas ou milhares de ações judiciais que possuem, exatamente, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. A repetição de ações com essas características é extremamente preocupante para o sistema judicial, pois gera uma desnecessária repetição de atos e registros. Em situações como essas, o que precisamos perguntar é o seguinte: poderia ser proposta uma única ação judicial por todos os servidores públicos lesados, já que todos os aspectos de interesse para a demanda são rigorosamente os mesmos? Essa e outras questões importantes sobre os polos da relação processual são objetos de nossa aula. 6 7 Considerações Iniciais A relação processual é formada quando alguém apresenta à jurisdição uma lide que, em geral, foi formada em razão do desrespeito a uma pré-existente relação de direito material. Com a intervenção do Estado-juiz, essa demanda irá ser apreciada. Se estiverem presentes as condições da ação, haverá uma decisão de mérito, estabelecendo-se qual das partes tem razão e que, em consequência, deve ter seu direito reconhecido. Para que possamos compreender um pouco mais sobre a forma como tudo isso se desenvolve, é necessário conhecer alguns dos detalhes relacionados ao autor e ao réu da relação processual. Partes do Processo As partes clássicas do processo são: · Estado: representado pelo Estado-juiz; · Autor; · Réu. Elas são citadas no adágio latino Judicium est actum trium personarum: judicis, actoris et rei. Nomenclatura No direito processual, o autor e o réu, em determinadas situações, recebem nomes diferenciados. Considerando essas várias possibilidades, eles podem receber as seguintes denominações: · No processo civil: I. Processo de conhecimento: a) nas ações em geral: demandante e demandado; b) na reconvenção: reconvinte e reconvindo; c) nos recursos em geral: recorrente e recorrido; d) na apelação: apelante e apelado; e) no agravo: agravante e agravado; f) nos embargos de terceiro ou de declaração: embargante e embargado; g) na intervenção de terceiro: o que é chamado a intervir pode ser “denunciado”, “chamado”, “assistente”, amicus curiae ou simplesmente “interveniente”. 7 UNIDADE Sujeitos do Processo II. Processo de execução: a) as partes da execução forçada são: exequente e executado; b) nos embargos do devedor ou de terceiro: embargante e embargado. III. Tutela provisória: as partes são tratadas como requerente e requerido. IV. Nos procedimentos de jurisdição voluntária: não há partes, mas apenas interessados (THEODORO JUNIOR, 2015, p. 266-7). · No processo penal: nas ações penais privadas o autor é o querelante e o réu o querelado. · No processo do trabalho: o autor é o reclamante e o réu o reclamado. Autor O autor é aquele que invoca a tutela jurídica do Estado, tomando a posição ativa de instaurar a relação processual. Ele faz isso em nome próprio: Código de Processo Civil Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. [...] Substituição processual É a exceção contida na parte final do Artigo 18 do Código de Processo Civil, pois o autor irá, em nome próprio, requerer a tutela de direito controvertido de outrem. Isso somente pode ocorrer nas situações expressamente previstas em Lei. É o que ocorre, por exemplo, nas ações populares previstas no Artigo 5º, Inciso LXXIII, da Constituição Federal: Art. 5º. (...) LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; Obviamente, não é um único cidadão o titular dos direitos que podem ser discutidos na ação popular (patrimônio público, moralidade administrativa, meio ambiente etc.), mas ele será o autor desse tipo de ação. Réu O réu possui uma posição passiva no processo, pois se sujeita à relação processual instaurada pelo autor. É necessário relembrar que para se chegar a uma solução de mérito não basta que haja partes – elas devem ser partes legítimas, pois esta é uma das condições da ação. 8 9 Capacidade Processual A capacidade processual é a aptidão para participar da relação processual, seja em nome próprio, seja em nome alheio. Para que isso ocorra, basta que a pessoa seja dotada de capacidade civil – que não precisa ser plena: Código de Processo Civil Art. 70. Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo. Representação e assistência de incapazes A falta de capacidade civil é suprida pela representação ou pela assistência, nos termos do Código Civil: Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei. Assim, o filho tem direito de pedir aos pais o pagamento de alimentos (especialmente, na forma de pensão alimentícia). Dessa forma, na ação de alimentos movida contra o pai, é o filho que figura no polo ativo (é ele o autor). Se ele tiver, por exemplo, dois anos de idade, será representado por sua mãe (ela não é parte do processo), tudo isso na forma prescrita no Direito Civil. Curador Especial Em algumas situações estabelecidas no Artigo 72 do Código de Processo Civil, o juiz irá nomear um curador especial a uma das partes: Art. 72. Ojuiz nomeará curador especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei. Além dessas disposições do Código de Processo Civil, podem outras normas determinar a nomeação de Curador Especial para outras pessoas que se encontram em situações em que essa medida seja adequada. É o que ocorre com o Estatuto do Idoso (Lei n.