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1 
 
 
 
 
CURSO 
 
 
 
 
DE 
 
ÉTICA 
 
Prof. Marco Antônio 
 
 
 
 
“Por si só, um texto não é nada, tal como uma viagem 
por si só tampouco é nada. Uma alma se faz necessária 
para concatenar entre si os méritos desta e as frases 
daquele, fazendo jorrar do contato essa luz misteriosa 
que se chama verdade ou que tem por nome beleza” 
A.-D. Sertillanges 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
B695 Bomfim, Marco Antônio Correia. 
 Curso de ética / Marco Antônio Correia Bomfim. – 
 Ilhéus, BA: CESUPI, 2015. 
 144 f. 
 
 Inclui referências. 
 
 1. Ética. I.Título. 
 
 CDD 170 
3 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO.....................................................................................................3 
 
CAPÍTULO I – ÉTICA E CIVILIZAÇÃO 
1.O LOGOS GREGO E O ESTUDO DO ETHOS.............................................11 
1.1 A ÉTICA ENQUANTO CIÊNCIA DO ETHOS..............................................11 
1.2 O “CONHECE-TE A TI MESMO” COMO FUNDAMENTO DO SABER 
ETICO................................................................................................................18 
1.3 A ETICIDADE COMO DIMENSÃO ONTOLÓGICA DO SER DO ENTE 
HOMEM.............................................................................................................26 
1.4 A FORMAÇÃO DO ETHOS PELO HÁBITO................................................36 
1.4.1 A RESPONSABILIDADE..........................................................................38 
1.4.2 O CARÁTER.............................................................................................41 
1.4.3 O HÁBITO E O SEU VALOR MORAL......................................................50 
 
CAPÍTULO II – O ETHOS CRISTÃO-MEDIEVO 
2.O ETHOS CRISTÃO E O HOMEM (PESSOA) COMO REALIZADOR DO 
BEM E DO MAL MORAL...................................................................................54 
2.1 A DIMENSÃO ÉTICA DO EVANGELHO.....................................................54 
2.2 A IGREJA E A MORAL NO OCIDENTE......................................................62 
 
CAPÍTULO III – O ETHOS MODERNO E SUA PERSPECTIVA 
REVOLUCIONÁRIA..........................................................................................71 
3.1 O ETHOS MODERNO ENQUANTO RUPTURA E VONTADE DE PODER76 
3.1.1 A DISSOCIAÇÃO ENTRE POLÍTICA E ÉTICA NO FAZER HUMANO E A 
SUBMISSÃO DO ÉTICO AO POLÍTICO...........................................................78 
3.1.2 VONTADE DE PODER, COISIFICAÇÃO E NEGAÇÃO DO OUTRO......84 
3.1.2.1 A TRANSVALORAÇÃO DE TODOS OS VALORES.............................84 
3.1.2.2 MORAL E PRÁXIS REVOLUCIONÁRIA: a moral enquanto 
reengenharia social............................................................................................89 
 
CAPÍTULO IV – A CULTURA DENTRO DO ETHOS 
GLOBALISTA..................................................................................................114 
4.1 MASSIFICAÇÃO, DESCONSTRUÇÃO E REDUCIONISMO....................121 
4.2 A ÉTICA COMO DIMENSÃO PRECÍPUA PARA A RECONSTITUIÇÃO DO 
SER DO ENTE HOMEM .................................................................................128 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................135 
 
REFERÊNCIAS...............................................................................................140 
 
 
 
 
 
4 
 
INTRODUÇÃO 
 
“Para se compreender uma civilização. É preciso amá-la, e isto 
só se consegue graças aos valores permanentes, de validez 
universal, que ela implique. Tais valores costumam coincidir 
fundamentalmente em todas aquelas culturas que não servem 
só para o bem-estar físico, mas se preocupam com o homem 
total, ancorado no eterno. Sem tais valores, a vida não tem 
sentido.” TitusBurckhardt 
 
A perplexidade inerente ao homem moderno, pode-se dizer que tem se 
manifestado na angustiante realidade que perfaz a sua existência, a qual é a 
da permanente convivência com a crise. Fenômeno este que assola todos os 
campos, áreas onde o ser humano atua. 
Dentre as várias crises que acometem a vida humana, não se pode 
deixar de mencionar a crise moral. Crise esta que não diz respeito apenas às 
relações do homem para consigo mesmo, do homem para com seus 
semelhantes, do homem para com as coisas que o cercam, como também do 
homem para com o Ser do qual participa. 
A crise moral então se instala, também, nos estudos que se realizam 
sobre as disciplinas tão importantes na busca de compreensão, pelo homem, 
da realidade que o circunda e perfaz. Daí se poder falar que reina no âmbito da 
vida humana a maior confusão. 
Segundo o filósofo brasileiro, Mário Ferreira dos Santos (1964, p. 158) 
 
A nossa época é uma época de confusão de idéias. E é confusa, 
porque as idéias, que foram separadas para a análise, que o trabalho 
crítico realizou para estudá-las em separado, não foram devolvidas 
de modo hábil à concreção, mas reunidas confusamente, isto é, 
fundidas com outras, obedecendo a novas hierarquias de valores, 
que não correspondem ao que melhor devera ser, embora revelem o 
que se dá na presente fase do processo histórico. 
 
Segundo o filósofo, estamos numa época de crise porque vivemos 
como em nenhum outro momento da história da Civilização Ocidental a crise. E 
como esta se instala em todos os setores, não poderia deixar de afetar a Ética. 
E como não haver crise em época onde nós seres humanos nos separamos 
cada vez mais? Há a ciência, há o crescimento econômico, há a difusão das 
informações, etc. mas a crise do/no humano é cada vez mais crescente. 
5 
 
Este novo milênio, sem dúvida, pode e deve ser caracterizado por um 
lado, pelo fenômeno da globalização1, entendido este em seu sentido mais 
amplo. Então o conhecimento, as informações estão viajando em milésimos de 
segundos, por meios de cabos de fibras óticas e chegando a locais 
inimagináveis, pondo os indivíduos em contato com mundos diferentes, que os 
inquietam e produzem no mesmo, anseios, desejos, repulsas, enfim, um 
mundo de sensações, imagens, representações. 
Por outro, e de certa forma, ligada à anterior a terceira revolução 
científico-tecnológica, que traz mudanças nas sociedades, por motivo de suas 
novas descobertas (biotecnologia, nanotecnologia, etc.). E aqui se pode falar 
no desenvolvimento da informática e suas influências diretas noutras áreas do 
conhecimento e intimamente na vida dos seres humanos, estejam eles nas 
grandes metrópoles ou nos recantos do mundo habitado pelo ser humano. 
Não por acaso, uma das características marcantes da 
sociedadehodierna que se diz pós-moderna é a desrealização, 
desestruturação; ou seja, este é o tempo das transformações profundas que 
afetam diretamente toda a cultura do humano. Como diz Castells(1999, p. 41) 
em sua obra: A sociedade em rede: “Nossas sociedades estão cada vez mais 
estruturadas em oposição bipolar entre a Rede e o ser”. 
Constata-se então, em meio aos burburinhos do tempo que urge e 
vigora, que o homem “pós-moderno” está no meio de uma esquizofrenia 
estrutural entre a função e o significado; o ter e o ser. Diante de tal realidade é 
lícito também perceber que as noções de tempo e espaço são literalmente 
transformadas e passam a adquirir novos significados. 
Enquanto o lugar tem como característica própria o ser fixo, ou seja, é 
específico, delimitado, concreto, conhecido, familiar em que as raízes do 
homemsão aí fixadas. 
O espaço ganha uma nova dimensionalidadeque de nada necessita do 
concreto para fixar-se, até porque sua marca distintiva é a flexibilidade, a 
fluidez, ou numa linguagem mais atual, ele se virtualiza adquirindo assim uma 
 
1O termo globalização não deve ser compreendido no sentido habitual, o qual lhe é dado frequentemente, 
enquanto produto de um sistema econômico em particular, o capitalismo. Mas sim, como um processo de 
dominação pela cultura,gerência administrativa e reengenharia social que é parte de um projeto meta-
capitalista, onde se aliam grandes conglomerados financeiros, organizações supra-estatais, ONGs, 
partidos políticos. (CARVALHO, 2007 ) 
6 
 
onipotência e onipresença impensável e impossível para o lugar. Porque com 
muita rapidez apenas com um piscar de olhos, um comando de mãos ou voz 
rompem-se espaços siderais. 
O que se pode inferir desta assertiva é a destruição do espaço através 
do tempo. Então, por trás de todo o processo globalizante (mentalidade 
revolucionária/globalista) tem-se nada mais que o enfraquecimento e a 
destruição de valores ético-morais e das identidades culturais. 
No meio deste turbilhão de informações, modificações, revoluções que 
é o mundo “pós-moderno”, o homem é como que conduzido a pensar e viver 
dentro de uma proposta que o remete à interdependência cada vez maior, 
entre os meios e processos de inter-relação e produção social. 
Assim, passa a ser um imperativo para a vida das sociedades e dos 
indivíduos que nela habitam um modo de pensar, de ser e de agir. O homem 
está preso numa teia de símbolos que nega toda e qualquer possibilidade de 
uma individualidade autêntica, pois esta só é possível dentro dos parâmetros: 
ou desse homem consumidor (capitalismo vigente), ou do homem politicamente 
correto (socialismo/comunismo/fascismo). 
Deste modo, o mesmo se encontra imerso numa descaracterização, 
portanto, desumanização do ser de seu ente(homem) em prol de projetos que 
vislumbram criar entidades abstratas que possibilitem a constituição do melhor 
dos mundos possíveis2. 
São inúmeros os pontos críticos da realidade hodierna que podem ser 
investigados, não obstante, nosso enfoque neste curso priorizará os aspectos 
éticos dentro da constituição deste entechamado Homem. Porque, sem as 
exigências éticas, as quais estão na base do agir humano, a cultura, qualquer 
que seja a época em que ela se manifeste no caminhar da história, o que se 
obterá como conseqüência, será a violência, a barbárie. 
A este respeito, o filósofo Mário Ferreira dos Santos procurou-nos 
alertar em meados do século passado acerca da tragédia em que a condição 
humana estava vivendo sob a bota da superficialidade e a invasão cultural da 
barbárie com a sua obra/manifesto Invasão vertical dos bárbaros. 
 
2 Cf. a obra: O futuro do pensamento brasileiro, do filósofo e jornalista Olavo de Carvalho, onde na 
segunda parte, que trata das conferências que o mesmo deu em Paris e Bucareste no tópico III – A 
globalização da ignorância. O filósofo tratará de forma direta, concisa e elucidatória o projeto da nova 
ordem cultural do mundo. 
7 
 
Não se considerando as exigências éticas fundamentais do agir 
humano, as quais são co-extensivas ao trabalho da cultura humana.Toda e 
qualquer transformação da vida social, por mais que pareça ser promissora, a 
exemplo dos inúmeros avanços científicos e tecnológicos ocorridos no século 
passado e início deste, os direitos elaborados em prol de uma sociedade e 
humanidade abstrata, não terá objetivamente nenhuma condição de promover 
e garantir o bem estar da comunidade humana. 
Observando-se a quantidade de violência, perpetrada pelo mundo 
inteiro, nas diversas categorias de seres humanos, constata-se que vem se 
tornando trivial e como tal, ameaça fazer esse mundo inabitável. Estamos 
imersos em uma crise moral sem precedentes na história da humanidade. 
Não por acaso então um enorme fluxo de estudos (artigos, livros) 
acerca da reflexão ética. E dentro das mais vastas atividades laborais 
humanas, crescentes são as preocupações em torno das questões éticas. 
E as razões que podem explicar esse interesse extraordinário pelos 
temas éticos são múltiplas e complexas. No entanto, acredita-se que se está 
diante de uma das mais inequívocas e significativas reações a uma crise moral 
sem precedentes, que atinge a Civilização Ocidental. E particularmente a 
sociedade brasileira, a qual é amplamente divulgada e reconhecida como 
possuindo um jeito todo peculiar de ser: o jeitinho brasileiro. 
Na atualidade a evolução científica e tecnológica que revoluciona o 
conhecimento estabelece novos paradigmas para as relações humanas e 
sociais e produz impacto em toda a atividade humana. O tema da ética inquieta 
cientistas, pesquisadores e profissionais das diferentes áreas do saber. 
Se os princípios éticos devem conduzir a ciência, a consciência ética, 
porém, não resulta do debate científico, mas da vontade e coragem das 
pessoas que agem movidas por princípios éticos, na construção da ciência, nas 
relações de trabalho, na vida afetiva, etc. Embora, por vezes, não haja clareza 
de quais caminhos seguir, em vista de um mundo cada vez mais cético e 
relativista. Onde a derruição das morais leva a maioria das pessoas a confundir 
a Ética com a Moral. 
É preciso ter bem clara a compreensão de que a Ética estuda o dever 
ser humano, enquanto que a Moral descreve e prescreve como se deve agir 
8 
 
para realizar este dever-ser. Ou seja, a Moral é variante, mas a Ética é 
invariante. 
E exatamente por este motivo é que os homens geralmente mal 
assistidos pela intelectualidade erram quanto à eticidade de um ato e 
estabelecem um costume que ou não é conveniente ou é exagerado. Como 
nos diz Mário Ferreira na esteira dos filósofos clássicos, a Ética deve ser 
consagrada ao universal. 
Assim, da moral que surge na vida prática do homem, a mente 
especulando sobre a mesma chega à Ética, que por sua vez é mais 
especulativa que prática, pois nela há princípios que são eternos, enquanto na 
moral há regras de valores históricos, logo, mutáveis. 
Como medida de esclarecimento do que fora mencionado é possível 
dizer que: dar a cada um o que é de seu direito é uma norma ética, todavia, o 
modo como venha a se proceder, segundo a conveniência humana obediente a 
esta norma, será uma regra moral. 
Nessa compreensão acerca do emaranhado que compõe a realidade 
social, a responsabilidade pessoal – ou o que Schweitzer apud Ripolo (2009) 
denomina moral da personalidade ética, ao entender que a pessoa deve fazer 
o que pode para elevar a moral social – contribui para aprimorar a moral da 
sociedade ética. E o descaso pela moral da personalidade ética rebaixa a 
dignidade da pessoa humana e repercute nas relações interpessoais e na ética 
da sociedade. 
A deficiência ética degrada o ser humano. A Ética, ao invés, resulta da 
disposição lúcida e coerente da razão que ilumina o discernimento e norteia a 
conduta. E como os demais valores que orientam a conduta humana e social, 
ela permeia e perfaz as relações humanas. 
Uma dimensão de vida mais justa, ordenada e equânime, tanto em 
sentido pessoal quanto coletivo exige uma Ética no sentido integral. Em que o 
homem esteja ciente do seu propósito na teia da vida e de que ele é 
parteindissolúvel do meio em que vive (natural, social, etc.); mantém relações 
dialogais com os seus semelhantes;é sensível e atento para com anatureza, 
com os outros seres vivos e com o mundo. 
Esta Ética, baseada em valores que se fundam numa estrutura 
ontológica da realidade existente e que se constitui existencialmenteda 
9 
 
cooperação, da qualidade de ser e das ações deste, de participação e de 
integração, considera a vida em todas assuas dimensões. 
A Ética em seu sentido integral deve ser reguladora, no qual os 
significados tenham a vercom a unidade dos propósitos entre a vida singular 
dos indivíduos e da sociedade: a demanda se aproxime da necessidade; o 
custoconsidere a destruição ecológica e os danos sociais (BUARQUE, 1993). 
Os princípios éticos podem se manifestar em relações de poder. E 
dentro de paradigmas gestados enquanto entes de razão, tais princípios 
tendem a se transformar em máquinas abstratas de pressão, desumanização e 
até supressão de vidas humanas. Um exemplo claro acerca disto são os 
diversos matizes de socialismo (comunismo, nazismo e fascismo) que 
vigoraram no século passado na Europa e ainda faz eco em presente século, 
principalmente, nas “periferias” do mundo. 
Só que aracionalidade integral exige não o poder traduzido como 
domínio exclusivo sobre os outros, mas o poder concedido a outros com o 
objetivo de fortalecer o processo decisório,de uma forma dinâmica, 
democrática, participativa, descentralizada e que almeje a constituição da vida 
humana em sua plenitude e, não a tome como meio para outros fins. 
Como fazem os modelos perpetrados pela economia de mercado e a 
mentalidade política revolucionária, que a tudo e todos almejam seduzir, 
formatar, enquadrar, resignificar como se coisas fossem e não seres humanos. 
Quando não aniquilam por completo das formas mais cruéis e abjetas como 
nos relatam sobreviventes, dissidentes, pesquisadores, etc.. 
Esta nova visão de mundo, a qual exige um retorno a uma contemplação 
da dimensão ética do ser do ente homem,baseada em princípios que respeitem 
a vida em sua integralidade deve ser balizadora de todas as instâncias do fazer 
humano; deve ser um modusoperandi dos grupos de cientistas, pensadorese 
professores;dos empresários, funcionários e trabalhadores. Deve ser estendida 
às comunidades, instituições e organizações. 
Destarte a constituição do homem, da sociedade, das novas gerações, 
perpassa e exige a colaboração consciente de cada indivíduo, tomado este a 
partir da sua condição de cidadão, não meramente observado em um 
determinado tempo e espaço circunscrito, mas sendo capaz de romper com 
certas fronteiras que negam a possibilidade do diálogo entre o novo e o velho; 
10 
 
entre o progresso e a tradição; entre o presente e o passado; entre o material e 
o espiritual. 
Enfim, que não renegue no homem a sua condição metafísica em prol 
da arbitrariedade dos modismos ditados por cada época e cultura em particular, 
como se a escala medidora da verdade fosse aquele do tempo presente. 
A idéia que se procura fazer ressaltar aqui é a de uma necessária 
retomada do paradigma clássico da razão prática, enquanto idéia diretriz da 
Ética filosófica, ou seja, a razão enquanto ordenação à ação (práxis) e não 
simplesmente ao conhecimento. A fim de possibilitar uma reflexão mais 
abrangente acerca da formação e atuação do ser humano enquanto indivíduo, 
pessoa, cidadão. 
O presente curso encontra-se estruturado da seguinte forma: 
- O primeiro capítulo: Ética e civilização: o logos grego e o estudo do ethos. Irá 
tratar acerca da Ética segundo o pensamento clássico grego (Sócrates, Platão 
e Aristóteles) e o ethos cristão-medievo (Agostinho, Tomás de Aquino, 
escolástica/pessoa e dignidade da vida humana); 
- O segundo capítulo: O ethos moderno e sua perspectiva revolucionária. 
Desenvolverá acerca do ethos moderno tomando como parâmetro os 
pensadores: Nicolau Maquiavel, Friedrich Nietzsche e Karl Marx; 
- O terceiro capítulo: A cultura dentro do ethosglobalizado e a Ética. Onde 
serão tomados como suportes para pensar a cultura e a globalização, os 
seguintes pensadores: Hannah Arendt, Manuel Castells, Stuart Hall e Evilázio 
Teixeira; e para pensar a Ética dentro de tal contexto o pensamento do filósofo 
contemporâneo Mário Ferreira os Santos. 
Na urgência de uma reflexão ética mais sólida, o capítulo a seguir 
busca-se amparar nos conceitos e sistematização da Ética filosófica clássica, 
mais especificamente encontra alicerce em seus formadores: Sócrates, Platão 
e Aristóteles. 
Bem como, no helenista Werner Jaeger, através de sua obra clássica 
Paidéia: a formação do homem grego, estudo amplo e aprofundado acerca da 
formação cultural do homem grego e, no terceiro volume da obra Ordem e 
História:Platão e Aristóteles, de Eric Voegelin, onde o filósofo completa o seu 
vasto e riquíssimo estudo sobre a cultura grega indo desde suas remotas 
origens pré-helênicas, até sua plena maturidade com o império de Atenas e 
11 
 
com os pensadores e filósofos que representam o ponto mais elevado da 
investigação filosófica entre os gregos. 
Para tratar da parte referente ao ethos cristão-medievo serão 
observados aspectos do pensamento de Santo Agostinho, Tomás de Aquino, a 
escolástica; a renomada obra Nova moral fundamental: o lar teológico da Ética, 
do catedrático espanhol Marciano Vidal (importante nome ligado à renovação 
da Ética Teológica depois do Concílio Vaticano II), assim como, da importante, 
reveladora, esclarecedora e excelenteobra Como a Igreja Católica construiu a 
civilização Ocidental, do historiador Thomas E. Woods Jr.. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I – ÉTICA E CIVILIZAÇÃO 
12 
 
 
1. A ÉTICA ENQUANTO CIÊNCIA DO ETHOS 
 
“Cada homem em particular deve ter portanto, em potência, a 
aptidão de, atendidos os requisitos pertinentes e guardadas as 
devidas proporções, compreender seus semelhantes [...], na 
medida em que se conduzam como seres humanos. E 
conduzir-se como um ser humano é em última instância, agir 
segundo um propósito que não se reduza por completo à mera 
resposta empírica a uma dada situação particular, mas que 
aponte, de algum modo e em alguma medida, para um sentido 
universalmente válido.” Olavo de Carvalho 
 
Falar da Ética é tratar de um aspecto preponderante na história e 
formação do ente humano. Onde quer que tenha existido uma comunidade de 
pessoas que deliberadamente ou não tiveram que conviver, ali houve a prática 
de certas atividades, a introjeção de certos costumes e hábitos, a constituição 
de um conjunto de normas e leis, etc. A História tem demonstrado ao longo dos 
tempos que as civilizações mais remotas tiveram códigos normativos que 
buscavam coerir a existência dos indivíduos numa vida coletiva. 
Por uma questão singular, o que nos interessa aqui é retratar a 
peculiaridade na história da civilização do fenômeno chamado Helenismo, pois, 
a Grécia se apresenta com relação às culturas do Oriente – diga-se de 
passagem, culturas riquíssimas quanto aos aspectos das realizações artísticas, 
religiosas, políticas – com um avanço fundamental quanto ao quesito vida 
humana em comunidade. 
Os gregos são sem soma de dúvidas um referencial na história daquilo 
a que se pode chamar conscientemente de cultura. Quanto a isso corrobora a 
famosa obra de Werner Jaeger, Paidéia: a formação do Homem grego (1995, 
p. 5), 
 
A investigação moderna no século passado abriu imensamente o 
horizonte da História. A oikoumene dos gregos e romanos 
“Clássicos”, que durante dois mil anos coincidiu com os limites do 
mundo, foi rasgada em todos os sentidos do espaço e perante nosso 
olhar surgiram mundos espirituais até então insuspeitados. 
Reconhecemos hoje, todavia, com maior clareza, que tal ampliação 
do nosso campo visual em nada mudou este fato: a nossa história 
[...] “começa” com a aparição dos Gregos [...] “Começo” não quer 
dizer aquiinício temporal apenas, mas [...], origem ou fonte 
espiritual, a que sempre, seja qual for o grau de desenvolvimento, se 
tem de regressar para encontrar orientação. É este o motivo por que, 
no decurso da nossa história, voltamos constantemente à Grécia. 
Ora, este retorno à Grécia [...], não significa que lhe tenhamos 
conferido, pela sua grandeza espiritual, uma autoridade imutável, 
fixa, independente do nosso destino. O fundamento do nosso 
13 
 
regresso reside nas nossas próprias necessidades vitais, por mais 
variadas que elas sejam através da História. 
 
Nesta obra Werner Jaeger faz um estudo profundo sobre os ideais de 
educação da Grécia antiga, onde se observa a interação entre o processo 
histórico da formação do homem grego e o processo espiritual através do qual 
os gregos chegaram a elaborar seu ideal de humanidade. Não por acaso, esta 
representa um dos marcos da cultura contemporânea. 
Faz-se importante aqui salientar o aspecto do retorno à Grécia que o 
autor menciona no trecho acima citado, pois, é justamente este retorno que se 
almeja fazer neste primeiro capítulo, onde será tratado filosoficamente o tema 
da Ética, ou ciência do ethos como os “gregos” assim a definiram. O retorno se 
dá face a mais uma crise que a cultura da Civilização Ocidental cientificizada 
está inserida, a qual denota proporções nunca antes vivenciadas. 
No entanto, fora gestada no seio da cultura ocidental por uma série de 
pensadores (Maquiavel, Marx, Nietzsche, Heidegger, etc.) que se entregaram a 
um minucioso e pertinaz afã de destruir o monumento intelectual erguido pela 
civilização do Ocidente. Mais especificamente, destruir os alicerces 
ontoteológicos desse monumento (Metafísica e Ética), porque sobre estes se 
edificaram as estruturas da razão teórica e da razão prática. 
A título de exemplos destas tendências e investidas pode-se citar o 
positivismo lógico e sua crítica ferrenha aos fundamentos da Metafísica e aos 
fundamentos da Ética, como também o niilismo – o espectro que rondava a 
Europa, conforme o discurso nietzscheano – mordaz que tem paralisado 
mentes e viceja por entre as entranhas da cultura ocidental ocupando espaços 
nunca antes imaginados. Sem contar com a ênfase dada pelo 
marxismo/socialismos à “dialética negativa”, onde se parte do pressuposto que, 
da destruição da sociedade, cultura Ocidental é que se pode vir a construir o 
mundo melhor possível. 
A multiplicação das razões de toda ordem, seja as de caráter 
científico-técnico até as de cunho ideológico-político têm sido acompanhadas 
por uma atitude generalizada de ceticismo (dialética do negativo) que vem 
atingindo as razões últimas do ser e da vida – Estas razões iniciaram a 
civilização do logos e começaram a estabelecer o centro do nosso universo 
14 
 
simbólico, como também, a delinear as possíveis direções de nosso caminhar 
histórico. 
Tais tendências nos impelem a um retorno às nossas origens, uma vez 
que se corre o sério risco de atrofiamento da inteligência e, por conseguinte, a 
perda da consciência que pode devorar por completo a sanidade do universo 
simbólico e com ele esvai-se a capacidade de compreensão do real. 
Não por acaso, viveu-se o ápice das ideologias (comunista, nazista, 
fascista, progressista) em século passado, onde mentes desconectadas do real 
criaram geometricamente: sociedade, homem e tentaram impor a “ferro e fogo” 
o utópico “mundo melhor possível”. Todavia, no encontro com a realidade o 
que se pode observar foi a maior carnificina jamais pensada por qualquer dos 
piores tiranos de épocas remotas da história da civilização. 
Somente o regime comunista, de acordo com pesquisas feitas pelo 
cientista social e historiador R. J. Rummel da Universidade do Havaí e O livro 
negro do comunismo ceifou mais de 140 milhões de vidas em um século – e 
ainda continua seduzindo mentes e corações juvenis, assim como, governos e 
movimentos que procuram em sua essência destruir o ethos ocidental – 
utilizando-se de aparatos tecnológicos modernos, dos serviços conscientes de 
homens de ciência, das letras, imprensa, etc.. 
Enfim, os meios empregados para tais atos bárbaros em nenhum 
momento se refrearam diante do “ethos tradicional”, da consciência ética, mas 
ao contrário, vicejavam a constituição de um novo e super-homem, uma nova 
sociedade destituída dos valores burgueses e judaico-cristãos, um mundo sem 
Deus e todos os mitos e ignorâncias que até então vigorara. 
Reveladora desta mentalidade “progressista” e revolucionária é uma das 
diretivas encaminhada a seus comandados, feita por Latzis, um dos primeiros 
chefes da Tcheka(a polícia política soviética): 
 
“Nós não fazemos uma guerra específica contra pessoas. Nós 
exterminamos a burguesia enquanto classe. Não procurem, na 
investigação, documentos e provas do que o acusado fez, em atos 
ou palavras, contra a autoridade soviética. A primeira questão que 
vocês devem colocar-lhe é a que classe ele pertence, qual é a sua 
origem, sua educação, sua instrução, sua profissão.” (LATZIS, citado 
por COURTOIS em o Livro negro do comunismo. p. 20-21, 1999.) 
 
15 
 
Daí se poder perceber que para esta empreitada dentro da “práxis 
revolucionária”todos os meios se faziam justos e necessários: 
“Os comunistas recusam-se a ocultar suas opiniões e suas 
intenções. Declaram abertamente que seus objetivos só podem ser 
alcançados com a derrubada violenta de toda a ordem social até 
aqui existente...” (MARX, Manifesto do partido comunista. p. 99, 
1993.) 
 
“Nós não entraremos no reinado do socialismo com luvas brancas e 
sobre um chão polido” (TROTSKY citado por JONHSON, p. 53, 
1994) 
 
“O atributo do governo popular na revolução é ao mesmo tempo 
virtude e terror, virtude sem a qual o terror é fatal, terror sem o qual a 
virtude é impotente. O terror nada mais é do que justiça imediata, 
severa, inflexível; esta é, assim, uma emanação da virtude” (LÊNIN 
citado por JONHSON, p. 52, 1994) 
 
“Em princípionós nunca renunciamos ao terror e não podemos a ele 
renunciar” [...] “Perguntaremos ao homem: que posição você toma 
na revolução? Você é a favor ou é contra? Se ele é contra, nós o 
colocaremos no paredão” (LÊNIN citado por JONHSON p. 53, 1994) 
 
“nós temos que destruir os Kulaks, eliminá-los enquanto classe. Nós 
temos que quebrar a resistência dessa classe em batalha aberta” 
(STALIN, citado por JONHSON, p. 227, 1994) 
 
“O objetivo de qualquer propaganda séria é o de exercer uma 
intromissão na liberdade de querer do homem” (HITLER citado por 
JONHSON p.107, 1994) 
 
“Cada comunista precisa entender: o poder político nasce do cano 
de um revolver!” (Mao Dez Dong). 
 
Tais pensamentos e ações denotam uma singularidade da práxis 
revolucionária e delineiam de forma bastante clara um novo modelo de homem, 
política, moral, enfim, a construção de um ethos que viceja tornar-se o 
paradigma de constituição da nova sociedade e que encontra o seu 
fundamento “epistêmico” em teorias pseudo-filosóficas e pseudo-científicas. 
Estes são apenas ínfimos pensamentos dentre um quadro mais amplo 
(pensadores e pensamentos) onde se enquadra a chamada perspectiva 
revolucionária. 
É mais que latente no que acima fora citado que, a mentalidade 
revolucionária, como nos fala o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho (2007), se 
crê habilitada a remodelar a estrutura do homem e da sociedade por meio da 
ação política e como “sabedora” do destino da humanidade não hesitará em 
um só milímetro da sua “vontade de potência de transformação”. 
16 
 
Para isso é claro, os velhos conceitos, valores, modelos devem ser 
alterados e vidas “inevitavelmente extirpadas”, na medida em que inviabilizam 
um projeto de desenvolvimento da humanidadee, numa política de cálculo 
geométrico, onde fins justificam meios pior será para certos valores, símbolos e 
vidas humanas. Já que os mesmos não são encarados como tais, mas sim, 
como preconceitos, alienação, subespécies, empecilhos à marcha da história e 
inexorável por vir da autêntica raça, classe e progresso da espécie humana. 
Diante de tal fenômeno não é difícil perceber que entram em conflito: 
realidade e visão ideológica de mundo, onde para surpresa de qualquer 
mentalidade normal3: realidade torna-se um fenômeno a ser modificado, 
construído segundo os moldes de uma racionalidade puramente lógico-formal. 
Para o filósofo brasileiro, Mário Ferreira dos Santos (1964), e 
pensadores como Vaz (1993, 2002), Oliveira (1993) dentro do atual momento 
em que vivemos pode-se dizer que vigora na cultura do Ocidente um clima 
intelectual em que, os problemas de forma adquirem uma primazia bastante 
ampla com relação aos problemas de conteúdo. O que quer dizer que um dos 
aspectos que preponderam e marcam o mundo hodierno é o da desrealização, 
ou seja, a perda progressiva da referência ao mundo real. 
Isso implica diretamente em conseqüências aos paradigmas éticos 
transmitidos pela tradição já que por um lado, a desrealização se mostra em 
nossa cultura com um fenômeno bastante marcante, que é a 
instrumentalização. Então, o predomínio da Metaética pode vir a significar uma 
instrumentalização da lógica e da linguagem éticas, que se indiferentes à 
realidade (conteúdo objetivo) passam automaticamente a servir à expressão de 
um universal relativismo dos valores (necessidades e fins subjetivos, interesses 
ideológicos). 
Por outro lado, exprime-se ainda na renúncia à tradição da busca de 
uma conceituação filosófica na explicação da conduta ética, o que nada mais é 
que derivar a Ética para a área das ciências humanas e assim querer explicar o 
fenômeno ético apenas em termos de padrões culturais ou de categorias 
psicológicas e sociológicas. 
 
3 Que é tal como deve ser. Um sinônimo atenuado de bom e justo. Assim sendo, significa em instâncias 
pragmáticas, que: uma ordem normal de coisas subordinaria o supérfluo ao necessário. 
17 
 
Para a língua filosófica grega, ethike procede do substantivo ethos, o 
qual receberá por sua vez duas grafias distintas que designam perspectivas 
diferentes da mesma realidade. Assim, ethos (quando escrito com eta inicial) 
quer designar o conjunto de costumes normativos da vida de um determinado 
grupo social; já ethos (quando escrito com épsilon) procura referir-se à 
constância do comportamento. 
A Ética enquanto ciência real tem como objeto de investigação o 
ethos, que se apresenta como um fenômeno histórico e cultural dotado de 
evidência imediata – daí para Aristóteles ser insensato e até ridículo querer 
demonstrar a existência do ethos, assim como é ridículo querer demonstrar a 
existência da physis4. Porque physis e ethos são duas formas primeiras de 
manifestação do Ser e o ethos não é senão a transcrição da physis na 
peculiaridade da práxis e das estruturas histórico-sociais que dela advém. 
Esta evidência se impõe à experiência do indivíduo assim que este 
alcance a idade da razão. A experiência do ethos revela uma estrutura dual 
característica e constitutiva, a qual é a de ser uma realidade sócio-histórica, 
mas que só existe concretamente, na práxis dos indivíduos. 
Destarte é na observância dessa práxis que se faz possível acessar a 
realidade própria de um determinado ethoshistórico. Sabe-se que originalmente 
ethos significa morada do animal, no entanto, humana e moralmente falando 
(cultura) o ethos enquanto transposição metafórica passa de morada do animal 
para casa/oikos do ser humano. 
Há aqui um salto imensurável que translada o mundo da matéria, da 
física para o mundo simbólico que acolhe o ser humano não mais “puramente” 
de forma material. Enquanto morada física que proporciona abrigo e 
segurança, mas sim a casa simbólica, a qual, o acolhe espiritualmente e lhe dá 
uma nova dimensão para a constituição de sua casa material, pois, agora, 
repleta de significados (relações afetivas, éticas, estéticas...) que ultrapassam 
as finalidades meramente utilitárias integrando-as no mundo humano da 
cultura. 
Como nos evidencia os escritos helênicos desde Homero, Hesíodo 
passando pelas tragédias, Sócrates, Platão até Aristóteles, no que diz respeito 
 
4 Ética a Nicômaco VII, 9, 1152 a31 
18 
 
à realização do ser humano, ou melhor, sua plena auto-realização. Antes de 
habitar no oikos da natureza, deve o ente humano morar no seu oikos espiritual 
(mundo da cultura), o qual é por assim dizer, constitutivamente ético. 
O mundo enquanto espaço habitável que se constitui de comunidades 
e sociedades humanas tem no ethos sua condição fundante. Da mesma forma 
que a casa material precisa ser construída sobre bases sólidas para ter 
permanência e durabilidade, assim o ethos dos mais diversos grupos humanos 
revela uma extraordinária capacidade de resistir à usura do tempo e às 
mudanças advindas das tradições estranhas. 
Como ser humano algum é dotado da capacidade de reconstruir a sua 
morada espiritual a cada dia, o ethos enquanto constituição se revela como 
tradicional, pois, trata-se de um legado que é transmitido de gerações a 
gerações – o fenômeno do niilismo contemporâneo com sua conseqüente 
destruição das tradições éticas na sociedade é uma contraprova da 
tradicionalidade intrínseca do ethos. 
No entanto, não se deve pensar que por ser tradicional o ethos não 
esteja aberto a mudanças. Pensar assim é negar a dimensão histórica do ethos 
e do ente homem; é não perceber que o ethos revela um surpreendente 
dinamismo de crescimento, adaptação e recriação de valores. 
Ao longo dos tempos o ethos tem demonstrado não só uma enorme 
capacidade de adaptação a novas situações como também assimilação de 
novos valores. Esta é a historicidade própria do ethos, a qual se exprime como 
necessidade constituída e que Aristóteles comparou à necessidade dada da 
Natureza. 
Esta dialética permanência e historicidade que é intrínseca ao ethos e 
que aparece como forma constitutiva do fenômeno ético, é responsável pela 
maneira como o ethos se apresenta socialmente, enquanto costume. Ou seja, 
é a forma com que a vida humana é vivida dentro de certa tradição ética. 
Desta maneira pode-se ver a evolução do ethos na codificação do 
costume a partir da constituição de leis assim como, de instituições – como 
exemplo pode-se citar a passagem do ethos grego arcaico para o ethos 
clássico: honrar os deuses, honrar pai e mãe, respeitar os estrangeiros, educar 
19 
 
os jovens a partir da concepção ideal de arete5, tendo como elemento 
intrínseco a noção de beleza no sentido normativo da imagem desejada do 
Ideal, onde tal passagem já anuncia a futura criação da Ética. 
O ethosintrojetado no indivíduo enquanto hábito/costume torna-se para 
o mesmo um bem cultural e enquanto tal confere significado humano a todos 
os outros bens da cultura. É importante destacar aqui que o hábito é uma 
propriedade fundamental da práxis humana e que, a sua formação provém de 
repetitivas ações dotadas de qualidade que acabam se transformando em sua 
segunda natureza. 
Sendo o hábito uma aquisição do indivíduo enquanto sujeito agente 
que a utiliza de forma deliberada e consciente (virtude), esta ação é por assim 
dizer, completamente oposta ao comportamento instintivo ou puramente 
repetitivo, que é próprio do animal (natureza). 
Assim, dentro das sociedades tradicionais, a prática de ações 
virtuosas enquanto açõesexemplares, torna-se uma das maneiras mais 
eficazes de transmissão do ethos (modelos). Desta forma pode-se perceber 
que, do mesmo modo que o ethos enquanto costume tem a sua existência 
(histórica) garantida pela tradição, o ethos enquanto hábito é introjetado no 
indivíduo de forma eficaz e permanente pela educação. 
Para as culturas Judaica, Grega e Cristã – culturas basilares na 
constituição do Ocidente – é fato notório que, na tradição se inscreve a 
historicidade do costume, na educação a historicidade do hábito. Destarte, 
entre os dois pólos do ethos e da práxis ética traçam-se as fronteiras do campo 
ético. 
 
1.2 O “CONHECE-TE A TI MESMO” ENQUANTO FUNDAMENTO DO 
SABER ETICO. 
 
“Uma vida sem exame não vale a pena ser vivida” Sócrates 
 
 
5
Conforme exposto por Jaeger: “Os gregos entendiam por Arete, sobretudo força, uma capacidade. Às 
vezes definem-na diretamente. Vigor e saúde são a Arete do corpo; sagacidade e penetração, a Arete do 
espírito. É difícil conciliar estas concepções com a explicação subjetiva agora usual, que faz derivar a 
palavra de “agradar” [...] É verdade quearete tem com freqüência o sentido de aceitação social, 
significando então “respeito”, “prestígio”. Mas isto é secundário e deve-se à grande influência social de 
todas as valorações do homem nos primeiros tempos. Originariamente a palavra designava um valor 
objetivo naquele qualificava, uma força que lhe era própria, que constituía a sua perfeição. 
20 
 
Com Sócrates a reflexão ou o voltar-se para o sujeito adquire uma 
nuance de conhecimento direcionado para o recesso interior, singular e 
intransferível do agente ético. O que implica em dizer que este sujeito (portador 
do hábito e também agente) agora está inserido numa forma de relação de 
responsabilidade para com a realização do ethos. 
Nessa relação especificada pela responsabilidade, se faz necessário 
então o agir sob a “justa medida”, o “justo meio” a fim de não incorrer nos 
excessos tão naturais quando se age por força dos impulsos ou por ignorância. 
Talvez não seja um equívoco dizer que é justamente aí que se tem origem a 
noção de consciência moral. 
Entretanto, diante dessa consciência moral vem a pergunta: o que 
convém? O que devo fazer? Pergunta esta que em Sócrates passa por uma 
compreensão primeira da essência do ser Homem, uma vez que todas as 
coisas que existem tendem a um fim, uma finalidade e no ser do ente homem 
isto se faz mais complexo, pois, o mesmo não está dado, feito é um ente por se 
fazer. Para tal, tem o mesmo o privilégio de possuir o logos e através deste, o 
dever constitutivo de des-velar a realidade, compreender os seus aspectos e 
por meio da luz da razão guiar a sua vida tanto em esfera particular como 
pública6. 
Para Sócrates o homem é a sua alma7, na medida em que é a sua 
alma que o distingue especificamente de qualquer outra coisa. A este respeito 
nos fala Giovanni Realeem sua História da Filosofia - Vol. I (1990, p. 88), 
acerca de um dos raciocínios fundamentais feitos por Sócrates para dizer o que 
é o homem, 
 
Uma coisa é o “instrumento“ que se usa e outra é o “sujeito” que usa 
o instrumento. Ora, o homem usa o seu próprio corpo como um 
instrumento, o que significa que o sujeito, que é o homem, e o 
instrumento, que é o corpo, são coisas distintas. Assim, à pergunta 
“o que é o homem?”, não se pode responder que é o seu corpo, mas 
sim que é “aquilo que se serve do corpo”. Mas “o que se serve do 
corpo é a psyché, a alma (= inteligência)”, de modo que a conclusão 
é inevitável: ”A alma nos ordena conhecer aquele que nos adverte: 
conhece-te a ti mesmo.” 
 
