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Aborto: Um direito de escolha. Primeiramente, antes de adotar qualquer posição sobre o tema, precisamos desenvolver um conceito a ser adotado nessa discussão para o termo “vida”; o que ela é e onde começa. Não seria em nada insano ou equivocado afirmar que aquele que vive sente, então logo é dotado de um sistema nervoso, mesmo se primitivo; ou seja uma vida humana começa quando há formação do SNC (sistema nervoso central) e SNP(sistema nervoso periférico) e que antes disso o que há é apenas um aglomerado de células que contem ácido dessoxirribonucleico (vulgo DNA) que até onde sabemos não é dotado de sistema nervoso algum, logo não sente dor física; sendo assim não podemos equiparar a um assassinato, afirmar que um embrião de até quatro semanas vá ter consciência e tão pouco saber que está sendo abortado. Mas para discutir um tema tão “tabu” é necessário transcender as abordagens de cunho religioso, ético ou moral. Muita gente confunde ser a favor da legalização do aborto com incentivar a prática desenfreada deste; mas na verdade ser a favor da legalização e descriminalização do aborto nada mais é do que dar ás mulheres o que já lhe deveria ter sido dado: o direito sobre o próprio corpo (Só a mulher tem o direito de decidir o que é melhor para ela. Trata-se de um direito individual da mulher, independente de credo ou crenças espirituais) e, a cima de tudo, a legalização do aborto é uma questão de saúde publica. O fato do aborto ser criminalizado, não significa que não há mulheres que irão pratica-lo mas sim que as mulheres irão continuar praticando de forma clandestina e insegura, morrendo ou adquirindo seqüelas que na maioria das vezes impedem os futuros planos reprodutivos; Segundo dados do SUS (Sistema Único de Saúde), mais de um milhão de mulheres recorrem ao aborto voluntário anualmente em nosso país e boa parte deles é feita em condições precárias de higiene. Quando os tradicionalistas dizem defender a vida, desprezam completamente as milhares de mortes de mulheres que ocorrem todos os anos. A legalização do aborto acabaria com as clinicas clandestinas, o que proporcionaria clinicas com melhores condições de atendimento e traria consigo uma certa igualdade entre mulheres de diferentes classes sociais; uma vez que apenas aquelas que possuem recursos financeiros conseguem ter acesso a clínicas especializadas e podem pagar não só pelo tratamento médico, mas também pelo silêncio. Para as pobres restam a morte, a prisão e as sequelas. Esse desprezo pelas mulheres é ainda mais claro quando partimos da imensidão de mulheres pobres e doentes que são destruídas econômica e fisicamente por engravidarem demais. Ao defender o direito à vida, é necessário assegurar todas as condições para que as mulheres que optarem por ter um filho possam exercer a maternidade: assistência médica gratuita, creche, escola, trabalho com salário digno, etc. O que NÃO acontece. Sem essas garantias, a defesa da vida contra o direito das mulheres decidirem sobre ter ou não ter filhos é hipócrita. Conforme o artigo 3º da Declaração Universal Dos Direitos Humanos “ toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” No artigo 5º, III da Constituição Federal Brasileira de 1988(a vigente no país) consta que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. E o que diz mais a respeito á liberdade e segurança pessoal do que o direito sobre o próprio corpo?! O que pode ser tão degradante como ter o direito de não poder ser dona de si própria por imposição alheia; do que parir e não ser mãe?! pois ser mãe é uma escolha qual requer no mínimo a aceitação, se não o que teremos são crianças que cresceram abandonadas, e que provavelmente adentrarão ao mundo do crime ou das drogas. Para que colocar um indivíduo no mundo sabendo que ele não terá o afeto necessário e sofrerá por isso por toda a vida?! O que torna a vida e o direito de escolha de uma mulher, uma vida já existente há anos, menos importante do que uma microscópica poção de ácido dessoxirribonucleico que existe há apenas alguns dias?! “Quem não quer não faz” é provavelmente a frase que mais ouço quando questiono o direito da mulher sobre o próprio corpo. Essas esquecem e ignoram a própria natureza humana, querendo nós ou não, sexo faz parte das necessidades fisiológicas do ser humano; Nem todas as mulheres que engravidam o fazem porque querem; De fato métodos contraceptivos não faltam mas falta lembrar as pessoas de que nenhum deles é 100% eficaz e há portanto mulheres que engravidam por conta disso, como há algumas são descuidadas e se deixam levar pelo calor do momento, outras cedem por pressão do parceiro, e mais tantas que são estupradas diariamente pelo mundo. O Estado é laico então não há espaços para argumentos de cunho religioso, devemos usar a lógica, a ciência e o bom senso para abordar a essa questão. O embrião pode até ter direito a vida mas tem o direito ainda maior de ser uma vida desejada. Não podemos entulhar essas crianças não desejadas em orfanatos pelo simples fato de que achamos certo elas nascerem; nem todas conseguem um lar e a medida em que elas crescem isso se torna mais difícil. No Brasil existem 80 mil crianças que estão em acolhimento institucional em espera de adoção. Por ano, apenas 10 % recebem um lar. No Espírito Santo, 176 crianças esperam na fila e 516 famílias estão habilitadas para adotar, mas infelizmente ainda existe muito preconceito. Muitas crianças ficam sem ter uma família devido às exigências feitas pelos casais na hora da escolha para a adoção. A preferência são crianças recém-nascidas e brancas, o que não corresponde com a realidade delas já que as mães que entregam os filhos não têm esse perfil. Segundo o IBGE, existe um perfil já traçado pelos pais na hora de escolher a criança. O desejo por aquelas consideradas saudáveis chega a 76%. A preferência de 69% é para os recém- nascidos, ou seja, os bebês que têm até três meses de idade; 60% são do sexo feminino e 64% são de pele clara (crianças brancas). Do outro lado desta estatística estão as crianças que despertam menos interesse nos postulantes à adoção. São as que configuram o quadro das não-adotáveis: 16,66% são adotadas com a idade média de dois anos; 36% das crianças são de cor negra ou parda e 23,15% são adotadas mediante a presença de alguma deficiência ou problema de saúde. As mulheres que optam por não ter o filho são mais sensatas do que as que tem e não os cuidam pelo simples fato de achar que tem que nascer, deixam nascer e os tratam com desleixo. O direito ao nascimento de embriões indesejados tem sido defendido como se por vir ao mundo a vida desse embrião será fantástica, feliz e perfeita quando na verdade não é; a criança que virá a ser esse embrião terá que conviver desde o nascimento com o fardo de ter sido uma gravidez mantida a força e mesmo se consiga um lar adotivo que a queira ainda irá, vez ou outra ter em mente o porque isso aconteceu com ela. Os que defendem a criminalização do aborto são tão cruéis quanto pensam ser as mulheres que fazem essa opção; eles ignoram o fato de que não se trata apenas do físico e do psicológico da mulher mas também uma questão de saúde publica, além de verem a vida apenas como o existir fisicamente, e estão pouco se preocupando de fato com a criança e o futuro que ela possa ter. Na verdade nada mais são do que o reflexo de uma sociedade que há séculos vem sido machista e impregnados de valores, mesmo que implícitos, religiosos que acompanham à nossa formação moral; Não temos o direito de tirar opção de escolha alheia pelo fato de julgarmos errado, principalmente se esses direitos forem relacionados a taxas de mortalidade para aquelas que o praticam clandestinamente; As que não concordam que não o façam. Rodrigues, Ana Beatriz e Campanholo, Natália.
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