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AULA 04 - CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES - parte 1

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CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES
Wesley Monteiro
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OUTROS CRITÉRIOS METODOLÓGICOS ADOTADOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES.
 
Agora cuidaremos de analisar o tema sob outras perspectivas, apontando as modalidades mais difundidas de obrigações, valendo-nos, inclusive, do conhecimento daquelas já estudas.
Para tanto, seguindo respeitável corrente doutrinária, levaremos em conta principalmente os seguintes critérios.
a)    Subjetivo (os sujeitos da relação obrigacional);
b)   Objetivo (o objeto da relação obrigacional – a prestação);
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CLASSIFICAÇÃO ESPECIAL DAS OBRIGAÇÕES
 
Elemento subjetivo (os sujeitos), as obrigações poderão ser;
a)    Fracionárias;
b)   Conjuntas;
c)    Disjuntivas;
d)   Solidárias;
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Considerando o Elemento objetivo (a prestação) – além da classificação básica, que também utiliza esse critério (prestações de dar, fazer e não fazer) -, podemos apontar a existência de modalidades especiais de obrigações, a saber;
a)  Alternativas;
b)   Facultativas;
c)    Cumulativas;
d)   Divisíveis e indivisíveis;
e)    Liquidas e ilíquidas.
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E, para que nosso esquema seja completo, devemos também estudar as obrigações segundo critérios metodológicos menos abrangentes:
Assim, quando ao elemento acidental, encontramos:
a)    Obrigação condicional;
b)    Obrigação a termo;
c)     Obrigação modal.
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Finalmente, quanto ao conteúdo, classificam-se as obrigações em:
a)    Obrigação de meio;
b)   Obrigações de resultado;
c)    Obrigações de garantia. 
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CRITÉRIO SUBJETIVO
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OBRIGAÇÕES FRACIONÁRIAS
 
As dividas de dinheiro, por exemplo, em princípio, são fracionárias: se A, B e C adquiriram, conjuntamente, um veículo, obrigando-se a pagar 300, não havendo estipulação contratual em sentido contrário, cada um deles responderá por 100. Tais obrigações, por óbvio, pressupõe a divisibilidade da prestação.
Ex. art. 1.317 do CC.
O fracionamento pode ser verificado tanto originariamente quanto por derivação, mas o modo de constituição e a procedência não influem em sua disciplina, a menos que as partes os regulem de forma diversa da prevista em lei.
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ORLANDO GOMES pontifica;
a)    Cada credor não pode exigir mais do que a parte que lhe corresponde, e cada devedor não está obrigado senão à fração que lhe cumpre pagar;
b)   Para os efeitos da prescrição, pagamento de juros moratórios, anulação ou nulidade da obrigação e cumprimento de cláusula penal, as obrigações são consideradas autônomas, não influindo a conduta de um dos sujeitos em princípio, sobre o direito ou dever dos outros.
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       OBRIGAÇÕES CONJUNTAS
 
Neste caso, concorre uma pluralidade de devedores ou credores, impondo-se a todos o pagamento conjunto de toda a dívida, não se autorizando a um dos credores exigi-la individualmente.
Tentando visualizar um exemplo de tal modalidade de obrigação em nosso ordenamento jurídico, podemos imaginas a hipótese de três devedores obrigarem-se conjuntamente a entregar ao credor um caminhão carregado de soja. 
Em tal hipótese, nenhum dos devedores poderá pretender o pagamento isolado de sua quota, para se eximir da obrigação, nem o credor poderá exigir o pagamento parcial da dívida, buscando-se um adimplemento parcial. Apenas se desobrigam em conjunto, entregando toda a mercadoria prometida.
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OBRIGAÇÃO DISJUNTIVAS
 
 Nesta modalidade de obrigação existem devedores que se obrigam alternativamente ao pagamento da dívida.
Ex. Havendo uma dívida contraída por 3 devedores: A, B e C, a obrigação pode ser cumprida por qualquer deles: A ou B ou C. a conjunção “ou” vincula alternativamente os sujeitos passivos entre si.
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OBRIGAÇÃO DISJUNTIVAS
 
 Difere das obrigações solidárias, por lhe falar relação interna, que como veremos, é própria do mecanismo da solidariedade, justificando, neste último, o direito regressivo do devedor que paga.
Obrigação pouco segura para o credor, uma vez que, se pudesse cobrar todos os três, obviamente teria maior garantia patrimonial para satisfação do seu crédito.
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OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS
 