 
6 Cf. os diálogos platônicos em especial, a obra: República. 
7 Para Sócrates a alma é a nossa razão e a sede de nossa atividade pensante e eticamente operante. 
21 
 
O modo de atuar de Sócrates era bastante peculiar e por si só 
revelador. Isto se faz evidenciar na seguinte passagem da obra platônica, 
Apologia de Sócrates(PLATÃO, 1979, p. 26-27): 
 
Enquanto viver, não deixarei jamais de filosofar, de vos exortar a vós 
e de instruir quem quer que eu encontre, dizendo-lhe à minha 
maneira habitual: querido amigo, és um ateniense, um cidadão da 
maior e mais famosa cidade do mundo, pela sua sabedoria e pelo 
seu poder; e não te envergonhas de velar pela tua fortuna e pelo seu 
aumento constante, pelo teu prestígio e pela tua honra, sem em 
contrapartida te preocupares em nada com conheceres o bem e a 
verdade e com tornares a tua alma o melhor possível? E, se algum 
de vós duvidar disto e asseverar que com tal se preocupa, não o 
deixarei em paz nem seguirei tranquilamente o meu caminho, mas 
interrogá-lo-ei, examiná-lo-ei e refutá-lo-ei; e se me parecer que não 
tem qualquer Arete, mas que apenas a aparenta, invectivá-lo-ei, 
dizendo-lhe que sente o menor respeito pelo que há de mais 
respeitável e o respeito mais profundo pelo que menos respeito 
merece. E farei isto com os jovens e com os anciãos, com todos os 
que encontrar, com os de fora e com os de dentro; mas sobretudo 
com os homens desta cidade, pois são por origem os mais próximos 
de mim. Pois ficai sabendo que deus assim mo ordenou, e julgo que 
até agora não houve na nossa cidade nenhum bem maior para vós 
do que este serviço que presto a Deus. É que todos os meus passos 
se reduzem a andar por aí, persuadindo novos e velhos a não se 
preocuparem nem tanto nem em primeiro lugar com o seu corpo e 
com a sua fortuna, mas com a perfeição da sua alma. 
 
Aqui se está diante de um momento singular e original da forma como 
Sócrates filosofa, como o mesmo entende o papel da filosofia e do filósofo, 
como o mesmo analisa dialeticamente o homem, sua existência e a 
constituição do seu ser, ou, vir a ser do humano no ente homem (essência). 
De pronto o que se evidencia é que não estamos diante de um teórico, 
de um acadêmico, nem tampouco de um homem de retórica, mas de um 
homem maduro (spoudaios) que tem a plena consciência do que seja o 
conhecimento na vida dos indivíduos, da sociedade e, do seu papel frente aos 
concidadãos e demais homens. Assim como, perante a pólis e acima de tudo 
ao deus que o exortou para tal atividade. 
Torna-se perceptível que o homem não é visto apenas como entidade 
material, física, como um ser histórico e culturalmente datado, por isso mesmo, 
há a repreensão/exortação com relação à preocupação indevida com os bens 
materiais deixando de lado e até esquecendo-se de preocupação mais nobre e 
necessária, a qual é a sua alma. 
22 
 
Como um médico da civilização, o filósofo exorta os seus concidadãos 
à necessidade de cuidar da alma8, daquilo que ele entende como mais 
precioso no humano e que não é o seu corpo, mas sim o seu interior. 
Segundo Jaeger (1995), Sócrates define de forma mais concreta o 
cuidar da alma como um cuidado através do conhecimento do valor e da 
verdade (phronesis e aletheia). O mundo interior, a arete de que nos fala 
Sócrates é um valor espiritual. Destarte, servir a alma é servir a deus, porque 
ela é espírito pensante e razão moral, e estes são os bens supremos do 
mundo. 
Destarte, torna-se importante saber que, 
 
Em Sócrates, aquelas expressões de aparência religiosa brotam da 
analogia entre a sua atuação e a do médico. É isto que dá ao seu 
conceito de alma o cunho especificamente grego. Dois fatores 
confluem na representação socrática do mundo interior como parte 
da “natureza” do Homem: o hábito multissecular do pensamento e os 
dotes mais íntimos do espírito helênico. [...] A alma de que Sócrates 
fala só pode ser compreendida com o acerto se é concebida em 
conjunto com o corpo, mas ambos como dois aspectos distintosda 
natureza humana. (JAEGER, p. 534, 1995) 
 
O pensamento Socrático não separa, nem tampouco opõe o psíquico 
ao físico, pois, ambos, corpo e alma fazem parte do cosmo. Elucidativa, 
portanto, é a frase mens sana in corpore sano(mente sã em corpo são) para 
designar de forma correta o sentido do que fora acima exposto, uma vez que o 
próprio Sócrates não descuidava do corpo e ensinava aos amigos a manterem 
o corpo são por meio do endurecimento e alimentação apropriada. 
Se faz mister informar que para a cultura helênica a arete deve ser 
analisada através de uma analogia entre o corpo e a alma. Isto se evidencia 
por meio dos escritos, quando se observa que quase sempre as virtudes 
(aretai) da pólis grega estão associadas à bravura, ponderação, força interior, 
justiça, etc. (virtudes da alma). 
Os gregos falavam de virtude dos vários instrumentos, por exemplo: a 
“virtude” da faca, a qual seria cortar, a da cítara, que seria tocar, a do cão que 
seria ser um bom guardião, etc. Assim a virtude do homem deve ser pensada a 
 
8 Segundo Jaeger, a expressão “cuidar da alma” tem para nós um sentido especificamente cristão, porque 
se converteu em parte integrante desta religião. Isto se explica pelo fato de a concepção cristã coincidir 
com a socrática na idéia da Paidéia como o verdadeiro serviço de Deus e do cuidado da alma como 
verdadeira Paidéia. 
23 
 
partir daquilo que venha a fazer a sua alma ser de acordo com o que a sua 
natureza determina. Ou seja, boa e perfeita. Daí Sócrates dizer que é a ciência 
(conhecimento) este elemento e o seu contrário, o vício (ignorância) seria a 
privação de ciência. 
Deste modo é que vê Sócrates operar uma reviravolta no quadro dos 
valores até então em voga na cultura helênica. Uma vez que os “valores” se 
tornam valores (virtudes) na medida em que são usados como o conhecimento 
exige (em função da alma e da virtude). 
Daí então se poder falar que: status, riqueza, poder, beleza entre 
outros, não são valores em si, pois, valores ligados a coisas externas e, se 
utilizados de forma ignorante podem levar o indivíduo ou a sociedade a 
grandes males. 
Ao passo que os valores da alma governados pelo juízo e pela ciência, 
podem trazer benefícios para a vida humana. Conclui-se assim que para 
Sócrates, em si mesmos, nem uns nem outros (dos valores citados) têm valor. 
E conforme nos diz Werner Jaeger em sua Paidéia (1995, p. 535): 
 
A virtude física e a virtude espiritual não são, pela sua essência 
cósmica, mais do que a “simetria das partes” em cuja cooperação 
corpo e alma assentam. É a partir daqui que o conceito socrático do 
“bom”, o mais intraduzível e o mais exposto a equívocos de todos os 
seus conceitos, se diferencia do conceito análogo na ética moderna. 
Será mais inteligível para nós o seu sentido grego se em vez de 
dizermos “o bom” dissermos “o bem”, acepção que engloba 
simultaneamente a sua relação com quem o possui e com aquele 
para quem é bom. Para Sócrates, “o bom” é, sem dúvida, também 
aquilo que se faz ou quer fazer por causa de si próprio, mas ao 
mesmo tempo Sócrates reconhece nele o verdadeiramente útil, o 
salutar, e também, portanto, o que dá prazer e felicidade, uma vez 
que é ele que leva a natureza do Homem à realização do seu ser. 
 
Desta passagem se faz salutar extrair o elemento ético como 
caracterizador da natureza humana. Ou seja, ser dotado de razão é 
implicitamente ser convocado a contemplar o seu ser como uma simetria entre 
corpo e alma, uma ordem, um cosmion(um todo ordenado). Esta existência 
dotada de razão e assumida responsivamente enquanto tal é que torna 
possível o ethos. 
Para Sócrates, a formação da alma neste ethos é precisamente o 
caminho natural do homem, o caminho possibilitador da sua eudaimonia. 
Segundo o pensamento do filósofo grego, para o homem encontrar a harmonia 
24 
 
com o seu ser, é necessário que o mesmo siga a lei por ele des-velada através 
do exame da sua alma. Pois, a verdade uma vez des-coberta não pode voltar a 
ser velada ou pelo menos, não deveria. 
Tem-se aqui um princípio que se mostra de importância fundamental 
para a constituição da vida humana: verdade des-coberta é verdade que deve 
ser seguida. E no que tange ao ethos tem uma implicação de instância moral, 
visto que, não se pode brincar com experimentos, excentricidades, etc. quando 
a matéria “em jogo”, a ser “utilizada” é a vida humana. Infelizmente, tal princípio 
é encoberto e destituído de valor para o ethoscontemporâneo (revolucionário). 
Em Sócrates, nos diz Jaeger, a experiência enquanto fonte dos valores 
humanos mais supremos deu existência àquele jeito de interioridade, 
característico dos últimos tempos da Antiguidade. E presenciamos assim o 
fenômeno, o qual é o de, a virtude e a felicidade deslocarem-se para a 
interioridade do homem. 
Através deste apelo do filósofo para o cuidado da alma, têm-se uma 
nova guinada com relação à forma do homem compreender e viver a vida. 
Porque a partir de agora a vida não é meramente um existir temporal, uma 
presa dos destinos, uma lástima dos sobreviventes e capricho dos deuses! 
Isso se torna evidente na vida e morte do próprio Sócrates, enquanto 
ente que paga cônscia e deliberadamente o preço por buscar viver uma 
existência que almeja a autenticidade e singularidade. Mesmo que o seu 
entorno não tenha esta compreensão; que a coletividade não tenha ainda 
alcançado este patamar de consciência. Pois diferente do que propagam os 
socialista, a realidade não é apreendida pela coletividade, mas sim, por 
individualidades concretas que compõem a vida social. 
Não é por menos que em Apologia de Sócrates(1979), o filósofo 
declara que “uma vida sem exame não vale a pena ser vivida”. Está aqui mais 
uma singularidade apontada pela sua filosofia, a qual é a do pensar-agir. Ou 
seja, em Sócrates a vida é sempre existência em meio aos fenômenos, aos 
conflitos, à escolha diante dos opostos. 
Enfim, entre se ganhar ou se perder no meio de um emaranhado de 
símbolos e modelos sedutores, os quais podem levar os homens de um lado 
para o outro ao sabor dos modismos culturais de cada época e que são marca 
registrada e elemento denotador destes tempos hodiernos. 
25 
 
A existência enquanto busca de vida singular e autêntica exige de 
cada ente humano uma escolha que inevitavelmente deve passar pelo 
conhecimento, portanto, uma escolha deliberada por se apropriar literalmente 
do ser do ente homem. O que implica uma vivência ética. Desta maneira, a 
vida humana é por essência uma vida ética. 
Não obstante ser o ente homem dotado de razão, esta não lhe é tão 
natural como os frutos numa arvore, ou como a defesa de uma galinha aos 
seus filhotes, frente ao perigo iminente do ataque de uma águia. No homem, 
este logos precisa ser trabalhado, desenvolvido. 
Então, mais uma vez se é levado a encontrar com esta figura 
paradigmática chamada Sócrates, pois o foco central agora paira sobre a 
Paidéia e o filósofo se vê dialeticamente em meio a discussões travadas com 
os sofistas, não por menos, o ético retorna enquanto elemento preponderante, 
uma vez que os Sofistas, por meio de seus ensinamentos o deslocam. Já que 
os mesmos acirram a dúvida quanto à possibilidade da educação triunfar. 
Inevitavelmente se há de deparar com os seguintes questionamentos: 
por que se deve estudar? Até onde se deve estudar? Para que serve o estudo? 
Qual o objetivo da vida humana? Com estas perguntas, não se busca denotar 
aqui um aspecto contingencial de uma época, aquela vivida pelo 
indivíduo/cidadão Sócrates, mas sim, fazer vir à nossa reflexão a singularidade 
constitutiva do fenômeno da educação na formaçãodo ser deste 
entecontemplador chamado homem. Assunto este bastante atual e ainda 
problemático dentro de nossa cultura. 
Todavia, educação aqui não deve ser pensada como mera 
instrumentalização para alcance do poder político, ou como é corrente em 
nossa cultura, a formação de especialistas para o mercado de trabalho – 
criando assim uma nova classe que muitas vezes se torna subutilizada e 
obsoleta, não ocupando os cargos para que fora “treinada”, pois o mercado não 
necessita da quantidade de mão de obra oferecida. Sem falar é claro, da 
qualidade questionada de boa parte desta mão-de-obra, fruto de interesses 
escusos, mesquinhos e, muitas vezes hipócritas (econômicos, políticos, 
ideológicos). 
Nem tampouco, se identifica com as atividades que exigem menos da 
capacidade intelectiva, e, diga-se de passagem, é justamente do seio desta 
26 
 
nova classe de “intelectuais” que se tem gestado muitos dos pensamentos 
niilistas, revolucionários, progressistas, etc.. São de extrema importância a este 
respeito, obras como: A traição dos intelectuais, de JulienBenda; A vida 
intelectual: seu espírito, suas condições, seus métodos, de Antonin-
DalmaceSertillanges, A rebelião das massas, Ortega y Gasset. 
Em Sócrates, é claro que o ideal político tão evidenciado nos sofistas, 
também está presente, não obstante, é com ele que a educação terá um 
sentido mais profundo, na medida em que procura reestruturar a conexão da 
cultura espiritual com a cultura moral (Paidéia). 
É desta forma que Sócrates inaugura um novo modo de pensar e agir 
do ser humano ao buscar na personalidade, no caráter moral a essência 
fundante tanto da existência humana como da vida em sociedade. A este 
respeito nos diz Jaeger (1995, p. 546-547): 
 
[...] toda educação deve ser política. Tem necessariamente de 
educar para uma de duas coisas: para governar ou para ser 
governado. [...] O homem que é educado para governar tem de 
aprender a antepor o cumprimento dos deveres mais prementes à 
satisfação das necessidades físicas. Tem de se sobrepor à fome e à 
sede. Tem de se acostumar a dormir pouco, a deitar-se tarde e a 
levantar cedo. Nenhum trabalho deve assustar, por árduo que seja. 
Não se deve deixar extrair pelo engodo dos prazeres dos sentidos. 
Tem de se endurecer para o frio e para o calor. Não deve preocupar-
se, se tiver de acampar a céu aberto. Quem não é capaz de tudo isto 
fica condenado a figurar entre as massas governadas. 
 
Dentro do ideal de educação socrático, rico em símbolos e dado a 
muitas interpretações, o que nos interessa especificamente é extrair um 
conceito de enorme importância para a cultura ética Ocidental, o qual é o de 
autodomínio (enkratéia). Fazendo-se assim perceber que a conduta moral deve 
brotar do mais íntimo de cada indivíduo, ou seja, o autodomínio enquanto 
virtude basilar para a formação ética do indivíduo representa a emancipação 
racional para com as seduções e os desregramentos da sua natureza animal. 
O autodomínio representa na vida de Sócrates a virtude humana de 
dominar a tirania dos instintos pelo poder do espírito. E aqui se deve notar que 
o Filósofo toca em um problema central, porque, uma vez que o homem se 
torna vulnerável aos seus desejos e presa dos seus instintos, não se pode falar 
em um indivíduo livre nem tampouco em um cidadão ético (ações eticamente 
27 
 
livres). O que denotará, por conseguinte, no plano das suas ações em atitudes 
moralmente imaturas. 
 Portanto, educar para Sócrates é muito mais que simplesmente 
domesticar, forjar habilidades e competências, “formar para a cidadania”, seguir 
alienadamente a cultura do entorno sem ter uma real dimensão do que seja o 
ente homem. 
Visto que, o homem nunca deverá ser tomado como meio, mesmo se 
compreendermos que a sua formação está intimamente ligada com o 
ethospreponderante; que a formação do homem enquanto cidadão é sempre 
voltada para o exercício de servir a pólis, do engrandecimento da cidade, de 
suas leis e de seus cidadãos. 
No entanto, este cidadão é antes e inalienavelmente um sujeito ético e 
como tal, não deve se conduzir com relação às leis, normas, tradição enquanto 
um indivíduo submisso. Mas sim, de acordo com uma conduta moral que brota 
do seu interior, que denota a maturidade (autodomínio) de um sujeito ético, a 
qual se expressa como uma ação consciente e deliberada, portanto, livre. 
A essência da verdadeira Educação humana deve estar num conjunto 
de saberes (virtudes) que ao longo da existência viabilize ao ser humano as 
condições necessárias para alcançar o fim autêntico de sua vida. – Segundo 
Jaeger (1995), em Sócrates é identificada com a aspiração ao conhecimento 
do bem, com a phronesis. – Em outras palavras, a Paidéia deve converter-se 
na aspiração a uma ordenança filosófica consciente da vida, a qual se propõe 
cumprir o destino espiritual e moral do homem. 
A continuação desta Paidéia, ou melhor, a sua explicitação por meio 
de símbolos clarificantes estará mais bem denotada nos diálogos de Platão e 
mais especificamente a sua alegoria da caverna. 
 
1.3 A ETICIDADE COMO DIMENSÃO ONTOLÓGICA DO SER DO ENTE 
HOMEM. 
“O homem pode converter-se no mais divino dos animais, 
sempre que se o eduque corretamente; converte-se na criatura 
mais selvagem de todas as criaturas que habitam a terra, em 
caso de ser mal-educado.”Platão 
Em Platão, aquele que representa memorável e magistralmente os 
ensinamentos de Sócrates ver-se-á o prolongamento do ensino e estudo ético-
28 
 
socrático. Isto, sobretudo, pode ser observado nos primeiros Diálogos de 
Platão (Diálogos Socráticos), onde duas características importantes nos são 
apresentadas: uma de ordem metodológica aonde Sócrates por meio da 
inquisição (zetesis) vai avançando entre perguntas e respostas, tendo por 
objetivo chegar a uma definição. No entanto, sempre atento às aporias, 
conflitos e armadilhas do discurso que toda discussão faz surgir. 
A outra de ordem temática, que revela a originalidade do ensinamento 
de Sócrates, onde se verá o Filósofo transitar por entre os temas do homem 
interior (psychê), da verdadeira sabedoria (sophrosyne) e a virtude (arete). Tais 
temas representam uma mudança e uma revolução no campo do saber 
filosófico e do conhecimento acerca do ser do homem, em um primeiro 
momento, na cultura grega e posteriormente, em toda a cultura da Civilização 
Ocidental. 
Com Sócrates então será dada a mudança de paradigma quanto ao 
objeto de conhecimento: da natureza (physis) para o homem (antropos) e o 
necessário aprofundamento no estudo de tal objeto, onde por meio das 
interpelações aos cidadãos atenienses se pode perceber um itinerário que visa 
mostrar aos mesmos o verdadeiro valor do ser deste ente homem. 
Segundo Sócrates este valor reside no único bem inatingível pela 
instabilidade e inconstância da fortuna, incerteza do futuro, precariedade do 
sucesso e todas as vicissitudes da existência, o qual é o bem da alma. Isto nos 
é revelado em diálogos como: Apologia de Sócrates, Críton, Primeiro 
Alcebíades, etc. 
O início do pensamento filosófico de Platão está marcado pela morte 
de seu mestre, por tal motivo, estas reflexões têm um forte teor ético-político. 
Com Platão tem-se o desdobrar do ensinamento ético de Sócrates. Em 
primeiro ponto há a retransmissão dos ensinamentos do sábio ateniense e, só 
por isso já é possível dizer que nós nos encontramos frente à sua filosofia 
como grandes devedores. No entanto, há ainda o gênio de Platão que eleva a 
herança dos ensinamentos socráticos a uma altitude especulativa não 
imaginada pelo seu mestre. 
É sabido que Platão não escreveu nenhum Diálogo específico sobre a 
temática ética, assim como,esta só ganhou contornos de disciplina 
“sistematizada” com Aristóteles. Todavia, não se pode deixar de observar que 
29 
 
os temas éticos são uma constante nos Diálogos (socráticos e da maturidade) 
escritos por Platão. 
Até porque Sócrates (a questão socrática) é sempre retomado em sua 
filosofia. Isto se faz evidente no prólogo à sua obra magna A República, onde 
Sócrates em diálogo com Trasímaco explicita que a vida autêntica do homem 
(como deve o homem viver) perpassa pela investigação do logos. 
A idéia central do pensamento ético platônico é a de ordem (taxis). 
Para Platão é ela que permite a unificação, da Ética, da Política e da 
Cosmologia, assegurando a mediania da arete entre o indivíduo e a pólis e 
guiando, desta forma, o Demiurgo na construção de um Kosmos harmonioso. 
Tudo isso é claro, sob o domínio da Teoria das Idéias, a qual faz interagir a 
significância de natureza ética com a de matiz metafísica. 
Com a idéia de ordem enquanto proporção Platão procura exprimir 
uma analogia, que é capaz de unir elementos e seres diversos, como, entre a 
alma humana e a pólis, entre a alma e o mundo. Deste modo ver-se-á surgir 
com Platão o primeiro grande modelo ético da história. A questão do ethose da 
práxis transposta ao plano do logos (filosófico), apresenta-se como solidária a 
uma concepção da realidade total, solidariedade esta que poderíamos 
denominar como sendo entre o Bem e o Ser. 
Todas as categorias éticas: do saber ético grego (sabedoria, virtude, 
lei, justiça) e socráticas (alma, virtude-ciência) serão retrabalhadas na filosofia 
platônica dentro da perspectiva metafísica da ordem. 
O que se intenciona fazer a seguir é tomar a Alegoria da caverna como 
um momento significativo deste pensamento ético-metafísico, onde se pode 
observar o pressuposto socrático da unidade entre arete e logos, assim como, 
a questão da conciliação entre liberdade e necessidade. 
Talvez não seja um absurdo enunciar que a alegoria ou mito da 
caverna, a qual se encontra no centro (livro VII) da obra magna A República, de 
Platão, seja uma das mais famosas passagens da literatura filosófica; assim 
como, uma das mais lidas, citadas e discutidas. 
Esta é uma das muitas alegorias utilizadas por Platão para expor 
acerca da condição humana, diga-se de passagem, com uma amplitude e 
riqueza interpretativa extraordinária. 
30 
 
Esta alegoria será exposta aqui de forma esquemática e sintética, para 
isso, a mesma será dividida em quatro momentos, os quais são: 
 
1º - A caverna 
É sabido que esta alegoria conta acerca de um homem, que estava 
preso numa caverna com outros iguais. Eles estavam acorrentados desde a 
infância (corpo e cabeça imobilizados) e tudo que viam, ouviam e “sabiam” lhes 
era mostrado por meio das sombras dos objetos projetadas na parede e 
iluminadas pela fogueira e dos ecos das vozes que advinham de fora da 
caverna... 
Por mais estranhos que esses homens possam nos parecer é de nós, 
do nosso mundo e da nossa condição de seres humanos que a alegoria está a 
tratar. Um mundo artificial, aparente, verossímil feito de realidades efêmeras 
que desconhecemos, mas que, no entanto nos são caras, pois vive-mo-la de 
forma aprazível desde a mais tenra idade (a nossa ilusão é total) como se esta 
fosse a nossa mais pura realidade. 
E habituados estamos de receber tudo do exterior a ponto de vivermos 
dos simulacros das imagens e dos discursos a mercê das opiniões reinantes. 
Porque não temos condições de fazer os devidos julgamentos e assim nos 
contentamos com os boatos, com o ouvir dizer, com os pré-conceitos e todos 
os lugares comuns que preponderam numa sociedade que fabrica pessoas, 
funcionários, artistas, políticos, heróis, belezas, etc.; que produzem realidades 
como se produzem objetos nas linhas de produção das modernas e eficientes 
indústrias. 
Então, presas do condicionamento, da intoxicação mental, das 
ideologias, estes homens se encontram duplamente acorrentados: em um 
primeiro plano, pois são vítimas! Em segundo, por que ignoram a condição de 
vítimas a qual estão condicionadas as suas existências. Sendo assim, se 
encontram em situação pior do que os incapacitados de visão uma vez que têm 
olhos, mas, não enxergam. 
 
2º - A conversão 
E “Se alguém soltasse um desses prisioneiros”? A continuação da 
alegoria irá transcorrer sobre a égide deste novo momento, etapa e mistério na 
31 
 
vida do ser humano! Não obstante há de se perguntar: que força, que ser 
empreende tal ato? É um deus? Um homem? Uma força interior? Não se sabe 
bem ao certo, no entanto, “esse ...” seguirá de perto o homem cativo até o fim, 
convidando o mesmo a transcender a sua condição de prisioneiro. 
Mas como é possível sair da caverna? Como negar todo um conjunto 
de fatos, símbolos, costumes, etc.? A saída da prisão significa uma conversão 
(periagogê), ou seja, uma mudança radical de rumo, uma renúncia ao mundo 
anteriormente tomado como real e vivenciado diuturnamente. 
Portanto, sair da caverna, converter-se significa passar por um 
processo árduo e doloroso de modificação e ascese! Isto implica esforço, 
incompreensão, ofuscamento, sofrimento, abandono, críticas, revolta, 
nostalgia, fraquezas, etc.; reaprender a ver, escutar, sentir; esforçar-se para 
aprender, elaborar os próprios pensamentos, refletir, julgar. 
Enfim, todo o processo de educação (reeducação) se faz imensamente 
doloroso, pois uma ruptura com um mundo anteriormente vivido e o iniciar de 
uma nova etapa desconhecida e imensamente amedrontadora! 
 
3º - A ascensão (anabasis) 
Ultrapassando o mundo dos objetos sensíveis – agora devidamente 
reconhecidos e identificados – deve o antigo prisioneiro seguir o caminho 
íngreme (encosta abrupta e árdua) que leva em direção ao Sol. Mas não se 
deve deixar enganar que esta etapa é mais fácil e prazerosa, porque iluminada! 
Mesmo que o indivíduo já demonstre nesta altura da empreitada ter 
vontade de mudar, de conhecer verdadeiramente a realidade das coisas 
existentes, tudo leva a crer que o caminho ainda é duro, difícil uma vez que não 
basta se desvencilhar das antigas impressões, opiniões, se faz necessário 
neste momento ir a busca da verdade, aquela que é capaz de livrar o homem 
do caminho enganoso e sedutor que é o das ideologias. 
Mas para isto é necessário aprender, se faz preciso o rigor da 
disciplina, a preparação da alma (caráter/personalidade) a fim de que possa 
receber e conduzir devidamente os conhecimentos da realidade. 
É necessário então aprender as ciências, as ciências abstratas que 
segundo Platão têm a virtude formadora (propedêuticas) de habituar os 
espíritos a manejarem com as abstrações e preparam-no para a abstração 
32 
 
suprema, a qual é a da capacitação para apreender as essências (Idéias), o 
mundo das verdades. 
 
4º - O retorno 
Até onde pode levar o caminho íngreme? O que significa o topo, este 
lugar mais alto? Quais as implicações deste novo saber? Neste ponto a 
filosofia e a existência humana se equivalem na medida em que assim como o 
filósofo sabe que não é possuidor da sabedoria, mas que necessita dela para 
se guiar; assim também é o homem na sua condição de ente que não está 
feito, acabado, mas que precisa se fazer durante a sua existência e o mais 
importante, não é qualquer espécie de vida que leva o homem ao caminho de 
sua humanidade integral. 
E Platão de forma magistral nos mostra que aquele que era afeiçoado 
à opinião (o filodoxo) na caverna, se tornou um amante da sabedoria (o 
filósofo). Mas não nos deixemos enganar achando que o amor é uma zona de 
segurança e conforto, porque este é tensão, vontade e busca. 
Assim, afilosofia é a busca incessante pela verdade, nunca descanso 
ou repouso nela, mesmo que nos pareça merecido este descanso depois de 
tamanha atividade, trabalho árduo de ascensão. 
E assim é a vida humana em seu processo ininterrupto de auto-
constituição seja na ordem privada ou na vida pública. E é exatamente nesta 
dimensão da práxis humana que o elemento ético-político se faz necessário na 
constituição do ser da realidade do mundo humano (equivalência e harmonia 
entre o Bem e o Ser). 
Sendo assim, uma vez o antigo prisioneiro tendo chegado “lá no alto”; 
no cume de seu esforço e no mais sublime do conhecimento da realidade, não 
lhe é permitido se deter no momento, uma vez que o seu ser é um constante 
devir, um vir a ser, um dever-ser! Ele não deve se instalar na quietude dos 
conhecimentos adquiridos ou das verdades encontradas. 
A vida humana não é um fim em si mesmo, tanto no sentido biológico, 
como no sentido histórico-cultural de sua existência. Existir para o homem 
também implica em estar com outros, estar no mundo; se fazer com outros, se 
fazer no mundo. 
33 
 
E acima de tudo isso, nos diz Platão ter a capacidade de dar o salto no 
Ser e compreender a realidade em sua totalidade e no retorno inevitável agir de 
acordo com os princípios eternos, pois, verdade conhecida é verdade que deve 
ser vivida. Eis aí toda a solidariedade entre Ser e Bem; entre a totalidade da 
realidade e a singularidade da realidade do ente homem dentro da totalidade 
do Ser! 
Ao filósofo cabe agora o retorno ao mundo e aos prisioneiros da 
caverna. Pois, são muitos os homens que vivem rebaixados na condição da 
ignorância, da ilusão, da mentira e das ideologias. O seu esforço e o seu árduo 
trabalho de subida e des-coberta da realidade não lhe serão tomados, até 
porque não é possível retirar daquele que sabe o seu saber. 
Todavia, o seu conhecimento não lhe pertence como um objeto, ele é 
condição essencial para a constituição da humanidade no homem e, aquele 
que consegue alcançá-lo tem por dever repassá-lo aos demais. 
Esta é a dimensão ético-política do conhecimento, uma vez detentor 
do conhecimento não lhe é permitido o direito de conservar tal bem como 
propriedade única e exclusivamente sua. Este saber constitui um bem e uma 
dimensão ontológica do ser do ente homem. 
Portanto, precisa ser partilhada e difundida por entre os demais entes 
humanos (antigos companheiros da caverna), para que os mesmos possam ser 
libertos e quiçá alcancem por meio da práxis o devido nível de autarquia 
necessário para constituir uma autêntica comunidade dos homens livres. 
A vida humana necessita desta forma da compreensão da verdade 
para se constituir plenamente, no entanto, o homem não é um ser puramente 
animal, o qual já está de antemão dado e circunscrito na esfera de suas leis 
causais. Ele é o ente privilegiado para quem a existência autêntica é uma 
conquista e a possibilidade de se derruir é de sua total responsabilidade, uma 
vez que o mesmo é um ser racional dotado de inteligência, vontade, da 
capacidade de agir e de fazer história. 
O homem é o ser para quem o conhecimento é um valor, e mais! 
Como nos diz Louis Lavelle: “O ato pelo qual o eu assume o seu ser próprio é 
que funda o valor de si mesmo. E, concomitantemente, de todos os objetos a 
que se aplica, de todos os fins que se propõe” (LAVELLE, apud REALE, 2007, 
p. 205). 
34 
 
O retorno enquanto uma etapa na constituição do ser deste ente 
(antigo prisioneiro) é um dever, mas é também uma árdua e perigosa tarefa, 
pois, o mundo da caverna está constituído sob a égide da aparência e da 
ignorância onde prepondera de um lado cegueira, inabilidade, etc. de outro 
sarcasmo, ódio, desejos e ameaças de morte ao outro! 
Não devemos nos esquecer da morte de Sócrates pelos seus 
concidadãos, aqueles para quem o discurso pautado fora da realidade 
circundante (cultural/politicamente correto) deveria ser execrado e punido com 
a pena de morte. Sócrates representava para tais “concidadãos” um perigo e 
um peso, pois trazia para a consciência dos mesmos tudo aquilo que era farsa, 
burla, representação; execrável na constituição do homem. 
Assim como o caso Sócrates, outros foram perpetrados na história 
tendo homens sendo perseguidos, torturados e aniquilados pela ignorância, 
prepotência, arrogância e presunção insolente daqueles que nada querem 
saber, mas desejam ardentemente o poder em suas mais variadas formas e 
escalas. 
E inequivocamente, por meio desta desmesura, ignorância e desvio do 
ser é que a humanidade do homem pode vir a ser rebaixada à mais vil das 
esferas, a qual é a da bestialidade não perceptível em qualquer outro ente, no 
entanto, vastamente vislumbrada na espécie humana, quando resolve agir pura 
e simplesmente por uma das esferas do seu ser9 
Na alegoria Platão trabalha de forma sintética e densa a simbolização 
metafísica, gnosiológica, dialética e ética da realidade, uma vez que traduz os 
diversos graus em que ontologicamente se divide a realidade (objetos 
sensíveis: as sombras da caverna... e supra-sensíveis: o Sol a idéia do Bem); 
os graus do conhecimento (as sombras e estátuas representam imaginação e 
crenças, os objetos verdadeiros e o sol que representam a dialética em seus 
vários graus e a intelecção pura); e o necessário retorno à caverna, onde a luz 
do Sol, conhecimento supremo, supremo Bem precisa ser posto em evidência 
para os demais companheiros antigos da caverna a fim de que os mesmos 
possam sair da condição indigna e desumana, a qual é a de escravos da 
 
9 Conferir a razão instrumental e o desejo de potência inerente ao tecnicismo, à tecnocracia, aos regimes 
socialistas: nazismo e comunismo. E toda a sua vasta conseqüência nas diversas áreas da vida e cultura 
humana. 
35 
 
aparência e ignorância e assim, utilizem de forma autárquica a liberdade que 
lhes é inerente e necessária para a constituição do seu ser. 
Nesta alegoria, Platão como um autêntico filósofo e discípulo de 
Sócrates procura levar o leitor não somente ao drama da história, à 
participação do diálogo; muito mais, ele nos obriga a responder. É o nosso 
próprio drama existencial que está em jogo, por isso ele nos convida a 
compreender como funciona a razão e como a consciência liberta. 
De suas descobertas do reino do Ser ele nos convida a “experiênciá-
las”, a tentar vivenciá-las e juntamente com outros homens que des-cobrem por 
meio de uma autêntica Paidéia chegar à iluminada libertação. 
Faz-se mister aqui salientar para melhor entender, que a filosofia em 
suas origens tem uma amplitude e dimensão que é ignorada e negligenciada a 
partir do ethos moderno, o qual a toma com muita freqüência, como se fosse 
um jogo intelectual destituído de entusiasmo, energia, onde o logos se reduz à 
mera especulação de ordem lógica. 
E daí ver-se surgir sistemas ideológicos gnósticos que são 
manipulados por vidas esquizofrênicas que são incapazes de compreender e 
aceitar a realidade, não obstante, e por este motivo, se mostram capazes de 
perpetrar assassinatos e mortandades à grande parcela da humanidade. 
Falta a muitos modernos a compreensão de que em sua filosofia, 
Platão tenta de forma magistral dar consistência e vida àquilo que ocorre na 
existência concreta humana. E como nos diz Eric Voegelin (2009, p. 13), 
 
a tensão no pensamento de Platão refletia a tensão de sua 
participação na metaxy, ou na mistura, da vida humana. [...] como a 
revelação, a filosofia “é mais do que um aumento de conhecimento 
da ordem do ser; é uma mudança na própria ordem”. 
 
A filosofia para Platão é muito mais que uma verdade sobre o Ser; elaé a verdade do Ser proclamada pelo homem que sabe. No meio da 
especulação o filósofo reproduz o próprio ser. Assim como Parmênides 
anteriormente havia demonstrado que a filosofia é uma encarnação da verdade 
do Ser. 
E Platão enquanto discípulo de Sócrates (que vivencia o assassinato 
judicial de seu mestre), procura denotar a filosofia como uma atividade e 
conhecimento que está em oposição e, porque não dizer, resistência contra a 
36 
 
desordem que abarca a sociedade ateniense. Daí a sua filosofia enquanto um 
esforço para restaurar a ordem da civilização helênica por meio do amor à 
sabedoria. 
Em A república a filosofia ou o amor à sabedoria, não é representada 
como uma doutrina da ordem reta (abstração/sistema), mas sim, como a luz da 
sabedoria que incide sobre a luta da alma com as forças existenciais que a 
puxariam para baixo, na direção do pólo da morte espiritual. 
Sendo assim, deve-se compreender que a filosofia não é uma 
“informação” sobre a verdade, mas o esforço árduo para localizar as forças do 
mal e identificar a sua natureza. 
Como o filósofo não existe em um vazio social, mas sim, em oposição 
ao filódoxo (sofista). A filosofia deve ser percebida não como uma abstração, 
mas enquanto algo concreto vivência e experiência que não se deixa arrastar 
pela multidão de sentidos, das aparências. 
Então para o Filósofo a justiça não é definida no abstrato, mas em 
oposição às formas concretas que a injustiça assume. A ordem reta da pólis 
não é apresentada como um “estado ideal”, mas os elementos da ordem reta 
são desenvolvidos em oposição concreta aos elementos da desordem na 
sociedade circundante. 
A filosofia de Platão não pode ser devidamente entendida se não 
tivermos a compreensão de que a linguagem utilizada pelo filósofo era 
explicitadora da realidade enquanto sua dimensão dialética (conflito de 
opostos). Daí então se ver o sentido real da filosofia em contraposição à 
filodoxia. O filósofo é chamado à existência, pois são abundantes os filódoxos, 
os amantes de opinião. 
É assim que o cientista político é o filósofo em forma existencial 
porque é o homem que resiste ao sofista e que, portanto, pode evocar um 
paradigma de ordem social reta à imagem de sua alma bem ordenada, em 
oposição à desordem da sociedade que reflete a desordem da alma do sofista. 
Com isso se pode compreender o sentido mais estrito em que o teórico 
(filósofo-cientista político) apresenta proposições (provisórias) referentes à 
ordem reta na alma e na sociedade. Afirmando para elas a objetividade da 
episteme (ciência), afirmação esta que é duramente contestada pelo sofista 
cuja alma está sintonizada com a opinião da sociedade. 
37 
 
Deste modo ao avaliar o papel do paradigma da teoria política de 
Platão, deve-se ter em mente que o bem da pólis tem a sua fonte não no 
paradigma das instituições, mas na psique do fundador ou governante que 
imprimirá o padrão de sua alma nas instituições. 
Daí se compreender Sócrates, assim como, em Platão a idéia de que 
não é a excelência do corpo que torna a alma boa, mas a alma boa é que fará 
com que o corpo se torne o melhor possível. O caráter essencial de uma 
polítéianão deriva de seu paradigma, mas da polítéia na alma de seus 
governantes. 
Como nos diz Eric Voegelin em Ordem e História, vol. III: Platão e 
Aristóteles(2009, p. 147), 
 
Platão concebeu a sua autoridade espiritual como a autoridade de 
um estadista para restaurar a ordem da pólis. A existênciahumana 
significava [para ele] existência política; e a restauração da ordem na 
alma envolvia a criação de uma ordem política em que a alma 
restaurada pudesse existir como um cidadão ativo. Como 
conseqüência, ele teve de acrescentar à sua investigação sobre o 
paradigma da boa ordem o problema de sua realização na pólis. 
 
