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CONSTITUIÇÃO Histórico do constitucionalismo e Conceito

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CONSTITUIÇÃO: HISTÓRIO DO CONSTITUCIONALISMO E CONCEITO
Conforme Paulo Bonavides, três fases históricas compõe a evolução constitucional brasileira: a primeira fase o constitucionalismo do império – inspirado no modelo francês e inglês do século XIX; a segunda, o constitucionalismo da Primeira República – atrelado ao modelo norte-americano - e a terceira, o constitucionalismo do Estado Social – com traços do constitucionalismo alemão.
Constitucionalismo do Império 
Constituição de 1824 (Carta Política do Império) - Outorgada, com Poder Moderador, Semirrígida
- Com influência da doutrina liberal, elevava os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. A organização dos poderes era tetradimensional, existindo os Poderes Executivo, Legislativo, Judicial e Moderador. O Imperador detinha os Poderes Executivo e Moderador, sendo o Poder Judicial totalmente vinculado a eles.
Constitucionalismo da Primeira República 
Constituição de 1891 (Carta da República dos Estados Unidos do Brasil) - período de 1891 a 1930
- A Constituição norte-americana passou a influenciar o país. A Constituição de 1891 manteve o modelo econômico liberal de não intervenção do Estado nas relações econômicas. Instaurou o sistema republicano, o presidencialismo, a forma federativa de Estado e instituiu as Justiças Federal e Estadual, o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal Militar. Adotou a tripartição dos poderes, na concepção de Montesquieu, formada pelo Executivo, Legislativo e Judiciário. Em 1930, é o fim da Primeira República e o Brasil passa a viver sob quatro anos de ditadura – Decreto 19.398/30.
Constitucionalismo do Estado social – constituições brasileiras de 1934 a 1988
Constituição de 1934 (sufrágio feminino, voto secreto)
- Inspirada nas Constituições do México (1917) e Alemanha (1919) é considerada um marco no constitucionalismo brasileiro, trouxe inovações sociais e trabalhistas e instaurou o Estado Social no Brasil. O Estado passou a desempenhar um novo papel, voltado para a proteção do cidadão, mais intervencionista na economia e mais receptivo às demandas sociais. Trazia em seus textos temas como a função social da propriedade, ordem econômica, salário mínimo, férias remuneradas, entre outros e instituiu a Justiça do Trabalho. Ressaltou o papel do Poder Legislativo e criou as Justiças Eleitoral e Militar.
Carta de 1937 (Estado Novo- Inspirações totalitárias)
- Em 1937, sob o regime autoritário, tem-se o chamado Estado Novo. O país sofre um golpe de estado e passa a ser governado através de decretos-leis, eliminando, de certa forma, a tripartição os poderes. Reduziram-se substancialmente os direitos e garantias individuais.
Constituição de 1946 (Suicídio de Getúlio, Carta de Juscelino, Jânio e Jango)
- A Constituição de 1946 põe fim à ditadura no Brasil. Instaura-se a redemocratização, com o fim da Segunda Guerra Mundial floresce o clamor pela democracia. A atenção aos direitos sociais ressurge, amplia-se o rol de direitos e garantias individuais e assegura-se proteção ao trabalhador, à ordem econômica, à família e à educação. A intervenção do Estado no domínio econômico, quando justificada pelo interesse público, deveria respeitar os direitos fundamentais previstos na Constituição.
Ato de 1967 (Regulamentação do Golpe de 1964) - eleições indiretas/ poderes legislativos ao Executivo
- Fruto da Revolução Militar de 64, voltada para o desenvolvimento e segurança nacional. Sua preocupação era a proteção à indústria e ao comércio em detrimento, inclusive, do homem. Os direitos individuais foram restringidos. O Poder Executivo teve hegemonia absoluta em relação ao Judiciário e Legislativo
Ato de 1969 (Golpe dentro do Golpe) suspensa eleição indireta
- A Emenda Constitucional nº 1 de 1969, para muitos, foi a outorga de uma nova Constituição por ter alterado substancialmente o texto da Carta de 1967. Entretanto, manteve a mesma linha econômica e o poder concentrado no Executivo.
Constituição de 1988
- A Constituição Cidadã, rompe com o período político anterior e busca atenuar as injustiças sociais. Opta pelo modelo de produção capitalista, no qual o Estado desempenha papel de agente normativo e regulador da atividade econômica. O novo texto constitucional dá ênfase e garante os direitos sociais (art. 6º da CF). A organização dos poderes volta às bases de Montesquieu. Traz os três poderes independentes e harmônicos entre si. Para garantir que um poder não interfira na competência do outro, emprega o sistema de freios e contrapesos. Consagra-se o Estado Democrático de Direito que tem por fundamentos a soberania, a cidadania, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político.
Conceito de Constituição
- Constituição para Lassalle (Conceito Sociológico): a Constituição deve corresponder aos fatores reais de poder. Deve haver uma necessária correspondência entre a CF e a realidade. Se não houver, não existe uma verdadeira Constituição, mas uma “folha de papel”. Para ele, a Constituição deve ser a “somatória dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade”.
- Constituição para Carl Schmitt (Conceito Político): “Conjunto de decisões políticas fundamentais de um povo”. A Constituição é uma decisão política fundamental que estabelece a estrutura do Estado e os direitos fundamentais. Normas eventualmente existentes que não tratam disso são consideradas “leis constitucionais”, mas não são consideradas como verdadeira Constituição.
- Constituição para Kelsen (Conceito Jurídico): “Norma Jurídica Suprema”. A Constituição é a Lei Fundamental, a primeira imposta pelo Estado e a que vincula o modo de elaboração de todas as demais normas jurídicas. A Constituição possui dois planos: - Um plano lógico-jurídico (é o plano suposto; é a própria norma hipotética fundamental) e; - Um plano jurídico-positivo (é a Constituição vigente num determinado Estado; é o direito posto).
- Constituição para Hesse (Conceito Pós-positivista). A Constituição é uma ordem material e aberta (porque se amolda às mudanças) da comunidade. É a força normativa da Constituição. Ele combate o pensamento de Lassale, apesar de concordar que a Constituição deva corresponder com a realidade. Entretanto, a CF não se resume a isso, não é mero espelho, pois ela tem uma força própria que se projeta nessa realidade, inclusive a transformando, regulando as relações sociais e dirimindo os conflitos.
- "Constituição é lei fundamental de um Estado, a qual organiza os seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma do seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, os estabelecimentos de seus órgãos e limites de sua ação." (José Afonso da Silva)
- “Lei fundamental e suprema de um Estado, que contem normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos.“ (Alexandre de Moraes)
Tipologia da Constituição
- Quanto à forma: escritas e não escritas
 - Quanto à origem: promulgadas e outorgadas
- Quanto à estabilidade: rígidas, semirrígidas e flexíveis
 - Quanto à extensão: sintéticas ou analíticas
A CF/88 é escrita, promulgada, rígida e analítica.

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