A SOLIDARIEDADE
 
O Código Civil de 2002 em seu art. 264;
“Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado á divida toda”.
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a)    Exemplo de solidariedade ativa:
A, B, C são credores de D. Nos termos do contrato (titulo da obrigação), o devedor deverá pagar a quantia de R$ 300.000,00, havendo sido estipulada a solidariedade ativa entre os credores da relação obrigacional. Assim, qualquer dos três credores – A, B ou C – poderá exigir toda a divida de D, ficando, é claro, aquele que recebeu o pagamento adstrito a entregar aos demais as suas quotas-partes respectivas. Mas note que, se o devedor pagar a qualquer dos credores, exonera-se. Nada impede, outrossim, que dois dos credores, ou até mesmo todos os três, cobrem integralmente a obrigação pactuada.
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b)    Exemplo de solidariedade passiva:
A, B e C são devedores de D. Nos termos do contrato (título da obrigação), os devedores encontram-se coobrigados solidariamente (solidariedade passiva) a pagar ao credor a quantia de R$ 300.000,00. Assim, o credor poderá exigir de qualquer dos três devedores toda a soma devida, e não apenas um terço de cada um. Nada impede, outrossim, que o credor demande dois dos devedores, ou, até mesmo, todos os três, conjuntamente. Note-se, entretanto, que o devedor que pagou toda a dívida terá AÇÃO REGRESSIVA contra os demais coobrigados, para haver a quota-parte de cada um.
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Se a obrigação fosse fracionária, consoante vimos acima, o credor só poderia exigir de cada devedor a sua respectiva quota-parte (R$ 100.000,00). Todavia, como fora estipulada a solidariedade, o credor poderá escolher o devedor que irá pagar os R$ 300.000,00, ou pode exigir que os três concorram com a sua parte, ou que apenas dois efetuem o pagamento.
Em nosso direito positivo, a solidariedade – passiva ou ativa -, por princípio, não se presume nunca, resultando expressamente da lei ou da vontade das partes (art. 265 do CC-02).
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Assim, não havendo norma legal ou estipulação negocial expressa que estabeleça a solidariedade, o juiz não poderá presumi-la da simples análise das circunstâncias negociais: se três devedores – A, B e C – se obrigaram a pagar R$ 300.000,00, inexistindo determinação legal ou estipulação contratual a respeito da solidariedade, cada um deles estará obrigado a pagar apenas a sua quota-parte (R$ 100.000,00). 
Entretanto, se o contrato estabelecer a solidariedade passiva, o credor poderá cobrar de qualquer dos devedores os R$ 300.000,00. Neste caso, a solidariedade resultará da vontade das próprias partes.
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Não se deve confundir as obrigações solidárias com as obrigações in solidum. Nessas ultimas, posto concorram vários devedores, os liames que os unem ao credor são totalmente distintos, embora decorram de um único fato. 
EXEMPLO: se o proprietário de um veículo empresta-o a um amigo bêbado, e este vem a causar um acidente, surgirão obrigações distintas para ambos os agentes (proprietário do bem e o condutor), sem que haja solidariedade entre eles.
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Solidariedade ativa
Na solidariedade ativa, cujas noções gerais já foram vistas, “qualquer dos credores tem a faculdade de exigir do devedor a prestação por inteiro, e a prestação efetuada pelo devedor a qualquer deles libera-o em face de todos os outros credores.
Assim, apenas para a boa fixação do tema, lembremo-nos de que, pactuada a solidariedade ativa entre três credores, o devedor, cobrado por apenas um deles, exonera-se pagando-lhe toda a soma devida. Aquele que recebeu o pagamento, por óbvio, responderá perante os demais pelas quotas de cada um.
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Existe, portanto, na solidariedade ativa, uma relação jurídica interna entre os credores, a qual
é irrelevante para o devedor. 
Vale dizer este último, pagando a soma devida, exonera-se perante todos. Consequentemente, em virtude do vínculo interno que os une, aquele que recebeu todo o pagamento passa a responder perante os demais credores pelas partes de cada um.
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“Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direitos a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro”.
