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O Código de Trânsito Brasileiro e os Crimes de Trânsito

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Proposta do Trabalho
Primeiramente vamos de uma forma sucinta abordar os artigos de lei que foram abordados pelo professor Ricardo Vergueiro na aula do dia 08.04.2014 e no transcorrer do trabalho vamos aplica-los em situações corriqueiras que acontecem de uma forma brutal no dia-dia das grandes cidades, cidade médias e também hoje nas pequenas cidades, devido ao acesso ao financiamento e o aumento do poder de compra das pessoas de máquinas cada vez mais potentes e velozes e nenhuma estrutura para comportar esses verdadeiros bólidos nas ruas e claro a falta de preparo das pessoas e a velha e conhecida imprudência.
No trabalho transcrevemos dois ótimos artigos sobre os crimes de trânsito, aspectos dos crimes de trânsito, questões dogmáticas, um texto abordado pelo Instituto Avante Brasil sobre as mortes no trânsito e estatísticas sobre as mortes no Brasil, e a lei sancionada pela Presidenta Dilma Rousseff com endurecimento para quem prática corridas ilegais nas ruas das cidades.
1) O Código de Trânsito Brasileiro (Lei n° 9.503, de 23 de setembro de 1997) e sua aplicação nos Crimes de Trânsito no Brasil
CAPÍTULO XIX - DOS CRIMES DE TRÂNSITO
Seção I
Disposições Gerais
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplica-se às normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.
Parágrafo único. Aplicam-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa, de embriaguez ao volante, e de participação em competição não autorizada o disposto nos arts. 74 76 e 8 da Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Art. 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta como penalidade principal, isolada ou cumulativamente com outras penalidades.
* Obs: A suspensão ou proibição, no caso descrito no art. 292, será aplicada por Juiz de Direito nas de trânsito tipificados nos arts. 302, 303, 306 307 e 308, do CTB sentenças decorrentes do cometimento de crimes de trânsito. A suspensão ou proibição tem cabimento nos crimes
Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos.
§ 1º. Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
§ 2º. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver recolhido a estabelecimento prisional.
Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção.
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo.
Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente.
Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz poderá aplicar a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis.
Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime.
§ 1º. A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo.
§ 2º. Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal.
§ 3º. Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será descontado.
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; I - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas; I - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo;
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de carga;
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;
VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres. Art. 299. - (VETADO) Art. 300. - (VETADO)
Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá à prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.
Seção I Dos Crimes em Espécie
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; I - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; I - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros. Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.
Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.
Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: (Vide Resolução n.º 081).
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 307. Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste Código:
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de entregar,
no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
Art. 309. Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Art. 310. Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor à pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório, inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz:
Penas - Detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados, quando da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere.
* Obs: O crime é considerado doloso quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.
2) OS DELITOS DE TRÂNSITO ENVOLVENDO INGESTÃO DE BEBIDA ALCOÓLICA: CULPA CONSCIENTE OU DOLO EVENTUAL?
 
Resumo: O presente artigo tem como objetivo precípuo, por meio do método dedutivo e pelo procedimento monográfico, confrontar as teorias tipificadoras dos delitos de trânsito envolvendo ingestão de bebida alcoólica, a saber, culpa consciente e dolo eventual. Inclusive, serão explanados os argumentos utilizados por cada corrente jurisprudencial e doutrinária. Para tanto, tendo em vista a documentação indireta, materializada pela pesquisa bibliográfica, serão trabalhados vários conceitos indispensáveis à compreensão completa do tema, como crimes de trânsito, dolo e culpa. Ademais, ao longo do texto, a diversidade de decisões relacionadas ao assunto encontradas no país será foco de estudo, o qual terá por base a pesquisa documental na esfera jurisprudencial do Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Ao final, perceber-se-á que, no tribunal pesquisado, há um entendimento majoritário, mas não unívoco, pela culpa consciente do condutor. Este artigo foi orientado pela Professora. Adriana de Oliveira Gonzaga Bisi.
INTRODUÇÃO
A partir do altíssimo número de delitos de trânsito envolvendo ingestão de bebidas alcoólicas, a discussão a respeito das formas de punição dos agentes vem aumentando. Em especial, o presente artigo visa refletir sobre as possíveis tipificações dessa conduta, tendo por base duas teorias: culpa consciente e dolo eventual. De acordo com a primeira teoria, o agente deve ser tipificado no delito culposo, pois, ao ingerir bebida alcoólica e dirigir, este acredita, sinceramente, que, pelas suas habilidades, não causará delito algum. Já a segunda teoria entende que ao agente deve ser imputada a conduta dolosa, posto que, ao dirigir embriagado, este consente com um possível resultado danoso.
Nessa divergência, surge o problema de pesquisa sobre qual teoria deve ser aplicada aos casos concretos, visto que se pode encontrar, tanto na jurisprudência, quanto na doutrina, defensores de ambos os lados. Destarte, quanto ao método de procedimento metodológico, utiliza-se o monográfico, posto que, este artigo aborda o crime de trânsito envolto com bebida alcoólica sob os diferentes aspectos da culpa consciente e do dolo eventual.