º 10.741/03), no qual é estabelecida a necessidade de Curador Especial para o idoso que, mesmo não interditado, esteja em situação de risco e que necessite dessa providência. 9 UNIDADE Sujeitos do Processo Em qualquer situação, essa representação realizada pelo Curador Especial somente é válida no processo, não sendo válida para os demais atos da vida civil. Determina o parágrafo único do Artigo 72 que seja realizada pela Defensoria Pública, na forma da lei. A Lei Complementar n.º 80/94 é a organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios, bem como estabelece normas gerais para a organização das Defensorias Públicas dos Estados, em razão do disposto no § 1º do artigo 134 da Constituição Federal. Consentimento do cônjuge O Código de Processo Civil estabelece que nas ações que versem sobre direitos reais imobiliários e em outras previstas no seu Artigo 73, os dois cônjuges precisam participar da relação processual ativa ou passiva. Em algumas situações, isso se dá com a apresentação de documento que demonstra a concordância do outro cônjuge para que a demanda seja proposta, sendo esse documento denominado: · Outorga uxória, quando a manifestação de concordância é proveniente da esposa; · Outorga marital, quando essa concordância é proveniente do marido. Considerando-se essas informações, temos a seguinte situação: No polo ativo: · Se o bem pertence a um só dos cônjuges ele sozinho deverá propor a ação. Contudo, deverá estar munido da outorga uxória ou marital, salvo se forem casados em regime de separação absoluta de bens (quando essa providência será desnecessária); · Se o bem pertence a ambos, a ação deverá ser apresentada pelo casal, de forma conjunta (o que se chama litisconsórcio necessário); · No polo passivo, ambos devem ser citados, o que, igualmente, caracteriza o litisconsórcio necessário: Código de Processo Civil Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; 10 11 II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges. § 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. § 3º Aplica-se o disposto neste Artigo à união estável comprovada nos autos. Se houver uma recusa injustificada ou a impossibilidade de concessão da outorga (marital ou uxória) por parte de um dos cônjuges, ela pode ser suprida judicialmente: Código de Processo Civil Art. 74. O consentimento previsto no Art. 73 pode ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo. Parágrafo único. A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo juiz, invalida o processo. Nas hipóteses em que a outorga não for apresentada ou não houver o seu suprimento judicial, haverá a invalidação do processo. Representação de pessoas jurídicas e pessoas formais Muito embora a pessoa jurídica tenha existência distinta das pessoas físicas que a formam, é inegável que, em certas situações, ela precisa ser representada por alguém, por exemplo, para assinar o instrumento de procuração que constitui um advogado. A pessoa física que irá realizar essa representação está estipulada no Artigo 75 do Código de Processo Civil. Além de regular a representação das pessoas jurídicas, o Artigo 75 também trata dessa situação em relação às pessoas formais, ou seja, de certas massas patrimoniais que não gozam de personalidade jurídica, tal como ocorre com o espólio, a herança jacente e vacante, a massa insolvente civil etc.: Código de Processo Civil Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado; II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores; III - o Município, por seu prefeito ou procurador; 11 UNIDADE Sujeitos do Processo IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado designar; V - a massa falida, pelo administrador judicial; VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador; VII - o espólio, pelo inventariante; VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores; IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens; X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil; XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico. [...] Incapacidade processual e irregularidade de representação O Artigo 76 estabelece as consequências para os casos de incapacidade processual e de irregularidade de representação: Código de Processo Civil Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício. § 1º Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instân- cia originária: I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor; II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber; III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se encontre. [...] Constatado um defeito na capacidade processual ou da representação o juiz irá suspender o processo e estabelecer prazo razoável para que o vício seja sanado. Havendo essa regularização, o processo volta a correr normalmente. 