Segundo o Novo Código Civil, o pagamento feito pelo devedor a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago (art. 269). 
Poderá, todavia, ocorrer que um dos credores solidários, em vez de exigir a soma devida, haja perdoado a dívida (art. 272 CC/02). Trata-se da chamada remissão da divida, forma especial de extinção das obrigações, prevista nos arts. 385 a 388 CC-02. Nesse caso, assim como ocorre quando recebe o pagamento, o credor remitente (que perdoou) responderá perante os demais credores pela parte que lhes caiba. 
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Exemplificando: 
A, B e C são credores solidários de D. 
C perdoou toda a divida de R$ 300.000,00. De tal forma, não havendo participado da remissão, os outros credores poderão exigir daquele que perdoou (C) as quota-partes que lhe caibam (R$ 100.000,00 para A e R$ 100,000,00 para B).
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E o que dizer se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros?
Art. 270 CC-02 
“se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível”.
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EXEMPLO
A, B e C são credores solidários de D. Como se sabe, qualquer deles pode cobrar toda a soma devida pelo devedor. Pois bem. B morre, deixando os seus filhos, E e F, como herdeiros. 
Neste caso, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, isto é, a metade (1/2) da quota de B (50.000). Entretanto, se a obrigação for indivisível, um cavalo de raça, por exemplo, o herdeiro poderá exigi-lo por inteiro (dada a impossibilidade de fraciona-lo), respondendo, por óbvio, perante todos os demais pela quota-parte de cada um.
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DA DEFESA DO DEVEDOR E O JULGAMENTO DA LIDE ASSENTADA EM SOLIDARIEDADE ATIVA
O primeiro desses dispositivos proíbe que o devedor oponha a todos os credores solidários a exceção pessoal oponível a apenas um deles (art. 273). 
ATENÇÃO: Exceção, aqui, significa defesa.
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“Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve”.
EX.: Se um dos credores solidários, na época da feitura do contrato (fonte da obrigação), ameaçou o devedor para que este também celebrasse o negocio com ele (estando os demais credores de boa-fé), o juiz poderá acolher a defesa do réu (devedor), excluindo o coator da relação obrigacional, em face da invalidade da obrigação assumida perante ele. 
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Neste caso, a sentença não poderá prejudicar os demais credores que, de boa-fé, sem imaginar a coação moral, celebraram o negócio com o devedor, com o assentimento deste. 
Por isso que se diz que o julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais.
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Pode ocorrer, todavia, que o juiz julgue favoravelmente a um dos credores solidários. Neste caso, duas consequências distintas podem ocorrer:
1.    Se o juiz desacolheu a defesa (exceção) do devedor, e esta não era de natureza pessoal (ou seja, era comum a todos os credores), o julgamento beneficiará a todos os demais. Ex: imagine que o credor A exija a dívida do devedor D. Este se defende, alegando que o valor da divida é excessivo, não havendo razão para se cobrar aquele percentual de juros (defesa não pessoal). O juiz não aceita as alegações do devedor, e reconhece ser correto o valor cobrado. Neste caso, o julgamento favorável ao credor A beneficiará todos os demais (B, C)
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2.    Se o juiz desacolheu a defesa (exceção) do devedor, e esta era de natureza pessoal,  o julgamento não interferirá na esfera jurídica dos demais credores. Ex: o credor A exige a dívida do devedor D. Este opõe defesa alegando que A coagiu-o, por meio de grave ameaça, a celebrar o contrato (fonte da obrigação) também com ele. O juiz não aceita as alegações do devedor, e reconhece que A é legitimo credor solidário. 
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Neste caso, o julgamento favorável ao credor A, consoante já registramos acima, em nada interferirá na esfera jurídica dos demais credores de boa-fé, cuja legitimidade para a cobrança da dívida em tempo algum fora impugnada pelo devedor. 
Não se poderá dizer, pois, neste caso, que o julgamento favoreceu os demais credores, uma vez que a situação dos mesmo não mudou.
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Solidariedade passiva
 