Longe de se chegar a um consenso, é pertinente, ao longo do trabalho, apontar os argumentos favoráveis e contrários levantados por cada entendimento. Para tanto, como técnica de pesquisa, utiliza-se a documentação indireta, por meio de pesquisas bibliográficas a doutrinadores como Rogério Greco, Mirabete, Luiz Regis Prado e Damásio, bem como pesquisa documental a acórdão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Igualmente, como recorte, incumbe explanar a posição jurisprudencial majoritária sobre o tema no Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
Antes de tal ilustração, no entanto, cabe mencionar alguns conceitos importantes relativos à questão trabalhada, como teorias do crime, crime de trânsito e aspectos gerais do dolo e da culpa. Desse modo, pelo método dedutivo, o raciocínio do presente artigo procura confrontar as teorias da culpa consciente e do dolo eventual, a fim de verificar qual dessas matizes é aplicada, majoritariamente, em crimes de trânsito envolvendo ingestão de bebida alcoólica, especialmente, no Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
 3) ASPECTOS DOGMÁTICOS RELATIVOS AO CRIME
É notório que o atual Código Penal brasileiro, em contraponto às leis antigas, como o Código Penal de 1890, não trouxe qualquer definição do conceito de crime. Esta conceituação, portanto, ficou a cargo da doutrina em geral, sendo possível observar três definições mais importantes: formal, material e analítico.
Quanto ao primeiro conceito, a norma tem um papel primordial, uma vez que crime será todo ato que atentar contra a norma penal posta pelo Estado. No entanto, esta linha se mostra insuficiente e superficial, pois analisa somente as questões diretas do crime, ou seja, o ato praticado pelo agente e a sua não compatibilidade com as condutas postas pelo Estado. Concentra-se apenas no formalismo, não adentrando nas questões materiais. Ademais, não considera a existência de excludentes de ilicitude ou de culpabilidade, casos em que o agente não será responsabilizado penalmente.
Em relação ao conceito material, entende-se como crime toda e qualquer ação do sujeito que atentar contra os bens mais relevantes. Novamente, percebe-se a incapacidade de conceituar com exatidão e completude o termo, visto que, se um determinado bem, por mais relevante que seja não estiver tutelado pelo Direito Penal, de acordo com o princípio da legalidade, o agente não cometerá ato ilícito.
Diante dessas definições vagas, foi construído o conceito analítico de crime, o qual abarca algumas correntes. O conceito mais utilizado é o tripartido, o qual considera como crime a combinação do fato típico (conduta do agente que se adéqua a algum tipo penal), antijurídico (contrário ao disposto no Ordenamento Jurídico) e culpável (“juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente”).
Por outro lado, com um viés mais tradicionalista, alguns doutrinadores utilizam o conceito bipartido, no qual não se aceita como aspecto do crime a culpabilidade, restringindo-o à combinação de fato típico e ilícito. Para estes, a culpabilidade será elemento apenas para a definição da pena do crime praticado pelo agente.
Nos limites deste artigo, é válido ressaltar que será adotado o conceito utilizado pela maioria da doutrina brasileira, qual seja o conceito analítico tripartido.
Pertinente ainda observar que, no que tange especificamente aos crimes de trânsito envolvendo ingestão de bebida alcoólica, importa, sobremaneira, investigar se estes devem ser tipificados tendo por base a culpa consciente ou o dolo eventual.
4) CULPA CONSCIENTE OU DOLO EVENTUAL NOS CRIMES DE TRÂNSITO ENVOLVENDO INGESTÃO DE BEBIDA ALCOÓLICA 
A cada vez que nos informamos sobre um novo acidente de trânsito, o envolvimento de motoristas alcoolizados
é presença constante. Embora leis mais severas tenham sido criadas para diminuir esse número, como a chamada “Lei Seca”, este ainda alcança a casa dos 30% (trinta por cento), consoante à Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
Crimes de trânsito, de acordo com o artigo 291 do Código de Trânsito Brasileiro, são aqueles ocorridos no comando de um veículo automotor. Especificamente sobre o tema do presente artigo, qual seja o crime de embriaguez ao volante, o artigo 306 do já referido Código traz a seguinte redação:
“Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.”
Este mesmo documento descreve em seus artigos 1º, parágrafo 2º e no artigo 28 que o trânsito tranquilo e protegido é direito de todos e que o condutor deve conduzir o seu veículo com prudência e cautela, a fim de garantir a segurança do trânsito. Dessa forma, esta se mostra o objetivo jurídico principal da coibição aos delitos de trânsito, posto que compõe o dano imediato a ser causado pelo agente, bem como constitui interesse coletivo. Há também objetivos secundários, como a vida, a integridade física, a saúde, entre outros direitos individuais do cidadão que podem ser violados em um delito de trânsito. Quanto ao crime de embriaguez ao volante, o sujeito ativo pode ser qualquer indivíduo, portador da Carteira Nacional de Habilitação ou não. Já o sujeito passivo principal, por ser um crime vago e contra a incolumidade pública, é a coletividade. Subsidiariamente, as vítimas diretas do delito podem figurar como sujeitos passivos. 
Para configurar o crime em questão, é preciso que se atente para a presença de determinados elementos descritos no tipo – artigo 306, do Código de Trânsito Brasileiro - a saber:
1º) condução de veículo automotor na via pública;
2º) consumo precedente ou concomitante de substância alcoólica igual ou superior a seis decigramas por litro de sangue ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência;
3º) por último e de acordo com o parágrafo único do dispositivo, nexo de causalidade entra a guia atípica e a ingestão de substância alcoólica ou de efeito análogo.
Vale conceituar a expressão “via pública”, a qual, de acordo com Damásio, “é a via por onde transitam os membros da coletividade: autopistas, rodovias, ruas [...] Não se trata de via ‘pública’ no sentido de que pertence ao Poder Público”.