12 13 Contudo, se o vício não for superado: · Se ele diz respeito ao autor, o processo é extinto sem julgamento de mérito (Artigo 485, Inciso V); · Se a irregularidade parte do réu, ele será considerado revel; · Se o vício provém de um terceiro, ele poderá ser considerado revel ou excluído do processo, conforme a situação em que estiver enquadrado. Procuradores Um dos pressupostos para que haja a regularidade processual é que as partes estejam representadas por profissionais que possuam a chamada “capacidade postulatória”, ou seja, por advogado regularmente inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. A exceção a essa regra se dá quando a parte é também advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, hipótese em que poderá postular em causa própria: Código de Processo Civil Art. 103. A parte será representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Parágrafo único. É lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitaçãolegal. O advogado comprova a representação da parte apresentando em juízo a procuração, que indica os poderes que o outorgante lhe atribuiu para o desempenho dessa função. A procuração geral para o foro, também conhecida por “procuração ad judicia” é outorgada por instrumento público ou particular, e habilita o advogado a praticar a maioria dos atos do processo em nome da parte. Pode, contudo, o outorgante atribuir a esse profissional outros poderes, sendo que para tanto eles deverão estar expressos no instrumento de procuração. Esses poderes constam da parte final do caput do Artigo 105 do Código de Processo Civil e são os seguintes: “receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica”. O Artigo 107 do Código de Processo Civil apresenta uma série de direitos do advogado no curso do processo, os quais devem ser complementados pelas disposições contidas no Estatuto da Advocacia (Lei n.º 8.906/94), em especial, em seu Artigo 7º. 13 UNIDADE Sujeitos do Processo Substituição Da Parte Em regra, as partes que formam a relação processual se mantêm até o seu desfecho. Contudo, situação há em que ocorre a substituição no polo ativo ou no polo passivo. Essa substituição pode ocorrer, por exemplo, se as partes forem pessoas físicas e, uma ou outra, vier a falecer durante a tramitação do processo, quando a parte será substituída por seu espólio ou pelos seus sucessores. Obviamente, nesse caso, não há outra opção para o processo: Código de Processo Civil Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no Art. 313, §§ 1º e 2º. Porém, a substituição voluntária somente poderá ocorrer nas hipóteses previstas em Lei (Artigo 108 do Código de Processo Civil): Art. 108. No curso do processo, somente é lícita a sucessão voluntária das partes nos casos expressos em lei. Uma situação importante e que merece destaque se refere à alienação do direito controvertido durante a pendência do processo. Por exemplo: “A” alega que possui a propriedade de um cavalo que se encontra na posse de “B” e durante o processo o animal acaba sendo vendido para “C”. Essa situação está prevista no Artigo 109 do Código de Processo Civil: Art. 109. A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos, a título particular, não altera a legitimidade das partes. § 1º O adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juízo, sucedendo o alienante ou cedente, sem que o consinta a parte contrária. § 2º O adquirente ou cessionário poderá intervir no processo como assistente litisconsorcial do alienante ou cedente. § 3º Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias ao adquirente ou cessionário. Vamos ver como deve ser tratado o nosso exemplo, considerando-se essa prescrição legal: Não podemos, contudo, confundir a substituição da parte com a substituição processual, que tratam de situações totalmente díspares. 