Vale lembrar o exemplo supra apresentado: A, B e C são devedores de D. Nos termos do contrato, os devedores encontram-se coobrigados solidariamente (solidariedade passiva) a pagar ao credor a quantia de R$ 300.000,00. 
Assim, o credor poderá exigir de qualquer dos três devedores toda a soma devida, e não apenas um terço de caca um. Nada impede, outrossim, que o credor demande dois dos devedores, ou, até mesmo, todos os três, conjuntamente, cobrando-lhe todas a soma devida ou parte dela. Note, entretanto, que o devedor que pagou que pagou toda a dívida terá ação regressiva contra os demais coobrigados para haver a quarta-parte.
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“Art. 275. O credor tem o direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.
Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores”.
O que caracteriza essa modalidade de obrigação solidária é exatamente o fato de qualquer dos devedores estar obrigado ao pagamento de toda a divida.
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Entretanto, cumpre-nos lembrar que, se a solidariedade não houver sido prevista – por lei ou pela própria vontade das partes (art. 265 CC-02)-, a obrigação não poderá ser considerada, por presunção solidária. 
Neste caso, se o objeto da obrigação o permitir, será considerada fracionária – é o caso do dinheiro, em que, não pactuada a solidariedade, cada devedor responderá por uma fração da dívida (1/3), segundo exemplo dado.
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Assim como ocorre na solidariedade ativa, na passiva a pluralidade de devedores encontra-se internamente vinculada, de forma que aquele que pagou integralmente a dívida terá AÇÃO REGRESSIVA contra os demais, para haver a quota-parte de cada um (art. 283 do CC-02).
Não lhe aproveitam, contudo, as exceções ou defesas pessoais a outro devedor – assim, se o devedor A fora induzido em erro ao assumir a obrigação, não poderá o coobrigado B, se demandado, utilizar contra o credor essa defesa, que não lhe diz respeito (art. 281 do CC-02).
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Saliente-se ainda que, se o credor aceitar o pagamento parcial de um dos devedores, os demais só estarão obrigados a pagar o saldo remanescente. Da mesma forma, se o credor perdoar a dívida em relação a um dos devedores solidários, (remissão), os demais permanecerão vinculados ao pagamento da dívida, ABATIDA, por óbvio, a quantia relevada (Art. 277 CC-02).
Quanto à responsabilidade dos devedores solidários, se a prestação se impossibilitar por dolo ou culpa de um dos devedores, todos permanecerão solidariamente obrigados ao pagamento do valor equivalente. Entretanto, pelas perdas e danos só responderá o culpado (perdas e danos) (art. 279 do CC-02).
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E o que dizer se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros?
Invoca o art. 276:
“art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas
todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores”.
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O credor poderá exigi-lo por inteiro (dada a impossibilidade de fracioná-lo), cabendo ao herdeiro que pagou haver dos demais coobrigados, via ação regressiva, se necessário, as partes de cada um. 
Mas observe a parte final da norma: se o credor houver por bem demandar todos os herdeiros de B (E e F), conjuntamente, estes serão considerados como um único devedor solidário em relação aos demais devedores, estando, portanto, obrigados a pagar toda a dívida, ressalvado o posterior direito de regresso.
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Não esqueça, todavia, de que o pagamento total da dívida pelos herdeiros reunidos não poderá, obviamente, ultrapassar as forças da herança, uma vez que não seria lícito admitir que os referidos sucessores ( E e F) diminuíssem o seu patrimônio pessoa para cumprir uma obrigação a que não deram causa.
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Art. 276 com a seguinte sistematização;
a)    Divida indivisível: qualquer herdeiro, individualmente, pode ser compelido a pagar tudo, bem como qualquer devedor.
b)   Divida divisível: nesse caso a situação varia se o herdeiro for acionado individualmente ou reunido com os demais herdeiros.
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a.    Acionamento individual: qualquer  herdeiro paga apenas sua quota parte na herança, não podendo ser compelido o pagamento que supere sua parte na herança. Mesmo que tenha patrimônio pessoal superior, sua obrigação na dívida restringe-se aos limites da força da herança, em sua quota-parte. Reitere-se que, se um herdeiro, nessa situação, for compelido a pagar toda a dívida, o início do art. 276 será violado, tornando-se letra morta.
b.    Acionamento coletivo dos herdeiros: somente reunidos, os herdeiros podem ser compelidos a pagar toda a dívida, pois ocupam a posição do devedor falecido. Demandados conjuntamente, geram um litisconsórcio passivo necessário e unitário, pois serão vistos como se fosse um único co-devedor em relação aos demais devedores.
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No caso de renúncia da solidariedade de um ou alguns dos devedores, poderá o credor demandar, dos devedores remanescentes, o valor total da divída?
SILVIO RODRIGUES E MARIA HELENA DINIZ, interpretando o parágrafo único do art. 282, que, nessa hipótese, deverá ser deduzido o valor correspondente ao quinhão dos exonerados da responsabilidade, pelo que o credor somente poderia demandar os remanescentes pelo valor restante.
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PABLO STOLZE afirma que uma coisa é renúncia ou pagamento parcial da dívida, hipótese já tratada do art. 277 do CC-02, em que a dedução é fruto da concepção de evitar o enriquecimento indevido. 
Outra situação, completamente distinta, é a renúncia á solidariedade, em relação a um ou alguns dos devedores, pois isso deve ser respeitado como o exercício de um direito potestativo do credor (ressalvada, obviamente, a mencionada relativização pela intervenção de terceiro conhecida como chamamento ao processo), pelo que tem ele o direito de demandar o valor da dívida toda de apenas parte dos devedores solidários.
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Ademais, o reconhecimento desse direito potestativo não implica, obviamente, qualquer repercussão na relação havida entre os devedores, pelo que, mesmo que o credor exonere qualquer deles (perdoando-lhe a dívida, aceitando pagamento parcial ou renunciando á solidariedade, p. ex), o exonerado continuará obrigado, no rateio entre os co-devedores, pela parte que caiba ao devedor insolvente (aquele que não disponha de patrimônio suficiente para cumprir a obrigação), conforme se verifica do art. 284 do CC-02, bem como, obviamente, pela parte que lhe foi estabelecida na relação jurídica interna entre os sujeitos da parte passiva da obrigação.
 