Por sua vez, a lei 11705/08 trouxe mudanças no Código de Trânsito Brasileiro, sobretudo nas sanções previstas ao condutor que dirigir sob o efeito de álcool – artigo 306. Para aquele que concentrar de 0,1 a 0,29 mg de álcool por litro de ar expelido dos pulmões, aplicar-se-á o artigo 165 do CTB, o qual prevê como sanção, principalmente, multa de R$957,70 combinada com a suspensão do direito de dirigir por doze meses. Já aqueles que concentrarem número superior a 0,3 mg de álcool, serão enquadrados no artigo 306 do mesmo Código e estarão sujeitos à pena de detenção de seis meses a três anos combinado com suspensão ou proibição da permissão de dirigir.
Contudo, uma dúvida ainda resta ensinada pela doutrina: o crime cometido na direção de veículo automotor, sob o efeito de álcool ou de substância análoga, será enquadrado como culpa consciente ou dolo eventual?
Primeiramente, há de se diferenciar dolo e culpa. Em seu artigo 18, inciso I, o Código Penal brasileiro define crime doloso nos casos em que “[...] o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo”. Doutrinariamente, foram criadas teorias acerca do dolo e as adotadas pelo Código Penal brasileiro foram: a Teoria da Vontade e a Teoria do Assentimento.
Pela primeira, crime doloso seria aquele no qual há apenas a intenção livre e consciente do agente em cometer o ato ilícito. Já para a Teoria do Assentimento, existe dolo quando o agente prevê o resultado criminoso, ainda que não o deseje espontaneamente, e assente com a ocorrência do mesmo, assumindo os seus resultados possíveis. Assim, “para a nossa lei penal, age dolosamente aquele que, diretamente, quer a produção do resultado, bem como aquele que, mesmo não o desejando de forma direta, assume o risco de produzi-lo”.
Além disso, aponta-se o dolo em dois tipos: direto e indireto. No primeiro, também chamado de dolo por excelência, o agente tem o desígnio de colocar em ação a situação prevista no tipo penal. Está intimamente ligado à Teoria da Vontade, representado pela primeira parte do artigo 18 do Código Penal.
Por seu turno, pode ser desmembrado em dolo direto de primeiro grau, no qual o agente sabe a finalidade que quer atingir e, para tanto, escolhe os meios que vão gerar apenas esse fim desejado; bem como em dolo direto de segundo grau, pelo qual o agente vai gerar efeitos colaterais à prática do crime principal, vistos como necessários para atingir o seu objetivo.
O dolo indireto, constituído pela segunda parte do artigo 18 do Código Penal e pela Teoria do Assentimento, divide-se em alternativo e eventual. O alternativo é aquele em que o agente não se preocupa sobre qual vítima cometerá o evento danoso, ele quer, simplesmente, praticar a conduta ilícita. Já o dolo eventual, também foco do estudo, é aquele em que o agente não quer o resultado de maneira direta, mas assume o risco de produzi-lo. 
Em relação ao crime culposo, o artigo 18, inciso II, do Código Penal brasileiro estabelece o crime culposo “quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”. Entretanto, a doutrina considera tal definição insuficiente, sendo necessário, portanto, abordar os elementos constitutivos do crime culposo, a saber, como indica Greco.
a) conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva;
b) inobservância de um dever objetivo de cuidado (negligência, imprudência ou imperícia);
c) o resultado lesivo não querido, tampouco assumido, pelo agente;
d) nexo de causalidade entre a conduta do agente que deixa de observar o seu dever de cuidado e o resultado dela advindo;
e) previsibilidade;
f) tipicidade.
Quanto ao dever de cuidado, também conhecido como modalidades de culpa, se dá de três formas acima já indicadas. A negligência é uma omissão, um não fazer do agente, o qual, diante de uma conduta que deveria praticar a fim de evitar um dano qualquer, não a faz por descuido, desleixo. Já a imprudência resume-se a uma ação perigosa do agente, uma conduta arriscada. Por fim, a imperícia está relacionada com a falta de aptidão técnica para exercer determinada conduta. Geralmente, trata-se de condutas que envolvem alguma atividade profissional.
Ademais, pode-se falar também em espécies de culpa – culpa inconsciente e culpa consciente ou com previsão. Mirabete as define de forma que a culpa inconsciente existe quando o agente não prevê o resultado que é previsível. Não há no agente o conhecimento efetivo do perigo que sua conduta provoca para o bem jurídico alheio. A culpa consciente ocorre quando o agente prevê o resultado, mas espera, sinceramente, que não ocorrerá. Há no agente a representação da possibilidade do resultado, mas ele afasta por entender que o evitará que sua habilidade impedirá o ato lesivo que está dentro de sua previsão.
Posto isso, chega-se ao mérito da questão. Numa distinção direta entre dolo eventual e culpa consciente é válida a transcrição das ilustres palavras de Luiz Regis Prado,
“No dolo eventual, o agente presta anuência, consente, concorda com o advento do resultado, preferindo arriscar-se a produzi-lo a renunciar à ação. Ao contrário, na culpa consciente, o agente afasta ou repele, embora inconsideradamente, a hipótese de superveniência do evento e empreende a ação na esperança de que este não venha ocorrer – prevê o resultado como possível, mas não o aceita, nem o consente.”
Como em todo tema jurídico polêmico, o crime de trânsito cometido por embriaguez ao volante também é controverso e amplamente debatido pelas doutrinas
e jurisprudência. Há aqueles que adotam a linha do dolo eventual e outros a da culpa consciente.