14 15 · Em regra, as partes do processo continuam a ser “A” e “B”, sendo que, como “B” não mais está na posse do cavalo, ele irá atuar como substituto processual do novo titular do direito controvertido – no caso “C”, que adquiriu o animal. A sentença irá estender seus efeitos à “C”. Dessa forma, se o juiz reconhecer que “A” é o verdadeiro proprietário, irá retirar o animal de “C” e entregar ao vitorioso na ação. Nesse caso, em geral, o adquirente terá direito de cobrar do vendedor os danos que sofreu. · Após a venda, contudo, poderá “C” substituir “B” no polo passivo do processo, ou seja, pode ocorrer à substituição da parte; porém, para que isso ocorra, é necessário que “A” concorde com a troca. Litisconsórcio Normalmente, as partes da relação processual são singulares (um autor e um réu). Contudo, em diversas situações, podemos ter mais de um réu ou mais de um autor (ou tudo isso junto). A isso chamamos de litisconsórcio. Ele poderá ocorrer nas hipóteses do Artigo 113 do Código de Processo Civil: Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. § 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. § 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. O litisconsórcio pode ser: · Quanto à posição: · Ativo: quando há mais de um autor; · Passivo: quando há mais de um réu. · Quanto às consequências para o processo: · Necessário: ele não pode ser dispensado, sendo que somente será possível uma decisão válida se todos os litisconsortes forem integrados ao processo: 15 UNIDADE Sujeitos do Processo Código de Processo Civil Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes. Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será: I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo; II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados. Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo. · Facultativo: é uma escolha pessoal das pessoas envolvidas, que podem litigar isoladas ou em conjunto. Ao analisar o caso concreto, o juiz poderá limitar o número de litisconsortes facultativos, pois um número exagerado pode dificultar a atuação da parte contrária – é o que se chama de litisconsórcio multitudinário (§§ 1º e 2º do Artigo 113). · Quanto às consequências para a decisão: · Simples: apesar de litigarem em conjunto, a decisão pode ser diferente para os diversos litisconsortes; · Unitário: a decisão será, obrigatoriamente, idêntica para os litisconsortes: Código de Processo Civil Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes. Alguns exemplos: · “A” ingressa com uma ação contra “B” e “C”, alegando que foi vítima de agressão e que essa conduta deles causou danos materiais e morais; · “D” e “E”, sócios de uma empresa, ingressam com uma ação pedindo a nulidade de uma Assembleia de acionistas, alegando que não foram seguidas as prescrições legais para que isso ocorresse; · “F” ingressa com uma ação de usucapião, sendo que, por determinação legal, são citados “G”, “H” e “I”, proprietários dos terrenos confrontantes. · Vamos discutir cada uma dessas hipóteses: · Na ação movida por “A”, é formado um litisconsórcio passivo facultativo por “B” e “C”. Nesse caso, o autor poderia decidir processá-los isolada ou conjuntamente. Esse litisconsórcio é simples, pois, ao final do processo, poderá ficar comprovado que somente “B” foi o agressor e causador dos danos; 16 17 · Na ação movida por “D” e “E”, foi formado um litisconsórcio ativo facultativo. Cada um dos sócios poderia ingressar com a ação judicial separadamente,mas resolveram ingressá-la em conjunto. Esse litisconsórcio é unitário, pois não é possível que a decisão seja diferente para cada um deles. Assim, ou o juiz reconhece que a Assembleia não foi realizada regularmente ou reconhece a improcedência da ação para ambos; · Na ação movida por “F”, o litisconsórcio passivo formado pelos confrontantes é necessário, pois a sentença somente será válida se forem integrados no polo passivo todos os proprietários dos imóveis que fazem limite com o terreno sobre o qual o autor alega ter domínio. Os litisconsortes, apesar de litigarem juntos, são considerados nas relações com a parte adversa como se fossem litigantes distintos, razão pela qual, em regra, a conduta de um não aproveita e nem prejudica os direitos dos demais que estão no mesmo polo da relação processual: Código de Processo Civil Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar. Art. 118. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo, e todos devem ser intimados dos respectivos atos. 17 UNIDADE Sujeitos do Processo Intervenção de Terceiros Sobre esse assunto, esclarece Humberto Theodoro Júnior que: Ocorre o fenômeno processual chamado intervenção de terceiros quando alguém ingressa, como parte ou coadjuvante da parte, em processo pendente entre outras partes (THEODORO JUNIOR, 2015, p. 352). Há no Código de Processo Civil as seguintes espécies: · A assistência: Artigos 119 a124; · A denunciação da lide: Artigos 125 a 129; · O chamamento ao processo: Artigos 130 a 132; · O incidente de desconsideração da personalidade jurídica: Artigos 133 a 137; · O amicus curiae: Artigo 138. Assistência A assistência ocorre toda vez que um terceiro ingressa na relação processual, em razão de seu interesse jurídico, com o objetivo de auxiliar uma das partes a obter uma sentença favorável. Essa forma de intervenção de terceiros é sempre voluntária. Assim, o interessado, por vontade própria, solicita a sua entrada nessa qualidade no processo: Código de Processo Civil Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre. Apesar de não ser parte no processo, o terceiro, de forma reflexa, será atingido com a decisão, razão pela qual possui interesse jurídico que o habilita a ingressar com essa medida processual. Há duas espécies de assistência: · Assistência simples: nela, o assistente, apesar de possuir interesse jurídico, não pode atuar como parte da relação processual originária, pois não tem interesse próprio sob o objeto da demanda, mas somente reflexamente poderá ser atingido pela decisão – esta hipótese está prevista no Artigo 121 do Código de Processo Civil: 18 19 Art. 121. O assistente simples atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido. Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto processual. Um exemplo de assistência simples ocorre na seguinte situação: · “A” aluga para “B” uma casa; · “B” subloca para “C” a garagem da casa; · “A” ingressa com uma ação de despejo contra “B”; · Se houver o despejo, “C” também será afetado pela decisão, apesar de não ser parte do processo; · “C” ingressa no processo como assistente de “B”. · Assistente litisconsorcial: quando o assistente está defendendo interesse próprio e poderia, no início da ação, ter formado um litisconsórcio com a parte com que agora coopera. Essa forma de assistência somente pode ocorrer quando, anteriormente, estiver caracterizada a legitimidade extraordinária, ou seja, outrem, por qualquer razão, estava sozinho em juízo defendendo o interesse que não lhe pertencia ou pertencia somente em parte e, agora, o titular desse direito irá ingressar na relação processual como assistente litisconsorcial. Esta forma de assistência está prevista no Artigo 124 do Código de Processo Civil: Art. 124. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido. Essa situação ocorre no seguinte exemplo: · “A” e “B” são proprietários e possuem a posse de um terreno; · “C” invade o terreno e lá inicia a construção de uma casa; · Como “A” está viajando, “B” resolve sozinho ingressar com uma ação de reintegração de posse; · Ao retornar da viagem, “A” ingressa no processo como assistente litisconsorcial de “B”. 19 UNIDADE Sujeitos do Processo Denunciação da lide Esta forma de intervenção de terceiros busca ampliar os efeitos da decisão a um terceiro, razão pela qual essa é uma medida obrigatória sempre que estiver configurada qualquer das hipóteses previstas no caput do Artigo 125 do Código de Processo Civil: Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. [...] Consiste em chamar o terceiro (denunciado), que mantém um vínculo de direito com a parte (denunciante), para vir responder pela garantia do negócio jurídico, caso o denunciante saia vencido no processo (THEODORO JUNIOR, 2015, p. 372). Um exemplo de denunciação da lide ocorre quando: · “A” vende um veículo a “B”; · “C” ingressa com uma ação contra “B”, alegando que o veículo que agora está em sua posse, na verdade, pertence a ele, “C”; · “B” lança mão da denunciação da lide contra “A”, pois, se for reconhecida a pretensão de “C”, o comprador (“B”) terá direito de cobrar o vendedor (“A”) pelo prejuízo. Chamamento ao processo No chamamento ao processo, o réu está sendo processado para que faça o pagamento de uma dívida, sendo que irá atuar para que sejam chamados ao processo outros coobrigados, para que eles também sejam responsáveis por ela: Código de Processo Civil Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu; II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum. 20 21 É o que ocorre na seguinte situação: · “A” é fiador de um contrato realizado por “B”, sendo o credor “C”; · “B” não paga a dívida; · “C” processa o fiador “A” para cobrar o valor do contrato; · “A” chama ao processo “B” para que, juntos, respondam pela dívida. Na sentença, o juiz irá decidir se a dívida deve ser paga e qual é a responsabilidade do réu e do chamado, respectivamente, “A” e “B” no exemplo acima: Código de Processo Civil Art. 132. A sentença de procedência valerá como título executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, a fim de que possa exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, a sua quota, na proporção que lhes tocar. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica A criação de pessoas jurídicas ocorre há vários séculos, sendo que nossa legislação estipula alguns de seus tipos. Contudo, elas possuem em comum algumas característicasque são de extrema importância para a sua constituição e gestão. São elas: · Autonomia patrimonial: a pessoa jurídica possui patrimônio próprio distinto do patrimônio de seus sócios; · Titularidade negocial: ela atua em nome próprio e não em nome de seus sócios; · Titularidade processual: em processos judiciais, ela pode figurar como sujeito ativo ou passivo (autor ou réu). Ocorre que, em algumas situações, essas características acabam sendo usadas para o cometimento de fraudes contra credores. Nessas situações, os sócios mal- intencionados se valem de estratégias para que os prejuízos causados fiquem restritos à pessoa jurídica que, em geral, não possui capacidade de suportá-los, gerando grave ônus para os credores. Nessa forma de fraude, o que esses sócios buscam é preservar seus patrimônios, aproveitando-se da autonomia patrimonial da pessoa jurídica. Como reação a essa forma espúria de utilização da pessoa jurídica, com o passar dos anos, foi criada a chamada desconsideração da personalidade jurídica, que busca trazer o patrimônio dos sócios para o processo: Quando desconsidera a personalidade jurídica, o juiz não transforma o sócio em codevedor, mas estende a responsabilidade patrimonial a ele, permitindo que seus bens sejam atingidos para fazer frente ao débito, que continua sendo da empresa (GONÇALVES, 2016. p. 260). 21 UNIDADE Sujeitos do Processo O Código de Processo Civil não estabeleceu as hipóteses em que a desconsideração da personalidade jurídica pode ocorrer, sendo que isso é feito, em especial no: · Artigo 50 do Código Civil: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. · Artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor: Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. [...] Amicus Curiae Essa figura surgiu recentemente em nosso ordenamento jurídico, em ações de controle de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal, sendo que, no atual Código de Processo Civil, a sua aplicabilidade foi ampliada: O amicus curiae é o terceiro que, conquanto não tenha interesse jurídico próprio, que possa ser atingido pelo desfecho da demanda em andamento (...) representa um interesse institucional, que convém seja manifestado no processo para que, eventualmente, possa ser considerado quando do julgamento (GONÇALVES, 2016, p. 265). O amicus curiae pode ser pessoa física, pessoa jurídica, órgão público ou qualquer tipo de entidade que, mesmo não tendo interesse próprio na causa, pode apresentar manifestação sobre a matéria que constitui a demanda, sendo que essa sua manifestação pode ser apreciada pelo juiz ou tribunal ao decidir o mérito: Código de Processo Civil Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitira participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. 22 23 § 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º. § 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae. § 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas. É o que ocorreria, por exemplo, se em uma ação que trata de aspectos cíveis de danos ambientais havidos em determinada região se habilitasse como amicus curiae um biólogo com larga pesquisa no ecossistema lesado, sendo que em sua intervenção ele apresentasse resultados científicos sobre aspectos relevantes para a demanda, os quais podem ser de grande importância para o julgamento do mérito. 23 UNIDADE Sujeitos do Processo Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Constituição Federal http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm Código de Processo Penal http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689.htm Código de Processo Civil htp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm Lei dos Juizados Cíveis e Criminais http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm Lei n.º 9.307/96, que trata da Arbitragem http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9307.htm Lei n.º 13.140/15, que trata da Mediação http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm 24 25 Referências CINTRA, A., GRINOVER, A.; DINAMARCO, C. Teoria geral do processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012. GONÇALVES, M. Direito processual civil esquematizado. 7.ed. São Paulo: Saraiva, 2016. MONTENEGRO FILHO, M. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 11.ed. São Paulo: Atlas, 2015. v.1. THEODORO JÚNIOR, H. Curso de direito processual civil. 56.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v.1. 25 26
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