São inúmeros os aspectos que podem ser desenvolvidos nesta rica 
passagem acerca da filosofia de Platão. Todavia, o que se faz importante aqui 
ressaltar é o caminho e não o fim, pois, por meio do caminho na descoberta e 
aprimoramento das virtudes o homem vai aprofundando, introjetando o que há 
de melhor em si. 
No entanto, o homem não se faz só, nem tampouco fora da 
comunidade; ele não é uma presa do destino, dos instintos, etc., mas, precisa 
se fazer a partir da relação com o seu entorno sem estar aprisionado ao 
mesmo e, exatamente aí conseguir diante da multiplicidade dos fenômenos que 
arrastam e buscam impregnar a alma dos homens, dar o salto no Ser e 
compreender a realidade, a qual denota os princípios, normas pelos quais a 
existência humana precisa estar alicerçada a fim de que possa alcançar a 
plenitude do seu existir. Sem a qual, a vida é um festival de erros, pois, 
aprisionamento, desproporção e desvio da ordem. 
O próximo tópico, A formação do ethospelo hábito será destinado a 
uma análise mais especifica acerca do olhar eminentemente filosófico sobre o 
38 
 
ethosenquanto objeto da Ética e estará pautada na filosofia do mais célebre 
dos discípulos de Platão, Aristóteles. 
É com o estagirita que se pode vislumbrar a maturação das questões 
de matiz ética, pois, mais precisamente com ele a Ética enquanto ciência 
adquire forma e delineia o seu conteúdo. 
 
1.4 A FORMAÇÃO DO ETHOS PELO HÁBITO. 
 
 “Sê senhor da tua vontade e escravo da tua consciência.” 
Aristóteles 
 
Aristóteles é dentre os filósofos, aquele que primeiro usou o termo 
ethos como um conceito filosófico integral, dando ao mesmo o lugar de estudo 
específico (pragmateia) da virtude ética, ou seja, da virtude do caráter. O 
caráter designa uma disposição adquirida pelo hábito, da parte desejante da 
alma intermediária entre a parte vegetativa e a parte racional. 
Uma característica peculiar da Ética aristotélica, mas também das 
éticas em geral é que o ethos aparece sempre como forma particular de hekis, 
ou seja, hábito, maneira estável de ser adquirida pela educação. E Aristóteles 
procura distinguir a hekis da potência natural, a qual não é suscetível de 
nenhuma transformação: 
 
Com efeito, nada do que acontece naturalmente pode formar um 
hábito contrário à sua natureza. Por exemplo, à pedra que por 
natureza se move para baixo não se pode imprimir o hábito de ir 
para cima, ainda que tentemos adestrá-la jogando-a dez mil vezes 
no ar; nem se pode habituar o fogo a dirigir-se para baixo, nem 
qualquer coisa que por natureza se comporte de certa maneira a 
comportar-se de outra. (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1, 
1103 a 20-23) 
 
Mesmo forçando a natureza, não será possível fazer com que ela 
adquira um novo modo de ser. No máximo, o que se obterá será um 
movimento contrário à sua natureza, por motivo de uma imposição externa. E 
assim, o estagirita procura nos informar que, naquilo que diz respeito ao ser 
humano, 
 
Não é por natureza, nem contrariando à mesma que as virtudes 
poderão ser engendradas em nós. Diga-se. Antes, que somos 
adaptados por natureza, primeiro a recebê-las e nos tornamos 
39 
 
perfeitos pelo hábito. Por outro lado, de todas as coisas que nos vêm 
por natureza, primeiro adquirimos a potência e mais tarde 
exteriorizamos os atos. Isso é evidente no caso dos sentidos, pois 
não foi por ver ou ouvir frequentemente que adquirimos a visão e a 
audição, mas, pelo contrário, nós as possuíamos antes de usá-las, e 
não entramos na posse delas pelo uso. Com as virtudes dá-se 
exatamente o oposto: adquirimo-las pelo exercício, como também 
sucede com as artes. Com efeito, as coisas que temos de aprender 
antes de poder fazê-las, aprendemo-las fazendo; por exemplo, os 
homens tornam-se arquitetos construindo e tocadoresde lira 
tangendo esse instrumento. Da mesma forma, tornamo-nos justos 
praticando atos justos, e assim com a temperança, a bravura, etc. 
(ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1, 1103 a 25- 1103 b) 
 
A hekis, então, difere da potência natural, por ser uma capacidade 
adquirida; ela é assim a disposição durável produzida pelo traço que uma 
atitude repetida deixa, introjetaem nós. Portanto, essa capacidade é o que 
podemos chamar de transformação no homem, do seu agir/fazer em um 
verdadeiro ter, isto é, um habitus10. 
Exatamente neste particular é que adentramos na especificidade do 
ser do ente homem, enquanto ser dotado de razão, e que, implica na 
constituição de seu ser (ôntico-existencial-moral, etc.) a tomada de consciência 
da responsabilidade inerente ao seu agir/fazer humano entre “humanos”. 
A Ética é para Aristóteles a ciência do ethos, mas acima de tudo, um 
saber voltado para o bem supremo ou soberano bem no homem. E esse bem 
supremo é ainda a felicidade. Trata-se assim, não somente de pensar, des-
velar um aspecto do ser do ente homem, mas de “viver de um modo bem-
aventurado e belo” (MARITAIN apud ARISTÓTELES, 1973, p. 52), pois, a 
eudemonia11 consiste na realização perfeita da natureza humana. 
Assim para Aristóteles, não ter sua vida organizada na direção de 
algum fim, é um sinal de grande loucura. Da mesma forma que Sócrates, para 
quem “uma vida sem exame não vale a pena ser vivida”, o estagirita 
compreende o peso moral que cada “existência humana” carrega em si. Esse 
peso advém de uma questão, angústia moral, a qual é a do sentido real da vida 
no ente homem. 
Portanto, o viver humano implica a tomada de decisões e, como nos 
diz o Filósofo “O homem é o princípio e genitor dos seus atos como de seus 
filhos”. (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, III, 5, 1113 b 18) 
 
10 Aristóteles considera que o habito é o meio de formar precocemente o caráter. 
11 Para Aristóteles a eudemonia é o estado de um homem no qual a natureza humana e suas plenas 
aspirações se realizam plenamente e em conformidade com a verdade hierárquica dos fins dessa natureza. 
40 
 
1.4.1 A RESPONSABILIDADE 
 
O princípio da responsabilidade segundo Aristóteles, pressupõe duas 
condições. Primeiro se faz necessário que esteja na própria realidade das 
coisas que são contingentes, pois, denotam a possibilidade aberta de 
interferência no futuro (esta contingência é característica inerente ao mundo 
sublunar). 
A segunda é pertinente à nossa proposta, pois é concernente ao 
indivíduo que age. Segundo Aristóteles, para que um indivíduo possa ser 
designado como autor de seu ato, se faz necessário que este (ato) dependa 
daquele (indivíduo) e, esta dependência é afirmada pelo estagirita através da 
noção de “bom grado” (ekoysiodekon). 
Em sua Ética a Nicômaco (III, 2, 1111 b 8-9), o Filósofo declara que o 
ato de bom grado as crianças e os outros seres vivos partilham com o homem. 
O bom grado aqui deve ser definido como o ato cujo princípio é interior ao 
sujeito, no entanto, para Aristóteles ter o princípio de seus atos em si, é ter a 
possibilidade de realizá-los ou não e aí, pode-se contestar a conveniência 
desta proposição para o animal ou a criança. 
As crianças, enquanto homem vivem em um mundo contingente e 
possuem uma faculdade motriz, mas, lhes é subjetivamente impossível não 
agir da maneira que agem, pois, não têm a capacidade, a não ser devido a 
alguma imposição externa, de resistir a seus apetites e desejos desmesurados. 
Daí Aristóteles comparar tais ações às dos seres inanimados, portanto, não 
podendo estes atos ser caracterizados como atos verdadeiros. 
Mas então o que permite dizer que o ente homem é o único ser a agir 
verdadeiramente com pleno consentimento? Segundo Aristóteles o homem 
possui um princípio de ação que é distinto da cobiça ou do arrebatamento, este 
princípio é o do cálculo ou raciocínio (logismos) ou o do discurso enquanto 
regra (logos). Portanto, o ente homem em sua existência e na constituição de 
seu ser no existir, não pode evitar a escolha. Tem este que optar sempre seja a 
favor ou contra o logos. 
Assim, qualquer que seja o seu ato, o homem não se resume pura e 
simplesmente ao seu princípio motor ou agente, ele é também agente que 
consente; é alma inteira que consente. Para Aristóteles só há dois tipos de atos 
41 
 
que se cumprem sem consentimento: os que são feitos por imposição exterior 
e aqueles que são feitos por ignorância. 
No que diz respeito à ignorância, o filósofo estabelece uma distinção 
não pensada por Sócrates e que constitui manifestamente um progresso na 
reflexão moral: a única ignorância que não diz respeito ao consentimento é 
aquela que não depende de nós. 
Se por exemplo, nos colocamos por atos feitos de boa vontade (nos 
embebedamos/drogamos) num estado que nos torna ignorantes, somos 
responsáveis por este ato de ignorância, pois, não agimos por ignorância, mas 
sim, como ignorantes. 
Não obstante, se os nossos atos ignoram as condições objetivas da 
ação, não se pode mais falar de consentimento e de falta, mas sim, de infeliz 
acidente e neste caso, se causamos danos a outrem a justiça corretiva poderá 
reparar o nosso dano, como medida para restaurar tal situação em favor da 
vítima. 
Com o pleno consentimento parece Aristóteles querer nos mostrar que 
é possível fazer a separação entre os atos que são moralmente imputáveis e 
os que não o são. No entanto, se faz pertinente salientar que o filósofo transita 
ainda pelo campo da legalidade de tais atos e vai mais além destes, na medida 
em que procura definir os graus de vícios ou de virtudes inerentes aos 
mesmos. 
Para definir esses graus, o mesmo toma como modelo as diferentes 
relações do homem com os prazeres do tato – faz-se importante observar aqui 
que, não é por acaso que a relação aos prazeres do tato pode servir de 
paradigma a toda vida moral, pois, para o estagirita, esses prazeres concernem 
a todo homem (são prazeres necessários) e são por conseqüência a maior 
causa dos desregramentos humanos –. 
Indo do mais inferior ao mais superior tem-se a intemperança 
(acolasia), a incontinência (acrasia), a continência (egcrateia) e por fim a 
temperança (sophrosyne). Estes termos são utilizados por analogia para 
caracterizar as diferentes maneiras de se comportar em face dos prazeres e 
das penas em geral. 
Deste modo, para Aristóteles, a temperança não é somente uma 
virtude particular como o é a coragem, a liberalidade; ela é mais 
42 
 
especificamente o que designa por excelência a virtude moral, pois é a maneira 
certa de agir conforme a regra, com certa disposição interior. 
Essas distinções são realizadas graças a um conceito maior da ética 
aristotélica, o qual é o de proairesis, termo esse que guarda um sentido 
plurívoco, concorda-se, porém, em reconhecer dois sentidos principais para 
este termo: a escolha intencional e a escolha nascida de deliberação sobre os 
meios. 
A proairesis designa primeiro a escolha intencional como visar a um 
determinado fim, esse sentido permite diferenciar o intemperante do 
incontinente. O intemperante e o incontinente deixam-se, ambos, levar por 
seus desejos irracionais. Todavia, o incontinente é capaz de reconhecer a 
regra e, por isso, desejá-la. 
Aristóteles diz que ele age com pleno consentimento, mas contra seu 
desejo12. O intemperante, por sua vez, perdeu todo o senso do valor da 
norma/regra e, as suas ações visam a um fim mau, testemunhando dessa 
forma, uma perversão da proairesis e de seu pensamento. 
No que tange à segunda acepção da escolha intencional, a 
proairesiscomo intenção pode servir paraqualificar a disposição interior 
particular do homem temperante, pois, como nos diz Aristóteles o homem 
virtuoso faz o que deve fazer, mas o faz intencionalmente, em razão das coisas 
às quais visa. Portanto, primeiro com conhecimento de causa e depois, 
intencionalmente. 
Assim, designa a escolha deliberada dos meios para alcançar certo 
fim, o que demonstra a maturidade por trás das ações, pois, inerente às 
mesmas está o cálculo, não se pode falar em puro e simples hábito, mas sim, 
em uma faculdade humana que é a inteligência prática. 
De outro modo pode-se dizer que o homem virtuoso escolhe 
deliberadamente os meios para atingir um fim posto de modo intencional. Esse 
fim por sua vez, não é somente desejado, mas cima de tudo amado em todo o 
seu ser. 
 
1.4.2 A QUESTÃO DO CARÁTER 
 
12cf. Ética a Nicômaco, VII, 8, 1151 a 
43 
 
 
Pode-se dizer que o desejo de Aristóteles ao elaborar a sua obra 
acerca da Ética é o de examinar como podem os homens se tornarem bons, já 
que o fim de todo homem é a felicidade e a vida moral é assunto de adultos. 
Para o estagirita o caráter do jovem, formado pelos hábitos impostos pelo 
educador, não pode ser tomado ainda como virtuoso ou vicioso. A virtude e o 
vício se desenvolvem somente através dos atos de que só o adulto é capaz, 
pois, se realizam principalmente na instância da vida cívica ou militar, portanto, 
só elas dão ao caráter sua qualidade especificamente moral. 
Pode-se então depreender que, não é na infância, mas sim, na fase 
adulta - idade em que os indivíduos são obrigados a tomar as suas primeiras e 
importantes decisões – que se realizam os primeiros atos verdadeiros. É óbvio 
que não se deve negar a influência do caráter adquirido pela educação, não 
obstante, deve-se considerar que é exatamente quando este indivíduo entra na 
vida adulta, que o mesmo dá início aos seus projetos, propõe e visa a 
determinados fins. Ou seja, ele se torna o verdadeiro autor de seus atos e, 
portanto, o responsável direto por aquilo que faz e é. 
Talvez não seja um equívoco dizer que neste momento há uma 
descontinuidade com relação à sua vida até então vivida, assim como, na 
própria vida humana, quanto ao seu desenrolar como um processo inerente ao 
ser do seu devir humano. Por um lado pode-se dizer que é pela docilidade ou 
pela rebelião que o jovem adquire boas ou más disposições em face das 
paixões. 
Não obstante é por decisões que o adulto adquire o vício ou virtude, 
isto é, um caráter moral. O caráter para Aristóteles não é imutável, mas sim 
suscetível de certa reversibilidade e exatamente aqui, reside toda a importância 
da Ética. 
Para o filósofo quatro são as condições gerais que permitem as 
transformações do caráter: 
1ª diz respeito à contingência que reina nos assuntos humanos. Sendo 
assim, se a natureza é ela própria sujeita ao aleatório, não menos os são os 
hábitos humanos. Por mais que os hábitos nos conduzam a repetir o que 
anteriormente fizemos, não podemos dizer que a constância seja uma 
necessidade. 
44 
 
O acaso pode fazer com que um homem virtuoso se ponha a cometer 
uma injustiça ou que um homem incontinente realize atos conformes à lei. 
Certas causas externas ou internas são propícias a esse gênero de situação e 
todo homem conhece a experiência da descontinuidade em sua vida, que diz 
respeito a seu fadigamento. 
A vida humana, portanto, comporta intermitências, momentos de 
relaxamento onde o acaso pode ter maior influência sobre o indivíduo e assim, 
implicar em certas descontinuidades na vida moral. 
2ª Em oposição à primeira, pois, da ordem da necessidade essa diz 
respeito à influência da evolução fisiológica do temperamento natural sobre o 
caráter individual. Sendo assim, se existe uma maturação natural do 
temperamento, se torna possível que certos defeitos sejam reabsorvidos com a 
idade (impulsividade) e que certas qualidades apareçam com a experiência 
(juízo, consciência). 
O caráter pode então ser melhorado a partir do equilíbrio do 
temperamento fisiológico e psicológico. Todavia, nos diz Aristóteles que este 
encontro entre a curva da evolução natural e a linha reta traçada pelo hábito 
comporta também um reverso, pois, alguns defeitos (avareza, covardia, etc.) se 
desenvolvem com a idade e podem se tornar incuráveis. 
3ª É concernente à persuasão. Aristóteles nos diz que o homem é um 
ente que possui como característica do seu ser não somente os hábitos, mas 
também, o de ser sensível ao logos. Portanto, o mesmo pode fazer uma 
escolha que seja contrária à sua natureza ou a seus hábitos, se estiver 
persuadido de que esta escolha lhe é preferível13. 
Esta capacidade de mudar repousa, segundo Aristóteles, numa 
faculdade especificamente humana que é a de se recordar e de antecipar – 
certos animais têm memória, mas não a reminiscência – que permite 
representar o passado e julgá-lo. Por isso, mesmo diante das adversidades e 
do peso de certos hábitos, o homem é capaz de evitar repetir continuamente 
seu passado. 
4ª Se refere à distância que separa a disposição ética do ato e se 
expressa em dois níveis: 
 
13 Cf. a obra política de Aristóteles, Livro VII, capítulo13, 1332 b 
45 
 
1- O caráter não é a causa do ato, mas unicamente da decisão intencional dos 
fins que se propõe. Assim como, o vício não é causa do ato, mas causa da 
intenção com a qual foi cometido. 
Como diz Aristóteles, se é verdade que sempre se pode remontar da 
práxis ao ethos, não se pode, porém, em compensação, deduzir o ato do 
caráter. Uma excelente ilustração disso é o procedimento do poeta trágico: a 
tragédia se ata e se desata através de uma ação. O poeta não faz suas 
personagens agirem para revelar um caráter; ele dá-lhes um caráter depois 
para tornar inteligível sua decisão14. 
 
2- Concerne à temporalidade: os atos e as disposições advêm em tempos 
heterogêneos. Enquanto o caráter se desenvolve através de um processo 
lento, o ato inaugura algo que não deve nada à duração. 
Enquanto práxis o ato é desdobramento de uma atividade que é fim em 
si mesma, em si ele tem o poder de aboli o tempo, pois nele passado e 
presente, início e fim se coincidem. 
Desta forma, enquanto as disposições éticas são filhas da duração, o 
ato é sempre atualidade instantânea que transcende todas as potencialidades, 
por isso mesmo, o advento de um ato diverso daquele que se podia esperar 
não é impossível. 
Não obstante, se faz necessária uma condição mínima, a qual é que, a 
passagem entre a disposição ética e a decisão intencional não se opere de 
forma puramente automática. Uma vez que a escolha não depende somente do 
hábito, mas também da persuasão através do logos, então há a condição de 
poder se realizar. 
Desta maneira, Aristóteles procura transparecer que o futuro moral do 
indivíduo comporta certa abertura e cabe a cada um a disponibilidade para 
começar uma nova série de atos e através destes dar início à reforma do 
caráter. 
Quanto à possibilidade ou impossibilidade disso, vejamos o que 
Aristóteles propõe diante dos seguintes casos de figura moral: 
1- O problema do vício 
 
14Cf a Poética de Aristóteles, VI, 1450 a 15-23. 
46 
 
Pode o homem vicioso se transformar? Segundo o Filósofo, quando 
um homem se chafurda no vício, cada vez mais difícil torna-se, a medida que o 
tempo e a prática persistem, a possibilidade para se desfazer de tal condição. 
Esta impossibilidade encontra as suas raízes na natureza do próprio vício, pois, 
este consiste em fazer o mal segundo escolha intencional,portanto, o ato não 
somente é injusto como incorre em peso ainda maior, pois, o mesmo fora feito 
de forma cônscia e deliberadamente. 
Para Aristóteles a causa desse tipo de escolha é o vício e a 
intemperança. Sobre a intemperança, o estagirita nos diz (1979): 
 
O homem que busca o excesso das coisas agradáveis ou busca em 
demasia as coisas necessárias, fazendo-o deliberadamente, por elas 
próprias e nunca tendo em vista algum outro fim, é intemperante. Tal 
homem será necessariamente inacessível ao arrependimento e, por 
conseguinte, incurável, pois quem não pode arrepender-se não pode 
ser curado. (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, VII, 7, 1150 a 
19ss.) 
 
Ainda neste mesmo plano Aristóteles apresenta outro tipo de homem 
intemperante, 
 
Existe, igualmente, o homem que evite as dores corporais, não 
porque estas o levem de vencida, mas por escolha deliberada. (dos 
que não escolhem tais atos, uma espécie é conduzida a eles pela 
promessa de prazer e a outra por fugir à dor nascida do apetite, de 
modo que esses tipos diferem entre si. Ora, todos fariam pior opinião 
de um homem que, sem apetite ou com um apetite fraco, cometesse 
algum ato vergonhoso, do que se o fizesse levado pela cólera; pois 
que faria ele então se a sua ira fosse grande? Eis aí por que o 
homem intemperante é pior do que o incontinente.) 
(ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, VII, 7, 1150 a 23-30.) 
 
Vê-se então que há a intemperança quando a parte desejante não 
obedece a nenhuma regra e quando os objetos de seus desejos se tornam a 
única preocupação da alma inteira. O intemperante é, por assim dizer, o 
homem do consumo, do gozo; o homem do desejo desregrado e, que por seus 
desejos insaciáveis, acresce a força inata da cupidez. 
Aristóteles vê o intemperante como o oposto ao homem virtuoso, uma 
vez que ignora a regra ou a lei, pois não reconhece nestas o justo ou o bem e é 
exatamente por isso, que ele não é acessível à vergonha ou qualquer tipo de 
remorso. 
Como diz Aristóteles, para este tipo de homem o discurso coletivo 
tornou-se estranho, o olhar do outro cessou de ser interiorizado sob a forma de 
47 
 
pudor; daí o estagirita excluí-lo da condição de animal político, porque 
escolhendo ser contra todos os outros, na medida em que é presa dos seus 
próprios desejos, é incapaz de uma verdadeira amizade, pois, é desconfiado e 
maldoso em face de todos, julgando os outros a partir de si mesmo. 
O intemperante para Aristóteles é um homem que optou levar a sua 
vida guiada pela cegueira e ignorância e, o mesmo é inteiramente responsável 
pelos seus atos, porque, à força de agir mal, de não escutar nem a lei nem a 
razão, ele obscureceu em seu ser a faculdade de perceber, de distinguir o bem 
do mal; a faculdade de desejar, pervertida pelos maus hábitos, obscureceu a 
faculdade de julgar. 
No homem vicioso só a razão calculadora, a inteligência prática podem 
continuar a se desenvolver. A inteligência dos meios, inteiramente submetida a 
fins maus torna-se instrumento frio e calculista de invenção e maquinação 
maléfica. 
Vê-se que o intemperante, enquanto homem vicioso regrediu o seu ser 
à esfera da mutilação da realidade pelo senso exacerbado da percepção 
subjetiva. Esse homem vicioso destrói em si a possibilidade de reconciliação 
com a sociedade e consigo mesmo. 
 
2- Continência e incontinência 
Segundo Aristóteles o incontinente age de bom grado, sem 
constrangimento, uma vez que age conforme o seu apetite, porém, o mesmo 
age contra a sua intenção, ou seja, vai de encontro ao que sua razão 
compreende ser o certo, o bom. Nesse caso, o incontinente experimenta a 
contradição interna. E nos fala Aristóteles que é por motivo da faculdade de 
julgar apresentar muitos tipos de objetos desejáveis que a faculdade de desejar 
pode experimentar contradições. 
 Essa mesma experiência é assim vivida tanto pelo continente como 
pelo incontinente, no entanto, o continente é capaz de fazer aquilo que deseja, 
enquanto o incontinente cede à sua cupidez ou ao seu arrebatamento. A fim de 
esclarecer tal contraste, torna-se importante aludir a uma noção pouco utilizada 
hodiernamente, a qual é a de inteligência prática. 
Aristóteles procura nos fazer compreender que a faculdade de desejar 
move graças à inteligência prática, ou seja, à capacidade de produzir um 
48 
 
silogismo prático. Esse processo se desenrola da seguinte forma: o desejo 
propõe um fim e a inteligência prática delibera então sobre os meios que deve 
operar para conseguir atingir tal fim. 
Colocados em um silogismo pode-se apresentar o que fora dito da 
seguinte forma: “Os alimentos gordurosos fazem mal à saúde; ora, este 
alimento que me foi oferecido para almoçar é gorduroso, logo, devo abster-me 
do mesmo”. Deve-se observar que o “logo” aqui funciona não como uma 
conclusão teorética, mas sim, como uma passagem ao ato, ou seja, como uma 
conclusão prática. 
O incontinente então, se caracteriza pelo conhecimento do que é 
desejável, por sua capacidade de sustentar bons silogismos teóricos, no 
entanto, por sua incapacidade de pô-los em ato. 
Aristóteles, com efeito, nos diz que o incontinente ou esquece de 
raciocinar (impulsividade), ou não se atém devidamente àquilo que deliberou 
(fraqueza). O estagirita usa uma analogia bastante interessante para falar de 
tal situação na Ética a Nicômaco15, a qual é a de colocar o incontinente em 
relação ao ator que gesticula não obstante não age; que recita frases sem estar 
presente a seu sentido. Sendo assim, o seu saber da regra permanece 
abstrato, em potência, como que adormecido. 
Destarte, para o Filósofo, o incontinente seria aquele indivíduo cujo 
desejo é ineficaz, pois, não sabe usar corretamente a inteligência prática. 
Diante de uma situação onde há enunciados contraditórios, um que emana da 
sensação e o outro que emana da razão. O incontinente é aquele que 
encontrará o “mau” universal, a partir do qual irá processar o silogismo 
deixando o “bom” em estado virtual. 
É preciso deixar claro que para Aristóteles, o incontinente não é aquele 
que põe fora do jogo a inteligência prática, mas sim, aquele que conclui muito 
rápido ou que põe um mau universal. Portanto, por ser incontinente faz mau 
uso da razão prática (sua cólera o impede de raciocinar e agir corretamente 
quanto ao que deve empreender). E o estagirita procura explicitar que se se 
quer vencer a incontinência é o ethos que se faz necessário transformar e não 
a inteligência. 
 
15 Cf. Ética a Nicômaco, VII, 3, 1147 a23 
49 
 
Para se tornar continente deve o indivíduo exercer um autodomínio, ou 
seja, agir conforme à sua razão e contrariamente ao seu apetite. Percebe-se 
claramente que o continente é o homem que vive a decisão moral como um 
combate; é aquele que no momento em que se faz necessário age em 
conformidade com a regra, ou seja, faz concordar a sua preferência com o 
enunciado racional, mesmo sendo bombardeado pelas explosões dos sentidos 
e desejos que buscam constantemente fazer guarida na vida humana. 
Exatamente por esse motivo e sabedor da sua condição de homem 
falível, capaz de ser levado pelos desejos violentos, desregrados e maus é que 
o homem continente sabe da necessidade da vigilância, da resistência, do 
trabalho árduo e nada prazeroso que impõem certas escolhas. 
 
3- Excelência e infalibilidade 
Para Aristóteles a virtude ética está para além da continência e do 
domínio de si, pois, implica a erradicação completa dos desejos excessivos e 
maus. Ela se caracteriza pela ação reta, pela temperança do desejo e do 
coração. E o caminho apresentado pelo filósofopara adquirir a temperança é 
em um primeiro momento a paidéia da criança. 
O educador deve, apoiando-se no temperamento natural da criança ou 
no seu pudor, desenvolver o gosto pelas coisas harmoniosas ou moderadas. O 
segundo caminho abre a possibilidade de uma passagem contínua da 
contingência à temperança. Para Aristóteles é na idade madura e não na 
juventude que é possível a verdadeira temperança. 
Segundo o estagirita, o que define a virtude ética é mais a disposição 
interior com a qual agimos, do que a ação em si mesma. Daí se procurar 
explicitar que o homem temperante não se contenta em obedecer à regra, ele 
não é um escravo, um simples e mero seguidor; ele a segue com prazer, pois, 
aprecia a sua beleza e testemunha a sua excelência pela disposição interior, 
intenção com a qual escolhe agir. 
O homem temperante é assim amigo do belo e a capacidade de agir 
retamente (porque é belo) define o que Aristóteles chama de a virtude ética, a 
qual permite-nos agir com facilidade e graça, pois, o nosso desejo é então 
concorde com o logos, sendo então um amor pela regra. 
50 
 
Todavia, essa virtude não é suficiente, segundo o filósofo, para 
constituir a aretecompleta, a excelência. Acima da virtude ética que é 
concernente ao “sujeito” irracional em nós, deve-se desenvolver a virtude do 
senhor, que conduz a ação indicando a sua norma. Essa última é a prudência e 
ela nos diz o que é preciso fazer; enquanto aquela nos dá a força e o desejo de 
fazê-lo. 
O que se deve depreender do que Aristóteles está a nos dizer é que 
uma virtude ética que se contentasse com uma mera obediência à regra 
permaneceria inacabada enquanto virtude moral e, por assim dizer, “natural” é 
o caso da virtude que se encontra no jovem educado16. 
A moral tem exigências que excedem em muito a moral; ela exige 
certa forma de inteligência. E esta se adquire mais tardiamente que a virtude 
do caráter, porque reclama uma experiência que somente a vida ativa pode 
dar. 
Sendo assim, a ação verdadeira (do homem adulto) não é nunca 
simples dedução prática a partir de princípios racionais claros para todos. 
Deste modo, ser justo não consiste simplesmente em respeitar os códigos de 
lei da cidade, nem tão pouco da moral ou da religião; ser justo implica muito 
mais em inventar o que é preciso fazer para que o justo de fato aconteça. 
E a prudência é exatamente essa capacidade de encontrar a norma 
justa numa situação particular, de encontrá-la, não de forma abstrata como 
uma equação matemática ou regras frias e opacas, mas realizando-a. 
Para Aristóteles, o homem prudente é aquele que revela como ser 
justo nesta ou naquela situação concreta, esclarecendo a capacidade de 
situação prática. A prudência é então o guiamento da virtude ética e guia 
infalível, pois, é posto em ato, segundo o logos (sabedoria prática) e não 
segundo palavras ou meros esquemas abstratos, os quais são dados a 
esquecimento ou disparidades. 
No entanto, esta faculdade de medida que é a prudência pressupõe 
sempre um bom ethos, o qual, por sua vez, depende da lei da cidade e da 
regra aprendida desde a infância. Daí se depreender a importância vital da 
pedagogia e da política. 
 
16 Conferir Ética a Nicômaco, VI, 13, 1144 b 16 
51 
 
Como um farmakon a pedagogia e a política têm demonstrado que a 
história da humanidade foi e é fortemente marcada pelo grau de idoneidade ou 
não dos seus projetos. Esse discurso em nada é novo (Sócrates, Platão e 
Aristóteles já o discutem com os sofistas) e, todos já conhecem a máxima que 
o sucesso ou fracasso na formação do homem e de uma grande civilização são 
frutos da Educação e da Política desempenhada por cada povo/nação. 
Segundo o estagirita, a lei enquanto opinião reta deve servir de guia 
àquele que conhece ainda desejos rebeldes. Seu ethos é tal que ele não vê 
claro o bastante para se dirigir sozinho. 
Em compensação, aquele que interiorizou suficientemente a lei, pode 
encontrar na inteligência prática um guia de vida e de ação. A iniciativa assume 
dessa forma o descanso do bom hábito. E deste modo a Ética ultrapassa a 
formação do ethos para tornar-se ação inventiva. 
Faz-se importante salientar aqui que os gregos tinham a real 
percepção de que uma verdadeira Ética nunca está destituída de um forte teor 
Estético. Isso se faz ver claramente nas vidas de Sócrates, Platão, Aristóteles, 
assim como, mais tarde, é possível ver na personagem de Cristo e, não por 
acaso, o encontro destas Éticas forjarão um dos pilares do Ocidente. 
Com a descrição do homem excelente pode-se depreender que o 
Filósofo almejou fazer advir, a consciência da necessidade de uma 
reconciliação do homem consigo mesmo, que fosse capaz de se manifestar 
com graça no mundo, assim como em relação aos outros. 
Enfim, apto a encarnar de maneira infalível uma norma que nenhuma 
lei universal pode enunciar, e que, contudo, constitui o ideal da conduta 
humana. 
 
1.4.3 O HÁBITO E O SEU VALOR MORAL 
 
O hábito pode ser definido como certa imposição física e interna, que 
inclina o indivíduo a se conduzir do mesmo modo que agira no passado. Seja 
ele bom ou ruim só é possível adquiri-lo através da ação. Mas o que é o hábito 
quando se diz que se adquirem maus hábitos ou que se forja um mau caráter? 
Assim como, o hábito tem o mesmo sentido quando se trata de bom hábito? 
52 
 
Com relação aos maus hábitos pode-se dizer que consiste em se 
deixar levar por seus pendores, quer esses sejam da ordem da cobiça, quer do 
arrebatamento. Dentro de tal plano o homem segue o seu pendor natural, 
tornando-o progressivamente mais forte. 
 Ou seja, em outros termos ele não se mostra capaz de dizer não e à 
medida que o tempo vai passando, o constrangimento se acentua e transforma 
aquela inclinação em verdadeiro defeito de caráter. Quanto ao bom hábito, 
esse, nos diz Aristóteles que é repetindo gestos convenientes, depois 
multiplicando atos conformes à lei que se podem adquirir bons hábitos em 
matéria de ação. 
Não obstante pode-se objetar que para uns há uma maior facilidade 
em adquirir tais hábitos, enquanto que para outros é um exercício árduo e 
difícil. Aristóteles apresenta a seguinte via, ou método ascético: 
 
Mas devemos considerar as coisas para as quais nós próprios 
somos facilmente arrastados... É preciso forçar-nos a ir na direção 
do extremo contrário, porque chegaremos ao estado intermediário 
afastando-nos o mais que pudermos do erro... (ARISTÓTELES, Ética 
a Nicômaco, II, 9, 1109 b 1-5) 
 
O estagirita nos apresenta então o bom hábito como sendo a luta 
contra os seus pendores. Não seria equivocado dizer que tal combate se 
assemelha ao exercício exigido para o aprendizado de uma técnica ou de uma 
ciência. 
A oposição estabelecida, primeiro entre o hábito e o exercício perde 
todo o seu rigor. É só ao fim de um período relativamente longo que o 
sentimento do esforço desaparece e, o que anteriormente parecia 
desagradável agora se torna prazeroso e de certa forma fácil, por conta do 
costume. 
Somente então se percebe que o hábito não possui mais o sentido de 
exercício repetitivo, e sim de facilidade para fazer o que se deve. Daí termos a 
modificação do estado de continência para o de temperança. 
Para o Filósofo a virtude enquanto uma disposição ética não é 
conversão renovada a princípios, porém muito mais, propensão para desejar o 
que o logos ordena. A mesma não se implanta como seqüência de revolução 
53 
 
interior, mas por força de impregnação, assim como, por um conjunto de 
pequenas e múltiplas correções e progressos. 
E assim atinge a sua perfeição quando todo desejorebelde foi 
extirpado e não se tem mais nenhuma necessidade, como no caso do 
continente, de imaginar regras para segui-las, pois o desejo a incorporou. 
Para Aristóteles, a virtude define-se pela constância graças às quais o 
indivíduo realiza, de maneira concreta a essência humana. Ela faz com que o 
indivíduo se torne apto a resistir às pressões do outro, aos caprichos da sorte, 
aos desejos rebeldes. Atinge então, na sua conduta, uma constância tanto 
mais firme quanto a contenção de si dá lugar à felicidade de fazer o que se faz, 
de ser o que se é. 
A consistência do caráter virtuoso vem assim por dizer, dessa 
constância do agir. O homem excelente, reconciliado consigo mesmo, amigo 
da forma e da beleza, adquire então a estatura de Homem. 
Essa é a qualidade mais sublime, pois testemunha a realização, o 
cumprimento da essência humana. O homem excelente atualiza então o que 
há de mais alto e de maior no homem, pois encarna não a Idéia de universal de 
homem, mas sim, o ideal de Humano. 
E nisso a excelência prática aparece às vezes como específica do ser 
Humano, posto que somente ele é suscetível de virtude moral e de prudência 
deliberativa, ao mesmo tempo como forma particular, também se é a mais 
eminente, desta arete que designa em todas as coisas, o melhor estado em 
que se pode achar, para preencher sua função ou sua tarefa. 
Atualizando sua essência, realizando sua unidade, o homem descobre 
também a sua unicidade. Daí se poder dizer que o intemperante tem toda a 
liberdade para se singularizar por seus vícios, mas somente o homem virtuoso 
tem o poder de se individualizar. E esta, por sua vez, é mais o resultado da 
prudência, da virtude do senhor do que do ethos. 
O ethos revela a beleza de seus atos passados e a continuidade de 
uma linha de vida, mas só o ato, no qual o ser se concentra e se manifesta, 
testemunha a iniciativa e a invenção individuais. Contudo, se torna importante 
salientar que, esta invenção não é a busca de originalidade a qualquer preço, é 
a resposta adequada de um indivíduo a uma situação particular. 
54 
 
 Sendo o resultado dos atos, o ethos supera seu significado de 
temperamento psicológico, para assumir significado moral. Não obstante, na 
medida do grau de temperança ou intemperança do qual é objeto, seu papel 
em relação aos atos vindouros difere. 
O caráter intemperante constitui um peso, um constrangimento do qual 
é cada vez mais difícil nos afastarmos, pois o hábito de ceder à facilidade 
torna-se impulso irreprimível de fazer o que não se deve. Por esse motivo o 
caráter vicioso tende a se tornar característica psicológica permanente, tanto 
mais grave quanto implica, por sua vez, perversão da inteligência. 
No que diz respeito à temperança, pode-se dizer que essa faz do 
ethos um instrumento dócil da inteligência prática. O hábito não deve ser 
observado como o velho homem que emperra a decisão, mas sim, como o que 
preserva a sua retidão. Quando é bom, o caráter não é um destino, pois, o 
homem excelente quando age tem o poder de até mesmo transcendê-lo. 
Destarte, a importância atribuída ao caráter dá à reflexão ética seu 
aspecto de singularidade. Mostra o valor da continuidade, que não é 
permanência natural, mas a concretude de uma série de atos descontínuos. 
A ação não é somente o que engaja minha responsabilidade em face 
dos outros; engaja a responsabilidade que tenho em relação à minha vida 
inteira. Desta forma, configurando o meu ethos, traço de maneira cônscia e 
deliberada o esboço do que vou me tornar. 
O ethos enfim, exprime a ancoragem da decisão humana em 
temperamento natural e, principalmente, na cidade. A regra é antes de 
qualquer coisa exposta e imposta do exterior pelo pedagogo e pela lei. 
A cidade aparece então como condição da possibilidade de ethos bem 
regrado e como o horizonte de toda a ação humana. Evidencia-se assim que 
para os gregos Ética e Política são dimensões intrínsecas e constitutivas do 
fazer-ser humano que se esclarecem e se confirmam na práxis dentro da 
comunidade (polis). 
O próximo tópico tratará do ethos cristão, da noção de pessoa, da 
dignidade da vida humana e do papel da Igreja católica na construção (moral) 
do Ocidente. 
 
55 
 
CAPÍTULO II – O ETHOS CRISTÃO E O HOMEM (PESSOA) COMO 
REALIZADOR DO BEM E DO MAL MORAL 
 
“§ 5 É assim o Cristianismo a religião do homem concreto, 
porque não deve este nunca negar-se, não deve este nunca 
menosprezar o que tem de positivo, não deve nunca descrer de 
suas próprias possibilidades perceptivas, nem de que pode 
utilizá-las. O Cristianismo é, assim, uma promessa que se 
realiza através de nós, e só exige de nós que ofertemos o 
melhor de nós e o mais humano de nós” Mário F. dos Santos. 
 