A título de exemplificação da teoria do dolo eventual, a transcrição parcial do acórdão do Recurso em Sentido Estrito nº 70023222797, julgado em 10/07/2008, relatado pelo Des. Jaime Piterman, da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul se mostra pertinente: “Em resumo, há indícios de que o réu estava embriagado no momento do acidente, situação que não pode ser afastada de plano nesta fase processual. A direção de veículo automotor em estado de embriaguez pode caracterizar o dolo eventual”.
Há algumas condutas no trânsito que permitem cogitar da existência de dolo eventual, em razão de quem, voluntariamente, põe em risco a segurança na circulação de veículos, como exemplificativamente, por dirigir em velocidade excessiva, sob efeito de bebida alcoólica ou entorpecente.
Percebe-se, diante disso, que o dolo eventual é adotado quando o condutor, voluntariamente, coloca em perigo a segurança do trânsito. Ao se embriagar e dirigir, portanto, segundo este entendimento, o motorista deve assumir a responsabilidade dos danos passíveis de ocorrer em seu percurso. Decisões nesse sentido são, constantemente, encontradas nos Tribunais pátrios. Observa-se que, na maioria das vezes em que o dolo eventual é adotado, o crime cometido possui consequências mais graves.
Percebe-se, portanto, que, diante do clamor público por uma sanção penal mais rígida e da criação de vários projetos objetivando a diminuição de acidentes provocados por motoristas alcoolizados, como o “Vida Urgente”, muitos juízes são levados a adotar a teoria do dolo eventual nos crimes de trânsito. No entanto, para parte da doutrina, não é aceitável que essa pressão pública, por si só, interfira no sistema jurídico-penal. Nesse sentido, André Luis Callegari ressalta, oportunamente, que “nosso Direito Penal é o da culpabilidade, e culpabilidade nada mais é do que censurabilidade, reprovabilidade, juízo de pura censura e reprovação sobra à conduta do réu. Então, quanto mais censurável for à conduta do réu (embriaguez, excesso de velocidade, número de vítimas), maior poderá ser a reprimenda penal imposta pelo juiz ao aplicar a pena, dentro do delito culposo, ou seja, se a conduta do réu for extremamente censurável, aplica-se a pena máxima do delito culposo, não se falando, nesse caso, em dolo eventual.”.
Dessa forma, para a doutrina e jurisprudência que adotam a culpa consciente, o agente não assume os riscos de cometer o crime de trânsito por embriaguez, pois, mesmo que vislumbrada a hipótese do dano a outrem, o condutor, certamente, acreditava na sua não ocorrência.
Ainda nesse entendimento, se, ao final do processo, o juiz julgador não se mostrar convencido entre aplicar a teoria do dolo eventual ou da culpa consciente ao agente, deve aplicar esta última, posto que, in dubio pro reo, ao contrário do que vêm decidindo alguns juristas no sentido in dubio pro societate. Isto é, na dúvida, o juiz deve procurar beneficiar o réu, e não agir de acordo com a vontade da sociedade, qual seja a de punir, de maneira mais grave, o agente.
 5) ANÁLISE JURISPRUDENCIAL
Por intermédio de uma pesquisa jurisprudencial no Tribunal de Justiça do Espírito Santo, pode-se perceber que, de janeiro de 2008 a maio de 2010, o entendimento majoritário, referente aos delitos de trânsito, é de adoção da teoria da culpa consciente. No entanto, uma questão em especial é importante de ser analisada rapidamente, qual seja, a única aplicação da teoria do dolo eventual encontrada neste lapso temporal:
“Ora, conforme se assevera, o recorrente estava trafegando embriagado, em velocidade acima da permitida pela lei na via, na contramão de direção, e praticando “racha”, demonstrando seu total desrespeito e desprezo para com a vida e a integridade física de seus semelhantes, acabando por assumir o risco de produzir o resultado letal, embora não seja por ele diretamente desejado, admite-se o reconhecimento do dolo eventual.
[...] De fato, o réu tinha consciência de que esta conduta poderia resultar em perigo para ele e para a coletividade, mas, mesmo assim, assumiu o risco e continuou a agir dessa forma nitidamente arriscada.” (RSE 35050028386/ES, Rel. SÉRGIO BIZZOTTO PESSOA DE MENDONÇA, julgado em 24 de junho de 2009, p. 5-6). [grifos nossos].
Posto isso, nota-se que, diante de circunstâncias mais graves – como a combinação entre embriaguez, velocidade excessiva e “racha” – nas quais as consequências causadas, comumente, são mais sérias, é consenso na jurisprudência adotar a teoria do dolo eventual, mais penosa para o condutor. Contudo, perante um caso mais corriqueiro, o entendimento recai sobre a aplicação da culpa consciente, considerando-se apenas como imprudência o dano causado pelo motorista em dirigir embriagado, de modo que se pode observar na ementa proferida pelo mesmo desembargador anterior, Sérgio Bizzotto Pessoa de Mendonça:
“APELAÇÃO CRIMINAL. TRÂNSITO. HOMICÍDIO CULPOSO E LESÃO CORPORAL CULPOSA MAJORADOS PELA EMBRIAGUEZ (ART. 302, P. ÚNICO, V; E ART. 303, P. ÚNICO, AMBOS DA LEI 9.503⁄97 - CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO). INSUFICIÊNCIA DE PROVAS PARA COMPROVAR A CULPA. PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. IMPRUDÊNCIA CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE CUIDADO OBJETIVO NAS CIRCUNSTÂNCIAS DOS FATOS. PERDA DO CONTROLE DO VEÍCULO POR EXCESSO DE VELOCIDADE. [...].