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Subsidiariedade
 
Mas o que é essa responsabilidade subsidiária?
De fato, na visão assentada  sobre a solidariedade passiva, temos determinada obrigação, em que concorre uma pluralidade de devedores, cada um deles obrigado ao pagamento de toda a divida. Nessa responsabilidade solidária, há, portanto, duas ou mais pessoas unidas pelo mesmo débito.
 
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Na responsabilidade subsidiária, por sua vez, temos que uma das pessoas tem o débito originário e a outra tem apenas a responsabilidade por esse débito. 
Por isso, existe uma preferência (dada pela lei) na “fila” (ordem) de excussão (execução): no mesmo processo, primeiro são demandados os bens do devedor (porque foi ele quem se vinculou, de modo pessoal e originário, à divida); não tendo sido encontrado bens do devedor ou não sendo eles suficientes, inicia-se a excussão de bens do responsável em caráter subsidiário, por toda a divida contraída.
 
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Vale lembrar que a expressão “subsidiária” se refere a tudo que vem “em reforço de ...” ou “em substituição de...”, ou seja, não sendo possível executar o efetivo devedor – sujeito passivo direto da relação jurídica obrigacional -, devem ser executados os demais responsáveis pela dívida contraída.
 
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Por isso, podemos afirmar que não existe, a priori, uma obrigação subsidiária (motivo pelo qual, talvez, os doutrinadores pátrios de direito civil normalmente não se debrucem sobre o tema nessa área), mas sim apenas uma responsabilidade subsidiária.
Afinal de contas, nem sempre quem tem responsabilidade por um débito se vinculou originariamente a ele por causa de uma relação jurídica principal, como é o exemplo dos fiadores e dos sócios, responsabilizados acessoriamente na forma prevista nos arts. 595 e 596 CPC vigente.
 
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Em outro exemplo na área trabalhista, vale destacar a previsão do art. 455 da CLT, que estabelece que nos “contratos de subempreitadas responderá o subempreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro”. 
Nessa hipótese, está estabelecida, por lei, uma solidariedade, mas é lógico que o debitum é somente do subempreiteiro, sendo a obrigatio estendida ao empreiteiro principal.
 
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Em situação como a de responsabilidade subsidiária ou de solidariedade estabelecida sem qualquer preferência de excussão (mas com devedores solidários sem debitum), e havendo mais de um coobrigado, devem ser aplicados a regra do art. 285 do CC-02.
“Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar”.
Obviamente, essa previsão é inaplicável para a hipótese em que há solidariedade fundada pela coexistência de sujeitos no pólo passivo da divida (todos com debitum e obligatio), pois, ai, o pagamento interessa diretamente a todos os devedores.
 