2.1 A DIMENSÃO ÉTICA DO EVANGELHO 
 
 
 Como está bem documentado na obra de Marciano Vidal Nova Moral 
Fundamental: o lar teológico da Ética, a moral cristã tem a sua raiz originária 
natural na Sagrada Escritura. Ali o mesmo nos diz que “a referência contínua à 
Bíblia é a garantia mais eficaz e segura da autenticidade da vida ética dos fiéis 
e da reflexão teológico-moral” (2003, p. 271). A Sagrada escritura é, foi e será 
fonte viva e fecunda da doutrina moral da Igreja, isso pode-se atestar também 
no Concílio Vaticano II. 
Sob diversas formas e variadas perspectivas vem-se trabalhando a 
necessidade de relacionar mais estreitamente o trabalho teológico-moral com o 
dado bíblico. Moralistas e biblistas vêm trabalhando na busca de uma reflexão 
moral mais enraizada na Bíblia e de uma exegese bíblica mais ligada à práxis 
dos cristãos. No primeiro capítulo da encíclica Veritatissplendor (cf. 6-27) 
reúnem-se os conteúdos essenciais da revelação do Antigo Testamento e do 
Novo Testamento sobre o agir moral. Pode-se observar a seguinte ênfase: 
- a posição central do Decálogo tanto no Antigo quanto no Novo 
Testamento (cf. 10-14); 
- a moral evangélica, cuja carta magna é o Sermão da Montanha e que 
enfatiza a proposta das bem-aventuranças (cf. 15-18); 
- o seguimento à pessoa de Jesus Cristo como norma suprema da 
moral cristã (cf. 19-21) e, o modo de atuar de Jesus e suas palavras, atitudes e 
preceitos constituem a regra moral da vida cristã (cf. 20); 
- a lei do Espírito (lei nova) tal qual aparece, sobretudo em São Paulo 
(Cartas aos Gálatas e aos Romanos. Cf. 22-24); 
56 
 
- a catequese moral da comunidade primitiva cristã tal como se reflete 
nos diversos escritos do Novo Testamento (cf. 25-27). 
Com relação aos conteúdos essências da moral bíblica, a encíclica 
resume-os da seguinte forma: A subordinação do homem e da sua ação a 
Deus (Aquele que só Ele é bom); a relação entre o bem moral dos atos 
humanos e a vida eterna; o seguimento de Cristo que abre ao homem a 
perspectiva do amor perfeito; e o dom do Espírito Santo, fonte e auxílio da 
moral da „nova criatura‟ (cf. 2Cor 5,17)17. 
Quanto aos pontos temáticos sob os quais giram a moral do Antigo 
Testamento, pode-se dizer que são quatro: 1º a Lei; 2º o Decálogo; 3º a Moral 
Profética; e 4º a Moral Sapiencial. 
1º com relação a Lei procuram-se neste tema: 
- o fundamento ético das tradições mais primitivas; 
- a influência mosaica da vida, moral israelita; 
- a vinculação ético- religiosa como fundamento da Confederação das 
tribos; 
- a teologização proveniente da característica religiosa da Aliança; 
- e as ligações entre os pensamentos profético, sacerdotal e 
sapiencial. 
O tema da Lei é a coluna vertebral da ética veterotestamentária. 
2º Êxodo 20, 2-17 situa o contexto do Decálogo da Aliança 
e;Deuteronômio 5, 6-21 reflete a teologia deuteronômica. No Novo Testamento 
se assume o conteúdo moral do Decálogo(Mc 10, 17-22; Mt 19, 18-24; Lc 18, 
18-23; Rm 13,9). A Igreja, além de conservar seu conteúdo, serviu-se dele 
como esquema para expor a catequese moral. Sem deixar de assinalar, é 
claro, que o mesmo também possui o caráter de promessa e de sinal de uma 
Nova Aliança (cfEx 24). O dom do Decálogo é promessa e sinal de Aliança, 
quando a Lei for definitivamente escrita no coração do homem (cf Jr 31, 31-34), 
substituindo a lei do pecado, que aquele coração tinha deturpado(Jr 17, 1). 
Então será dado „um novo coração‟, porque nele habitará „um espírito novo‟, o 
Espírito de Deus (cfEz 36, 24-28). 
 
17Veritatisspendor, 28. 
57 
 
3º Lei e Decálogo não têm interpretação correta senão a partir do 
profetismo. Há uma importância inominável dos profetas na configuração da 
consciência ética de Israel e as características básicas da ética dos profetas 
continuam a vigorar, são as mesmas: 
- o ímpeto do ethos a partir do “conhecimento de Deus”; 
- a concretização moral na tríade de misericórdia-justiça-direito; 
- a capacidade de “denúncia ética”; 
- a incidência político-social. 
4º Por fim, não se pode esquecer da Moral Sapiencial, pois, a 
“Sabedoria” é inseparável da “Lei”, e dos “Profetas”: não vai faltar a lei ao 
sacerdote, o conselho ao sábio, nem ao profeta a palavra” (Jr 18, 18; cf. Ez 7, 
26). A ética cristã hodierna apresenta algumas linhas da moral sapiencial: 
- importância da estimativa ética (sabedoria); 
- abertura da ética à experiência e ao pensamento do homem; 
- ênfase na responsabilidade pessoal diante da pressão sociológica; 
- vinculação da ética à cultura popular; 
- insistência nos temas de preocupação “humanística”. 
Com relação à Moral do Novo Testamento percebe-se um 
deslocamento da categoria de “Aliança” para as categorias de “Seguimento de 
Jesus Cristo” e de “Reino de Deus”, ou seja, a moral cristã é entendida como 
atualização do Seguimento de Jesus e como a realização das exigências do 
Reino. 
Como bem diz Marciano Vidal (2003, 278) 
A moral do Novo Testamento deve ser interpretada 
mediante as coordenadas religiosas do Antigo 
Testamento. É imprescindível prenotar as idéias éticas e 
os valores morais que configuram a vida, a cultura, e o 
pensamento do mundo helenista, com o qual tiveram de 
defrontar-se as comunidades cristãs primitivas. 
Tampouco convém esquecer as idéias morais da 
literatura intertestamentária e dos movimentos religiosos 
judaicos, [...]. 
 
Com relação à moral dos grandes grupos literários de que se compõe 
o conjunto neotestamentário, destaca-se: 
A Moral Paulina: 
- por sua base místico-teológica: moral da vida nova em Cristo, 
nascida do batismo e integrada na vida cultural; 
58 
 
- por sua estrutura de liberdade: moral do indicativo, do Espírito (Carta 
aos Gálatas); 
- pela riqueza formal de seu funcionamento: universo motivacional 
amplo e profundo; uso da razão transformada em Cristo; 
- pela inculturação na filosofia helenista, da qual recebe fatores 
decisivos da vida moral como “nomos” (lei) (Carta aos Romanos) e “synéidesis” 
(consciência) (Rm 2, 14; 14; 1Cor 8-10); 
- pelo desenvolvimento de categorias especiais do organismo cristão, 
como o “discernimento” (Rm 12, 1-2; Fl 1,2-9); 
- pelo interesse com as preocupações de hoje: moral da “autonomia”; o 
“específico” da moral cristã; 
- pela amplitude temática: escravidão (Carta a Filemon); sexualidade, 
matrimônio e família (1 Cor 7; Ef 5,22-23); estado (Rm13, 1-7). 
A Moral dos Evangelhos Sinópticos, que antes de mais nada é 
transmissão da ética de Jesus Cristo. 
A Moral de São João e dos demais escritos do novo testamento. Na 
teologia joanina pode-se vislumbrar: 
- a vinculação do ethos cristão com os “sinais”; 
- o evangelho de São João apresenta Jesus Cristo como “paradigma” 
a partir do qual se deve confrontar a própria vida. 
- os escritos joaninos enfatizam a concentração da moral cristã no 
preceito do amor e não da lei; 
- muitas características da moral cristã são enriquecidas pelas 
perspectivas joaninas, por exemplo: a função das virtudes teologais (fé, 
esperança, caridade), a consideração do pecado, etc. 
Torna-se importante salientar que as categorias bíblicas observadas 
dão à ética cristã um conjunto de condições especiais, e as mais importantes 
são: 
- a proposição de um ideal de perfeição absoluta, que é como que a 
situação-limite que é força de atração para os fiéis; 
- a exigência de crescimento contínuo para se conseguir o ideal de 
perfeição (lei do crescimento contínuo até a perfeição/produzir frutos na 
caridade para a vida no mundo); 
59 
 
- a valorização do universo motivacional (prêmio/castigo) tem papel 
decisivo quanto: ao Reino de Deus, à esperança escatológica, à imitação de 
Deus, etc. 
A ética cristã revela ao longo dos tempos o seu caráter de pretensão 
messiânica, intencionalidade subversiva, conflito e confronto, afirmação e 
confirmação da vida do homem diante do inimigo e da morte e, uma práxis 
sedimentada no amor à verdade que se torna práxis libertadora. 
Não por acaso o Concílio de Trento cunhou uma densa formulação 
quando afirmou que o Evangelho (= divina Revelação) é “como fonte de toda 
verdade salvadora e de toda norma de conduta”. Tal afirmação e fórmula é 
também assumida pelo Concílio Vaticano II. 
Em toda a formulação do núcleo significativo do cristianismo, bem 
como uma evidência na vida real dos cristãos ao longo da história, pode-se 
perceber que, ao Evangelho, entendido em seu amplo significado de 
Revelação, corresponde uma dimensão moral. Esta transmitida pela Tradição e 
pela Sagrada Escritura. 
A encíclica Veritatissplendor é ainda mais explícita e reiterativa nessa 
afirmação, sublinhando o “nexo intrínseco e indivisível entre fé e moral”18, 
constatando o conteúdo moral na missão dos Apóstolos19 e no ensinamento da 
Igreja20, e vendo na palavra de Deus as orientações para o comportamento 
moral, isto é, sobre o comportamento que agrada a Deus (cf. 1 Ts 4,1)21. 
Os escritos do Novo Testamento afirmam muitas vezes que o homem 
faz o bem ou o mal, que realiza ações boas ou más22. Têm particular 
importância, para este contexto, as passagens do Novo Testamento em que se 
afirma de forma clara que o bem ou mal ético é objeto de realização em atos 
internos ou externos do homem. 
Pode-se destacar, mais especificamente, a passagem em que o 
Apóstolo Paulo afirma na carta aos Romanos (2006, p. 1978): 
 
[...] não faço o que quero, o bem, mas aquilo que não 
quero, o mal...; o querer o bem está ao meu alcance, não 
 
18Ibid, 4. 
19 Ibid., 27. 
20 Ibid., 27, 28, 29, 30 etc. 
21 Ibid., 28. 
22 Cf. passagens como: Rm 13, 3-4; 1Ts 5,15; 2 Ts 3,13; 3 Jo 1,11; Tg 4,17. 
60 
 
porém o praticá-lo. Com efeito, não faço o bem que eu 
quero, mas pratico o mal que não quero. (Rm 7,14-25). 
 
E mais adiante, na mesma carta, escreve São Paulo “detestai o mal e 
apegai-vos ao bem” (Rm 12,9); e em outra passagem fala daquele que pratica 
o mal e o bem: “Tribulação e angústia para toda pessoa que pratica o mal [...]; 
glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem [...]” (Rm 2,9-11). 
À base dos textos que foram citados acima, se pode estabelecer que, 
segundo a doutrina das fontes reveladas (cristãs), o homem, a pessoa humana 
é realizadora do bem e do mal moral. Este é em sua consciência o caráter 
prático dos valores éticos. 
Na doutrina cristã se faz patente que a pessoa humana, ao atuar, é 
realizadora daqueles valores. O bem e o mal trazem em si mesmos o sinal 
profundo da operatividade da pessoa. 
Baseando-se nesta afirmação, pode-secompreender em que princípio 
se apóia, em última instância, a afirmação de que o ideal da perfeição pessoal 
do homem, na ética cristã, é um ideal prático. Com efeito, dado que o bem e o 
mal moral são o produto da atividade da pessoa, compreende-se que a pessoa 
se aperfeiçoa moralmente ao realizar o bem, enquanto se degrada moralmente 
ao realizar o mal. 
Desta maneira, pois, o caráter prático dos valores morais está 
condicionado em sua própria essência pela atividade da pessoa. Somente um 
sistema que conceba própria atividade da pessoa em referência ao bem ou ao 
mal moral poderá expressar plena e adequadamente o caráter prático dos 
valores morais, assim como do ideal pessoal da ética cristã. 
Antes de partir para o próximo tópico se faz necessário explicitar o 
seguinte aspecto ontológico da moral em seu sentido mais abrangente, 
portanto geral, e mais especificamente a moral cristã (em estudo). Todo 
sistema moral compõe-se de duas coisas: normas e princípios. 
Com relação às normas pode-se dizer que possuem a característica de 
serem específicas, pois ordenam ou proíbem determinado tipo de conduta 
concreta. Encontramos no Decálogo, alguns exemplos: “Não matar”; “Não 
roubar”; “Não desejar a mulher do próximo”; “Não levantar falso testemunho”, 
etc. e quando estas não se expressam por um imperativo concreto, mas por 
uma relação abstrata de proporcionalidade (tipo equação), onde já não se trata 
61 
 
de conduta específica, então estamos diante de um princípio que deve ser 
seguido em todas as condutas e situações concretas da existência humana. 
Como exemplo no Decálogo “Amarás o teu Deus acima de todas as coisas e 
amarás o teu próximo como a ti mesmo”. 
Assim nos explicita de forma bastante didática o filósofo Olavo de 
Carvalho, em artigo publicado no jornal Diário do Comércio, no dia 02 de junho 
do ano de 2008, cujo tema é Errando e aprendendo, 
 
As normas específicas, para ser obedecidas, requerem 
distinções e ressalvas que, partindo da sua formulação 
geral tipológica, as adaptem sabiamente à situação 
particular do momento. “Não matarás”, decerto, mas 
quem se recuse a fazê-lo na guerra ou em defesa do 
inocente ameaçado pode arcar com a culpa de expor os 
outros à morte, por omissão. “Não roubarás”, é claro, 
mas quem tem o direito de se recusar a fazê-lo quando o 
único meio de transportar um ferido ao hospital é o carro 
que um proprietário desconhecido esqueceu com a 
chave na ignição? “Não prestarás falso testemunho”, 
mas isto não quer dizer que você esteja obrigado a dizer 
a verdade quando um assaltante lhe pergunta onde o 
seu patrão guarda o dinheiro, ou quando um truculento 
comissário do povo lhe pergunta onde a sua aldeia 
escondeu a colheita. Tendo validade tipológica absoluta, 
as normas são de aplicação eminentemente relativa: 
relativa à situação, às intenções, ao caráter das pessoas 
envolvidas, à interferência de fatores culturais, 
psicológicos e psicopatológicos altamente complexos, 
etc. etc. etc. Permanentes na sua obrigatoriedade geral, 
requerem uma interpretação particular, diferente em 
cada caso e circunstância. Muitas vezes, pessoas de 
bem fazem o mal, não porque desejem conscientemente 
violar a regra moral, mas porque erram na sua 
interpretação particular. 
 
Por tal motivo acima expresso é que Deus não forneceu apenas regras 
de conduta, mas também princípios gerais pelos quais se deve nortear a 
interpretação. E tais princípios (formais idênticos as equações) são de validade 
absoluta e incondicional servindo para aferir a interpretação que os cristãos 
(demais seres humanos) dão às normas concretas. 
Destarte, a distinção dos Dez Mandamentos se torna clara. Se alguém 
pergunta a Jesus Cristo “o que devo fazer para herdar o Reino dos céus?” O 
mesmo lhe responde “Amarás o teu Deus acima de todas as coisas e amarás o 
teu próximo como a ti mesmo.”. Percebe-se então que ontologicamente o 
Decálogo é constituído de dois princípios e oito regras e que, os princípios são 
62 
 
as chaves que determinam o sentido das regras/normas em cada caso 
particular. 
Assim pode-se exemplificar que se um sujeito comete um desvio de 
dinheiro (roubo) ou adultério ele infringe uma norma, mas, se você o aponta à 
execração pública ao invés de recriminá-lo, aconselhá-lo e perdoá-
lo(particularmente) como gostaria que se fizesse com você (caso o pecado 
fosse por você cometido). Então, você está em pecado maior que o ladrão, pois 
você peca contra o princípio, enquanto ele peca contra a norma. Ou seja, Deus 
perdoa os adúlteros, ladrões, mentirosos, etc., mas não perdoa àqueles que 
não são capazes de perdoar. 
A Bíblia está repleta de princípios formais secundários que funcionam 
como mapas norteadores para os cristãos e demais indivíduos que se 
encontram angustiados, perdidos pela complexidade, aspereza rudeza e forma 
bastante árdua como a existência pode deixá-los atormentados. Um bom 
exemplo vem do Apóstolo São Paulo “Experimentai de tudo e ficai com o que é 
bom”. Como o ser humano, em sua maioria não aprende por ouvir dizer, 
mesmo que as palavras sejam do Deus vivo!Então se torna necessário que se 
veja com os próprios olhos, que se aprenda por participação (experiência), que 
na maioria das vezes é demorada, árdua e trabalhosa para distinguirmos entre 
o bem e o mal nas situações angustiadamente complexas do dia-a-dia 
humano. 
A simbologia cristã é muito rica e a este respeito pode-se utilizar como 
elemento exegético e heurístico o símbolo do pão, na Eucaristia que significa 
as virtudes morais práticas, portanto, “comerás o teu pão com o suor do teu 
rosto”, ou seja, o pouco de bom que exista em nós virá misturado ao mal e terá 
de ser separado dele aos poucos, por meio da experiência, da tentativa e do 
erro produzindo assim, algumas virtudes. Assim como o vinho, que significa as 
virtudes espirituais. 
O Apóstolo São Paulo está a nos dizer que tão logo tenhamos 
adquirido o conhecimento da verdade acerca do bem (não devemos deixá-lo 
por nenhum dinheiro do mundo) e do mal, ou seja, que certa conduta é má 
devemos evitá-la. Platão, Filósofo grego, em outro contexto e de maneira 
diversa diz o mesmo que o Apóstolo São Paulo, “verdade conhecida é verdade 
obedecida”, e o Filósofo Sócrates nos demonstra com a sua própria vida que é 
63 
 
preferível morrer pelo Bem e em nome da verdade a viver na corruptibilidade 
da mentira e mediocridade da aparência. 
No próximo tópico ver-se-á de maneira sucinta como esta moral 
fundada em princípios éticos ajudou a moldar e constituir o ethos do Ocidente a 
partir da Igreja Católica (observada enquanto agente histórico, na medida em 
que prolonga os seus atos para além de uma geração). 
 
2.2 A IGREJA E A MORAL NO OCIDENTE 
 
[...] Para o nosso estudante do ensino médio, a história do catolicismo 
pode ser resumida em três palavras: ignorância, repressão e 
estagnação; ninguém fez o menor esforço por mostrar-lhe que a 
civilização Ocidental deve à Igreja o sistema universitário, as ciências, 
os hospitais e a previdência, o direito internacional, inúmeros 
princípios básicos do sistema jurídico, etc. etc. [...]. (Thomas Woods, 
1, 22) 
 
Apesar de vivermos em uma época de profunda crise, principalmente 
no que tange ao quesito identidade (projeto de Nova Ordem Global), onde o 
processo de reengenharia social e de poder controlador (gerência geral do 
espírito humano) procura estender os seus tentáculos. Não se pode apagar 
fatos reais que consumaram e constituíram a história do Ocidente. 
Como afirma o historiador Thomas E. Woods Jr. (2008) em sua obra 
Como a Igreja Católica construiu a civilização Ocidental 
 
Não é de surpreender que os padrões morais do ocidente tenham 
sidodecisivamente configurados pela Igreja Católica. Muitos dos mais 
importantes princípios da tradição moral ocidental derivam da idéia 
nitidamente católica da sacralidade da vida humana, do valor único 
de cada pessoa, em virtude da sua alma imortal [...] (WOODS, p. 191) 
 
 
Se observarmos mais detidamente, por exemplo, o mundo antigo, não 
veremos na Grécia, nem tampouco em Roma tal idéia. Basta dizer que, para 
estes ethoso pobre, o fraco, o doente, etc. eram normalmente tratados com 
desprezo e, às vezes, abandonados à própria sorte. 
Para Platão, um homem que se tornasse incapaz de trabalhar deviaser 
abandonado à morte; Sêneca escreveu: “Nós afogamos as crianças que 
nascem débeis e anormais”. O advento da Igreja Católica, a este respeito em 
específico, com suas obras de caridade, em muito podem atestar, uma vez 
64 
 
que, em nada, os princípios morais cristãos coadunam com o desrespeito à 
pessoa humana. 
A Igreja tem como princípio o compromisso com a natureza sagrada da 
vida humana na condenação do suicídio, prática que tinha defensores no ethos 
antigo. Sabe-se que Aristóteles condenou o suicídio, no entanto, os estóicos, 
particularmente, eram favoráveis a tal prática, diziam os mesmos ser uma 
maneira aceitável de escapar ao sofrimento físico ou psíquico (não por acaso 
um bom número de estóicos cometeu suicídio). 
Em sua obra A cidade de Deus(1990), Santo Agostinho faz uma crítica 
mordaz à esta prática da cultura pagã, e que, sobretudo, ainda é vista, por 
parte dos “intelectuais” e seus asseclas como uma atitude nobre. Nos diz o 
mesmo, 
 
Grandeza de espírito não é o termo correto para designar alguém que 
se mata por lhe ter faltado coragem para enfrentar o sofrimento ou as 
injustiças dos outros. Na verdade, revela-se fraqueza em uma mente 
que não pode suportar a opressão física ou a opinião estúpida da 
plebe. Nós atribuímos muito justamente grandeza de espírito a quem 
tem a fortaleza de enfrentar uma vida de miséria em vez de fugir dela, 
e de desprezar os juízos dos homens [...] antepondo-lhes a pura luz 
de uma boa consciência. (AGOSTINHO, 1, 22) 
 
E continua Santo Agostinho, dizendo que o próprio exemplo de Cristo 
proíbe tal comportamento. Jesus Cristo podia ter induzido os seus seguidores 
ao suicídio, para escaparem dos castigos dos seus perseguidores, mas não o 
fez. Ao contrário, enfrenta as adversidades da vida de forma serena, sábia e 
responsavelmente é o que se pode ver em Mc 14:36 que relata a oração e os 
momentos de angústia de Jesus Cristo antes de ser preso... “E rogava: “Abba, 
Pai, todas as coisas são possíveis para ti, afasta de mim este cálice; todavia, 
não seja o que Eu desejo, mas sim o que Tu queres” 
Também São Tomás de Aquino abordou a questão do suicídio no 
tratado sobre a justiça em sua SummaTheologiae(TOMÁS, citado por WOODS, 
p. 193). Mesmo suas argumentações baseando-se estritamente no critério 
racional, o Aquinate conclui o seu raciocínio de maneira católica, 
 
A vida é um presente oferecido por Deus ao homem e só ele tem o 
poder de dá-la ou tirá-la. Portanto, quem tira a sua própria vida peca 
contra Deus, assim como aquele que mata o servo de outra pessoa 
peca contra o senhor a quem esse servo pertencia, ou assim como 
65 
 
peca aquele que usurpa o poder de julgar em matéria que não é da 
sua jurisdição. A Deus pertence julgar da morte e da vida, como diz o 
Deuteronômio 32, 39: Eu faço morrer e faço viver. (AQUINO, II-II, q. 
64, art. 5.) 
 
Sem soma de dúvidas pode-se afirmar que a aversão infundida pela 
Igreja contra o suicídio teve extraordinário eco entre os seus fieis. Foram 
também os ensinamentos de Cristo proclamados pela Igreja que ajudaram a 
abolir os combates de gladiadores, onde os homens lutavam entre si até a 
morte como forma de entretenimento. 
Tal banalização da vida humana, em hipótese alguma poderia ser 
aceita pela Igreja e pelo cristianismo, pois, o princípio do cristianismo e da 
Igreja católica preza pelo valor da pessoa e dignidade da vida humana. Por 
isso, já por volta do século IV na metade ocidental do Império Romano e no 
início do século V na metade oriental, as carnificinas foram banidas por ordem 
de imperadores cristãos. Um feito que deve ser atribuído genuinamente à Igreja 
Católica. 
Da mesma forma, a Igreja foi também, feroz inimiga dos duelos, o 
Concílio de Trento (1545-1563) expulsou da Igreja os que se batiam em duelo, 
excluindo-os dos sacramentos e proibindo que tivessem funerais católicos. O 
papa Bento XIV reafirmou essas penas em meados do século XVIII e o papa 
Pio IX deixou claro que elas se estendiam igualmente às testemunhas e aos 
cúmplices. 
Como disse o papa Leão XIII em sua Pastoralisofficii23 as razões 
alegadas pelos que se batem em duelo para dirimir suas contendas são 
ridiculamente inadequadas. No fundo, baseiam-se no simples desejo de 
vingança que impele homens passionais e arrogantes a exigir satisfações. 
Tais atitudes, diz ainda o papa, são contrárias ao mandamento de 
Deus, que diz que os homens devem amar-se uns aos outros com amor 
fraternal e proíbe-os de jamais usar violência seja com quem for; condena a 
vingança como um pecado mortal e reserva a Si o direito à expiação. 
Outro tema que a Igreja católica forjou as concepções morais no 
Ocidente foi o da guerra justa. Não se pode negar que a antiguidade clássica já 
 
23 Cf. Pastoralisofficii, 1891, p. 2-4. 
66 
 
havia debatido esse tema, mas fizera-o a propósito de determinadas guerras 
(Ilíada) sem chegar a elaborar uma teoria completa acerca do tema. 
Cícero, é claro, antecipou algo parecido com uma teoria sobre a guerra 
justa ao analisar os conflitos bélicos de Roma. No entanto, foram os Padres da 
Igreja, que herdaram a sua idéia e deram-lhe uma extensão muito mais 
ambiciosa, utilizando-a como ferramenta de avaliação moral, principalmente à 
vista da força dos ensinamentos bíblicos a respeito da sacralidade da vida. 
Pode-se observar já em Santo Agostinho, uma primeira abordagem do 
tema da guerra e dos critérios morais necessários para que se possa ser 
considerada justa. Para o mesmo, uma guerra só se justifica pela injustiça de 
um agressor, e que essa injustiça constitua fonte de sofrimento para algum 
homem bom, sendo por isso uma injustiça humana. 
Sem contar que, ainda advertia que uma guerra não podia ter por 
motivo o espírito de desforra, que não podia ser empreendida com base em 
meras paixões humanas e, insistia nas disposições internas dos combatentes, 
que deviam refrear o uso indiscriminado da força. 
São Tomás de Aquino menciona em sua SummaTheologiae (TOMÁS, 
citado por WOODS, p. 196-197), que existem três condições, que deviam 
concorrer cumulativamente para que uma guerra pudesse vestir o manto de 
justiça: 
 
Para que uma guerra seja justa, são necessárias três coisas. 
 
Em primeiro lugar, deve ser o soberano quem, pela sua autoridade, 
ordene uma guerra, pois declará-la não é competência de um 
indivíduo privado. 
 
Em segundo lugar, requer-se uma causa justa, ou seja, que aqueles 
que são atacados o mereçam por terem cometido alguma falta. Por 
isso, diz Agostinho: “Costuma-se chamar guerra justa àquela em que 
uma nação ou um Estado devam ser punidos por recusar-se a 
castigar os erros cometidos pelos seus súditos ou a restituir o que foi 
injustamente roubado”. 
 
Em terceiro lugar, é necessário que os beligerantes tenham uma 
intenção reta, isto é, que tenham em vista promover o bem ou evitar o 
mal [...]. por que pode acontecer que, sendo legítima a autoridade de 
quem declara a guerra e justa também a causa, não obstante, seja 
ilícita pela má intenção. Por isso, Agostinho diz que “são, em justiça,condenáveis na guerra a paixão por infligir danos, a cruel sede de 
vingança, um ânimo implacável e inexorável, a febre de revolta, a 
ambição de dominar e outras coisas semelhantes. (AQUINO, II-II, q. 
40, art. 1.) 
 
67 
 
Nos fins da Idade Média e início da modernidade, essa tradição 
continuou a evoluir, especialmente com o trabalho dos Escolásticos espanhóis 
do século XVI. Como diz o historiador Thomas E. Woods Jr. (2008), 
 
 
Francisco de Vitória, que, como vimos, desempenhou um papel 
primordial na formulação dos rudimentos do direito internacional, 
também se dedicou à questão da guerra justa. Em seu De iure belli, 
identificou três regras principais da guerra 
 
Primeira regra: Partindo da base de que um príncipe tem autoridade 
para empreender uma guerra, antes de tudo não ficar à procura de 
ocasiões e causas para declará-la, mas, se possível, viver em paz 
com todos os homens, como nos recomenda São Paulo. 
 
Segunda regra: Quando rebenta uma guerra por uma causa justa, 
não deve ser empreendida para destruir o povo contra o qual é 
dirigida, mas somente para obter os direitos e a defesa do próprio 
país e para que, com o tempo, dessa guerra possam advir a paz e a 
segurança. 
 
Terceira regra: quando se vence uma guerra, a vitória deve ser 
utilizada com moderação e humildade cristã, e o [soberano] vencedor 
deve compreender que está sentado como juiz entre dois Estados, o 
que foi injustiçado e o que cometeu a injustiça. Por isso, deve agir 
como juiz e não como acusador, a fim de que, pelo juízo que emita, o 
injustiçado possa obter satisfação e, evitando tanto quanto possível a 
calamidade e o infortúnio para o Estado, ofensor, os indivíduos 
ofensores sejam castigados dentro dos limites da lei. (WOODS, p. 
197-198) 
I 
Dentro deste mesmo espírito o Pe. Francisco Suarez, também fará 
suas considerações acerca do tema da guerra justa e as suas possíveis 
condições. É importante aqui ressaltar que, de acordo com a Igreja, ninguém! 
Nem mesmo o Estado está isento das exigências morais. 
Daí perceber o motivo da crítica laica contida em O Príncipe de 
Maquiavel acerca da Igreja católica, pois, para este, a política era vista como 
“um jogo, como o xadrez, e a eliminação de um peão político, mesmo que esse 
peão fosse milhares/centena de milhares de pessoas, não devia preocupar 
mais que comer uma peça de marfim do tabuleiro”. E a reflexão moral colocada 
como ferramenta de análise (pela Igreja) para o exercício da guerra era um 
empecilho para os planos de poder nos moldes maquiavelianos. No terceiro 
capítulo deste curso dedicaremos um tópico para o pensamento maquiaveliano 
e sua influência na construção do ethosmoderno. 
68 
 
Se pesquisarmos mais detidamente com relação à moral sexual em 
período onde a Igreja surgiu, será possível atestar que o nível de degradação 
tinha chegado ao extremo. Quanto a isso nos diz Woods (2008), 
 
Como escreveu o satírico Juvenal, a promiscuidade generalizada 
levara os romanos a perder a deusa da castidade. Ovídio observou 
que, no seu tempo, as práticas sexuais se tinham rebaixado a um 
nível especialmente perverso, e até mesmo sádico. Podem-se 
encontrar testemunhos similares em um Catulo, Marcião, Suetônio 
acerca do estado de fidelidade conjugal e da imoralidade sexual nos 
tempos de Cristo. Cesar Augusto tentou pôr cobro a essa situação 
com medidas legais, mas a lei raramente consegue reformar um povo 
que já tenha sucumbido ao fascínio dos prazeres imediatos. No 
começo do século II Tácito afirmava que uma mulher casta era um 
fenômeno raro. (WOODS, p.199) 
 
A este respeito não se pode negar que a Igreja teve um papel 
fundamental na reestruturação das relações conjugais, na medida em que 
ensinava que estas só são lícitas entre marido e mulher – a sociedade 
contemporânea (intelectuais, partidos revolucionários, N. O. M., etc.), com sua 
base fortemente gnóstica, busca avidamente, por todos os meios (revolução 
cultural) des-construir o ethos tradicional para reintroduzir estas e outras 
práticas pagãs.Declara Woods que, 
 
O próprio Edward Gibbon, que culpava o cristianismo pela queda do 
Império Romano, foi obrigado a admitir: “os cristãos restauraram a 
dignidade do matrimônio”. Galeno, o médico grego do século II, 
impressionou-se tanto com a retidão do comportamento sexual dos 
cristãos, que os descreveu como “tão adiantados em autodisciplina e 
no intenso desejo de atingir a excelência moral, que em nada são 
inferiores aos verdadeiros filósofos” (WOODS, p. 199-200) 
 
É importante dizer aqui que para a Igreja, o adultério não se limitava à 
infidelidade da esposa, como se costumava considerar no mundo antigo, mas 
estendia-se também ao marido. A influência exercida por ela neste campo foi 
de importância histórica. Como a Igreja santificava o matrimônio e proibia o 
divórcio (o que significava que nenhum homem podia abandonar a sua esposa 
sem motivos, para casar-se com outra), as mulheres cristãs eram em grande 
número. Por este exato motivo, os romanos desprezavam a religião cristã24. 
Foi também, graças ao catolicismo que as mulheres alcançaram 
autonomia. Conforme relata Woods (2008), 
 
 
24 Cf. a este respeito as críticas feitas por Nicolau Maquiavel em suas obras políticas. 
69 
 
As mulheres encontraram proteção nos ensinamentos da Igreja – 
escreve o filósofo Robert Phillips –, e foi-lhes permitido formar 
comunidades religiosas dotadas de governo próprio, algo inusitado 
em qualquer cultura do mundo antigo [...] Basta repassar o catálogo 
dos santos, repleto de mulheres. Em que lugar no mundo, a não ser 
no catolicismo, as mulheres podiam dirigir as suas próprias escolas, 
conventos, colégios, hospitais e orfanatos? (WOODS, p.200) 
 
Assim como para os gregos (filosofia antiga) existe um gênero de vida 
que convém ao chimpanzé e outro que convém ao ser humano. A Igreja 
ensinava que uma vida verdadeiramente digna do ser humano requer a graça 
divina. É importante salientar que, mesmo os pagãos romanos se apercebiam 
de certo modo da condição degradada do homem, como bem afirma Sêneca 
“Que coisa desprezível é o homem, se não consegue elevar-se acima da 
condição humana!”. 
Para a Igreja, a graça de Deus podia ajudar o homem a conseguir 
superar tal condição degradada. Essa é, exatamente, a finalidade com que a 
Igreja propõe o exemplo da vida dos santos. Uma demonstração de que é 
possível a um homem alcançar uma vida de virtudes heróicas quando se deixa 
diminuir para que Cristo possa crescer nele. 
A este respeito, o historiador Woods (2008) fala que, 
 
A igreja ensina que uma boa vida não é simplesmente aquela em que 
as ações externas estão acima de qualquer censura. Cristo insiste em 
que não basta não matar ou não cometer adultério; não se deve 
apenas preservar o corpo desses crimes; a própria alma deve 
proteger-se da inclinação a praticá-los. Não devemos apenas não 
roubar nada do vizinho, mas também não admitir pensamentos de 
inveja sobre o que ele possui. E embora seja permitido, 
evidentemente, odiar o que é mau – o pecado ou Satanás –,temos de 
afastar qualquer tipo de ira, ódio, que só corroem a alma. Devemos 
evitar não apenas cometer adultério, mas também entreter-nos com 
pensamentos impuros, para assim não transformar um ser humano 
em mero objeto. Uma pessoa que deseje viver uma vida boa não 
deve converter os seus semelhantes em coisa. (WOODS, p. 201) 
 
A tradição da Igreja nos legou estes conhecimentos, por via do 
ensinamento das Sagradas Escrituras e a vida dos Santos. É comum entre os 
diretores espirituais da Igreja, recomendar-se aos seus orientados que: 
“comam uma cenoura da próxima vez que desejarem comer um doce”, não por 
que doces sejam maus, mas porque,se conseguirmos disciplinar a nossa 
vontade em situações em que não está em jogo nenhum princípio moral, 
70 
 
estaremos mais bem preparados no momento da tentação, quando estivermos 
realmente perante a disjuntiva de escolher entre o bem e o mal. 
Deste modo, procura-se salientar que quanto mais habituados ao 
pecado, mais facilmente pecaremos, e, a vida virtuosa torna-se cada vez mais 
fácil quanto mais a praticarmos, a ponto desta prática tornar-se um hábito 
(Aristóteles). 
Estas foram, de maneira sintética, algumas das idéias peculiares que a 
Igreja (Católica/cristianismo) introduziu na civilização Ocidental. Não obstante, 
após a inoculação de pensamentos gnóstico: niilistas, revolucionários, 
totalitários, liberal-progressistas, ateístas, relativistas, pós-modernistas, etc. a 
cultura Ocidental começa a implodir e a apresentar os sérios danos de tais 
vírus inoculados (mentalidade e práxis revolucionárias que trazem como 
conseqüência desprezo à verdade, à vida humana concreta, à liberdade 
individual e demais liberdades, à realidade natural...). 
A este respeito, nos diz o filósofo alemão Eric Voegelin em sua obra A 
Nova Ciência da Política (1982, p. 119-120), 
 
O Cristianismo deixou em sua esteira o vácuo da esfera natural 
desdivinizada da existência política [...]. Todavia, tão logo se atingiu 
certo ponto de saturação civilizacional, quando se formaram centros 
de cultura laica nas cortes e nas cidades, quando aumentou o 
numero de funcionários leigos competentes junto às administrações 
reais e aos governos das cidades, tornou-se inteiramente claro que 
os problemas da existência histórica de uma sociedade não 
terminavam com a espera do fim do mundo. A ascensão do 
gnosticismo nessa encruzilhada crítica aparece agora, sob nova luz, 
como formação incipiente de uma teologia civil ocidental [...] 
 
No entanto, a experiência gnóstica no campo da teologia civil envolvia 
grandes perigos, resultantes de seu caráter híbrido de derivativo 
cristão. O primeiro desses perigos [...] trata-se da tendência de 
suplantar, e não suplementar, a verdade da alma. [...] 
Consequentemente, onde quer que os movimentos gnósticos tenham 
prosperado, destruíram a verdade da alma aberta, arruinando toda 
uma área de realidade diferenciada que for conquistada pela filosofia 
e pelo Cristianismo. [...] nas civilizações gnósticas, a verdade da alam 
não retorna a seu estado de compactação, e sim é totalmente 
reprimida. Essa repressão da fonte autêntica da ordem na alma é a 
causa da deprimente atrocidade dos governos totalitários ao lidar com 
seres humanos tomados individualmente. 
 
O crescimento, a expansão dessa cultura laicizante via movimentos 
gnósticos vai por etapas preenchendo o vácuo da teologia civil até chegar o 
momento final. Ou seja, o golpe fatal que é o da abolição sistemática e 
71 
 
completa do Cristianismo. Tal realidade pode hoje ser observada nos projetos 
globalistas que atingem diretamente Igreja Católica, Cristianismo e ethos 
Ocidental25. Mas acima de tudo, tal investida significa o fechamento da alma 
humana para a dimensão da realidade. O aniquilamento da pessoa e a 
transformação deste em mera coisa, animal domesticável a ser manipulado via 
aparelho estatal. 
Hodiernamente, grande parcela da população ocidental, não só, não 
vive segundo os seus princípios morais formadores, como os 
desconheceprofundamente. A maioria dos jovens só ouviu falar em termos 
caricaturais dos ensinamentos da Igreja e, sobretudo, sobre a moral sexual, e 
de acordo com a cultura “pós-moderna” em que estão sendo formatados, nem 
têm condições (intelectuais, psíquicas, morais...) de entendê-la26. 
Esta mensagem de Cristo (da Igreja, do cristianismo) ainda está viva, 
não obstante, todos os meios sofisticados de doutrinação, rebaixamento 
ontológico e coisificação do ser humano por parte dos administradores globais 
da consciência e espírito humano. 
Ela é basicamente esta: você (pessoa humana singular) pode aspirar a 
ser um desses homens (Agostinho, Carlos Magno, Tomás de Aquino, 
Francisco de Assis, Pe. Pio de Pietreltina...), um construtor da civilização, um 
servidor de Deus e dos homens, um missionário heróico; ou então alguém 
centrado em si mesmo, obcecado pela ânsia de satisfazer os seus apetites 
materiais, sexuais, etc. que degrada-se enquanto homem para tornar-se animal 
e/ou coisa. 
A pensadora francesa Simone Weil, ao perceber o problema crítico da 
amnésia histórica do Ocidente auto-imposta, escreveu: “Eu não sou católica, 
mas, considero os princípios cristãos – que têm as suas raízes no pensamento 
grego e que, no transcorrer dos séculos, alimentaram todas as nossas 
civilizações européias – como algo a que uma pessoa não pode renunciar sem 
se aviltar”. 
 