A perda de controle na direção de veículo automotor provocada pelo excesso de velocidade, bem como pela ingestão de bebida alcoólica, caracteriza a culpa, na modalidade imprudência, do condutor do automóvel.” (AP 38060014024/ES, Rel. SÉRGIO BIZZOTTO PESSOA DE MENDONÇA, julgado em 28 de maio de 2008). [grifos do autor].
Com a mesma posição, o desembargador Adalto Dias Tristão, em 2009, configurou como negligência o ato do condutor de ingerir bebida alcoólica e dirigir veículo automotor:
“Os fatos narrados indicam que o denunciado infringiu dever objetivo de cuidado, agindo com imprudência, atuando sem a precaução demandada conforme as regras de experiência, para a condução de veículos em situação semelhante a que se encontrava, especificadamente, na realização de ultrapassagem (conduzia veículo e realizou ultrapassagem em pista molhada, sem acostamento em zona rural, onde poderia prever o tráfico de pessoas e sabendo que vinha outro veículo no sentido contrário à distância que não lhe oferecia a devida segurança) e também com negligência (quando ingeriu bebida alcóolica antes de dirigir veículo automotor).” (AP 44060018437/ES, Rel. ADALTO DIAS TRISTÃO, julgado em 29 de julho de 2009, p. 1). [grifos nossos]
Embora não se expresse, de maneira clara, a adesão à culpa consciente, há decisões que se pode depreender tal direcionamento, se observada à tipificação na modalidade de culpa do crime em questão, como na ementa a seguir:
“APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE TRÂNSITO - ARTIGO 303, PARÁGRAFO ÚNICO E ARTIGO 306 DO CTN - LESÃO CORPORAL CULPOSA E EMBRIAGUEZ AO VOLANTE - CONDENAÇÃO - RECURSO DA DEFESA - 1. ABSOLVIÇÃO - AUSÊNCIA DE PROVA DE EFETIVO PERIGO À INCOLUMIDADE PÚBLICA: IMPOSSIBILIDADE - PERIGO DE DANO COMPROVADO - QUADRO PROBATÓRIO INEQUÍVOCO [...].
 O delito de embriaguez ao volante, previsto no art. 306 da Lei nº 9.503⁄97, por ser de perigo concreto, necessita, para a sua configuração, da demonstração da potencialidade lesiva. In casu, o dano à incolumidade pública restou perfeitamente configurado, na medida em que o apelante, comprovadamente embriagado, perdeu o controle de seu veículo, atingindo e lesionando a vítima.” (AP 51060001172/ES, Rel. SÉRGIO LUIZ TEIXEIRA GAMA, julgado em 03 de dezembro de 2008). [grifos do autor].
Dessa forma, fica comprovado, cientificamente, que, no Tribunal de Justiça do Espírito Santo, a posição predominante – e não única – é no sentido de tipificar os crimes de trânsito envolvendo ingestão de bebida alcoólica tendo por base a culpa consciente. A combinação “direção e bebida alcoólica” que resulta num dano a outrem é encarada, juridicamente,
como um ato de imprudência ou negligência do condutor ao não observar o dever de cuidado que lhe é obrigatório.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É inevitável a discussão acerca da diferença entre culpa consciente e dolo eventual, sobretudo nos crimes de trânsito envolvendo ingestão de bebida alcoólica. O alto número de acidentes automobilísticos com motoristas embriagados por dia nas estradas de todo o país legitima ainda mais pertinência ao tema.
Pode-se concluir, pelo exposto, que a discussão se mostra acirrada tanto na doutrina quanto na jurisprudência, o que leva a inferir que tal questão ainda está longe de se tornar pacífica. Essa discrepância de entendimentos, por sua vez, causa julgamentos diversos, em todo o país, acerca de casos parecidos, dando aval à insegurança jurídica.
Isso pode ser comprovado até mesmo pela análise jurisprudencial realizada no Tribunal de Justiça do Espírito Santo, o qual, apesar de apresentar uma série de decisões no mesmo sentido nos últimos pouco mais de dois anos, ainda não é unânime.
Faz-se necessário, portanto, um consentimento majoritário nacional acerca do tema, haja vista que os agentes, na atual situação, se encontram à mercê da interpretação casuística de cada órgão julgador e sua visão sobre o acontecido.
6) GIGANTE INACABADO: MORTES NO TRÂNSITO
Carnavalização das mortes no trânsito. Algumas coisas no Brasil nós levamos a sério (vacinação massiva da população, por exemplo). Outras nem tanto. As mortes no trânsito despontam como uma dessas coisas carnavalizadas pelo Estado e pelos cidadãos. O grave não reside somente nos óbitos durante o carnaval, sim, na carnavalização das mortes no trânsito durante o ano todo e todos os anos (mais de um milhão de mortos entre 1980 e 2011). Se o trânsito mata cerca de 130 pessoas por dia, é difícil pensar em outro problema nacional mais relevante. Também nessa área, continuamos enxugando gelo com toalha quente.
 4º do mundo (em números absolutos). O Instituto Avante Brasil realizou um levantamento mundial sobre mortes no trânsito em 2010, estruturando um ranking comparativo dos dez países mais violentos. O levantamento, inédito, teve por base o relatório “Global Status Report on Road Safety 2013”, da Organização das Nações Unidas, que mostra o número de mortes de 183 países. Em relação aos que não disponibilizaram dados recentes, o total de mortos foi estimado por meio de uma análise regressiva, o que viabilizou com confiança a comparação entre eles. Em termos absolutos, o Brasil é 4º país do mundo com maior número de mortes no trânsito, ficando atrás somente da China, Índia e Nigéria. Dentre os 10 países mais violentos do planeta não aparece nenhum do grupo do capitalismo evoluído, fundado na educação de qualidade para todos, na difusão da ética e no império da lei e do devido processo legal e proporcional (Dinamarca, Suécia, Suíça, Coreia do Sul, Japão, Cingapura, Áustria etc.).