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CRITÉRIO OBJETIVO
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OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS
 
As obrigações alternativas ou disjuntivas são aquelas que têm por objetivo duas ou mais prestações, sendo que o devedor se exonera cumprindo apenas uma delas.
São, portanto, obrigações de objeto múltiplo ou composto, cujas prestações estão ligadas pela partícula disjuntiva “ou”. 
Exemplo: A, devedor, libera-se pagando um touro reprodutor ou um carro a B, credor. Nada impede, outrossim, que as prestações sejam, na perspectiva da classificação básica, de natureza diversa: a entrega de uma jóia ou a prestação de um serviço.
 
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Teoricamente, é possível fazer a distinção entre obrigações genéricas e alternativas. 
As primeiras são determinadas pelo gênero, e somente são individualizadas no momento em que se cumpre a obrigação; as segundas, por sua vez, têm por objeto prestações específicas, excludentes entre si.
Conclui ANTUNES VARELA, “se o livreiro vender um exemplar de certa obra (de que há vários ainda em circulação), a obrigação será genérica; mas será alternativa, se vender um dos três únicos exemplares de edições diferentes da obra, à escolha do devedor. Se o hoteleiro reservar
um dos quartos do hotel para o cliente, a obrigação será genérica; se a reserva se referir à suíte do 1º ou à suíte do 2º andar, a obrigação será alternativa.
 
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A QUEM CABE A ESCOLHA DA PRESTAÇÃO QUE SERÁ REALIZADA? AO CREDOR OU AO DEVEDOR?
Como regra geral o direito de escolha cabe ao devedor, se o contrário não houver sido estipulado no título da obrigação. 
“Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou”.
 
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Entretanto, essa regra geral sofre alguns temperamentos, consoantes deflui da análise dos parágrafos do art. 252, abaixo sintetizados:
1.    Embora a escolha caiba ao devedor, o credor não está obrigado a receber parte em uma prestação e parte em outra (princípio da indivisibilidade do objeto);
2.    Se a obrigação for de prestações periódicas, o direito de escolha poderá ser exercido em cada período;
 
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3.    Havendo pluralidade de optantes (imagine, por exemplo, um grupo de devedores com direito de escolha), não tendo havido acordo unânime entre eles, a decisão caberá ao juiz, após expirar o prazo judicial assinado para que chegassem a um entendimento (suprimento judicial da manifestação de vontade);
4.    Também caberá ao juiz escolher a prestação a ser cumprida, se o título da obrigação houver deferido esse encargo a um terceiro, e este não quiser ou não puder exercê-lo.
 
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 A despeito da omissão de nossa lei substantiva, o CPC, em seu art. 571, diz:
“Art. 571. Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, este será citado para exercer a opção a realizar a prestação dentro em 10 (dez) dias, se outro prazo não for determinado em lei, no contrato ou na sentença.
§1º Devolver-se-à ao credor a opção, se o devedor não a exercitou no prazo marcado.
§2º Se a escolha couber ao credor, este a indicará na petição inicial da execução”.
 
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 DA IMPOSSIBILIDADE DE CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS
Se TODAS as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. 
Exemplificando: uma enchente destruiu o carro e matou o touro reprodutor, que compunham o núcleo da obrigação alternativa (art. 256 CC-02).
 
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Entretanto, se a impossibilidade de todas as prestações alternativas de correr de culpa do devedor, não competindo a escolha ao credor, ficará aquele obrigado  a pagar o valor da prestação que por último se impossibilitou, mais os perdas e danos (art. 254 do CC-02). 
Exemplo: A obriga-se a entregar a B um computador ou uma impressora a laser, á sua escolha (do devedor). Ocorre que, por negligência, o devedor danifica o computador e, em seguida, destrói a impressora. Neste caso, deverá pagar ao credor o valor em seguida, destrói a impressora. Neste caso, deverá pagar ao credor o valor da impressora a laser (objeto que por último se danificou), mais as perdas e danos.
 