25 Cf. a esse respeito as obras: Os EUA e a Nova Ordem Mundial, debate ocorrido entre o Prof. e filósofo 
brasileiro Olavo de Carvalho e o Prof. cientista político Russo Alexandre Dugin; Poder Global e Religião 
Universal, do Mons. Juan Claudio Sanahuja. 
26 Cf. o artigo de 23.12.2011, do psicanalista e ex-integrante do movimento e partido comunista, Heitor de 
Paola. Intitulado: Os exterminadores do futuro IV – 3ª parte: La NuovaScuola Fascista. Que foi publicado 
no Mídia Sem Máscara e no seu próprio blog. Este artigo é de suma importância tanto no sentido histórico 
(movimento revolucionário socialista) quanto na exposição do método revolucionário, utilizado na 
“educação” (construtivismo) das novas gerações. 
72 
 
Em sua obra Cristianismo: a religião do homem (2003), o filósofo e 
maçom Mário Ferreira dos Santos reconhece a grandeza e importância singular 
do cristianismo e, desenvolve uma Axioantropologia fundada nos melhores 
moldes da Filosofia Clássica e Tomista, ao descrever os homens diversos das 
pedras, das plantas e dos animais, como obras de nós mesmos, pois temos 
uma oréxis que nos impele ao Supremo Bem. 
Oréxis que é um dever-ser com direitos e obrigações, que implica em 
justiça, valores humanos, Ética e Moral, fundados em virtudes cardeais e 
cultivo das virtudes como dever-ser ético do Homem. 
Daí, nos dizer o filósofo nesta obra que: a partir da miséria humana, 
encontrará o homem sua salvação (§ 97), porque guarda em si a trindade da 
Vontade, Inteligência e Amor (§ 104), que lhe permite religar-se a Deus, pois 
“esta é a vossa religião porque ela está em vós” (§ 120) e, concluindo com as 
palavras de Cristo “Em mim todos podem encontrar o seu ponto de 
convergência, porque eu sou o ápice da pirâmide (§ 135). 
Esta é uma lição que a civilização ocidental, cada vez mais afastada 
dos seus fundamentos, vai aprendendo com enorme dificuldade. O processo 
de globalização em vias de andamento (comunismo, islamismo e meta-
capitalistas), ou seja, cada um destes projetos tem plena compreensão que não 
é possível a implantação do governo global sem a destruição da fonte geradora 
do ethos Ocidental (destruição da individualidade, singularidade e sacralidade 
da pessoa humana). 
O próximo capítulo versará acerca do ethos moderno e sua perspectiva 
revolucionária, procurando abordar alguns pensamentos que de forma direta ou 
não vieram forjar os movimentos de massa e totalitários, que transformaram o 
ser humano em meio/instrumento (coisa) e rebaixaram-no, na melhor das 
perspectivas, a mero animal. 
 
 
 
 
 
 
73 
 
CAPÍTULO III – OETHOS MODERNO E A SUA PERSPECTIVA 
REVOLUCIONÁRIA. 
 
“A natureza é uma fêmea que deve ser castigada para nos 
dizer os seus segredos” Sir Francis Bacon 
 
No capítulo anterior tentou-se apresentar de forma sintética e um tanto 
panorâmica a dimensão do ethos na constituição do ser do entehomem vista 
sob a perspectiva do logos nascente na cultura grega clássica e cristão-
medievo, mais precisamente a partir de suas personalidades máximas, 
enquanto constituidoras daquilo que entendemos como Cultura Ocidental. 
Com Sócrates viu-se forjar toda uma perspectiva de compreensão da 
realidade a partir e um paradigma que operava não no subjetivismo ou 
relativismo daquele que discutia determinado ponto de vista (conferir os 
diálogos socráticos e a querela com os sofistas). Exatamente a partir de seu 
esforço intelectual é que se faz possível compreender o significado da luta pela 
objetividade e absolutidade dos valores éticos. 
O mesmo se pode dizer quanto a Platão no que diz respeito ao 
caminho transcorrido por este. No entanto, o núcleo central da filosofia 
platônica é o da teoria das Idéias, que transposto para outra esfera, o da 
análise do ethos, nada mais é que uma teoria dos valores. Visto que a sua 
teoria das Idéias culminava exatamente na idéia do Bem, do valor ético e 
estético máximo. 
E não fora diferente com Aristóteles ao nos revelar que o mundo das 
idéias está ancorado nos fenômenos, na própria realidade empírica. Pode-se 
dizer, de certo modo, que o mundo das Idéias despe-se da transcendência 
platônica e assume uma imanência cósmica. 
Fundando-se em Platão e posteriormente, em Aristóteles travam-se 
mais tarde as conhecidas disputas da escolástica sobre o “bonum” (bom), vindo 
a particular posição teológica deste movimento a dar a estas disputas um lugar 
da mais alta importância. 
Na escolástica aristotélica, todas estas discussões vêm a achar-se, 
subordinadas ao postulado tido como axioma evidente, do omneens est 
bonum(todo homem é bom),aparecendo, pois, também aqui o valor, antes de 
mais nada, primariamente como grandeza cósmica. E o ser humano tem 
acrescido o status da dignidade da vida à algo sagrado. 
74 
 
Todavia, com a modernidade vê-se um processo radical de mudança 
do paradigma até então vigorante e o cogito cartesiano pode ser tomado como 
elemento central forjador do paradigma moderno. 
Este paradigma, em alguns aspectos, ainda exerce forte influência 
nesta que se diz época pós-moderna. E como nos diz Alain Touraine (1994, p. 
9), 
 
A idéia da modernidade, na sua forma mais ambiciosa, foi a 
afirmação de que o homem é o que ele faz, e que, portanto, deve 
existir uma correspondência cada vez mais estreita entre a 
produção, tornada mais eficaz pela ciência, a tecnologia ou a 
administração, a organização da sociedade, regulada pela lei e da 
vida pessoal, animada pelo interesse, mas também pela vontade de 
se liberar de todas as opressões. 
 
Percebe-se então que, segundo o que fora dito por Touraine, a razão é 
na modernidade o símbolo máximo que ordena esta correspondência entre os 
três elementos: cultura científica, sociedade organizada e indivíduos livres. 
Somente ela estabelece uma correspondência entre a ação humana e 
a ordem do mundo; é a razão que anima a ciência e suas aplicações; é a 
mesma que ordena a adaptação da vida social às necessidades individuais ou 
coletivas; é ela ainda que deve substituir as formas de arbitrariedades e 
violências pelo estado de direito e pelo mercado. 
Deste modo é que se vislumbra a idéia de humanidade sob o julgo das 
leis da razão; o projeto de desenvolvimento permanente que avança 
simultaneamente em direção à abundância material, à liberdade, à igualdade e 
à felicidade. 
E assim ver-se-á o ethos moderno ser forjado tendo como elemento 
subjacente, este ente de razão, o qual é a história do progresso da 
humanidade, possibilitado pelo desenvolvimento técnico-científico e a 
reengenharia social. 
René Guénon em sua obra A crise do mundo moderno (1977), nos diz 
que a Modernidade é em sua essência uma ruptura com a Tradição, e a 
negação desta é enquanto singularidade moderna o individualismo27, que para 
 
27 Segundo Guénon o individualismo é a negação de qualquer princípio superior à individualidade e, por 
consequência, a redução da civilização, em todos os domínios, apenas aos elementos humanos. 
75 
 
ele é o mesmo que foi designado na época do Renascimento pelo nome de 
“Humanismo”. E assim no diz o mesmo que (1977, p. 95-96) 
 
Tudo isso em suma é apenas uma e mesma coisa, sob designações 
diversas; e dissemos ainda que esse espírito “profano” se confunde 
com o espírito anti-tradicional, no qual se resumem todas as 
tendências especificamente modernas. Não é, sem dúvida, que esse 
espírito seja inteiramente novo; houve já, noutras épocas 
manifestações mais ou menos acentuadas, mas sempre limitadas e 
aberrantes, e que nunca se tinham alargado a todo o conjunto de 
uma civilização, como o fizeram no Ocidente no decurso destes 
últimos séculos. O que nunca se tinha visto até aqui é uma civilização 
inteiramente construída sobre qualquer coisa de puramente negativo, 
sobre o que se poderia chamar uma ausência de princípio; é isso 
precisamente que dá ao Mundo Moderno o seu caráter anormal, o 
que faz dele uma monstruosidade, explicável apenas se o 
consideramos como correspondente ao final e um período cíclico, de 
acordo com o que inicialmente explicamos. 
 
A negação da intuição intelectual, colocar a razão enquanto atributo 
individual acima do “bem e do mal”, fazê-la parte superior da inteligência é o 
que constitui a “filosofia profana” dominante e constituinte da Modernidade, ou 
seja, o racionalismo cartesiano. E ao falar da filosofia moderna (racionalismo) 
René Guénon expressa o seguinte juízo (1977, p. 98-99) 
 
[...] Esta limitação da inteligência era, aliás, apenas uma primeira 
etapa; a própria razão não devia tardar a ser rebaixada cada vez mais 
a um papel sobretudo prático, à medida que as aplicações se 
adiantavam às ciências que podiam ter ainda um caráter 
especulativo; e já o próprio Descartes estava, no fundo, muito mais 
preocupado com as aplicações práticas do que com a ciência pura. 
Mas não é tudo: o individualismo arrasta consigo, inevitavelmente, o 
“naturalismo”, visto que tudo está para além da Natureza está, por 
isso mesmo, fora do alcance do indivíduo enquanto tal; “naturalismo” 
ou negação da Metafísica, não são senão uma e a mesma coisa, e 
desde que a intuição intelectual é desconhecida, não há mais 
Metafísica possível [...] daí o “relativismo” sob todas as formas, seja o 
“criticismo” de Kant ou o “positivismo” de Auguste Comte; e sendo a 
razão, ela mesma, totalmente relativa e não podendo aplicar-se 
validamente senão a um domínio igualmente relativo, é bem verdade 
que o relativismo, é a única conclusão lógica do “racionalismo”. 
 
Destarte, naquilo que René Guénon procura expor acerca da 
Modernidade e seu fundamento “revolucionário” (anti-tradição) fica explícito 
que a questão da Verdade é reduzida à questão da realidade enquanto dado 
sensível e concebida como coisa móvel e instável. A própria razão, já um 
reducionismo da inteligência agora não é aceita senão enquanto aplicabilidade 
que venha moldar a matéria para utilizações industriais. 
76 
 
E, como explicita Guénon, não para por aí o processo negativista da 
Modernidade, pois, o passo seguinte é o da negação total da inteligência e do 
conhecimento, a substituição da verdade pela utilidade (pragmatismo), ou seja, 
do demasiadamente humano fomos jogados ao infra-humano “com o apelo ao 
subconsciente, que marca a inversão completa de toda a hierarquia normal” 
(1977, p. 99)28. 
Para René Guénon esta é a marcha fatal que nos conduziu e, continua 
a conduzir a filosofia profana (moderna), pois além de ignorar e odiar o que 
está para além de suas ínfimas capacidades, desrespeita, corrompe, nega e 
destrói o que não é ela mesma.Guénon vê Descartes como a encarnação de 
certo modo e ponto de vista do desvio moderno, não obstante, não é o único 
nem o primeiro responsável, pois para ele a Renascença e a Reforma, olhadas 
enquanto manifestações do espírito moderno, concluíram a ruptura com a 
Tradição. 
A Modernidade enquanto fenômeno de ruptura com a Tradição traz em 
seu individualismo estéril a negação da intuição intelectual e da doutrina 
metafísica pura que estão no princípio de toda a Civilização Tradicional. Não 
por acaso, em todos os domínios, recantos, etc. vê-se o estado de desordem, 
confusão, crise, destruição de hierarquia, abolição de princípios, rebaixamento 
e inversão de valores, etc. 
Daí René Guénon (1977, p. 110) dizer que: 
 
Nada nem ninguém se encontra já no lugar onde devia normalmente 
estar; os homens já não reconhecem nenhuma autoridade efectiva na 
ordem espiritual, nenhum poder legítimo na ordem temporal; os 
“profanos” permitem-se discutir as coisas sagradas, contestar-lhe 
esse carácter e até a própria existência; é o inferior que julga o 
superior, a ignorância que impõe limites à sabedoria, o erro que 
ultrapassa a verdade, o humano que se substitui ao divino, a terra 
que toma a dianteira ao céu, o indivíduo que se faz medida de todas 
as coisas e pretende ditar ao Universo leis tiradas inteiramente da 
sua própria razão relativa e falível. 
 
A crítica que René Guénon apresenta nessa passagem acima citada 
nos faz remeter àquilo que fora dito em outras palavras no Evangelho de Jesus 
Cristo, mais precisamente no Evagenlho de Mateus (23.16) “Ai de vós, guias 
 
28 Esclarecedora a este respeito é a obra Invasão vertical dos bárbaros, do filósofo brasileiro Mário 
Ferreira dos Santos, redigida em meados do século passado e se apresenta enquanto um manifesto sobre 
como se dá a tragédia da condição humana esmagada sob a tragédia da superficialidade. Em uma primeira 
parte o autor discorre acerca da invasão vertical dos bárbaros na sensibilidade e na afetividade. Enquanto 
na segunda parte trata do barbarismo e a intelectualidade. 
77 
 
cegos”. Neste capítulo ver-se-á Jesus Cristo admoestando as multidões acerca 
da hipocrisia e vaidade dos escribas e fariseus. 
E qual é a perplexidade que advém desta constatação, uma vez que 
nós modernos temos olhos e construímos tecnologias para melhor e mais 
distante ver, no entanto, somos cada vez mais cegos. E a realidade de maneira 
trágica nos revela que estamos sendo conduzidos por essa cegueira 
arrogante29a passos largos para uma nova ordem moderna que se pretende 
“universal” e se impõe totalitária. Entramos no reino da individualidade 
hedonista, do praxismo tecnicista onde todos os reducionismos são forjados 
por uma “metafísica imanentista” chamada vontade de potência. 
Como bem nos relatou Mário Ferreira dos Santos em sua obra-
denúncia Invasão Vertical dos Bárbaros (2012, p. 14), 
 
ainvasão que é a penetração gradual e ampla dos bárbaros não só se 
processa horizontalmente pela penetração no terreno civilizado, mas 
também verticalmente, que é a que penetra pela cultura , solapando 
os seus fundamentos, e preparando o caminho à corrupção mais fácil 
do ciclo cultural, como aconteceu no fim do Império Romano, e como 
começa a acontecer entre nós. 
 
Em tal obra o filósofo brasileiro procura alertar-nos acerca da 
preparação e do desenvolvimento dessa invasão ao longo de quatro séculos e, 
que atinge agora, em suas palavras “um estágio intolerável e que nos ameaça 
definitivamente”. 
Adentramos assim o panorama que irá nos conduzir diretamente para 
o forjar da transvalorização de todos os valores e do seio dos seus 
pensamentos o encontro com o niilismo levado às últimas consequências. 
 
3.1 O ETHOS MODERNO ENQUANTO RUPTURA E VONTADE DE PODER. 
 
“A mística da revolução mostra que a tendência da 
modernidade à idealização sentimentalista do mal traz consigo 
a perda do senso das proporções e o embotamento completo 
da inteligência moral.” Olavo de Carvalho 
 
 
Faz-se importante salientar que não é possível vislumbrar os dilemas 
do mundo atual, por mais que este se mostre por vezes distante do seu 
momento originário, sem ter a devida compreensão disso que se chama 
 
29 Cf. imagem da pintura de PieterBruegel – The BlindLeadingtheBlind (O cego conduzindo 
outro cego). 
78 
 
Civilização Ocidental, mundo da razão, etc. A qual tem o seu “começo” na 
cultura grega, na abertura e constituição de uma forma peculiar de captar e 
dizer o ser das coisas, fenômenos e entes existentes. 
Não obstante, o que significa dizer que vivemos sob a égide do 
paradigma científico? Em que sentido estamos ligados ao momento originário e 
até que ponto somos filhos e discípulos de tal logos? 
Nesse terceiro capítulo toma-se como objetivo, apresentar de forma 
sintética, alguns pensamentos que denotam certas peculiaridades quantoao 
ethosmoderno e, conseqüentemente, a sua influência no modo de pensar, agir 
e ser do homem hodierno (o homem do“mundo globalizado”). 
Portanto, salientar o ethos moderno enquanto constitutivo de um modo 
de pensar e ser do homem, sociedade e cultura é elemento precípuo para a 
contextualização e compreensão das diversas atividades humanas inserida 
numa sociedade dita “pós-moderna” onde os projetos globalistas a partir de 
metafísicas proposicionais almejam construir novos, homens, sociedades, 
valores, mundo e humanidade. 
Para tal, servir-se-á de alguns pensamentos, os quais se observam 
como característicos da constituição de um novo ethos, calcado no império do 
logos subjetivista, cuja imagem mais peculiar se designa com o “cogito 
pensante”. 
E o desenrolar mais vulgar se pronunciará como verdades relativas a 
cada sujeito que não se debruçara o mais mínimo tempo sobre a reflexão de 
algum tema. No entanto, se arvora absoluta e barbaramente com o direito de 
tudo dizer, influir e até “determinar” o rumo das coisas. 
Como que reinterpretando ao bel sabor de cada “sujeito” a máxima 
kantiana de que cada ato devesse valer como um princípio universal. Tudo 
isso, tendo como pano de fundo ideologias massificadoras que se pretendem 
ao seu modo globalizantes. 
Dentro desta perspectiva serão observadas, analisadasalgumas 
nuances dos pensamentos de: Nicolau Maquiavel, Friedrich Nietzsche e de 
Karl Marx/Friedrich Engels (socialismo/comunismo). Em um segundo momento 
abordar-se-á algumas características da cultura moderna/pós-moderna. 
79 
 
Destarte, pretende-se trabalhar o delineamento do ethos atual e assim 
fazer refletir acerca das possíveis conseqüências desteno laborar humano das 
sociedades hodiernas. 
Para início serão observados alguns pontos específicos do 
pensamento político de Nicolau Maquiavel e as conseqüências morais 
inerentes a tal pensamento. Já que, diferente do que diz o pensador e ativista 
social Karl Marx em suas famosas Teses contra Feuerbach, os pensamentos 
têm sim os poderes de mover o mundo, quanto a isso, os fatos ocorridos ao 
longo da história e, mais especificamente, no transcorrer dos últimos dois 
séculos são os maiores e melhores testemunhos. 
 
3.1.1 A DISSOCIAÇÃO ENTRE POLÍTICA E ÉTICA NO FAZER HUMANO E A 
SUBMISSÃO DO ÉTICO AO POLÍTICO. 
 
“Não digo jamais aquilo que creio, nem creio naquilo em que 
digo. E se descubro algum pedacinho de verdade, trato logo de 
escondê-lo sob tantas mentiras que se torna impossível 
encontrá-los” N. Maquiavel (carta de Maquiavel a seu amigo 
Wichardine) 
 
Com Maquiavel pode-se dizer que estamos na antecâmara da 
modernidade e, é com ele que se tem o início da autonomia do estado perante 
o indivíduo; diga-se de passagem,um dos elementos precípuos para a 
caracterização do mundo hodierno. 
Todavia, pode-se perguntar: qual o preço de tal “conquista”? Com o 
pensamento dito “realista” de Maquiavel foi cortado os laços pelos quais nas 
gerações passadas o estado estava ligado ao todo orgânico da existência 
humana. 
O mundo político perdeu a ligação não somente com a religião e com a 
metafísica, porém também com todas as formas restantes de ética e cultural do 
homem. E permanece por assim dizer: só, num espaço vazio. 
Esse “Estado” em seu momento embrionário já trazia em si as mais 
perigosas conseqüências. É pressuposto, que não se pode imputar à 
Maquiavel a capacidade de compreender em seu bojo as conseqüências totais 
de seu pensamento político. 
Não obstante, não se pode aceitar a inimputabilidade das 
conseqüências morais do pensamento de um intelectual, principalmente dos 
intelectuais modernos, os quais forjaram conscientemente a mudança radical 
80 
 
do ethos humano e o resultado de tal reengenharia se fez mais presente em 
século passado. 
Uma vez que, nunca na história da humanidade o poder esteve tão 
acima do controle, os conceitos tão distantes do mundo concreto e o 
conhecimento tão refém de pequenos e perigosos grupos econômicos e/ou 
políticos. 
Nicolau Maquiavel começa a sua empreitada da construção de uma 
nova ciência política indo de encontro ao ethos cristão-medievo, mais 
precisamente, quando ele procura expressar que o modelo de valores cristão 
ocupa um lugar rebaixado, pois, o mesmo se encontra em oposição a toda virtù 
política “real”, na medida em que, no lugar de criar heróis, homens fortes 
canoniza somente aqueles que são brandos e humildes. 
Assim para o pensador florentino, os valores cristãos tornam os 
homens fracos e afeminados. Já o modelo preconizado pelos pagãos, esse 
para Maquiavel só deifica os homens fortes, gloriosos (grandes comandantes e 
ilustres governadores das comunidades). Portanto, o modelo racional de uso 
religioso que deve ser adotado por um estado que se pretenda forte e vitorioso. 
A partir de tal perspectiva pode-se evidenciar o uso instrumental de 
uma razão que procura se utilizar de elementos tradicionais do ethos em prol 
de uma “engenharia política” para obtenção e manutenção de um determinado 
Status Quo30. 
A religião continua sendo um elemento importante no estado 
maquiavélico, ela é como por assim dizer um elemento indispensável. No 
entanto, não é mais um fim em si mesma; não é a base da vida social do 
homem, mas sim uma poderosa arma para as suas ações políticas e, essa 
arma deve demonstrar a sua força através da ação31. 
 
30 Tal uso da razão instrumental pode ser observado em nossa época na obra Maquiavel Pedagogo, de 
Pascal Bernadin. Onde o autor faz uma análise minuciosa de tudo aquilo que está exposto nos 
documentos oficiais dos mais célebres organismos internacionais e mostra detalhadamente que o objetivo 
prioritário da escola atual não é mais possibilitar aos alunos uma formação intelectual e muito menos 
fazê-los adquirir conhecimentos elementares. O que se pretende com a redefinição do papel da escola é 
torná-la nada mais do que o instrumento de uma revolução cultural e “ética” destinada a modificar os 
valores, as atitudes e os comportamentos das pessoas em escala mundial. Ou seja, tem como objetivo a 
imbecilização e domesticação dos alunos via reforma psicológica. 
 
31 Tal pensamento começa a se concretizar num plano maquiavélico de ordem mundial e pode ser 
observado e descrito na brilhante obra Poder Global e Religião Universal, onde o autor, Juan Claudio 
Sanahuja também demonstra numa análise acurada de documentos da ONU e de outros organismos 
81 
 
O que Maquiavel intenta especificamente é demonstrar que uma 
religião que evita o contato com o mundo, em vez que querer organizá-lo, 
revela-se ser a ruína de muitos reinos e estados. Como diz o mesmo em sua 
obra Discurso (livro I, cap. XI), a religião só é boa se produz boa ordem; e a 
boa ordem é sempre acompanhada da boa fortuna e do sucesso em qualquer 
empresa. 
Aqui fica evidente a quebra do elemento transcendente e espiritual 
inerente à religião e o estado secular, através de um “logos” instrumental e 
pragmático é que deve ocupar agora todo o espaço representativo das 
realidades possíveis do mundo humano. 
Mais uma fez, pode-se claramente perceber o resultado de tal 
pensamento em nossa época, onde o estado se tornou o ente por essência e 
excelência possuidor do poder onipotente, onisciente e onipresente. Tudo 
dentro do estado. Nada fora do estado32. 
Em sua obra magna O Príncipe, não se pode contestar que a mesma 
contém as coisas mais imorais e que Maquiavel não tem escrúpulos em 
recomendar ao governante toda espécie de enganos, perfídias e crueldade. O 
Príncipe fala de maneira diversa sem compromisso de qualquer espécie. Ele 
descreve com completa indiferença os caminhos e meios de adquirir e 
conservar o poder político. 
Acerca do uso devido desse poder o livro é gritantemente omisso, 
assim como, não restringe esse uso perante considerações relativas à 
comunidade. Portanto, considerar O Príncipe como uma espécie de tratado de 
Ética ou manual de virtudes políticas é algo eminentemente impossível. 
Para Maquiavel a política não passa de um jogo e, enquanto um jogo a 
política é sempre jogada por meio da fraude, da mentira, da traição e felonia. 
 
internacionais (estudo de uma década) a constituição de uma nova ordem mundial (enquanto religião pagã 
universal) através da reforma cultural, religiosa, moral, etc. imposta via mecanismos políticos. E para isso 
se faz necessário a destruição dos fundamentos ético-espirituais do Ocidente, os quais residem na tradição 
judaico-cristã. 
 
32 O ápice de tal pensamento se dá no século XX através da concretização dos totalitarismos: fascista, 
nazista e comunista. Este, mesmo transmutado em versões de vários matizes, ainda continua o seu projeto 
rumo à constituição de um novo mundo e uma nova humanidade. 
82 
 
Logo, cabe ao Príncipe (político33) descobrir o melhor lance, aquele que o leve 
a ganhar a partida. 
Não obstante, poder-se-ía objetar aqui, levantando o seguinte juízo de 
implicação ética: no jogo político, as peças que estão implicadas não são seres 
humanos? E os lances que são feitos não implicam na felicidade ou desgraça 
dos mesmos? Até onde a res publica (coisa pública) – entendida nos moldes 
modernos – pode eximir-se das conseqüências dos fatos e concretudes da vida 
real (como bem pensaram e anteriormente intituíram os Padres da Igreja)? Até 
onde somos livres e responsáveis pela constituição de nossa própria história? 
Tal ordem de questionamento se faz extremamente pertinente, na 
medida em que só se pode falar de: cidadania, dignidade da vida humana, 
direitos humanos, sujeitos éticos, etc. onde há a possibilidade e a efetividade 
da ação humana livre e consciente; onde se possa existir a confluência e até o 
conflito dos poderes e; acima de tudo, onde as vidas sejam respeitadas 
enquanto singularidades existentes. 
Nunca! Enquanto abstrações vazias, fórmulas lógicas que ambicionam 
atingir seres imaginários e desconhecem os cidadãos de carne e osso, os 
quais são passíveis de paixões, erros, incapacidades, etc. 
Em O Príncipe, Maquiavel tentou inculcar na mente dos governantes a 
sua convicção acerca da perversão moral dos homens. E isso era parte 
integrante da sua “sabedoria política”, a primeira condição para governar os 
homens, dizia o mesmoé conhecer o homem. E segundo o pensador 
florentino, nunca o compreenderemos enquanto estivermos sujeitos à ilusão da 
sua “bondade original”. 
Tal concepção pode ser muito humana e benevolente, mas na vida 
política é um absurdo. Por isso, para Maquiavel (1979) somente por meio da 
força é que os governantes se tornam convincentes: 
 
Os melhores alicerces de todos os estados, antigos ou modernos, 
são boas leis e boas armas. Mas visto que as boas leis sem as boas 
armas perdem a eficácia, e visto que, por outro lado, que as boas 
armas sempre conferirão o devido vigor a tais leis, não falaremos 
mais aqui de leis, mas das armas. (O Príncipe, cap. VI) 
 
 
33 Dentro da perspectiva revolucionária socialista-gramsciana, o “Principe” passa a ser o estado ou 
partido-estado. Em nosso país, o Partido dos Trabalhadores desenvolve suas ações e estratégias dentro da 
concepção política gramsciana. 
83 
 
Dentro desta mesma seara, em outro capítulo da obra nos diz 
Maquiavel que um príncipe para chegar e se manter no poder deve, 
 
Saber ser bicho ou homem, consoante as ocasiões: e isto é-nos 
sugerido pelos escritores antigos, que relatam terem Aquiles e outros 
príncipes sido enviados, a fim de serem educados, para junto do 
centauro Quíron; e, como o seu preceptor era meio homem e meio 
bicho, tiveram de ser ensinados a imitar ambas as naturezas, de tal 
modo que uma não se podia conservar sem a outra. Portanto, 
porque é tão necessário para o príncipe aprender como deve 
algumas vezes fazer o papel de bicho, deve tomar como modelo o 
leão e a raposa: porque o leão não é suficientemente manhoso para 
se livrar das serpentes e das armadilhas e a raposa não é 
suficientemente forte para vencer o lobo; por conseguinte, ele deve 
ser raposa, a fim de descobrir as serpentes, e um leão, para que os 
lobos o temam. (O Príncipe, cap. XVIII) 
 
Com tal passagem o pensador político florentino designa a necessidade 
de o príncipe ser formado na arte da astúcia e da traição, pois, não se deve 
deixar enganar que a humanidade sozinha seja capaz de forjar política. Para 
Maquiavel os melhores políticos constituem um intermédio entre a humanidade 
e a bestialidade. 
Aqui se faz interessante lembrar do pensador Blaise Pascal (1979), para 
o qual há certas palavras que súbita e inesperadamente tornam claro o sentido 
de todo um livro. Destarte, a afirmação acima descrita por Maquiavel deixa 
clara a intencionalidade da sua teoria política. 
É claro que ninguém em sã consciência pode dizer que a política não 
tenha lidado com situações de traições, crimes, etc. não obstante, antes de 
Nicolau Maquiavel nenhum pensador se dedicou a ensinar a arte desses 
crimes, mesmo sabendo que esses atos eram cometidos, ninguém os 
ensinava. 
Que Maquiavel prometesse se tornar um mestre na arte da astúcia, da 
perfídia e da crueldade era uma coisa totalmente inédita e, é exatamente aqui, 
nas portas da modernidade que se começa a forjar um dos aspectos 
dominantes na constituição do ethos moderno. 
E a este respeito nos diz o filósofo Olavo de Carvalho (2011), 
 
Para piorar um pouco mais, Maquiavel admite que os métodos a que 
o príncipe deve recorrer para se impor podem ser tão cruéis e 
violentos que se tornam antagônicos “a toda forma de existência não 
apenas cristã, mas humana”. O Príncipe, em suma, não somente 
deve arrogar-se a autoridade de Deus, mas fazê-lo com plena 
84 
 
consciência de que esse Deus é inimigo dos cristãos e da 
humanidade em geral. Em bom português: ele deve fazer da 
imitação do diabo a nova forma da imitação de Deus, ao mesmo 
tempo que, posando ante as multidões como um novo Deus, as leva 
a crer que estão cultuando a Deus quando se prosternam ante o 
Príncipe-diabo. (CARVALHO, p. 88) 
 
Assim como, nos diz Olavo de Carvalho(2011, p. 82) que é desta época 
que começa “a completa falsificação e calúnia da história da Igreja e a 
construção de um modelo de estado fundado na inversão paródica do 
cristianismo”. 
A história nos revela o quanto que tal pensamento alcançou 
modernidade adentro. Indo dos mais variados personagens que ocuparam 
situação de destaque no cenário político em que viveram. Até a forma sui 
generis que tal “práxis política” adquiriu entre nós brasileiros e que ganhou a 
célebre descrição de “jeitinho brasileiro”. 
Sem falar é claro, o quanto a alta cultura foi destituída de valor e até de 
divulgação por motivos de politização de todos os meandros da vida legando 
ao povo brasileiro um retrocesso civilizacional (nossos alunos estão entre os 
últimos colocados em provas internacionais, o país está entre os mais violentos 
do mundo, níveis altíssimos de corrupção, etc, etc.) 
Pode-se dizer com A. Koyré (KOYRÉ,citado por CHEVALLIER, 1982, p. 
277) que em espírito a modernidade é totalmente diferente de tudo que 
anteriormente houve: 
 
Com Nicolau Maquiavel, estamos de fato num mundo 
completamente diverso. A Idade Média está morta; mais do que isso, 
é como se ela nunca tivesse existido. Todos os seus problemas: 
Deus, salvação, ligações entre o lá e o cá embaixo, justiça, 
fundamento divino do poder, nada disso tudo existe para Maquiavel. 
Há uma única realidade, a do Estado, um único fato, o do poder. E 
um problema: como se afirma e se conserva o poder do Estado. [...] 
O imoralismo de Maquiavel é simplesmente lógica. Do ponto de vista 
em que ele se colocou, a religião e a moral são apenas fatores 
sociais. São fatos que é necessário saber utilizar, com os quais é 
preciso contar. É só. Dentro de um cálculo político, cumpre levar em 
conta todos os fatores políticos: que peso pode ter um juízo de valor 
sobre a soma? De nenhum modo modificar o resultado. 
 
Não se deve, pois, ignorar o sustentáculo que é o pensamento do 
“mestre” florentino para os nascentes “Estados Nacionais” e soberanos quanto 
ao quesito vontade de poder inerente à constituição e manutenção dos 
mesmos. Nem tampouconão se atentar para a releitura de O Príncipe feita pelo 
85 
 
comunista italiano Antonio Gramsci, no século passado, substituindo a 
revolução comunista nos moldes marxista (guerra aberta e violenta declarada) 
e implantando a revolução comunista/socialista por meio cultural de forma 
silenciosa (espiral do silêncio) a fim de modificar e destruir o ethos tradicional34. 
 
3.1.2 VONTADE DE PODER, COISIFICAÇÃO E NEGAÇÃO DO OUTRO. 
 
3.1.2.1 A TRANSVALORAÇÃO DE TODOS OS VALORES 
“A tarefa para os anos seguintes estava traçada de maneira 
mais rigorosa. [...] a tresvaloração mesma dos valores 
existentes, a grande guerra – a conjuração do dia da decisão. 
Nisso está incluído o lento olhar em volta, a busca de seres 
afins, daqueles que de sua força me estendessem a mão para 
a obra de destruição. – A partir de então meus escritos são 
anzóis: quem sabe eu entenda da pesca mais do que 
muitos?...” F. Nietzsche 
 
Com Friedrich Nietzsche somos apresentados a um dos mais radicais 
projetos de superação da metafísica e dos valores morais que forjaram o 
Ocidente. Segundo suas próprias palavras (s/d), 
 
 
Não vejo ninguém que tenha ousado fazer uma crítica dos juízos de 
valor morais [...] até o momento ninguém examinou o valor da mais 
famosa das medicinas chamada moral: o que exigiria que se 
colocasse esse valor em questão. Pois bem! É esse justamente o 
nosso projeto. (NIETZSCHE, A Gaia ciência, § 345, P. 172.) 
 
E esse intento se dá em Nietzsche por meio de uma história 
descontínua dos valores morais. Para o pensador alemão os valores são 
humanos, existenciais, estão em constante fluxo, portanto, são históricos e 
nada têm os mesmos de correlação com as formas, almas eternas, etc. 
Ou seja, os valores não têm uma existência em si,mas sim, todo e 
qualquer valor não passa de uma produção, criação humana. E de acordo com 
o mesmo (Idem, § 301, p. 147-148), 
 
Nada que possua valor nesse mundo o possui por si mesmo, 
segundo sua natureza – a natureza é sempre sem valor: atribuiu-se-
lhes certa feita um valor e fomos nós que o demos, nós, os 
atribuidores! Nós criamos o mundo que interessa ao homem! 
 
Para Nietzsche, da mesma forma acontece com os valores morais, 
uma vez que não existem fatos, nem fenômenos morais. Os valores não 
 
34 Cf. obra Maquiavel, ou A confusão demoníaca, do filósofo brasileiro Olavo de Carvalho. 
86 
 
passam de interpretações que os homens introduzem no mundo humano, a 
partir de suas existências. Sendo o juízo moral, assim como o juízo religioso 
tomados pelo mesmo como coisas vãs, inexistentes; ou como meras crendices, 
que enquanto tal, precisam ser ultrapassadas por meio de uma atitude que 
esteja para “além do bem e do mal”35. 
É em sua obra Genealogia da moral, que Nietzsche deixa clara a 
radicalidade de sua intenção, pois o mesmo não somente diz que a moral é 
falsa, como afirma que a mesma é perniciosa para a vida do animal homem. E 
seguindo essa linha de raciocínio procura colocar sob suspeita todo e qualquer 
pensamento moral, pois o pensador procura fazer ressaltar que onde existe ou 
existiu o pensamento moral, ali foi repreendido o valor dos fortes em prol do 
rebanho; o valor da vida em detrimento dos valores doentios (para ele 
metafísica/religião judaico-cristã). 
Destarte, se faz imperioso destruir a moral para libertar a vida, ou seja, 
com a Genealogia da moral, Friedrich Nietzsche pretende desvalorizar todos os 
valores até então prevalentes (clássico e judaico-cristãos). É preciso colocá-los 
sob suspeita, retirar sua autoridade, destruir os seus fundamentos, porque os 
mesmos representam a decadência. E esta é uma diminuição, um 
enfraquecimento do animal homem; é a transformação do tipo forte em tipo 
fraco; é o triunfo das forças reativas sobre as forças ativas. 
Para o pensador alemão é mais que evidente que os valores morais 
são a expressão mais clara da imoralidade no seio da vida humana, na medida 
em que adoecem o homem e faz preponderar o que é vil e abjeto, sufocando 
assim a verdadeira e vigorosa natureza animal do homem36. 
Não por acaso a tese central desse pensamento nietzscheano sobre a 
moral é a de que não existe apenas uma, mas sim uma dupla origem dos 
valores morais e que, essas são de oposição irredutível. 
Porque de um lado está a moral natural regida pelos instintos da vida, 
logo moral sadia, também chamada de a moral dos mestres e; de outro, está a 
moral antinatural que é voltada contra os instintos vitais, portanto moral doentia 
e que é chamada pelo pensador de a moral dos escravos; a moral de 
rebanhos. 
 
35 Cf. Crepúsculo dos ídolos, Aqueles que querem tornar a humanidade melhor § 1. 
36 Ibid., A moral como manifestação contra a natureza § 4. 
87 
 
De acordo com Nietzsche a sociedade moderna dominada pelos 
valores morais (doentios, antinaturais e do ressentimento) é a expressão cabal 
da vontade de destruição, da vontade de nada. Como diz o mesmo em seus 
escritos póstumos (NIETZSCHE, Frags. póst. Maio-junho de 1888, 17 [7]), 
 
O instinto niilista diz não; sua afirmação vigorosa é que não–ser é 
melhor do que ser, que o desejo de nada tem mais valor do que o 
querer-viver; sua afirmação mais vigorosa é que, se o nada é o que 
há de mais desejável, esta vida, como sua antítese, é absolutamente 
sem valor – condenável. 
 
Assim, enquanto vontade caluniadora e envenenadora da vida, o 
niilismo exprime uma vontade de nada, ou seja, uma vontade de negar, de 
depreciar e de degenerar a vida; vontade esta, que para o pensador alemão, 
fez com que houvesse o triunfo das forças reativas (miseráveis-pobres-
necessitados-impotentes-sofredores-baixos-doentes-disformes=bons) contra os 
valores aristocráticos (nobre-belo-forte-vigoroso-potente-feliz=mal). 
Para Nietzsche essa moral niilista, a qual é preponderante na 
modernidade, é a moral que simboliza a revolta dos escravos, dos espíritos 
doentios e de negação de tudo que é vital. E por isso, dizer o mesmo, que 
torna-se então necessário que haja uma transvaloração de todos os valores 
rebaixados. Para que se possa de novo respirar o verdadeiro ar dos alpes que 
traga os ventos puros e saudáveis para a constituição dos espíritos fortes. 
Porque como diz o pensador: “O que é bom? Tudo o que intensifica no 
homem o sentimento de potência, a própria potência. O que é mau? Tudo o 
que provém da fraqueza” (Frag. póst. Novembro de 1887 – março de 1888, 11 
[414]; primavera de 1888, 15 [120]; AC; § 2). 
Em outro fragmento (11 [119]) Nietzsche nos diz, 
 
[...] O homem moderno crê experimentalmente ora neste, ora 
naquele valor, para depois abandoná-lo; o círculo de valores 
superados e abandonados está sempre se ampliando; cada vez mais 
é possível perceber o vazio e a pobreza de valores; o movimento 
irrefreável – embora tenhamos a tentação de diminuí-lo em grande 
estilo. No fim, o homem ousa uma crítica dos valores em geral; 
reconhece sua origem; conhece o bastante para não acreditar mais 
em valor nenhum; eis o pathos, o novo tremor... A história que estou 
relatando é a dos dois próximos séculos. 
 
O advento do niilismo é o que o pensador alemão está a decantar; o 
que o mesmo proclama ser som que ressoa por toda parte e deve ecoar no 
88 
 
futuro; sinais que se apresentam e devem ser decifrados, pois há muito 
desejam se revelar, no entanto, são sufocados pelo medo do significado 
terrificante das vidas e valores entregues ao sem sentido: não há valores 
supremos, não há essência, mundo pós-vida; o homem é apenas um animal 
que se adapta ao meio e os valores, enquanto criação humana, não passam de 
representações que designam vontades. Vontades de potência que podem 
designar fraqueza, deformidade, doença, etc. ou nobreza, beleza, vigor e 
saúde. 
O que o pensador alemão está a dizer é que não existe uma verdade, 
uma constituição absoluta das coisas, uma coisa em si. Não há princípio 
primeiro Deus, assim como não há fim último. Ser, Bem e Verdade são 
constructos de uma mente adoecida; puros reflexos de uma mentalidade que 
ainda crê em algo fora. O homem, a vida, as representações entorno da 
existência... nada disso possui significado para além do momento vivido. 
O eterno retorno do mesmo é a exasperação do mundo sem sentido; 
sem Deus; sem essência. O nunca antes visto, dado, explicado... portanto, o 
ser da existência é o estar-jogado! O nada de sentido que necessita de uma 
representação forte para que vigore enquanto mentira que se impõe. 
E somente assim, se torne uma “mentira-verdade” (enquanto valor 
moral/cultural) como resultado do projetar de uma existência que se impõe, 
porque dita a partir de si (vontade de potência do forte). Portanto, pode-se 
pensar a partir de Nietzsche a seguinte fórmula sintetizadora do niilismo: “Deus 
está morto! Mas o homem, enquanto vontade de potência: esse vive e é eterna 
representação!”. 
Deve-se então deixar explícito que, o intuito principal que Nietzsche 
está a propor a partir da Genealogia da moral é a destruição dos valores até 
então vigorantes e a imposição de uma nova fonte e critério de avaliação para 
os valores formadores da sociedade: a vida tomada como vontade de potência, 
 
Onde encontrei vida, encontrei vontade de poder; e ainda na vontade 
do servo encontrei a vontade de ser senhor. 
 