 
Nenhum dos 10 países mais violentos em números absolutos está no grupo dos que contam com IDH muito elevado (47, no total), com exceção dos Estados Unidos, que apresentam (nesse grupo) o menor número de mortes por 100 mil pessoas (11,4) assim como por mil veículos (0,14), contra 22 e 0,66, respectivamente, do Brasil. Segundo o Datasus, em 2010, foram registradas 42.844 mortes no trânsito do Brasil. Esse número, atualizado em 2011, chegou a 43.256 mortes (o ranking, no entanto, foi feito com base nos números de 2010 de todos os países). Vejamos:
38º mais violento (na taxa por 100 mil pessoas. No ranking mundial de mortes no trânsito por 100 mil habitantes (com base nos dados de 2010), os melhores colocados estão entre aqueles com melhores rendas (em sua maioria apresenta renda alta): San Marino (alta), Mali (alta), Macedônia (média), Maldivas (média), Islândia (alta), Suécia (alta), West Bank e Faixa de Gaza (média), Andorra (alta), Reino Unido (alta) e Malta (alta). Considerando as taxas de mortes por veículos, só teríamos países com renda alta: San Marino, Islândia, Andorra, Malta, Israel, Finlândia, Suécia, Suíça, Reino Unido e Luxemburgo.
 Entre os países com pior desempenho (maior índice de mortes no trânsito), quase todos, com exceção da Guiné Bissau (baixa) e Omã (alta), são de países de renda média: Niuê, República Dominicana, Tailândia, Venezuela, Irã, Nigéria, África do Sul, Iraque. Considerando as taxas de mortes por veículos, todos os países tem renda baixa e média: República Centro Africana, Sudão, Benim, Burundi, Guiné, República Democrática do Congo, Etiópia, São Tomé e Príncipe, Serra Leoa e Congo.
 
Levando em conta a taxa de mortes para cada 100 mil habitantes, o Brasil, com 42.844 mortes no trânsito em 2010, ou seja, 22 para cada 100 mil ocupou a 38º posição entre os países mais violentos no trânsito.
 Se levarmos em consideração a taxa de mortes por 1 mil veículos, sua posição cai para 102º posição, já que possuíamos a sexta maior frota de veículos do mundo (64.817.974 veículos registrados em 2010, segundo a ONU) e uma taxa de 0,66 mortes para cada 1 mil veículos, atrás apenas de Estados Unidos, China, Índia, Japão e Indonésia, em 2010.
Para uma aproximação da realidade social brasileira, a taxa de mortes no trânsito no Brasil e sua posição no ranking mundial foram calculadas a partir dos dados disponibilizados pelo DATASUS, do Ministério da Saúde, para 2010, e não a estimativa para o período, disponível do relatório da ONU.
IDH e mortes no trânsito. O número de mortes no trânsito, assim como o de homicídios, está fortemente associado à qualidade de vida nos países. Países com altos IDH´s apresentam baixos índices de morte no trânsito; em contrapartida, quanto menor o IDH de um país maior a probabilidade dele apresentar alto índice de violência no trânsito. Vejamos:
Entre os países com os melhores IDH´s (Noruega, Austrália, Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Nova Zelândia, Irlanda, Suécia, Suíça e Japão) apresentam baixíssimas taxas de mortes no trânsito, com exceção dos Estados Unidos, país com a maior frota de veículos do mundo e alta incidência de violência. Dentre os países citados os EUA é o de pior desempenho:
 
 Já entre os países com baixos IDH´s, como Níger, República Democrática do Congo, Moçambique, Chade, Burquina Faso, Mali, Eritréia, República Centro Africana, Guiné e Burundi, os piores do índice, as taxa de mortes no trânsito alcançam números altíssimos, tanto por 100 mil habitantes, como por 1 mil veículos.
35% dos acidentes com motos ocorrem em corredor, segundo estatísticas ano de 2013.
 
O que falta ao Brasil? Melhorar o IDH. Os países do primeiro grupo (IDH muito elevado = países de capitalismo evoluído) matam muito menos no trânsito (média de 0,17 para cada mil veículos ou 7,7 mortes para cada 100 habitantes). Os números dos grupos seguintes (IDH elevado, médio e baixo) são: 0,81 e 16,2 (segundo grupo), 2,80 e 18,4 (terceiro grupo) e 22,38 e 20,6 (quarto grupo). O Brasil mata 0,66 para cada mil veículos (perto da média do segundo grupo) e 22 pessoas para cada 100 mil (no quarto grupo). Em síntese, somos muito violentos. Vejamos:
 
Em 2014, de acordo com projeção feita pelo Instituto Avante Brasil, o número de mortes no trânsito estimado no nosso país é de 48.349. Sendo assim, este ano, estima-se que ocorram 4.029 mortes por mês, 132 mortes por dia e 6 mortes por hora, ou seja, uma a cada 10 minutos. A questão é cultural e passa pelo nosso ainda precário desenvolvimento educacional, ético e institucional.