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 Seguindo a mesma ordem de idéias, se a impossibilidade de todas as prestações alternativas decorrer de culpa do devedor, mas a escolha couber ao credor, poderá este reclamar o valor de qualquer das prestações, mais as perdas e danos (art. 255, segunda parte, do CC-02)
E O QUE DIZER SE A IMPOSSIBILIDADE NÃO FOR TOTAL, OU SEJA, ATINGIR APENAS UMA DAS PRESTAÇÕES?
Nesse caso, se não houver culpa do devedor, a obrigação, consoante vimos acima, concentra-se na prestação remanescente (art. 253 CC-02).
 
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Da mesma forma, se a prestação se impossibilitar por culpa do devedor  não competindo a escolha do credor, este terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da que se impossibilitou, mais as perdas e danos (art. 255, primeira parte, do CC-02).
Entretanto, se a prestação se impossibilitar por culpa do devedor, e a escolha couber ao credor, este terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da que se impossibilitou, mais as perdas e danos (art. 255, primeira parte, do CC-02)
 
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EM SÍNTESE:
1.    Impossibilidade Total (todas as prestações alternativas):
a)    Sem culpa do devedor – extingue-se a obrigação (art. 256 do CC-02)
b)   Com culpa do devedor – se a escolha cabe ao próprio devedor: deverá pagar o valor da prestação que se impossibilitou por último, mais as perdas e dano (art. 254 do CC-02);
­- se a a escolha cabe ao credor: poderá exigir o valor de qualquer das prestações, mais perdas e danos (art. 255, segunda parte do CC-02 e art. 887).
 
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2.    Impossibilidade Parcial ( de uma das prestações):
a)    Sem culpa do devedor – concentração do débito na prestação subsistente (art. 253 do CC-02)
b)    Com culpa do devedor – se a escolha cabe ao próprio devedor: concentração do débito na prestação subsistente (art. 253 do CC-02).
- se a escolha cabe ao próprio credor: poderá exigir a prestação remanescente ou valor do que se impossibilitou, mais as perdas e danos (art. 255, primeira parte, do CC-02).
 
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Desnecessário notar que, se a prestação se impossibilita totalmente por culpa do credor (situação menos provável), considera-se cumprida a obrigação, exonerando-se o devedor. 
Em caso de impossibilidade apenas parcial, poderá o devedor realizar a parte possível ou restante da prestação, sem embargo de ser indenizado pelos danos que porventura sofreu.
 
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O que acontece se o devedor, ignorando que a obrigação que era alternativa, isto é, que tenha o direito de escolha, efetua o pagamento? Poderá se retratar?
Ressalte-se: tal só é possível se houver prova do vício de consentimento (dolo, coação, etc) ou outra hipótese ensejadora da nulidade (relativa ou absoluta) da prestação realizada, pois, tendo atuado livremente, o devedor não poderá retratar-se.
 
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 OBRIGAÇÃO FACULTATIVAS
 
A obrigação é considerada facultativa quando, tendo um único objeto, o devedor tem a faculdade de substituir a prestação devida por outra de natureza diversa, prevista subsidiariamente. 
Ex: o devedor A obriga-se a pagar a quantia de R$ 10.000,00, facultando-se-lhe, todavia, a possibilidade de substituir a prestação principal pela entrega de um carro usado.
 
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Note-se que se trata de obrigação com objeto único, não obstante se reconheça ao devedor o poder de substituição da prestação. 
Por isso, se a prestação inicialmente prevista se impossibilitar sem culpa do devedor, a obrigação extingue-se, não tendo o credor o direito de exigir a prestação subsidiária.
Não se deve, todavia, confundí-la com as obrigações alternativas, estudadas linhas acima. Nestas, a obrigação tem por objeto duas ou mais prestações que se excluem alternativamente. Trata-se, portanto, de obrigação com objeto múltiplo.
 
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Orlando Gomes, com propriedade, reconhecia os seguintes efeitos às obrigações facultativas.
1.    O credor não pode exigir o cumprimento da prestação facultativa;
2.    A impossibilidade de cumprimento da prestação devida extingue a obrigação;
3.    Somente a existência de defeitos na prestação devida pode invalidar a obrigação.
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OBRIGAÇÕES CUMULATIVAS
 
As obrigações cumulativas ou conjuntivas são as que têm por objeto uma pluralidade de prestações, que devem ser cumpridas conjuntamente. 
É o que ocorre quando alguém se obriga a entregar uma casa “E” certa quantia em dinheiro.

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