[...] E este segredo a própria vida me confiou: “vê”, disse, “eu sou 
aquilo que deve sempre se superara si mesmo”. 
 
89 
 
[...] Que eu deva ser luta e devir e finalidade e contradição das 
finalidades: ah, quem adivinha minha vontade, certamente adivinha, 
também, que caminhos tortuosos ela deve percorrer. 
 
[...] E aquele que deva ser um criador no bem e no mal: em verdade, 
primeiro, deverá ser um destruidor e destroçar valores. (Assim falou 
Zaratustra, II, Do superar-se a si mesmo, p. 145-147) 
 
É preciso compreender claramente não só o que pensador intenciona 
com tal crítica dos valores morais preponderantes, mas também perceber a 
dimensão do que tal pensamento intenta, seduz e induz. 
Se faz necessário atentar para o que Nietzsche anunciou e propôs 
acerca do niilismo e niilistas (Frag. póst. 11 [123]0, ou seja que, 
 
O niilismo não é apenas uma contemplação da inutilidade de tudo, 
nem apenas a convicção de que todas as coisas merecem cair em 
ruína: pondo mãos à obra, manda-as para a ruína... isso é, se 
quiserem, ilógico... é o estado dos espíritos e das vontades fortes, e 
eles não conseguem determinar-se no não „do juízo‟ – o não da ação 
faz parte de sua natureza. A aniquilação com a mão acompanha a 
aniquilação com o juízo. 
 
E aqui se faz mais uma vez pertinente salientar o pensamento de 
Blaise Pascal (1979), para o qual há certas palavras que súbita e 
inesperadamente tornam claro o sentido de todo um livro. 
No caso de Friedrich Nietzsche, é evidente o sentido de que, o mesmo 
intenciona aniquilar com a moral e todo o ethosOcidental calcado no logos 
grego clássico e na moral judaico-cristã, pois como o mesmo diz (11 [123] “A 
aniquilação com a mão acompanha a aniquilação com o juízo” e, ainda acerca 
do ponto culminante do perfeito niilismo ele enuncia (11 [149])que está 
justamente em “uma teoria que ensina o caráter absoluto e a eternidade 
daquela vida que provoca nojo, piedade e o prazer da destruição”. 
Portanto, só assim, segundo o mesmo, se pode aniquilar com tudo que 
ela representa de apaziguamento e “domesticação” da espécie humana, para 
fazer ecoar os instintos vitais adormecidos no animal homem. Eis – como 
própria definição nietzschiana – a filosofia a golpes de martelo! E assim com 
Nietzsche pretende-se ter chegado ao fim do processo de desconstrução da 
Ética filosófica clássica. Aqui se profetiza a pós-modernidade, sua iconoclastia, 
relativismos, crise de valores, desencanto com o sentido da vida e dos por 
quês, etc. 
90 
 
Estabelecido de forma sintética o pensamento deste, o qual é tomado 
como um dos primordiais “mestres” na modernidade da suspeita. Alguns 
questionamentos se fazem pertinentes: o que esse tipo de pensamento moral 
radicalizante propõe para a grande maioria dos homens que não fazem parte 
do rol de “super-homens” (o tipo forte)? Devem, os tipos mais baixos, os 
homens fracos, serem encarados como entes humanos? 
Quais as implicações éticas deste pensamento no seio de uma 
sociedade como a moderna/pós-moderna? O que a vida do pensador alemão 
denota de similaridade e viabilidade quanto ao seu pensamento? Pois, não fora 
Sócrates o Filósofo que primeiro nos chamara a atenção para a necessidade 
de observar a coerência e consistência entre o pensamento e a vida? 
E não é justamente esse um dos graves e persistentes problemas da 
vida hodierna, onde pensadores, “intelectuais”, ativistas, políticos, ideólogos, 
etc tergiversam sobre mundos possíveis, paraísos desejados, sistematizações 
logicamente perfeitas, Nova Ordem Mundial... no entanto as implicações 
concretas de tais elucubrações demonstram o mais gritante desconhecimento, 
desrespeito e até ojeriza quanto à realidade da vida humana com suas 
inadequações, teimosias, imperfeições, etc? 
Neste próximo tópico será apresentado de forma sucinta, outro 
pensamento que exercera papel preponderante nas mentes e ações de 
“intelectuais” e massa nos “quatro cantos” do globo terrestre e que é parte 
constituinte do ethos moderno vigorante. O pensamento de Karl Marx/Friedrich 
Engels, a ideologia socialista/comunista e o ensejo por forjar de forma arbitrária 
a “nova sociedade” e o “novo tipo de homem”. O estado como o novo 
“príncipe”, segundo, o ativista político comunista, Antonio Gramsci. 
 
3.1.2.2MORAL E PRÁXIS REVOLUCIONÁRIA: a moral enquanto reengenharia 
social. 
 
“Quando os reflexos das cidades em chamas forem vistos nos 
céus (...) e quando as „harmonias celestiais‟ consistirem das 
melodias da Marseillaisee daCarmagnole, tendo como 
acompanhamento canhões ribombantes, enquanto a guilhotina 
marca o tempo e as massas inflamadas gritam Ça ira, ça ira, e 
a autoconsciência está pendurada no poste de luz”K. Marx 
 
91 
 
Em seu Manifesto do partido comunista(1988), Karl Marx e Friedrich 
Engels explicitam acerca da história da humanidade, que 
 
A história de toda sociedade até hoje é a história de luta de classes. 
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestres e 
companheiros, numa palavra, opressores e oprimidos, sempre 
estiveram em constante oposição uns aos outros, envolvidos numa 
luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre ou 
com uma transformação revolucionária de toda a sociedade, ou com 
o declínio comum das classes em luta. (I, Burgueses e proletários, 
p.66) 
 
A história vista em sua totalidade por Karl Marx e Friedrich Engels, 
nada mais é que a descrição dos conflitos existentes entre as classes e, a 
modernidade é a expressão mais cabal de tal princípio propulsionador da 
realidade humana, uma vez que ela simplifica e acirra tais conflitos entre duas 
grandes classes: burguesia e proletariado. 
Segundo Karl Marx, a burguesia moderna teve papel sumamente 
revolucionário, pois empurrou para fora do palco todas as classes herdadas da 
Idade Média e em seu lugar apareceu a livre concorrência, com sua 
correspondente constituição social e política, sob o domínio econômico e 
político da classe burguesa. 
No entanto, precisamente pela “lei da dialética histórico-materialista”, 
assim como a burguesia fora a contradição interna do feudalismo, o 
proletariado é a contradição interna daquela. Desse modo, todos os 
instrumentos, aparatos, armas que serviram à burguesia para enterrar o 
feudalismo, devem voltar-se contra a própria burguesia. 
Como menciona o próprio Marx (1988, p. 72) “a burguesia não forjou 
apenas as armas que lhe trarão a morte; produziu também os homens que 
empunharão essas armas – os operário modernos, os proletários.” e, 
prossegue o mesmo dizendo que “quando a teoria ganha as massas, ela se 
torna violência revolucionária”. 
Para o pensador e ativista alemão, uma coisa é bastante evidente 
quanto ao caminho que deve ser tomado dentro da sociedade moderna, tanto 
no que diz respeito às massas, 
 
Os comunistas recusam-se a ocultar suas opiniões e suas intenções. 
Declaram abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados 
com a derrubada violenta de toda a ordem social até aqui existente. 
92 
 
Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução 
comunista. Os proletariados nada têm a perder nela a não ser as 
suas cadeias. Têm um mundo a ganhar. (Manifesto do partido 
comunista, IV, Posição dos comunistas diante dos diversos partidos 
de oposição, p.99) 
 
Ou seja, para Marx e Engels o caminho para uma sociedade e mundo 
comunista só é possível por meio da ação violenta que trará a destruição das 
instituições e ordem social e, portanto, com a morte dos representantes e 
simpatizantes do regime em vigor (uma escatologia imanentista, materialista e 
atéia). Não existe meio termo! 
Quanto com relação ao papel dos intelectuais nos diz o pensador e 
ativista político alemão: “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo 
diferentemente,cabe transformá-lo” (Teses Contra Feuerbach, 1987, p. 163)37. 
Não cabe ao filósofo contemplar a realidade. O seu papel é o de impor a sua 
vontade de potência, difamar e destruir todos os valores antigos em nome do 
novo! ser ativista, “intelectual orgânico”, segundo a nova guinada comuno-
socialista proposta pelo comunista italiano Antonio Gramsci. 
De acordo com este ideólogo do comunismo o mundo civilizado tem 
sido saturado com o Cristianismo por 2000 anos, e um regime fundado em 
crenças e valores judaico-cristãos não pode ser derrubado até que as raízes 
sejam cortadas. Diferentemente dos outros marxistas, Gramsci não cria que os 
operários e camponeses eram predispostos para a revolução nem tampouco 
para destruir a ordem existente pois, a maioria deles não possuía nenhuma 
consciência de classe nem lealdade a tais considerações, mas sim, a coisas 
como Deus, família, nação valores que os mesmos traziam guardados por uma 
tradição milenar; valores que denotavam uma aliança fundamental que 
suplantava todas as demais. 
Deduz então, Antonio Gramsci que o mundo civilizado havia sido 
saturado com o Cristianismo por 2000 anos e que este era a filosofia 
dominante e a fonte dos valores morais no Ocidente (Europa e EUA). Deste 
modo, a vida de cristãos e não cristãos estava integrada e indissociável a tais 
 
37 Cf. Comentários à 11ª “Tese sobre Feuerbach” feita pelo filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, em sua 
obra O jardim das aflições, Livro III, Capítulo VI, onde o mesmo de forma inteligente, clara e didática faz 
uma hermenêutica do pensamento e ação revolucionários de Karl Marx, demonstrando a atualidade e 
vigência de tal convocação por traz de ações perpetradas por intelectuais, movimentos e partidos de 
esquerda. 
93 
 
valores universais, o que por sua vez impedia qualquer idéia, projeto ou ação 
revolucionários como os que os comunistas pretendiam forjar. 
É desta observação e análise crítica que surgirá uma nova metafísica 
proposicional (Eric Voegelin “Para que filosofar? Para resgatar a realidade!) e 
estratégia revolucionária marxista: se as tentativas de revolução (dentro do 
Ocidente) foram infrutíferas e produziram reações contra-revolucionárias 
potentes e mortíferas. Seria então mais vantajoso e produtivo fazer uma 
revolução sutil por meio da cultura alterando e alienando de forma substancial 
a mentalidade coletiva da sociedade ocidental através de algumas gerações. 
Esta práxis vem sendo feita sistematicamente desde meados do 
século passado (cf. O filho radical de David Horowitz e O eixo do mal Latino-
Americano de Heitor de Paola). Em nosso caso se faz importante estudar o 
papel da grande mídia desde os “anos de chumbo”, assim como o lugar 
ocupado pela emissora Globo e sua programação tele-novelística (cf. processo 
de formação dos intelectuais orgânicos dentro das faculdades de jornalismo, 
assim como demais cursos), mais especificamente observando valores e 
estereótipos acerca de símbolos como: homem-mulher, hetero-homossexual, 
cristão-ateu, sagrado-profano, pais-filhos, velho-jovem, burguês-proletário, 
políticos conservadores, de direita e de esquerda, etc. 
Observar a importância da “Teologia da libertação” e dos novos 
“sacerdotes” da Igreja Católica (cf. a CNBB) e sua função de esvaziamento do 
Sagrado nas missas, liturgia, simbolismo Cristão. O desvirtuamento 
dahermenêutica clássica e tradicional da Igreja e sua sobreposição por outra 
de matiz “crítico-revolucionária” e aproximação dos valores e símbolos 
pagãos,etc,. Outra importante pesquisa a ser feita é no campo da educação, 
mais especificamente a pedagogia sócio-construtivista que vem sendo 
propagada e disseminada desde a década de 60 e os seus resultados 
concretos na “formação” de novas gerações. 
Gamsci não somente é um marxista como vislumbra em tudo alcançar 
o tão propagado mundo melhor pensado e redigido pelo mentor do comunismo 
Karl Marx. No entanto, o, processo pelo qual tal projeto será executado é que 
se distingue dos demais, pois, para o mesmo pode e deve existir uma 
“hegemonia política” mesmo antes de se assumir o poder governamental (cf. a 
ideologia dominante nas universidades do país e os quadros formados pela 
94 
 
mesma: ver o papel da USP na formação do PT e PSDB; as temáticas 
progressistas das novelas da globo e suas influências) e de modo a que se 
possa exercer a liderança política e hegemonia não se pode contar apenas 
com o poder ou força material dadas pelo governo. 
Ou seja, para Antonio Gramsci não se deve depositar as esperanças 
do projeto de um mundo comunista somente no poder das armas ou do estado, 
mas, antes e prioritariamente seduzir as mentes infantis e adolescentes, 
subverter e dominar as mentes e os corações dos homens e mulheres, dos 
cidadãos. Trazer, corromper e subverter as mentes brilhantes dos filhos e filhas 
da burguesuia e colocá-los sob o símbolo da bandeira vermelha, isso sim, seria 
a destruição das forças anti-marxistas. 
O que Gramsci propõe como estratégia de ação para os gnósticos- 
revolucionários é que primeiro a intelectualidade orgânica crie e sistematize 
métodos de ocupação das instituições e das mentes dos seres humanos, 
transformando-os em quadros, indivíduos atomísticos, massas docilmente 
coagidas e direcionadas para a concretização da práxis revolucionária. Obter o 
domínio das instituições “burguesas: Igreja, escolas, faculdades, universidades, 
mídias, cultura (literatura, artes, música...) seria a forma de obter a “hegemonia 
cultural” e assim poder dominar, controlar e influenciar os modos de percepção, 
sentimento e pensamento da população. 
Para tal ideólogo não se faz necessário dominar todas as informações 
nem tampouco ser o proprietário das mesmas, bastando obter o controle das 
mentes que assimilam estas informações. E para que essa “hegemonia 
cultural” seja alcançada se faz necessário destruir os elementos da cultura 
tradicional. Em nosso país pode-se observar mais detalhadamente tal 
processo: 
1º As Igrejas Católicas foram sendo des-Sacralizadas e transformadas 
em “ongs” politizadas, cujas funções são promover o “igualitarismo” e a “justiça 
social” corroendo assim os seus fundamentos onto-teológicos e as doutrinas 
milenares e os ensinamentos morais são negados e relativizados em prol de 
modismos e irrelevâncias culturais... (cf. vídeos e curso do Pe. Paulo Ricardo 
sobre o marxismo cultural; A crise do mundo moderno e Oriente e Ocidente, de 
René Guenon). 
95 
 
2º A educação em seu sentido clássico/liberal (formação genuína 
comprovada ao longo dos milênios) é substituída por pedagogias 
modernizantes e progressistas que impõem currículos escolares reducionistas 
(onto-axiologia) e brutalizantes onde os sujeitos se transformam em “cidadãos 
críticos” e construtores de uma nova humanidade e moralidade “politicamente 
correta. Não obstante, são incapazes, em sua maioria de interpretar os textos 
que lhe são apresentados e distinguir real de imaginário. E nossas faculdades 
vivem o drama de transitarem entre o político (caça voto) e o econômico (caça 
níquel) em detrimento do real. 
3º Os órgãos de informação são moldados com a finalidade de serem 
instrumentos ideológicos de desinformação, alienação, doutrinação, 
massificação, embrutecimento e ignorância da população (cf. acerca do Foro 
de São Paulo criado em 1990 por Lula e Fidel Castro como organismo que 
busca resgatar na América Latina aquilo que foi abortado na URSS e que 
reúne partidos legais de esquerda com organizações terroristas e quadrilhas de 
narcotraficantes de todos os países do continente.No entanto, totalmente 
desconhecido pela maior parte dapopulação brasileira); assim como 
instrumento de assédio e descrédito das ínfimas instituições tradicionais e seus 
porta-vozes (verificar a título de confirmação como são vistos blogs 
eletrônicoscomo: mídia sem máscara, de Olavo de Carvalho, de AluizioAmorin, 
de Reinaldo Azevedo, etc.; assim como a revista veja...) 
4º A moralidade, a consciência ética, as virtudes, os princípios 
fundantes das virtudes são cônscia e deliberadamente atacados por 
pensadores gnóstico-revolucionários e a estratégia capital gira em torno da 
negação da verdade, da relativização dos valores, desvirtuamento e destruição 
dos heróis e santos, assim como, achincalhamento permanente destes valores 
(o ex-presidente Lula, por exemplo chegou a ironizar a verdade dos fatos 
acerca do mensalão e em tom de deboche afirmar que após o seu mandato iria 
se dedicar a comprovar que o mesmo fora invenção da oposição burguesa...). 
Da mesma forma acontece com os símbolos (artistas progressistas e 
movimentos revolucionários utilizam símbolos cristãos como forma de 
ridicularização, por exemplo, urinar em estátuas de Santos da Igreja Católica, 
introduzir no meio de uma apresentação teatral o crucifixo no anus; paradas 
gays em que os Santos da Igreja Católica são expostos em banners gigantes 
96 
 
como sendo homossexuais, estátuas de Santos introduzidas na vagina e anus 
de ativistas do movimento LGBT em plena via pública como crítica à visita do 
Papa ao país, etc.,etc.,etc.. 
Como também acerca de nomes, personalidades tradicionais e 
conservadoras (o próprio nome de Jesus Cristo muitas vezes é representado 
como sendo mentiroso, dado aos vícios e prazeres carnais/sexuais, seja como 
hétero ou como homossexual). Assim comopela modificação por parte dos 
governos de esquerda de nomes de escolas, ruas (cf. projetos como o do 
vereador Pedro Paulo do PT apresentado à Câmara Municipal de Curitiba que 
propõe alteração dos nomes de ruas, logradouros, prédios públicos... que 
fizerem referências a pessoas ligadas ao tempo da ditadura militar!). Na capital 
da Bahia, Salvador uma escola teve o nome alterado do Presidente Médici para 
Carlos Mari Marighela.Sem falar na exaltação da imoralidade, do “jeitinho 
brasileiro” como fonte de valores do novo ethos brasileiro. 
Como nos diz o filósofo brasileiro – acerca de tal mentalidade e práxis 
revolucionárias –Olavo de Carvalho (2004, p. 108) em Jardim das aflições, 
O desejo, o ímpeto, a ambição – da alma individual ou das massas 
revolucionárias – torna-se o fundamento único de uma cosmovisão 
onde a teoria já não serve senão para estimular retoricamente a 
ação prática ou para, uma vez realizada a ação, legitimar como 
satisfatório o que quer que tenha dela resultado na prática. Mesmo 
que a ação produza efeitos totalmente diversos dos esperados, já 
não haverá distanciamento crítico suficiente para julgá-los, e eles 
serão não somente aceitos, mas celebrados pela teoria como 
normais e desejáveis: a teoria não tem aí nenhum valor autônomo, 
está reduzida ao papel de uma racionalização a posteriori de uma 
apologia do fato consumado. 
 
E não se pode negar o peso e a influência desse 
pensamentomarxiano(11ª tese contra Feuerbach) no transcorrer dos séculos 
XIX e XX, mais precisamente, a história desse último século não pode ser 
compreendida sem a forte marca dessa mentalidade revolucionáriaque em um 
determinado período pretendeu forjar o “novo ethos” a fórceps (o nacional-
socialismo russo ou stalinismo; o nacional-socialismo alemão ou hitlerismo; o 
nacional-socialismo italiano ou fascismo; o nacional-socialismo chinês ou 
maoísmo). 
É importante salientar aqui, algo que especialistas podem e devem 
compreender, não obstante, é desconhecido da grande maioria, 
principalmente, dos “simpatizantes” da prosopopéia socialista que conhecem 
97 
 
tal ideologia apenas pelo propagar midiático dos quadros/intelectuais 
orgânicos, etc. (onde a cultura não é mais um suporte de apoio à herança 
nacional e sustentáculo e propiciadora de valores vivificadores do ethos, mas 
sim, um meio de destruir valores, fundamentos, idéias) e pela percepção 
subjetiva impregnada de sentimentalismo pueril, agressivo e degenerado. 
O marxismo e todos os matizes sociais desta ideologia revolucionária 
estão fundados e radicados na concepção hegeliana de dialética negativa. Ou 
seja, a ênfase no negativo, na destruição é o motor da ação revolucionária.A 
história revela aos que puderam sobreviver ou àqueles que são filhos 
posteriores desse período que tanto quanto Hitler e Mussolini, efetuaram Stalin 
e Mao Dzedong a conversão do socialismo internacionalista, de uma doutrina 
de classes interna em um movimento partidário global que aprecia a situação 
em termos da antítese inexorável, externa, entre nações burguesas e ricas, 
representando o capitalismo em decadência, e nações pobres à procura de 
independência e recursos naturais. 
Os “pobres” assim é que precisam de lebensraum38. A concepção de 
uma convergência entre os quatro parceiros totalitários se realiza, 
concretamente, no curto período de sua relação cordial, que vai do acordo 
Ribbentrop-Molotov de agosto de 1939, incluído o pacto de Não-agressão entre 
Japão e URSS, até o desencadeamento da Operação Barbarossa, em junho de 
1941. 
Importante se faz ressaltar alguns aspectos da manipulação de tal 
pensamento, colocados em ação para a obtenção dos resultados delineados 
pela teoria revolucionária, proposta por Karl Marx e outros teóricos comunistas. 
Portanto, serão apresentados de forma sintética, alguns dos 
postulados que foram traçados, com objetivos psicológicos (reengenharia 
social), pelos líderes soviéticos e propagados em outros países onde, a 
revolução socialista foi implantada a fim de alcançarem êxito no processo 
escatológico delineado por Marx em sua explicaçãoauto-intitulada “científica” 
do desenrolar da história. 
 
38 Espaço vital ou espaço para viver. Tal conceito ocupará dentro de uma conotação política o sentido de 
espaço necessário para a expansão territorial, que no caso do marxismo/comunismo é a demarcação 
global através da revolução do proletariado, dos intelectuais orgânicos, delinquentes, marginais, minorias, 
etc. quantos agentes forem propícios e necessários para o projeto da revolução permanente. 
98 
 
Quanto aos postulados referentes à relação que deveria existir entre 
as massas e o partido, pode-se salientar, com base em estudos e 
pesquisasexaustivos acerca dos fenômenos do totalitarismo e da ideologia por 
teóricos e estudiosos da extirpe de um Eric Voegelin, uma Hannah Arendt, 
ConstantinNöica, Ortega y Gasset, Edmund Burke, Russel Kirk, 
StéphaneCourtois, Nicolas Werth, Jean-Louis Panné, AndrzejPaczkowski, 
KarelBartosek, Jean-Louis Margolin, Carl Friedrich, Zbigniew Brzezinski, 
HardleyCantril, Thomas Sowell, Viktor Frankl, Andrew Lobaczewski, David 
Horowitz, Simon S. Montefiore, Mário Ferreira dos Santos, Olavo de Carvalho, 
J. O. de Meira Penna, entre outros, que: 
 
1- Que apesar dos indivíduos viverem e se identificarem com o “Estado” 
ou uma Nação, estes são essencialmente instrumentos do Partido 
Comunista, e seus cidadãos devem ser organizados e manipulados 
segundo os objetivos do Partido. 
 
2- Que a realização e o desenvolvimento máximo do indivíduo e de suas 
capacidades latentes podem verificar-se apenas numa sociedade 
socialista, coletiva, livre de peias classistas de nacionalismos; que isso 
representa o único e verdadeiro humanismo, sendo esta uma evolução 
inevitável. 
 
3- Que o indivíduo deve ser encarado, sobretudo, como uma unidade 
produtiva, nem mais nem menos (uma coisa que produz). A produção,naturalmente, é para o “Estado”. 
 
4- Que a moral individual deve equacionar-se sempre à moral comunista 
definida em função dos objetivos do Partido; o que é “verdadeiro”, 
“correto” e “justo” deve ser julgado de maneira relativa, de acordo com os 
objetivos e iniciativas futuras exigidas pelo processo de criação de uma 
sociedade comunista. Ou seja, moral, verdade e ética são relativas e o 
único conceito absoluto é o de “Estado”, enquanto abarcando o ideal de 
sociedade comunista. (cf. a forma como os mensaleirosDelúbio, ex-tesoureiro 
do PT e José Dirceu, ex-Ministro da Casa Civil foram condecorados pelos membros 
99 
 
do partido e seus militantes como “guerreiros” e “heróis” brasileiros ao mesmo 
tempo em que a sociedade estupefata e parte indignada tentavam absorver o 
impacto de tal fenômeno. Nas entranhas de tal governo já estavam sendo 
manipulados um ardil de envergadura em proporções inimagináveis: o petrolão, 
maior escândalo de corrução já ocorrido na história da humanidade. Por ironia do 
destino Lula disse que o Brasil seria, em sua gestão alçado a patamares 
inimagináveis) 
 
5- O que o indivíduo considera seus objetivos e a elite do “Partido”, 
objetivos sociais devem estar em perfeita concordância e vice-versa.(cf. o 
Diretório Nacional do PT em setembro de 2009 decidiu punir os deputados federais 
Luiz Bassuma (BA) e Henrique Afonso (AC) suspendendo os seus direitos políticos 
por um ano e noventa dias, pois os mesmos resolveram tornar pública as suas 
posições contrárias acerca da descriminalização do aborto.) 
 
6- Que todas as provas de lealdade dos indivíduos devem conduzir ao 
Partido e dele porvir, pois, nenhuma contradição ou conflitos devem ser 
tolerados e, que toda idéia contrária ao ideal proposto pelo “Partido” deve 
ser erradicada.(cf. o caso de assassinato do prefeito Celso Daniel de Santo André 
e a perseguição a membros da família que se viram forçados a fugir do país. Outro 
caso suspeito e insepulto cadáver do PT é o de toninhoprefeito de campinas. Uma 
importante obra a ser lida por seu teor documental é Assassinato de reputações do 
ex-secretário nacional da Justiça do governo Lula) 
 
7- Que os não-comunistas em qualquer parte do mundo representarão 
sempre uma ameaça ao comunismo, portanto, a tendência do comunismo 
é um movimento de caráter globalista, pois, o seu sucesso só é possível 
mediante o aniquilamento das condições sócio-econômicas divergentes e 
conseqüentemente, os tipos de consciências que estas condições 
geram.(Entender por que motivos o cidadão normal, sem nenhuma prática de 
politização social via partidos e ONGs “progressistas” no momento em que 
criticam um partido, governo ou ideologia esquerdista é ridicularizado, por vezes 
perseguido e até execrado por militantes e intelectuais orgânicos que ocupam 
postos nos aparelhos do estado) 
 
8- Que os indivíduos devem reconhecer que os fins sempre justificam os 
meios e que eles são sempre ditados pela elite do “Partido”.(Os 
100 
 
“argumentos” utilizados pelo PT, esquerda em geral acerca do mensalão/petrolão, 
Cuba, Venezuela, As Farc, os crimes cometidos em nome da ideologia na extinta 
URSS, China de Mao...) 
 
9- Que os desejos legítimos das pessoas incluem apenas as satisfações 
saudáveis e não abrangem os caprichos e luxúrias da sociedade 
burguesa, tão ruinosa para ela.(ver malabarismos feitos pelo governo do PT 
para dizer que erradicou da miséria no Brasil 19,5 milhões de brasileiros. E que 
54% da população brasileira tinha alcançado a classe média entre os governos 
Lula e Dilma. Critérios para pertencer à classe média é ganhar entre R$ 300,00 e R$ 
1.000,00 “acima disso já é pertencer à classe alta!”. Talvez para o governo comuno-
socialista possuir em casa um pinico, uma anador ou aspirina e ter um cachorro 
vira-lata corresponda a estar provido por tal governo de saneamento básico, saúde 
e segurança.) 
 
Enquanto postulados que buscam operar como constituição de nova 
sociedade, cidadão, etc.fica mais que evidente que, tais postuladosnegam por 
completo os princípios básicos revelados no ethos clássico/judaico-cristão 
quanto à constituição do ser do ente homem (individual e coletivamente) e de 
sua condição de pessoa, dignidade e da condição de sacralidade da vida 
humana. 
Deste modo, quando se veicula/intrumentaliza dentro do ethos atual 
conceitos como os de:“pessoa”, “direitos humanos”, “tolerância”, “dignidade”, 
“liberdade de expressão”, “liberdade de ir e vir”, “igualdade de gênero”, 
“minorias”, etc., etc., etc,;tais expressões não passam de meros topóis (lugar 
comum, mantra, cantos da sereia) que são apresentados como pseudo-
conceitosdentro dos sistemas socialistas39destituídos do real significado para 
assim se tornar iscas, instrumentos retóricos de manipulação, indução, 
distorção e destruição da percepção da realidade e do real40. 
 
39 Ou seja, unidades fechadas de racionalidade que procuram explicar e abarcar a totalidade da realidade 
do mundo humano a partir dos gabinetes, das leis, dos livros e das mentes iluminadas. É o reino da 
metafísica proposicional que tem seu sucesso numa proporção inversa à liberdade, vitalidade, autonomia 
da pessoa e vida humana. 
40 Cf. como exemplificação atual a agenda “politicamente correta” dos movimentos, partidos, intelectuais 
orgânicos e uso dos “aparelhos ideológicos” no que diz respeito a politização e pressão feitas às 
populações civis, com relação aos “direitos homossexuais” que vêm sendo impostos via manobras 
políticas e jurídicas no Brasil e demais países da América Latina (aqui se faz importante pesquisar 
pormenorizadamente os índices de casos de agressão, assassinatos e quem os pratica no país contra os 
homossexuais, como verificar manipulações e inversões de dados e fatos por parte de líderes de 
101 
 
Assim estes pseudo-conceitos e oratórias não podem simplesmente 
ser tomados dentro do mesmo quadro de referibilidade, o qual usualmente a 
tradição utilizou (em tais sistemas o que se observa é que todo fundamento 
onto-axiológico foi psico-logicamente rejeitado e invertido. Todavia, o mesmo 
não foi ontologicamente destruído uma vez que a realidade, o real independe 
das vontades sejam elas boas ou más; normais ou pervertidas; santas ou 
profanas; de direita, centro ou esquerda). Este é um dos graves e ingênuos 
erros cometidos pela maioria da população, que desconhece pensamentos e 
estratégias dos movimentos de esquerda em prol da revolução comunista 
(projeto globalista). 
Isto é muito bem denotado em obras como:O homem que amava os 
cachorros(2015), de Leonardo Padura Fuentes;Ponerologia: psicopatas no 
poder (2014), de Andrew Lobaczewky; O filho radical (2012), de David 
Horowitz;A guerra particular de Lenin (2008), de Lesley Chamberlain; O jovem 
Stalin(2008) e Stálin: a corte do czar vermelho, deSimon Montefiore (2006); 
Cortar o mal pela raiz (2006) e O livro negro do comunismo (1999), 
deStéphaneCourtis (orgs.); O jardim das aflições, de Olavo de Carvalho 
(2000);Tempos modernos (1994) e Os intelectuais (1990), de Paul Johnson; 
Tempestade sobre o mundo: a morte da liberdade na Rússia de W. S. 
Woytinsky (1963); 1884 de George Orwell (1984); Arquipélago Gulag de 
Alexandre Soljenitsen (1997); Limpeza da mente na China vermelha, de 
Edward Hunter (s/d); Redcocaine: thedruggingof América (Cocaína vermelha a 
narcotização da América41), de Joseph Douglas Jr.; etc. entre tantas outras e 
importantíssimas obras que versam acerca de tal assunto. 
 
movimentos, mídia epartidos políticos de esquerda, assim como, os casos de perseguição a homossexuais 
que não comungam com certos discursos e práticas da ideologia e líderes de tais movimentos). Como 
explicar que na Rússia, tais movimentos são terminantemente proibidos? Que em Cuba homossexuais são 
discriminados, perseguidos, encarcerados e até mortos pelo governo comunista que os governa a mais de 
meio século? Por que os “intelectuais orgânicos”, “movimentos sociais”, partidos e governos de esquerda 
nada falam! Acerca de tais atrocidades? Quem desconhece as táticas e o pensamento comunista e tenta 
compreender tais fenômenos pelos topóis que estes apresentam como conceitos agirá como “idiota útil”! 
Expressão esta cunhada por Lenin para definir os ocidentais que seguiam a ”prosopopéia” comunista. 
41
Este tema em português é meramente ilustrativo, pois não há edição brasileira do mesmo. Em tal livro o 
autor trata das origens e do desenvolvimento da atual guerra política (comunismo) via drogas. Ao 
contrário de tanto livros sobre teorias conspiratórias o autor não apresenta nenhuma teoria, mas sim, 
provas, documentos oficiais de vários envolvidos, testemunhos de desertores e depoimentos de traficantes 
em processo de julgamento. É interessante, para nós latino americanos, pesquisar em particular o 
envolvimento dos partidos e governos “democráticos” de esquerda com os narcotraficantes da Farc (fonte 
documental Atas do Foro de São Paulo). O site http://www.notalatina.blogspot.com, da funcionária 
pública aposentada (psicóloga) é o melhor e mais completo arquivo e documentário acerca do processo 
102 
 
Os estudos, pesquisas e bibliografias acerca de tal fenômeno 
sãoextensas e bastante rica em informações, detalhes, fatos, documentos, etc. 
não justificando, portanto, o discurso nem tampouco os argumentos de 
ignorância costumeiramente utilizados por boa parcela dos cidadãos para 
tentarem eximir-se de suas responsabilidades enquanto tais. 
Não obstante, se faz importante salientar que, para que os líderes 
soviéticos/comunistas/socialistas alcancem ou não os seus objetivos de 
construção da decantada sociedade “mais justa”, se faz necessário que sejam 
observados alguns postulados quanto à natureza humana. Mais precisamente 
o que ela é e o que ela deve vir a ser – e aqui se torna mais específico o 
objetivo da mentalidade e projeto revolucionário quanto à alteração do ser do 
ente humano e do ethos vigente (reengenharia social/comportamental como 
processo necessário do projetoglobalista). 
Destarte, quanto aos postulados da natureza humana, pode-se 
destacar que: 
 
1-As características e as peculiaridades dos seres humanos podem ser 
transformadas nas direções desejadas. (todo o século XX e início do século XXI 
demonstra tal empreitada por meio de métodos e instrumentos aplicados pela 
reengenharia social e, difundidos e massificados pela mídia. A este respeito conferir a 
obra Maquiavel Pedagogo ou o ministério da reforma psicológica, de Pascal Bernadin, 
editado pela Vide Editorial, 2013) 
 
2- Que os seres humanos são pessoas bastante simples; não é preciso ter-se 
muito respeito por elas, ou muito medo de suas complexidades e 
capacidades.(conferir, em nosso caso específico, atuação de partidos como PSDB e PT 
seguindo fielmente a estratégia gramsciana traçada nos encontros do Foro de São Paulo 
desde 1990. Cf. as Atas do Foro de São Paulo se faz imprescindível para verificar as 
resoluçõesde tais encontros e as ações perpetradas no Brasil e demais países da 
América Latina pelos membros de tal organismo) 
 
3- Que não se pode esperar que a grande maioria das pessoas saiba o que é 
bom para elas, ou como alcançar esse estado desejável, por isso devem ser 
 
revolucionário comunista na América Latina. Outras fontes são os sites: http://www.heitordepaola.com; 
http://www.midiasemmascara.org; http://www.olavodecarvalho.org; e 
http://www.fortalweb.com.br/grupoguararapes/index.asp dos militares da reserva. 
103 
 
dirigidas e controladas por uma elite selecionada.(cf entrevista do dep. Jean Willys 
sobre o Plebiscito acerca da temática “casamento gay” onde o mesmo diz: “O Plebiscito 
seria uma tragédia né, porque se agente for usar Plebscito pra, digamos assim, avaliar 
os temas principais da sociedade, agente vai ver que a população, que não é 
devidamente informada, não é informada de maneira correta, de maneira precisa vai, por 
exemplo, aprovar a pena de morte, vai aprovar a redução da maioridade penal... ou seja, 
agente não pode deixar na mão de uma sociedade que não é bem informada 
determinados temas. Então o tema do casamento civil entre homossexuais não pode ser 
deixado como Plebiscito porque as pessoas não estão bem informadas[...]. 
 
4- Que de modo geral, as pessoas não são capazes de tomar decisões 
políticas e agir com eficiência nesse sentido. 
 
5- Que só a elite comunista é capaz de guiar as massas “cientificamente”, por 
que só ela possui a exata compreensão da maneira de interpretar o marxismo-
leninismo/marxismo-stalinismo... 
 
6- Que as características dos seres humanos são em grande parte 
determinadas pelas situações sócio-econômicas, onde têm suas raízes e, 
essas situações devem ser manipuladas e controladas de tal modo pela elite, 
que elas afetarão a consciência dos indivíduos na maneira desejada.(engenharia 
social em curso perpetrada, em particular, no Brasil por meio da estratégia Gramsciana. 
Cf. também a obra Maquiavel Pedagogo ou o ministério da reforma psicológica, de 
PalcalBernadin) 
 
7- Que as aspirações do povo podem ser manipuladas de modo a adaptar-se 
aos objetivos de longo alcance do “Partido”. Segundo o papel que o povo é 
solicitado a desempenhar em diferentes períodos e diferentes gerações, para 
alcançar o supremo objetivo colimado pela elite do “Partido”.(conferir métodos 
utilizados pelo PT, especificamente para manipulação dos “movimentos sociais” e dos 
intelectuais orgânicos dentro dos órgãos midiáticos, escolas, faculdades, etc.) 
 
8- Que “pravda” (verdade e justiça) pode ser oficialmente definida, imposta e 
transmitida a todos os indivíduos, cujas crenças e ações serão determinadas 
de acordo com isso.(conferir discursos, documentos e ações do PT enquanto 
104 
 
governo. Analisar o processo em andamento da “Comissão da verdade” acerca do 
período da ditadura militar no Brasil) 
 
9- Visto que toda verdade é “científica”, não existe verdade pessoal, nem 
verdade duradoura e eterna.(De acordo com o principal ideólogo do comunismo e 
ativista Karl Marx a verdade não existe... ela é uma convenção, portanto, a mesma não 
passa de uma construção mental que deve ser posta e imposta pelo poder político do 
partido/estado) 
 
Uma vez explicitados tais pressupostos, não é novidade nenhuma, 
portanto dizer que os mesmos foram a base e os princípios de sustentação 
daquilo que veio a ser conhecido como um regime totalitário que ao longo do 
século XX demonstrou a mais vil e abjeta ação direta (e contínua) contra a 
natureza, os direitos e a dignidade da vida humana. Literalmente concretizados 
(enquanto “pseudo-objetividade científica”) como morticínio de mais de 160 
milhões de vítimaspelos regimes socialistas. 
Como nos diz StéphaneCourtouis, na introdução da obra O livro negro 
do comunismo(1999), 
 
Do que falaremos, de quais crimes? O comunismo cometeu 
inúmeros: inicialmente, crimes contra o espírito, mas também crimes 
contra a cultura universal e contra as culturas nacionais. Stalin 
ordenou a demolição de centenas de igrejas em Moscou; 
Ceasucescu destruiu o coraçãohistórico de Bucareste para construir 
edifícios e traçar perspectivas megalomaníacas; PolPot fez com que 
fosse desmontada pedra por pedra a Catedral de Phnom Penh e 
abandonou a selva os templos de Angkor; durante a revolução 
cultural maoísta, tesouros inestimáveis foram quebrados ou 
queimados pelas guardas vermelhas. Entretanto, por mais graves que 
tenham sido essas destruições, a longo prazo, para as nações 
envolvidas e para a humanidade inteira, em que medida elas pesam 
em face do assassinato em massa de pessoas, de homens, de 
mulheres, de crianças? (COURTOIS, p.16) 
 
Ainda acerca do mesmo, Olavo de Carvalho (2004) afirma que 
 
A capacidade das esquerdas mundiais para justificar em nome de 
uma utopia humanitária as piores atrocidades do regime comunista – 
e, exterminado o comunismo na URSS, para continuar a pregar com 
maior inocência os ideais socialistas como se não houvesse nenhuma 
relação intrínseca entre eles e o que aconteceu no inferno soviético –, 
é uma herança mórbida que, através de Marx, veio do epicurismo. 
Não é de estranhar que a evolução de um século do pensamento 
marxista tenha desembocado em Antonio Gramsci, o teórico do 
“historicismo absoluto”, que assume declaradamente aquilo que em 
105 
 
Marx estava apenas insinuado e implícito: a abolição do conceito de 
verdade objetiva e a submissão de toda atividade cognitiva às metas 
e critérios da práxis revolucionárias; a absorção da lógica na retórica, 
da ciência na propaganda ideológica. Também é compreensivo que, 
numa outra e paralela linha dessa evolução, que leva a Reich e a 
Marcuse, o desejo erótico, e já não a força das causas econômicas 
objetivas, seja a mola mestra que move o progresso e dispara a 
revolução. (CARVALHO, p.108) 
 
Depois de tal fenômeno não se pode negar que a ação humana, 
quando conduzida por uma razão instrumental desprovida de todos os laços 
com o ethostradicional, é capaz de levar a espécie humana ao nível mais baixo 
dentro da escala dos entes vivos existentes na natureza. Mesmo que este ente 
seja designado como “privilegiado” por ser “possuidor” da razão. Diante de 
ideologias como esta o que se vê é exatamente, o fenômeno da des-
racionalização do ser humano; a barbarização “nua” e “crua” de todas as 
dimensões da realidade, mais especificamente a humana (Cf. A Invasão 
vertical dos bárbaros, de Mário Ferreira e As seis doenças do espírito, de 
ConstantinNöica). 
O problema com esse tipo de teoria, a qual Eric Voegelin, dentre 
outros estudiosos, classificam como ideologia reside justamente nas 
conseqüências drásticas que ocasionam ao mundo da realidade. Pois como 
expõe o filósofo alemão, em suas Reflexões autobiográficas (2007, p. 80-82), 
 
No plano mais imediato, toda e qualquer ideologia – marxismo, 
fascismo, nacional-socialismo, seja qual for; todas se mostram 
igualmente incompatíveis com a ciência, entendida no sentido 
racional de análise crítica. [...] não se pode, em hipótese alguma, ser 
ao mesmo tempo um ideólogo e um cientista social competente. 
 