De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas 2013, realizado pelo Escritório das Nações Unidas para as drogas e o crime, em todo o mundo, os acidentes de trânsito são a segunda causa mais comum de morte de pessoas entre 5 e 29 anos de idade, sendo que 90% dessas mortes acontecem em países de baixa e média renda. A Organização Mundial de Saúde estima que 1,2 milhões de pessoas morrem todo ano em acidentes relacionados ao trânsito e prevê que, em 2030, os acidentes de trânsito serão a quinta principal causa de morte.
Por causa do capitalismo selvagem
(extrativista e patrimonialista), somos uma nação fracassada (frente aos países de capitalismo evoluído). As quatro instituições que levam os países para a glória ou para o buraco são as seguintes: políticas (Estado/democracia), econômicas (modelo de economia), sociais (sociedade civil/incivil) e jurídicas (império da lei repressiva, das garantias e do devido processo). Por sua vez, a prevenção de acidentes e de mortes no trânsito passa por seis eixos: 1) Educação, 2) Engenharia (das estradas, das ruas e dos carros), 3) Fiscalização, 4) Primeiros socorros, 5) Punição e 6) Consciência cívica e ética do cidadão (EEF + PPC).
O gigante inacabado chamado Brasil apresenta sérios problemas no funcionamento de todas as instituições assim como nos seis eixos citados. O sistema educacional é um dos mais deploráveis do planeta (últimas colocações no PISA). Grande parcela dos carros é insegura e as estradas são esburacadas e mal sinalizadas. O Estado negligencia na fiscalização, os primeiros socorros são demorados e a punição é muito falha. O brasileiro, no volante de um carro, em muitos casos, é um bárbaro mal educado, bêbado e sem precaução (o céu, para ele, não é o limite, é o escopo). Todos os ingredientes da salada mortífera são abundantes. Resultado: perto de 43 mil mortes por ano.
Solução: educação de qualidade em período integral para todos, mais forte redistribuição de renda (melhor renda per capta) e rápida diminuição nas desigualdades, começando pelas educacionais e socioeconômicas.
Mortes no trânsito, álcool e drogas. Segundo os resultados mostrados no relatório, dirigir sob o efeito de drogas ou álcool é um poderoso prognosticador de mortes no trânsito e torna-se particularmente arriscado quando os dois são combinados. Enquanto a taxa de prevalência por dirigir sob o efeito de drogas não é conhecida em muitas partes do mundo, estudos recentes do Brasil, Europa e Estados Unidos indicam que ele pode ser mais comum do que se pensava anteriormente.
O relatório aponta que nos Estados Unidos, em 2011, 3,4% das pessoas com mais de 12 anos, ou 9,4 milhões de pessoas, foram reportadas dirigindo sob o efeito de drogas ilícitas. As estimativas dos Estados Unidos indicam que cerca de 66% dos motoristas que testam positivo para drogas ilícitas também possuem álcool em seu sistema, aumentando assim o risco de causar um acidente de trânsito fatal.
Já, no Brasil, um estudo transversal de 3.398 motoristas descobriu que 4,6% deles testaram positivo para alguma substância ilícita. Daqueles que testaram positivo, 39% testaram positivo para cocaína, 32% para tetrahidrocanabinol (THC) (cannabis), 16% para anfetaminas e 14% para benzodiazepinas. Em outro estudo no Brasil, testes de drogas em pacientes que foram admitidos no pronto socorro após acidentes de trânsito mostram que esses pacientes eram mais propensos a terem cannabis em seu sistema do que o álcool.
Na Europa, em uma amostra de 50.000 condutores testados aleatoriamente em 13 países, cerca de 1,9% dos motoristas testaram positivo para uma substância ilícita: traços de THC foram detectados em 1,3%, cocaína em 0,4%, anfetaminas em 0,08% e opióides ilícitos em 0,07%. Além disso, as benzodiazepinas foram encontrados em 0,9% e opióides de uso médico entre 0,35% dos motoristas europeus. Entre a população geral de motoristas, drogas ilícitas foram detectadas principalmente entre jovens motoristas do sexo masculino e em todos os horários do dia, mas principalmente nos fins de semana.
Colaborou Flávia Mestriner Botelho, socióloga e pesquisadora do Instituto Avante Brasil.
7) Estatísticas nacionais de acidentes de trânsito
Por Vias Seguras <info@vias-seguras.com>
As únicas fontes são o Ministério da Saúde (43.250 óbitos em 2011 e 179.000 feridos hospitalizados em 2012) e o Seguro DPVAT (em 2013, 54.800 indenizações por morte e 444.000 por invalidez).
(Atualizado em 10/03/2014)
O gráfico abaixo mostra a evolução do número de óbitos registrados pelo Ministério da Saúde de 2002 a 2011, com crescimento de 40% no período.
Comparação com outros dados
A Seguradora Lider, entidade gestora do seguro obrigatório DPVAT, fornece estatísticas referentes às indenizações pagas por morte.
Também, até 2006, o DENATRAN publicou Anuários Estatísticos a partir dos Boletins de Ocorrência estabelecidos pela Polícia.
O gráfico abaixo mostra a comparação entre os dados provenientes destas três fontes:
Neste gráfico, a curva "DPVAT" representa o número de indenizações pagas cada ano. Isto não corresponde ao número de óbitos ocorridos no ano, pois certos processos de indenização podem levar vários anos. A forma irregular da curva traduz unicamente a evolução dos processos administrativos de indenização, sem nada a ver com a evolução do número de ocorrências.
Ao contrário, a curva "DATASUS" representa o número de óbitos registrados pelo Ministério da Saúde cada ano.