[...] Uma segunda justificativa para o meu ódio do nacional-
socialismo e de outras ideologias é bastante primitiva. Tenho repulsa 
ao morticínio de seres humanos por diversão. [...] a brincadeira é 
conquistar uma pseudo-identidade com a afirmação do próprio 
poder, o que se faz preferencialmente matando alguém, e esta 
pseudo-identidade passa a servir de substituta ao ego humano que 
se perdeu. 
 
[...] O terceiro motivo [...] contra as ideologias é o de um homem a 
quem agrada usar a linguagem claramente. Se há algo característico 
das ideologias e dos ideólogos é a destruição da linguagem, ora no 
nível do jargão intelectual de alto grau de complexidade, ora no nível 
vulgar. (14- Ideologia, posturas políticas e publicações, p. 80-82) 
 
Sob o julgo de tal signo mergulha-se a ciência, a cultura, os altos 
valores, a sociedade, a pessoa humana, na mais incerta das horas uma vez 
106 
 
que se nega os requisitos elementares para a constituição de toda e qualquer 
vida, conhecimento autêntico e humano. Nega-se a possibilidade mais própria 
do ser humano, a qual é a clarificação da realidade nos sentidos mais 
profundos do Ser. 
O que se almeja aqui com esse curto enredo das idéias, estratégias, 
ações e relações políticas, sociais (práxisrevolucionária) travadas dentro do 
século XX. É dar uma pequena demonstração como o pensamento – 
autonomeado e propagado como sendo “objetivo/científico” – do moderno 
marxismo (socialismo/comunismo)42acredita e toma como elemento primordial 
para as suas ações a idéia de que o nacionalismo é um instrumento válido da 
revolução. 
Por meio dessa ideologia e transe da revolução perpetrada pela ação 
coletiva “pseudo-consciente”, observou-se não só demonstrações dos atos 
mais abjetos e bárbaros, como o fenômeno singular do rebaixamento da 
espécie humana por meio da alienação (método de Pavlov) e negação da 
singularidade em prol da abstração de um novo homem (super-homem), 
sociedade (paraíso terrestre), etc..Não há mais pessoa humana, nem 
sacralidade em seu ser, mas apenas um indivíduo, um quadro, massa informe 
a ser modelada, direcionada, formatada, conduzida pelo regime/partido-estado. 
Essa idéia substancializada na cultura e veiculada por meios potentes 
de comunicação foi e continua sendo um importante instrumento de 
“(de)formação” ideológica das massas. 
Não por acaso, o domínio das grandes redes de comunicação em todo 
o globo terrestre pertencer a poucos grupos; as suas informações terem uma 
espécie de uniformidade padrão mesmo em países e até continentes 
diferentes; assim como, existir uma união de grupos políticos com 
conglomerados econômicos almejando a detenção do poder, veiculação e 
manipulação de sociedades, nações e vidas humanas. 
Eis um pouco desse campo complexo e enigmático, que é o fenômeno 
do globalismo, o qual necessita por um lado, destruir o ethos tradicional e, por 
outro projetar, lançar, formatar, inculcar as bases de um novo ethos por meio 
 
42É importante, mais uma vez, lembrar do potencial vivificador/revolucionário da 11ª Tese contra 
Feuerbach, escrita por Karl Marx. Uma nova versão (guerra cultural) foi implantada no Ocidente pelo 
Instituto Marx-Engls, mais conhecida como Escola de Frankfurt (1923). 
107 
 
de ações políticas, das ações de pressão dos ditos “movimentos sociais”, re-
ordenação jurídica (leia-se desmantelamento da Constituição), reestruturação 
geográfica e política43, uniformização dos modelos econômico-político, etc. 
A América Latina e mais especificamente, o Brasil, vem operando essa 
transmutação para o socialismo/comunismo através da revolução cultural 
gramsciana, que se centra na conquista da hegemonia cultural por meio de 
ações via “intelectuais orgânicos” (jornalistas, professores, novelistas, artistas, 
funcionários públicos, padres, pastores, etc.), “movimentos sociais”, ONGs, 
partidos políticos, sindicatos, etc. para chegar ao poder44, propagá-lo e mantê-
lo. 
No entanto, o processo revolucionário necessita forjar uma nova moral, 
que ocupe o lugar da Ética tradicional (judaico-cristã) e para isso, segundo 
AntonioGamsci, o importante é penetrar o mais profundo possível no senso 
comum da sociedade, não tanto pela convicção política expressa, mas por via 
psicológica agir no inconsciente do senso comum. Para este comunista, na 
nova etapa socialista da luta pela tomada do poder, os “cidadãos” devem ser 
tratados como os animais nas experiências pavlovianas. 
Não é por acaso a ênfase na educação como um todo e, 
especificamente, primária dada pelos partidos/governos socialistas 
(especificamente os governos federais do PSDB-PT). Seja para formar osfuturos “intelectuais orgânicos”, seja simplesmente para predispor o povo aos 
sentimentos desejados – é muito importante que a influência comunista atinja a 
sua clientela quando seus cérebros ainda estão tenros e incapazes de 
resistência crítica45. 
 
43 Cf. A teoria eurasiana do prof. Alexander Dugin, mentor do líder russo Putin e o cérebro por trás da 
política externa russa. Uma de suas encarnações materiais é a Organização de Cooperação de Shangai, 
que reúne: Russia, China, Quirziquistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Tajiquistão e pretende ser o centro de 
uma reestruturação do poder militar mundial. 
44 Tudo pensado e articulado pelo órgão criado em 1990 (Foro de São Paulo), por Fidel Castro e Luiz 
Inácio (lula), uma engrenagem consciente e subversiva das democracias para a conquista e instalação 
continental de uma união das repúblicas socialistas (a pátria bolivariana decantada pelo “presidente 
bufão” Hugo Chaves). 
45 Bastante reveladoras a este respeito são as obras: 1984, de George Orwell e, limpeza da mente na China 
vermelha, de Edward Hunter. 
108 
 
Como exemplo atual em nosso país pode-se apresentar o projeto de 
reeducação sexual que visa modificar a percepção e quiçá a natureza sexual 
de crianças, jovens e adolescentes brasileiros46. 
Desde os anos 60 a educação brasileira vem sofrendo mudanças 
significativas a partir da revolução gramsciana perpetrada pelo ativista social 
Paulo Freire, onde a destruição de princípios, estrutura hierárquica, 
metodológica, etc. da educação tradicional, clássica tidas como opressora, 
burguesa, aristocrática, etc. foram substituídas por uma nova pedagogiaauto-
nomeada libertária:do oprimido, da autonomia (nivelamento e até supremacia 
dos “educandos” frente aos educadores e estrutura formal da educação). 
Não se pode negar que tal pedagogia é uma realidade incrustada no 
seio da sociedade brasileira, assim como, a hegemonia cultural gramsciana 
domina o universo cultural e educacional do país. Afinal de contas ela vem 
sendo implantada desde os “anos de chumbo”. 
Não obstante, deve-se perguntar: por que diante de tal pedagogia 
humanista os nossos estudantes, em exames educacionais de nível 
internacional estão entre os que obtiveram notas vexatórias? Nacionalmente, 
isto não só é conhecido, como também se apresenta enquanto uma realidade 
trágicômica. 
Por exemplo, dos 65 países examinados no Programa Internacional de 
Avaliação de Alunos de 2009, o Brasil ficou em 53º lugar em leitura e 57º em 
matemática. Ficamos abaixo de “super-potências” como Azerbaijão, 
Cazaquistão e Trinidad e Tobago, não obstante,como diz o filósofo Olavo de 
Carvalho: “nenhum povo está tão preocupado com o futuro e a felicidade da 
humanidade quanto nós brasileiros (mantra do politicamente correto Brasil e 
mundo afora). Como adolescentes, vivemos sob o julgo de nossos sentimentos 
e, acreditamos que nossas subjetividades sejam, de fato, o padrão e critério 
objetivo que deva organizar, administrar e dirigir o mundo. 
Como disse o “intelectual orgânico” Paulo Freire, educar tem pouco a 
ver com ensinar a ler e a escrever. É antes de tudo preparar o cidadão47 para 
 
46 Conferir material audiovisual preparado pelo “MEC” para ser distribuído nas escolas do país e 
estrategicamente, disponibilizado antes na internet. Idéia esta veiculada nos EUA pelo teórico da escola 
de Frankfut, Herbert Marcuse, na década de 50, através da obra Eros e civilização. 
47 Leia-se membro, quadro, simpatizante da ideologia/partido esquerdista. 
109 
 
que ele seja transbordante de consciência social, cidadania e eleitor 
entusiasmado do partido-estado (o novo príncipe/a religião estatal). 
Não apenas é desastrosa a educação (politizada) de nossos jovens, 
que saem das escolas em sua maioria analfabetos (literais ou funcionais). O 
que significa dizer que serão excluídos das reais possibilidades de autonomia 
intelectual, psíquica e moral necessárias para ocupar os maiores e melhores 
cargos da sociedade (mesmo que sejam forjadas/impostas cotas para iseri-los 
no mercado de trabalho e, manipuladas versões da história e realidade a fim de 
isentar os mesmos de suas irresponsabilidades e incapacidades). 
Restando aos mesmos, os aparatos medíocres e imorais da pressão 
psicológica e até física junto a professores, coordenação, direção... para 
obterem o que intelectualmente não estão aptos para fazer, nem tampouco 
desejam lutar honestamente para conseguir. 
Este é um fenômeno preocupante que vem crescendo e se apresenta 
de forma drástica enquanto analfabetismo funcional de boa parcela dos alunos 
que ingressam no nível superior das IES brasileiras. 
Os jovens/estudantes, de modo geral são cada vez mais mimados com 
direitos (falsa noção de inclusão) e excluídos do mundo real onde inteligência, 
autodisciplina, limites, conhecimentos são elementos constitutivos e 
necessários para a formação de homens, mulheres, adultos capazes e 
conscientes (visão esta criticada por ser “tradicionalista”, “conservadora”, 
“arcaica”, “direitista”...). 
Jovens “educados” a partir das perspectivas revolucionárias dos anos 
rebeldes (1960), por “filosofias” de pensadores como Herbert Marcuse 
(intelectual da escola marxista de Frankfurt e mentor da revolução sexual, 
movimento hippie, revoltas estudantis), Nietzsche (destruição dos valores 
morais e instigação das pulsões/valores “realmente” humanos), Marx (luta de 
classes e destruição dos valores burgueses, religião...), entre tantos outros. 
Há muito que não respeitam nem reconhecem valores/tradição 
(disciplina, limites, comportamento sexual, seu corpo, etc.) nem tampouco 
indivíduos que as representem (pais, professores, velhos, autoridades, etc.).E 
os resultados são drásticos e dramáticos para toda a sociedade.Como medida 
de atuação relevante, a este respeito, os “políticos” brasileiros estão para 
110 
 
aprovar uma nova lei que busca cônscia e deliberadamente exacerbar o poder 
das crianças e jovens sobre os seus pais48. 
De certa forma, estes fenômenos são tratados na primeira metade do 
século XX, de forma clarividente nos escritos de personalidades com ampla 
formação clássica, como o crítico literário austríaco Otto Maria Carpeaux em A 
idéia das universidades e a idéia das classes médias, obras reunidas Vol II e o 
filósofo Basco Ortega y Gasset em A rebelião das massas, assim como, em 
nossa época, pelo filósofo Olavo de Carvalho em obras como: O imbecil 
coletivo I e II e, O jardim das aflições. 
Hoje a sociedade brasileira como um todo colhe os resultados da 
opção feita pela sua “elite intelectual”, da drástica ruptura com o ethos 
tradicional e a implantação megalomaníaca de um novo ethos, uma nova 
sociedade. A “criação” via mentes “iluminadas” de um novo homem e 
humanidade, sem a menor preocupação com suas conseqüências no mundo 
real. 
Enquantoresultados objetivos, a este respeito, a realidade das escolas 
brasileiras (públicas e privadas) vem demonstrando a incapacidade de 
formação intelectual (como também psíquica e moral) da quase totalidade de 
seus jovens e um nível crescente e alarmante de violências (psicológicas, 
morais, físicas) perpetradas por estes, contra aqueles que pareçam representar 
qualquer autoridade. 
Qualquer estudo responsável verificará que em nenhuma civilização 
antiga o ethos foi constituído tendo a Política como um fim. Isto também foi 
denotado pelo ethos grego, mesmo sabendo que a política é uma dimensão 
constitutiva (ontológica) do ser do ente homem, esta nunca foi erigida como a 
dimensão mais importante na formação da vida individual e até social. 
Basta observar,enquanto fato, que até bem próximo de nosso tempo 
as atividades religiosas eram bem mais importantes e ricas em símbolos da 
cultura e realidade constitutiva da vida dos indivíduos e sociedades. Isso 
 
48 É interessante a este respeito pesquisar o número de atos delinqüentes, gravidez “indesejada”, práticas 
de abortos, uso de entorpecentes e ingresso no mundo marginal pelos adolescentes de nosso país a 
partirdos anos 80 e, principalmente, da politização enviesada exercida na vida da população civil e dos 
jovens. Assim como, da concomitante retirada da autonomia e poder educacional dos pais sobre seus 
filhos. Processo e projeto amplamente implantado pelos regimes socialistas: URSS, China, Alemanha 
nazista... 
111 
 
porque, todas as grandes civilizações foram forjadas a partir do rico cabedal de 
símbolos contidos nas mesmas. 
A política como um fim último; como “destino inevitável” da 
modernidade é uma invenção moderna e tem como um de seus mentores 
intelectuais Nicolau Maquiavel; a sua encarnação em figuras como Napoleão 
Bonaparte, Carl Schimit. E seu devaneio macabro se dá em personalidades 
totalitárias como: Lenin, Stalin, Hitler, Mao Dzetung, Fidel, Che Guevara, 
PolPot, etc. 
A politização de todos os âmbitos da vida humana é uma declaração 
cabal do fim da civilização e o início da barbárie (os grandes escritores da 
modernidade, leia-se, clássicos, foram capazes de antever tal fenômeno), pois, 
se tem a institucionalização da força, da violência (psicológica, moral, física), 
da mentira, da corrupção, da canalhice, etc. e, a concomitante destruição dos 
reais valores e princípios éticos superiores capazes de constituir o humano em 
nós e, uma comunidade realmente humana. 
Porque seguindo e aprofundando a seara aberta por Maquiavel o que 
deve ser levado em conta na política, é a obtenção e manutenção do poder, 
não importando os meios para adquiri-lo devendo apenas o político (partido-
estado) se precaver de ser flagrado em seus atos “ilícitos”49. 
É assim que o século XX se torna o século mais sanguinário da história 
da humanidade. Nele tudo é politizado: sexo, educação, religião, lazer, vida 
privada, sentimentos, valores, etc.. O não engajamento de qualquer indivíduoé 
enquadrado como alienação, portanto, não fazer parte de, estar a margem de. 
É assim que se pode vislumbrar o poder de um “intelectual orgânico” e 
da “revolução cultural/pedagogia da libertação” junto à massa ingênua, mas 
fervilhando por agir dos jovens (fase vulnerável da formação do indivíduo em 
que pertencer a um grupo e ter um ideal representam o “sentido nobre da 
vida”). 
Mário Ferreira dos Santos tinha consciência da importância e seriedade 
da Educação. Assim como, do perigo que a baixa cultura, demagogias, 
 
49Para nós brasileiros, o ilícito, o imoral, etc. tanto em vida pública como particular já passou a ser 
designado com o status de esperteza. Tal teatro de horrores constituiu-se em espetáculo tragicômico que 
sangra e aniquila a possibilidade de qualquer vida saudável, seja de pessoas, instituições, profissão, 
comunidades, sociedade, nação/país. 
 
112 
 
ideologias são capazes de produzir em um país. Principalmente em sua 
juventude. Daí o mesmo nos dizer em Rumos da Filosofia atual no Brasil: autos 
retratos (1976, p. 416-17) – importantíssimo trabalho idealizado e concretizado 
pelo ilustríssimo Prof. e Dr. Pe. StanislavsLadusans (Letônia) – que, 
 
Quanto à juventude brasileira, este é o mais grave de nossos 
problemas [...] Dado o baixo grau de cultura que temos, nossos 
estudantes passam a formar uma elite intelectual, o que 
demonstra uma inferioridade em que nos encontramos. Na 
história, a juventude sempre é o que decorre da sua natureza, 
apresentando aspectos positivos (pela sua capacidade de ação 
e idealismo) e negativos (pela sua irreflexão, pelo seu 
despreparo e apressamento, que a leva a cair, facilmente, nas 
malhas dos grandes agitadores e a servir aos interesses de 
demagogos e políticos). Em todas as épocas da humanidade, 
uma parte da juventude mais ativa tendeu à luta a favor de más 
causas, facilitando-as. Foram os jovens que destruíram o 
Instituto Pitagórico, condenaram Sócrates, perseguiram 
Anaximandro, Aristóteles, assassinaram Hipátia de Alexandria 
e perseguiram Santo Alberto, S. Tomás de Aquino, S. Boa 
Ventura, quando mestres na Universidade de Paris; que 
uivavam pelas ruas pedindo a cabeça de Dante, de 
Savanarola, de Giordano Bruno; que acusavam Pasteur de 
“charlatão” e atiravam pedras em Einstein. Esses jovens são 
ativos, eficientes na sua parte destrutiva. Mas há também uma 
juventude construtiva. Então, o que nos cabe fazer é orientar a 
juventude brasileira, dar-lhe suficiente Sabedoria clara, 
positiva, concreta, de modo a imunizá-la contra tendências 
niilistas, para que possa por a sua capacidade de ação e de 
idealismo em algo concreto que beneficie o país. Fora disso, 
nada dará resultado. 
 
O filósofo Mário Ferreira não só é atualíssimo em sua fala, como 
demonstra de forma direta aquilo que uma mente voltada para a compreensão 
da realidade é capaz de oferecer-nos. Infelizmente, a sociedade hodierna 
brasileira padece por não haver a devida acuidade moral, a atenção e o 
exercício concreto e responsável (intelectual, político e ético) por parte de sua 
elite, para o desenvolvimento da educação no Brasil. 
Um fato recente em nosso país e que corrobora com este fenômeno de 
politização e esvaziamento do sentido da política, da educação, da ética, etc. 
foi apresentado no discurso pronunciado pelo senador Demóstenes Torres na 
Tribuna do Senado dia 21 de junho de 2011. Onde o mesmo fez denúncias 
graves do material (Coleção Viver Aprender) distribuído nas escolas do país, 
pelo MEC. 
No discurso proferido (aproximadamente 20 minutos) o senador 
procurou destacar momentos relevantes deste material quanto ao seu 
113 
 
conteúdo, que apresentava passagens onde se fazia perceptível a promoção 
de: racismo, prostituição, incesto, estupro, pedofilia e agressão física e moral a 
professores. Além de fazer apologia, enaltecimento do MST e propaganda do 
partido e governos do PT. 
Como bem diz o filósofo e jornalistabrasileiro Olavo de Carvalho 
(1987), a inversão de valores é um dos objetivos prioritários da revolução 
gramsciana, na fase da luta pela hegemonia. E Gramsci é neste sentido um 
autêntico marxista/comunista, pois para o mesmo não basta derrotar a 
ideologia burguesa, é preciso extirpar, junto com ela, todos os valores e 
princípios herdados de civilizações anteriores, que ela de algum modo 
incorporou e que se encontram no fundo do senso comum50. 
 E Olavo de Carvalho, em sua obra A revolução cultural e a Nova 
Ordem Mundial,fala que 
 
Trata-se enfim de uma gigantesca operação de lavagem cerebral, 
que deve apagar da mentalidade popular, e sobretudo do fundo 
inconsciente do senso comum, toda a herança moral e cultural da 
humanidade, para substituí-la por princípios radicalmente novos, 
fundados no primado da revolução e no que Gramsci denomina 
“historicismo absoluto”. 
 
Uma operação dessa envergadura transcende infinitamente o plano 
da mera pregação revolucionária, e abrange mutações psicológicas 
de imensa profundidade, que não poderiam ser realizadas de 
improviso nem à plena luz do dia. O combate pela hegemonia requer 
uma pluralidade de canais de atuação informais e aparentemente 
desligados de toda política, através dos quais se possa ir injetando 
imperceptivelmente na mentalidade popular toda uma gama de novos 
sentimentos, de novas reações, de novas palavras, de novos hábitos, 
que aos poucos vá mudando de direção o eixo da conduta.(CARVALHO, 1987
51
) 
 
Como bem atesta o filósofo brasileiro, para Gramsci a pregação 
revolucionária aberta tem pouco valor, mais importante é a inoculação 
camuflada e sutil das novas idéias e valores morais. Papel doutrinariamente 
exercido em novelas, telejornais e programas midiáticos (principalmente a rede 
globo de televisão). Jornalistas, professores, cineastas, músicos, psicólogos, 
 
50 Por trás do movimento gayzista (atualmente na ordem do dia), por exemplo, os intelectuais orgânicos 
buscam dominar, ridicularizar e aplacar os valores ético-morais do cristianismo (família, casal, 
casamento...). Quando muito estes valores tradicionais e seus adeptos poderão existir, apenas em âmbito 
privado. Um pouco de pesquisa acerca dos homossexuais dentro dos regimes comunistas revelará as 
atrocidades que os mesmos sofriam. Cuba ainda os encarcera e manda-os para o paredão. Ou seja, os 
homossexuais não passam de um instrumento (idiotas úteis) para a causa “revolucionária”. 
51 Esta citação foi retirada de uma versão da obra digitalizada e não possui numeração de páginas. 
114 
 
conselheiros familiares, padres, pastores, funcionários públicos, etc. 
representam o exército de elite gramsciano. 
Usando um termo do pensador contemporâneo Michel Serres (2003), 
no entanto, buscando ampliar o mesmo no sentido de captar o mais 
amplamente possível esse novo ethos, pode-se, literalmente dizer que estamos 
vivendo o período da “hominiscências”, ou seja, estamos inseridos, conscientes 
ou não; desejosos ou não, no meio de um projeto de outra humanidade 
possível. 
Somos assim por dizer, “co-partícipes”, como sujeitos uma minoria e 
como objetos a ser manipulados, a grande maioria, de um projeto nunca antes 
perpetrado na história da humanidade, o qual é o de reengenharia social. 
Mais uma vez deve-se levantar uma inquisição de natureza ética a tal 
tipo de pensamento gestado pela mentalidade revolucionária socialista: por 
ventura é o ethos de natureza revolucionária, que possa ser modificado ao bel 
sabor dos desejos e projetos de uma elite, um partido, um “povo”, umageração, 
uma “filosofia”? Onde na história do Ocidente/Oriente o culto do negativo, da 
destruição (dialética hegelinana-marxista), foi capaz de erigir a humanidade no 
homem? Quais as conseqüências morais de tal empreitada na vida concreta de 
homens, comunidades, sociedades, países que aderiram a tal ideologia? 
Pode o homem refazer, reconstituir continuamente sua morada 
espiritual (oikos), uma vez que o ethos é em sua característica ontológica 
intrinsecamente de natureza conservadora e tradicional52? 
No próximo tópico buscar-se-á adentrar na especificidade de um fazer 
humano, o qual é o da cultura dentro de um ethos fortemente marcado por um 
dos elementos caracterizadores da modernidade, o capitalismo. Mais 
especificamente, a mesma será observada de forma crítica enquanto, 
 
52 Por conservadora/tradicional deve-se entender uma natureza fundada em princípios alicerçados no real 
e confirmados ao longo das gerações. Define-se pelo senso de continuidade temporal, pela ojeriza às 
súbitas mutações revolucionárias, pelo desejo de preservar a integridade do legado civilizacional por 
baixo das lutas e traumatismos ideológicos. Seus princípios dentro do quadro político, são: 1- Ninguém é 
dono do futuro; 2- Cada geração tem o direito de escolher o que lhe convém, de aprender com as 
experiências, sem, contudo, comprometer o futuro das novas gerações: filhos, netos... por atitudes 
temerárias e irresponsáveis de “gerações supostamente escolhidas”; 3- Nenhum governo poderá fazer 
nada que o seguinte não possa desfazer; 4- Nenhuma proposta revolucionária é digna de ser debatida 
como alternativa respeitável em um quadro político democrático; 5- A democracia, enquanto governo das 
tentativas experimentais, sempre revogáveis e de curto prazo é o oposto da política e mentalidade 
revolucionária. 6- A total erradicação da mentalidade revolucionária é a condição para a sobrevivência da 
liberdade: individual e coletiva no mundo. 
115 
 
produtora de massificação, alienação, destruição de patrimônios: culturais e 
naturais, identidades,etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO IV – A CULTURA DENTRO DO ETHOS GLOBALIZADO. 
116 
 
 
“O homem é o valor fundamental, algo que vale por si mesmo 
[...]. De todos os seres, só o homem é capaz de valores, e as 
ciências do homem são inseparáveis de estimativas” Miguel 
Reale 
 
Como fora dito anteriormente, no início do terceiro capítulo, não é 
possível uma compreensão do mundo hodierno sem ter uma devida noção da 
historialidadeocidental percorrida ao longo dos séculos. Esta historialidade 
pode por muitos aspectos ser observada a partir do itinerário da razão, como 
também via desenvolvimento dos meios e instrumentos que os homens 
utilizaram para suprir, organizar e ordenar a sua existência. 
E aqui se faz importante salientar o fenômeno da técnica, da 
tecnologia, a qual exerceu e ainda exerce um papel fundamental na história da 
modernidade, porque, através do uso da mesma se tem a pretensão não só de 
transformar a natureza, mas acima de tudo, dominá-la, como procurou 
expressar Sir Francis Bacon no seu nasciturno. 
Esse saber, segundo Karl Popper, enquanto poder se transformou a 
partir da modernidade em nova “religião”53, a qual trouxe a promessa de um 
paraíso terrestre e a esperança de um mundo melhor que os homens poderiam 
construir por si mesmos a partir do conhecimento. 
E não seria um equívoco dizer que a história da modernidade, também 
pode ser descrita como a história das transformações, alienações, explorações, 
etc. do ser humano. Transformações estas, que em sua grande maioria, seja 
no aspecto individualista ou coletivista nada mais fez que obter como resultado 
final a coisificação do ser humano. 
Porque não se pode esquecer que com a modernidade e seu 
ethoscalcado no projeto de um novo mundo e novo homem, destinados pelo 
“saber racional mágico” ao progresso,tem-se início ao processo instrumental da 
cultura de massificação da vida e espécie humana (capitalismo e os variados 
matizes de socialismos). 
 
53 Deve-se então, está atento para o significado deste termo religião na modernidade, pois, o mesmo, não 
tem nenhuma intencionalidade de re-ligar o homem a DEUS; mas sim, em desviá-lo de sua rota; em 
construir uma nova “ontologia” tendo o “homem” como centro e senhor de todas as coisas. Para isso, se 
faz necessário matar DEUS! 
117 
 
Como bem dissera Bruno Latour em sua obra Jamais fomos modernos 
(LATOUR, 1994, p.15) “A modernidade possui tantos sentidos quantos forem 
os pensadores ou jornalistas”. 
O que nos interessa aqui dentre tantos aspectos é aquele que é 
marcado pela idéia historicista de progresso; pela capacidade de 
transformação e utilização da natureza em meios de obtenção de riqueza. 
Assim, ver-se-á uma revolução proporcionada por uma nova forma de 
ver, agir e pensar do homem (era dos humanismos54), a qual está alicerçada 
em um novo aparato tecnológico, o qual será propiciador e gerador de 
riquezas. 
No prólogo a A condição humana (2000), Hannah Arendt traça de 
forma magistral a atual situação em que se encontram homem hodierno 
constituidor de uma racionalidade, a qual, não somente é criadora de culturas, 
mas de pensar e até forjar projetos para novos mundos possíveis e, a natureza, 
a qual o mesmo, de certa forma pertence e está ligado. 
Diz-nosa mesma(2000, p. 10): 
 
A terra é a própria quintessência da condição humana e, ao que 
sabemos, sua natureza pode ser singular no universo, a única capaz 
de oferecer aos seres humanos um habitat no qual eles podem 
mover-se e respirar sem esforço, nem artifício. O mundo – artifício 
humano – separa a existência do homem de todo ambiente 
meramente animal; mas a vida, em si, permanece fora desse mundo 
artificial, e através da vida o homem permanece ligado a todos os 
outros organismos vivos. Recentemente, a ciência vem-se 
esforçando por tornar <artificial> a própria vida, por cortar o último 
laço que faz do próprio homem um filho da natureza. O mesmo 
desejo de fugir da prisão terrena manifesta-se na tentativa de criar a 
vida numa proveta, no desejo de misturar, <sob o microscópio, o 
líquido seminal congelado de pessoas comprovadamente capazes a 
fim de produzir seres humanos superiores> e <alterar (-lhes) o 
tamanho, a forma e a função>; e talvez o desejo de fugir à condição 
humana esteja presente na esperança de prolongar a duração da 
vida para além do limite dos cem anos. 
 
 
54Abase do humanismo é de que não existe um Deus Todo Poderoso, Criador e Sustentáculo da vida, os 
humanistas acreditam que o homem é seu próprio deus. Acreditam que os valores morais são relativos, 
inventados de acordo com as necessidades de um povo específico, e que a ética também é situacional. Os 
Humanistas rejeitam a moral e a ética Judaico-Cristã, tais como as contidas nos Dez Mandamentos, tidos 
como “dogmáticos”, “fora de moda”, “autoritários” e um atraso ao progresso da humanidade. No 
humanismo a auto-realização, a felicidade, o amor e a justiça são encontrados por cada homem 
individualmente, sem referência a nenhuma fonte divina. Dentro da ética Judaico-Cristã não existe e não 
pode existir auto-realização, felicidade, amor ou justiça na Terra, que não seja, em última análise, 
relacionada com um Deus Todo Poderoso, Criador e Provedor. 
118 
 
Hannah Arendt toca na questão central que perfaz os tempos 
modernos, o qual é o do sentimento de rebelião do homem moderno para com 
a sua condição existencial humana, na forma e medida em que lhe foi dada. 
Compreendida esta, dentro da cultura secular moderna como um dom gratuito 
vindo do nada; e que, portanto, o mesmo deseja trocar por algo que lhe seja 
próprio, no sentido de essência e existência projetada pela razão meramente 
humana (humanismo gnóstico). 
Como nos diz o filósofo contemporâneo alemão Eric Voegelin (1982), 
esta é a época dominada pelo gnosticismo, a qual é caracterizada pelo 
sentimento de ódio à realidade como tal e, por isso, deve ser transformada 
através da revolução permanente dos costumes, hábitos, desejos; enfim, do 
pensar, agir e ser do ente homem (reengenharia social). 
Assim, como na história mítica acerca do rei Midas, a modernidade é 
fortemente marcada por essa cultura de uma racionalidade que a tudo deseja 
transformar. A contemplação amorosa que constituiu a base do conhecimento 
antigo clássico e medievo, assim como forjou o tal ethos, foi abrupta e 
radicalmente alterada a partir da modernidade. 
E tal alteração, diga-se de passagem, não se deu por meio de um 
acirrado debate científico, mas sim, pela deliberada negação do “antigo” em 
prol do “novo” enquanto paradigma. 
Desta forma, sutil e sofismaticamente pretende-se dizer que o “antigo”, 
o “clássico”, etc. foi superado, quando, na verdade, ele foi soterrado por várias 
camadas de engodos e artifícios subjetivos para não vir a tona e demonstrar a 
farsa do teatro em palco modernista. Onde pseudos: “intelectuais”, “filósofos”, 
“teorias científicas”, “pedagogias”, etc. podem vigorar, justamente pela falta de 
substancialidade e critérios objetivos, concretos na formação intelectual, 
psíquica e moral dos indivíduos. 
O pensador alemão e mentor de uma variante do pensamento e 
ativismo radical, Karl Marx deixa explícita tal “filosofia de vida/praxis 
revolucionária” na célebre 11ª tese contra Feuerbach “Os filósofos se limitaram 
a interpretar o mundo diferentemente, cabe transformá-lo”. 
Destarte, a ciência de saber desinteressado passa a ser um 
conhecimento funcional instrumentalizado; o cientista, mero funcionário do 
“Estado” ou de grandes conglomerados econômicos. Claramente, tem-se um 
119 
 
salto regressivo no ser da ciência, cientista, etc., pois, de saber desinteressado, 
passa-se a funcionário de ideologias. 
Não por acaso o ethosmoderno-contemporâneo se constituir como 
altamente materialista, gerencial e tecnicista, individualista e centrado nos seus 
mais humanos (razão) desejos de produção de riquezas/poder. Seja por meio 
da ciência ou da economia diretamente falando, assim como, de uma 
centralização usurpadora do poder sobre coisas, pessoas, vidas (política). 
Se o elo entre nós contemporâneos (pós-modernos) e os originários de 
nossa civilização não tivesse sido rompido de forma tão abrupta e radical, 
talvez não tivéssemos incorrido neste reducionismo primário. Pois como nos 
dissera o Filósofo Aristóteles há mais de dois milênios atrás “o ser se diz de 
várias maneiras”. 
Assim, ganhamos em técnica, em números; em poder manipulador e 
gerencial, mas perdemos no tocante à razão em sutileza, qualidade, 
perspicácia, humildade e noção de unidade. 
Biólogos estão redescobrindo Aristóteles e percebendo a grandeza do 
seu saber, da sua filosofia. O que fora criticado até por “filósofos” como sendo 
uma física rudimentar e ultrapassada (acerca do livro sobre a física de 
Aristóteles), hoje é compreendida por estes cientistas como uma sofisticada 
metodologia científica. A modernidade e os modernos (humanistas, 
progressistas...) se mostram incapazes de compreender a sua própria origem 
e, como uma criança/adolescente mimados destroem aquilo que não podem 
dominar através da “vontade de potência” instituída como deusa55. 
É exatamente acerca deste aspecto que se deve procurar refletir:como 
pode em tal ethos onde a racionalidade se propõe a ser funcional-utilitária, a 
razão captar o sentido complexo e diverso do ser constituinte das coisas que 
compõem a realidade em sua totalidade. E não suplantar em nome de um fazer 
meramente funcional, o qual opera sobre o signo do ter-poder, a 
existencialidade daquele que é tomado enquanto indivíduo/profissional e tem 
assim por dizer, reduzida a sua condição de pessoa humana, que é em si 
dotado de ser? 
 
55 Eis a dialética negativa a forjar os seus filhos e frutos. Irônica e perversamente a foice e o martelo não 
estão a serviço da edificação, mas sim, servem ao reino do abismo que se alimenta insaciavelmente da 
destruição. 
120 
 
Eis um brutal rebaixamento ontológico, o qual a modernidade com o 
seu projeto gnóstico de uma razão imanentista colocou no seio de uma “nova 
história da humanidade”. 
Vimos no capítulo anterior a célebre sentença socrática, a qual 
expressa que “uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”. Estamos tão 
distante de tal época, que se parece quase impossível alcançar o real 
significado do que quis dizer-nos o sábio grego. 
Dividimos,compartimentamos, esvaziamos, reduzimos, tornamos 
valores e pessoas superficiais, criamos e nos aprisionamos em mundos virtuais 
por incapacidade de encarar o mundo real, etc.. E assim para nós torna-se 
imperceptível o que tal sentença está a dizer. 
Não por acaso o ethostradicional está repleto de chamados, 
enunciados, enfim, sentenças que procuram chamar à consciência os homens 
envoltos e absortos nas coisas enquanto meros fenômenos. 
Mas como é possível ouvir e até compreender tais chamados se nesta 
novaera a consciência passa a ser um elemento que subtrai a espécie 
humana? Se a consciência é vista como subterfúgio, fraqueza, envenenamento 
e aniquiladora do animal homem? Assim como, instrumental de um aparelho 
ideológico que busca nada mais que policiar e alienar para conseguir a 
obtenção e manutenção de poder. 
Dentro de tal repositório de suspeitas qualquer mente ou é paralisada 
ou então aniquilada. Eis o “reino da matilha” hobbesiano, no entanto, se 
observarmos atentamente no mundo animal entre os entes da mesma espécie, 
não se vê tal fenômeno tanto em grau de intensidade como de proporção. 
Não sem motivos nos depararmos com escritos originários da 
Civilização Ocidental, onde se pode ouvir sentenças como: “... De bom grado 
falo aos que sabem, dos que não sabem me escondo.” (ESQUILO, Agamenon, 
38s.) ou a sentença oracular Heraclítica (1999, p. 59) a nos dizer, 
 
Com o Logos, porém, que é sempre, os homens se comportam como 
quem não compreende tanto antes como depois de já ter ouvido. 
Com efeito, tudo vem a ser conforme e de acordo com este Logos e, 
não obstante, eles parecem sem experiência nas experiências com 
as palavras e as obras, iguais às que levo à cabo, discernindo e 
dilucidando, segundo o vigor, o modo em que se conduz cada coisa. 
Aos outros homens, porém, lhes fica encoberto tanto o que fazem 
121 
 
acordados, como se lhes volta a encobrir o que fazem durante o 
sono. 
 
O que nos interessa com o enunciar desta sentença é atentar-se para 
o ignorar da maioria dos homens, quanto à sua condição de Ser humano 
dotado da condição racional e, sem a qual se faz impossível o mesmo constituir 
a sua natureza de ser humano. Natureza esta que não é dada, mas precisa ser 
constituída ao longo de sua existência em meio à natureza e ao mundo. 
É dentro desta searada tradição inaugurada pelo logos filosófico e 
filosofia clássica grega,que se busca aqui dialogar e refletir em meio à crise 
que campeia em mundo hodierno. 
Faz-se importante salientar também, que, não se pode entender a 
profundidade constitutiva deste ente humano se não se atentar para aquilo que 
o cristianismo enquanto uma boa nova traz e incorpora ao ethos, que é a noção 
de pessoa, a qual será trabalhada conceitualmente pelos filósofos da Igreja. 
Não obstante, em meio ao fazer dasmais diversas atividadeshumanas, 
pode-se deparar muitas vezes com um rebaixar do estatuto e dignidade da 
pessoa humana (prostituição física, psicológica, moral, intelectual; condições 
inadequadas para o trabalho, desrespeito e inversão dos direitos elementares 
do ser humano, inversão hierárquica do ser colocando o contingente sobre o 
necessário, etc.), porque o fundamento de tais relações rompe de maneira 
cirúrgica a ligação entre a pessoa que tem estatuto e dignidade (humana) e o 
indivíduo, o qual é delineado em sociedade moderna/pós-moderna enquanto 
figura atomística como número (objeto-coisa-massa). 
Não se pode deixar de observar que a condição de ser humano em tal 
época está diretamente ligada à condição laboral que o indivíduo possui dentro 
da sociedade. Assim como, da ideologia política a qual ele está 
inserido/submetido. 
A modernidade/pós-modernidade se mostra então como uma época 
que é caracterizada pela desconstrução, ruptura, massificação e reducionismo. 
O que impede a efetivação da constituição do ser do ente homem. Vive-se uma 
época onde a morbidez é sintomática. O espírito da corrupção e destruição é 
erigido ao plano de princípio constituinte. 
122 
 
E de forma mais profunda, exatamente por ter sofrido na carne e na 
alma os horrores do regime totalitário socialista, o filósofo romeno 
ConstantinNoica em sua obra As seis doenças do espírito, declarar que 
 
Ao lado das doenças somáticas, que conhecemos há séculos, e das 
doenças psíquicas, identificadas mais recentemente, devem existir 
outras, de ordem superior,às quais chamaremos doenças do espírito. 
Nenhuma neurose poderia explicar o desespero do Eclesiastes, o 
sentimento de nosso exílio na terra ou de nossa alienação, o tédio 
metafísico, a consciência do vazio e do absurdo, a hipertrofia do eu 
ou a revolta sem objetivo; nenhuma psicose poderia explicar o “furor” 
econômico ou político, a arte abstrata, o “demonismo” técnico, nem 
talvez aquele formalismo extremo que hoje em dia, em todos os 
domínios da cultura, consagra o primado da exatidão sobre a 
verdade. (NOICA, 1999, 23) 
 
No próximo tópico serão analisados estes fenômenos constitutivos de 
tal época que é denominada de pós-moderna, a partir da perspectiva crítica 
delineada por pensadores como: Stuart Hall, Manuel Castells e Evilázio 
Teixeira. 
 
4.1 MASSIFICAÇÃO, DESCONSTRUÇÃO E REDUCIONISMO 
 
“O homem como único ente, que só pode ser enquanto realiza 
o seu dever ser, revela-se como “pessoa” ou unidade espiritual, 
sendo a fonte, a base de toda a Axiologia, e de todo processo 
cultural, pois pessoa não é senão espírito na autoconsciência 
de seu pôr-se constitutivamente como valor” Miguel Reale 
 
 
Em sua obraA identidade cultural na pós-modernidade, Stuart Hall 
apresenta o processo da globalização como “um complexo de processos e 
forças de mudança” (2003, p. 67). Tais processos atuam de maneira global e 
transpassam as barreiras e fronteiras geográficas, nacionais, políticas, culturais 
integrando e remodelando em novas combinações espaço-temporais 
comunidades, organizações, povos. 
Por traz da idéia de aldeia global, este novo mundo humano 
interconectado, as culturas, os povos, as nações e até as vidas são 
resignificadas em função de uma nova ordem mundial de matiz 
preponderantemente político-econômica. 
123 
 
Impera em tal época a necessidade radical de tudo transformar. Uma 
destas transmutações é a do sentido ontológico de identidade. Daí ouvirmos 
nas discussões travadas no campo da teoria social que 
 
As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo 
social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e 
fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito 
unificado. (HALL, p. 7, 2003) 
 
Tal fenômeno é designado de crise de identidade, a qual é parte 
integrante de um processo muito mais amplo de transformação que vem 
deslocando as estruturas e dinâmicas fundamentais das sociedades modernas, 
abalando assim todo o quadro referencial que dava aos indivíduos uma base 
estável para a vida humana no mundo social. 
Enquanto que no aspecto econômico globalizante tudo isto se perfaz 
pela dinâmica e fluxo dos capitais voláteis e transações estratosféricas que 
num simples comando eletrônico pode fazer ruir toda historialidade de um 
povo, cultura ou nação. 
Desta forma, a vida humana e sua milenar história de constituição das 
civilizações passam a estar a mercê dos “jogos simbólicos” constituídos pelo 
homem moderno e tão bem desenvolvido e aprofundado pelo homem “pós-
moderno”. 
Em sua obra A identidade cultural na pós-modernidade, Stuart Hall se 
utiliza da seguinte citação de Giddens(2003, p. 72), 
 
Nas sociedades pré-modernas, o espaço e o lugar eram amplamente 
coincidentes, uma vez que as dimensões espaciais da vida social 
eram, para a maioria da população, dominadas pela presença – por 
uma atividade localizada... A modernidade separa, cada vez mais, o 
espaço do lugar, ao reforçar relações entre outros que estão 
“ausentes”, distantes (em termos de local), de qualquer interação 
face-a-face. Nas condições da modernidade..., os locais são 
inteiramente penetrados e moldados por influências sociais bastante 
distantes deles. O que estrutura o local não é simplesmente aquilo 
que está presente na cena; a “forma visível” do local oculta as 
relações distanciadas que determinam sua naturezaOnde procura fazer explicitar em nossa época o fenômeno da 
desconstrução do símbolo espaço-tempo tão arraigado na cultura tradicional 
dos povos. 
124 
 
Tal fenômeno em tempos hodiernos denota o que se pode chamar de 
“destruição do espaço através do tempo”. E assim fenômenos globais como 
este vão enfraquecendo certas formas de identidades culturais, nacionais e 
introduzindo e reorganizando outros laços de identificação e unificação cultural. 
A este respeito nos fala Stuart Hall (2003, p. 74) que, 
 
Alguns teóricos culturais argumentam que a tendência em direção a 
uma maior interdependência global está levando ao colapso de todas 
as identidades culturais fortes e está produzindo fragmentação de 
códigos culturais, aquela multiplicidade de estilos, aquela ênfase no 
efêmero, no flutuante, no impermanente e na diferença e no 
pluralismo cultural [...] Os fluxos culturais, entre as nações, e o 
consumismo global criam possibilidade de “identidades partilhadas” – 
como “consumidores” para os mesmos serviços, “públicos” para as 
mesmas mensagens e imagens – entre pessoas que estão bastante 
distantes umas das outras no espaço e no tempo. 
 
Destarte, a medida que as culturas, locais, regionais, nacionais vão 
sendo expostas às influências externas de um modelo globalizante, torna-se 
cada vez mais difícil de manter as características tradicionais, os elementos 
culturais que a tanto tempo deram o sentimento de unidade, etc.. 
Porque o fluxo de informações, de imagens explodem numa 
intensidade e velocidade tal – as quais são produzidas sob medida para se 
infiltrarem e transformarem as culturas – que a conservação das identidades 
culturais é praticamente nula. 
Dentro de uma época que é caracterizada pelo fluxo de informações 
constante e cada vez mais aprimorada; onde a economia ganha contornos a 
cada dia mais global e se constitui pelo fluxo e troca quase instantâneos de 
informação, capital e comunicação cultural. Tais fluxos passam a regular e a 
condicionar a um só tempo consumo e produção de bens. 
É o que Manuel Castells chama de sociedade em rede, onde a 
produção e o tráfego de informações não se encontram regulamentados por 
instâncias meramente nacionais. Excede-as e por vezes é muito mais ágil e 
potente que as antigas instâncias geradoras de poder. Como nos diz Manuel 
Castells (2002, p. 39-40), 
 
No fim do segundo milênio da Era Cristã, vários acontecimentos de 
importância histórica transformaram o cenário social da vida 
humana. Uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias de 
informação começou a remodelar a base material da sociedade em 
125 
 
ritmo acelerado. Economias por todo o mundo passaram a manter 
interdependência global, apresentando uma nova forma de relação 
entre a economia, o estado e a sociedade em um sistema de 
geometria variável. [...] o próprio capitalismo passa por um processo 
de profunda reestruturação caracterizado por maior flexibilidade de 
gerenciamento; descentralização das empresas e sua organização 
em redes tanto internamente quanto em suas relações com outras 
empresas. [...] Em conseqüência dessa revisão geral, ainda em 
curso do sistema capitalista, testemunhamos a integração global dos 
mercados financeiros [...] 
 
 Dentro desta nova perspectiva e fenômeno da globalização, mais 
precisamente tomando o seu aspecto econômico, observa-se que a liberação 
paralela de forças produtivas da revolução informacional tem gerado e 
introjetado na sociedade um padrão de modificação intenso que por um lado 
pode-se denotar como proporcionador de desenvolvimento, riquezas, 
comodidades, qualidade de vida, etc. 
Todavia, o mesmo também produz a consolidação de bolsões de 
miséria humana na economia global, a destruição sistemática de parte 
considerável do ecossistema do planeta terra. Não se pode deixar de perceber 
que concomitante às transformações tecnológicas e econômicas, também vêm 
ocorrendo em mundo hodierno as mudanças drásticas da vida humana dentro 
da sociedade. 
O que dizer do fenômeno da violência cada vez mais crescente (50 mil 
mortes por no Brasil, um país que não está em “guerra”), assim como o 
crescimento exorbitante da corrupção nos diversos setores da sociedade 
brasileira e em especial no setor público. 
O fenômeno da miséria que aplaca milhões de vidas ao redor do globo 
terrestre (a maior parte do continente africano e de países da América do Sul), 
a proliferação em todas as sociedades modernas das doenças 
psicossomáticas, a “politização” e concomitante banalização dos valores éticos. 
Assim como da vida humana que passa a ser subjugada, subtraída e 
reestruturada a partir de novas estruturas sociais (engenharia social). 
Segundo Manuel Castells as estruturas sociais emergentes nos 
domínios da atividade e experiência humana se encontram estruturadas em 
torno de redes, as quais constituem a nova morfologia social de nossas 
sociedades e, concomitantemente operam na difusão da lógica de redes que 
modifica de maneira substancial a operação e os resultados dos processos 
produtivos e de experiência, poder e cultura. 
126 
 
Para Manuel Castells (2002, p. 566), 
 
As redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma 
ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se 
dentro da rede, [...] que compartilhem os mesmos códigos de 
comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de desempenho). 
[...] Redes são instrumentos apropriados para a economia capitalista 
baseada na inovação, globalização e concentração descentralizada; 
para o trabalho, trabalhadores e empresas voltadas para a 
flexibilidade e adaptabilidade; para uma cultura de desconstrução e 
reconstrução contínuas; para uma política destinada ao 
processamento instantâneo de novos valores e humores públicos; e 
para uma organização social que vise a suplantação do espaço e 
invalidação do tempo. 
 
E ainda mais, pois a morfologia das redes, segundo o pensador 
espanhol, também é fonte de drástica reorganização das relações de poder. 
Daí o mesmo dizer que 
 
As conexões que ligam as redes (por exemplo, fluxos financeiros 
assumindo o controle de impérios da mídia que influenciam os 
processos políticos) representam os instrumentos privilegiados do 
poder. Assim, os conectores são os detentores do poder. Uma vez 
que as redes são múltiplas, os códigos interoperacionais e as 
conexões entre redes tornam-se as fontes fundamentais da 
formação, orientação e desorientação das sociedades. A 
convergência da evolução social e das tecnologias da informação 
criou uma nova base material para o desempenho de atividades em 
toda a estrutura social. (2002, p. 566) 
 
Esta base material, a qual está constituída por redes é que define os 
processos sociais predominantes e, conseqüentemente é quem dá a forma à 
estrutura social. 
Sendo assim, ter acesso ao Know-how tecnológico é de fundamental 
importância para a produtividade e competitividade, dentro da nova economia 
organizada em redes globais de capital, gerenciamento e informação. 
Estes e outros fenômenos que são possíveis de perceber na 
sociedade humana hodierna demonstram muito além do processo de mudança 
inerente à espécie homem, a qual é e está inserida na história enquanto 
constituidora de cultura. 
O fato e fenômeno novo da desconstrução não somente de um ethos 
milenar, mas também e principalmente, da humanidade do ente homem, a qual 
se vê subtraída em prol de uma racionalização matemática que a tudo 
127 
 
transforma em objeto, que por sua vez é destinado ao mercado e deverá ser 
comprado, trocado, utilizado, reciclado e por fim descartado. 
Eis o homem e a humanidade mais uma vez postos em frente ao 
enigma da esfinge: “decifra-me ou devoro-te”.O nosso tempo tem se mostrado 
como o mais árduo e difícil dentre os tempos outrora vividos e enfrentados pela 
espécie humana. O que marca este tempo presente, o qual denominam de 
pós-moderno? 
Muito se fala acerca deste fenômeno chamado “pós-modernidade” e 
dentre tantos sentidos que lhes são atribuídos, pode-se dizer que a sociedade 
na qual vivemos é fortemente marcada pela comunicação generalizada, é a 
sociedade dos meios de comunicação (mass media). 
Em Aventura pós-moderna e sua sombra (2005, p. 80), Evilázio 
Teixeira nos diz que, 
 
A análise da pós-modernidade está intimamente ligada à dinâmica 
da modernidade como tal, enquanto processo concluído. Para 
Váttimo, a modernidade deixa de existir quando – por múltiplas 
razões – desaparece a possibilidade de se falar de história como 
uma entidade unitária. Com Marx e Nietzsche a idéia de história, 
entendida como decurso unitário, se dissolve. A deficiência da idéia 
de história carrega consigo o colapso da idéia de progresso. 
 
 Se por um lado a pós-modernidade encarna um caráter de produção e 
veiculação maciça de informação (massificação). Por outro, ela é parte e 
processo de uma crise gestada na modernidade, a qual tem por intuito cônscia 
e deliberadamente a destruição de todo edifício ontoteológico constituído em 
períodos clássico e medievo. 
Com pensadores como Marx e Nietzsche tal intento se torna muito 
mais claro. Não como “crítica radical” como intencionam mostrar alguns 
estudiosos e intérpretes destes pensadores, mas sim, enquanto “vontade de 
potência” que encarna o ideal destruidor para dos escombros “desta velha e 
moribunda civilização” criar o super-homem, a classe escolhida para “forjar” a 
nova sociedade. 
Assim o termo “pós-moderno” quer fazer anunciar de dentro da 
modernidade a verificação de uma crise. O instinto niilista diz não! É a ruptura e 
negação do ser em prol do nada. 
128 
 
Segundo Félix Torres o fenômeno da pós-modernidade deve ser 
entendido como um sintoma, pela sua aparição e pelas suas posições 
(TORRES apud TEIXEIRA, p. 89, 2005). 
Para o pensador francês Lyotard(LYOTARD apud TEIXEIRA, p. 89, 
2005), 
 
Pós-moderno indica simplesmente um estado de alma, ou melhor, um 
estado de espírito. Poder-se-ia dizer que se trata de uma mudança de 
relação no que se refere ao problema do sentido: diria, simplificando 
muito, que o moderno é a consciência da ausência de valor em muitas 
atividades. O que é novo seria o não saber responder ao problema do 
sentido. 
 
Destarte o mesmo procura chamar a atenção para um aspecto 
importante que marca esta nova época, o qual é que os relatos de legitimação 
que até então haviam funcionado no período da modernidade começavam a 
ruir e, este declínio implicava na necessidade da constituição de uma nova 
“ordem”, de uma nova legitimidade para dar suporte à sociedade do futuro. 
Ainda em Aventura pós-moderna e sua sombra, Teixeira se utiliza do 
pensamento de Gilles Lipovetsky, para dizer acerca de tal época; 
 
Para Gilles Lipovetsky “é no curso dos anos setenta que o pós- 
modernismo revela suas características maiores com seu radicalismo 
cultural e político, seu hedonismo exacerbado [...]. cultura de massas 
hedonista e psicodélica que não é mais que aparentemente 
revolucionária [...]. longe de estar em descontinuidade com o 
modernismo, a era pós-moderna se define pela prolongação e a 
generalização de uma de suas tendências constitutivas, o processo de 
personalização, e correlativamente pela redução progressiva de sua 
outra tendência, o processo disciplinário. (LIPOVETSKY 
apudTEIXEIRA, p. 90, 2005) 
 
O que deve se depreender de tal passagem é que de um mundo 
outrora organizado passa-se agora para um mundo carente de significado 
(unidade). Não havendo um “sentido objetivo” prepondera então o sentimento 
de desencanto do mundo e dentro desta perspectiva está presente um 
pluralismo que se manifesta também como relativismo. 
Não existem estruturas, valores, leis objetivas, pois tudo é criação 
humana e enquanto realidade, nada mais é que o produto do jogo das forças. 
129 
 
E dentro desta nova sociedade secular, as “verdades” e os “valores”, 
assim como a natureza e a política nada possuem de correlação ou 
fundamento com o divino. 
Vive-se então numa época onde preponderam os “objetos” e, não por 
acaso, em época de economia, informação e cultura global a questão do 
consumo ganha contorno e relevância inimaginável, fazendo com que tudo 
esteja submetido ao seu ritmo e sucessão contínuos, como presas indefesas a 
consumir e acumular dos seus signos em busca de alcançar a “felicidade”. 
E assim o império da mídia na fabricação contínua e exacerbada das 
imagens vai submetendo os indivíduos-massa ao processo tirânico de 
alienação. 
Vive-se deste modo em um teatro dos horrores onde tal espetáculo é 
produzido e encenado por profissionais que invadem todas as fronteiras e 
conquistam todos os domínios da vida humana: tanto particular como coletiva. 
E de forma cônscia e deliberada passam a organizar e sistematizar a vida 
inerte dos indivíduos dentro da sociedade. 
Daí para J. Baudrillard vivermos na cultura do simulacro que nos molda 
em um mundo de pseudo-gratificações frustrantes, que cria falsas expectativas 
onde jogam combinações artificiais de significantes e significados. 
É o mundo do pseudo-acontecimento em que se perde o referencial 
pelo código; onde o objeto domina e prepondera sobre o ser do ente homem. 
No entanto, este mesmo objeto precisa a cada instante ser destruído para fazer 
surgir um novo em seu lugar (fabricação-destruição e mitificação). 
Assim a pós-modernidade ao adotar como elemento constitutivo os 
modos: fragmentário, desconstrutivo, descontínuo, etc. (pensamento débil 
segundo Lyotard), procura denotar que não há uma existência unitária e os 
múltiplos conteúdos com que se ocupa, não passam de fuga e projetos que se 
equivalem na falta de perspectiva e de profundidade. 
No dizer de Martin Heiddeger (Ser e tempo, 1998)acerca do dasein 
(ser-aí/ente homem), todo e qualquer pro-jetar humano sempre se descamba 
na impossibilidade de seu ser, uma vez que o homem é um ser para a morte. 
Diante da existência humana colocada, imersa em tal labirinto, faz-se 
mister então a emergência de um pensar para ser onde a dimensão ética 
constitutiva dente ente e de sua realidade sejam elementos intrínsecos. Daí a 
130 
 
busca do diálogo no próximo tópico com o pensamento ético do filósofo 
brasileiro Mário Ferreira dos Santos. 
 
4.2 A ÉTICA COMO DIMENSÃO PRECÍPUA PARA A RECONSTITUIÇÃO DO 
SER DO ENTE HOMEM. 
“Nós hoje estamos numa crise, não de ética, estamos numa 
crise de moral, e esta crise na moral está por uma má 
visualização da diferença entre Moral e Ética.” Mário Ferreira 
dos Santos 
 
 
A Ética como fora designada no primeiro capítulo deste trabalho é um 
modo de ser intrínseco e constitutivo do ente homem, o qual se perfaz dentro 
de sua historialidade e está intimamente atrelada a uma existência consciente 
e deliberada, portanto, a um sujeito ético. Não se trata, então, de um mero 
código regulatório, da imposição de um conjunto de valores de um grupo sobre 
outro, etc. (morais). 
Quando se buscou dialogar com o pensamento clássico-medievo, não 
era intenção impor um pensamento em relação a outro (o passado em relação 
ao presente), ou os clássicos contra os modernos/pós-modernos. 
A intenção mais precisa foi a de buscar em momento de crise atual de 
todos os matizes (inclusive de perspectiva moral onde predomina uma visão, 
um discurso e uma prática relativistas), um diálogo com as fontes originárias 
onde a percepção do homem enquanto estrutura real e conceitualse apresenta 
de forma integral (não se pode deixar de perceber aqui, obviamente, certa 
limitação e incongruência no ethos grego onde surge tal revelação acerca do 
Ser e mais especificamente do ser do ente homem). 
Esta compreensão evidentemente já traz em seu bojo as conquistas 
humanistas que épocas vindouras serão capazes de fazer e que, 
compreensivamente, nenhum gênio ou época, por mais genial que seja será 
capaz de abarcar.Portanto, estará sempre incompleta e necessitando de 
remodelamentos, acertos, etc.. A dialética intrínseca e inerente ao Ser 
(conforme a filosofia clássica: Sócrates, Platão e Aristóteles). 
Destarte, o aporte conceitual que nos é dado pelos filósofos clássicos, 
em um primeiro plano se encontra na capacidade que lhes foi inerente de dar o 
salto no ser, ou seja, de compreender, analisar, conjecturar e acima de tudo 
131 
 
demonstrar racionalmente o sentido, o como e o porquê da existencialidade 
humana no que tange aos valores constituintes da sociedade e do indivíduo. 
Pois os gregos foram o povo para quem a dimensão do conhecer se 
deu de forma dramática e tensa; uma existência que exigia o sentido e 
significado através do logos do seu existir e não meramente estar-aí. 
Como nos diz o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos (2003, p. 
105): 
 
56 Ao ser humano cabe a frustrabilidade de certos atos, que pode 
ele fazer ou não. Os animais dizem sempre sim à natureza. O 
homem, porém, pode dizer não. Nesse não está o índice de sua 
grandeza, a abertura de sua elevação, mas também o primeiro 
passo para os seus erros. O homem pode frustrar o dever-ser. O 
dever-ser dos animais é fatal porque eles obedecem aos instintos. 
Mas o do homem é frustrável, porque ele é inteligente e dispõe da 
vontade. 
 
57 E porque se dão tais coisas? As razões são simples: o homem 
não é um ente imutável e eterno. É um ente mutável e temporal. Sua 
vida é um longo itinerário, um longo drama, porque ele atua e sofre 
sucessivamente uma longa realização dramática, porque ele age e 
faz, ele prefere e pretere. Por isso, ao longo da sua práxis, da sua 
prática, o homem avalia valores. 
 
Destarte, a dimensão ético-política tão viva e tragicamente denotada na 
vida de Sócrates é antes de tudo uma compreensão ontológica. E não pode ser 
devidamente compreendida se não se toma como medida de avaliação que 
toda e qualquer existência é uma existência que carrega em si o drama da 
ação, participação e responsabilidade por seu agir-participar-existir. 
O que se buscou salientar no primeiro tópico, do primeiro capítulo, 
entre outras coisas é que em Sócrates o existir traz consigo o peso do exame, 
uma vez que é necessário fazer escolhas, e que, por conseguinte estas 
escolhas implicam em conseqüências em sua vida particular, mas também 
exercem um poder de implicar em vidas outras que não só a sua, de seus 
familiares e amigos. Elas muitas vezes trazem conseqüências de dimensões 
muito mais amplas que abarcam a vida da sociedade, da pólis, da nação, etc.. 
Infelizmente, esta compreensão, maturidade e responsabilidade 
perante os atos diante de outros cidadãos, instituições, etc. é algo cada vez 
mais raro em nossa sociedade. Uma vez que autoridades, líderes, 
homens/mulheres mais “maduros” têm demonstrado total descaso, 
132 
 
infantilidade, irresponsabilidade e incompetência para atuarem ou ocuparem 
determinadas posições sociais dentro da sociedade em que vivem. 
Então Sócrates não é aqui o filósofo, enquanto personagem histórico 
singular (sem deixar de ser é claro!), mas o indivíduo, a pessoa humana, o 
cidadão. Portanto, trata-se de uma universalidade, um homem que é e 
representa todos os seres humanos. 
Daí nos achegarmos ao sábio, filósofo, homem grego, ser humano para 
dele não somente escutar, mas participar, dialogar, refletir, examinar como nos 
pede o Filósofo e, compreender o real sentido do que o mesmo designa como 
Paidéia. 
 A educação em Sócrates ultrapassa o mero sentido da especificação, 
do pragmatismo, da massificação e alienaçãoimpostos emethos dominante. 
Pois se percebe que tal estrutura vigorante tanto reduz, priva como é incapaz 
de dar conta da totalidade, abrangência, integralidade do ser 
desteentechamado Homem. E sem ela, não há a possibilidade do vir-a-ser do 
humano. 
Da mesma forma e numa clarificação e sistematização dos conceitos e 
vivência filosófica (cidadania), Platão e Aristóteles dão continuidade e 
abrangência ao caminho proposto e aberto por Sócrates na seara do Ser. Pois 
entendem os mesmos que não há caminho para o homem fora do ser, mas sim 
ignorância, desvio, barbárie e destruição na incompreensão deste. 
E sendo o homem o ente para quemo ser se des-vela no conhecer. 
Toda e qualquer existência que transite pelo esquecimento do Ser representa a 
possibilidade da derruição e morte do ser humano no animal homem. 
Não há eticidade onde não haja a possibilidade do conhecer, a 
liberdade para o agir; nem tampouco em códigos normativos que se assentam 
em descrição e prescrição limitadas a certas esferas da realidade (técnicas, 
temporais, geográficas, culturais, materiais...), na imposição dos modismos 
e/ou valores perpetrados pelos tecnocratas que almejam a administração 
pragmática do mundo (nova ordem mundial). 
Não se pode deixar de perceber que em toda vida técnica humana 
(ativa e factiva) estão presentes os valores e os desvalores do homem. Assim, 
cada ato deste ser humano é mais ou menos digno segundo possua mais ou 
133 
 
menos valor. E a dignidade dos atos continuados enquanto um Bem na 
constituição do ser humanomarca o seu valor (Aristóteles). 
Não obstante, se não são atendidos os requisitos elementares quanto à 
formação dos cidadãos dentro desta compreensão e o ethos se alicerça numa 
equação onde se observa simples e geometricamente a relação custo-
benefício ou destruição da individualidade e singularidade da pessoa humana. 
Visões estas: de matiz econômico-utilitarista (a qual tem imperado como valor 
nos últimos séculos) ou político-totalitário e, portanto, reducionistas. Então, 
perde-se a real dimensão de que toda vida prática gira em torno da Ética. 
Daí nos falar Mário Ferreira dos Santos (2003, p. 107) que, 
 
62 Razão tinham, pois, os gregos antigos que punham o Direito, a 
Economia, a Sociologia, a Técnica e a Arte como inclusas e 
subordinadas à Ética, porque os atos humanos estão sempre 
marcados de eticidade. [...] ora os antigos ao distinguirem essas 
disciplinas e as colocarem subordinadas à Ética, não subordinavam 
totalmente e absolutamente, porque há uma parte de cada uma 
dessas disciplinas, que é tipicamente própria das disciplinas, que é a 
sua parte específica. A Ética, então, funcionava em relação a essas 
disciplinas na mesma relação de gênero para espécie. 
 
Torna-se então de maior importância compreender que à Ética cabe o 
estudo do dever-ser humano. Enquanto que à Moral cabe a descrição e a 
prescrição de como se deve agir para realizar aquele dever-ser. Se a Moral é 
variante, a Ética é invariante. Exatamente por isso, podem os homens se 
equivocarem quanto à eticidade de certo ato e estabelecer um costume (moral) 
que nem sempre é conveniente ou se mostra exagerado. 
Quando um indivíduo vê em outro indivíduo não uma pessoa humana, 
mas apenas um meio para adquirir certo bem, posse, riquezas, poder; um meio 
para satisfazer os seus desejos particulares e, tal atitude pode ser vislumbrada 
enquanto um “ethos”. Têm-se demonstrado um ato moral (que pode ser 
motivado pelas circunstâncias, ambiente, etc.) que muitas vezes é aceito e até 
justificável perante a sociedade, no entanto, constitui-se o mesmo como 
eticamente falho. 
Mas, numa sociedade em crisemoral, onde a percepção ética é 
rebaixada ou aniquilada, passa-se a ter uma percepção errônea da Ética, como 
bem falara Mário Ferreira, pois, iguala-se esta que é invariante ao patamar da 
Moral que é variante, factível, caduca, sujeita a erros porque não consegue 
134 
 
manter as suas normas e estas já não correspondem à realidade da vida atual, 
logo, quem sofre as conseqüências de tal decaimento é a Ética. 
Como bem esclarece o filósofo Mário Ferreira dos Santos (2003, p. 
109), 
 
64 Aqueles que dizem que a Ética é vária porque a Moral é vária, 
confundiram a Moral com a Ética. Essas confusões provocaram 
inúmeros mal-entendidos e promoveram muita agitação entre os que 
desejavam atacar a Ética. Há costumes convenientes e 
inconvenientes apenas a uma parte da humanidade, mas o que é 
ético é universal e deve ser aplicado a todos. A Ética deve ser 
consagrada ao universal. 
 
Destarte, deve-se salientar que por sermos homens e não animais 
temos que considerar o testemunho de nossa situação. Não podemos, 
portanto, por meio de nossa animalidade renunciar a humanidade, a qual é 
perfectivamente superior. 
Da mesma forma que não podemos em vida afirmar uma em 
detrimento da outra. O animal em nós não impede que nos elevemos, que haja 
grandeza em nossos atos. 
É óbvio que por sermos humanos somos deficientes, falhos, limitados, 
passíveis de erros. Todavia, a nossa vida prática ao longo da história da 
existência humana tem demonstrado que podemos sim progredir, alcançar 
estágios mais altos que os animais, alguns de nossos semelhantes e até e 
principalmente, com relação a nós mesmos. 
É evidente que é muito mais fácil ser indiferente, se acovardar, ser 
injusto, imoderado, inconseqüente, omisso, medíocre... Destruir, derruir é mais 
fácil e requer menos esforços do que construir, se elevar. No entanto, enquanto 
homem temos a possibilidade do entendimento, da vontade e do amor. 
Diferentemente dos animais que dizem sempre sim aos instintos que o 
regem, nós seres humanos, temos de empregar a nossa inteligência, a nossa 
vontade, e dirigir o nosso amor. Exatamente por este motivo é que o ser 
humano é fundamentalmente ético na sua ação. 
A ascensão do homem exige, portanto, esforço, coragem. Não por 
acaso a cultura e o ethosgrego, assim como o cristão-medievo, estão repletos 
de heroicidade, pois os corajosos são aqueles tipos de homens que se 
135 
 
dedicam a aumentar o seu saber, a purificar a sua vontade e aperfeiçoar o seu 
amor. 
A Ética assim conclama o homem a assumir a tarefa de se elevar por 
meio da aceitação do dever perante atitudes que honrem e dignifiquem a vida e 
o status de ser humano. 
Uma vez que ao covarde cabe o deter-se ante o que se deve fazer por 
temor aos riscos e, portanto, negar-se a cumprir os seus deveres e 
escamotear-se por entre justificativas e argumentações falsas. Atitudes 
indignas de um Homem. 
Nenhum indivíduo da espécie humana nasce ético, obviamente, mas, 
enquanto ser humano traz o mesmo a capacidade de conhecer e, na 
capacidade de conhecer desenvolver a habilidade para melhor agir. 
É assim que do animal homem pode-se elevar para o patamar de ser 
humano e a partir da compreensão, consciência e existência que se paute 
pelos princípios da eticidade, tem-se não só a constituição de um ser 
moralmente ético, mas também e concomitante a de um cidadão, um 
profissional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
136 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
“Se não se espera, não se encontra o inesperado, sendo sem 
caminho de encontro nem vias de acesso” Heráclito 
 
O primeiro capítulo deste trabalho monográfico teve como objetivo 
procurar denotar a Ética enquanto dimensão constitutiva do ente homem. 
Dimensão esta que se não compreendida em sua complexidade e importância 
traz como conseqüência para indivíduo, comunidade, sociedade sérios danos. 
Porque não há possibilidade de qualidade nas relações (individuais e 
coletivas), responsabilidade perante os atos, respeito para com pessoas, 
contratos, serviços, justiça, etc., enfim, eticidade nas ações humanas se não há 
um ethosque seja propiciador e forjador de homens maduros capazes de agir 
segundo a excelência da natureza de tais atos. 
Homens que sejam capazes de dominar suas vontades e serem servos 
de suas consciências éticas, (Aristóteles/ethos cristão) a fim de alcançarem, 
desenvolverem a plenitude da natureza humana. 
Como bem compreendera Sócrates (Apologia..., Críton, etc.) e 
descrevera Platão a ordem social possui estreita relação com a ordem da alma 
individual, ou seja, não é possível se chegar a uma sociedade onde as relações 
sejam responsivas, equânimes, justas se os indivíduos não possuem uma 
formação íntegra, sólida e baseada em princípios éticos. 
Ou seja, para Sócrates, assim como para Platão uma alma 
desordenada não é capaz de gerar ações ordenadas. 
Aristóteles por sua vez, procura explicitar tal pensamento aprofundando 
o olhar sobre os tipos de figura moral que existem e compõem a pólis. Então há 
o problema do vício, da intemperança que leva o homem a agir de forma 
desregrada, segundo o estagirita é o homem do consumo, do gozo que vive em 
função de saciar os seus desejos. 
Para o Filósofo este tipo de homem não compreende o sentido do 
discurso coletivo (moral/ético), pois o olhar do outro enquanto uma alteridade 
137 
 
não lhe diz coisa alguma, não o afeta. Este eu egoísta é presa de seus próprios 
desejos e tem apenas a si próprio como medida de todas as coisas. 
Numa sociedade marcada pelo individualismo, pelo consumo, pelos 
apelos dos discursos populistas (massificantes), pela alienação, pela 
indiferença, perseguição e até exclusão cônscia e sistemática aos homens 
virtuosos (spoudaios) o ethos se apresenta como forte impossibilitador da 
constituição de indivíduo e cidadão éticos (homens maduros). 
Mas há também, segundo o pensamento de Aristóteles a figura do 
incontinente, aquele que compreende a regra sabe distinguir entre o certo e o 
errado enquanto atos e relações sociais, no entanto, por mais que o mesmo 
discurse, revele ter conhecimento acerca do peso e valor de seus atos, a sua 
vontade é ineficaz, pois não é dominada pela razão prática, mas sim fruto de 
um mau uso da razão ou do ímpeto por trás da ação. 
Acerca doethoshodierno preponderante o que se pode relatar?Éo 
mesmo capacitador da formação de homens continentes, temperantes? Está 
tal ethos preocupado em formar pessoas que tenham a real dimensão do seu 
ser; que sejam capazes de se auto-determinar, de assumir as 
responsabilidades perante os seus atos, etc.? 
Ou está o mesmo designado a produzir indivíduos, que estejam 
propensos aos chamados sedutores do mercado, ou, aos discursos e 
paradigmas da ordem do dia propagados por partidos, personalidades políticas 
e mídia (presas fáceis do novo deus todo poderoso: partido-estado)? 
Não sem sentido então, Aristóteles dizer que o domínio de si, assim se 
faz importante para que se possa vislumbrar, quiçá! ação e sujeito éticos. O 
que em mundo hodierno já se constitui como um feito hercúleo e denota a 
pessoa como diferenciada entre os demais indivíduos que compõem tal 
comunidade/sociedade. E isto já o distancia da massa medíocre que não o 
compreende e nem deseja compreendê-lo. 
Mas o autodomínio não é em si ainda designador de um sujeito ou 
virtude ética, pois conforme nos fala o Filósofo, somente na erradicação 
completa dos desejos excessivos e maus é que há a possibilidade da virtude 
ética. 
A continência do desejar e querer tem de ser transformada em 
temperança, uma disposição interior que marca e qualificaos nossos atos e, 
138 
 
portanto, liberta o sujeito ético da mera obediência a uma regra. Para movê-lo 
por uma apreciação e disposição (amor) ao que é reto (belo) conforme ao 
logos. 
Aristóteles, deste modo, procura salientar que um sujeito 
verdadeiramente ético não é um mero seguidor de normas sejam estas, 
advindas de qualquer das instâncias que compõem a sociedade. 
Um sujeito ético deve ser senhor de seus atos e deve ser capaz de 
inventar as maneiras e as possibilidades para que o reto e justo aconteça, 
mesmo se a sua integridade física for colocada em jogo (Sócrates/Cristo). 
Destarte, Sócrates, Platão e Aristóteles procuram descrever a filosofia 
como uma atividade e conhecimento que está em oposição e resistência contra 
a desordem que abarca a sociedade. Não por acaso se denotar a filosofia 
platônica enquanto um esforço para restaurar a ordem da civilização helênica 
por meio do amor à sabedoria. 
Torna-se extremamente significativa a imagem aludida na Alegoria da 
caverna, quando por meio da mesma se procura dialogar e fazer refletir que a 
busca do conhecimento (amor à sabedoria) não deve ser compreendida, 
representada pelo viés de uma doutrinação da ordem reta (abstração/sistema). 
Mas sim como a luz da sabedoria que incide sobre a luta da alma com 
as forças existenciais que a puxariam para baixo, na direção do pólo da morte 
espiritual (metaxy). 
Daí então se compreender que para Sócrates, assim como para Platão 
e Aristóteles vigora a idéia de que não é a excelência do corpo (o que falar do 
culto hedonista na sociedade hodierna) que torna a alma boa, mas a alma boa 
é que fará com que o corpo se torne o melhor possível. 
Embora o explicitado acima, não se deve incorrer na ingenuidade de 
achar que umindivíduo, um profissional (uma profissão) não possam viver sem 
uma preocupação de dimensão ética. 
Assim como, pensar que um povo, uma sociedade, um paísnão 
possam ter existência sem denotar os requisitos básicos de civilização para as 
suas relações (são inúmeros os exemplos em mundo hodierno em especial em 
nosso país: níveis altos de corrupção, insegurança, mortes, falta de 
profissionalismo/ética, etc.). 
139 
 
Exatamente isto é relatado, demonstrado corriqueiramente em nossa 
sociedade (jeitinho brasileiro), onde “profissionais” desonestos, políticos 
corruptos, sociopatas travestidos de homens públicos, “adultos” irresponsáveis, 
etc. não somente se eximem dos seus deveres, como na maioria vezes 
conseguem obter lucros com suas ações eticamente reprováveis. 
Não obstante, se deve salientar: que tipo de profissional é possível 
dentro de tal ethos? Que tipo de agentes, sujeitos farão parte desta atividade? 
Sob quais modalidades de ações e alicerçadas em quais tipos de valores? 
Pois não se pode esquecer que as maiores atrocidades contra a 
humanidade foram gestadas em século passado e, a história de tal fenômeno 
bestial não foi devidamente expurgada do seio da humanidade. Pelo contrário, 
ainda vive e se transmuta, justamente por falta do devido processo de 
julgamento da realidade ocorrida em passado recente. 
Sem o conhecimento e a depuração da verdade não há possibilidade 
de se falar em constituição efetiva e integral do ser humano. Se não se tem a 
real compreensão do ser do ente homem, do ser da Ética enquanto constitutiva 
da humanidade deste e, por conseguinte propiciadora da comunidade, 
sociedade e cultura humanas. Não há a possibilidade de se falar propriamente 
em humanidade (eticidade) nos atos/relações travados entre os homens e 
concomitantemente entre profissionais. 
Por isso os projetos globalizantes que procuram a todo custo forjar uma 
meta-humanidade em mundos cada vez mais distantes da realidade onde os 
códigos morais são designados pela funcionalidade inerente aos modelos e 
princípios gerenciais dos tecnocratas. 
Que amam máquinas, programas, projetos, cálculos, e em tudo vêem a 
partir do princípio lógico com fins de alcançar metas, fazer riquezas, etc.. Mas 
odeiam a realidade enquanto possibilitadora do engano, do erro, da subversão 
humana frente a mundo racionalmente administrado (projetos 
totalitários/globalistas). 
Uma Ética que não seja capaz de subverter os frios códigos morais 
para fazer emergir o humano em seu vigor e amplitude de nada vale. Até 
porque, sendo Ética é princípio que incita, norteia e acolhe o homem em meio 
às mais diversas situações conflitantes que a existência proporciona ao ser 
humano. 
140 
 
E em meio às adversidades que parecem querer derruir o humano no 
ente homem, ela é norte impulsionador que teima em elevá-lo, que impõe o 
dever da superação constante e busca indicar o caminho da superação do 
homem, para alcançar a excelência do humano no mesmo. Portanto, 
engendradora de homens fortes, vigorosos, virtuosos. 
Assim é que todo e qualquer projeto para uma sociedade, antes de 
pensar acerca dos elementos econômicos, dos bens e riquezas 
materiais/naturais, etc. deve voltar-se para a compreensão do homem, da 
dignidade da vida da pessoa humana. 
Daí então trabalhar a educação dos seus indivíduos de maneira a 
propiciar uma formação que seja eficiente na constituição de homens (homens, 
mulheres, adultos e jovens) moralmente responsáveis e, que tenham a 
capacidade e o discernimento da eticidade por trás de todas as relações 
humanas. 
Não de meros indivíduos atomizados, quadros formatados para 
desempenharem certas funções de acordo a princípios que se baseiam em 
contingências momentâneas e falsamente são erigidos, elevados a princípios 
universais (cidadania politizada). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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