O gráfico mostra que, no período 2002-2012, o número de mortos no trânsito, indenizados pelo DPVAT, foi superior ao número registrado no âmbito do Sistema Único de Saúde. Entre 2002 e 2011, a diferença foi, em média, de 37%.
Dados sobre os feridos graves
O gráfico abaixo mostra a evolução, de 2002 a 2013, de dois indicadores referentes aos feridos que sofreram lesões graves:
A curva "DATASUS" representa o número de pessoas que foram internadas em hospital em decorrência de acidentes de trânsito.
A curva "DPVAT" representa o número de pessoas que foram indenizadas por invalidez permanente cada ano. Isto não corresponde ao número de lesões ocorridas no ano, pois certos processos de indenização podem levar vários anos. A grande diferença entre as ordens de grandeza dos números de indenizações antes e depois 2007 pode se dever a uma maior facilidade de acesso ao seguro a partir daquele ano.
Estes dois indicadores têm a ver com a gravidade das lesões, porém os valores dos últimos anos são tão diferentes que não é possível tirar deles, diretamente, uma avaliação do número de feridos graves. Uma análise comparativa mais detalhada seria necessária.
8) Presidenta Dilma Sanciona Lei Que Endurece Pena Para Quem Participa De Racha
 
A presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que torna mais rigorosa a pena para quem participa de racha ou comete ultrapassagens perigosas no trânsito. A sanção foi publicada na edição desta segunda-feira 12 de Maio de 2014 do "Diário Oficial da União". O texto já havia sido aprovado pelo Congresso Nacional em abril.
O projeto estabelece que racha que ocasione morte resulta em pena de 5 a 10 anos de prisão. Caso as competições nas ruas resultem em lesões, a pena para quem promoveu o racha vai variar de 3 a 6 anos preso. Para a prática do racha sem necessariamente haver acidente, o texto aprovado pelos deputados amplia a pena máxima dos atuais dois anos para três anos de detenção. A pena mínima permanece em 6 meses.
O endurecimento das punições também se estende para quem é pego dirigindo sob efeito de álcool ou de substâncias psicoativas que causam dependência. Nesses casos, a pena passa a ser de prisão por período entre dois e quatro anos. Hoje há apenas sanções administrativas, como multa e apreensão do veículo e da carteira de habilitação.
Multas
Antes a multa para quem participava de racha no trânsito era de R$ 576. Agora passa para R$ 1.915,40 (que pode ser dobrado caso o motorista seja reincidente).
Nas situações em que um veículo força outro a uma ultrapassagem perigosa, a multa saltará de R$ 191 para R$ 1.915,40 (que pode ser dobrada caso o motorista for reincidente) e o infrator ainda corre o risco de ter a habilitação suspensa.
Conclusão Final
Com o que foi exposto acima, ficou evidente que as leis já existem, o que falta é a plena implantação nos casos concretos. Ficou evidente que houve uma evolução do uso do automóvel para transporte individual com próprio incentivo do Governo para movimentar a economia, o que foi percebendo com o tempo, foi o crescente número do aumento de acidentes e a urgente necessidade de adequação das leis existentes
para tentarmos mitigar esse galopante e assustador aumento dos graves acidentes que ocorrem e acabam minando famílias, pessoas com plena capacidade de trabalho ou mesmo tornando-as impossibilitadas de continuarem suas vidas profissionais contribuindo para o crescimento do País. 
Precisamos de um esforço conjunto para poder reeducar os adultos e principalmente ensinar quem está no começo, educação intensiva para que os futuros motoristas (crianças) tenham consciência que é preciso respeitar as leis e ter educação no trânsito para salvarmos vidas.
Os números são uma forma fria de expor o valor da vida humana, mas só assim podemos verificar o quão grave é a evolução dos “crimes sobre rodas”, principalmente, em um tempo que se privilegia o uso do transporte individual, os números são preocupantes e algo tem que ser feito para mitigarmos os seus efeitos nocivos e devastadores na nossa sociedade, a educação de base no trânsito será a melhor solução, melhor mesmo do que a política do “encarceramento”.
9) Referências bibliográficas:
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9448
http://institutoavantebrasil.com.br/gigante-inacabado-mortes-no-transito/
http://www.vias-seguras.com/os_acidentes/estatisticas/estatisticas_nacionais
http://www.nacaojuridica.com.br/2014/05/dilma-sanciona-lei-que-endurece-pena.html
BRASIL. Constituição [da] República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva 2010.
BRASIL. Código de Trânsito Brasileiro. São Paulo: Saraiva 2010.
BRASIL. Código Penal Brasileiro. São Paulo: Saraiva 2010.
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BRASIL. Tribunal de Justiça do Espírito Santo. TJES. Recurso em Sentido Estrito nº 35050028386. Relator Sérgio Bizzotto Pessoa de Mendonça. Decisão unânime. Vitória, ES, 20 de ago. 2009. DJ 24 jun. 2009. Disponível em: <http://www.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/det_jurisp.cfm?NumProc=256954>. Acesso em: 20 mai. 2010.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. TJRS. Recurso em Sentido Estrito nº 70023222797. Relator Jaime Piterman. Decisão unânime. Porto Alegre, RS, 28 ago. 2008. DJ 24 jun. 2009. Disponível em: <http://www3.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php
CALLEGARI, André Luis. Imputação Objetiva – Lavagem de dinheiro e outros temas do direito penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001.
CAPEZ, Fernando; GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Aspectos Criminais do Código de Trânsito Brasileiro. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 12 ed. Rio de janeiro: Impetus, 2010.

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